A terceira Carta Encíclica de Bento XVI empresta o título a este blogue. A Caridade na Verdade. Agora permanecem a fé, a esperança e a caridade, mas só esta entra na eternidade com Deus. Espaço pastoral de Tabuaço, Távora, Pinheiros e Carrazedo, de portas abertas para a Igreja e para o mundo...
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sexta-feira, 22 de março de 2024
Domingo de Ramos na Paixão do Senhor - 24.03.2024
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quarta-feira, 28 de março de 2018
Que estais dispostos a dar-me para vos entregar Jesus?
A liturgia da Palavra para esta quarta-feira da SEMANA MAIOR apresenta-nos mais um texto do profeta Isaías, na primeira leitura, e do Evangelho de São Mateus. Um e outro nos falam da entrega do justo. Os cristãos, como o próprio Jesus, veem nesta passagem profética um relato antecipado do que irá acontecer com o Messias, que para nós é Jesus Cristo. No evangelho de São Mateus, a figura em discussão é Judas, que procura forma de entregar Jesus.
Vejamos o texto de Isaías:
O Senhor deu-me a graça de falar como um discípulo, para que eu saiba dizer uma palavra de alento aos que andam abatidos. Todas as manhãs Ele desperta os meus ouvidos, para eu escutar, como escutam os discípulos. O Senhor Deus abriu-me os ouvidos e eu não resisti nem recuei um passo. Apresentei as costas àqueles que me batiam e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me insultavam e cuspiam. Mas o Senhor Deus veio em meu auxílio, e por isso não fiquei envergonhado; tornei o meu rosto duro como pedra, e sei que não ficarei desiludido. O meu advogado está perto de mim. Pretende alguém instaurar-me um processo? Compareçamos juntos. Quem é o meu adversário? Que se apresente! O Senhor Deus vem em meu auxílio. Quem ousará condenar-me? (Is 50, 4-9a).
Isaías não esconde as dificuldades que tem de atravessar para se manter fiel à verdade, mas na certeza e confiança que Deus permanece com ele. E se Deus está por ele, quem poderá estar contra?
A confiança que anima Isaías, será a mesma que guia Jesus até às últimas horas de vida.
Um dos Doze, chamado Iscariotes, foi ter com os príncipes dos sacerdotes e disse-lhes: «Que estais dispostos a dar-me para vos entregar Jesus?» Eles garantiram-lhe trinta moedas de prata. A partir de então, Judas procurava uma oportunidade para O entregar. No primeiro dia dos Ázimos, os discípulos foram ter com Jesus e perguntaram-Lhe: «Onde queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?» Ele respondeu: «Ide à cidade, a casa de tal pessoa, e dizei-lhe: ‘O Mestre manda dizer: O meu tempo está próximo. É em tua casa que Eu quero celebrar a Páscoa com os meus discípulos’». Os discípulos fizeram como Jesus lhes tinha mandado e prepararam a Páscoa. Ao cair da tarde, sentou-Se à mesa com os Doze. Enquanto comiam, declarou: «Em verdade, em verdade vos digo: Um de vós Me entregará». Profundamente entristecidos, começou cada um a perguntar Lhe: «Serei eu, Senhor?» Jesus respondeu: «Aquele que meteu comigo a mão no prato é que vai entregar-Me. O Filho do homem vai partir, como está escrito acerca d’Ele. Mas ai daquele por quem o Filho do homem vai ser entregue! Melhor seria para esse homem não ter nascido». Judas, que O ia entregar, tomou a palavra e perguntou: «Serei eu, Mestre?» Respondeu Jesus: «Tu o disseste» (Mt 26, 14-25).
Mateus mostra, como nos demais evangelhos, a tristeza profunda de Jesus, pela aproximação das horas finais, mas também por saber que não pode contar com os seus. A primeira igreja, dos apóstolos e algumas mulheres, ficarão a dormir enquanto o Mestre reza.
terça-feira, 27 de março de 2018
Em verdade vos digo: um de vós Me entregará
O Evangelho desta terça-feira da SEMANA MAIOR da nossa fé, fixa-nos nas últimas horas de Jesus. À mesa com os seus discípulos, Jesus deixa transparecer o que Lhe vai na alma. Já não falta muito, a perturbação é evidente. A consciência de que os seus próprios discípulos, os seus amigos, não terão força para O acompanharem, mais o deixa intranquilo, nem Judas, nem Pedro, nem os seus mais íntimos...
