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terça-feira, 1 de maio de 2018

São José, Operário

Nota biográfica:
       O primeiro de Maio, considerado hoje na Europa o dia da «Festa do trabalho», foi, durante muitos anos, nos fins do século XIX e princípios do século XX, um dia de reivindicações e mesmo de lutas violentas pela promoção da classe operária.
       A Igreja que se mostrou sempre sensível aos problemas do mundo do trabalho, quis dar uma dimensão cristã a este dia. Nesse sentido, Pio XII, em 1955, colocava a «Festa do trabalho» sob a protecção de S. José, na certeza de que ninguém melhor do que este trabalhador poderia ensinar aos outros trabalhadores a dignidade sublime do trabalho.
       Operário durante toda a sua vida, S. José teve como companheiro de trabalho, na oficina de Nazaré, o próprio Filho de Deus, Jesus Cristo.
       E foi, na verdade, Jesus que lhe ensinou que o trabalho nos associa ao Criador, dando-nos a possibilidade de aperfeiçoar a natureza, de acabar a criação divina. O trabalho é um serviço prestado aos irmãos. O trabalho é um meio de nos associarmos à obra redentora de Cristo. (Gaudium et Spes, 67).
Oração (colecta):
       Deus, criador do universo, que estabelecestes a lei do trabalho para todos os homens, concedei-nos que, a exemplo de São José e com a sua protecção, realizemos a obra que nos mandais e recebamos o prémio que nos prometeis. Por Nosso Senhor Jesus Cristo...


CATEQUESE DO PAPA FRANCISCO - 1 de maio de 2013:
       Caros irmãos e irmãs,
       Bom dia!
       Hoje, 1º de maio, celebramos São José Operário e iniciamos o mês tradicionalmente dedicado a Nossa Senhora. No nosso encontro de hoje, quero focar estas duas figuras importantes na vida de Jesus, da Igreja e nas nossas vidas, com duas breves reflexões: primeiro, sobre o trabalho, segundo, sobre a contemplação de Jesus.
       No Evangelho de São Mateus, em um dos momentos em que Jesus retorna à sua região, a Nazaré, e fala na sinagoga, destaca-se o espanto de seus compatriotas por sua sabedoria. Eles se perguntam: "Não é este o filho do carpinteiro?" (13,55). Jesus entra em nossa história, está entre nós, nascido de Maria pelo poder de Deus, mas com a presença de São José, o pai legal, de direito, que cuida d’Ele e também lhe ensina seu trabalho. Jesus nasce e vive em uma família, na Sagrada Família, aprendendo com São José o ofício de carpinteiro, na carpintaria em Nazaré, dividindo com ele seus compromissos, esforços, satisfação e as dificuldades do dia a dia.
       Isso nos lembra a dignidade e a importância do trabalho. O livro de Génesis nos diz que Deus criou o homem e a mulher dando-lhes a missão de encher a terra e sujeitá-la, o que não significa desfrutá-la, mas cultivá-la e protegê-la, cuidar dela com o seu trabalho (cf. Gen 1, 28; 2,15). O trabalho faz parte do plano de amor de Deus, somos chamados a cultivar e cuidar de todos os bens da criação, deste modo participamos da obra da criação! O trabalho é fundamental para a dignidade de uma pessoa. O trabalho, para usar uma imagem concreta, nos “unge” de dignidade, nos plenifica de dignidade, nos torna semelhantes a Deus, que trabalhou e trabalha, age sempre (cf. Jo 5, 17), dá a capacidade de nos manter, manter nossa família, contribuir para o crescimento da nação. E aqui penso nas dificuldades que, em vários países, se encontra hoje o mundo do trabalho e da empresa, eu penso naqueles que, não apenas os jovens, estão desempregados, muitas vezes por uma concepção puramente económica (mecanicista) da sociedade, que busca o lucro egoísta, fora dos parâmetros de justiça social.
       Eu gostaria de estender a todos o convite à solidariedade e, aos chefes do setor público, convidá-los ao encorajamento, a fazer de tudo para dar um novo impulso ao emprego, isso significa se preocupar com a dignidade da pessoa mas, acima de tudo, vos exorto a não perderem a esperança; São José também teve momentos difíceis, mas nunca perdeu a confiança e soube superá-los, na certeza de que Deus não nos abandona. E agora gostaria de falar especialmente a vós, meninos e meninas, a vocês jovens: esforçai-vos nas vossas tarefas diárias, no estudo, no trabalho, nas relações de amizade, contribuindo com os outros, o vosso futuro também depende de como vós ides viver esses preciosos anos de vida. Não tenhais medo do compromisso, do sacrifício e não olhem para o futuro com medo, mantenham viva a esperança: há sempre uma luz no horizonte.
       Acrescento uma palavra sobre uma outra situação de trabalho que me incomoda: refiro-me ao que definimos como “trabalho escravo”, o trabalho que escraviza. Quantas pessoas no mundo são vítimas deste tipo de escravidão, em que é a pessoa que serve o trabalho, enquanto deve ser o trabalho a oferecer um serviço à pessoa, para que tenhamos todos dignidade. Peço aos irmãos e irmãs na fé e todos os homens e mulheres de boa vontade, uma escolha decisiva contra o tráfico de pessoas, contexto no qual se constitui o “trabalho escravo”.
       Faço referência agora ao segundo pensamento: no silêncio das ações quotidianas, São José, juntamente com Maria, tem um centro comum de atenção: Jesus. Eles acompanham e protegem, com empenho e carinho, o crescimento do Filho de Deus feito homem por nós, refletindo sobre tudo o que acontecia. Nos Evangelhos, Lucas enfatiza duas vezes a atitude de Maria, que também é a de São José, “guardava todas estas coisas, meditando-as no seu coração” (2,19.51).Para ouvir o Senhor, devemos aprender a contemplá-Lo, perceber sua presença constante em nossas vidas; precisamos parar para dialogar com Ele, dar-lhe espaço na oração. Cada um de nós, meninas, meninos e, jovens, em grande número reunidos aqui nesta manhã, deve perguntar-se: qual o espaço dou ao Senhor? Eu paro para falar com Ele? Desde que éramos crianças, nossos pais nos acostumaram a começar e terminar o dia com uma oração, para nos ensinar a perceber que a amizade e o amor de Deus nos acompanhavam. Vamos nos lembrar mais do Senhor em nosso dia!
       E neste mês de maio, eu gostaria de lembrar a importância e a beleza da oração do Santo Terço. Recitando a Ave-Maria, somos levados a contemplar os mistérios de Jesus, refletir sobre os principais momentos de Sua vida, para que, como foi com Maria e São José, Ele seja o centro dos nossos pensamentos, da nossa atenção e de nossas ações. Seria bom que, especialmente neste mês de maio, rezássemos juntos, em família, com os amigos, na paróquia, o Santo Terço ou alguma oração a Jesus e à Virgem Maria! A oração feita em comunidade é um momento precioso para tornar ainda mais forte a vida familiar, a amizade! Aprendamos a rezar mais em família e como família!
       Queridos irmãos e irmãs, rogamos a São José e à Virgem Maria que nos ensinem a sermos fiéis a nossas tarefas diárias, a viver nossa fé nas ações do dia a dia e dar mais espaço ao Senhor em nossas vidas, a parar para contemplar Seu rosto.
       Obrigado.

