Mostrar mensagens com a etiqueta Palavras. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Palavras. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 4 de setembro de 2018

...porque falava com autoridade!

        Jesus desceu a Cafarnaum, cidade da Galileia, e ali ensinava aos sábados. Todos se maravilhavam com a sua doutrina, porque falava com autoridade. Encontrava-se então na sinagoga um homem que tinha um espírito de demónio impuro, que bradou com voz forte: «Ah! Que tens que ver connosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos destruir? Eu sei quem Tu és: o Santo de Deus». Disse-lhe Jesus em tom severo: «Cala-te e sai desse homem». O demónio, depois de o ter arremessado para o meio dos presentes, saiu dele sem lhe fazer mal nenhum. Todos se encheram de assombro e diziam entre si: «Que palavra esta! Ordena com autoridade e poder aos espíritos impuros e eles saem!». E a fama de Jesus espalhava-se por todos os lugares da região (Lc 4, 31-37).
       Dois aspectos importantes se destacam no Evangelho proposto para hoje: a autoridade do ensino de Jesus e o poder de expulsar espíritos impuros, isto é, o poder curativo.
       A autoridade de Jesus vem não apenas pela origem da Sua missão (divina), mas sobretudo da coerência de vida, entre o que ensina, professa, e o que vive, os gestos que assume na relação com as pessoas que encontram, não se encontrando n'Ele acepção de pessoas, quando muito valorizando as que se encontram marginalizadas pela sociedade, pela política e/ou pela religião.
       Por outro lado, o poder curativo é expressão que este  HOMEM vem da parte de Deus, por isso realiza prodígios. Mais, expulsa os demónios. A palavra tem uma consequência prática, efetiva e concreta na vida das pessoas. As suas palavras não são acessórias, mas essenciais, convertem. curam, expulsam os espíritos impuros, salvam, envolvem...

sábado, 16 de junho de 2018

A vossa linguagem deve ser: ‘Sim, sim; não, não’.

       Disse Jesus aos seus discípulos: «Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não faltarás ao que tiveres jurado, mas cumprirás diante do Senhor o que juraste’. Mas Eu digo-vos que não jureis em caso algum: nem pelo Céu, que é o trono de Deus; nem pela terra, que é o escabelo dos seus pés; nem por Jerusalém, que é a cidade do grande Rei. Também não jures pela tua cabeça, porque não podes fazer branco ou preto um só cabelo. A vossa linguagem deve ser: ‘Sim, sim; não, não’. O que passa disto vem do Maligno» (Mt 5, 33-37).
       A plenitude da Lei há de ser a CARIDADE, o amor sem limites, gratuito, ao exemplo de Jesus, como quem se dispõe a dar a vida pelo outro, pelo marido ou pela esposa, pelo filho, pelo vizinho, pelo pai ou pela mãe, pelo viandante ou pelo mendigo. Neste caminho em que peregrinamos, frágeis e limitados, vamo-nos aproximando ou afastando de Jesus, na justa medida em que nos aproximamos dos outros ou deles nos afastamos.
       Porém, o nosso esforço, o nosso compromisso não pode, não deve ser, pela lógica dos mínimos garantidos. Se fizermos isto, estamos a cumprir a lei, já estamos a fazer a nossa parte. Se não fizermos mal, já estamos no caminho certo. Não. Não assim com o cristão. O cristão tem um ROSTO, um Mestre a quem imitar, Jesus Cristo, que Se dá até à última gota de sangue. Terá que ser assim connosco. Não está tudo feito. Nunca. Ainda não é o Céu. Estamos a caminho. É no caminho que Deus nos encontra. Aliás, a consciência da nossa fragilidade é que nos habilita ao encontro com o outro e com Deus, nos abre para a misericórdia divina, nos permite a possibilidade de O encontrar e acolher, e de corrigir o itinerário da nossa vida. O orgulho, a prepotência, a autossuficiência, só nos afasta de Deus e dos outros.
       Temos vindo a ouvir no evangelho como Jesus contrapõe o cumprimento da Lei, e a Tradição, com o amor, de forma a que a Lei se faça vida, e não seja apenas letra morta.
       Hoje Jesus fala da nossa linguagem, que seja "sim, sim, não, não". Jesus diz-nos que tudo o que se situar fora desta clareza e transparência já separa insidiosamente, é diabólico. Aprendamos com Ele, deixemo-nos guiar pela Sua Palavra, pela Sua vida. Esta linguagem deverá ser expressa em todos os momentos da vida, em palavras e obras, dentro e fora da igreja, em casa e na vizinhança. O cristão não dorme. Melhor, a dormir continua a ser cristão.
        Honrar a palavra dada. Coerência. Não dizer uma coisa e fazer outra. Não dizer agora o que mais convém e depois o seu contrário. Não ter várias caras conforme as pessoas que têm diante ou as situações. Ser pessoa de palavra. Mesmo que isso acarrete dissabores...

