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quinta-feira, 14 de junho de 2018

Vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão...

        Disse Jesus aos seus discípulos:
       «Se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos Céus. Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não matarás; quem matar será submetido a julgamento’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que se irar contra o seu irmão será submetido a julgamento. Quem chamar imbecil a seu irmão será submetido ao Sinédrio, e quem lhe chamar louco será submetido à geena de fogo. Portanto, se fores apresentar a tua oferta sobre o altar e ali te recordares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão e vem depois apresentar a tua oferta. Reconcilia-te com o teu adversário, enquanto vais com ele a caminho, não seja caso que te entregue ao juiz, o juiz ao guarda, e sejas metido na prisão. Em verdade te digo: Não sairás de lá, enquanto não pagares o último centavo» (Mt 5, 20-26).
        O arrependimento e o perdão são, mais que duas palavras, duas atitudes do crente.
       Nem sempre é fácil sair de um modo de vida para aderir a uma outra maneira de viver. E por vezes volta-se aos velhos vícios. No entanto, há de ser um esforço constante, na certeza que Deus nos inspira. O sabermos que Deus nos quer bem, que quer a nossa vida com sentido, realizada, plena, deverá ser um estímulo.
       Por outro lado, o perdão como oportunidade de progredirmos na santidade. Jesus diz-nos claramente que o perdão é uma postura permanente de quem é e se sente filho de Deus. Jesus diz mesmo que a nossa responsabilidade não se refere só aos momentos em que fomos nós os causadores de mau estar mas também quando os outros nos ofenderam deveremos ir ao seu encontro. Não basta perdoar, é necessário procurar o perdão até daqueles que nos ofenderam. Uma vez mais Jesus inverte a postura dos seus seguidores... Não é fácil. Mas é recompensador. Dessa forma não deixamos que o outro domine o nosso pensamento, o nosso dia, a nossa vida. Jesus bem sabe das nossas limitações. Mas também sabe que o perdão nos liberta e nos faz bem à saúde...

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Domingo VII do Tempo Comum - ano A - 23 de fevereiro

       1 – Quem julgas que és? Estás a ameaçar-me? Livra-te, vou chamar o meu irmão mais velho! / E eu vou chamar os meus amigos. / Eu trago os meus amigos e os meus irmãos, e todos sabem que os meus irmãos são os mais fortes da escola! / Não tenho medo, trazes os teus amigos e irmãos e eu trago o meu professor de Karaté…
       Esta é uma pequena estória semelhante a tantas outras. Em primeiro lugar, é uma contenda entre crianças e também elas pouco a pouco deverão aprender que os problemas se resolvem melhor, mais duradoiramente, a conversar. Por outro lado, meterem-se adultos ao barulho, como pais, compreende-se e em algumas situações torna-se imperioso, mas muitas vezes tem efeitos perversos, pois os filhos voltam a ser amigos e os pais tornam-se inimigos para sempre. Porém, esta pequena estória tem hoje um contexto diferente. Ao olharmos o nosso tempo, e apesar da evolução cultural e social, continuam a repetir-se situações idênticas. E assim, por vezes, a educação dos filhos: Chamou-te nomes? Chama também. Bateu-te? Bate-lhe também. Tens medo? Leva uma colega mais velho contigo.
       O meu vizinho deitou um ramo do castanheiro para o meu quintal... E tu não fizeste nada? Claro que fiz: voltei a deitar-lhe o ramo e o lixo que tinha do meu lado. E aprendeu a lição? Achas? Aparou o castanheiro e deitou os ramos para o que é meu. E tu que fizeste? Se fosse eu ou chamava a polícia ou ia lá a casa e só se não pudesse senão partia-lhe as fuças. Não te preocupes, eu fiz melhor, cortei a lenha aos bocados e tenho-a aproveitado para a lareira, bem jeito me faz. Além do mais, já vai para duas semanas e se me vê recolhe-se em casa. Estou em crer que um dia destes ainda me vai pedir para se aquecer em minha casa…
       Há histórias semelhantes que acabam no hospital, na cadeia e na morgue... Infelizmente multiplicam-se situações destrutivas entre vizinhos e por vezes dentro das famílias.
        2 – Ao ver a multidão, Jesus subiu para o monte. Os discípulos aproximam-se d'Ele. Jesus sentou-se e começou a ensiná-los (Mt 5, 1-2). É desta forma que São Mateus nos introduz no Sermão da Montanha. Bem-aventuranças. Ser sal da terra e luz do mundo. Plenitude da Lei de Moisés em dinâmica de perdão e de amor. Amor ao inimigo em contraponto à lei de talião. Jesus refere-a aos antigos, mas na atualidade continua a ter muitos seguidores: "Olho por olho e dente por dente".
       A violência, como facilmente se pode verificar, gera violência, multiplicando-a. Os bons propósitos das Nações Unidas (ONU) de impor a paz pelo exercício da força, quando não é possível o diálogo, a diplomacia, os acordos de paz, tem abafado a agressão fácil a países com menos recursos, mas gera novos ódios e desejos de vingança. Países que evoluíram para democracias, cujo chão ainda respira sangue e morte, continuam demasiado vulneráveis e ao mínimo podem vir ao de cima os ódios e as vinganças.
       Como víamos na semana passada, Jesus não vem para anular a Lei mas para a levar à plenitude e, por conseguinte, contrapõe: «Eu, porém, digo-vos: Não resistais ao homem mau. Mas se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda. Se alguém quiser levar-te ao tribunal, para ficar com a tua túnica, deixa-lhe também o manto. Se alguém te obrigar a acompanhá-lo durante uma milha, acompanha-o durante duas. Dá a quem te pedir e não voltes as costas a quem te pede emprestado. Ouvistes que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo’. Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem, para serdes filhos do vosso Pai que está nos Céus; pois Ele faz nascer o sol sobre bons e maus e chover sobre justos e injustos. Se amardes aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem a mesma coisa os publicanos? E se saudardes apenas os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não o fazem também os pagãos?»
       A referência é Deus: «Sede perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito». Amar os outros como a nós mesmos indica claramente o caminho. Mas nem sempre o amor-próprio ou a autoestima serão critérios saudáveis para cuidar dos outros. Jesus dá o mote: amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. Sede misericordiosos como o Vosso Pai é misericordioso.
       3 – A primeira leitura traz-nos o desafio de Deus, através de Moisés, a uma convivência sadia entre pessoas e grupos: «Não odiarás do íntimo do coração os teus irmãos, mas corrigirás o teu próximo, para não incorreres em falta por causa dele. Não te vingarás, nem guardarás rancor contra os filhos do teu povo. Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor». E de novo a referência a ter em conta é o próprio Deus: «Sede santos, porque Eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo».
       Na mesma corrente, o salmista mostra o quanto Deus nos ama e como age com benevolência para connosco, para que também nós sejamos generosos no perdão e na caridade: «Ele perdoa todos os teus pecados e cura as tuas enfermidades; salva da morte a tua vida e coroa-te de graça e misericórdia. O Senhor é clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade; não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos castigou segundo as nossas culpas».
       Se Deus age tão misericordiosamente connosco, como não nos sentirmos impelidos a agir como Ele? Se O amamos vamos querer agir em conformidade com a Sua vontade!

