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sábado, 27 de fevereiro de 2016

Domingo III da Quaresma - ano C - 28 de fevereiro

       1 – A vida é um mistério que não se dissolve no conhecimento, na ciência, na sabedoria popular ou em qualquer outro apartado da nossa existência. A sua complexidade, por um lado, e a sua simplicidade, por outro, fazem da vida (vegetal, animal, humana) um desafio permanente de procura, de descoberta, de admiração. Para crentes e não crentes é um mistério inabarcável. Os desenvolvimentos da ciência e da tecnologia desvendaram muitos segredos, mostraram a beleza da nossa fragilidade humana. Quanto mais simples é a vida tanto mais difícil decifrá-la.
       Com os avanços da ciência foi possível resolver muitos enigmas e melhorar a qualidade da vida, a saúde do corpo e da mente, mas nem assim foi possível eliminar as doenças crónicas, as depressões, o vazio existencial. Há algo mais para lá das sinapses, das ligações neurológicas, na constituição biológica. Somos muito mais que a soma de cromossomas, ADN, sangue, ossos, músculos, carne. Somos um mistério que quanto mais se desvenda mais complexo se torna.
       Ao longo do tempo, o ser humano procurou compreender e justificar o sofrimento, a doença e a morte. Se a vida é tão bela, como é possível que nos faça sofrer e porque é que temos de morrer? Porque é que a vida não é igual para todos? Porque que é que uns sofrem tanto e outros têm uma vida durável e saudável? Terá a ver (somente) com as escolhas de cada um?
       Uns procuram respostas na fé e na religião, outros no acaso ou na ciência. Muitos aceitaram a doença e as desgraças como vontade dos deuses e controlo oculto das divindades. Outros aceitaram que as doenças e a morte eram consequência do pecado.
       2 – Jesus questiona o sofrimento e o mal, compadecendo-Se. Como em outras ocasiões, Jesus não procura justificações, argumentos ou culpados. É preciso ajudar? Então ajuda-se. Faz-se o que está ao nosso alcance ou recorre-se a quem pode ajudar.
       Na lógica dos antigos, se alguém sofre é porque algum mal praticou. Job questiona tal ligação, pois nada praticou que merecesse tantos sofrimentos. No final, na história de Job, vêm ao de cima a soberania de Deus, o mistério insondável da vida e a grande confiança na bondade de Deus.
       Os mestres de Israel e a gente simples do povo assimilaram que a injustiça, o mal, a doença, a deficiência, o próprio domínio estrangeiro, eram consequência do pecado. Mas de quem? Dos pais, dos próprios, do povo? Jesus desmistifica esta crença ancestral. O pecado é destruidor do tecido social – quando cada um cuida apenas dos seus interesses pessoais ou tribais – e da própria vida – quando nos fazemos mal, acumulando toxidade pela inveja, pelo ódio, pelo desejo desenfreado de vingança. O que nos acontece de mal não é, sem mais, consequência do pecado, a não ser que resulte do mal consciente que outros nos fizeram!
       Pilatos mandou derramar sangue de alguns galileus. A questão era saber que mal tinham feito para merecerem tal castigo. Jesus combate esta lógica: «Julgais que, por terem sofrido tal castigo, esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus? Eu digo-vos que não. E se não vos arrependerdes, morrereis todos do mesmo modo. E aqueles dezoito homens, que a torre de Siloé, ao cair, atingiu e matou? Julgais que eram mais culpados do que todos os outros habitantes de Jerusalém? Eu digo-vos que não. E se não vos arrependerdes, morrereis todos de modo semelhante».
       Atente-se à interpelação de Jesus, desligando o mal infligido/sofrido de qualquer culpa. Mas, atenção, diz-nos Jesus, é necessário que nos preocupemos com o bem de todos, uns dos outros, aderindo ao Reino de Deus, convertendo-nos. De contrário, pior será a nossa sorte!