sábado, 20 de julho de 2013

XVI Domingo do Tempo Comum - ano C - 21 de julho 2013

       1 – “Jesus entrou em certa povoação e uma mulher chamada Marta recebeu-O em sua casa. Ela tinha uma irmã chamada Maria, que, sentada aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra”.
       Primeira lição: o amor tem concretização. Não se vive genericamente. Amamos o mundo inteiro, mas precisamos de nos sentir acarinhados por alguém, um familiar, um amigo, uma pessoa que nos espera... Jesus vive a maior parte da sua vida com os pais. Vem para a humanidade inteira. Porém, nasce em Belém; seus pais são Maria e José; vive em Nazaré, e situa a Sua vida pública na Judeia e na Galileia, com algumas passagens pontuais pela Samaria. Tem muitos amigos, os discípulos. Um grupo mais restrito de 12 apóstolos, entre os quais se salientam três ou quatro mais próximos. Vai a casa de fariseus, de publicanos, vai onde é convidado ou para onde Se faz convidado – «Zaqueu, desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa» (Lc 19, 5) – mas tem depois uma ou outra família onde Se hospeda e onde regressa, como é a casa dos seus amigos Lázaro, Maria e Marta.
       Segunda lição: Jesus não é o super-homem. Verdadeiramente Deus. Verdadeiramente homem. Não é uma personagem esquisita, heroica, ao jeito das figuras televisivas ou cinematográficas. É um homem de carne e osso, concreto, que vive num tempo e num espaço determinados. Mesmo que frugalmente, como naquela época, tem necessidade de comer, de descansar, de sentir a presença dos amigos. Vê-se neste evangelho mas também em muitas outras passagens, como quando reclama a vigilância e proximidade dos discípulos. Em contraponto com João Batista, que vive no deserto e se alimenta de gafanhotos e mel silvestre, Jesus come como os seus discípulos, vai a festas para as quais é convidado, e come as refeições que a Mãe lhe prepara. Passando naquela povoação, Jesus e os discípulos não deixam de visitar os amigos, aproveitando para repousar e recuperar energias.
       2 – «Marta, Marta, andas inquieta e preocupada com muitas coisas, quando uma só é necessária».
       Depois de mais uma jornada, Jesus, com os seus discípulos, entra em determinada povoação e Marta recebe-O em sua casa. Aprendamos com ela a receber Jesus em nossa casa. Mas depois de O acolhermos, é necessário darmos-Lhe atenção. Marta atarefa-se para receber bem. Entretanto vê que a sua irmã está sentada aos pés de Jesus a escutá-l'O. Forma sublime de acolher, com o ouvido, melhor, com o coração!
       «Senhor, não Te importas que minha irmã me deixe sozinha a servir?»
       Marta aproxima-se de Jesus e dá-lhe uma leve repreensão. Ele tinha obrigação de compreender. Sua irmã está ali “sem fazer nada”, quando poderia estar a ajudá-la.
       Jesus não recrimina Marta pelo carinho e generosidade com que O trata e como cuida da casa. No entanto alerta para algo mais importante. Se cada um faz o que lhe compete…
       Quando se recebe alguém em casa é necessário preparar tudo. À última hora adensam-se os preparativos. Quantos mais a ajudar, melhor. No entanto, se temos um convidado, um amigo, não o deixamos sozinho na sala, a não ser que não haja outra possibilidade.
       Jesus aponta para a escuta da Palavra, para a prioridade da oração, da contemplação, do estar junto d'Ele, aos seus pés. Há todo outro trabalho útil e meritório, mas este não pode anular aquele. De que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a sua alma, a sua vida?

