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quarta-feira, 23 de março de 2022

D. António Couto - As Mulheres nas Cartas de São Paulo

D. ANTÓNIO COUTO (2022). As Mulheres nas Cartas de São Paulo. Gaeiras: Alêtheia Editores. 130 Páginas.


Há tempos, através da transmissão da Missa dominical, cuja segunda leitura trazia uma das cartas de São Paulo, em que falava da submissão de todos a Cristo, mas, na continuação da leitura, falava na submissão da mulher ao marido, como da Igreja a Cristo. Para quem ler o texto com honestidade, vê que a submissão, em lógica de amor e serviço, é recíproca. Ao marido é dito claramente que há de amar a mulher como ao seu próprio corpo, portanto, não se trata de o homem submeter a mulher, mas de amá-la como Cristo amou a Igreja e deu a vida por ela.
Mas logo surgiram algumas pessoas escandalizadas, multiplicando as partilhas e a polémica e, diria eu, evidenciando uma grande ignorância religiosa (bíblica). Para ajudar a clarificar os escritos de São Paulo, os genuínos e os que foram retocados. D. António resolveu colocar em pratos limpos a visão de São Paulo, bem como os acrescentos que foram feitos posteriormente.

“Dados os ‘apupos’ que se fizeram ouvir um pouco por toda a comunicação social e redes sociais por causa de um texto notável de São Paulo que, aparentemente, à primeira vista e audição, impunha à mulher submissão ao marido, resolvi também eu, ilustre Teófilo, examinar atentamente tudo e oferecer de forma ordenada e a quem o desejar, também ao mundo moderno, um percurso em que se mostra com suficiente clareza a maneira excecional como Paulo se relacionou com as mulheres concretas, com nome, que encontrou no seu caminho, e como refletiu sobre a sua condição e missão nas comunidades cristãs primitivas.
O leitor atento terá oportunidade de encontrar nas páginas que se seguem alguns dos textos mais emblemáticos e problemáticos que tanto espanto têm provocado. Terá oportunidade de os encontrar e de os compreender, e até de se surpreender e encantar com o excesso de sentido que deles emana.
É tempo de alguns preconceitos caírem, como caiu o muro de Berlim. O que não se espera, também pode acontecer.”

D. António Couto - Olhar a Família com os olhos de Deus

D. ANTÓNIO COUTO (2022).Olhar a Família com os olhos de Deus. Apelação: Paulus Editora. 156 páginas.


Enquanto decorre o Ano da Amoris Laetitia, o Bispo da Diocese de Lamego, D. António José da Rocha Couto, serve-nos, com mestria, esta obra dedicada à família, partindo de diferentes textos bíblicos. 

Nada melhor do que ser o próprio a apresentar este livro:

“Em ano dedicado à família, e estando ela, em qualquer das suas dimensões (família de sangue, família eclesial, família religiosa…), tão corroída e anémica, mas sendo também célula perseguida por diferentes viroses ideológicas que percorrem o nosso tempo, decidi compor este pequeno livro, de sabor bíblico e cultural sério, que intitulo Olhar a família com os olhos de Deus, e que consta de três ensaios, que intitulei: «Deus e Israel. As metáforas da família nos Profetas» (1), «Aliança conjugal. Fundamentos bíblicos da família» (2) e «Identidade e missão da família a partir da Bíblia» (3).
São abordados os temas e problemas principais que assolam o nosso tempo sem compromissos e sem nascimentos, e com os mais debilitados e idosos, a quem roubámos já a sua liberdade de escolha, nas ágoras e átrios públicos tão apregoada e defendida, atirados para um limbo eterno, mais ou menos amorfo e anódino, onde os seus afetos não são correspondidos, as suas emoções vão para o baú dos trapos e para o canto das bonecas, e assuas razões não valem nada, e vão para o caixote! Que mundo é este, atravessado por tantas contradições, e conduzido ao que parece por tantos «Eu» sem «me» (Maurice Blanchot).
É como tentar destilar a Bíblia, que é uma explosão de vida, de dramas, de tensões e de emoções, para a tentar reduzir a uma série de princípios, mais ou menos como tentar reduzir uma pessoa viva a uma diagrama! (Abraham Joshua Heschel). Não há compromissos duradouros. Metem medo a quem ainda tem liberdade de escolha! O que há, no campo sentimental, são «relações de bolso» (Catherine Jarvie) ou «compromissos enlatados» (Anthony Giddens), tudo rápido, estéril e descartável, assente apenas na satisfação corrente, sem obrigações, tudo pronto a «consumir de preferência antes de…» (Anthony Giddens).
Percebe-se agora talvez melhor por que razão a questão do «outro», que é o «não identificável», o «sem eu», o «me sem eu», o «sem nome», seja hoje a questão do Ocidente, e que conceitos como responsabilidade, liberdade, alteridade, socialidade, hospitalidade, mandamento, obediência tenham de ganhar hoje novas tonalidades e articulações.
E fica igualmente a descoberto que quem quiser levantar esta sociedade desencantada, anestesiada, desinfetada, medicada, esvaziada, dependurada, tem primeiro de lhe restituir tudo o que lhe roubou: Deus, a Providência, a alma, os pais, os filhos, os netos, o chão, o céu, a casa, o sonho, as canções, o amor, a emoção, a comoção, a história, as histórias, a tradição, o rosto, o rosto do outro, a heteronomia, a exterioridade, a socialidade, a responsabilidade pelo outro. Ninguém levanta um saco vazio. Só se pode dependurá-lo. Assim também não é possível levantar uma sociedade esvaziada e dependurada, a não ser restituindo-lhe tudo o que lhe foi roubado.
Deixo nas tuas mãos este pequeno livro. Podes saboreá-lo devagar. Tem múltiplos aromas e sabores”.

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Visita Pastoral de D. António a Tabuaço - 2019

Visita Pastoral de D. António Couto à Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Tabuaço, entre 9 e 19 de maio de 2019.
Seleção de fotos dos diferentes dias: visita aos doentes, Lar da Santa Casa, Creche, Centro de Dia, Agrupamento de escolas, encontro com os grupos paroquiais, com a Câmara e instituições ligadas à Câmara, celebrações, encerramento da Visita Pastoral. Fotos disponíveis na página da paróquia no Facebook: @tbcparoquia 
Créditos das fotos: Paróquia de Tabuaço (vários jovens e adultos); Rui de Carvalho; Centro de Dia; Irmão Joaquim.

quinta-feira, 6 de junho de 2019

Visita Pastoral de D. António a Pinheiros - 2019

Visita Pastoral de D. António José da Rocha Couto, à Paróquia de Santa Eufémia de Pinheiros. Na sexta-feira, 26 de abril, na aproximação ao final da tarde, a visita à Junta de Freguesia e sede também da associação "Unidos por Pinheiros". Seguiu-se a visita e oração no Cemitério, por todos aqueles, familiares, amigos e conterrâneos, que vive na eternidade de Deus. Logo depois, a celebração da Eucaristia com a administração da Santa Unção. Depois da celebração, o encontro com os crismandos. 
O Domingo, 28 de abril, o dia da grande FESTA, com a receção ao Senhor Bispo, no largo em frente à sede da Junta de Freguesia, ao som de foguetes e de cânticos, iniciando a procissão para a Igreja, para a Santa Missa.
Na celebração da Eucaristia, o Crisma da Jéssica, de Carrazedo, do Pedro Barradas, da Margarida Silva e do Ricardo Egger. Depois da Santa Missa, o almoço com a comunidade. Participação especial do Grupo Coral da Catequese da Paróquia de Tabuaço na animação coral. 
Créditos - Fotos: Ana Fonseca, Teresa Costa, Anabela Moura 
Música de fundo: DDPJ de Lamego - Hino da JMJ e JDJ 2019 - "Eis aqui a Serva do Senhor".

Visita Pastoral de D. António a Távora - 2019

A Visita Pastoral de D. António Couto à Paróquia de São João Batista de Távora realizou-se a 3 de fevereiro de 2019.
Na sexta-feira precedente, 1 de fevereiro, o Sr. Bispo reuniu com os crismandos e pessoas empenhadas na vida da comunidade. O domingo foi festivo para toda a comunidade, acolhendo o Sr. Bispo na Capela de Nossa Senhora dos Prazeres. A santa Missa, na Igreja Matriz, contou com a celebração do Crisma, com a bênção das crianças, dois bebés ao colo das mães... A parte da celebração, visita ao Cemitério... seguindo-se as concertinas de Távora e o almoço para a comunidade. Créditos: Fotos - Rui da Costa Carvalho
Música de fundo: DDPJ de Lamego - Hino da JDJ 2018 (Pretarouca - Lamego) - Queres precisar de mim.