      4 - Mas há mais. São Paulo mostra-nos, novamente, o nosso bilhete de identidade: pertencemos a Deus, somos criados à Sua imagem e semelhança, Ele assume-nos como filhos, como Sua morada. A resposta ao amor de Deus, como Pai/Mãe, levar-nos-á a amar a Deus, no compromisso com os outros, pois a todos Deus ama em perfeição. "Amor com a amor se paga" (São João da Cruz). Se Deus nos habita, a nossa casa tem de transpirar amor para O sentirmos em nós, para O revelarmos com a nossa vida.
       Diz o apóstolo: «Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá. Porque o templo de Deus é santo, e vós sois esse templo. Ninguém deve gloriar-se nos homens. Tudo é vosso: Paulo, Apolo e Pedro, o mundo, a vida e a morte, as coisas presentes e as futuras. Tudo é vosso; mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus».
       Se somos de Cristo, há de ser Ele agir em nós e através de nós continuar a viver e a atuar no mundo, nos outros.

Textos para a Eucaristia (ano A): Lev 19, 1-2.17-18; Sl 102 (103); 1Cor 3, 16-23; Mt 5, 38-48.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Papa Francisco - Espírito Santo, o protagonista do perdão

Caros irmãos e irmãs, bom dia!
       Na quarta-feira passada falei sobre a remissão dos pecados, referida de modo especial ao Baptismo. Hoje aprofundamos o tema da remissão dos pecados, mas em referência ao chamado «poder das chaves», que é um símbolo bíblico da missão que Jesus confiou aos Apóstolos.
       Antes de tudo, devemos recordar que o protagonista do perdão dos pecados é o Espírito Santo. Na sua primeira aparição aos Apóstolos, no Cenáculo, Jesus ressuscitado fez o gesto de soprar sobre eles, dizendo: «Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos» (Jo 20, 22-23). Transfigurado no seu corpo, Jesus já é o homem novo, que oferece os dons pascais, fruto da sua morte e ressurreição. Quais são estes dons? A paz, a alegria, o perdão dos pecados e a missão, mas sobretudo o Espírito Santo, que é fonte de tudo isto. O sopro de Jesus, acompanhado pelas palavras com as quais comunica o Espírito, indica a transmissão da vida, a vida nova regenerada pelo perdão.
       Mas antes de fazer o gesto se soprar e conceder o Espírito, Jesus mostra as suas chagas, nas mãos e no lado: essas feridas representam o preço da nossa salvação. O Espírito Santo concede-nos o perdão de Deus, «passando através» das chagas de Jesus. As feridas que Ele quis conservar; também neste momento, no Céu, Ele mostra ao Pai as chagas com as quais nos resgatou. Em virtude destas feridas, os nossos pecados são perdoados: assim Jesus ofereceu a sua vida pela nossa paz, pela nossa alegria, pelo dom da graça na nossa alma, pelo perdão dos nossos pecados. É muito bom contemplar Jesus assim!
        Consideremos o segundo elemento: Jesus concede aos Apóstolos o poder de perdoar os pecados. É um pouco difícil compreender como um homem pode perdoar os pecados, mas Jesus confere este poder. A Igreja é depositária do poder das chaves, de abrir ou fechar ao perdão. Na sua misericórdia soberana, Deus perdoa cada homem, mas Ele mesmo quis que quantos pertencem a Cristo e à Igreja recebam o perdão mediante os ministros da Comunidade. Através do ministério apostólico, a misericórdia de Deus alcança-me, as minhas culpas são-me perdoadas e é-me conferida a alegria. Deste modo, Jesus chama a viver a reconciliação também na dimensão eclesial, comunitária. E isto é muito bom! A Igreja, que é santa e ao mesmo tempo carente de penitência, acompanha o nosso caminho de conversão durante a vida inteira. A Igreja não é senhora do poder das chaves, mas é serva do ministério da misericórdia e rejubila todas as vezes que pode oferecer este dom divino.
       Talvez muitas pessoas não compreendam a dimensão eclesial do perdão, porque predominam sempre o individualismo e o subjectivismo, e até nós cristãos sentimos isto. Sem dúvida, Deus perdoa cada pecador arrependido, pessoalmente, mas o cristão está unido a Cristo, e Cristo à Igreja. Para nós cristãos há um dom a mais, há sempre um compromisso a mais: passar humildemente através do ministério eclesial. Devemos valorizá-lo; é uma dádiva, uma atenção, uma salvaguarda e também a certeza de que Deus me perdoou. Vou ter com o irmão sacerdote e digo: «Padre, cometi isto...». E ele responde: «Mas eu perdoo-te; Deus perdoa-te!». Naquele momento, estou convicto de que Deus me perdoou! E isto é bom, é ter a segurança que Deus nos perdoa sempre, nunca se cansa de perdoar. E não devemos cansar-nos de ir pedir perdão. Podemos ter vergonha de confessar os nossos pecados, mas as nossas mães e avós já diziam que é melhor corar uma vez do que empalidecer mil vezes. Coramos uma vez, mas os pecados são-nos perdoados e vamos em frente.
