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quinta-feira, 3 de abril de 2025

GIULIA GABRIELI - DESCALÇA NO PARAÍSO


Giulia Gabrieli, nascida a 3 de março de 1997, em Bérgamo, viria a ser-lhe detetado cancro, um sarcoma agressivo que a conduzirá à morte, apesar da esperança, da fé, da alegria, da decisão firme de lutar contra a doença. É uma adolescente normal. O inchaço numa mão, o que poderia significar a mordidela de algum bicho do jardim, era afinal algo bem mais grave.
A adolescente Giulia nunca perdeu a esperança de vir a ser curada pelos médicos e a sua fé foi amadurecendo ao ponto de confiar em Deus as suas dores e sofrimentos, não se deixando abater sempre que as notícias eram menos boas ou quando a quimioterapia lhe tirava as forças.
Obviamente interroga Deus, porquê, onde estás neste momento? Mas logo reúne forças, animando os pais ou mesmo os médicos.
Quase curada, assim o sentia, surgem as notícias médicas que, afinal, tudo voltou. É ela que anima os médicos: conseguimos uma vez havemos de conseguir outra vez. Os médicos são os seus heróis. Internada, consegue prosseguir os estudos.
É um relato emotivo! Uma adolescente que lida com notícias que assustam e paralisam qualquer pessoa. É uma história de vida. Quis escrever e nada mais tocante do que falar das provações a que esteve sujeita. A sua vida é preenchida de alegria e fé, de sofrimento e resistência, em que a família tem um papel preponderante, mas igualmente a sua fé. A fé não a deixa vacilar. A sua alegria em viver é colocada por escrito, para que outros jovens não desperdicem as suas vidas com vícios, na toxicodependência.
Mas nada melhor do que ler palavras de Giulia Gabrieli:
“Quando a doença reapareceu pela segunda vez, finalmente entendi! Devo rezar ao Senhor para que Ele me dê a graça da cura através dos tratamentos de quimioterapia. Mas isso não basta: nos devemos rezar-lhe para que Ele nos dê força para seguir em frente, para suportar os tratamentos, para aceitá-los!
Este ano espero ficar curada, mas mesmo que isso não aconteça, sei que Ele está sempre perto de mim e me dá a força necessária para seguir em frente. Além disso, com o meu sofrimento, estou a salvar muitíssimas outras pessoas, e isso deixa-me feliz!
Esta «viagem», esta «aventura», mudou a minha fé: esta tornou-se muito mais forte, e, por isso, sinto-me melhor, pois sei que nunca estou só, porque Nossa Senhora e o meu anjo da guarda estão a meu lado. E também a Beata Chiara Luce... Às vezes, tenho pedido ao Senhor que me alivie um pouco o meu sofrimento. O próprio Jesus o fez: «Afasta de mim este cálice; porém, não se faça a minha, mas a tua vontade.» E Ele escutou o meu pedido. Diz Deus: «Pedi e vos será dado.» Eu pedi, e Ele deu-me imediatamente.
“… também me abri muito a Deus. Sim, eu já acreditava antes, mas acreditava como acreditam as crianças: vou à missa porque mo mandam os meus pais, rezo porque mo dizem os meus pais. Agora, compreendi de verdade por que razão rezamos a Deus, porque Ele está sempre perto de nós: compreendi muitas coisas da minha fé que dificilmente teria compreendido sem a experiência da doença. Ou talvez até lá chegasse, mas muito mais tarde...”
“…só através da oração consigo abandonar-me de novo ao Senhor.
Uma coisa que admiro muitíssimo em Chiara [Luce Badano], e que também é uma coisa difícil de fazer, é conseguir viver o momento presente de que eu falava antes. Isto parece muito fácil, mas experimentem não pensar no amanhã. Vão ter uma chamada na escola, vão ter um teste: sentem-se preocupados? Não deviam estar preocupados com o amanhã. Neste momento, não têm essa chamada e basta. Que devo fazer, devo preparar-me para essa chamada?
Está bem. No resto pensarei amanhã.
Por exemplo, se agora estivesses mal, é difícil não pensar: como estarei amanhã? Estarei bem? Estarei mal? É difícil não pensar. No entanto, devemo-nos esforçar, porque a nossa vida é agora, não é amanhã; devemo-nos empenhar, agora, em construir um mundo melhor para amanhã. Se vivemos bem agora, amanhã será um dia melhor. Nascerá certamente um jardim de alegria e de comunhão entre os nossos amigos”.
“É pelo amor que se gera a vida, o amor entre uma mulher e um homem gera vida. Aquilo que Deus criou: a vida. A vida é futuro. E Deus reserva-nos o melhor para o nosso futuro”.
 
