Os discípulos de Jesus vivem durante muito tempo na dinâmica do grupo: o nosso grupo, os nossos, os que andam connosco. O Messias de Deus é nosso, pertence-nos, temos o exclusivo. Os milagres que fizer hão de beneficiar os nossos, os do nosso povo. As palavras que Ele disser são-nos dirigidas, a não ser que sejam para maldizer os outros, os estrangeiros, os que estão para lá do nosso grupo.
Como não lembrar o episódio em que os discípulos dizem a Jesus que tinham proibido um homem de fazer milagres e anunciar em Seu nome pelo simples facto de não fazer parte do grupo? (cf. Mc 9, 38). Ou a estranheza quando veem Jesus a falar com a Samaritana? Já era demais estar a falar com aquela mulher em público, mais escandaloso é o facto de ser samaritana, inimiga dos judeus (Cf. Jo 4, 1-41). Ou quando querem deitar fogo do céu contra os samaritanos que não os acolhem, pois iam em sentido contrário? (Lc 9, 51-56).
Num outro episódio, proposto num dos últimos domingos, no encontro com uma mulher cananeia (Mt 15, 21-28), Jesus assume a sensibilidade dos judeus ciosos do seu Deus e da sua religião. Jesus mantém-se em silêncio (exterior) diante da investida da mulher estrangeira: «Senhor, Filho de David, tem compaixão de mim. Minha filha está cruelmente atormentada por um demónio».
É Mãe. Está tudo dito. Tudo fará para reaver o filho, para o reconquistar para a vida. Sujeita-se ao ridículo, à humilhação pública. Mas que lhe importa? O importante é a saúde e a vida do filho!
Porém, os discípulos ao apelarem a Jesus para que intervenha parecem incomodar-se sobretudo com a gritaria da mulher e não tanto pelo seu sofrimento!
Na resposta, Jesus diz-lhes que não foi enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel. Tinha sido essa a recomendação que Ele lhes dera quando os enviou dois a dois: «Não sigais pelo caminho dos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos. Ide, primeiramente, às ovelhas perdidas da casa de Israel» (Mt 10, 5-6).
Convertamos em pergunta a resposta dada por Jesus àquela Mulher: "Será justo tomar o pão dos filhos para o lançar aos cachorrinhos?". Entramos na pedagogia de Jesus! A Mulher cananeia ajuda-nos a responder ao questionamento de Jesus: «É verdade, Senhor; mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa de seus donos».
Partindo da postura de Jesus, o compromisso dos cristãos na vida social, política (e partidária), na economia: ao serviço de quem mais precisa!
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