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Jardim - lugar da traição, lugar da ressurreição!

Monte das oliveiras...
       "Ali, Jesus experimentou a solidão extrema, toda a tribulação do ser homem. Ali, o abismo do pecado e de todo o mal penetrou até ao fundo da sua alma. Ali foi assaltado pela turvação da morte iminente. Ali O beijou o traidor. Ali todos os discípulos O abandonaram. Ali Ele lutou também por mim.

       ... No «jardim» acontece a traição, mas o jardim é também o lugar da ressurreição. de facto, no jardim, Jesus aceitou completamente a vontade do Pai, assumiu-a e assim inverteu a história".

Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré,  p 126.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Uma morte violenta que é auto-doação

       "A vida ser-lhe-á tirada na cruz, mas desde já, Ele próprio a oferece. Transforma a sua morte violenta num acto livre de auto-doação aos outros pelos outros.
       ... No acto de dar a vida está incluída a ressurreição. Por isso pode, de antemão, distribui-Se a Si mesmo já, porque é já que oferece a Sua vida, que Se oferece a Si mesmo e, deste modo, readquire-a já, agora. Assim pode instituir agora o sacramento em que Se torna o grão de trigo que morre e em que, através dos tempos, Se distribui a Si mesmo aos homens na verdadeira multiplicação dos pães".

Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré,  p 112.

domingo, 26 de agosto de 2012

Cruz e Ressurreição na Eucaristia de Jesus

       ... cruz e ressurreição fazem parte da Eucaristia, que não seria ela mesma sem elas. Mas, visto que o dom de Jesus é essencialmente um dom radicado na ressurreição, a celebração do sacramento devia necessariamente estar ligada à memória da ressurreição. O primeiro encontro com o Ressuscitado aconteceu na manhã do primeiro dia da semana - terceiro dia depois da morte de Jesus - e, por conseguinte, na manhã de domingo. Assim, a manhã do primeiro dia da semana tornou-se espontaneamente o momento do culto cristão e o domingo o "Dia do Senhor".

Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré,  p 121.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O centro da cruz é a VERDADE

(JNRJ = INRI = Jesus Nazareno Rei da Judeia) 

       "O centro da mensagem até à cruz - até à inscrição na cruz - é o Reino de Deus, a nova realeza que Jesus representa. Mas o centro dessa realeza é a Verdade. A realeza anunciada por Jesus nas parábolas e, por fim, de modo totalmente aberto diante do juiz terreno é, precisamente, a realeza da Verdade. A instauração desta realeza como verdadeira libertação do homem é o que interessa".

Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré,  p 160.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Redenção: a verdade que se torna reconhecível

       A «Redenção», no sentido pleno da palavra, só pode consistir no facto de a verdade se tornar reconhecível. E ela torna-se reconhecível se Deus Se tornar reconhecível. Ele torna-Se reconhecível em Jesus Cristo. N'Ele, Deus entrou no mundo, e assim plantou a medida da verdade no meio da história. Externamente, a verdade é impotente no mundo; tal como Cristo, que, segundo os critérios do mundo, não tem poder: Ele não possui nenhuma legião; acaba crucificado. Mas é precisamente assim, na carência total de poder, que Ele é poderoso, e só assim a verdade se torna incessantemente força.

Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré,  pp. 160.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

A vida que a morte não aniquila!

       "O homem encontra a vida quando se une Àquele que é em Si mesmo a vida. Então nele, muitas coisas podem ser destruídas; a morte pode tirá-lo da biosfera, mas a vida que a transcende, a vida verdadeira, permanece... É a relação com Deus em Jesus Cristo que dá aquela vida que nenhuma morte é capaz de tirar".

Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré,  pp. 78.

domingo, 29 de julho de 2012

Ressurreição: lugar do culto cristão

       "O dia da ressurreição é o lugar exterior e interior do culto cristão, e a acção de graças como antecipação criadora da ressurreição por parte de Jesus é a maneira como o Senhor faz de nós pessoas que dão graças com Ele, a maneira como Ele, no dom, nos abençoa e envolve na transformação que, a partir dos dons, deve alcançar-nos e expandir-se no mundo, «até que Ele venha»".

Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré,  p 122.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Deus é a realidade que dá o ser e o sentido

       No mundo, verdade e opinião errada, verdade e mentira estão continuamente indissociáveis. A Verdade, em toda a sua grandeza e pureza, não aparece. O mundo é «verdadeiro» na medida em que reflecte Deus, o sentido da criação, a Razão eterna donde brotou. E torna-se tanto mais verdadeiro quanto mais se aproximar de Deus. O homem torna-se verdadeiro, torna-se ele mesmo quando se conforma co Deus. Então alcança a sua verdadeira natureza. Deus é a realidade que dá o ser e o sentido.
        «Dar testemunho da verdade» significa pôr em realce Deus e a sua vontade face aos interesses do mundo e às suas potências. Deus é a medida do ser. Neste sentido, a verdade é o verdadeiro «Rei» que dá a todas as coisas a sua luz e a sua grandeza. Podemos também dizer que dar testemunho da verdade significa, partindo de Deus, da Razão criativa, tornar a criação decifrável e a sua verdade tão acessível que possa constituir a medida e o critério orientador no mundo do homem, que venham ao encontro dos grandes e poderosos o poder da verdade, o direito comum, o direito da verdade.

Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré,  pp. 158-159.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Bem-aventuranças: falar e calar

Falar oportunamente, é sensatez.
Falar perante o inimigo, é civismo.
Falar perante uma injustiça, é valentia.
Falar para rectificar, é um dever.
Falar para defender, é compaixão.
Falar para ajudar os outros, é consolar.
Falar com sinceridade, é rectidão.
Falar de Deus, manifesta muito amor.
Calar quando acusam, é heroísmo.
Calar as próprias dores, é sacrifício.
Calar e não falar de si, é humildade.
Calar as misérias humanas, é caridade.
Calar a tempo, é prudência.
Calar palavras inúteis, é sabedoria.
Calar quando nos ofendem, é fortaleza.
Calar para melhor amar, é santidade.
PEDROSA FERREIRA, As Bem-aventuranças hoje.

terça-feira, 15 de maio de 2012

SILÊNCIO E PALAVRA: caminho de evangelização

Mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2012

(para obter a Mensagem em PDF, clique sobre as imagens)

       Amados irmãos e irmãs,
       Ao aproximar-se o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2012, desejo partilhar convosco algumas reflexões sobre um aspeto do processo humano da comunicação que, apesar de ser muito importante, às vezes fica esquecido, sendo hoje particularmente necessário lembrá-lo. Trata-se da relação entre silêncio e palavra: dois momentos da comunicação que se devem equilibrar, alternar e integrar entre si para se obter um diálogo autêntico e uma união profunda entre as pessoas. Quando palavra e silêncio se excluem mutuamente, a comunicação deteriora-se, porque provoca um certo aturdimento ou, no caso contrário, cria um clima de indiferença; quando, porém se integram reciprocamente, a comunicação ganha valor e significado.

       O silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras densas de conteúdo. No silêncio, escutamo-nos e conhecemo-nos melhor a nós mesmos, nasce e aprofunda-se o pensamento, compreendemos com maior clareza o que queremos dizer ou aquilo que ouvimos do outro, discernimos como exprimir-nos. Calando, permite-se à outra pessoa que fale e se exprima a si mesma, e permite-nos a nós não ficarmos presos, por falta da adequada confrontação, às nossas palavras e ideias. Deste modo abre-se um espaço de escuta recíproca e torna-se possível uma relação humana mais plena. É no silêncio, por exemplo, que se identificam os momentos mais autênticos da comunicação entre aqueles que se amam: o gesto, a expressão do rosto, o corpo enquanto sinais que manifestam a pessoa. No silêncio, falam a alegria, as preocupações, o sofrimento, que encontram, precisamente nele, uma forma particularmente intensa de expressão. Por isso, do silêncio, deriva uma comunicação ainda mais exigente, que faz apelo à sensibilidade e àquela capacidade de escuta que frequentemente revela a medida e a natureza dos laços. Quando as mensagens e a informação são abundantes, torna-se essencial o silêncio para discernir o que é importante daquilo que é inútil ou acessório. Uma reflexão profunda ajuda-nos a descobrir a relação existente entre acontecimentos que, à primeira vista, pareciam não ter ligação entre si, a avaliar e analisar as mensagens; e isto faz com que se possam compartilhar opiniões ponderadas e pertinentes, gerando um conhecimento comum autêntico. Por isso é necessário criar um ambiente propício, quase uma espécie de «ecossistema» capaz de equilibrar silêncio, palavra, imagens e sons.