Consciente da gravidade da doença, Giulia pensou e escreveu sobre a morte e o que esperava:
 
“Com a doença, comecei a pensar na morte. Não tinha medo dela...
Se tiver de acontecer, posso dizer que me é igual. É certo que gostava de viver uma vida longa, de realizar todos os meus sonhos.
No entanto, agora, vejo a morte como uma coisa maravilhosa. Já não tenho medo de morrer, graças à Chiara Luce Badano.
Sei que, depois da morte, está o Senhor, que volto para Ele. Ele é muito bom, toma-me nos braços. E também está a Nossa Senhorinha. Como será maravilhoso conhecê-los! Não vejo a hora de os encontrar, de poder conhecê-los e dar-lhes graças por tudo o que fazem por mim.
Gostava - quando tiver de acontecer, se vier a acontecer -, gostava que o Senhor me recebesse por aquilo que sou, Giulia Gabrieli.
No entanto, assim como aqui gostava de ser bonita e elegante, também então gostava de ser bela e elegante, mas tal como sou.
Quero levar o vestido que usei na comunhão do Davide, que é tão bonito e que me fica tão bem. Depois, na cabeça, estou um pouco indecisa entre uma peruca ou um lenço. Quero que Ele me receba por aquilo que sou. Se tiver de levar um lenço, está bem, um lenço branco. Um ramo de flores: quatro lírios, flores da esposa, e uma rosa vermelha no meio. O meu terço do Beato Papa João Paulo II, e assim fico pronta: nada de maquilhagem, nada de nada. Nada de carteira nem de lantejoulas. Apenas com o meu terço do pescoço e basta. Nada de pulseiras. Fora aquela que me ofereceu a vidente Marija, de Medjugorje. E basta, não preciso de mais nada.
Quando se está no Paraíso, passa-se o dia inteiro a rezar, segundo dizem. Terei de me habituar a isso, porque não me apetece muito, mas, está bem, tudo se tornará natural...
Além disso, se tiver de calçar sapados, quero as sabrinas brancas. Se não for preciso, descalça, descalça para estar em contacto direto com o chão do Céu. Imagino um chão feito de nuvens. Não vos dá vontade de caminhar sobre ele, descalços? Eh, eh... Tudo tão macio, com os pés enterrados nas nuvens. Aos saltos. Para um lado, para o outro, para cima, para baixo. Um Paraíso como o que aparece nos desenhos animados. Eu cá imagino o Paraíso como... Lembram-se do filme A idade do gelo, quando o esquilo encontra uma bolota enorme? Com todas aquelas nuvens cor-de-rosa e aquele megaportão dourado!
Assim: o megaportão dourado e nós, descalços, a abrir esse mesmo portão...
Oh, é maravilhoso!...”
 Autor: Giulia Gabrieli
Título: Descalça no Paraíso
Título original: Un gancio in messo al cielo
Editora: Paulinas Editora
Ano: 2025
Número de páginas: 100

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Assunção de Nossa Senhora ao Céu - 15.agosto.2020