       3 – «Marta, Marta, andas inquieta e preocupada com muitas coisas...».
       Como não revermo-nos neste alerta de Jesus?
       Vivemos numa luta permanente. Atarefados, em grandes correrias, com a agenda cheia, não há tempo para nada. Falta depois o tempo para o essencial, para estar com a família, para os pais brincarem com os filhos, para os filhos passarem tardes com os pais e os avós, ou participarem num programa comum, na Eucaristia, numa festa, um almoço ou jantar. Os filhos têm os seus compromissos, os horários dos pais são incompatíveis com o dos filhos.
       Queremos fazer muitas coisas, estar em todo o lado, e acabamos por nem fazer uma coisa nem outra, nem estar num sítio nem no outro, ou pelo menos com a qualidade e envolvimento devidos. Matamo-nos a trabalhar e quando nos apercebemos, em vão, cansamo-nos para nada, ou porque não aproveitamos, ou porque já não temos saúde para gozar os frutos, ou não tivemos tempo para solidificar amizades ou dedicar tempo e afeto à família, ou porque aqueles para quem trabalhamos não agradecem e esbanjam rapidamente o que nos custou tanto a conseguir.
       Temos esta consciência? Corremos, corremos, e parece que não saímos do mesmo lugar, e quanto mais corremos mais nos atrasamos? Já alguém se sentiu assim? Com a vida a escapar-se-lhes como a areia entre os dedos das mãos? Tantas preocupações e trabalhos e no final parece que ficamos de mãos vazias! Quem é que já experimentou situações assim? Lutas e cansaços, e para quê?
       4 – «…uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte».
       Justo equilíbrio, sem perder o norte, o ponto de partida, o chão que nos liga, a meta para onde nos dirigimos. Cada um de nós há de apostar em ser Marta – que acolhe, trabalha, labuta –, e Maria – que escuta, acolhe, contempla, bebe as palavras do Senhor.
       E assim a Igreja! A melhor parte, o ponto de partida: estar aos pés do Senhor. Perto de Jesus. Escutá-l'O. Primeiro, discípulos, e depois apóstolos, enviados. De novo a fé e as obras. Uma coisa leva à outra. Não estão desligadas. Se corremos muito mas sem Deus, sem oração, sem ligação a um sentido maior, corremos o risco de nos perdermos. Por outro lado, a fé há de ser encarnada. Fé com carne, com vida, com obras.
       São Bento, Padroeiro da Europa, cuja festa celebramos a 11 de julho, tem uma regra muito simples: ora et labora – reza e trabalha. É possível que o trabalho, honesto, dedicado, seja oração. Mas há tempos específicos para a oração, para que aquele não seja um fardo. É preciso trabalhar e descansar. Trabalhar e beneficiar dos frutos do trabalho. Trabalhar e partilhar o que se produz. Também isso é oração. Esta desperta-nos para os outros.
       Espaço e tempo para a contemplação, a beleza, o encontro com os amigos e com a família, para o descanso, para participar em atividades lúdicas e culturais, para apreciar a natureza, para rezar, para louvar e agradecer, para descobrir a harmonia do que nos rodeia e o engenho de homens e mulheres que vivem perto ou longe de nós e que ajudam a embelezar esta nossa terra.