Estando Jesus à mesa com os discípulos, sentiu-Se intimamente perturbado e declarou: «Em verdade, em verdade vos digo: Um de vós Me entregará». Os discípulos olhavam uns para os outros, sem saberem de quem falava. Um dos discípulos, o predilecto de Jesus, estava à mesa, mesmo a seu lado. Simão Pedro fez-lhe sinal e disse: «Pergunta-Lhe a quem Se refere». Ele inclinou-Se sobre o peito de Jesus e perguntou Lhe: «Quem é, Senhor?» Jesus respondeu: «É aquele a quem vou dar este bocado de pão molhado». E, molhando o pão, deu-o a Judas Iscariotes, filho de Simão. Naquele momento, depois de engolir o pão, Satanás entrou nele. Disse- lhe Jesus: «O que tens a fazer, fá-lo depressa». Mas nenhum dos que estavam à mesa compreendeu porque lhe disse tal coisa. Como Judas era quem tinha a bolsa comum, alguns pensavam que Jesus lhe tinha dito: «Vai comprar o que precisamos para a festa»; ou então, que desse alguma esmola aos pobres. Judas recebeu o bocado de pão e saiu imediatamente. Era noite. Depois de ele sair, Jesus disse: «Agora foi glorificado o Filho do homem e Deus foi glorificado n’Ele. Se Deus foi glorificado n’Ele, também Deus O glorificará em Si mesmo e glorificá l’O-á sem demora. Meus filhos, é por pouco tempo que ainda estou convosco. Haveis de procurar-Me e, assim como disse aos judeus, também agora vos digo: não podeis ir para onde Eu vou». Perguntou-Lhe Simão Pedro: «Para onde vais, Senhor?». Jesus respondeu: «Para onde Eu vou, não podes tu seguir-Me por agora; seguir-Me-ás depois». Disse-Lhe Pedro: «Senhor, por que motivo não posso seguir-Te agora? Eu darei a vida por Ti». Disse-Lhe Jesus: «Darás a vida por Mim? Em verdade, em verdade te digo: Não cantará o galo, sem que Me tenhas negado três vezes» (Jo 13, 21-33.36-38).Mesmo no evangelho de são João, que centra em Judas todas as reações negativas, vê-se que Judas é um homem respeitável. Diga-se que nos outros evangelhos há intervenções que são atribuídas a todos os discípulos, como por exemplo a contestação acerca do desperdício do perfume de alto preço com que Maria (uma mulher) da Betânia unge os pés de Jesus, atribuída aos discípulos e no quarto evangelho a Judas. Já que foi o traidor, não há como colocar nele todas as intervenções negativas, gestos, palavras e intenções. Mas vê-se que aquilo que parece claro, não o é tanto assim. Nenhum dos discípulos desconfia de Judas, é um homem de confiança. Todos confiam nele. Jesus confia nele. Os discípulos não estranham a proximidade a Jesus, pois ele deveria ser dos mais íntimos. Se os discípulos suspeitassem de algo, não o deixariam sair com aquela facilidade. Nem pensar. Pedro de imediato impediria que isso acontecesse, pese embora a sua titubeância, mas entre os companheiros o seu ânimo é maior.
terça-feira, 17 de outubro de 2017
IGNACIO LARRAÑAGA - O POBRE DE NAZARÉ
IGNACIO LARRAÑAGA (2013). O Pobre de Nazaré. O que precisamos de saber sobre Jesus. 4.ª edição. Prior Velho: Paulinas Editora. 400 páginas.
Durante 3 anos, Jesus espalhou magia por aldeias e cidades da Galileia, fez-Se docilidade, agiu compassivamente, desafiou os grandes deste mundo, mas também os excluídos, aqueles para descobrirem a grandeza e a alegria do serviço, este para se sentirem filhos queridos de Deus, com dons que os tornariam importantes. As lideranças judaicas viram-se acossadas não apenas pelas palavras de Jesus mas sobretudo pela Sua postura. Por inveja e ciúme, porque Ele atraía multidões; por medo e cobardia, porque se sentiram ameaçados no seus postos de conforto e privilégio. Foi entregue por um dos discípulos mais próximos, Judas, preso, violentamente agredido, escarnecido, obrigado a carregar a trave da cruz, para nela ser crucificado, andou de Anás para Caifás, ridicularizado, injuriado, acusado de blasfémia e por instigar a revolução, é morto como uma assassino.