       Enfim, um último ponto: o sacerdote, instrumento para o perdão dos pecados. O perdão de Deus, que nos é concedido na Igreja, é-nos transmitido mediante o ministério do nosso irmão, o sacerdote; também ele, um homem que como nós precisa de misericórdia, se torna verdadeiramente instrumento de misericórdia, comunicando-nos o amor ilimitado de Deus Pai. Inclusive os presbíteros e os Bispos devem confessar-se: todos nós somos pecadores. Também o Papa se confessa a cada quinze dias, porque inclusive o Papa é pecador. O confessor ouve os pecados que lhe confesso, aconselha-me e perdoa-me, porque todos nós precisamos deste perdão. Às vezes ouvimos certas pessoas afirmar que se confessam directamente com Deus... Sim, como eu dizia antes, Deus ouve sempre, mas no sacramento da Reconciliação envia um irmão a trazer-nos o perdão, a segurança do perdão em nome da Igreja.
       O serviço que o sacerdote presta como ministro, por parte de Deus, para perdoar os pecados é muito delicado e exige que o seu coração esteja em paz, que o presbítero tenha o coração em paz; que não maltrate os fiéis, mas que seja manso, benévolo e misericordioso; que saiba semear esperança nos corações e sobretudo que esteja consciente de que o irmão ou a irmã que se aproxima do sacramento da Reconciliação procura o perdão, e fá-lo como as numerosas pessoas que se aproximavam de Jesus para serem curadas. O sacerdote que não tiver esta disposição de espírito é melhor que, enquanto não se corrigir, não administre este Sacramento. Os fiéis penitentes têm o direito, todos os fiéis têm o direito de encontrar nos sacerdotes servidores do perdão de Deus.
       Caros irmãos, como membros da Igreja estamos conscientes da beleza desta dádiva que o próprio Deus nos concede? Sentimos a alegria deste esmero, desta atenção materna que a Igreja tem por nós? Sabemos valorizá-la com simplicidade e assiduidade? Não esqueçamos que Deus nunca se cansa de nos perdoar; mediante o ministério do sacerdote, Ele aperta-nos num novo abraço que nos regenera e nos permite erguer-se de novo e retomar o caminho. Porque esta é a nossa vida: devemos erguer-nos sempre de novo e retomar o caminho!
 

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Papa Francisco - quem de vós sabe a data o batismo?

 Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
       No Credo, através do qual cada domingo fazemos a nossa profissão de fé, nós afirmamos: «Professo um só baptismo, para o perdão dos pecados». Trata-se da única referência explícita a um Sacramento no contexto do Credo. Com efeito, o Baptismo constitui a «porta» da fé e da vida cristã. Jesus Ressuscitado deixou aos Apóstolos esta exortação: «Ide pelo mundo inteiro e pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem crer e for baptizado será salvo» (Mc 16, 15-16). A missão da Igreja é evangelizar e perdoar os pecados através do sacramento baptismal. No entanto, voltemos às palavras do Credo. Esta expressão pode ser dividida em três pontos: «professo»; «um só baptismo»; e «para o perdão dos pecados».
       «Professo». O que quer dizer isto? É um termo solene, que indica a grande importância do objecto, ou seja, do Baptismo. Com efeito, pronunciando estas palavras, nós afirmamos a nossa verdadeira identidade de filhos de Deus. Num certo sentido, o Baptismo é o bilhete de identidade do cristão, a sua certidão de nascimento e o acto de nascimento na Igreja. Todos vós conheceis o dia em que nascestes e festejais o vosso aniversário, não é verdade? Todos nós festejamos o aniversário. Dirijo-vos uma pergunta, que já formulei outras vezes, mas volto a apresentá-la: quem de vós se recorda da data do seu próprio Baptismo? Levantem a mão: são poucos (e não o pergunto aos Bispos, para que não se envergonhem...). Mas façamos uma coisa: hoje, quando voltardes para casa, perguntai em que dia fostes baptizados, procurai, porque este é o vosso segundo aniversário. O primeiro é do nascimento para a vida e o segundo é do nascimento na Igreja. Fareis isto? É um dever que deveis fazer em casa: procuremos descobrir o dia em que nascemos na Igreja e demos graças ao Senhor porque no dia do Baptismo nos abriu a porta da sua Igreja. Ao mesmo tempo, ao Baptismo está ligada a nossa fé na remissão dos pecados. Com efeito, o Sacramento da Penitência ou Confissão é como um «segundo baptismo», que se refere sempre ao primeiro, para o consolidar e renovar. Neste sentido, o dia do nosso Baptismo é o ponto de partida de um caminho extremamente bonito, um caminho rumo a Deus que dura a vida inteira, um caminho de conversão que é continuamente fortalecido pelo Sacramento da Penitência. Pensai nisto: quando vamos confessar-nos das nossas debilidades, dos nossos pecados, vamos pedir o perdão de Jesus, mas vamos também renovar o Baptismo com este perdão. E isto é bom, é como festejar o dia do Baptismo em cada Confissão. Portanto, a Confissão não é uma sessão numa sala de torturas, mas é uma festa. A Confissão é para os baptizados, para manter limpa a veste branca da nossa dignidade cristã!