       5 – «Se agradei aos vossos olhos, não passeis adiante sem parar em casa do vosso servo».
       Na primeira leitura, vemos a delicadeza de Abraão, um homem de Deus, justo, trabalhador, que, pela hora de mais calor, está a descansar. Vê passar três homens, e não precisa de grandes cálculos, entende este encontro como sinal da presença de Deus, sinal de bênção.
       Também aqui, a fé é concretizável em gestos de generosidade e aproximação. Abraão faz uma leitura muito rápida. Quem passa pela minha casa, à frente da minha porta, vem da parte de Deus, então é necessário tratá-lo como enviado de Deus.
       Abraão convida ao descanso e rapidamente prepara uma bela refeição, para que aqueles homens possam restaurar as forças da viagem. Que bela lição esta que Abraão nos dá. É necessário que aqueles que passam por nós deixem um pouco de si e levam um pouco de nós, como evoca Antoine de Saint-Exupéry, no Principezinho. O que fizerdes ao meu irmão, a Mim o fazeis…
       Abraão não se engana. Aquelas personagens deixarão a sua bênção transformadora: «Passarei novamente pela tua casa daqui a um ano e então Sara tua esposa terá um filho».

       6 – Cristo no meio de vós, esperança da glória. E nós O anunciamos…
       Deus passa em nossa casa, mas não vai adiante sem antes bater à nossa porta, permitindo-nos a hospitalidade. Podemos abrir-lhe a porta e deixá-l’O entrar, mais e mais na nossa vida.
       O mistério desta vinda e deste encontro revela-Se em plenitude em Jesus Cristo. Assume a condição de filho, para nos assumir como irmãos. Primeiro, a descoberta, o encontro e a conversão, como em Paulo, e depois o anúncio. Não podemos dar o que não temos. Damos Aquele que nos habita.


Textos para a Eucaristia (ano C): Gen 18, 1-10a; Col 1, 24-28; Lc 10, 38-42.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Papa Francisco - há dores e dores que bradam ao céu

       "... há dores e dores. As do salário não pago, as da falta de trabalho, são dores que bradam ao céu. Já dizia o apóstolo São Tiago: «Olhai que o salário que não pagastes aos trabalhadores que ceifaram os vossos campos está a clamar; e os clamores dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor do universo!» (Tg 5, 4)
       "A parábola do juízo final é a maneira que Jesus tem de nos dizer que Deus está atento à história da humanidade. Que Ele escutou sempre algum pobrezinho lhe pediu alguma coisa; de todas as vezes que alguém, mesmo em voz baixinha, como a gente mais humilde que pede e quase nem se ouve, sempre que algum dos seus filhinhos pediu ajuda Ele estava à escuta.

in Jorge Maria Bergoglio/Papa FRANCISCO, Só o amor nos salvará.
O Verdadeiro poder é servir, p. 367.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Papa Francisco - o trabalho e o desemprego

- Certamente, a longo da sua vida sacerdotal, muita gente desempregada o deve ter procurado. Qual a sua experiência?
       É gente que não se sente pessoa. É que, por mais que as suas famílias e os seus amigos os ajudem, querem trabalhar, querem ganhar o pão com o suor do seu rosto. É que, em última instância, o trabalho unge a dignidade a pessoa. A unção de dignidade não é dada pelos antepassados, nem pela formação familiar, nem pela educação. A dignidade, enquanto tal, só vem pelo trabalho. Comemos o que ganhamos, mantemos a nossa família com o que ganhamos. Não interessa se é muito ou pouco. Se é mais, melhor. Podemos ter uma fortuna, mas se não trabalharmos, a dignidade vai-se abaixo.

- A pior parte fica com os que querem trabalhar e não podem.

       O que acontece é que o desempregado, nas suas horas de solidão, sente-se infeliz, porque «não ganha a vida». Por isso, é muito importante que os governos dos diferentes países, através dos ministérios competentes, fomentem uma cultura do trabalho, e não da dádiva. É verdade que em momentos de crise há que recorrer à dádiva para sair da emergência (...). Mas depois é preciso ir fomentando fontes de trabalho porque, e não me canso de o repetir, o trabalho outorga dignidade.

- Na outra ponta está o problema do excesso de trabalho... Será necessário recuperar o sentido do ócio?