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Visita Pastoral D. António a Carrazedo - 2019

Paróquia de São Salvador de Carrazedo​, 27 de janeiro de 2019.
Imagens dos momentos da Visita de D. António à nossa comunidade: Receção à entrada da povoação, junto à imagem do Imaculado Coração de Maria; Santa Missa, com a celebração da Santa Unção; ação de graças pelas obras na Igreja (2017-2018), visita e oração ao Cemitério, lanche-convívio para toda a comunidade.
Música de fundo: DDPJ de Lamego - "Diz o teu sim" - Hino da JDJ 2017, em Nespereira - Cinfães.


quarta-feira, 28 de junho de 2017

Paróquia de Tabuaço | Celebração do Crisma | 2017

       Neste ano pastoral, a celebração do Sacramento do Crisma foi celebrado a 27 de maio de 2017, com 4 jovens que completaram os 10 anos de catequese - Guilherme, Mariana Lemos, Paula Margarida, Daniela Gonçalves - e 5 adultos - José Carlos Pinto, Teresa Maria, Rosa Maria, Ana Patrícia, Cátia Vanessa. Presidiu à celebração o nosso Bispo, D. António Couto. No final, lanche-convívio para toda a comunidade.
       Neste videoporama, além das fotos do Crisma, três belíssimos temas musicais:
DiFÉrente - Tua Palavra (música e letra: Tõno Casado);
Enviados - Grupo de Jovens do Monte Formoso: Enche-me com o Teu Espírito;
Mendigo de Deus - Vem...

terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Mensagem de D. António Couto para a Quaresma 2017

1. «O outro é um dom», «o pecado cega-nos», «a Palavra é um dom», são, por esta ordem, os subtítulos ou fios condutores com que o Papa Francisco costurou a sua mensagem para esta Quaresma de 2017 que agora se inicia. Entre «dom» e «dom», o pecado, que é uma espécie de nó cego no coração, bloqueia-nos num mundo de portas fechadas a cadeado, tornando-nos imunes, isto é, vacinados, indiferentes, insensíveis, face aos outros e face à Palavra, aquela que vem de Deus, Palavra criadora e carinhosa, e aquela que vem dos outros, da ternura dos outros, mas também das suas dores, sofrimentos e gritos.

2. Sim, o dom é primeiro. A Palavra criadora de Deus está antes das coisas, da história e de mim. Ou não seria Palavra criadora! E ainda antes de mim estão outras mãos que me acolhem com carinho. É suficientemente claro que não fui eu o primeiro a chegar aqui. Diz Deus para Baruc e para mim: «Tu procuras para ti coisas grandes! Não procures! Porque eis que Eu farei vir a desgraça sobre toda a carne, oráculo do Senhor. Mas darei a ti a tua vida como despojo em todos os lugares para onde fores» (Jeremias 45,5). E João, o Batista, aponta a cada um de nós a fonte da vida e do dom, afirmando: «Um homem nada pode receber, a não ser que lhe tenha sido dado do céu» (João 3,27). E São Paulo deixa a retinir nos nossos ouvidos a pergunta essencial: «Que tens tu que não tenhas recebido?» (1 Coríntios 4,7).

3. No Tratado Pirqê ’Abôt (2,9), da Mishna judaica, Yohanan ben Zakai pergunta aos seus discípulos: «Qual é o caminho mau de que o homem se deve afastar?». E Rabi Simeão respondeu: «Pedir emprestado e não restituir». Mas acrescenta logo que «é a mesma coisa receber emprestado de um homem ou de Deus». E o grande filósofo hebreu Abraham Joshua Heschel comenta de forma certeira e incisiva: «Talvez esteja aqui o núcleo da miséria humana: quando nos esquecemos de que a vida é um dom e também um empréstimo».

4. Em boa verdade, quando dou por mim, já tenho coisas atrás, já estou sempre depois do meu nascimento, já tenho um pai e uma mãe, já sou filho. E reconhecer-me filho é descobrir-me como receção originária da vida, proveniente de um amor que me precede. Verdadeiramente, quando começamos a dar por nós, o espanto primeiro que nos invade não é o mundo, mas alguém que começamos a ver diante de nós. Alguém: o dom de outras mãos que amorosamente se estendem para nós. «A primeira experiência da pessoa, diz bem Emmanuel Mounier, é a experiência da 2.ª pessoa: o tu, e, portanto, o nós, vem antes do eu». O «bom dia» precede o «cogito». Nós não somos incestuosa e tautologicamente filhos de nós mesmos, como requer o célebre «cogito ergo sum» [= «eu penso, logo existo»] cartesiano ou o faraónico «ego feci memetipsum» [= «eu fiz-me a mim mesmo»] (Ezequiel 29,3). Eu não sou a origem, o senhor e o centro do mundo. «Eu» dou por mim como «eis-me-aqui», como tantas vezes na Bíblia se vê e ouve.

5. Um dom imenso nos precede. Mas o dom é sempre frágil. É como um vaso cheio de afeto, que se quebra logo que o recebedor o comece a considerar como seu. Na verdade, não se possui senão para se perder, e só não se perde o que se dá. Aproveitemos então, caríssimos irmãos e irmãs, este tempo santo da Quaresma para fazer a experiência de tudo receber de Deus e tudo partilhar com alegria com os nossos irmãos, na certeza de que «Deus ama quem dá com alegria» (2 Coríntios 9,7; cf. Atos 20,35; Tobias 4,16).

6. Façamos pois, amados irmãos e irmãs, do tempo da Quaresma um tempo de diferença, e não de indiferença. Dilatemos as cordas do nosso coração até às periferias do mundo, e que o nosso olhar seja de Misericórdia para os nossos irmãos de perto e de longe. Façamos um exercício de verdade. Despojemo-nos, não apenas do que nos sobra, mas também do que nos faz falta. Dar o que sobra não tem a marca de Deus. Jesus não nos deu coisas, algumas coisas para o efeito retiradas da algibeira, mas deu por nós a sua vida inteira. Dar-nos uns aos outros e dar com alegria deve ser, para os discípulos de Jesus, a forma, não excecional, mas normal, quotidiana, de viver. Como em anos anteriores, peço aos meus irmãos e irmãs das 223 paróquias da nossa Diocese de Lamego para abrirmos o nosso coração a todos os que sofrem aqui perto e lá longe.

7. Neste sentido, vamos destinar uma parte da esmola da nossa Caridade quaresmal para o Fundo Solidário Diocesano, para aliviar as dores dos nossos irmãos e irmãs de perto que precisam da nossa ajuda, e são cada vez mais. Olhando para os nossos irmãos e irmãs de longe, vamos destinar outra parte do esforço da nossa Caridade para levar um pequeno gesto de carinho aos nossos irmãos e irmãs da África e da América Latina, mais concretamente de Moçambique e da Bolívia, países em que os Missionários Espiritanos têm missões que necessitam do nosso apoio. O motivo de este ano canalizarmos a esmola da nossa Caridade através dos Missionários Espiritanos reside no facto de a Província Portuguesa dos Missionários Espiritanos estar este ano de 2017 a celebrar 150 de presença em Portugal. Este caminho da nossa Caridade Quaresmal será anunciado, como de costume, em todas as Igrejas da nossa Diocese no Domingo I da Quaresma, realizando-se a Coleta no Domingo de Ramos na Paixão do Senhor.

8. Com a ternura de Jesus Cristo, saúdo, no início desta caminhada quaresmal de 2017, Ano do Centenário das Aparições de Nossa Senhora em Fátima, todas as crianças, jovens, adultos e idosos, catequistas, acólitos, leitores, salmistas, membros dos grupos corais, ministros da comunhão, membros dos conselhos económicos e pastorais, membros de todas as associações e movimentos, departamentos e serviços, todos os nossos seminaristas, todos os consagrados, todos os diáconos e sacerdotes que habitam e servem a nossa Diocese de Lamego ou estão ao serviço de outras Igrejas. Saúdo com particular afeto todos os doentes, carenciados e desempregados, e as famílias que atravessam dificuldades. Uma saudação de particular carinho a todos aqueles que tiveram de sair da sua e da nossa terra, vivendo a dura condição de emigrantes.

9. Que o Deus da Paz nos conceda uma abundante chuva de Graça e de Ternura, e que Maria, nossa Mãe, Senhora do Rosário de Fátima, seja nossa carinhosa Medianeira.