       Segundo elemento: «um só baptismo». Esta expressão evoca as palavras de são Paulo: «Um só Senhor, uma só fé, um só baptismo» (Ef 4, 5). Literalmente, a palavra «baptismo» significa «imersão» e, com efeito, este Sacramento constitui uma verdadeira imersão espiritual na morte de Cristo, da qual renascemos com Ele como criaturas novas (cf. Rm 6, 4). Trata-se de um lavacro de regeneração e iluminação. Regeneração, porque realiza aquele nascimento da água e do Espírito, sem a qual ninguém pode entrar no reino dos céus (cf. Jo 3, 5). Iluminação porque, através do Baptismo, a pessoa humana se torna repleta da graça de Cristo, «a verdadeira luz que a todo o homem ilumina» (Jo 1, 9), dissipando as trevas do pecado. Por isso na cerimónia do Baptismo, aos pais dá-se um círio aceso, para significar esta iluminação; o Baptismo ilumina-nos a partir de dentro com a luz de Jesus. Em virtude deste dom, o baptizado é chamado a tornar-se ele mesmo «luz» — a luz da fé que ele recebeu — para os irmãos, especialmente para quantos estão nas trevas e não vislumbram espirais de claridade no horizonte da própria vida.

       Podemos interrogar-nos: para mim, o Baptismo constitui um acontecimento do passado, isolado numa data, aquela que hoje vós procurareis, ou uma realidade viva, que diz respeito ao meu presente, a cada momento? Tu sentes-te forte, com o vigor que Cristo te oferece com a sua morte e ressurreição? Ou sentes-te abatido, esgotado? O Baptismo dá-te força e luz. Sentes-te iluminado, com aquela luz que vem de Cristo? És homem e mulher de luz? Ou és uma pessoa obscura, sem a luz de Jesus? É preciso assimilar a graça do Baptismo, que constitui uma dádiva, e tornar-se luz para todos!

       Finalmente, uma breve referência ao terceiro elemento: «para o perdão dos pecados». No sacramento do Baptismo são perdoados os pecados, o pecado original e todos os nossos pecados pessoais, assim como todas as penas do pecado. Mediante o Baptismo abre-se a porta a uma novidade de vida concreta, que não é oprimida pelo peso de um passado negativo, mas já pressente a beleza e a bondade do Reino dos céus. Trata-se de uma intervenção poderosa da misericórdia de Deus na nossa vida, para nos salvar. Esta intervenção salvífica não priva a nossa natureza humana da sua debilidade — todos nós somos frágeis, todos somos pecadores — e também não nos priva da responsabilidade de pedir perdão cada vez que erramos! Não me posso baptizar várias vezes, mas posso confessar-me e deste modo renovar a graça do Baptismo. É como se eu fizesse um segundo Baptismo. O Senhor Jesus é deveras bondoso e nunca se cansa de nos perdoar. Inclusive quando a porta que o Baptismo nos abriu para entrar na Igreja se fecha um pouco, por causa das nossas fraquezas e dos nossos pecados, a Confissão volta a abri-la precisamente porque é como um segundo Baptismo que nos perdoa tudo e nos ilumina para irmos em frente com a luz do Senhor. Vamos em frente assim, cheios de alegria, porque a vida deve ser vivida com o júbilo de Jesus Cristo; e esta é uma graça do Senhor!
 

quinta-feira, 18 de julho de 2013

BRUNO FORTE - porquê confessar-se?