       O seu sentido mais recto. O ócio tem duas aceções: como desocupação e como gratificação. Dizendo de outra maneira: uma pessoa que trabalha deve ter tempo para descansar, para estar em família, para ter prazer, ler, ouvir música, praticar um desporto. Mas isto está a ser destruído, em boa medida, com a supressão do descanso dominical. Há cada vez mais pessoas a trabalhar aos domingos, consequência da competitividade introduzida pela sociedade de consumo. Nesses casos vamos para outro extremo: o trabalho acaba por desumanizar. Quando o trabalho não dá lugar ao ócio saudável, ao repouso reparador, então escraviza, porque uma pessoa já não trabalha pela dignidade, mas sim pela competitividade. Está viciada a intenção pela qual estou a trabalhar...
       A Igreja sempre disse que a chave da questão social é o trabalho. O homem trabalhador é o centro. Hoje, em muitos casos, isto não é assim. Facilmente se é despedido, se não render como previsto. Passa a ser uma coisa, não é tido em conta como pessoa... Não nos esqueçamos que uma das principais causas do suicídio é o fracasso laboral no âmbito de uma competitividade feroz. Por isso, não se pode olhar para o trabalho apenas pelo lado funcional. O centro não é o lucro, nem o capital. O homem não é para o trabalho, mas sim o trabalho para o homem.

In SERGIO RUBIN e FRANCESCA AMBROGETTI, Papa Francisco. Conversas com Jorge Bergoglio, Paulinas Editora. Prior Velho 2013

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Testemunho: Viver a FÉ em Angola

       O emigrante também pode rezar e participar nas Eucaristias no país de acolhimento.
       É possível estar com Deus no trabalho.
       Estar com Deus e rezar em Sua casa quando estamos distantes das nossas origens ou da nossa terra… Parece que é difícil arranjar um tempo para podermos estar junto de Deus, mas da mesma maneira que temos tempo para trabalhar e para nos divertirmos devemos arranjar tempo para ir à casa do Pai agradecer pela semana de trabalho e pelos benefícios da semana.
       Eu (Tony) estou por terras de África, em Angola, e vou praticamente todos os Domingos à Missa, onde quer que eu me encontre, no Golungo Alto, em N’Dalatando, ou no Dondo Caxito. Tenho de me levantar às 6h00 da manhã, mas mesmo com sacrifício vou e na Igreja sinto que estou mais perto de casa, sinto que estou mais leve e ajuda-me a passar melhor a semana. Vou sempre sozinho. Somos cerca de 30 portugueses e ninguém me acompanha. E na Igreja também é difícil ver outros portugueses. Acho que os emigrantes só são católicos quando estão de regresso à sua terra. Quando estamos emigrados esquecemos!
       As celebrações aqui são muito bonitas e também muito demoradas, uma missa normal demora cerca de 2 horas, pois os angolanos são muito participativos.
       Já participei em celebrações muito bonitas, tais como a Páscoa, os votos perpétuos de uma Irmã, a chegada de um novo Padre, o Encontro Nacional dos Jovens, no Dondo, que teve a presença das Relíquias de Dom Bosco, Pai, Mestre e Amigo dos Jovens.
       Nas Eucaristias, gosto principalmente dos cânticos e das danças, eles dançam e cantam bastante e animam muito a celebração. Depois, o ofertório solene também é muito participado. As pessoas dão aquilo que às vezes lhes faz falta mas partilham com os outros a contar sempre com a graça de Deus. Partilhar o pouco que têm com quem tem menos isso é lindo. Essas ofertas servem para alimentar o Seminário, os mais pobres, a cadeia, alguns doentes do hospital, etc.
       No encontro nacional dos jovens achei que podiam ter feito mais, achei que foram pouco participativos e acabou por ser quase uma celebração normal, embora com muita dedicação.
       É assim a vida de um emigrante que queira estar com Deus… E que Deus vá cuidando de nós.

Angola, setembro 2012, TONY SILVA, in Boletim Paroquial Santa Eufémia, n. 2

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Electricista recusa trabalho em clínica de aborto