Entretanto algo de extraordinário deverá ter acontecido, três dias depois de morto apresenta-Se vivo aos Seus discípulos, às mulheres que andavam com o grupo. Os discípulos deixam de se guiar pelo medo, para se guiarem por uma vontade indómita de anunciar Jesus, de mostrar que Ele está vivo, que morreu e ressuscitou, que o Pai não O deixou para sempre no túmulo do esquecimento, para o resgatou para uma vida nova, gloriosa, definitiva, para a qual também somos atraídos.
A pregação "convincente" e coerente dos Apóstolos geram novos discípulos, à dezenas, às centenas, nem sempre fáceis de gerir, pois trazem interesses e motivações diversas, como ao tempo de Jesus os discípulos e as multidões que O seguiam. Formam-se grupos, comunidades, onde se escutam os Apóstolos, recordando palavras de Jesus, feitos, milagres, gestos, encontros, onde se procura manter viva a recordação de tudo quanto diz respeito a Jesus. Os Evangelhos são uma resposta a esta inquietação de preservar tudo quanto diz respeito a Jesus. Os evangelistas recolhem testemunhos, algumas orações, ou pequenos textos e colocam por escrito. Os Evangelhos, podemos dizer com segurança, são escritos pela comunidade, mais do que por um escritor individual, pois resultam da vivência da mensagem de Jesus numa determinada comunidade, num determinado contexto. Os evangelhos escritos contém as preocupações da comunidade, as suas dificuldades, os seus pontos fortes. Também aqui se pode dizer que não há comunidade sem Evangelho, a Boa Nova de Jesus, mas o Evangelho chega até nós pelo filtro e pela vivência de comunidades concretas.
A formação dos Evangelhos tem então esta sequência, Jesus é morto e é ressuscitado pelo Pai. Os discípulos anunciam'O vivo, atraem outras a seguir Jesus, formam-se comunidades, onde se recorda tudo o que aconteceu sobretudo naqueles três anos de vida pública de Jesus. Surge a necessidade de colocar por escrito, para que não se percam as Suas palavras e não se corram o risco do esquecimento, pois também um dia os Apóstolos hão de morrer e então já não há como confrontar o que corresponde à mensagem de Jesus e o que não corresponde.
São quatro as versões do Evangelho, mas ainda assim há muitas "lacunas" na biografia de Jesus, até porque os evangelhos não têm a preocupação de fazer biografias, mas de mostrar o essencial da mensagem de Jesus, concentrados sobretudo no mistério da morte e da ressurreição de Jesus.
Ao longo do tempo, mas sobretudo a partir do século XVIII houve a preocupação de escrever e publicar a Vida de Jesus, onde se limassem todas as lacunas temporais, reconstituindo a vida de Jesus, tentando fazer concordar os 4 evangelhos, entrelaçando-os. Algumas vidas de Jesus desviam-se dos Evangelho e criam biografias alternativas, baseadas nos evangelhos apócrifos ou em algumas insinuações ou lendas criadas com o decorrer do tempo.
Hoje o que há mais, e vende muito bem, são biografias alternativas à vida de Jesus.
Ignacio Larrañaga apresenta de forma brilhante, escorreita, uma narrativa possível da vida de Jesus, tendo como base próxima os 4 evangelhos e os outros escritos neotestamentários, procurando lançar pontes com a história, com descobertas arqueológicas, com outras ciências que nos aproximam dos nossos antepassados.
É uma escrita fácil de ler, quase se escuta a sua leitura, envolve-nos nos evangelhos, no olhar, nas palavras, nos gestos de Jesus, inclui-nos nas Palavra que também nos dirige a nós, podemos rever-nos nas perguntas que Lhe fazem ou nas respostas que lhes (nos) dá e nos desafios que lhes (nos) lança.
São 400 páginas que parecem 10, tão motivadora e empolgante é a leitura. É uma linguagem acessível para todos.