BRUNO FORTE, Porquê confessar-se? A reconciliação e a beleza de Deus. Paulus Editora. 2.ª edição. Lisboa 2012, 64 páginas.
       Bruno Forte é um reconhecido teólogo italinao. Aos 30 anos já era doutorado em Teologia e em Filosofia. Natural de Nápoles, desde cedo dedicou a sua vida ao estudo, à investigação teológica, ao diálogo filosófico. Paris e Tubinga, França e Alemanha (e passagens por outros países,  encontros com outras tendências teológicas), permitiram-lhe novas experiências e aberturas.
       No seu percurso académico, e sacerdotal, o diálogo com crentes de outras confissões cristãs, com a ortodoxia, com outras religiões, o judaísmo, o islamismo, em ambientes muitos diferentes, mas com o fito de tornar acessível a procura de Deus que nos visita na história. Diga-se, aliás, que este é um princípio basilar na sua reflexão teológica: Deus entranha-Se na história dos homens, da humanidade. Não é um Ser distante, alheado.
       Nomeado Bispo, por João Paulo II, ordenado pelo então Cardeal Joseph Ratzinger, Bruno Forte dedica-se sobretudo à missão de Pastor. Ainda, como o próprio refere, a teologia seja de uma ajuda prestimosa para o serviço pastoral, procurando tornar mais simples a Palavra de Deus e mais acessível a reflexão teológica, sem, no entanto, deixar de lado os fundamentos teológicos do compromisso eclesial com os mais pobres e simples.
       Para melhor conhecer a obra e o pensamento de Bruno Forte e o seu percurso, o nascimento, a família, o ambiente em que é educado, a vocação, o sacerdócio e a teologia, a filosofia, as viagens, os livros, o trabalho pastoral em Nápoles, a eleição para Bispo, o trabalho episcopal como Arcebispo Metropolitano de Chieti-Vasto recomedamos outras leitura, em forma de entrevista (o entrevistador é sobrinho do Papa João XXIII):

BRUNO FORTE, Uma Teologia para a vida. Fiel ao Céu e à terra. Paulus Editora. Lisboa 2013, 248 páginas.
       Nesta entrevista biográfica também se veem encontro com grandes pensadores e teólogos, como Henri de Lubac, Yves Congar,, Chenu, Moltmann, ou com filósofos de renome. Em 2004, o Papa João Paulo II convidou-o para Pregador do retiro ao Papa e aos seus colaboradores, no início da Quaresma. O então Cardeal Ratzinger prontificou-se a "emprestar-lhe" a secretária a fim de esta traduzir as reflexões para alemão, para a edição alemã. Já antes, Ratzinger, Presidente da Comissão Teológica Internacional, pedira a Bruno Forte para encabeçar a comissão responsável pelo documento "Memória e Reconciliação", base para o pedido de perdão do Papa João Paulo II, pelo ano jubilar 2000. Ratzinger, deu a sua aprovação.
       Com 55 anos foi eleito Bispo e ordenado, a 8 de setembro de 2004, pelo Cardeal Ratzinger, em Nápoles. Por curiosidade, a homilia de Ratzinger veio a ser publicada no primeiro conjunto de escritos, discursos, homilias, de Bruno Forte, sob o título "A Luz da Fé", que é exatamente o título da primeira Encíclica do Papa Francisco, Lumen Fidei - a Luz da Fé... Curioso.
       Como Bispo, Bruno Forte, tem apostado em clarificar e tornar acessível a teologia para a comunidade.
        No ano de 2005, no início da Quaresma escreveu à Diocese esta carta pastoral, sobre o Sacramento da Reconciliação. Outros escritos pastorais: "Crismar-se, porquê?", "As quatro noites da salvação"; "Porquê ir à Missa ao Domingo?"
         Neste pequeno livro, além da Carta Pastoral de D. Bruno, também a lectio divina, leitura meditada da parábola do Filho Pródigo/Pai da Misericórdia (cf. Lc 15, 11-32). Nas últimas páginas, subsídio para o Exame de Consciência, baseado nos 10 Mandamentos, e ainda oração para o Ato de Contrição.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Sacramento da Reconciliação

(reposição deste post...)
        No tempo da Quaresma, valoriza-se o Sacramento da Penitência (da reconciliação). Diga-se, antes de mais, que a preocupação maior não deve ser a confissão dos pecados, mas sobretudo a descoberta da graça de Deus, deixando que o Seu Espírito nos faça entrar numa nova vida. O vídeo da Canção Nova é expressivo a falar deste Sacramento: é Deus quem perdoa. O sacerdote é intermediário da graça de Deus... Quando temos sede bebemos a água, ainda que a torneira não seja de ouro..

       Para reflectir um pouco mais sobre este Sacramento valerá a pena ler e meditar o texto que segue e que propomos:

1. O QUE É A CONFISSÃO?
       Confissão ou Penitência é o Sacramento instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, para que os cristãos possam ser perdoados de seus pecados e receberem a graça santificante. Também é chamado de sacramento da Reconciliação.

2. QUEM INSTITUIU O SACRAMENTO DA CONFISSÃO OU PENITÊNCIA?
       O sacramento da Penitência foi instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, segundo nos ensina o Evangelho de São João: "Depois dessas palavras (Jesus) soprou sobre eles dizendo-lhes: Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem vocês perdoarem os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos" (Jo 20, 22-23).

3. A IGREJA TEM A AUTORIDADE PARA PERDOAR OS PECADOS ATRAVÉS DO SACRAMENTO DA PENITÊNCIA?
       Sim, a Igreja tem esta autoridade porque a recebeu de Nosso Senhor Jesus Cristo: "Em verdade vos digo: tudo o que ligardes sobre a terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes sobre a terra será também desligado no céu" (Mt 18,18).

4. POR QUE ME CONFESSAR E PEDIR O PERDÃO PARA UM HOMEM IGUAL A MIM?
       Só Deus perdoa os pecados. O Padre, mesmo sendo um homem sujeito às fraquezas como outros homens, está ali em nome de Deus e da Igreja para absolver os pecados. Ele é o ministro do perdão, isto é, o intermediário ou instrumento do perdão de Deus, como os pais são instrumentos de Deus para transmitir a vida a seus filhos; e como o médico é um instrumento para restituir a saúde física, etc.

