Nunca é tarde. Dizemos para nós e para os outros. É uma afirmação fácil. Fácil de dizer! É um incentivo honesto e talvez uma justificação esperançosa em relação a momentos menos bons que já passámos.
Na verdade, um dia destes acordamos e já é tarde, até porque o tempo (dado) não é recuperável. Bem dizemos que é necessário recuperar o tempo perdido. Por vezes, a acentuação é colocada no viver mais freneticamente para compensar o que se desperdiçou. Mas simplesmente não é possível. Possível é valorizar o tempo atual e o que virá pela frente, mas sobretudo este tempo, pois é o que temos! De nada serve adiarmos a vida à espera de recuperarmos o tempo lá mais para a frente. Isso não vai acontecer. Simplesmente não é possível. Pelo menos humanamente falando!
São João Paulo II afirmava que Deus lhe dera uma segunda oportunidade, expandindo-lhe os dias. Há momentos em que experimentamos ou damos segundas oportunidades. É sempre em sentido relativo. Uma doença superada (pelo menos nos seus efeitos mais nefastos), uma amizade reatada, um novo emprego, um reencontro feliz! Quando a vida parecia seguir para o abismo e fruto de um conjunto de circunstâncias, da luta que demos e resiliência com que respondemos às dificuldades, com a ajuda dos outros, e tudo se alterou positivamente falando.
Se vivermos as primeiras oportunidades, já não precisamos das segundas ou terceiras, até porque não sabemos se as viremos a ter. Por outro lado, para sermos mais exatos, não há "segundas" oportunidades, porque estas não são uma duplicação ou repetição das primeiras. E nunca saberemos se tivéssemos aproveitado as “primeiras” oportunidades onde estaríamos agora, aqui, mais atrás, mais à frente? A vida não se repete ainda que possa haver circunstâncias semelhantes ou situações parecidas. Cada oportunidade é única! Não volta! Como o tempo! Não é recuperável. Claro que as lições que aprendemos com os erros e falhanços, com as provações e com as vitórias podem ajudar-nos a enfrentar outras dificuldades e a mais facilmente nos predispormos a ultrapassar os obstáculos com que nos deparamos, mas a vida não se repete e o tempo que está para trás só em Deus descansa!
Como dizia Albert Camus, “a verdadeira generosidade para com o futuro consiste em entregar tudo ao presente”, não numa atitude displicente de quem se destrói, mas na entrega de quem se gasta com os outros e a favor deles. Ao jeito de Jesus. A cada dia a sua preocupação. Viver hoje com intensidade! Com paixão! Com a ternura que nos vem da eternidade!
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