       3 – Para que não haja dúvidas, Jesus dá um passo em frente para sublinhar a importância da conversão, a inutilidade de arranjar culpados, apontando mais para nós que para os outros, partindo da misericórdia de Deus. Fácil é olhar para os defeitos e pecados dos outros e, quem sabe, atirar pedras ao telhado do vizinho! Porém, para os seguidores de Jesus, importa deixar-se olhar pela Misericórdia de Deus e a Ele aderir de todo o coração.
       Numa outra ocasião, os discípulos perguntam a Jesus, sobre uma cego de nascença que Ele se prepara para curar, quem é que tinha pecado, o próprio ou os pais. Jesus responde inequivocamente que nem ele nem os pais tiveram culpa alguma que pudesse ter provocado aquela cegueira (cf. Jo 9, 1-5). Nesse episódio, lembra que o importante é que ninguém fique cego diante dos outros e das suas carências e necessidades, pois neles refulge a presença de Deus.
       Jesus conta então a parábola da figueira que não dá frutos. «Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha. Foi procurar os frutos que nela houvesse, mas não os encontrou. Disse então ao vinhateiro: ‘Há três anos que venho procurar frutos nesta figueira e não os encontro. Deves cortá-la. Porque há de estar ela a ocupar inutilmente a terra?’. Mas o vinhateiro respondeu-lhe: ‘Senhor, deixa-a ficar ainda este ano, que eu, entretanto, vou cavar-lhe em volta e deitar-lhe adubo. Talvez venha a dar frutos. Se não der, mandá-la-ás cortar no próximo ano».
       Três anos sem dar fruto é muito tempo. Porquê gastar recursos? E porquê ocupar espaço onde se pode plantar outra árvore ou mais vinha? A parábola fala-nos da paciência de Deus e do Seu amor. Deus não desiste de nós. Nunca. Um e outro ano e mais outro e outro ainda. Jesus é o vinhateiro que visualiza o cuidado, a paciência e a misericórdia de Deus. Em Jesus, o Reino de Deus está em ação e já se podem ver os frutos. Cabe-nos transparecer o Reino de Deus que Jesus nos dá.
       4 – "Porventura Me hei de comprazer com a morte do pecador e não com o facto de ele se converter e viver?" (Ez 18, 23). O povo Eleito experimenta na sua história a intervenção de Deus. Ele é um Deus de vivos, de Abraão, de Isaac e de Jacob (cf. Lc 20, 38), não é um ídolo de bronze, de madeira, de prata, de ouro ou de ferro, que não tem olhos nem ouvidos, que não vê e não escuta aqueles que o invocam. Deus olha com amor, com aquele amor compassivo e maternal, isto é, com o amor das entranhas, a Misericórdia. «Eu vi a situação miserável do meu povo no Egipto; escutei o seu clamor provocado pelos opressores. Conheço, pois, as suas angústias. Desci para o libertar das mãos dos egípcios e o levar deste país para uma terra boa e espaçosa, onde corre leite e mel».
       A paciência do vinhateiro não é passiva. Insiste e cuida da figueira que está na sua vinha, tudo fazendo para que possa dar fruto. A Aliança de Deus com o Seu povo não é unilateral, de obediência deste em relação Àquele. Deus OUVE e VÊ a miséria do povo e ATUA para o libertar e conduzir a uma terra de esperança e de vida. Ele conta connosco. Moisés até poderia andar distraído, mas é atraído pelos sinais. Ele VÊ e aproxima-se. Não basta ver, não basta saber, não basta ter um bom coração e boas intenções, é imperioso aproximar-se para VER melhor e mais de perto, e para se deixar COMOVER e ENVIAR. Moisés tinha saído do Egipto e a sua vida era pacata, mesmo com muito trabalho e sacrifícios, pois tornara-se pastor. E a vida do pastor exige uma grande dedicação, procurando proteger o rebanho e procurar as melhores pastagens, afastando-se para longe de casa onde os perigos espreitam, com os salteadores e com os animais selvagens!
       Também Moisés OUVE as angústias do povo sintonizando com a Misericórdia de Deus.
       Descerá ao Egipto para lhes comunicar a mensagem de Deus e os libertar. Deus revela-Se não com adjetivos, como ser distante, como juiz todo-poderoso, mas identificado com a vida de Abraão, de Isaac, de Jacob e de todo o povo.