Foto de Tim com a sua família

       O jornal The Catholic Spirit da Arquidiocese de Minneapolis, nos Estados Unidos, destacou o testemunho de um eletricista católico que, apesar de estar desempregado desde julho de 2009, rejeitou uma suculenta oferta de trabalho na construção de uma clínica abortista da rede Planned Parenthood.
       Em meados de fevereiro de 2011, Tim Roach, que tem dois filhos pequenos, recebeu uma ligação do sindicato local sobre uma oferta de trabalho. "Não podia chegar em um momento melhor. Os benefícios por desemprego de Tim estão por acabar. Não podia acreditar que estavam oferecendo um trabalho por um prazo de onze meses com um salário anual de 65 000 a 70 000 dólares", contou o electricista ao periódico.
       Tim pensou que o emprego era perfeito mas logo recebeu a má notícia. Tratava-se de uma posição na construção da nova clínica da Planned Parenthood na avenida University da cidade de St. Paul. "Ele (o representante do sindicato) não estava realmente seguro de que iam praticar abortos ali. O rapaz evitou o ponto, acredito, para buscar me atrair e que eu dissesse sim. Mas, me disse a mim mesmo: 'Espere um minuto. É uma da Planned Parenthood'", a maior rede de clínicas abortistas do mundo.
       O eletricista continua desempregado e sem perspectivas imediatas de emprego. Felizmente, sua esposa Nicole, de 37 anos, tem um trabalho a tempo completo em uma escola primária. Embora Tim tenha rejeitado a oferta com prontidão - a conversação telefónica durou apenas um minuto - Nicole tomou mais tempo para acatar sua decisão, sobretudo porque ela dirige o orçamento familiar e se ocupou da tensão financeira do desemprego prolongado de Tim.
       "O primeiro que queria fazer era justificar (aceitar o trabalho)", mas logo percebeu que não era "só uma clínica".
       "Em todo este processo, nossa fé se aprofundou. Sentimo-nos como se isto fosse uma prova para nossa fé. Escolhemos manter nossa fé", afirma Nicole e assegura estar impressionada pela reacção do seu marido. "Ele tem essa formação moral que o faz reconhecer imediatamente que isto não é o correcto", afirma.
       A história de Tim chegou por correio electrónico ao Padre Erik Lundgren, vice-pároco da paróquia Divina Misericórdia, que Tim frequenta, e a incorporou em uma de suas homilias. "Pensei que é um exemplo inspirador para todos em nossa paróquia, sobre o zelo que é necessário que nós os católicos tenhamos no debate pró-vida, na luta pró-vida", afirma o sacerdote.
       "É inspirador para mim como um sacerdote. Aqui, na Divina Misericórdia, as palavras, 'Jesus, confio em ti' escritas na nossa pia batismal, e é disto que se trata tudo isto", acrescentou.
       Conforme afirma The Catholic Spirit, "Tim continua procurando um trabalho. Em última instância, seu objetivo é começar sua própria empresa, mas terá que ganhar e economizar dinheiro para que isto aconteça. Enquanto isso, está disposto a aceitar qualquer trabalho que possa encontrar".
       "Nos últimos seis meses, aprendemos a tomar nossos temores e preocupações e entregá-las a Deus," diz Nicole, sua esposa. "Sentimo-nos orgulhosos de ser católicos e orgulhosos de tomar uma posição contra o aborto", acrescentou.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

CEP - Esperança em tempo de crise

MENSAGEM dos BISPOS de PORTUGAL:

       Estimados concidadãos e também vós, os imigrantes que connosco constituís Portugal, neste difícil fim de 2011:
       É com inteira proximidade e muito afeto que vos dirigimos esta mensagem, querendo assinalar o nosso compromisso com todos, especialmente os mais atingidos pela presente crise e as grandes interrogações que ela levanta.
       Atravessamos dificuldades grandes, como grandes são as incertezas quanto ao futuro, tanto na economia como na vida social, para a generalidade dos cidadãos e muito especialmente os mais pobres e frágeis. Como bispos católicos, devemos e queremos estar absolutamente com todos, em especial com quem mais precisa de palavras e gestos de esperança: esta nasce da solidariedade e de um Deus que nunca nos abandona. Na compreensão cristã da vida, a generosidade e a coragem com que se superam as dificuldades são fermento de uma sociedade nova.
       Não é a primeira vez na nossa história que os sobressaltos na vida habitual e nas expectativas normais se tornam ocasiões de consciencialização e decisão coletivas. Aproveitemos este momento, que não desejávamos, para aprofundar valores que não deveríamos esquecer nunca, pois são a própria base duma sociedade justa e saudável.
       É certo que se juntaram fatores externos e internos, como muitas análises, mais ou menos coincidentes, não deixam de evidenciar. Excessiva especulação financeira e pouca consistência económica somaram-se negativamente e tanto nos enfraqueceram internamente como nos prejudicaram internacionalmente. Alimentámos, ou alimentaram-nos, aspirações que agora são impossíveis de concretizar. Falha hoje a própria base material em que tudo o mais se sustenta, ou seja, uma vida económica saudável e suficientemente apoiada pelo investimento e pelo crédito, que garanta trabalho digno para todos: trabalho que é condição indispensável para o sustento e a realização das pessoas e das famílias.
       Acompanhamos o esforço dos vários responsáveis nacionais e internacionais, agora mais premente pela magnitude dos problemas. É cada vez mais claro que a política internacional não pode reduzir-se, nem muito menos submeter-se, a obscuros jogos de capital que fariam desaparecer a própria democracia. Esta só acontece onde todos se reconhecem, respondendo cada um pelo que faz ou não faz, à luz de valores e direitos que a todos interessam e suportam. O capital provém do trabalho, que, realizando a pessoa humana, mantém prioridade absoluta. Nem podemos abster-nos da vida democrática, nem devemos cair nas mãos de novos senhores sem rosto. Também aqui se há de respeitar a verdade, condição básica da justiça e da paz.
       Nesta curta mensagem, que pretende ser um sinal de presença, oferecemos o que nos é mais próprio como Igreja Católica em Portugal:
– A nossa solidariedade ativa, como é exercida diariamente pelas instituições sociais católicas, com todas as possibilidades que tivermos e em franca colaboração com tudo o que se faça na sociedade em prol de um bem que tem de ser verdadeiramente comum e não deixe ninguém em condições desumanas.
– A nossa insistência nos valores e princípios fundamentais da doutrina social da Igreja, que aliás compartilhamos com a racionalidade humana em geral, concretizando-se em quatro pontos axiais: a dignidade da pessoa humana; o bem comum; a subsidiariedade, que suscita e apoia a contribuição específica de cada corpo social; e a solidariedade, expressão da fraternidade, que nunca procura o bem particular sem ter em conta o bem de todos.
– A certeza, mais uma vez afirmada, de que compartilhamos “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias” dos nossos concidadãos, querendo reproduzir agora os sentimentos daquele Cristo, que tendo nascido há dois mil anos, quer “renascer” também no Natal que se aproxima – e com a mesma luz para idênticas trevas.
Com todos e cada um de vós,
Os Bispos de Portugal