       Grande parte da dinâmica atual da comunicação é feita por perguntas à procura de respostas. Os motores de pesquisa e as redes sociais são o ponto de partida da comunicação para muitas pessoas, que procuram conselhos, sugestões, informações, respostas. Nos nossos dias, a Rede vai-se tornando cada vez mais o lugar das perguntas e das respostas; mais, o homem de hoje vê-se, frequentemente, bombardeado por respostas a questões que nunca se pôs e a necessidades que não sente. O silêncio é precioso para favorecer o necessário discernimento entre os inúmeros estímulos e as muitas respostas que recebemos, justamente para identificar e focalizar as perguntas verdadeiramente importantes. Entretanto, neste mundo complexo e diversificado da comunicação, aflora a preocupação de muitos pelas questões últimas da existência humana: Quem sou eu? Que posso saber? Que devo fazer? Que posso esperar? É importante acolher as pessoas que se põem estas questões, criando a possibilidade de um diálogo profundo, feito não só de palavra e confrontação, mas também de convite à reflexão e ao silêncio, que às vezes pode ser mais eloquente do que uma resposta apressada, permitindo a quem se interroga descer até ao mais fundo de si mesmo e abrir-se para aquele caminho de resposta que Deus inscreveu no coração do homem.

       No fundo, este fluxo incessante de perguntas manifesta a inquietação do ser humano, sempre à procura de verdades, pequenas ou grandes, que deem sentido e esperança à existência. O homem não se pode contentar com uma simples e tolerante troca de céticas opiniões e experiências de vida: todos somos perscrutadores da verdade e compartilhamos este profundo anseio, sobretudo neste nosso tempo em que, «quando as pessoas trocam informações, estão já a partilhar-se a si mesmas, a sua visão do mundo, as suas esperanças, os seus ideais» (Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2011).
       Devemos olhar com interesse para as várias formas de sítios, aplicações e redes sociais que possam ajudar o homem atual não só a viver momentos de reflexão e de busca verdadeira, mas também a encontrar espaços de silêncio, ocasiões de oração, meditação ou partilha da Palavra de Deus. Na sua essencialidade, breves mensagens – muitas vezes limitadas a um só versículo bíblico – podem exprimir pensamentos profundos, se cada um não descuidar o cultivo da sua própria interioridade. Não há que surpreender-se se, nas diversas tradições religiosas, a solidão e o silêncio constituem espaços privilegiados para ajudar as pessoas a encontrar-se a si mesmas e àquela Verdade que dá sentido a todas as coisas. O Deus da revelação bíblica fala também sem palavras: «Como mostra a cruz de Cristo, Deus fala também por meio do seu silêncio. O silêncio de Deus, a experiência da distância do Omnipotente e Pai é etapa decisiva no caminho terreno do Filho de Deus, Palavra Encarnada. (...) O silêncio de Deus prolonga as suas palavras anteriores. Nestes momentos obscuros, Ele fala no mistério do seu silêncio» (Exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini, 30 de setembro de 2010, n.º 21). No silêncio da Cruz, fala a eloquência do amor de Deus vivido até ao dom supremo. Depois da morte de Cristo, a terra permanece em silêncio e, no Sábado Santo – quando «o Rei dorme (…), e Deus adormeceu segundo a carne e despertou os que dormiam há séculos» (cfr Ofício de Leitura, de Sábado Santo) –, ressoa a voz de Deus cheia de amor pela humanidade.