       5 – Na segunda Leitura, o Apóstolo São Paulo evoca a libertação do Egipto, a nuvem de Deus que envolveu os judeus, a travessia do mar, a bebida espiritual que brotava da rocha e o alimento que Deus lhes mandava do Céu. Nem todos chegaram à Terra prometida. Muitos poderiam ser essa Terra prometida para os outros, mas afastaram-se de Deus e dos seus desígnios de amor. A terra da promessa não é apenas um lugar ainda que haja lugares que nos façam sentir seguros. Deus age em nós e através de nós. Podemos ser terra prometida e lugar de encontro, onde Deus Se deixa ver.
       Moisés desce ao Egipto para lhes levar Deus. Jesus desce até nós e n'Ele podemos VER a misericórdia de Deus, que nos assume como filhos bem-amados.
       Nenhum de nós está excluído do amor e do perdão de Deus. Maior que o nosso pecado é Sua misericórdia. "Ele perdoa todos os teus pecados e cura as tuas enfermidades. / Salva da morte a tua vida e coroa-te de graça e misericórdia. Revelou a Moisés os seus caminhos… O Senhor é clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade. Como a distância da terra aos céus, /assim é grande a sua misericórdia para os que O temem". O salmo reza em nós a misericórdia de Deus.
       Por conseguinte, a Ele nos confiamos: "Deus, Pai de misericórdia e fonte de toda a bondade, que nos fizestes encontrar no jejum, na oração e no amor fraterno os remédios do pecado, olhai benigno para a confissão da nossa humildade, de modo que, abatidos pela consciência da culpa, sejamos confortados pela vossa misericórdia" (oração de coleta).

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (ano C): Ex 3, 1-8a. 13-15; Sl 102; 1 Cor 10, 1-6. 10-12; Lc 13, 1-9.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Papa Francisco - Espírito Santo, o protagonista do perdão