Fátima, 10 de novembro de 2011

quinta-feira, 24 de março de 2011

Invisibilidade... visível a Deus!

       Num dos blogues que acompanhamos, Reino Imperfeito, encontrámos este vídeo sobre invisibilidade. É uma reflexão que vale a pena fazer... Quantas coisas realizamos que não são reconhecidas! Quantas vezes passamos despercebidos, sem que ninguém veja o nosso trabalho e até o nosso sacrifício?! Seremos invisíveis? Haverá alguém que nos vê?

quinta-feira, 29 de julho de 2010

O Nó do amor

Numa reunião de pais numa escola da periferia, a directora ressaltava o apoio que os pais devem dar aos filhos e pedia-lhes que se fizessem presentes o máximo tempo possível... Considerava que, embora a maioria dos pais e mães daquela comunidade trabalhassem fora, deveriam achar um tempo para se dedicar e entender as crianças.
Mas a directora ficou muito surpreendida quando um pai se levantou e explicou, com seu jeito humilde, que ele não tinha tempo de falar com o filho, nem de vê-lo, durante a semana, porque quando ele saía para trabalhar era muito cedo e o filho ainda estava a dormir... Quando voltava do trabalho já era muito tarde e o garoto já não estava acordado.
Explicou, ainda, que tinha de trabalhar assim para prover o sustento da família, mas também contou que isso o deixava angustiado por não ter tempo para o filho e que tentava redimir-se todas as noites quando chegava a casa. E, para que o filho soubesse da sua presença, ele dava um nó na ponta do lençol que o cobria. Isso acontecia religiosamente todas as noites quando ia beijá-lo. Quando o filho acordava e via o nó, sabia, através dele, que o pai tinha estado ali e o havia beijado. O nó era o meio de comunicação entre eles.
A directora emocionou-se com aquela singela história e ficou surpresa quando constatou que o filho desse pai era um dos melhores alunos da escola.
O facto faz-nos reflectir sobre as muitas maneiras das pessoas se fazerem presentes, de se comunicarem com os outros. Aquele pai encontrou a sua, que era simples mas eficiente. E o mais importante é que o filho percebia, através do nó afectivo, o que o pai lhe estava a dizer.
Por vezes, importamo-nos tanto com a forma de dizer as coisas e esquecemos o principal, que é a comunicação através do sentimento. Simples gestos como um beijo e um nó na ponta do lençol, valiam, para aquele filho, muito mais do que presentes ou desculpas vazias.
É válido que nos preocupemos com as pessoas, mas é importante que elas saibam, que elas sintam isso. Para que haja a comunicação é preciso que as pessoas "ouçam" a Linguagem do nosso coração, pois, em matéria de afecto, os sentimentos sempre falam mais alto que as palavras.
É por essa razão que um beijo, revestido do mais puro afecto, cura a dor de cabeça, o arranhão no joelho, o medo do escuro. As pessoas podem não entender o significado de muitas palavras, mas SABEM registar um gesto de amor. Mesmo que esse gesto seja apenas um nó num lençol...

sábado, 29 de maio de 2010

Sorria!...


O sofrimento é algo que aprendemos a sentir dentro de uma situação que contraria a nossa vontade.

A situação existe, mas sofrer dentro dela é uma escolha nossa.