Lamego, 01 de março de 2017, Quarta-feira de Cinzas
Na certeza da minha oração e comunhão convosco, a todos vos abraça o vosso bispo e irmão,
+ António.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

D. António Couto: quando Ele nos abre as Escrituras: C

D. ANTÓNIO COUTO (2015). Quando Ele nos abre as Escrituras. Domingo após Domingo. Uma leitura bíblica do Lecionário. Ano C. Lisboa: Paulus Editora. 464 páginas.
       O Bispo de Lamego, D. António José da Rocha Couto, é reconhecidamente um estudioso da Bíblia, pela formação académica, pela responsabilidade pastoral, pelo compromisso universitário, pelo gosto pessoal e bastimal. A Sagrada Escritura é uma enxurrada de Deus que vem até nós pela Palavra inspirada, anunciada, escrita, experimentada, visível na história e no tempo, nos acontecimentos passados e nos momentos que passam, através de pessoas e de povos, e sobretudo em Jesus Cristo, o Filho Bem-amado do Pai, que nos abre o Céu, trazendo-nos, em Si, o próprio Deus.
       Depois da publicação das Leituras Bíblicas do Lecionário ano A e do Lecionário do ano B, com a Introdução ao Evangelho de Mateus e Introdução ao Evangelho de Marcos, eis agora a Leitura Bíblica do Lecionário do Ano C, enquanto se aguarda a edição da Introdução ao Evangelho de Lucas.
Todas as semanas, centenas de pessoas visitam a página de D. António Couto, na qual coloca as propostas de reflexão para o Dia do Senhor, Mesa de Palavras, sendo depois partilhada em diferentes plataformas digitais, também na página da Diocese de Lamego no Facebook.
       Escreve como se fosse a última coisa que fizesse, como um legado, com a mestria de um bisturi, tal como diz da própria palavra de Deus, colocando cada ponto no seu lugar e fazendo pontes, de Jesus para os discípulos, daquele para o nosso tempo, contextualizando o espaço e o tempo, com as ramificações ao passado, à história de Israel, e aos países e regiões vizinhas.
       Como refere D. António Couto, apresentando este livro: "O estilo é o de sempre. A substância é bíblica e litúrgica, com tempero teológico, literário, simbólico, cultural, histórico, arqueológico. Fui-o escrevendo com gosto, pensando em todos aqueles que gostam de saborear os textos bíblicos que a Liturgia nos oferece. Pensei sobretudo naqueles que, domingo após domingo, têm a responsabilidade de abrir as Escrituras à compreensão dos homens e mulheres, jovens e crianças, que, domingo após domingo, entram nas nossas igrejas".
       O andamento é o Ano Litúrgico, domingo após domingo, com os diversos tempos do Advento e Natal, da Quaresma e da Páscoa, do Tempo Comum, e do Santoral, com as principais Solenidades e Festas do Senhor, da Virgem Maria, dos Apóstolos, de Todos os Santos...
"É a estrada bela, e é andando nela que se encontra o repouso para a vida (Jr 6, 16). Encontramos lume e sentido, para voltar à estrada dos dois de Emaús, a quem já ardia o coração (Lc 24, 32). É a estrada que desce de Jerusalém para Gaza. A estrada é no deserto (Atos 8, 26), como a de Isaías (35, 8; 43, 19), mas pode sempre encontrar-se nela o sentido e a água (Atos 8, 35). É a estrada de Damasco, em que podemos sempe cair de nós abaixo e ouvir chamar o nosso nome de uma forma nova e diferente (Atos 8, 4; 22, 7; 26, 14). É a estrada que se abre à nossa frente sempre que ouvimos Jesus a dizer: «Segue-Me!» ou «Vai»!".
       É um extraordinário contributo para quem prepara as Leituras de cada Eucaristia dominical e/ou solene, com arte e engenho, numa escrita cuidada, uma espécie de prosa poética, e com poemas a encerrar muitas das reflexões. Pode ler-se antes de cada domingo ou de cada celebração festiva, mas também se pode ler de uma assentada ficando-se desde logo com uma perspetiva de todo o ano litúrgico, regressando depois novamente aos textos nos domingos correspondentes.
       Com este volume, D. António Couto completa a reflexão dos três ciclos de leituras dos anos A, B e C, faltando, para acompanhar este último título, o estudo sobre o Evangelista do ano C, São Lucas.

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

D. ANTÓNIO COUTO - O LIVRO DOS SALMOS

D. ANTÓNIO COUTO (2015). O Livro dos Salmos. Cucujães: Editorial Missões. 120 páginas.
       D. António José da Rocha Couto é um reconhecido estudioso da Bíblia. O Bispo de Lamego não deixa de ler, meditar, estudar, interessar-se por temáticas teológicas e concretamente bíblicas.
       Cada semana é possível acompanhar a reflexão/estudo de D. António às Leituras de cada domingo, especialmente do Evangelho, no seu blogue MESA DE PALAVRAS. Por outro lado, a publicação em livro destas pistas de reflexão aprofundada da palavra de Deus para o ciclo de três anos (até ao momento publicados os Domingos do ano A e do Ano B; aguarda-se a publicação do ano C; em simultâneo e como complemento, a introdução ao Evangelho de São Mateus e ao Evangelho de São Marcos, aguardando-se o estudo/introdução a São Lucas.
        Entretanto, D. António Couto coloca em nossas mãos este estudo sobre o Livro dos 150 Salmos. Sabendo-se que o conjunto dos Salmos já formaria um livro e daria para vários estudos, D. António entendeu fixar-se em alguns Salmos mais significativos.
       Os Salmos são a resposta que o Homem dá a Deus. De Deus nos vem a Palavra e a Sabedoria, a Graça e a Salvação. Respondemos com louvor e com súplica, reconhecendo a grandeza de Deus e a nossa pequenez, a misericórdia de Deus e o nosso pecado. Ainda que as nossas palavras sejam grito e protesto, encontram um olhar, um coração que escuta, que envolve, que ama, que perdoa e nos redime.
       "Os Salmos - diz D. António - são para cantar com toda a intensidade, ao som de instrumentos musicais, para entregarmos a Deus a nossa alegria, mas também o ódio que nos habita. Rezar é entregar tudo a Deus. As coisas belas, claro. Mas também o lixo, o mato e as silvas que nos habitam. A oração dos Salmos, recitada com toda a intensidade, depura e decanta a nossa vida, de Deus recebida e a Deus oferecida, por Deus agraciada e transformada, transfigurada".
       Mais à frente, D. António reforça a ideia: "Dizer «Salmos» ou «Saltério» é dizer intensidade, vida, energia, canto, música, alegria, prazer, festa e ainda que, por vezes, dorida".
       Um pequena história recolhida por D. António Couto, sobre o mistério do homem:
A história do insensato do Rabbi Hanoch: «Era uma vez um homem insensato e, por isso, era chamado golem. Quando se levantava de manhã tinha de se haver com o difícil problema de encontrar as roupas para vestir, de tal modo que à noite, só de pensar nisso, já tinha medo de se deitar. Mas uma noite encheu-se de coragem, pegou num lápis e numa folha de papel, e, enquanto se despia, tomou nota do lugar onde poisava cada peça de roupa. Na manhã seguinte, levantou-se todo contente e pegou na sua lista: o barrete ali, e enfiou.o na cabeça, as calças acolá, e vestiu-as; a assim por diante até ter vestido tudo. "Sim, mas eu, onde estou eu?", perguntou-se a si mesmo, "onde estou eu?". Em vão procurou e voltou a procurar. Não conseguiu encontrar-se. E assim sucede também connosco, concluiu o Rabbi». 
       E, conclui D. António: "Só sabemos onde estamos quando é Deus a formular a pergunta e a fazer-nos encontrar a resposta".
       Nesta obra de D. António Couto, O Livro dos Salmos, é possível perceber um pouco mais sobre os Salmos, a sua origem, significado, e rezá-los com mais intensidade. É um trabalho a utilizar por estudantes e por especialistas, mas também percep´tivel para quem quiser aprofundar os seus conhecimentos dobre a Sagrada Escritura, sempre com o propósito de rezar melhor e comprometer-se com a oração, fazendo que o Bem que recebemos de Deus, se multiplique na partilha com os irmãos.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