Caros irmãos e irmãs, bom dia!
       Na quarta-feira passada falei sobre a remissão dos pecados, referida de modo especial ao Baptismo. Hoje aprofundamos o tema da remissão dos pecados, mas em referência ao chamado «poder das chaves», que é um símbolo bíblico da missão que Jesus confiou aos Apóstolos.
       Antes de tudo, devemos recordar que o protagonista do perdão dos pecados é o Espírito Santo. Na sua primeira aparição aos Apóstolos, no Cenáculo, Jesus ressuscitado fez o gesto de soprar sobre eles, dizendo: «Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos» (Jo 20, 22-23). Transfigurado no seu corpo, Jesus já é o homem novo, que oferece os dons pascais, fruto da sua morte e ressurreição. Quais são estes dons? A paz, a alegria, o perdão dos pecados e a missão, mas sobretudo o Espírito Santo, que é fonte de tudo isto. O sopro de Jesus, acompanhado pelas palavras com as quais comunica o Espírito, indica a transmissão da vida, a vida nova regenerada pelo perdão.
       Mas antes de fazer o gesto se soprar e conceder o Espírito, Jesus mostra as suas chagas, nas mãos e no lado: essas feridas representam o preço da nossa salvação. O Espírito Santo concede-nos o perdão de Deus, «passando através» das chagas de Jesus. As feridas que Ele quis conservar; também neste momento, no Céu, Ele mostra ao Pai as chagas com as quais nos resgatou. Em virtude destas feridas, os nossos pecados são perdoados: assim Jesus ofereceu a sua vida pela nossa paz, pela nossa alegria, pelo dom da graça na nossa alma, pelo perdão dos nossos pecados. É muito bom contemplar Jesus assim!
        Consideremos o segundo elemento: Jesus concede aos Apóstolos o poder de perdoar os pecados. É um pouco difícil compreender como um homem pode perdoar os pecados, mas Jesus confere este poder. A Igreja é depositária do poder das chaves, de abrir ou fechar ao perdão. Na sua misericórdia soberana, Deus perdoa cada homem, mas Ele mesmo quis que quantos pertencem a Cristo e à Igreja recebam o perdão mediante os ministros da Comunidade. Através do ministério apostólico, a misericórdia de Deus alcança-me, as minhas culpas são-me perdoadas e é-me conferida a alegria. Deste modo, Jesus chama a viver a reconciliação também na dimensão eclesial, comunitária. E isto é muito bom! A Igreja, que é santa e ao mesmo tempo carente de penitência, acompanha o nosso caminho de conversão durante a vida inteira. A Igreja não é senhora do poder das chaves, mas é serva do ministério da misericórdia e rejubila todas as vezes que pode oferecer este dom divino.
       Talvez muitas pessoas não compreendam a dimensão eclesial do perdão, porque predominam sempre o individualismo e o subjectivismo, e até nós cristãos sentimos isto. Sem dúvida, Deus perdoa cada pecador arrependido, pessoalmente, mas o cristão está unido a Cristo, e Cristo à Igreja. Para nós cristãos há um dom a mais, há sempre um compromisso a mais: passar humildemente através do ministério eclesial. Devemos valorizá-lo; é uma dádiva, uma atenção, uma salvaguarda e também a certeza de que Deus me perdoou. Vou ter com o irmão sacerdote e digo: «Padre, cometi isto...». E ele responde: «Mas eu perdoo-te; Deus perdoa-te!». Naquele momento, estou convicto de que Deus me perdoou! E isto é bom, é ter a segurança que Deus nos perdoa sempre, nunca se cansa de perdoar. E não devemos cansar-nos de ir pedir perdão. Podemos ter vergonha de confessar os nossos pecados, mas as nossas mães e avós já diziam que é melhor corar uma vez do que empalidecer mil vezes. Coramos uma vez, mas os pecados são-nos perdoados e vamos em frente.
       Enfim, um último ponto: o sacerdote, instrumento para o perdão dos pecados. O perdão de Deus, que nos é concedido na Igreja, é-nos transmitido mediante o ministério do nosso irmão, o sacerdote; também ele, um homem que como nós precisa de misericórdia, se torna verdadeiramente instrumento de misericórdia, comunicando-nos o amor ilimitado de Deus Pai. Inclusive os presbíteros e os Bispos devem confessar-se: todos nós somos pecadores. Também o Papa se confessa a cada quinze dias, porque inclusive o Papa é pecador. O confessor ouve os pecados que lhe confesso, aconselha-me e perdoa-me, porque todos nós precisamos deste perdão. Às vezes ouvimos certas pessoas afirmar que se confessam directamente com Deus... Sim, como eu dizia antes, Deus ouve sempre, mas no sacramento da Reconciliação envia um irmão a trazer-nos o perdão, a segurança do perdão em nome da Igreja.
       O serviço que o sacerdote presta como ministro, por parte de Deus, para perdoar os pecados é muito delicado e exige que o seu coração esteja em paz, que o presbítero tenha o coração em paz; que não maltrate os fiéis, mas que seja manso, benévolo e misericordioso; que saiba semear esperança nos corações e sobretudo que esteja consciente de que o irmão ou a irmã que se aproxima do sacramento da Reconciliação procura o perdão, e fá-lo como as numerosas pessoas que se aproximavam de Jesus para serem curadas. O sacerdote que não tiver esta disposição de espírito é melhor que, enquanto não se corrigir, não administre este Sacramento. Os fiéis penitentes têm o direito, todos os fiéis têm o direito de encontrar nos sacerdotes servidores do perdão de Deus.
       Caros irmãos, como membros da Igreja estamos conscientes da beleza desta dádiva que o próprio Deus nos concede? Sentimos a alegria deste esmero, desta atenção materna que a Igreja tem por nós? Sabemos valorizá-la com simplicidade e assiduidade? Não esqueçamos que Deus nunca se cansa de nos perdoar; mediante o ministério do sacerdote, Ele aperta-nos num novo abraço que nos regenera e nos permite erguer-se de novo e retomar o caminho. Porque esta é a nossa vida: devemos erguer-nos sempre de novo e retomar o caminho!
 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Pe. Léo - superando as limitações

