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sexta-feira, 19 de julho de 2019

LUIGI MARIA EPICOCO - SAL, NÃO MEL

LUIGI MARIA EPICOCO (2019). Sal, não mel. Para uma Fé que incendeie. Lisboa: Paulus Editora. 180 páginas.
"A Fé não é um pouco de mel na boca para enganar o sabor de um comprimido amargo. Por vezes, é uma coisa que arde, como o sal numa ferida. Mas exatamente por isto impede-a de 'apodrecer'. Somos chamados a ser sal, não mel".
É desta forma que termina este pequeno livro, sublinhando que a Fé não nos livra da luta, do fracasso ou do sofrimento. Quando muito leva-nos a viver a tempestade como esperança para o que há de vir, com a certeza do bem que está além e apesar de todo o mal, na certeza que somos amados, que Deus nos ama mesmo que a nossa vida contradiga a nossa pertença ao Senhor.
É leitura sobre as três virtudes teologais: Fé, Esperança e Caridade. A abrir, o autor cita o Diário de um pároco de aldeia, de Georges Bernanos: "Uma cristandade, como como um homem, não se nutre de compota. O bom Deus não escreveu que fôssemos o mel da terra, meu rapaz, mas o sal... O sal, sobre a pele ferida, é uma coisa que arde. Mas também a impede de apodrecer". A partir daqui Luigi Picoco reflete sobre a vida espiritual como dom e como caminho, encontro entre a Graça de Deus e a nossa abertura para a acolher na nossa vida. "A nossa vida está sempre prestes a apodrecer... As coisas que se arriscam a apodrecer são as coisas vivas, as coisas transbordantes de vida... Uma doença desenvolve-se onde há vida. Uma chaga dói porque agride um corpo vivo".
Por vezes, na vida espiritual somos como discípulo noturno, como Nicodemos, temos a necessidade de escutar Jesus, de O seguir, de alargar a nossa humanidade, mas ao mesmo tempo estamos presos à noite, ao julgamento dos outros, com medo de perder o pé. Optamos pelo compromisso, ansiosos pelo Espírito, mas não abdicando das nossas certezas. "A humildade é deixar de confiar em nós mesmos e começar a confiar exclusivamente n'Ele".
Antes de refletir especificamente sobre as virtudes teologais o autor faz-nos ver que elas são dom de Deus. Não são esforço nosso. É dom do Céu. "No máximo, humanamente, somos capazes de confiança, que é assunto diferente da Fé; somos capazes de otimismo que não é Esperança, e somos capazes de bem que é matéria diferente de Caridade", aos quais hão de corresponder comportamentos humanos, mas estes só por si são insuficientes.
"A Fé uma direção, não uma explicação... Caminhos mais que respostas... A Fé é sempre um caminho. É uma direção na escuridão... uma estrada a percorrer". A Fé liberta-nos da posse. É significativo que Abraão "abdique" da posse do seu filho Isaac, por acreditar no amor de Deus.
A Fé fala da relação de amor, entre mim e Ele. Deus ama-me! A Esperança é acreditar que no fundo de tudo o que existe está escondido o bem. Assim, a esperança diz respeito á nossa relação com tudo o que Deus criou. Há que conjugar, então, a relação entre duas montanhas, a do Tabor e a do Calvário. O Tabor mostra-nos a divindade de Jesus. O Calvário, a Sua humanidade. "Na hora da cruz, a hora do Calvário, não verás mais luz, mas só a memória da luz te poderá segurar. É a memória profunda, a recordação de quem uma vez vimos uma luz. É isto que nos salva na escuridão... A Esperança é a memória viva desta luz que nos acompanha quando estamos na escuridão".
O primordial é a Caridade. A Fé e a Esperança são necessárias, mas o fundamento é o amor, a caridade. "A Fé é crer que Deus me ama. A Esperança é saber que, no fundo de tudo, o que existe é um bem... A Caridade é saber que primeiro que tudo, antes de qualquer coisa, existe o amor". É importante amar, mas igualmente saber-se e sentir-se amado. "Ser cristão não significa viver apenas o mandamento de amar. O mandamento do amor é amar, sim, mas também deixar-se amar. Isto fundamenta a nossa vida. É o pressuposto para que uma vida permaneça humana, porque o coração do homem, crente ou não-crente, cristão ou não-cristão, exige, pela sua natureza, saber-se amado... Todos procuramos o amor, todos procuramos ser amados. A maior parte das nossas patologias nascem exatamente do amor, isto é, de não nos sentirmos amados... a única coisa que satisfaz o nosso coração, mais ainda que a Fé, mas do que a Esperança, é o Amor, é a Caridade, é saber-se amado de maneira estável, definitiva, decisiva... Só o amor cura a nossa angústia, a nossa tristeza, o nosso desconforto, a nossa insatisfação. Só o Amor. Deus envia o Seu Filho ao mundo por tomar a sério este desejo de nos sentirmos amados que existe em todos nós... Não são os mandamentos que nos fazem sentir amados... Deus dá-nos o Filho. Porque sabe que temos necessidade da concretização do Amor e não da explicação do Amor... O amor preenche-nos a vida... A Caridade é o pressuposto da vida".