       Se Deus fala ao homem mesmo no silêncio, também o homem descobre no silêncio a possibilidade de falar com Deus e de Deus. «Temos necessidade daquele silêncio que se torna contemplação, que nos faz entrar no silêncio de Deus e assim chegar ao ponto onde nasce a Palavra, a Palavra redentora» (Homilia durante a concelebração eucarística com os membros da Comissão Teológica Internacional, 6 de outubro de 2006). Quando falamos da grandeza de Deus, a nossa linguagem revela-se sempre inadequada e, deste modo, abre-se o espaço da contemplação silenciosa. Desta contemplação nasce, em toda a sua força interior, a urgência da missão, a necessidade imperiosa de «anunciar o que vimos e ouvimos», a fim de que todos estejam em comunhão com Deus (cf. 1 Jo 1, 3). A contemplação silenciosa faz-nos mergulhar na fonte do Amor, que nos guia ao encontro do nosso próximo, para sentirmos o seu sofrimento e lhe oferecermos a luz de Cristo, a sua Mensagem de vida, o seu dom de amor total que salva.

       Depois, na contemplação silenciosa, surge ainda mais forte aquela Palavra eterna pela qual o mundo foi feito, e identifica-se aquele desígnio de salvação que Deus realiza, por palavras e gestos, em toda a história da humanidade. Como recorda o Concílio Vaticano II, a Revelação divina realiza-se por meio de «ações e palavras intimamente relacionadas entre si, de tal modo que as obras, realizadas por Deus na história da salvação, manifestam e confirmam a doutrina e as realidades significadas pelas palavras; e as palavras, por sua vez, declaram as obras e esclarecem o mistério nelas contido» (Constituição dogmática Dei Verbum, 2). E tal desígnio de salvação culmina na pessoa de Jesus de Nazaré, mediador e plenitude da toda a Revelação. Foi Ele que nos deu a conhecer o verdadeiro Rosto de Deus Pai e, com a sua Cruz e Ressurreição, nos fez passar da escravidão do pecado e da morte para a liberdade dos filhos de Deus. A questão fundamental sobre o sentido do homem encontra a resposta capaz de pacificar a inquietação do coração humano no Mistério de Cristo. É deste Mistério que nasce a missão da Igreja, e é este Mistério que impele os cristãos a tornarem-se anunciadores de esperança e salvação, testemunhas daquele amor que promove a dignidade do homem e constrói a justiça e a paz.

       Palavra e silêncio. Educar-se em comunicação quer dizer aprender a escutar, a contemplar, para além de falar; e isto é particularmente importante paras os agentes da evangelização: silêncio e palavra são ambos elementos essenciais e integrantes da ação comunicativa da Igreja para um renovado anúncio de Jesus Cristo no mundo contemporâneo. A Maria, cujo silêncio «escuta e faz florescer a Palavra» (Oração pela Ágora dos Jovens Italianos em Loreto, 1-2 de setembro de 2007), confio toda a obra de evangelização que a Igreja realiza através dos meios de comunicação social.

Vaticano, 24 de janeiro – dia de São Francisco de Sales – de 2012.
BENEDICTUS PP XVI

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Pe. Tolentino Mendonça: o elogio do silêncio

Mesmo que construamos a palavra como uma torre, temos de aceitar que ela (...) muitas vezes nos incapacita para a comunicação
        Quando penso no contributo que a experiência religiosa pode dar num futuro próximo à cultura, ao tempo e ao modo da existência humana, penso que mais até do que a palavra será a partilha desse património imenso que é o silêncio. Já a bíblica narrativa de Babel ponha a nu os limites do impulso totalitário da palavra. Mesmo que construamos a palavra como uma torre, temos de aceitar que ela não só não toca cabalmente o mistério dos céus, como muitas vezes nos incapacita para a comunicação e a compreensão terrenas. Precisamos do auxílio de outra ciência, a do silêncio. Já Isaac de Nínive, lá pelos finais do século VII, ensinava: «A palavra é o órgão do mundo presente. O silêncio é o mistério do mundo que está a chegar».
       Na diversidade das tradições religiosas e espirituais da humanidade, o silêncio é um traço de união extraordinariamente fecundo. Na tradição muçulmana, por exemplo, o centésimo Nome de Deus é o nome inefável que não pode ser rezado senão no silêncio. Os místicos não se cansaram de explorar essa via. Veja-se o persa Rûmi (1207-1247) que aconselha ao seu discípulo: «Àquele que conhece Deus faltam-lhe as palavras». Noutra geografia temos a anotação espiritual de Lao-Tsé, «o som mais forte é o silencioso», ou a de Bashô, «silêncio/ uma rã mergulha/ dentro de si», ou a de Eléazar Rokéah de Worms, cabalista judeu que afirmava: «Deus é silêncio».
       Também a Bíblia coteja minuciosamente o silêncio de Deus. E este nem sempre é um silêncio fácil, mesmo se somos chamados a acreditar na verdade do dístico que nos oferece o Livro das Lamentações: «É bom esperar em silêncio a salvação de Deus». O silêncio de Deus fustiga os salmistas: «Ó Deus, não fiques em silêncio; não fiques mudo nem impassível!» (83,2); leva Job a erguer-se numa destemida teologia de protesto; e faz o inconformado profeta Habacuc dizer: «Tu contemplas tudo em silêncio» (Hab 1, 13). O silêncio do Pai será particularmente enigmático na agonia no Getsémani e na experiência da Cruz, onde Jesus lança o grito: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?». Contemplamos neste grito o mistério de Deus e o do Homem no mais devastador silêncio que o mundo conheceu. Contudo, é no lancinante silêncio que sucede ao seu grito que reside a revelação pascal de Deus.