       David tinha mulher bonita... David peca por causa do seu ponto fraco... peca porque alimenta a visão de um modo errado... quem não tem o que fazer acha... quem não tem que fazer é um perigo para a sociedade... a pessoa fica à toa, quem mais reclama da vida é quem não tem que fazer... aliás, quando precisar de alguém para ajudar você procura a pessoa mais ocupada... quem tem tempo sobrando é preguiçosa, usa o tempo para reclamar da vida, está sempre atrasada para ir para lugar nenhum, ela precisa sempre chegar não sabe a onde nem fazer o quê, por isso ela para em qualquer lugar e enrosca em qualquer coisa. não produz, não lê um livro, não reza... não sabe para onde vai olha para todo o lado... quem sabe para onde vai fixa o olhar... quem fica olhando para todo o lado enxerga o que não deve... David está lá, olhando... o pecado tem o poder do zoom... da atração... o pecado de David é da irresponsabilidade, da indelicadeza...  da insensibilidade, do orgulho prepotente... dá uma de alcoviteiro... ele vai descendo... foi-se reduzindo como se fosse um moleque... usa e deita fora, usa o poder para tomar a mulher do próximo...


segunda-feira, 13 de maio de 2013

Quando alguém se julga Prémio Nobel da Santidade...

"Quando vem a vaidade, e alguém crê que é um pouco o Prémio Nobel da Santidade, faz-nos bem a memória: «recorda-te de onde te tomei: do fundo do rebanho»... A memória é uma graça enorme, e quando o cristão não tem memória - isto é duro mas é a verdade - não é cristão: é idólatra. Porque está diante de um deus que não caminha, que não sabe caminhar, e o nosso Deus faz caminho connosco, mistura-se connosco, caminha connosco. Salva-nos. Faz história connosco..."


sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Quando pecamos, Deus agarra-se ao nosso pescoço

       É preciso dizer, que quando pecamos Deus agarra-se ao nosso pescoço. Deus não nos deixa; Deus aumenta o seu amor por nós. Deus derrama a sua ternura, Deus acena, Deus suplica que abramos os olhos, que caiamos em nós e nos recordemos daquilo que somos, e cobrando forças... E é exatamente porque Deus se amarra ao nosso pescoço, como alguém que nos ama absolutamente, alguém que - di-lo a parábola - nos «cobre de beijos» (Lc 15, 25), que podemos voltar ao abraço paterno. Mergulhar no Pai-nosso é descobri este Deus que está. E também aprender a estar.

Pe. José Tolentino de Mendonça, Pai-nosso que estais na terra.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Desposar-te-ei com fidelidade

       Eis o que diz o Senhor: «Hei-de atrair ao meu amor a casa de Israel, hei-de conduzi-la ao deserto e falar-lhe ao coração. Ali corresponderá como nos dias da sua juventude, quando saiu da terra do Egipto. Nesse dia, diz o Senhor, chamar-Me-ás ‘meu marido’ e não ‘meu baal’. Farei de ti minha esposa para sempre, desposar-te-ei segundo a justiça e o direito, com amor e misericórdia. Desposar-te-ei com fidelidade e tu conhecerás o Senhor» (Os 2, 16.17b-18.21-22).
       A imagem utilizada pelo profeta Oseias é significativa, comparando o amor de Deus por Israel, pelo povo, com o amor do marido pela esposa. No contexto mais basto do texto, o marido ama de tal forma a esposa, que mesmo depois da traição, paga por ela, como prostituta e acolhe-a novamente em seu leito. Tal é o amor. Assim também Deus para connosco. Na infedilidade, nos desvios, Deus continua a ser fel e a chamar-nos ao Seu amor.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Pecado original, queda de anjos, criação do mundo

Pecado Original:
        O pecado original, no qual todos os homens nascem, é o estado de privação da santidade e da justiça originais. É um pecado por nós «contraído» e não «cometido»; é uma condição de nascimento e não um acto pessoal. Por causa da unidade de origem de todos os homens, ele transmite-se aos descendentes de Adão com a natureza humana, «não por imitação mas por propagação». Esta transmissão permanece um mistério que não podemos compreender plenamente. 