D. António Couto com os crismandos em Távora


       A Paróquia de São João Batista de Távora vai viver mais um momento de especial significado, a celebração do Sacramento do Crisma. Da preparação para este dia, o encontro de D. António Couto com os Crismandos, 17 jovens, dos 15 aos 21 anos. Este encontro favorece a proximidade entre o Senhor Bispo os jovens que vão ser crismados. Oportunidade para que D. António vincasse alguns aspetos para melhor viver e assumir o Sacramento do Crisma.
       Depois de uma breve oração inicial, o pároco apresentou as razões do encontro, dando a palavra para que cada jovem se apresentasse, com o nome e a idade. Tomando a palavra o Senhor Bispo começou por sublinhar a ligação à palavra Crisma, unção, sendo que Cristo é o Ungido, Jesus crismado (Cristo). Aquele que é crismado é para ser outro Cristo. Mais do que saber o catecismo, também é importante saber catequese, importa viver à maneira de Jesus e todos conhecemos a postura de Jesus na ligação.
       O Espírito Santo é-nos dado por Jesus. Citando São João (7, 39) em que Jesus fala do Espírito santo que os seus discípulos iam receber, mas que ainda não têm porque Jesus ainda não foi glorificado, D. António prosseguiu dizendo que a glorificação vem da crucificação/morte/ressurreição de Jesus. Depois da glorificação, com a morte e ressurreição de Jesus, os discípulos recebem o Espírito Santo. Várias imagens com as quais nos é apresentado o Espírito Santo: a pomba, o vento, o fogo, o óleo. Como o óleo que penetra a pele, pela unção, assim o Espírito Santo age em nós. Em Israel, as pombas regressam na primavera (primeiro verão), ausentando-se no inverno, isto é, o regresso na primavera quando surge a vida nova. Assim o Espírito Santo que nos renova. O vento que agita e afasta todas as teias de aranha, assim o Espírito age de modo a que tenhamos cristãos/jovens, teimosos, desenvergonhados, assumindo-se como cristãos e dando testemunho, vivendo ao jeito de Jesus.
       Algumas perguntas com respostas para espicaçar os crismandos.
       D. António referiu-se aos diferentes gestos do crisma, a unção, mas antes disso a invocação do Espírito Santo, com as mãos abertas, símbolo das mãos de Deus que dá tudo, e das mãos que devemos abrir para tudo receber de Deus e para tudo dar.
       Jesus vivendo como viveu era uma pessoa alegre. Também os cristãos devem ser alegres. Por vezes há cristãos que parecem levar um pesado saco às costas de tão tristes que andam. O cristão vive e testemunha a alegria de ser cristão, levando a Boa Nova onde não se vive.
       Em relação à pomba, uma pequena estória contada pelos rabinos sobre a criação da pomba.
       Deus criou a pomba e colocou-a no chão. Mal pousou no chão veio um gato e deu cabo dela. Então a pomba foi ter com Deus e disse-lhe: como é que pode ser uma coisa destas, a mim deste-me duas patas, fininhas, frágeis e ao gato deste-lhe quatro patas e mais grossas. Assim não pode ser, não tenho como me defender. Ouvindo as suas queixas, Deus colocou-se duas asas e voltou a pousá-la na terra. Já tinha duas patas e duas asas. Mas tão rápido como antes o gato veio e deixou-a ainda pior que da primeira vez. A arrastar-se a pomba volta a bater à porta de Deus e protesta veemente: já não bastava duas pequenas patas, franzinas, com estas duas asas tenho que carregar com mais peso e se antes já não tinha hipótese com o gato agora muito menos. Então Deus respondeu-lhe: estúpida pomba, Eu não te dei as asas para te pesarem mas para suportarem o teu peso e te fazerem voar. Nesta belíssima imagem, o convite de D. António aos jovens para se voem, alegres, com Jesus Cristo, ungidos pelo Espírito, no coração, não desistam de voar, de ser destemidos, teimosos, no bom sentido, desenvergonhados, em viver e anunciar Jesus Cristo.

sábado, 4 de julho de 2015

D. António Couto em encontro com os Crismandos

       Para melhor viver a celebração do Sacramento do Crisma, D. António Couto, Bispo da nossa Diocese de Lamego, deslocou-se à Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, de Tabuaço, na véspera, sexta-feita, 3 de julho, pelas 17h00, no Centro Paroquial de Tabuaço.
       Oportunidade de conhecer um pouco os crismandos e, ao mesmo tempo, de refletir e acentuar os aspetos mais importantes na celebração do Crisma.
       D. António Couto precisou, desde logo, a preferência de Crisma em vez de Confirmação, ainda que se utilizem os dois termos. Crisma pois no remete para Cristo e para nós cristãos. Partindo da primeira Carta de São João (2, 20), D. António Couto sublinhou que com a unção está completa a instrução, o que falta é colocar em prática o que se aprendeu. Passou depois a acentuar os gestos, da invocação do Espírito Santo, com as mãos abertas, de Quem tudo dá, para que como num puzzle possamos também de mão abertas receber e compartilhar. A crismação, para que o azeite que penetra nos transforme a mente e o coração e nos leve a militar na vivência e anúncio do Evangelho, estando atentos uns aos outros, não deixando que nenhum se perca. Evocando o pecado de Adão e Eva a partir do momento que a dádiva de Deus se tornou posse. As mãos abertas deram lugar às mãos fechadas e os dons passaram a ser posse. O melhor da vida não tem preço, não se compra nem se vende.
       Tudo dar como Jesus. O que baralhou os apóstolos, mormente Pedro, não foi Jesus estar disposto a dar a vida pelos amigos. Também Pedro está disposto a dar a vida por Jesus. O que fez Pedro num oito, foi a disponibilidade e a decisão de Jesus dar a vida por todos, até por aqueles que O vão matar...

domingo, 15 de março de 2015

D. António Couto: Introdução ao Evangelho de Marcos

D. ANTÓNIO COUTO (2015). Introdução ao Evangelho segundo Marcos. Lisboa: Paulus Editora. 136 páginas.
       Mais um excelente subsídio para preparar a Eucaristia de Domingo, para melhor compreender o Evangelho de São Marcos, colocando-se em atitude de seguimento, como discípulo em relação a Jesus Cristo, para melhor se entranhar na lógica de serviço, de doação, configurando a própria vida à vida de Jesus.
        O Evangelho seguido prevalentemente neste ciclo litúrgico do ANO B é São Marcos.
        Tal como havia feito para o Ano A, para o qual D. António Couto nos colocou nas mãos dois títulos: Quando Ele nos abre as Escrituras. Ano A, e Introdução ao Evangelho segundo Mateus, o Bispo da mui nobre Diocese de Lamego colocoa à nossa disposição mais dois títulos: Quando Ele nos abre as Escrituras: Ano B, com o comentário à liturgia de cada Domingo, e agora este sobre São Marcos.
        Como já nos habituou, D. António Couto coloca neste trabalho a sua fé, a experiência de vida, a dedicação ao Evangelho, valendo-se de conhecimentos diversos, ao nível da Sagrada Escritura, da história, da psicologia, da teologia, socorrendo-se dos Padres da Igreja e de outros estudiosos, mas sobretudo fazendo-nos mergulhar no texto de Marcos.
       São Marcos voltou à ribalta. Se antes era um texto considerado secundário, ficando quase no esquecimento, pois era entendido como uma espécie de resumo do Evangelho de São Mateus, ou de São Mateus e de São Lucas, a partir do século XIX começa a ser redescoberto, pois é reconhecido como o primeiro Evangelho a ser escrito e, por conseguinte, mais simples, direto, mais próximo cronologicamente de Jesus. Por outro lado, ainda que a linguagem seja diferente, com diferentes destinatários, segundo D. António Couto, os outros Evangelhos, Mateus, Lucas e mesmo São João, mantêm um esquema similar ao de Marcos.
       Sublinham-se no texto temas como chamamento, semente, pão e paixão de Jesus, discipulado. Com efeito o Evangelho de São Marcos faz-nos seguir como que no filme que passa diante de nós, em que a personagem principal é e deve ser o próprio Jesus, que Se aproxima, que chama, que diz, que faz, que nos envia. O discípulo é o que vai atrás.
       Este estudo divide-se em três capítulos:
  1. À porta do Evangelho de Marcos (quem é Marcos, onde e quando escreveu, para quem, estrutura do evangelho).
  2. Quem é Jesus? À procura da identidade de Jesus (Dizer Jesus, dizer do povo, de Pedro, do centurião; jornada de Carfarnaum: Parábola da semente / pão / paixão / ensinados e não compreendidos; na Barca sem Jesus, na Barca com Jesus.
  3. Quem é o discípulo de Jesus e como tornar-se discípulo de Jesus? À procura da identidade do discípulo de Jesus.
       D. António Couto, com mestria, faz-nos sentir discípulos de Jesus, ou melhor, coloca-nos na posição daqueles que se aproximam de Jesus ou de quem Jesus Se aproxima, mostrando que os Seus ditos são para nós, quando nos envolve, nos desafia, nos recrimina, quando nos lembra da nossa condição, quando nos faz passar para trás, como a Pedro e aos demais discípulos, quando nos relembra nossa nudez diante do mistério de Deus. Outro aspeto muito interessante, é a linguagem corrida e muitas vezes (quase) poética de D. António, bem como o estudo dedicado de alguns termos, a partir do grego, do hebraico ou do aramaico e até aqueles que não percebam estas línguas, ficam a perceber melhor o texto e o contexto do filme do Evangelho de Marcos.