sábado, 16 de março de 2019

Amai os vossos inimigos

       Disse Jesus aos seus discípulos: «Ouvistes que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo’. Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem, para serdes filhos do vosso Pai que está nos Céus; pois Ele faz nascer o sol sobre bons e maus e chover sobre justos e injustos. Se amardes aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem a mesma coisa os publicanos? E se saudardes apenas os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não o fazem também os pagãos? Portanto, sede perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito» (Mt 5, 43-48).
       O paradigma de Jesus é bem mais elevado e saudável que a nossa limitação. É certo que nós também sabemos que o perdão é muito mais eficaz e faz-nos melhor à saúde que o rancor, a inveja e o desejo de vingança. Mas quando nos fazem mal a nós, aí já se torna mais delicado perdoar. Mas, ainda que momentaneamente nos pareça humilhação, com o tempo perceberemos que é o único caminho que nos liberta, que nos faz sentir bem connosco, com o mundo e com Deus. Dar a outra face, amar até os inimigos, ser perfeitos como o Pai celeste é perfeito. É este o modelo de vida que Jesus nos propõe.
       Amar os nossos amigos é tarefa de fácil execução, não custa nada. Agora, amar os inimigos, aqueles de quem não gostamos, que nos fizeram mal ou a quem nós fizemos mal já é uma missão muito pesada, mas, garante Jesus, muito libertadora e que nos dignifica.
       Como é que podemos rezar por alguém que nos fez mal? Como é que podemos amar alguém que disse mal de nós? Como podemos nutrir sentimentos positivos por alguém que não vemos com bons olhos? Não é fácil, mas é o mandamento de Jesus. A referência é Deus Pai. O cristão não se fixa nos mínimos garantidos, mas almeja o máximo, a perfeição de Deus.

terça-feira, 13 de novembro de 2018

Somos inúteis servos: fizemos o que devíamos fazer

       Disse o Senhor: «Quem de vós, tendo um servo a lavrar ou a guardar gado, lhe dirá quando ele volta do campo: ‘Vem depressa sentar-te à mesa’? Não lhe dirá antes: ‘Prepara-me o jantar e cinge-te para me servires, até que eu tenha comido e bebido. Depois comerás e beberás tu’. Terá de agradecer ao servo por lhe ter feito o que mandou? Assim também vós, quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: ‘Somos inúteis servos: fizemos o que devíamos fazer’» (Lc 17, 7-10).
       O caminho de Jesus é exigente, mas compensador, vivido na caridade sem limites. O serviço ao semelhante, tratando-o como irmão, na proximidade de um abraço, na leveza de uma palavra, no afago do coração, no sorriso da alma, é um projeto de vida, é a postura de Jesus, permanentemente. Ontem, Ele lembrava-nos de perdoar sempre, de nos conciliarmos uns com os outros mesmo tendo motivos para o conflito e a divisão. Hoje, claramente, fala-nos no serviço aos outros com alegria e generosidade.
       A referência é Ele, que veio não para ser servido mas para servir e dar a vida pela humanidade.

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Este homem acolhe os pecadores e come com eles

        Os publicanos e os pecadores aproximavam-se todos de Jesus, para O ouvirem. Mas os fariseus e os escribas murmuravam entre si, dizendo: «Este homem acolhe os pecadores e come com eles». Jesus disse-lhes então a seguinte parábola: «Quem de vós, que possua cem ovelhas e tenha perdido uma delas, não deixa as outras noventa e nove no deserto, para ir à procura da que anda perdida, até a encontrar? Quando a encontra, põe-na alegremente aos ombros e, ao chegar a casa, chama os amigos e vizinhos e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida’. Eu vos digo: Assim haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se arrependa, do que por noventa e nove justos, que não precisam de arrependimento. Ou então, qual é a mulher que, possuindo dez dracmas e tendo perdido uma, não acende uma lâmpada, varre a casa e procura cuidadosamente a moeda até a encontrar? Quando a encontra, chama as amigas e vizinhas e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma perdida’. Eu vos digo: Assim haverá alegria entre os Anjos de Deus por um só pecador que se arrependa» (Lc 15, 1-10).
       A postura de Jesus é de inclusão, de promoção, de acolhimento, em relação a todas as pessoas mas privilegiando as que vivem na rua, que estão abandonadas ao seu sofrimento, que estão excluidas social e religiosamente, as mulheres, as crianças, os doentes, leprosos, coxos, cegos, surdos, mudos, publicanos, estrangeiros.
       Jesus não Se apresenta a partir do palácio - símbolo do poder político, económico, social - nem a partir do tempo - símbolo do "poder" religioso, mas a partir da rua, das estradas, caminhos e vielas, a partir das margens, onde pulsa a vida em sofrimento. Todos são filhos. Como os pais, a atenção recai sobre quem está doente, perdido, desencantado, sem esperança. Se numa família um dos filhos está doente, a atenção redobra sobre esse filho. Não significa menos amor aos outros. Mas é necessário recuperar aquele. Jesus ama sem medida a todos, traz em plenitude o amor do Pai. Porém, e como seria de esperar, privilegia os que quer recuperar, incluir, a quem quer devolver a dignidade de filhos de Deus.
       Ele vem para os pecadores. Vem para curar. Vem para ajuntar os que andam dispersos, cansados e abatidos. E como é grande a alegria por cada pessoa que recobra a vida, a saúde, a esperança, a alegria de viver.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Discernir os sinais dos tempos...