O primeiro pecado da humanidade:
       O homem, tentado pelo diabo, deixou apagar no seu coração a confiança em relação ao seu Criador e, desobedecendo-lhe, quis tornar-se «como Deus», sem Deus e não segundo Deus (Gn 3, 5). Assim, Adão e Eva perderam imediatamente, para si e para todos os seus descendentes, a graça da santidade e da justiça originais 

O que é a queda dos Anjos:
       Com esta expressão indica-se que Satanás e os outros demónios de que falam a Sagrada Escritura e a Tradição da Igreja, de anjos criados bons por Deus, se transformaram em maus, porque, mediante uma opção livre e irrevogável, recusaram Deus e o seu Reino, dando assim origem ao inferno. Procuram associar o homem à sua rebelião contra Deus; mas Deus afirma em Cristo a Sua vitória segura sobre o Maligno.

Qual era a condição originária do homem segundo o projecto de Deus?
       Deus, criando o homem e a mulher, tinha-lhes dado uma participação especial na própria vida divina, em santidade e justiça. Segundo o projecto de Deus, o homem não deveria nem sofrer nem morrer. Além disso, reinava uma harmonia perfeita no próprio ser humano, entre a criatura e o criador, entre o homem e a mulher, bem como entre o primeiro casal humano e toda a criação.

Relação entre homem e mulher:
       O homem e a mulher foram criados por Deus com uma igual dignidade enquanto pessoas humanas e, ao mesmo tempo, numa complementaridade recíproca enquanto masculino e feminino. Deus quis que fossem um para o outro, para uma comunhão de pessoas. Juntos são também chamados a transmitir a vida humana, formando no matrimónio «uma só carne» (Gn 2, 24), e a dominar a terra como «administradores» de Deus.

Quem dá a alma ao ser humano: 
       A alma espiritual não vem dos pais, mas é criada directamente por Deus e é imortal. Separando-se do corpo no momento da morte, ela não perece; voltará a unir-se novamente ao corpo, no momento da ressurreição final. 

Em que sentido o ser humano é "imagem de Deus"? 
       Afirmar que o homem é criado à imagem de Deus significa que ele é capaz de conhecer e amar, na liberdade, o próprio Criador. É a única criatura, nesta terra, que Deus quis por si mesma e que chamou a partilhar a sua vida divina, no conhecimento e no amor. Enquanto criado à imagem de Deus, o homem tem a dignidade de pessoa: não é uma coisa mas alguém, capaz de se conhecer a si mesmo, de se dar livremente e de entrar em comunhão com Deus e com as outras pessoas. 

Quem são os Anjos:
       Os anjos são criaturas puramente espirituais, incorpóreas, invisíveis e imortais, seres pessoais dotados de inteligência e de vontade. Estes, contemplando incessantemente a Deus face a face, glorificam-no, servem-no e são os seus mensageiros no cumprimento da missão de salvação, em prol de todos os homens. 

Como é que Deus criou o mundo: 
       Deus criou o universo livremente, com sabedoria e amor. O mundo não é o produto duma necessidade, dum destino cego ou do acaso. Deus criou «do nada» (ex nihilo: 2Mac 7,28) um mundo ordenado e bom, que Ele transcende infinitamente. Deus conserva no ser a sua criação e sustenta-a, dando-lhe a capacidade de agir, e conduzindo-a à sua realização, por meio do seu Filho e do Espírito Santo.

sábado, 7 de agosto de 2010

A Redenção é maior que o Pecado

Entregar e confiar o mundo ao Imaculado Coração da Mãe significa voltar de novo junto da Cruz
do Filho . Mais quer dizer , ainda : entregar este mundo ao Coração trespassado do Salvador ,
reconduzindo-o à própria fonte da Redenção .