José Tolentino Mendonça, Editorial Agência Ecclesia.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Hora dos bons interromperem o silêncio

“O que mais preocupa não é o grito dos violentos,
nem dos corruptos,
nem dos desonestos,
nem dos sem caráter,
nem dos sem-ética.
O que mais preocupa é o silêncio dos bons”.
                                                 Martin Luther King


       Vivemos, hoje, momentos complexos que ao longo dos anos não quisemos admitir que era o tempo da mudança. A mudança do mundo a que João XXIII foi sensível aprofundou-se e acelerou. A Gaudium et Spes assumiu-o claramente: “verificam-se transformações profundas nos nossos dias, nas estruturas e nas instituições dos povos, que acompanham a sua evolução cultural, económica e social” (G.S. nº 73).
       Meio século depois, os efeitos da mudança contínua alteraram o rosto da humanidade, mudaram os valores das civilizações e traçaram um novo quadro para o sentido da vida, individual e coletiva. E os cristãos não ficaram imunes a esta transformação, mudaram ao ritmo da sociedade, encontrando, em geral, a chave da interpretação da vida e da história, na mudança da sociedade, e não no Evangelho e na fé como fonte de uma compreensão global da existência.
       A transformação tornou-se mais solidária e interventiva, daí a vasta rede de instituições de solidariedade social existentes no nosso País, muitas das quais situadas na área de influência da Igreja Católica, contribuindo para a mudança de paradigma e seu enorme impacto na erradicação da pobreza. Contudo, sabemos que não chega fazer mudanças particulares se vivemos num Estado que gere o dia a dia dos cidadãos, criando-lhes dificuldades de acessos básicos do viver, em vez da melhoria do bem-estar individual e coletivo.
       Exemplo disso é o novo imposto extraordinário, aprovado recentemente e, que irá incidir sobre o subsídio de Natal, afetando milhares de pessoas, nomeadamente os dependentes e pensionistas. Entre tantas outras medidas de austeridade, esta é mais uma grave decisão governamental que coloca as famílias numa situação ainda mais complicada.
       É neste contexto, que as ações desenvolvidas pela Caritas Portuguesa (atuando através das Caritas diocesanas), na conceptualização e na inovação da intervenção social, surgem com particular relevo.
       Em concreto, a Operação 10 Milhões de estrelas – um Gesto pela Paz, apresenta-se como uma resposta na promoção da justiça social e da solidariedade, num momento complexo e ímpar das famílias portuguesas. O apelo à importância das verbas recolhidas por cada Caritas diocesana reforça a eficácia que cada um de nós poderá ter na divulgação e promoção desta ação, contribuindo para o pleno sentido do agir humano tendo em vista o bem comum.
       Através da iniciativa Operação 10 Milhões de estrelas – um Gesto pela Paz, a Caritas Portuguesa lança uma mensagem clara de solidariedade e apela aos cidadãos, em particular aos cristãos, para se mobilizarem em torno dos mais carenciados contribuindo com a compra de uma vela pelo preço de 1 euro.
       Diante do quadro atual de crise, ninguém pode permanecer passivo, como se as soluções para os problemas pessoais e coletivos pudessem vir dos outros, sem o contributo de cada um. O debate que é preciso fazer não deve situar-se apenas ao nível das premissas e dos valores, mas deve igualmente sugerir ações que possam promover a solidariedade.
       A hora difícil que estamos todos a viver ao nível dos valores humanos, requer uma profunda reflexão e o envolvimento alargado da sociedade portuguesa, na resposta aos desafios que se colocam. E dessas respostas sairá a possibilidade de construir, em consenso, uma Economia ao serviço do ser humano e uma Política que a ajude a encontrar-se e a cumprir as tarefas de uma civilização que tem de ser cada vez mais humana.
       Porém, a força e a potência criadora, Deus, é sempre a mesma. Por conseguinte, é no encontro com Deus que os homens e mulheres se transformam fazendo uma história de vida humana em comunhão com uma história divina. Esta é a hora dos bons interromperem o seu silêncio!