5. OS PADRES E BISPOS TAMBÉM SE CONFESSAM?
       Sim, obedientes aos ensinamentos de Cristo e da Igreja, todos os Padres, Bispos e mesmo o Papa se confessam com frequência, conforme o mandamento: "Confessai os vossos pecados uns aos outros" (Tg 5,16 ).

6. O QUE É NECESSÁRIO PARA FAZER UMA BOA CONFISSÃO?
       Para se fazer uma boa confissão são necessárias 5 condições:
       a) um bom e honesto exame de consciência diante de Deus;
       b) arrependimento sincero por ter ofendido a Deus e ao próximo;
       c) firme propósito diante de Deus de não pecar mais, mudar de vida, se converter;
       d) confissão objetiva e clara a um sacerdote;
       e) cumprir a penitência que o padre nos indicar.

7. COMO DEVE SER A CONFISSÃO?
       Diga o tempo transcorrido desde a última confissão. Acuse (diga) seus pecados com clareza, primeiro os mais graves, depois os mais leves. Fale resumidamente, mas sem omitir o necessário. Devemos confessar os nossos pecados e não os dos outros. Porém, se participamos ou facilitamos de alguma forma o pecado alheio, também cometemos um pecado e devemos confessá-lo (por exemplo, se aconselhamos ou facilitamos alguém a praticar um aborto, somos tão culpados como quem cometeu o aborto).

8. O QUE PENSAR DA CONFISSÃO FEITA SEM ARREPENDIMENTO OU SEM PROPÓSITO DE CONVERSÃO, OU SEJA, SÓ PARA "DESCARREGAR" UM POUCO OS PECADOS?
       Além de ser uma confissão totalmente sem valor, é uma grave ofensa à Misericórdia Divina. Quem a pratica comete um pecado grave de sacrilégio.

9. QUE PECADOS SOMOS OBRIGADOS A CONFESSAR?
       Somos obrigados a confessar todos os pecados graves (mortais). Mas é aconselhável também confessar os pecados leves (veniais) para exercitar a virtude da humildade.

10. O QUE SÃO PECADOS GRAVES (MORTAIS) E SUAS CONSEQUÊNCIAS?
       São ofensas graves a Deus ou ao próximo. Eles apagam a caridade no coração do homem e o desviam de Deus. Quem morre em pecado grave (mortal) sem arrependimento, merece a morte eterna, conforme diz a Escritura: "Há pecado que leva à morte" (1Jo 5,16b).

11. O QUE SÃO PECADOS LEVES (ou também chamados de VENIAIS)?
       São ofensas leves a Deus e ao próximo. Embora ofendam a Deus, não destroem a amizade entre Ele e o homem. Quem morre em pecado leve não merece a morte eterna. "Toda iniquidade é pecado, mas há pecado que não leva à morte" (1Jo 5, 17).

12. PODEIS DAR ALGUNS EXEMPLOS DE PECADOS GRAVES?
       São pecados graves, por exemplo: O assassinato, o aborto provocado, assistir ou ler material pornográfico, destruir de forma grave e injusta a reputação do próximo, oprimir o pobre, o órfão ou a viúva, fazer mau uso do dinheiro público, o adultério, a fornicação, entre outros.

13. QUER DIZER QUE TODO AQUELE QUE MORRE EM PECADO MORTAL ESTÁ CONDENADO?
       Merece a condenação eterna. Porém, somente Deus, que é justo e misericordioso e que conhece o coração de cada pessoa, pode julgar.

14. E SE TENHO DÚVIDAS SE COMETI PECADO GRAVE OU NÃO?
       Para que haja pecado grave (mortal) é necessário:
       a) conhecimento, ou seja, a pessoa deve saber, estar informada que o ato a ser praticado é pecado;
       b) consentimento, ou seja, a pessoa tem tempo para refletir, e escolhe (consente) cometer o pecado;
       c) liberdade, isto é, significa que somente comete pecado quem é livre para fazê-lo; 
       d) matéria, ou seja, significa que o ato a ser praticado é uma ofensa grave aos Mandamentos de Deus e da Igreja.

       Estas 4 condições também são aplicáveis aos pecados leves, com a diferença que neste caso a matéria é uma ofensa leve contra os Mandamentos de Deus.

15. SE ESQUECI DE CONFESSAR UM PECADO QUE JULGO GRAVE?
       Se esquecestes realmente, o Senhor te perdoou, mas é preciso acusá-lo ao sacerdote em uma próxima confissão.

16. E SE NÃO SINTO REMORSO, COMETI PECADO?
       Não sentir peso na consciência (remorso) não significa que não tenhamos pecado. Se nós cometemos livremente uma falta contra um Mandamento de Deus, de forma deliberada, nós cometemos um pecado. A falta de remorso pode ser um sinal de um coração duro, ou de uma consciência pouco educada para as coisas espirituais (por exemplo, um assassino pode não ter remorso por ter feito um crime, mas seu pecado é muito grave).

17. A CONFISSÃO É OBRIGATÓRIA?
       O católico deve confessar-se no mínimo uma vez por ano, ao menos a fim de se preparar para a Páscoa. Mas somos também obrigados toda vez que cometemos um pecado mortal.