Uma nota mais pessoal, mas que tem ganhado terreno: Judas não trai Jesus por dinheiro ou por ânsia de poder (num sentido mais pessoal), mas por zelo, querendo que Jesus Se resolva e apresse o Reino de Deus, eliminando rapidamente todos os corruptores, derrubando as autoridades estrangeiras e restabelecendo a realeza judaica. Judas acredita em Jesus e sabem que Ele vem de Deus e pode fazer mais do que aquilo que estará disposto a mostrar. Quando Jesus anuncia aos Seus discípulos que vai ser morto - contrário do que seria expectável por todos - Judas coloca-se em ação para O obrigar a agir. Judas é um dos discípulos mais próximos de Jesus. A cumplicidade de Judas com Jesus não espanta nenhum dos outros apóstolos, é natural, são bons amigos. O facto de Judas se enforcar denota o seu arrependimento, isto é, se ele fosse traidor (por dinheiro ou para usurpar o poder da liderança), então dar-se-ia por satisfeito. Segundo o autor, Judas é maníaco depressivo. Mais que traição uma tática para obrigar Jesus a ser Deus. Porém, Jesus assume o caminho da pobreza, é o Pobre de Nazaré, aprende a obediência, até à morte e morte de Cruz. Serviço, delicadeza, oferecimento da própria vida, despojamento, amor...
segunda-feira, 10 de abril de 2017
Ungiu os pés de Jesus e enxugou-Lhos com os cabelos
Jesus provoca reações diferentes nos seus conterrâneo e contemporâneos. Para os que se sentem ameaçados no seu poder, sobretudo para esses, Jesus é um obstáculo que têm de derrubar, denegrir, calar. Para muitos outros, à procura de palavras de conforto, de esperança, à procura de viverem melhor, com mais coragem, Jesus é uma resposta vital. Cada vez mais acreditam n'Ele.
A seis dias da Páscoa, Jesus opera um dos seus mais extraordinários prodígios, a ressurreição de Lázaro, antecipando a Sua ressurreição, ou melhor, mostrando que o poder de Deus é maior que a própria morte, o AMOR vence, por fim.
Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi a Betânia, onde vivia Lázaro, que Ele tinha ressuscitado dos mortos. Ofereceram-Lhe lá um jantar: Marta andava a servir e Lázaro era um dos que estavam à mesa com Jesus. Então Maria tomou uma libra de perfume de nardo puro, de alto preço, ungiu os pés de Jesus e enxugou-Lhos com os cabelos; e a casa encheu-se com o perfume do bálsamo. Disse então Judas Iscariotes, um dos discípulos, aquele que havia de entregar Jesus: «Porque não se vendeu este perfume por trezentos denários, para dar aos pobres?» Disse isto, não porque se importava com os pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa comum, tirava o que nela se lançava. Jesus respondeu-lhe: «Deixa-a em paz: ela tinha guardado o perfume para o dia da minha sepultura. Pobres, sempre os tereis convosco; mas a Mim, nem sempre Me tereis». Soube então grande número de judeus que Jesus Se encontrava ali e vieram, não só por causa de Jesus, mas também para verem Lázaro, que Ele tinha ressuscitado dos mortos. Entretanto, os príncipes dos sacerdotes resolveram matar também Lázaro, porque muitos judeus, por causa dele, se afastavam e acreditavam em Jesus (Jo 12, 1-11).
Salienta-se no texto outro dado que nos deve ajudar a refletir, quando não nos queremos comprometer, ou quando não queremos reconhecer o bem que vem do outro, o caminho mais fácil poderá ser o da zombaria, escarnecemos do outro. O gesto de Maria de Betânia é louvável e revela uma extraordinária atenção para com o Mestre que deveria enternecer os discípulos e os presentes. No entanto, há quem veja nisso um desperdício, desculpando-se com o gasto que poderia ser usado a bem dos pobres. Nos nossos dias isso continua a acontecer. Quando alguém tem um gesto de extraordinária generosidade, a tentação primeira é dizer que podia ter sido utilizado nos pobres. Há o reverso da medalha. Quem ajuda, quase sempre tem para beneficiar outros mais indigentes, quem não ajuda, sempre enche a boca com os pobres, para que os outros ajudem, não para que o próprio faça alguma coisa.