       Dizia Jesus à multidão: «Quando vedes levantar-se uma nuvem no poente, logo dizeis: ‘Vem chuva’; e assim acontece. E quando sopra o vento sul, dizeis: ‘Vai fazer muito calor’; e assim sucede. Hipócritas, se sabeis discernir o aspecto da terra e do céu, porque não sabeis discernir o tempo presente? Porque não julgais por vós mesmos o que é justo?». E acrescentou: «Quando fores com o teu adversário ao magistrado, esforça-te por te entenderes com ele no caminho, para que ele não te arraste ao juiz e o juiz te entregue ao oficial de justiça e o oficial de justiça te meta na prisão. Eu te digo: Não sairás de lá, enquanto não pagares o último centavo» (Lc 12, 54-59).
        É necessário ler os sinais dos tempos e agir em conformidade. Ter conhecimentos, porém, sejam eles quais forem, só fará sentido e só terá importância na medida que nos aproximarem dos outros, se nos mobilizarem para os irmãos. Assim, o verdadeiro conhecimento é aquele que nos congrega e nos compromete com os nossos semelhantes.
       Como é costume dizer-se, quem melhor conhece a Deus é o Diabo e no entanto não é crente, não é cristão. Obviamente, para amarmos precisamos de conhecer, não amamos que que ignoramos. Ainda que o conhecimento (sobretudo) acerca das pessoas seja progressivo. Partir do conhecimento para adquirirmos a sabedoria que nos leva a utilizar a inteligência para viver melhor, para dar qualidade aos nossos dias, para nos aproximarmos uns dos outros.
Por outro lado, a evolução científica e tecnológica, o desenvolvimento dos meios de comunicação aproximou-nos uns dos outros, mas como recordou Bento XVI numa das Mensagens para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, não nos tornou irmãos. Não basta saber muito de história, de filosofia, de matemática, ou ter esta ou aquela licenciatura. É preciso amar. É preciso conhecer o nosso semelhante, o nosso vizinho (e não apenas aquele ator, ou aquele cantor).

terça-feira, 16 de outubro de 2018

A esmola purifica o interior e o exterior

       ...Um fariseu convidou-O para comer em sua casa. Jesus entrou e tomou lugar à mesa. O fariseu admirou-se, ao ver que Ele não tinha feito as abluções antes de comer. Disse-lhe o Senhor: «Vós, os fariseus, limpais o exterior do copo e do prato, mas o vosso interior está cheio de rapina e perversidade. Insensatos! Quem fez o interior não fez também o exterior? Dai antes de esmola o que está dentro e tudo para vós ficará limpo» (Lc 11, 37-41).

        Um dos gestos obrigatórios para os judeus eram as abluções, antes da refeição, lavar as mãos e eventualmente a cara. É uma questão prática e higiénica. Mas converteu-se em rito religioso. Jesus ignora o gesto e senta-se para tomar a refeição. Não deve ter sido inocente. Talvez uma provocação de Jesus para suscitar a reflexão. E a reflexão é clara: a insistência não deve ser no aspeto exterior, mas na vivência interior e que esta, por sua vez, possa traduzir-se com atitudes e gestos concretos na relação com o nosso semelhante.
       Obviamente que o copo como o prato devem estar limpos também no exterior e o aspecto ajuda à refeição, mas como seria se o prato estivesse limpo por fora mas sujo por dentro?! A prioridade é o interior, a conversão ao bem, à verdade, à justiça...
      Se algumas dúvidas existiam, agora tudo fica mais claro: as obras comprovam a fé professada, dão-lhe vida, sustentam-na e aprofundam-na. Uma fé sem obras é inútil, é balofa, oca. Aliás, se a fé é autêntica ela conduz ao compromisso. Por conseguinte, dizer que se tem uma grande fé é desnecessário, as obras mostram, num e noutro sentido.
      Jesus, assim, contrapõe o ritualismo à vivência da caridade. De pouco adianta cumprir todas as exigências da Lei, se não houver conversão do coração, transformação da vida, compromisso com o nosso semelhante. A esmola purifica o nosso interior e o nosso exterior...
       Dizia Blaise Pascal, que quando não vivemos como pensámos, acabamos por pensar como vivemos. Por outras palavras, o nosso exterior deve ser a expressão do que somos, do nosso interior, devemos viver de acordo com os nossos princípios éticos, sociais, culturais, religiosos. Se nos deixamos levar pela maré, acabamos por justificar, ou tentar justificar, aquilo que, por princípio está errado. Jesus insiste na necessidade de voltarmos o nosso olhar para o interior, onde nos podemos encontrar com Deus.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