Bernardino Silva, Coordenador nacional da Operação 10 Milhões de estrelas – um Gesto pela Paz

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O monopólio da palavra...

Para abrir os olhos temos de fechar mais os ouvidos.

       Está dito e redito que estamos em crise. Ditas e analisadas estão causas e consequências. Até à exaustão. Como agir, avançar, ultrapassar, parece matéria menos óbvia. Números, cálculos, hipóteses, também abundam. Horizontes nebulosos, dados sobre todas as mesas parecem não faltar. Muitas das explicações, todavia, não passam de conversa de adivinhos que se querem fazer passar por cientistas. Há, em consequência, abundantes palavras simplesmente inúteis. Nem palavras são. Apenas desabafos.
       Mas neste todo a palavra ganha uma dinâmica e uma responsabilidade decisivas. A palavra que se diz, que se grita, que se escreve e se ilustra com imagem. Palavra do cidadão anónimo que está nos pequenos palcos de cada casa, cada empresa e até cada esquina. Palavras sobre tudo e sobre nada, explosões de vencedores e vencidos, governados e governantes, humilhados e ofendidos, escondidos, novos soberanos da economia, da finança, da exploração. Mas também a palavra de homens e mulheres justos que não encontram saídas para os novos becos que a cada esquina se montam, sem se saber bem quem os desenhou na vida de tanta gente.
       Há um anonimato refinado por detrás de muitas decisões que estão a abalar o nosso mundo. Estreitados aqui, pensamos que aqui começa e acaba o mundo. Quase não se fala dos países em carência total, dos refugiados da guerra e da fome, das crianças que morrem de subnutrição, dos sobressaltos que acontecem em África, América Latina ou Ásia.
       Para abrir os olhos temos de fechar mais os ouvidos. A inflação da palavra e da opinião pode minar esperanças e desnortear bússolas. Vagueia na incontinência verbal de técnicos, especialistas, professores, religiosos, vedetas, vips, governantes, profissionais de poder e oposição, críticos embebidos em vinagre. Há sentenças a mais sobre cada acontecimento e cada matéria. Sem pensar no povo que somos, que anda perdido nas suas solidões com tantos saberes, sentenças, dogmas e previsões. Tudo construído sobre a areia movediça da opinião ocasional, da vaidade que não se permite arrumar-se atrás do pano. A torrente de palavras não é a expressão plural dum país que procura caminhos. É uma sinfonia dissonante de quem não pensa no que diz e diz tudo o que mal chegou a pensar. E chega-se a alguma ditadura da palavra com o desrespeito por quem não se consegue fazer ouvir. Não se pede a ninguém que ponha ordem nisto. Mas pede-se e exige-se que seja respeitado quem escuta tanta palavra sem poder sequer replicar de forma a também se fazer ouvir.

António Rego, in Editorial da Agência Ecclesia.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Em tempo de comentários...