18. QUAIS OS FRUTOS DE SE CONFESSAR CONSTANTEMENTE?
       Toda confissão apaga completamente nossos pecados, até mesmo aqueles que tenhamos esquecido. E nos dá a graça santificante, tornando-nos naquele instante uma pessoa santa. Tranquilidade de consciência, consolo espiritual. Aumenta nossos méritos diante do Criador. Diminui a influência do demônio em nossa vida. Faz criar gosto pelas coisas do alto. Exercita-nos na humildade e nos faz crescer em todas as virtudes.

19. E SE TENHO DIFICULDADE PARA CONFESSAR UM DETERMINADO PECADO?
       Se somos conhecidos de nosso pároco, devemos neste caso fazer a confissão com outro padre para nos sentirmos mais à vontade. Em todo caso, antes de se confessar converse com o sacerdote sobre a sua dificuldade. Ele usará de caridade para que a sua confissão seja válida sem lhe causar constrangimentos. Lembre-se: ele está no lugar de Jesus Cristo!

20. O QUE SIGNIFICA A PENITÊNCIA DADA NO FINAL DA CONFISSÃO?
       A penitência proposta no fim da confissão não é um castigo; mas antes uma expressão de alegria pelo perdão celebrado.


  •      A propósito de Confissão surgem muitos textos interessantes e sugestivos. Recomedaríamos uma leitura atenta de Confissão e Oração, no blogue da Dulce que seguimos: Degrau de Silêncio.

terça-feira, 13 de março de 2012

Quantas vezes deverei perdoar? 70X7

       O texto do Evangelho proposto para hoje é bem nosso conhecido. Mas nunca será demais refletir sobre a pergunta de Pedro a Jesus e a resposta do Mestre ao discípulo. É certamente um conteúdo muito original para aquele tempo e tão necessário na atualidade.
Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou-Lhe: «Se meu irmão me ofender, quantas vezes deverei perdoar-lhe? Até sete vezes?» Jesus respondeu: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. Na verdade, o reino de Deus pode comparar-se a um rei que quis ajustar contas com os seus servos. Logo de começo, apresentaram-lhe um homem que devia dez mil talentos. Não tendo com que pagar, o senhor mandou que fosse vendido, com a mulher, os filhos e tudo quanto possuía, para assim pagar a dívida. Então o servo prostrou-se a seus pés, dizendo: ‘Senhor, concede-me um prazo e tudo te pagarei’. Cheio de compaixão, o senhor daquele servo deu-lhe a liberdade e perdoou-lhe a dívida. Ao sair, o servo encontrou um dos seus companheiros que lhe devia cem denários. Segurando-o, começou a apertar-lhe o pescoço, dizendo: ‘Paga o que me deves’. Então o companheiro caiu a seus pés e suplicou-lhe, dizendo: ‘Concede-me um prazo e pagar-te-ei’. Ele, porém, não consentiu e mandou-o prender, até que pagasse tudo quanto devia. Testemunhas desta cena, os seus companheiros ficaram muito tristes e foram contar ao senhor tudo o que havia sucedido. Então, o senhor mandou-o chamar e disse: ‘Servo mau, perdoei-te tudo o que me devias, porque me pediste. Não devias, também tu, compadecer-te do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?’ E o senhor, indignado, entregou-o aos verdugos, até que pagasse tudo o que lhe devia. Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão de todo o coração».
        Se olharmos para o perdão como uma concessão ao outro, a dificuldade em perdoar será bem mais complexa. Se olharmos par ao perdão como uma benesse que nos faz bem à saúde, à nossa saúde mental, emocional e até física, então já se torna mais simples perdoar. Mas nunca é fácil, sobretudo quando a ofensa atenta contra a minha, a nossa dignidade. Se o perdão for expressão do amor de Deus, e do amor que assumimos na relação com o outro; se o perdão nos capacitar para transformarmos a nossa vida pessoa, familiar, comunitária; se o perdão nos levar a colocar-nos no lugar do outro; se o perdão partir da convição das nossas limitações e falhas; se o perdão nos falar da alegria de nos sentirmos e nos sabermos perdoados por Deus e pelos outros, então talvez percebamos o desafio inquietante de Jesus: perdoar sempre. É o caminho. É o único caminho que nos liberta verdadeiramente das amarras do egoísmo, do orgulho, da inveja, do ciúme, do desejo de vingança, da conflitualidade doentia.
       Somos diferentes. Há que aceitar que o somos. A diferença aproxima-nos para nos completarmos. A diferença pode afastar-nos, porque nos sentimos agredidos/ofendidos. A diferença é uma característica fundamental do ser humano. O perdão encaixa na aceitação das diferenças. Mas encaixa sobretudo na dinâmica da caridade, do amor sem limites. Deus ama-nos infinitamente. Perdoa o nosso desvia, a nossa dúvida, a nossa hesitação, perdoa a nossa infidelidade, o nosso distanciamento. Aprendamos a perdoar com Ele e como Ele.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Não julgará segundo as aparências...