São Vicente de Paulo, presbítero

Nota biográfica:
       Nasceu na Aquitânia em 1581. Completados os estudos e ordenado sacerdote, exerceu o ministério paroquial em Paris. Fundou a Congregação da Missão, destinada à formação do clero e ao serviço dos pobres; com a ajuda de S. Luísa de Marillac instituiu também a Congregação das Filhas da Caridade. Morreu em Paris no ano 1660.
Oração de colecta:
       Senhor, Deus de bondade, que enriquecestes o presbítero São Vicente de Paulo com virtudes apostólicas para se entregar ao serviço dos pobres e à formação dos pastores do vosso povo, concedei-nos que, animados pelo mesmo espírito, amemos o que ele amou e pratiquemos o que ele ensinou. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
São Vicente de Paulo, presbítero

O serviço dos pobres deve ser preferido acima de tudo

A nossa atitude para com os pobres não se deve regular pela sua aparência externa nem sequer pelas suas qualidades interiores. Devemos considerá-los, antes de mais, à luz da fé. O Filho de Deus quis ser pobre e ser representado pelos pobres. Na sua paixão, quase perdeu o aspecto de homem; apareceu como um louco para os gentios e um escândalo para os judeus. Todavia, apresentou-Se a estes como evangelizador dos pobres: Enviou-Me para evangelizar os pobres. Também nós devemos ter os mesmos sentimentos de Cristo e imitar o que Ele fez: cuidar dos pobres, consolá-los, socorrê-los e recomendá-los.
Cristo quis nascer pobre, chamar para sua companhia discípulos pobres, servir os pobres e identificar se com os pobres, a ponto de dizer que o bem ou o mal feito a eles o tomaria como feito a Si mesmo. Deus ama os pobres, e por conseguinte ama também aqueles que os amam. Na verdade, quando alguém tem especial afecto a uma pessoa, estende também este afecto aos seus amigos e servos. Por isso temos razão para esperar que, por causa do nosso amor dos pobres, também nós seremos amados por Deus.
Quando os visitamos, procuremos compreender a sua pobreza e infelicidade para sofrer com eles e ter os sentimentos de que fala o Apóstolo, quando diz: Fiz-me tudo para todos. Esforcemo-nos por sentir profundamente as preocupações e misérias dos nossos semelhantes; peçamos a Deus que nos dê o espírito de misericórdia e compaixão e que conserve sempre em nossos corações estes sentimentos.
O serviço dos pobres deve ser preferido a todos os outros e deve ser prestado sem demora. Se durante o tempo de oração, tiverdes de levar um medicamento ou qualquer auxílio a um pobre, ide tranquilamente, oferecendo a Deus essa boa obra como prolongamento da oração. E não tenhais nenhum escrúpulo ou remorso de consciência se, para prestar serviço aos pobres, tivestes de deixar a oração. De facto não se trata de deixar a Deus, se é por amor de Deus que deixamos a oração: servir um pobre é também servir a Deus.
A caridade é a máxima norma, e tudo deve tender para ela; é uma grande senhora: devemos cumprir o que ela manda. Renovemos, portanto, o nosso espírito de serviço aos pobres, principalmente para com os mais abandonados. Esses hão de ser os nossos senhores e protetores.
Sobre São Vicente de Paulo, neste blogue, aqui!