A Redenção é sempre maior do que o pecado do homem e do que « o pecado do mundo » .

A força da Redenção supera infinitamente toda a espécie de mal , que está no homem e no mundo .

O Coração da Mãe está ciente disso , como nenhum outro coração em todo o cosmos , visível e invisível .

E para isso faz a chamada .

Chamada não somente à conversão .

Chamada a que nos deixemos auxiliar por Ela , como Mãe , para voltarmos novamente à fonte da Redenção .


(PAPA JOÃO PAULO II , SANTUÁRIO DE FÁTIMA 13 / 5 / 82)

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Os teus pecados estão perdoados

       Mas Jesus, conhecendo os seus pensamentos, disse: «Porque pensais mal em vossos corações? Na verdade, que é mais fácil: dizer: ‘Os teus pecados estão perdoados’, ou dizer: ‘Levanta-te e anda’? Pois bem. Para saberdes que o Filho do homem tem na terra o poder de perdoar os pecados, ‘Levanta-te – disse Ele ao paralítico – toma a tua enxerga e vai para casa’. O homem levantou-se e foi para casa. Ao ver isto, a multidão ficou cheia de temor e glorificava a Deus por ter dado tal poder aos homens (Mt 9, 1-8).
       Só Deus pode perdoar os pecados. É uma verdade para o mundo judaico, mas também para o mundo cristão. Jesus perdoa os pecados. Conclusão: Jesus é Deus. Ou, na observação dos judeus que O ouviam, faz-Se passar por Deus e isso é blasfémia.
       A multidão dos simples, daqueles e daquelas que abrem o coração ao futuro de Deus, rejubila com as maravilhas operadas através de Jesus Cristo. Hoje, Jesus continua a agir na Igreja e no mundo, através de nós.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

O perdão não substitui a justiça

       Antes de aterrar em Figo Maduro, Bento XVI falou aos jornalistas que fizeram a viagem com ele de Itália para Portugal, reconhecendo que a perseguição à Igreja vem antes de mais do interior da Igreja, do pecado dos seus membros. Por outro lado acentuou, como o tem feito, que o perdão e o arrependimento não substituem a justiça e a necessidade da mesma.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

A polémica na Igreja e a intolerância manifesta

       Sobre a polémica que tem envolvido a Igreja, centrando-se no ataque à figura do Papa Bento XVI e de algumas personalidades próximas, sugerimos dois textos que em nosso entender são muito pertinentes:
       Ainda que respeitando outras opiniões, identificamo-nos com estas duas reflexões, do reverendo Pe. Alfredo Patrício, do do amigo bloguista Joaquim Mexia Alves. Sei que é mais simpático alinhar na corrente e no ataque a figuras proeminentes, pareceríamos mais progressitas. Mas a verdade é bem mais importante que a moda, que a simpatia, mais importante que o coodismo...

sábado, 20 de março de 2010

V Domingo da Quaresma

Primeira Leitura:
       "Eis o que diz o Senhor: «Não vos lembreis mais dos acontecimentos passados, não presteis atenção às coisas antigas. Olhai: vou realizar uma coisa nova, que já começa a aparecer; não a vedes? Vou abrir um caminho no deserto, fazer brotar rios na terra árida»" (Is 43,16-21).

Segunda Leitura:
       "Considero todas as coisas como prejuízo, comparando-as com o bem supremo, que é conhecer Jesus Cristo, meu Senhor. Por Ele renunciei a todas as coisas e considerei tudo como lixo, para ganhar a Cristo e n’Ele me encontrar, não com a minha justiça que vem da Lei, mas com a que se recebe pela fé em Cristo, a justiça que vem de Deus e se funda na fé" (Filip 3,8-14).

Evangelho:
       "Jesus ergueu-Se e disse-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?».
       Ela respondeu: «Ninguém, Senhor».
       Disse então Jesus: «Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar»" (Jo 8,1-11).

Leia a Reflexão Dominical na página da Paróquia de Tabuaço, aqui!