       A leitura proposta para este dia, do Profeta Isaías, é muito expressiva, vale a pena ler e reler com muita atenção:

       "Sairá um ramo do tronco de Jessé e um rebento brotará das suas raízes. Sobre ele repousará o espírito do Senhor: espírito de sabedoria e de inteligência, espírito de conselho e de fortaleza, espírito de conhecimento e de temor de Deus. Animado assim do temor de Deus, não julgará segundo as aparências, nem decidirá pelo que ouvir dizer. Julgará os infelizes com justiça e com sentenças rectas os humildes do povo. Com o chicote da sua palavra atingirá o violento e com o sopro dos seus lábios exterminará o ímpio. A justiça será a faixa dos seus rins e a lealdade a cintura dos seus flancos. O lobo viverá com o cordeiro e a pantera dormirá com o cabrito; o bezerro e o leãozinho andarão juntos e um menino os poderá conduzir. A vitela e a ursa pastarão juntamente, suas crias dormirão lado a lado; e o leão comerá feno como o boi. A criança de leite brincará junto ao ninho da cobra e o menino meterá a mão na toca da víbora. Não mais praticarão o mal nem a destruição em todo o meu santo monte: o conhecimento do Senhor encherá o país, como as águas enchem o leito do mar. Nesse dia, a raiz de Jessé surgirá como bandeira dos povos; as nações virão procurá-la e a sua morada será gloriosa" (Is 11, 1-10).
       O Profeta (do Advento) anuncia breve a chegada do Messias, da parte de Deus, saído do tronco de Jessé, sobre Ele repousará o espírito do Senhor, com Ele o espírito de sabedoria, de inteligência, de conselho, de fortaleza, de conhecimento e de temor a Deus. Com Ele um tempo novo, um reino em que a soberania será da conciliação e da paz, em que a harmonia entre pessoas e povos se estenderá à harmonia com todo o universo, com a própria natureza.
       Ele não julgará pelas aparência, pois conhecerá o nosso íntimo. É também este um desafio importante para nós, não julgarmos pelas aparências, mas aguardamos com optimismo as surpresas que nos chegam dos outros, dando-lhes tempo e oportunidade para mostrarem o melhor de si mesmas.

terça-feira, 9 de março de 2010

70 x 7: perdoar sempre

       "Por amor do vosso nome, Senhor, não nos abandoneis para sempre e não anuleis a vossa aliança. Não nos retireis a vossa misericórdia, por amor de Abraão vosso amigo, de Isaac vosso servo e de Israel vosso santo, ...tratai-nos segundo a vossa bondade e segundo a abundância da vossa misericórdia. Livrai-nos pelo vosso admirável poder e dai glória, Senhor, ao vosso nome" (Dan 3, 25.34-43).
       "Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou-Lhe: «Se meu irmão me ofender, quantas vezes deverei perdoar-lhe? Até sete vezes?» Jesus respondeu: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete»" (Mt 18, 21-35).

       A resposta de Jesus dada a Pedro é expressiva. A nossa conduta deve orientar-se, sempre, em todas as circusntâncias, pelo bem, pela caridade, expressa e testemunhada pelo perdão e pela justiça. Quem ama perdoa. Quem sabe perdoar aprofunda a sua capacidade de amar.
       É inequívoca a Mensagem de Jesus: perdoar sempre, por mais difícil que possa ser. Sabemos disso, há situações que dizemos que seria uma grande humilhação perdoar. E, no entanto, Jesus insite, só o perdão a quem nos ofende nos torna "merecedores" do perdão de Deus. Ou, por outra, o amor e perdão de Deus conduzem-nos ao amor e perdão ao próximo. A medida do nosso perdão é Jesus Cristo. Na cruz, perdoa os seus algozes.
       Diaga-se, ainda a este propósito, e parafraseando o célebre psiquiatra brasileiro, Augusto Cury, que o perdão não beneficia o infractor, mas a pessoa que se sente ofendida. de contrário, se não perdoamos, dormimos com inimigo, levamo-la para a mesa, para o trabalho, para o descanso, não o largamos, está sempre no nosso pensamento, minando-nos, afectando-nos. Perdoar ao outro é reconhecer que o outro errou, mas que o aceitamos, que queremos que ele viva e seja feliz, e que não nos deixamos ir ao fundo só porque alguém nos ofendeu. É difícil, mas é compensador. Trata-se de fé, mas é também uma questão de saúde.

sábado, 6 de março de 2010

A parábola do filho pródigo

       "Não guarda para sempre a sua ira, porque prefere a misericórdia. Ele voltará a ter piedade de nós, pisará aos pés as nossas faltas, lançará para o fundo do mar todos os nossos pecados" (Miq 7, 14-15.18-20).

       «Disse-lhe o pai: ‘Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu. Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque o teu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado’».
(Lc 15, 1-3.11-32).
       A liturgia da Palavra para este Sábado apresenta-nos a face misericordiosa de Deus. Deus é compassivo e justo, prefere o arrependimento, que o pecador se converta e viva, usa de misericórdia até à milésima geração.
       A primeira leitura acentua o perdão de Deus diante da infidelidade do povo. Ele esquece os nossos pecados em nome do Seu amor por nós.
       No Evangelho, Jesus conta a parábola do filho pródigo, ou melhor, do pai misericordioso. O filho mais novo pede a sua herança, sai de casa, esbanja os seus bens, cai na miséria. Ele que pensava que a felicidade estava longe da casa paterna. Regressa. O pai há muito está à sua espera. Faz uma festa. Deus sempre faz festa quando voltámos. A misericódia de Deus supera o nosso pecado.
       O filho mais velho sente ciúme pelo acolhimento pronto do Pai. Mas também Ele é convidado a participar da festa. Devemos alegrar-nos por todos os que voltam e não pela desgraça alheia.