sábado, 25 de agosto de 2018

Não imiteis as suas obras, eles dizem e não fazem

       No Evangelho para hoje, Jesus remete-nos para a necessidade das boas obras confirmarem o que professamos pelas palavras, procurando a correspondência entre o que nos exigimos e o que exigimos ao nosso irmão, optando por um caminho de humildade, e não de sobranceria. É no reconhecimento da nossa limitação, que podemos abrir-nos aos outros e a Deus.
       «Na cadeira de Moisés sentaram-se os escribas e os fariseus. Fazei e observai tudo quanto vos disserem, mas não imiteis as suas obras, porque eles dizem e não fazem. Atam fardos pesados e põem-nos aos ombros dos homens, mas eles nem com o dedo os querem mover. Tudo o que fazem é para serem vistos pelos homens: alargam as filactérias e ampliam as borlas; gostam do primeiro lugar nos banquetes e dos primeiros assentos nas sinagogas, das saudações nas praças públicas e que os tratem por ‘Mestres’. Vós, porém, não vos deixeis tratar por ‘Mestres’, porque um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos. Na terra não chameis a ninguém vosso ‘Pai’, porque um só é o vosso pai, o Pai celeste. Nem vos deixeis tratar por ‘Doutores’, porque um só é o vosso doutor, o Messias. Aquele que for o maior entre vós será o vosso servo. Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado» (Mt 23, 1-12).
       As nossas palavras devem levar-nos ao compromisso, a fazer o bem, a viver honesta e solidariamente. De que adianta ter uma fé imensa, se vejo alguém a quem deitar a mão e não o faço por preguiça, ou deixando que outros façam?
       Jesus diz claramente que devemos agir pela justiça, pelo amor, pelo bem, não para que outros vejam e nos elogiem, mas por ser bem e justo. E, por outro lado, e necessidade das nossas palavras não serem ocas, mas corresponderem à nossa prática

terça-feira, 14 de agosto de 2018

São Maximiliano Kolbe, presbítero e mártir

Nota Biográfica:
       Maximiliano Maria Kolbe nasceu no dia 8 de Janeiro de 1894, na Polónia.
       Foi ordenado sacerdote em 1918, em Roma.
       Foi por essa altura (1917) que fundou a Milícia da Imaculada. Depois de ordenado regressou à Polónia, a Cracóvia.
       Após abrigar muitos refugiados, entre os quais cerca de 2000 judeus, é preso em 17 de Fevereiro de 1941, pela Gestapo e transferido para Auschwitz em 25 de Maio como prisioneiro com o número 16670.
       Quando em Julho de 1941, um prisioneiro do bunker, onde se encontrava Kolbe, foge os nazis, como represália, enviam 10 outros prisioneiros para uma cela isolada até morrerem de fome e sede. Mais tarde o prisioneiro fugitivo é encontrado morto, afogado numa latrina.
       Um dos dez prisioneiros escolhidos para morrer lamenta-se pela família que deixa, dizendo que tem mulher e filhos. O padre Kolbe pede então para tomar o seu lugar e o seu pedido é aceite.
       Passadas duas semanas, apenas quatro dos dez homens sobrevivem, entre os quais Kolbe. Os guardas nazis executam-nos com uma injecção de ácido carbónico. Estávamos a 14 de Agosto de 1941.
       O corpo de Maximiliano Kolbe foi cremado e suas cinzas atiradas ao vento, realizando assim o seu desejo: “Quero ser reduzido a pó pela Imaculada e espalhado pelo vento do mundo”.
       No dia 17 de Outubro de 1979, é beatificado pelo Papa Paulo VI.
       No dia 10 de Outubro de 1982, é canonizado pelo Papa João Paulo II, como mártir da caridade, na presença de Franciszek Gajowniczek, que foi substituído por Kolbe e que sobreviveu aos horrores de Auschwitz.

Oração (de colecta):
       Deus de infinita bondade, que inspirastes a São Maximiliano Maria, presbítero e mártir, uma ardente devoção à Virgem Imaculada e o fortalecestes no zelo das almas e no amor ao próximo, concedei-nos, por sua intercessão, que, trabalhando generosamente pela vossa glória ao serviço dos homens, possamos conformar-nos até à morte com vosso Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Das Cartas de S. Maximiliano Maria Kolbe, presbítero e mártir

O zelo apostólico  pela salvação e santificação das almas (1971)