Nos últimos meses, mais atentos às medidas de austeridade, mesmo até às políticas incompreensíveis, não somos só invadidos com notícias, mas verdadeiramente bombardeados de comentários
       Deambulando pela vida alheia, descobrindo novidades sem interesse, discutindo tudo e criticando todos, cresce assustadoramente o número daqueles que perdem horas presos a um post ou a uma notícia online. Nos últimos meses, mais atentos às medidas de austeridade, mesmo até às políticas incompreensíveis, não somos só invadidos com notícias, mas verdadeiramente bombardeados de comentários, em que todos opinam, publicam e republicam, partilham e sugerem. 
       Fenómeno que não se resume ao simples ato de “comentar”, muito desejável até, assiste-se antes à vulgarização do livre arbítrio nos meios virtuais, onde, das prudentes análises, depressa se atinge o patamar do ultraje e da ofensa gratuita. Retirando brilho à discussão fecunda, de partilha saudável, perdem-se horas a comentar, a aguardar o impacto dos impropérios ou de uma certa sabedoria, que só naquele palco se exibe. 
       E, bem vistas as coisas, verdadeiramente preocupante é que tudo isto não serve para nada, não tem qualquer objetivo que se possa admitir como minimamente razoável. São horas a fio retiradas ao trabalho, um tempo perdido e ostensivamente exibido. Isso sim, é assustador, a inutilidade, agravada por uma consequente esterilidade. 
       Muito se comenta, mas pouco se faz, no exemplo do dia a dia, nos resultados apresentados, na produtividade que se impõe. Numa época em que a otimização de recursos é por tudo fundamental, convenhamos que não serão essas horas, passadas a ombrear insultos ou a esgrimir críticas, que contribuem para resolver alguma coisa. 
       Há tantas missões possíveis e enriquecedoras, porquê desperdiçar tempo a alimentar aquelas que jamais estarão ao nosso alcance? 

Sandra Costa Saldanha, Editorial da Agência Ecclesia.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

A fé purifica o coração!

       "...Adão, que tentara com as próprias forças apoderar-se do divino... Cristo desceu da Sua divindade tornando-Se homem... despoja-Se do seu esplendor divino, ajoelha-Se por assim dizer diante de nós, lava e enxuga os nossos pés sujos, para nos tornar capazes de participar no banquete nupcial de Deus.
       ... é o amor de Jesus até ao fim que nos purifica, que nos lava. O gesto do lava-pés exprime isto mesmo: é o amor serviçal de Jesus que nos arranca da nossa soberba e nos torna capazes de Deus, nos torna 'puros'...
       ... A fé purifica o coração. A fé deriva do facto de Deus Se voltar para o homem. Não se trata simplesmente de uma decisão autónoma dos homens. A fé nasce porque as pessoas são tocadas interiormente pelo Espírito de Deus, que lhes abre os corações e os purifica".

Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré,  pp. 56-57.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

A Palavra de Jesus é o verdadeiro firmamento!

       "A palavra é quase-nada quando confrontada com o enorme poder do universo material imenso, é um sopro momentâneo na grandeza silenciosa do universo; pois bem, a palavra é mais real e duradoura do que todo o mundo material. É a realidade verdadeira e merecedora de confiança, o terreno firme sobre o qual podemos apoiar-nos e que permanece inclusive com o escurecimento do Sol e q queda do firmamento. Os elementos cósmicos passam; a palavra de Jesus é o verdadeiro 'firmamento' sob o qual o homem pode estar e permanecer".

Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré,  p 51.

domingo, 3 de julho de 2011

A Caritas radica na Eucaristia...

       "Partir o pão para todos é, em primeiro lugar, a função do pai da família, que nisto representa de algum modo Deus-Pai, o qual, através da fertilidade da terra, distribui por todos nós o necessário para a vida. Depois, é também o gesto da hospitalidade, pelo qual se faz participar o estrangeiro em coisas próprias, acolhendo-os na comunhão da refeição. Partir e partilhar - é precisamente a partilha que cria comunhão. Este gesto humano primordial do dar, de partilhar e unir, adquire, na Última Ceia de Jesus, uma profundidade inteiramente nova: Ele dá-Se a Si mesmo. A bondade de Deus, que se manifesta na distribuição, torna-se totalmente radical no momento em que o Filho, no pão, Se comunica e distribui a Si mesmo.
       O gesto de Jesus tornou-se assim o símbolo de todo o mistério da Eucaristia... Nela beneficiamos da hospitalidade de Deus, que, em Jesus Cristo crucificado e ressuscitado, Se nos entrega. Por isso, o partir e o distribuir do pão - o acto de amorosa atenção àquele que precisa de mim - é uma dimensão intrínseca da própria Eucaristia.
       A caritas, a solicitude pelo outro, não é um segundo sector do cristianismo a par do culto, mas está radicada precisamente nele e faz parte dele. Na Eucaristia, no 'partir o pão', estão indivisivelmente ligadas as dimensões horizontal e vertical"

Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré,  pp. 111.