Curiosidade: seja em Portugal, seja no mundo inteiro, a Igreja Católica é das instituições que mais ajuda as pessoas carenciadas: hospitais, escolas, creches, misericórdias, gaiatos, vicentinos, cáritas (internacional, nacionais e diocesanas), apoio a mães adolescentes e a mãe solteiras, centro de acolhimento de pessoas com deficiência profunda, instituições ligadas à Igreja de apoio a pessoas com SIDA e toxicodependência... no entanto, o que sobrevém é a riqueza patrimonial da Igreja... Diga-se, no entanto, que muita desta riqueza, museus, igrejas, é património também da humanidade... Por outro lado, quem ajuda precisa de meios para ajudar... se vender e dispensar os meios ajuda momentaneamente... e depois?
Curiosidade: seja em Portugal, seja no mundo inteiro, a Igreja Católica é das instituições que mais ajuda as pessoas carenciadas: hospitais, escolas, creches, misericórdias, gaiatos, vicentinos, cáritas (internacional, nacionais e diocesanas), apoio a mães adolescentes e a mãe solteiras, centro de acolhimento de pessoas com deficiência profunda, instituições ligadas à Igreja de apoio a pessoas com SIDA e toxicodependência... no entanto, o que sobrevém é a riqueza patrimonial da Igreja... Diga-se, no entanto, que muita desta riqueza, museus, igrejas, é património também da humanidade... Por outro lado, quem ajuda precisa de meios para ajudar... se vender e dispensar os meios ajuda momentaneamente... e depois?
Saliente-se também, a animosidade, justificável, do quarto evangelho em relação a Judas. Nos demais evangelhos diz-se claramente que alguns discípulos fizeram o reparo, e não que foi Judas. Como acontecerá também na entrega de Jesus, só no evangelho de João se diz que foi por 30 dinheiros, nos outros apenas que Judas O entregou e que os sumos-sacerdotes prometeram compensá-lo com dinheiro. Fica o reparo. De uma pessoa próxima e com quem nos damos bem, desculpamos todas as falhas ou pelo menos tentamos justificá-las; quando é alguém de quem não gostamos tanto, tudo serve para atacar, e o que acontece vemo-lo como instigação ou provocação de quem não podemos ver...
quarta-feira, 15 de abril de 2015
JUDAS - o verdadeiro discípulo amado?!
Com os dados dos Evangelhos, mas também com a experiência humana, é uma possibilidade bem real que Judas tenha sido um dos discípulos mais próximos de Jesus. O próprio nome de Jesus e de Judas são muito similares. Judas poderá remeter para Judá, filho de Jacob, e tribo de Israel com o mesmo nome. Na história de José do Egipto, Judá intervém para que o irmão não seja morto.
Judas é alguém de confiança dentro do grupo, mas que tropeça na noite e se precipita na entrega do Seu Mestre.
O drama de Judas não está apenas no trair da confiança, mas na consequente culpabilização. Não supera o sentimento de culpa, ainda que se vislumbre o seu arrependimento – entreguei um homem inocente. A noite é mais forte, as trevas paralisam-no, não deixam penetrar a luz de Jesus Cristo.
Segundo Augusto Cury, o célebre psiquiatra brasileiro, se houvesse um departamento de recursos humanos na escolha dos discípulos é possível que só Judas fosse escolhido. É um homem culto, dotado, capaz de organizar a atividade missionária de Jesus. Afinal é ele quem administra os dinheiros. Em contrapartida, os demais apóstolos são pessoas do mais normal que se pode encontrar.
Tal como Jesus, ou José de Arimateia, Judas é judeu, da Judeia (os outros apóstolos são galileus, da região da Galileia, ainda que a religião seja a mesma). Sublinhe-se, porém, que Jesus é identificado com Nazaré, cidade da Galileia.