Sinto grande alegria, querido irmão, pelo teu ardente zelo pela glória de Deus. Nos nossos tempos, infelizmente, vemos com tristeza propagar-se sob várias formas uma certa epidemia, a que chamam “indiferentismo”, não só entre os leigos mas também entre os religiosos. No entanto, porque Deus é digno de infinita glória, o nosso primeiro e mais importante objetivo é promover a sua glória, tanto quanto pode a nossa humana fraqueza, embora nunca possamos prestar Lhe a glória que Ele merece, dado que somos frágeis criaturas.
Uma vez, porém, que a glória de Deus resplandece sobretudo na salvação das almas que Cristo resgatou com o seu próprio sangue, o principal e mais profundo empenho da vida apostólica deve ser o de procurar a salvação do maior número de almas e a sua mais perfeita santificação. Sobre o caminho mais apto para este fim, isto é, para promover a glória divina e a santificação das almas, poucas palavras direi. Deus, que na sua infinita ciência e sabedoria conhece perfeitamente o que devemos fazer em todas as circunstâncias para promover a sua maior glória, manifesta-nos normalmente a sua vontade através dos seus representantes na terra.
É a obediência, e só ela, que nos manifesta com certeza a vontade divina. É possível que o superior cometa um erro, mas não é possível que nós, seguindo a obediência, sejamos induzidos em erro. A única excepção para não obedecer seria quando o superior mandasse alguma coisa que implicasse claramente uma transgressão da lei divina, por mais pequena que seja: nesse caso ele não seria intérprete fiel da vontade de Deus.
Só Deus é infinito, sapientíssimo, santíssimo; só Deus é Senhor clementíssimo, nosso Criador e nosso Pai, princípio e fim, sabedoria, poder e amor; Deus é tudo isto. Portanto, tudo o que se encontra fora de Deus, tudo o que não é Deus, só tem valor na medida em que se refere a Ele, que é o Criador de todas as coisas e o Redentor dos homens, o fim último de toda a criação. É Ele de facto que nos manifesta a sua adorável vontade por meio dos seus representantes na terra e nos atrai a Si, querendo também por meio de nós atrair as almas e uni las a Si na mais perfeita caridade.
Vê, irmão, como é grande, pela misericórdia de Deus, a dignidade da nossa condição. Pela obediência, apesar dos limites da nossa pequenez, como que nos transcendemos, conformando-nos à vontade divina, que, na sua infinita sabedoria e prudência, nos dirige para procedermos rectamente. Mais: aderindo à vontade de Deus, a que nenhum ser criado pode resistir, tornamo-nos mais fortes que todas as coisas.
É este o caminho da sabedoria e da prudência; é este o único caminho pelo qual podemos dar maior glória a Deus. Se houvesse outro caminho mais apto, Cristo no-lo teria certamente manifestado com a sua palavra e o seu exemplo. Mas a Escritura divina resume a sua vida, durante a longa permanência em Nazaré, com estas palavras: Era-lhes submisso; e insinua claramente que o resto da sua vida se passou sob o signo da obediência, declarando a cada passo que desceu à terra para fazer a vontade do Pai.
Amemos, portanto, irmãos, amemos com todo o coração o amantíssimo Pai celeste, e seja a nossa obediência a prova real desta caridade perfeita, que deve pôr se em prática sobretudo quando se nos pede o sacrifício da própria vontade. De facto, para progredir no amor de Deus, não conhecemos livro mais sublime que Jesus Cristo crucificado.
Tudo isto o alcançaremos mais facilmente por intermédio da Virgem Imaculada, a quem Deus, com infinita bondade, tornou dispenseira da sua misericórdia. Não há dúvida alguma de que a vontade de Maria é para nós a própria vontade de Deus. Se a ela nos consagramos, como instrumentos nas suas mãos, como ela o foi nas mãos de Deus, tornamo nos verdadeiramente instrumentos da misericórdia divina. Deixemo-nos portanto, dirigir por ela, deixemo-nos conduzir por ela, e fiquemos tranquilos e seguros sob o seu amparo: ela própria olhará por nós em todas as coisas, ela tudo providenciará; ela nos socorrerá prontamente nas necessidades de corpo e alma, ela nos livrará de todas as angústias e dificuldades.
Pode ver mais informação no blogue aqui.

sábado, 14 de julho de 2018

São Camilo de Lellis, Presbítero

Nota biográfica:
       Nasceu perto de Chieti (Itália) no ano 1550; seguiu primeiramente a vida militar e, quando se converteu, consagrou-se ao cuidado dos enfermos. Terminados os seus estudos e ordenado sacerdote, fundou uma Congregação destinada a erigir hospitais e a atender os doentes. Morreu em Roma no ano 1614.

Oração de coleta:
       Senhor, que dotastes São Camilo de admirável caridade para com os doentes, infundi em nós o vosso espírito de amor, para que, tendo-Vos servido nos nossos irmãos, possamos, na hora da morte, ir em paz ao vosso encontro. Por Nosso Senhor.
Da Vida de São Camilo, escrita por um seu companheiro