LER a apresentação/sugestão do livro:

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Mensagem de D. António Couto para a Quaresma 2015


QUARENTA DIAS DE ORAÇÃO E 24 HORAS DE PERDÃO


1. Na sua mensagem para esta Quaresma, o Papa Francisco lança um forte apelo contra a indiferença generalizada e globalizada, que se instala no nosso coração e o anestesia e endurece, tornando-nos insensíveis. A indiferença é, diz o Papa, uma reclusão mortal em nós mesmos, e desafia, por isso, as nossas paróquias e comunidades a serem ilhas de misericórdia no meio deste vasto mar de indiferença. E contra a dureza enrugada do nosso coração, o Papa propõe a beleza e leveza, sem rugas, da graça e do perdão, uma Igreja maternal, vigilante, compassiva e comovida, com «um coração que vê», como uma mãe sempre atenta, uma mão sempre estendida para manter entreaberta a porta do amor e do perdão, a porta de Deus (Salmo 106,23).


2. Para tornar as coisas mais palpáveis e visíveis, o Papa propõe mesmo a realização de um «Dia do Perdão», 24 horas de reconciliação, a levar a efeito na Igreja inteira nos dias 13 e 14 de Março, de meia tarde a meia tarde, sob o lema: «Deus, rico de misericórdia» (Efésios 2,4). Peço, por isso, encarecidamente, a todos os sacerdotes que convoquem as comunidades paroquiais para este exercício de renovação das pautas do coração através da oração, da escuta atenta e qualificada da Palavra de Deus, da vivência da Eucaristia, do Sacramento da Reconciliação e da prática da caridade. Não deixemos de dar corpo e alma a este «Dia do Perdão», para o qual o Papa Francisco nos convoca.


3. Façamos, amados irmãos e irmãs, do tempo da Quaresma um tempo de diferença, e não de indiferença. Dilatemos as cordas do nosso coração até às periferias do mundo, e que o nosso olhar seja de graça para os nossos irmãos de perto e de longe. Façamos um exercício de verdade. Despojemo-nos, não apenas do que nos sobra, mas também do que nos faz falta. Dar o que sobra não tem a marca de Deus. Jesus não nos deu coisas, algumas coisas para o efeito retiradas da algibeira, mas deu por nós a sua vida inteira. Dar-nos uns aos outros e dar com alegria deve ser, para os discípulos de Jesus, a forma, não excecional, mas normal, quotidiana, de viver (Atos 20,35; cf. Tobias 4,16). Como em anos anteriores, peço aos meus irmãos e irmãs das 223 paróquias da nossa Diocese de Lamego para abrirmos o nosso coração a todos os que sofrem aqui perto e lá longe.

4. Neste sentido, vamos destinar uma parte da nossa esmola quaresmal para o Fundo Solidário Diocesano, para aliviar as dores dos nossos irmãos e irmãs de perto que precisam da nossa ajuda. Olhando para os nossos irmãos e irmãs de longe, vamos destinar outra parte do esforço da nossa caridade para apoiar os 25 Centros de Recuperação Nutricional (CRN) da Guiné Bissau. Esta mão de amor estendida até à Guiné Bissau traduz-se no apoio concreto a 60.000 crianças (dos 0 aos 6 anos), enquadradas em 10.000 famílias e 320 comunidades. Lembro que a mortalidade infantil (dos 0 aos 5 anos) atinge, na Guiné Bissau, a cifra altíssima de 27,4%, muito devido à subnutrição e parcos cuidados de higiene e de saúde. Estes 25 Centros de Recuperação Nutricional, geridos por Congregações Religiosas com a coordenação da Cáritas da Guiné Bissau, representam um pouco mais de esperança para as crianças guineenses. A Fundação Fé e Cooperação (FEC), que foi instituída em 1990 pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) e pela Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP), e que este ano celebra 25 anos de existência, diálogo, fé e cooperação, encontra-se também a trabalhar no terreno guineense, dando apoio a estes 25 Centros de Recuperação Nutricional. Serão os membros desta instituição da Igreja Católica que levarão a nossa esmola para as crianças da Guiné Bissau, e velarão pela sua eficaz aplicação. Esta finalidade da nossa Renúncia ou Caridade Quaresmal será anunciada em todas as Igrejas da nossa Diocese no Domingo I da Quaresma, realizando-se a Coleta no Domingo de Ramos na Paixão do Senhor.

5. Com a ternura de Jesus Cristo, saúdo, no início desta caminhada quaresmal de 2015, todas as crianças, jovens, adultos e idosos, catequistas, acólitos, leitores, salmistas, membros dos grupos corais, ministros da comunhão, membros dos conselhos económicos e pastorais, membros de todas as associações e movimentos, departamentos e serviços, todos os nossos seminaristas, todos os consagrados (em ano a eles consagrado), todos os diáconos e sacerdotes que habitam e servem a nossa Diocese de Lamego ou estão ao serviço de outras Igrejas. Saúdo com particular afeto todos os doentes, carenciados e desempregados, e as famílias que atravessam dificuldades. Uma saudação muito especial a todos aqueles que tiveram de sair da sua e da nossa terra, vivendo a dura condição de emigrantes.

Lamego, 18 de Fevereiro de 2015, Quarta-feira de Cinzas
Na certeza da minha oração e comunhão convosco, a todos vos abraça o vosso bispo e irmão,

+ António.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

D. António Couto: quando Ele nos abre as Escrituras - B

D. ANTÓNIO COUTO (2014). Quando Ele nos abre as Escrituras. Domingo após Domingo. Uma leitura bíblica do Lecionário. Ano B. Lisboa: Paulus Editora. 400 páginas.
       Um ano antes, D. António Couto, Bispo da Diocese de Lamego, ofereceu-nos, em livro a leitura bíblica do lecionário referente ao ano A, juntando-lhe um estudo sobre São Mateus, então o evangelista daquele ano. No novo ano litúrgico, seguindo a mesma lógica e preocupação, a leitura bíblica do Lecionário do Ano B, a ser acompanhada de um estudo sobre São Marcos, evangelista principal deste ano.
       O livro é um excelente hino à Palavra de Deus proclamada neste ano litúrgico que se iniciou com o primeiro domingo do Advento e leva já alguns domingos subsequentes. Reconhecido como "especialista" em Sagrada Escritura, D. António faz jus a esse reconhecimento. As reflexões publicadas no seu blogue oficial, na página da Diocese de Lamego no Facebook, e com outras partilhas em outras tantos lugares da Rede digital, mostram como "um especialista" é capaz de chegar a ser simples e acessível, ainda que em algumas situações se socorra do hebraico, do grego, ou de outras linguagens.
       Semana após semana é possível seguir as sugestões que veicula disponibilizando o comentário às leituras de domingos e dos dias santos, ou dias especiais, seja para os que preparam Homilias, seja para quem deseja preparar bem o Domingo, Dia do Senhor. O blogue (MESA DE PALAVRAS) facilita atualizar, ratificar, limar arestas, para que o comentário seja intenso e nos comprometa mais com a palavra. O livro... é sempre um livro, fácil de manusear, criando mais atenção, criando uma disponibilidade maior para ler, reler, sublinhar.
       Só depois de lido é que poderá sugerir-se o que se leu, ainda que no caso presente o autor seja garantia da qualidade dos comentários, pistas de reflexão, indicações de leitura. Debruçando-se sobre a liturgia de cada Domingo, solenidade ou festa litúrgica, será bom ler o respetivo comentário na semana ou dias precedentes a que se refere. Lê-lo de fio a pavio permite ter uma visão ampla do ano litúrgico. E, por outro lado, começando a ler parece quase um romance que se desenrola, queremos saber mais, descobrir mais coisas, ter uma visão aprofundada, onde transparece o estudo, dedicação, a oração, a fé, o compromisso com a Igreja, com sua a missão evangelizadora.
        Logo na apresentação, D. António dá pistas sobre o que se pretende com esta obra: "oferece uma viagem e uma visita guiada pelos textos bíblicos dos domingos, solenidades e festas ao longo do ano B... É a estrada bela, e é andando nela que se encontra repouso para a vida (Jr 6, 16). Encontramos lume e sentido, para voltar à estrada de Emaús, a quem já ardia o coração (Lc 24, 32). É a estrada que desce de Jerusalém para Gaza. A estrada é no deserto (Atos 8, 26), como a de Isaías 35, 8; 43, 19, mas pode sempre encontrar-se nela o sentido e a água (Atos 8, 35-36). É a estrada de Damasco, em que podemos sempre cair de nós abaixo e ouvir chamar o nosso nome de uma forma nova e diferente (Atos 9, 4; 22, 7; 26, 14). É a estrada que se abre à nossa frente, sempre que ouvimos Jesus dizer: «Segue-me!» ou «vai»! A viagem é longa e sentida".
       Logo de seguida D. António Couto fala no estilo que poderá ser verificado ao longo das páginas seguintes: "O estilo é o de sempre. A substância é bíblica e litúrgica, com tempero teológico, literário, simbólico, cultural, histórico, arqueológico. Fui-o escrevendo com gosto, pensando em todos aqueles que gostam de saborear os textos bíblicos que a Liturgia nos oferece. Pensei sobretudo naqueles que domingo após domingo, têm a responsabilidade de abrir as Escrituras à compreensão dos homens e das mulheres, jovens e crianças, que domingo após domingo, entram nas nossas igrejas".
       Uma das palavras que D. António utiliza amiúde para nos apresentar a beleza e a riqueza de alguns textos é FILIGRANA. Diríamos o mesmo deste livro que nos oferece: são páginas de pura filigrana, fios de ouro que nos entrelaçam na vida, na missão de Jesus, na Sua oração, nos Seus gestos, nos Seus encontros, desafios, na Sua vida por inteiro, com fios entrelaçados a toda a Sagrada Escritura, a civilizações diferentes, de diferentes épocas, socorrendo-se de um manancial imenso de recursos.. A linguagem de D. António é poética, faz-nos rimar a vida com a Escritura. É mais um livro extraordinário.

