O Lava-pés (Jo 13, 1-17), por ocasião da Última Ceia, em quinta-feira santa, é um dos episódios mais expressivos na vida de Jesus. O evangelista São João situa-nos no decorrer da Ceia: Jesus levanta-Se, coloca o manto à cintura e lava os pés aos discípulos.
É um gesto de grande humildade e de grande intimidade. Dois aspetos interligados. Quem nos lava os pés? As nossas mães! Enfermeiras, cuidadores de doentes e de idosos. Os pés e o corpo inteiro! A nudez diante de alguém pressupõe intimidade, delicadeza, para que se preserve a dignidade da pessoa. Em bebés, a intimidade expressa a espontaneidade do amor! Na idade adulta, pode ser por “obrigação”, por amor, por gratidão ou por compromisso profissional!
Nas peregrinações a Fátima, um dos serviços mais úteis é precisamente o cuidado dos pés que caminham, suam, se esfolam, ficando mesmo em carne viva, com unhas a saltar dos dedos. Os voluntários têm consciência do bálsamo que são para os peregrinos!
Se olharmos mais longe, vemos que quem lava os pés e prepara o banho dos seus senhores, são precisamente os escravos. Estão para servir! Não têm outra opção. Lavar os pés, tratar das feridas, cuidar da casa, pôr a mesa, arrumar as trapalhadas é uma obrigação imposta. Jesus lava os pés por opção. Como escolha. Como exemplo! Podia ter dito muitas coisas. Poderia fazer um tratado de teologia para explicar como era importante e fundamental que nos puséssemos ao serviço uns dos outros, pois era essa a vontade de Deus. Uma parábola também assentava bem, como por exemplo a exemplar parábola do Bom Samaritano. Com efeito, agora vê-se como o Bom Samaritano nos lava os pés, cuida de nós, trata-nos das feridas corporais mas sobretudo espirituais.
Tu vais lavar-me os pés? Longe te ti! Era o que mais faltava que o Senhor lavasse os pés aos servos! Não, a mim não me vais lavar os pés! Pedro está resoluto, acha-se mais que os outros, também pela afirmação da sua hipotética humildade. A resposta de Jesus é contundente: se Eu não te lavar os pés, não terás parte comigo! A comunhão só é possível a partir do serviço recíproco! Fazei isto em memória de Mim. A Eucaristia faz-se vida no dia-a-dia, no cuidado aos outros! Como Eu fiz, fazei-o vós também uns aos outros! Vai e faz tu do mesmo modo! Dai-lhes vós de comer! Está tudo aqui. Sem serviço não há comunhão, não há Igreja, não há Eucaristia, não há comunidade, não há discípulos de Cristo! O serviço humaniza-nos, irmana-nos e cristianiza-nos.
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