Servindo o Senhor nos irmãos

Começarei pela santa caridade, raiz e complemento de todas as virtudes, que era familiar a Camilo mais do que qualquer outra. Ele vivia sempre inflamado no fogo desta santa virtude, não só para com Deus, mas também para com o próximo e especialmente para com os enfermos; era tão intensa que o simples facto de ver os enfermos era bastante para se enternecer no mais íntimo do coração e esquecer por completo todas as delícias, prazeres e afectos terrenos. Quando socorria qualquer enfermo, fazia-o com tanta bondade e compaixão que parecia esgotar-se e consumir-se até ao extremo das suas forças. De bom grado aceitaria para si todos os sofrimentos deles e qualquer outro mal, para os aliviar das suas dores ou curar das doenças.
Via nos enfermos a pessoa de Cristo com tão sentida emoção que muitas vezes, quando lhes dava de comer, considerando-os em sua alma como os seus «cristos», chegava a pedir-lhes a graça e o perdão dos pecados. Por isso estava diante deles com tanto respeito como se estivesse realmente na presença do próprio Senhor. De nada falava com tanta frequência e com tanto fervor como da santa caridade. O seu desejo seria infundi-la no coração de todos os homens.
Para inflamar os seus irmãos religiosos na prática desta virtude fundamental, costumava repetir-lhes aquelas dulcíssimas palavras de Cristo: Estava enfermo e viestes Visitar-Me. Parecia que ele tinha estas palavras verdadeiramente gravadas no seu coração, tal era a frequência com que as dizia e repetia.
A caridade de Camilo era tão grande e tornava-se a todos tão evidente que acolhia na piedade e benevolência do seu coração não só os enfermos e moribundos, mas também, de modo geral, todos os outros pobres e miseráveis. Finalmente, era tão forte o seu espírito de caridade para com os indigentes que costumava dizer: «Ainda que não se encontrassem pobres no mundo, conviria que alguém se dedicasse a ir à procura deles e a encontrá-los no seio da terra, a fim de lhes fazer bem e de praticar a misericórdia».

terça-feira, 26 de junho de 2018

Entrai pela porta estreita...

       Disse Jesus aos seus discípulos: «Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis aos porcos as vossas pérolas, não vão eles calcá-las aos pés e voltar-se para vos despedaçarem. Tudo quanto quiserdes que os homens vos façam fazei-o também a eles, pois nisto consiste a Lei e os Profetas. Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que leva à perdição e muitos são os que seguem por eles. Como é estreita a porta e apertado o caminho que conduz à vida e como são poucos aqueles que os encontram!» (Mt 7, 6.12-14).
       A regra de ouro: não faças aos outro o que não queres que te façam a ti. Jesus formula esta regra positivamente: faz aos outros o que queres que te façam a ti. Com efeito, se a nossa postura para com os outros, em palavras e gestos, corresponder àquilo que desejamos para nós, então estaríamos no caminho de fazer bem a todos e de todos dizer bem.
       O cristão não deve contentar-se com o mínimo garantido, com o que está na lei, mas procurar aperfeiçoar-se sempre mais e fazer todo o bem que puder, a todas as pessoas que encontrar. Não nos situamos no "deve" fazer-se isto ou aquilo para se manter dentro das recomendações da Igreja ou da sociedade, mas deve viver ao máximo, gastar a vida, apostar no hoje, dar o melhor de si mesmo, levar aos outros o próprio Deus que nos habita, sem medos nem hesitações. A única regra é amar, amar sem limites, de todo o coração, como Jesus, dando a vida. Todas as outras regras serão observadas se o AMOR presidir a toda vida, a todas as escolhas, a todos os caminhos.

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Não julgueis e não sereis julgados

       Disse Jesus aos seus discípulos: «Não julgueis e não sereis julgados. Segundo o julgamento que fizerdes sereis julgados, segundo a medida com que medirdes vos será medido. Porque olhas o argueiro que o teu irmão tem na vista e não reparas na trave que está na tua? Como poderás dizer a teu irmão: ‘Deixa-me tirar o argueiro que tens na vista’, enquanto a trave está na tua? Hipócrita, tira primeiro a trave da tua vista e então verás bem para tirar o argueiro da vista do teu irmão» (Mt 7, 1-5).
        É tão fácil olharmos para os outros. Desde logo por uma razão biológica, estão à nossa volta, vemos e/ouvimos, formulamos juízos de valor e nem sempre (e talvez muitas vezes não são) positivos. Por vezes, como nos recordam vários autores como Augusto Cury, o que detestamos nos outros é aquilo que detestamos em nós, mas é mais simples observá-lo nos outros. Contudo, já o desafio de Sócrates (filósofo grego que viveu antes de Jesus Cristo) nos envidava a que cada um se conhecesse a si mesmo, para depois conhecer os outros e o mundo.
       Jesus é peremptório, o nosso juízo de valor sobre os outros deve ser muito cuidadoso, usando para com eles a medida que gostaríamos que usassem connosco. Ou como nos lembra um ditado popular, não atiremos pedras aos telhados vizinhos quando nós temos telhados de vidro, é um perigo, poderemos ficar sem telhado...