sábado, 8 de novembro de 2014

D. António Couto - Servidores da Alegria do Evangelho

1. A Evangelii Gaudium do Papa Francisco constitui uma imensa provocação para a nossa Igreja. Os nossos hábitos adquiridos saem abalados, as pautas por que habitualmente nos regemos ficam caducas, a nossa maneira de viver assim-assim entra em derrocada. Sim, a força do Evangelho rebenta os nossos vestidos e odes velhos. A alegria não se serve mais em moldes velhos. É urgente um coração novo para acolher esta enxurrada de alegria. precisamos de Pastores novos à medida da Alegria e do Evangelho.
2. É neste contexto que vamos viver mais uma vez a Semana das Vocações e Ministérios, que este ano acontece de 9 a 16 de novembro, subordinada ao tema que o Papa Francisco trouxe pata a cena «Servidores da Alegria do Evangelho». Rezemos ao Senhor da colheita para que seja Ele, Bom e Belo Pastor, a velar sempre pelo rebanho, e para que nos ensine a ser Pastores e formar Pastores segundo o seu coração de Pastor e Pai premuroso.
3. E sejamos generosos no Ofertório de Domingo, dia 16, que será destinado, na sua inteireza, para as necessidades dos nossos Seminários de Lamego e Resende, e também para o Seminário interdiocesano de São José, sediado em Braga, onde se formam os seminaristas maiores das quatro Dioceses do nosso interior norte: Lamego, Guarda, Viseu e Bragança-Miranda.
4. Esta deslocação para junto de um dos polos da Faculdade de Teologia da UCP, neste caso, Braga, acarreta naturalmente despesas extra, mas tornou-se necessária devido ao decréscimo dos seminaristas nestas quatro Dioceses do nosso interior. O baixo número de seminaritas maiores destas quatro Diocese, atualmente reduzido a cerca de 20, não justifca e até desaconselhava que se mantivesse em atividade o Instituto de estudos Teológico que estas quatro Dioceses mantinham em Viseu.

Que Deus nos abençoe e guarde em cada dia, e faça frutificar o labor dos nossos Seminários.

Lamego, 26 de outubro de 2014, Dia do Senhor.
+ António

terça-feira, 30 de setembro de 2014

D. António Couto | Carta Pastoral | ano pastoral 2014-2015

domingo, 28 de setembro de 2014

D. António Couto | Carta Pastoral | 2014-2015

IDE E CONSTRUÍ COM MAIS AMOR A FAMÍLIA DE DEUS


«Os filhos são um dom de Deus»
(Salmo 127,3)
«Toda a paternidade, como todo o dom perfeito, vêm do Alto, descem do Pai das Luzes»
(Tiago 1,17; cf. Efésios 3,15).
«Sois membros da família de Deus»
(Efésios 2,19)

O amor fontal de Deus-Pai

1. «Deus é amor» (1 João 4,8 e 16) e «amou-nos primeiro» (1 João 4,19), e «nós amamos, porque Deus nos amou primeiro» (1 João 4,19). Então, o amor que está aqui, o amor que está aí, o amor que está em mim, o amor que está em ti, o amor que está em nós, «vem de Deus» (1 João 4,7), e «quem ama nasceu de Deus» (1 João 4,7). Deus amou-nos primeiro, ama-nos e continua a amar-nos sempre primeiro com amor-perfeito (êgapêménos: part. perf. pass. de agapáô), isto é, amor preveniente, fiel, consequente, permanente (1 Tessalonicenses 1,4; Colossenses 3,12). Ama-nos a nós, que estamos aqui, e foi assim que nós começámos a amar. Se não tivéssemos sido amados primeiro, e não tivéssemos recebido o testemunho do amor, não teríamos começado a amar, e nem sequer estaríamos aqui, porque «quem não ama, permanece na morte» (1 João 3,14), sendo então a morte, não o termo da vida, mas aquilo que impede de amar, e, portanto, de nascer!

2. Portanto, se «quem ama nasceu de Deus» (1 João 4,7), o amor que há em nós é remissivo, remete para outrem, remete para a origem. O que é a origem? A origem é o que está antes do começo, a quem a Bíblia e uma parte da humanidade chamam Deus, e nós, cristãos, por imagem, chamamos «Pai». Nova genealogia do amor: o Pai ama o Filho (João 3,35; 5,20), e ama também o mundo (João 3,16), a ponto de enviar o seu Filho ao mundo para lhe manifestar esse amor (João 3,16; 1 João 4,9-10). Só o semelhante conhece o semelhante, e lhe pode comunicar o seu amor. O Pai ama e conhece o Filho Unigénito, e comunica-lhe o seu amor. Como o Pai ama e conhece o Filho Unigénito, também o Filho Unigénito ama e conhece o Pai (Mateus 11,27), e o pode revelar os seus discípulos fiéis (João 15,9), tendo, para tanto, de descer ao nosso nível, fazendo-se homem verdadeiro, semelhante a nós (Filipenses 2,7; Hebreus 2,17). Na verdade, comunica-nos o amor do Pai, e dá-nos a conhecer tudo o que ouviu do Pai (João 15,15). E nós somos convidados a entrar nesse divino colóquio, a acolher esse amor desmesurado, e a passar a amar dessa maneira, como fomos e somos amados (João 13,34; 15,12).

3. Assim, o amor que está em nós, ou em que estamos nós, o amor entre marido e esposa, entre pais e filhos, entre amigos, entre nós, não provém nem de uns nem de outros. Nem sequer de si mesmo. O amor não é meu nem é teu. O amor não é nosso. O amor é dado. Claro. Se «quem ama nasceu de Deus», não é nossa a patente do amor, e temos mesmo de ser extremamente cuidadosos quando pretendemos ajuizar acerca do amor que há nos outros. A antiga equação nivelada: «Ama o próximo como a ti mesmo» (Levítico 19,18), é plenificada e subvertida pela equação paradoxal: «como Eu vos amei» (João 13,34; 15,12). Mesmo aqueles que desconhecem a fonte do amor, é dela que o recebem. Neste sentido, em que a fé se une à razão, não é o casal que faz o amor; é o amor que faz o casal. Do mesmo modo que não é o casal que faz os filhos; é o amor que os faz. São um dom de Deus (Salmo 127,3). Atravessa-nos um calafrio quando nos apercebemos que a humanidade transmite, de idade em idade, de pais para filhos, algo de eterno. Amor eterno, tão terrivelmente ameaçado de idade em idade!


4. É esse amor eterno, primeiro e derradeiro, verdadeiro, que nos faz nascer como irmãos. O lugar que, de forma mais imediata, nos mostra a fraternidade, é a família. E é verdade que, numa família, os filhos, não deixando de ser diferentes na ordem do nascimento, da saúde, da inteligência, temperamento, sucesso, são iguais. E são iguais, não obstante as suas acentuadas diferenças. São iguais, não em função do que são ou do que têm ou do que fazem, mas em função daquilo que lhes é dado e feito. Em função do amor que os precede, o amor dos seus pais, e, em primeira ou última instância, o amor fontal de «Deus-Pai» (Ad gentes, n.º 2), pois nós somos também, diz o Apóstolo, filhos de Deus (1 João 3,2), filhos no Filho (Romanos 8,17.29), membros da família de Deus (Efésios 2,19). É esse amor primeiro que nos torna livres e iguais, logo irmãos. A fraternidade é o lugar em que cada um vale, não por aquilo que é, por aquilo que tem ou por aquilo que faz, mas por aquilo que lhe é feito, antes e independentemente daquilo que deseja, pensa, projeta e realiza, e em que o seu ser é ser numa relação de amor incondicionada, que não é posta por ele, mas em que ele é posto. A verdadeira fraternidade ensina-nos que a nossa consciência não é a autoconsciência daquilo que fazemos, mas a hétero-consciência daquilo que nos é feito e que nós somos sempre chamados a reconhecer e a cantar com renovada alegria, como Maria: «O Todo-poderoso fez em mim grandes coisas» (Lucas 1,49).