Tem responsabilidade de cuidar do dinheiro e de preparar logisticamente a pregação e o avanço de Jesus. Nenhum dos outros suspeitou de Judas, só depois de trair Jesus é que leva com as culpas todas. O beijo dado por Judas a Jesus, é o Beijo de um amigo próximo... o meter a mão no mesmo prato, ou comer do mesmo bocado de pão revela uma grande cumplicidade e amizade... os judeus só se sentam à mesa com quem se dão bem. Partilhar do mesmo prato, do mesmo pão, revela uma predileção insuspeita... mesmo quando Jesus diz a Judas: faz o que tens a fazer, ou fá-lo depressa, ninguém suspeita, de contrário, os discípulos já não o deixariam sair da sala, julgaram que era mais uma missão que Jesus lhe dava... e no Horto deixam-nos aproximar. Veja-se o episódio em que é cortada orelha a um dos soldados! Muito mais agressivos seriam para com Judas. Nem pensar. Pedro, o apóstolo espontâneo, reativo, se suspeitasse que Judas iria aprontar, levantar-se-ia e faria pior que ao soldado Malco.
Já que foi o traidor (que viria a ser o traidor), aproveita-se e, a posteriori, coloca-se nele todas as infelizes, gestos, palavras e intenções. Nenhum dos discípulos desconfia de Judas, é um homem de confiança. Todos confiam nele. Jesus confia nele. Os discípulos não estranham a proximidade a Jesus, pois ele deveria ser dos mais íntimos.
Mesmo no evangelho de são João – que centra em Judas todas as reações negativas – se vê que Judas é um homem respeitável. Há intervenções que João atribui a Judas mas os outros evangelistas atribuem a todo o grupo. A contestação acerca do desperdício do perfume de alto preço com que Maria/mulher anónima, de Betânia, unge os pés de Jesus, é comum aos discípulos, só no quarto e evangelho se nomeia Judas (cf. Mc 14, 3-8; Mt 26, 6-13; Lc 7, 36-50, e Jo 12, 1-11).
As trevas inundam o olhar e o coração de Judas. Nunca saberemos toda a motivação que o levou a entregar o Mestre, que ele admirava e seguia. Apóstolo de confiança, responsável pela bolsa comum, segundo os evangelhos, era também ele que distribuía esmola pelos mais necessitados. Segundo alguns, a entrega de Jesus procurava acelerar a "hora de Cristo", para que na eminência da morte, Jesus reagisse. Neste caso não seria falta de fé no Messias, mas a pressa em ver a salvação de Israel. A pressa dos homens sempre acaba por estragar a paciência amorosa de Deus.
JUDAS ENTREGA JESUS POR AMOR. Segundo Ariel Valdés, a razão mais plausível para Judas entregar Jesus é por amor. Judas senta-se, provavelmente ao lado de Jesus, lugar de honra, o pão oferecido por Jesus a Judas revela estima, afeto, proximidade, o que se faz com um convidado de honra. "Judas era um homem nacionalista e violento, com sonhos de poder e de grandeza. E não tinha a menor dúvida que o seu amigo Jesus poderia tornar esse sonho realidade" (ARIEL VALDÉS).
JUDAS ENTREGA JESUS POR AMOR. Segundo Ariel Valdés, a razão mais plausível para Judas entregar Jesus é por amor. Judas senta-se, provavelmente ao lado de Jesus, lugar de honra, o pão oferecido por Jesus a Judas revela estima, afeto, proximidade, o que se faz com um convidado de honra. "Judas era um homem nacionalista e violento, com sonhos de poder e de grandeza. E não tinha a menor dúvida que o seu amigo Jesus poderia tornar esse sonho realidade" (ARIEL VALDÉS).
Por outro lado, São Mateus refere que o preço da entrega são umas míseras 30 moedas de prata (cf. Mt 26, 14-15. Tenha-se em atenção o propósito mateano de conciliar as profecias com a pessoa de Jesus, como Messias esperado). É o preço de um escravo. É o preço a pagar por escravo morto acidentalmente (cf. Ex 21,32). Sendo Judas um exímio gestor (e na possibilidade de ser ladrão, como afirma são João), não perderia a oportunidade para rentabilizar os créditos.
Judas precipita-se, quer fazer as coisas à sua maneira, o seu pecado é este. Jesus faz as coisas ao jeito do Pai, mesmo que Lhe custe a vida. Judas, acreditando em Jesus, quer que Ele siga por outro caminho, mais rápido, mais espetacular, forçando, se necessário, os seus ouvintes a aderir e a segui-l'O. Já que Jesus não se decide, Judas dá uma ajuda: perante a prisão e na eminência da morte, Jesus recorreria ao seu poder divino e revolveria de uma vez para sempre as indecisões e indefinições.