Carta Pastoral de Bento XVI aos católicos na Irlanda sobre os abusos sexuais

       Datada de 19 de Março, solenidade de São José e Dia do Pai, e como prometido anteriormente, o Papa Bento XVI escreve aos católicos da Irlanda sobre os abusos sexuais, praticados por membros da Igreja, sobretudo sacerdotes e religiosos. É, sem dúvida, uma mensagem corajosa, desempoeirada, frontal, reconhecendo os erros, convidando a uma reflexão profunda, não desculpando os próprios bispos que encobriram tais pecados.
       Diz o Papa: "Por meu lado, considerando a gravidade destas culpas e a resposta muitas vezes inadequada que lhes foi reservada da parte das autoridades eclesiásticas no vosso país,, decidi escrever esta Carta Pastoral para vos expressar a minha proximidade, e para vos propor um caminho de cura, de renovação e de reparação.
       Na realidade, como muitos no vosso país revelaram, o problema do abuso dos menores não é específico nem da Irlanda nem da Igreja. Contudo a tarefa que agora tendes à vossa frente é enfrentar o problema dos abusos que se verificaram no âmbito da comunidade católica irlandesa e de o fazer com coragem e determinação. Ninguém pense que esta dolorosa situação se resolverá em pouco tempo. Foram dados passos em frente positivos, mas ainda resta muito para fazer. É preciso perseverança e oração, com grande confiança na força restabelecedora da graça de Deus...
       ...a Igreja na Irlanda deve em primeiro lugar reconhecer diante do Senhor e diante dos outros, os graves pecados cometidos contra jovens indefesos. Esta consciência, acompanhada de sincera dor pelo dano causado às vítimas e às suas famílias, deve levar a um esforço concentrado para garantir a protecção dos jovens em relação a semelhantes crimes no futuro...

Leia toda a carta pastoral na página da Agência Eclesia.

ORAÇÃO PELA IGREJA NA IRLANDA
       Deus dos nossos pais,
       Renova-nos na fé que é para nós vida e salvação na esperança que promete perdão e renovação interior, na caridade que purifica e abre os nossos corações para te amar, e em ti, amar todos os nossos irmãos e irmãs.
       Senhor Jesus Cristo possa a Igreja na Irlanda renovar o seu milenário compromisso na formação dos nossos jovens no caminho da verdade, da bondade, da santidade e do serviço generoso à sociedade.
       Espírito Santo, consolador, advogado e guia, inspira uma nova primavera de santidade e de zelo apostólico para a Igreja na Irlanda.
       Possa a nossa tristeza e as nossas lágrimas o nosso esforço sincero por corrigir os erros do passado, e o nosso firme propósito de correcção, dar abundantes frutos de graça para o aprofundamento da fé nas nossas famílias, paróquias, escolas e associações, e para o progresso espiritual da sociedade irlandesa, e para o crescimento da caridade, da justiça, da alegria e da paz, na inteira família humana.
       A Ti, Trindade, com plena confiança na amorosa protecção de Maria, Rainha da Irlanda, nossa Mãe, e de São Patrício, de Santa Brígida e de todos os santos, recomendamos a nós próprios, os nossos jovens, e as necessidades da Igreja na Irlanda. Amém.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Só existe um INFERNO...


"Só existe um inferno e talvez já o tenhas conhecido: é o lugar onde nada se espera, onde não se ama absolutamente ninguém e de ninguém se atende absolutamente nada, onde não se tem confiança em ninguém...
Isto é a tentação. A nossa tentação. De todos. É o pecado infernal que nos assediará até ao fim dos nossos dias: a instalação definitiva no canto (onde nos deixarão em paz, onde acabaremos por não sofrer mais, por não escutar mais nenhum apelo, onde a dilacerante comunicação será, por fim, cortada. Extinta). Isto é Inferno. Ter perdido o gosto de amar - para não sofrer mais."

Louis Evely, em "Sofrimento". Postado no blogue: Conhecer e Seguir Jesus.
(Veja o post anterior: Céu e Inferno íntimos.)