O limiar do mistério em cada nascimento

5. Ó abismo da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! (Romanos 11,33). Ó abismo do amor de Deus! Caríssimos pais e mães, os filhos que gerais e que vedes nascer, são, antes de mais, vossos ou são de Deus? Dir-me-eis: este filho é nosso, fomos nós que o geramos, fui eu que o dei à luz, nasceu neste dia, tenho aqui a cédula de nascimento. E eu pergunto ainda: sim, mas porquê esse, e não outro? É aqui, amigos, que entra o para além da química e da biologia, entenda-se, o para além de nós. É aqui, amigos, que entramos no limiar do mistério, na beleza incandescente do santuário, onde o fogo arde por dentro e não por fora. É aqui que paramos ajoelhados e comovidos à beira do inefável e caímos nos braços da ternura de um amor maior, novo, paternal, maternal, que nenhuma pesquisa biológica ou química explicará jamais. Todo o nascimento traz consigo um imenso mistério. Sim, porquê este filho, e não outro? Porquê este, com esta maneira de ser, este boletim de saúde, este grau de inteligência, estas aptidões, esta sensibilidade própria? Sim, outra vez, porquê este filho, e não outro, com outra maneira de ser, outro boletim de saúde, outro grau de inteligência, outras aptidões? Fica patente e latente, evidente, que, para nascer um bebé, não basta gerá-lo e dá-lo à luz. Quando nasce um filho, é também Deus que bate à nossa porta, é também Deus que entra em nossa casa, é também Deus que se senta à nossa mesa, é também Deus que nos visita. Há outra paternidade, a de Deus, por detrás da nossa vulgar paternidade, participação da verdadeira paternidade de Deus. Na verdade, «toda a paternidade, como todo o dom perfeito, vêm do Alto, descem do Pai das Luzes» (Tiago 1,17; cf. Efésios 3,15).


Membros de uma nova família

6. Há, portanto, também uma nova familiaridade. A partir de Deus. Na verdade, no comportamento Misericordioso de Jesus transparece uma nova familiaridade, que assenta a sua fundação muito para além dos meros laços biológicos e anagráficos das nossas famílias. Prestemos atenção ao luminoso dizer de Jesus no caixilho literário de Marcos:
«E vem a mãe dele e os irmãos dele, e, ficando fora, enviaram quem o chamasse. E estava sentada à volta dele a multidão, quando lhe dizem: “Eis que a tua mãe e os teus irmãos e as tuas irmãs estão lá fora e procuram-te”. E respondendo-lhes, diz: “Quem é a minha mãe e os meus irmãos?”. E tendo olhado à volta, para os que estavam sentados em círculo ao seu redor, diz: “Eis a minha mãe e os meus irmãos. Na verdade, aquele que faz a vontade de Deus, este é meu irmão e irmã e mãe”» (Marcos 3,31-35).
Ensinamento espantoso de Jesus que põe em causa a validade de uma maternidade e fraternidade meramente biológicas, fundadas sobre os direitos do sangue [«a tua mãe e os teus irmãos e as tuas irmãs… procuram-te»], para afirmar uma nova familiaridade aberta pelo horizonte novo do éschaton, do último, do primeiro e último, do novíssimo: «aquele que faz a vontade de Deus, este é meu irmão e irmã e mãe». No novo horizonte da vontade do Pai, não se deixa de ser mãe, irmão ou irmã. Não são, porém, esses laços familiares que nos dão direito a amar e a ser amados, mas o termos sido encontrados pelo Amor, que agora somos chamados a testemunhar. «Vós sois testemunhas (mártyres) destas coisas», diz Jesus (Lucas 24,49). Sermos designados por Jesus testemunhas das coisas de Jesus é sermos chamados a envolver-nos de tal modo na história e na vida de Jesus, a ponto de a fazermos nossa, para a transmitir aos outros, não com discursos inflamados ou esgotados, mas com a vida! Sim, aquela história e aquela vida são a nossa história e a nossa vida. Sentir cada criança como filho, cada mulher como mãe e todo o semelhante como irmão ou irmã não é simples retórica, mas a transcrição verbal do novo real compreensível à luz do projeto Criador, Primeiro e Último, em que o mundo aparece como uma única casa e os seus habitantes como uma só família. Nascerá então o mais belo relato. Sim, o relato re-lata, isto é, põe em relação, une, reúne, enlaça, entrelaça. E re-lata, isto é, põe em relação, une, reúne, enlaça, entrelaça duplamente: primeiro, porque faz uma re-lação dos acontecimentos, unindo-os para formar um belo colar; segundo, porque põe em relação o narrador e o narratário. Sim, quando eu e tu e ele e ela, nós todos, relatarmos a mesma história, e não histórias diferentes, nesse dia luminoso e bendito começamos a nascer como irmãos, não pelo sangue, mas pela liberdade. Sim, só o relato nos pode aproximar tanto, fazendo-nos, não apenas estar juntos, mas nascer juntos, como irmãos. Portanto, irmãos e amigos, deixai que grite bem alto aos vossos ouvidos: mais amor, mais família, mais oração, mais missão, mais formação. Mais. Mais. Mais.


O sentido da vida recebida e dada

7. Na origem dos nossos termos «matrimónio» e «património» está o «dom» como «munus», como bem sublinha e explica o famoso linguista francês Émile Benveniste, seguido por Eugenia Scabini e Ondina Greco, no domínio da psicologia social. Munus faz parte de uma rede de conceitos relacionais, que obriga a uma «restituição». Quem não entra neste jogo do munus diz-se immunus, «imune». E voltam as perguntas contundentes: quem recebe a vida, como e a quem a restitui? Salta à vista que não podemos «restituir» a vida a quem no-la deu. Há, neste domínio, uma assimetria originária nas relações familiares. Verificada esta impossibilidade de «restituir» a vida a quem no-la deu, poderíamos pensar em «restituir» em termos análogos: então, o filho poderia, por exemplo, responder ao dom da vida recebida, tomando a seu cargo e cuidado os pais enfraquecidos e velhinhos. Mas este não é o único modo de «restituição» nem o mais significativo. O equivalente simbólico mais próximo é «restituir» em termos generativos (generativo e generoso têm a mesma etimologia), dando, por sua vez, a vida e assumindo a responsabilidade de pôr no mundo uma nova geração. Dar a vida e tomar a seu cuidado uma nova geração é mesmo o modo mais apropriado de «restituir» à geração precedente. Situação paradoxal: respondemos ao débito que nos liga à geração anterior com um crédito em relação à geração seguinte. E os avós têm muito a ganhar com os netos, e estes com aqueles. Todos sabemos. Da família humana à grande família de Deus, passando pela família religiosa. Também por isso, a Bíblia é um livro de nascimentos e de transmissão: da vida e da fé e da graça. Vamo-nos hoje apercebendo de que o mundo em que estamos tem muitas dificuldades em transmitir a vida e a fé e a graça, a cháris, o carisma, que envolve a nossa vida pessoal e da nossa família humana, mas também a vida da Igreja, família de Deus, e das diferentes famílias religiosas. Talvez por isso, nos voltemos tanto para trás, e se fale tanto em voltar às origens, refundar. Mas o caminho a empreender não passará mais por gerar novos filhos na vida e na fé e no carisma? Parece-me que é esta a tarefa que todos temos pela frente, em casa, na Igreja, família de Deus, e nas famílias religiosas.


Missão: «restituição» para a frente

8. Impõe-se, portanto, não a preservação, a conservação, a autoconservação, mas a missão, que é a verdadeira «restituição» a Deus e aos irmãos. Já atrás nos ocupámos a verificar, em termos familiares, a impossibilidade de «restituir» a vida a quem no-la deu. O Salmista também se pergunta no que a Deus diz respeito: «Como «restituirei» ao Senhor por todos os seus benefícios que Ele me deu?» (Salmo 116,12). Sim, como «restituirei» ao Senhor o amor que há em mim? Como «restituiremos» ao Senhor o amor que há em nós? O Salmista responde: «O cálice da salvação erguerei, e o Nome do Senhor invocarei. Os meus votos ao Senhor cumprirei, diante de todo o seu povo» (Salmo 116,13-14). Sim, o Salmista sabe bem que não pode «restituir» diretamente a Deus, mas sabe também que pode sempre agradecer a Deus (restituição análoga), e, passando de mão em mão, em fraterna comunhão, o cálice da salvação, anunciar a todos que Deus atua em favor do seu povo, faz em nós grandes coisas, sendo este anúncio ação de evangelização ou generosa «restituição» generativa. É assim que, de forma empenhada, generosa e apaixonada, como testemunha S. Paulo, se vão gerando (1 Coríntios 4,15; Filémon 10) e dando à luz novos filhos (Gálatas 4,19).