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Não acumuleis tesouros na terra

       Disse Jesus aos seus discípulos: «Não acumuleis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os destroem e os ladrões os assaltam e roubam. Acumulai tesouros no Céu, onde a traça e a ferrugem não os destroem e os ladrões não os assaltam nem roubam. Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará o teu coração. A lâmpada do teu corpo são os olhos. Se o teu olhar for límpido, todo o teu corpo ficará iluminado. Mas se o teu olhar for mau, todo o teu corpo andará nas trevas. E se a luz que há em ti são trevas, como serão grandes essas trevas!» (Mt 6, 19-23).
       Obviamente, os bens materiais são necessários para se viver com dignidade, mas como meio, como instrumento, ao serviço da humanidade e da felicidade que se deseja.
       Mas por mais duradoiros que sejam, os bens materiais são corruptíveis, e não definem o grau da nossa felicidade. Jesus interpela para que acumulemos tesouros no Céu, sabendo que estes são incorruptíveis: a caridade para com o próximo, o serviço ao semelhante, traduzidos por perdão, por justiça, por partilha solidária.
       O que acumulamos de riqueza material, se for um fim em si mesmo, não nos satisfaz nunca e nunca nos trará a paz, a alegria, a felicidade. Veja-se, por mais riqueza que tenhamos, se nos faltar a família, os amigos, a saúde, de pouco nos vale. Não podemos comprar a felicidade. Esta constrói-se.
       Por outro lado, Jesus convida-nos a termos um olhar límpido e transparente para que os nossos juízos sejam benevolentes e generosos e para que a Luz possa iluminar o nosso coração e a nossa vida.

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Oferece a outra face...

       Disse Jesus aos seus discípulos: «Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Olho por olho e dente por dente’. Eu, porém, digo-vos: Não resistais ao homem mau. Mas se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda. Se alguém quiser levar-te ao tribunal, para ficar com a tua túnica, deixa-lhe também o manto. Se alguém te obrigar a acompanhá-lo durante uma milha, acompanha-o durante duas. Dá a quem te pedir e não voltes as costas a quem te pede emprestado» (Mt 5, 38-42).
       O Evangelho hoje fala-nos de perdão, de tolerância, de compreensão, de benevolência, numa palavra, fala-nos de caridade que depois se expressa no perdão e no acolhimento aos outros mesmo daqueles que me/nos ofendem. Ao olho por olho, dente por dente, a conhecida lei de talião, Jesus propõe que se ame até o inimigo.
       Jesus não se fica pelos mínimos garantidos, no cumprimento fiel da Lei, mas quer que a Lei tenha rosto, vida, tenha espírito. Jesus aponta como limite o infinito, o Amor sem fim. Ele próprio assume este desiderato: por amor derrama a vida até à última gota de sangue...

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Não cometerás adultério...

        Disse Jesus aos seus discípulos: Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não cometerás adultério’. Mas Eu digo-vos: Todo aquele que tiver olhado para uma mulher com maus desejos já cometeu adultério com ela em seu coração. Se o teu olho direito é para ti ocasião de pecado, arranca-o e lança-o para longe de ti, porque é melhor perder-se um só dos teus membros, do que todo o teu corpo ser lançado na geena. E se a tua mão direita é para ti ocasião de pecado, corta-a e lança-a para longe de ti, porque é melhor perder-se um só dos teus membros, do que todo o teu corpo ser lançado na geena. Também foi dito: ‘Quem repudiar a sua mulher dê-lhe um certificado de repúdio’. Mas Eu digo-vos: Todo aquele que repudiar a sua mulher, a não ser em caso de união ilegítima, expõe-na a cometer adultério. E aquele que se casar com uma repudiada comete adultério» (Mt 5, 27-32).
       Jesus, di-lo claramente no Evangelho que temos vindo a refletir, não vem para revogar a Lei ou os profetas, mas para levar a Lei à plenitude. E em que conste a plenitude da Lei. O próprio Jesus responde ao longo de todo o Evangelho, consiste em dar a vida, gastar a vida a favor dos outros, assumir gestos de ternura, de compreensão, de tolerância, de partilha e comunhão, procurar a conciliação, perdoar sempre, dar a outra face, agir colocando o outro em primeiro lugar, servir com alegria o próximo, potenciar os talentos pondo-os ao serviço dos outros.
       A lei de Moisés, inspirada por Deus mas encarnada no tempo, na história, na cultura, na especificidade do povo eleito, apresenta algumas "facilidades", ainda que a linha seja a dignificação da pessoa. O homem podia "dispensar" a mulher, mas tinha que lhe passar um certificado, garantindo a possibilidade de ela refazer a vida. Jesus aprofunda a Lei, na linha do amor, do respeito, da dignidade. As pessoas não podem ser descartáveis. Sujeitos a limitações, os discípulos de Cristo devem procurar a pureza de olhar - olhar para a outra pessoa reconhecendo-a como pessoa e não como objeto -, e de intenções, para que no relacionamento com os outros sobrevenha a caridade, a entreajuda, a comunhão.