       1 – Em Maria, Mãe de Jesus, cumprem-se as promessas de Deus. N'Ela vem habitar a força do Espírito Santo, assumindo-A por inteiro, para Se tornar, com o Seu sim, Mãe do filho de Deus, do Deus connosco. A morada de Deus entre os homens é, antes de mais e por maioria de razão, Maria, desde sempre escolhida, desde sempre consagrada para ser a Mãe do Messias.
       Na primeira leitura da Missa vespertina, David impele o povo a fazer uma grande festa, a Arca da Aliança está de novo em Sião, na cidade santa de Jerusalém. "Trasladaram a arca de Deus e colocaram-na no meio da tenda que David mandara levantar para ela. Depois ofereceram, diante de Deus, holocaustos e sacrifícios de comunhão." A Arca contém a Lei, a Aliança de Deus com o Povo, a promessa firme de Deus de que não abandonará o Seu povo. Para nós cristãos, a nova Arca é Maria, é n'Ela que está, não a Lei, mas a Palavra de Deus, Deus feito homem. Ela é a primeira Igreja, em cujo corpo se forma o Corpo de Jesus Cristo, que integraremos pelos batismo.
       Rezamos com o salmista que "o Senhor escolheu Sião, preferiu-a para sua morada" e, por conseguinte, será para Deus o lugar do Seu repouso, aí habitará para sempre. Maria é Filha de Sião. É uma linha de sucessão em que Deus – que nos criou – vem ao nosso encontro para nos assumir como filhos. Deus não está à margem, não Se coloca à parte, por cima, ou de fora. Deus entra na história e no tempo, respeitando a nossa liberdade, a nossa fisionomia, a nossa humanidade. Também Ele quer nascer em nós, através da geração/gestação carnal. Ainda que Maria não conheça homem, pois n'Ela opera a força, a sombra, do Espírito Santo! E assim Jesus é verdadeiramente homem, nascido de mulher, verdadeiramente Deus, nascido pelo Espírito Santo, antecipando o nosso nascimento espiritual, pela água e pelo Espírito.
       Maria é preparada por Deus – Imaculada Conceição – para assumir uma missão muito peculiar na história da Salvação: ser Mãe do Filho de Deus. É um privilégio, segundo os Padres da Igreja, em atenção aos méritos futuros da paixão redentora de Jesus Cristo, no qual todos somos redimidos. Até mesmo Maria é salva pela morte e ressurreição de Jesus, Seu Filho.
       Puro Dom de Deus, Ela tornar-se-á também nossa Mãe. Mãe da Igreja. Melhor, Ela é a primeira Igreja que nos dá Cristo.
       2 – Este mistério, como outros que envolvem a Virgem Maria, foi percebido e acolhido primeiramente e com maior humildade e generosidade pelo povo de Deus, a Igreja. Só muitos séculos depois a Igreja hierárquica sanciona positivamente a fé de todo o povo. Pio XII, em 1 de novembro de 1950, confirma como doutrina de fé para toda a Igreja, aquilo que a Igreja (mais popularmente) tinha como certo. Maria foi preservada desde sempre, antes de nascer. Preservada imaculada para Deus e assim Deus a preserva também no túmulo, para além da morte.
       Se nos ficarmos no dogma, como uma declaração da fé professada, não chegaremos a entrar no mistério que nos é dado em Maria, como uma certeza que faz desabrochar a nossa fé.
       Numa lógica racionalista, só o que pode ser demonstrado tem propriedades de ser verdadeiro e real! Pura razão que deixaria de fora sentimentos e emoções, pois o amor, o ódio, a confiança, não são demonstráveis pelas regras da ciência positiva. Também a cultura e a história assentam bases na confiança e na palavra dada, na interpretação e na boa-fé de quem nos narra e transmite os acontecimentos. A fé, como luminosamente expressou a Encíclica A Luz da Fé, preparada por Bento XVI e publicada por Francisco, não é um campo obscurantista que nos ilude, mas é luz que nos guia, que dá sentido à nossa vida, e que potencia a inteligência e a razão.
      Na plenitude dos tempos, Deus revela-Se encarnando. A Palavra de Deus tem um rosto, uma identidade, um Corpo, que não ofusca a nossa humanidade, pelo contrário, revela e clarifica a nossa origem, o sustentáculo e o fim da nossa existência. Doravante, as promessas concretizam-se e dão luz à nossa busca. Não estamos sós, fechados entre o nascimento e a morte, num período de tempo limitado a umas dezenas de anos. Quando morrermos, por mais doloroso que seja pensar neste facto e por mais triste que seja para quem gosta de nós, por mais sofrível que seja deixarmos tudo e sobretudo as pessoas que amamos, a certeza que não seremos apenas pó que se desfazerá terminando a nossa história e a nossa vida. Jesus entra na história, em Maria torna-se um de nós, para nos fazer entrar na vida de Deus. Assume-nos como seres humanos, criados à imagem e semelhança de Deus, e assume-nos como irmãos cuja pátria definitiva está no Céu, onde Ele já Se encontra à direita do Pai. Ora, em Maria esta promessa torna-se certeza: Ela já Se encontra onde Se encontra o Seu filho. A Mãe quer-se sempre perto dos Filhos.
       São Paulo faz transparecer a fé na ressurreição que, embora não anulando o sofrimento do tempo presente, nos faz relativizar as contrariedades da vida: "Quando este nosso corpo mortal se tornar imortal, então se realizará a palavra da Escritura: «A morte foi absorvida na vitória. Ó morte, onde está a tua vitória? Ó morte, onde está o teu aguilhão?»Com efeito, "Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram". A morte que veio por um homem, Adão, será vencida por outro homem, Jesus Cristo. A ressurreição de Jesus marca o início de um tempo novo. Ele abre-nos as portas da eternidade de Deus. Maria é assunta ao Céu, juntando-Se ao Seu filho e garantindo-nos que a seguir seremos nós, seguindo Jesus.