9. Amados irmãos e irmãs, não nos é permitido, nesta encruzilhada da história, ficar quietos, desanimados, tristes e calados. Ou simplesmente entretidos, ensonados e descomprometidos, como crianças sentadas nas praças, que não ouvem, não ligam, não respondem (Mateus 11,16-17; Lucas 7,31-32). Para esta tarefa imensa da transmissão da fé e do amor e da vida verdadeira, vida em grande, todos estamos convocados. Ninguém se pode excluir, ou ficar simplesmente a assistir. São sempre necessários e bem-vindos mais corações, mais mentes, mais entranhas, mais braços, mais mãos, mais pés, mais irmãos. Uma Igreja renovada multiplica as pessoas que realizam serviços e acrescenta os ministérios. A nossa vida humana e cristã tem de permanecer ligada à alta tensão da corrente do Amor que vem de Deus. E temos de ser testemunhas fortes e credíveis de tanto e tão grande Por isso e para isso, podemos aprender a rezar a vida com o orante do Salmo 78:
«As coisas que nós ouvimos e conhecemos,
o que nos contaram os nossos pais,
não o esconderemos aos seus filhos,
contá-lo-emos à geração seguinte:
os louvores do Senhor e o seu poder,
e as suas maravilhas que Ele fez.
Ele firmou o seu testemunho em Jacob,
e a sua instrução pôs em Israel.
E ordenou aos nossos pais,
que os dessem a conhecer aos seus filhos,
para que o saibam as gerações seguintes,
os filhos que iriam nascer. 
Que se levantem e os contem aos seus filhos,
para que ponham em Deus a sua confiança,
não se esqueçam das obras do Senhor,
e guardem os seus mandamentos» (Salmo 78,3-7).
Amados irmãos e irmãs, há coisas que não podemos mais dizer sentados, que é como quem diz, assim-assim, de qualquer maneira ou de uma maneira qualquer. O Amor de Deus, que enche a nossa vida, tem de ser dito com a vida levantada, com um dizer grande, transbordante, contagiante e transformante, com razão, emoção, afeto e paixão. Retomo o dizer do orante e transmissor da fé: «Que se levantem e os contem aos seus filhos» (Salmo 78,6). Ou, de outra maneira: «Uma geração enaltece à outra as tuas obras» (Salmo 145,4). Ou como Maria: «A minha alma engrandece o Senhor» (Lucas 1,47).


Todos-para-todos

10. Para esta tarefa imensa da transmissão da fé e do amor e da vida verdadeira, vida em grande, convoco todos os diocesanos da nossa Diocese de Lamego: sacerdotes, diáconos, consagrados, consagradas, fiéis leigos, pais, mães, avôs, avós, famílias, jovens, crianças, catequistas, acólitos, leitores, agentes envolvidos na pastoral, membros dos movimentos de apostolado. A todos peço a graça de promoverem mais encontros de oração, reflexão, formação, partilha e amizade. Mais. Mais. Mais. A todos peço a dádiva de uma mão de mais amor às famílias desconstruídas e a todos os irmãos e irmãs que experimentam dificuldades e tristezas. Mais. Mais. Mais. A todos peço que experimentemos a alegria de sairmos mais de nós ao encontro de todos, para juntos celebrarmos o grande amor que Deus tem por nós e sentirmos a beleza da sua família toda reunida. Que cada um de nós sinta como sua primeira riqueza e dignidade a de ser filho de Deus. E para todos imploro de Deus a sua bênção, e de Maria a sua proteção carinhosa e maternal.
Santa Maria de um amor maior,
do tamanho do Menino que levas ao colo,
diante de ti me ajoelho e esmolo
a graça de um lar unido ao teu redor. 
Protege, Senhora, as nossas famílias,
todos os casais, os filhos e os pais,
e enche de alegria, mais e mais e mais,
todos os seus dias, manhãs, tardes, noites e vigílias. 
Vela, Senhora, por cada criança,
por cada mãe, por cada pai, por cada irmão,
a todos os velhinhos, Senhora, dá a mão,
e deixa em cada rosto um afago de esperança.

Lamego, 27 de setembro de 2014, Dia da Igreja Diocesana

+ António, vosso bispo e irmão

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sexta-feira, 26 de setembro de 2014

D. ANTÓNIO COUTO | Os desafios da Nova Evangelização

D. ANTÓNIO COUTO (2014). Os desafios da Nova Evangelização. Lisboa: Paulus Editora. 128 páginas.
       A Voz de Lamego, na edição de 16 de setembro apresentou como sugestão de leitura este novo livro de D. António Couto, Bispo de Lamego. Seguimos a sugestão de imediato e na primeira oportunidade adquirimos mais este título, na certeza de ser uma leitura agradável, acessível, profunda, poética, com muitas informações e sobretudo numa dinâmica formativa.
       D. António Couto é, reconhecida e meritoriamente, um dos Bispos portugueses que mais contribui para a reflexão teológica e bíblica. O seu blogue MESA DE PALAVRAS, através do qual disponibiliza todas as semanas pistas que ajudam a refletir a palavra de Deus de cada Domingo e/ou dia santo é visitada por várias centenas de pessoas, para lerem, meditarem, e para melhor preparar e viver a liturgia da Palavra.
"Este novo livro reúne textos de antes do Sínodo e de depois do Sínodo, sendo que os que foram apresentados no Sínodo foram naturalmente produzidos antes do Sínodo. Dedicamos ainda um capítulo à Exortação Apostólica Evangelii Gaudium e, num último apartado, juntamos texros diversos e ocasionais, todos relacionados com a missão de evangelizar".
       Lembramos que D. António Couto, juntamente com D. Manuel Clemente, participou na XIII Assembleia-Geral do Sínodo dos Bispos, reunido com a preocupação de refletir "A nova evangelização para a transmissão da fé cristã", e que teve lugar em Roma, entre os dias 7 e 28 de outubro de 2012, sob pontificado do papa Bento XVI. Nessa ocasião iniciou-se também o ANO DA FÉ. A intervenção proferida por D. António Couto na aula sinodal é um dos textos disponibilizados, bem como texto resumido para a Comunicação Social, e um texto, mais desenvolvido, como preparação para o Sínodo.
       Aquando da realização do Sínodo, D. António Couto era o Presidente da Comissão Episcopal "Missão e Nova Evangelização".
       Vejamos o índice:
Introdução
ANTES E DURANTE O SÍNODO
Fidelidade renovada I
Fidelidade renovada II
Fidelidade renovada III
DEPOIS DO SÍNODO
Nova Evangelização para a transmissão da fé cristã
EVANGELII GAUDIUM
O amor verdadeiro está lá sempre primeiro
TEXTOS DIVERSOS
Amor primeiro
O amor é a alma da missão
Todas as Igrejas para o mundo inteiro
Portugal, vive a missão, rasga horizontes!
Missão: testemunho e serviço
Igreja de Portugal, é tempo de renascer!
Como o Pai me enviou também Eu vos mando ir (Jo 20,21)
Voltar o ímpeto missionário das primeiras comunidades cristãs
Uma Igreja missionária, terna, pobre e para os pobres
Leigo e missionário
Jovem e missionário
Indo, fazei discípulos, dai a vida
Anunciar o Evangelho é uma necessidade que se me impõe
       É uma apanhado de textos riquíssimo sobre o compromisso cristão de transparecer Jesus Cristo. Através destes textos percebem-se alguns dos temas mais caros a D. António Couto, bem como um estilo próprio de dizer e de escrever, de contar e provocar, numa linguagem poética, mas de fácil compreensão. Quando nos deparamos com "peritos" a primeira reação poder-nos-á colocar de pé atrás, pensando que o "perito" escreve para peritos. Mas começando a escutar, ou a ler, logo chegamos à conclusão que quanto mais perito mais simples e envolvente.
       A necessidade de Nova Evangelização é, antes de mais, necessidade de conversão a Jesus. As estruturas e os métodos são importantes, mas imprescindível é mesmo a conversão, a oração, a escuta da Palavra de Deus.
       A melhor forma de evangelizar é ser transparência do amor de Deus, visualizado em Jesus Cristo. Portanto: testemunhar a própria fé. Evangelizar de forma personalizada, isto é, pessoa a pessoa, coração a coração. Um cristão, convertido, convicto, que vive na família e na sociedade, de maneira cristã, alegre, evangeliza outro cristão. Os dois "convertem" outros dois; os quatro outros quatro e exponencialmente se evangeliza. Ser missionário não é uma opção do cristão, ou uma segunda vocação, mas é a sua identidade, todo o cristão é missionário, ou discípulo missionário. Os destinatários? Todas as nações, o mundo inteiro. É uma tarefa sem limite de tempo ou de espaço.

       A intervenção de D. António no Sínodo dos Bispos: Fidelidade Renovada : AQUI. e que integra este livro agora sugerido.