Finanças? Se o dinheiro está curto... Sorria! O sorriso atrai prosperidade.

Família - Se está havendo conflitos... Sorria! O sorriso, dissolve as energias pesadas.

Trabalho - Se o trabalho parece lento... Sorria! O sorriso abre novas portas para novas possibilidades.

Amigos - Se alguns o desapontaram... Sorria! O sorriso é um íman para novas amizades.

Saúde - Se não está bem... Sorria! O sorriso fortalece as defesas do corpo.

Idade - Se ela o (a) preocupa... Sorria! O sorriso emite a luz da jovialidade.

Solidão - Se ela aparecer... Sorria! O sorriso conquista boas companhias.

Amor - Se você está sem nenhum... Sorria! O sorriso nos torna mais atraentes.

Sorria!

A escolha é sua!

terça-feira, 18 de maio de 2010

A hsitória do Ernani

       Uma história que poderá ser ou não verdade, que fala de sentimentos e de algumas brincadeiras que fazemos uns aos outros, descuidando o que os outros possam sentir ou os momentos que atravessam, ou porque se nos afiguram estranhos... Enquanto há vida, há tempo para mudar positivamente...

sexta-feira, 26 de março de 2010

A minha Mãe e a Alta Costura

       Rica ou pobre, a mãe autêntica, noite e dia, vela pelo seu filho (a). Tudo faz por ele ou por ela, silenciosamente, e, por vezes, na ingratidão filial, continua a tecer amor e carinho para que a vida saída do seu ventre conquiste a felicidade.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Encantarmo-nos...



... com a beleza de uma planta, com o trabalho dos outros, no compromisso com a humanidade inteira. Também aqui Deus está presente!

terça-feira, 22 de setembro de 2009

De volta a África... a Angola

A festa de Pinheiros, no dia 16 de Setembro, é oportunidade para os conterrâneos voltarem e se juntarem à família. Passa o dia, a romaria, e é tempo de fazer pela vida.
Hoje, o Tony, acólito, elemento do Conselho Económico, marido da Teresa, pai da Mariana, da Margarida e da Matilde, regressa ao trabalho, em Angola. Para ele e para todos os que partem para ganhar o pão, um abraço fraterno e votos de saúde, paz e bem.
Aguardámos notícias...

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Uma hora

Uma criança perguntou timidamente ao pai,quando este regressava do trabalho:
- Pai,quanto é que ganhas por hora?
O pai, friamente,respondeu:
- Para que queres tu saber? São dez euros por hora.
- Então, pai, poderias emprestar-me três euros?
- Então é por isso que queres saber quanto ganho, por hora? Vai para a cama e não me aborreças mais!
Já era noite quando o pai começou a pensar no que tinha acontecido e sentiu-se culpado. Talvez o filho necessite de comprar algo. Entrou no quarto e perguntou-lhe baixinho:
- Filho, estás a dormir?
- Não, pai.
- Olha, aqui tens os três euros que me pediste.
- Muito obrigado, pai.
Depois a criança levantou-se, foi buscar os sete euros do mealheiro e disse ao pai:
- Agora já tenho dez euros! Pai, podias vender-me uma hora do teu tempo?


Este texto mostra que cada vez mais a nossa sociedade tem uma política anti-família,que cada um de nós,individualmente, tem dificuldade em combater. Os pais com a procura desenfreada por uma carreira e pelo reconhecimento social acima de qualquer valor,não têm tempo para os filhos. A escola ensina, educa, mas os valores aprendem-se ou deveriam ser aprendidos em casa.

(Reflexão de Malena)

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Há espaço para todos na terra

"É lícito ao homem exercer um governo responsável
sobre a natureza para guardar,
fazer frutificar e cultivar,
inclusive com formas novas e tecnologias avançadas,
para que possa acolher
e alimentar condignamente a população que a habita.
Há espaço para todos nesta nossa terra:
aqui a família humana inteira deve encontrar os recursos necessários
para viver dignamente, com a ajuda da própria natureza,
dom de Deus aos seus filhos,
e com o empenho do seu trabalho e engenho".

Bento XVI, A Caridade na Verdade, 50.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O trabalho... e a fome...

"A exclusão do trabalho por muito tempo ou então uma prolongada dependência da assitência pública ou privada corroem a liberdade e a criatividade da pessoa e suas relações familiares e sociais, causando enormes sofrimentos a nível psicológico e espiritual...

"O primeiro capital a preservar e valorizar é o homem, a pessoa, na sua integridade...

"Eliminar a fome no mundo tornou-se, na era da globalização, também um objectivo a alcançar para preservar a paz e a subsistência da terra".

Bento XVI, A Caridade na Verdade, 25; 27.