       3 – O PRIVILÉGIO de Nossa Senhora – preservada de toda a mancha e da corrupção – diz-nos que TODA a vida, o Seu Corpo inteiro, é de Deus e para Deus. No início, durante e no fim. Mas é um privilégio instrumental, lunar, como é a Igreja. Tem como fito refletir a luz, refletir Jesus Cristo. Obviamente, o SIM de Maria não é passivo, deixando que Deus aja sem Ela querer. Ela terá que dizer SIM no momento da Anunciação e durante toda a vida. Nesse sim Se torna Mãe de Jesus. Nesse sim Se tornará nossa Mãe, Mãe da Igreja. Se é a Mãe de Jesus, também será Ela a portadora do Corpo de Cristo, a Igreja, do Qual somos membros.
       Ela é iluminada, salva, pela LUZ que incide no Seu coração. Mas a LUZ é para ser vista, é para revelar todo o bem que A rodeia e que nos envolve. E logo nos primeiros instantes, Ela nos dá Jesus, colocando-O na manjedoura. Os Pastores e depois os Magos encontram o Menino envolto em panos e podem "pegar" n'Ele, adorá-l'O.
       No alto da Cruz, Jesus diz claramente que doravante a maternidade de Maria se expande para todos os seus discípulos, para toda a Igreja. Dessa hora em diante cabe-nos acolher Maria, trazê-l'A para nossa casa, para a nossa vida. Só assim nos tornamos discípulos amados de Jesus, só assim assumimos a fraternidade que Ele nos oferece. Partilha connosco a Mãe, para que nos assumamos, entre nós, como irmãos.
       No evangelho – belíssimo – da Missa vespertina, Jesus diz-nos que a missão de Nossa Senhora é um privilégio que está ao nosso alcance. Uma mulher, levantando a voz por entre a multidão, declara: «Feliz Aquela que Te trouxe no seu ventre e Te amamentou ao seu peito». Mas logo Jesus nos revela que a prerrogativa de Nossa Senhora não é um exclusivismo: «Mais felizes são os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática».
       Maria é Mãe, mas também é discípula de Jesus. É a primeira Igreja. Gera Cristo. N'Ela se reflete e refulge a Luz que vem da eternidade de Deus. Mas integra o Povo de Deus que peregrina ao encontro do Seu Senhor. Em vida: feliz porque escuta. Bem-aventurada Aquela que acreditou em tudo quando vem da parte do Senhor. E depois da morte (temporal), continua a dar-nos Jesus, e a acolher-nos como filhos. Ela é bem-aventurada por todas as gerações por nos ter dado o Salvador e nos mostrar como podemos responder e realizar o nosso sim a Deus em gestos de atenção, cuidado e intercessão a favor dos nossos irmãos.
       Somos chamados a partilhar a gravidez de Maria, acolhendo a Palavra que vem de Deus e dando à luz, ao mundo, a Luz, o Deus que nos habita e que em nós faz a Sua morada, preparando e antecipando JÁ a eternidade que nos espera.

Pe. Manuel Gonçalves

Textos para a Eucaristia: Ap 11, 19a; 12, 1-6a.10ab; 1 Cor 15, 20-27; Lc 1, 39-56.

quarta-feira, 20 de março de 2019

O Filho do homem vai ser entregue...

        Disse-lhes Jesus: «Vamos subir a Jerusalém e o Filho do homem vai ser entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas, que O condenarão à morte e O entregarão aos gentios, para ser por eles escarnecido, açoitado e crucificado. Mas ao terceiro dia Ele ressuscitará»...
       «Sabeis que os chefes das nações exercem domínio sobre elas e os grandes fazem sentir sobre elas o seu poder. Não deve ser assim entre vós. Quem entre vós quiser tornar-se grande seja vosso servo e quem entre vós quiser ser o primeiro seja vosso escravo. Será como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela redenção dos homens» (Mt 20, 17-28).
       Jesus não veio para ser servido como um príncipe ou como uma rei, mas veio ao mundo para servir e dar a vida a favor da humanidade inteira.
       Hoje, o Evangelho mostra-nos a anúncio da paixão de Jesus. A caminhada para Jerusalém - a cidade santa - é uma caminhada para o desfecho da missão, rumo à CRUZ. Neste trajeto, a mãe dos filhos de Zebedeu pede a Jesus que os coloque à Sua esquerda e à Sua direita. É a procura pelo melhor lugar. Os outros discípulos contestam, pois também disputam os lugares mais importantes. Jesus inverte a lógica: quem quiser ser o maior faça servo de todos. O serviço é o caminho de Jesus Cristo até ao Pai, até à eternidade.
       O fim anunciado, mas não o esperado pelos discípulos de Jesus. No II Domingo da Quaresma, o Evangelho apresentava-nos a Transfiguração de Jesus, que surge precisamente neste contexto, em que Jesus lhes diz que será entregue às autoridades dos judeus, e depois será morto.