Episódio sintomático: Jesus envia discípulos à frente para preparem hospedagem. Os samaritanos não os acolhem porque iam para Jerusalém. Reação pronta de João e de Tiago: «Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma?» (Lc 9, 54-55). Por aqui se vislumbra a ilusão dos apóstolos e como levaram tempo a compreender a missão de Jesus e o Seu Evangelho de amor, paciência, conciliação.
Por outro lado, a disputa até ao fim dos melhores lugares no reino que está para chegar (cf. Mc 9, 33-37), mostra a imaturidade dos seguidores de Jesus, na expetativa que Jesus protagonizasse um messianismo político, militar, juntando pessoas, organizando-as e destituindo do poder as autoridades romanas mas também as judaicas, colocando em lugares estratégicos os que O acompanham de perto.
João e Tiago pedem a Jesus para se sentarem um à direita e outro à esquerda. É uma questão tão mesquinha e, simultaneamente, tão humana, que os outros discípulos também querem o lugar. São Mateus, para salvaguardar estes dois discípulos, coloca o pedido na boca da mãe, ainda que a reposta de Jesus seja para eles, deixando antever precisamente a origem do pedido (cf. Mt 20, 20-28; Mc 10, 35-45).
Ora, a preocupação de Judas não difere muito, ainda que haja uma clara alusão não tanto ao poder político ou militar, mas sobretudo ao poder religioso e divino.
Além disso, numa perspetiva complementar, a figura do discípulo amado só aparece em São João. Os Sinópticos (Marcos, Mateus, Lucas) não falam em discípulo amado, mas nos três discípulos mais íntimos de Jesus. Na Transfiguração seguem com Jesus, Pedro, Tiago e João; no Horto das Oliveiras, todos os discípulos seguem Jesus, mas ao afastar-se leva conSigo Pedro, Tiago e João e, só então, Se afasta um pouco mais para rezar.
Tradicionalmente o discípulo amado é identificado com o próprio São João e, por essa razão, não é nomeado, pois não ia falar de si próprio. Sendo um discípulo (ou discípulos) a escrever(em) o Evangelho, atribuindo ao seu mestre, usa(m) da mesma preocupação, não diz(em) o nome porque se intui. Há, contudo, alguma dificuldade em identificar o apóstolo João com o autor ou autores do evangelho. João apóstolo é galileu, o autor é (os autores são) claramente naturais de Jerusalém. Escrito pelos discípulos, quereriam sublinhar a importância do seu mestre. Se eu narro um acontecimento colocarei em destaque, pela positiva, quem me diz mais. Isso não retira crédito ou verdade à minha narração, sabendo-se sempre que cada texto, notícia, relato, leva a interpretação de quem escreve.
Olhando para os Sinópticos, há dentro dos 12, alguns mais próximos. Seriam quatro e não três, contando com Judas, ou, como fizeram depois da morte e ressurreição de Jesus que escolheram Matias para ocupar o lugar vago de Judas, também aqui poderiam ter aproximado um dos três para preencher a vaga de Judas! São suposições, mas podem ajudar-nos a entender melhor a dinâmica dos evangelhos e do seguimento.
No final, Jesus fica só com as mulheres. Todos fugiram (cf. Mc 14, 50). O quarto evangelho refere o discípulo amado junto a Maria, Mãe de Jesus. É testemunho presencial ou um desafio a não fugirmos da Cruz? E a acolhermos Maria por Mãe?
O enforcamento – sobre o qual ninguém terá uma juízo definitivo, só Deus (refira-se que o Concílio de Trento declara que quem afirmar que Judas foi para o Inferno seja declarado anátema) – poderá ser expressão do desespero – Judas reconhece o mal feito, mas não há nele luz/humildade/discernimento suficiente para corrigir, como fez Pedro, que se arrepende e refaz o caminho do seguimento – ou pressa em chegar junto de Jesus. Jesus morreu, ao matar-se, Judas juntar-se-á rapidamente ao Seu Mestre e Senhor. A biografia de alguns santos – São Paulo, Santo Inácio de Antioquia, Santa Teresa do Menino Jesus, Santa Eufémia – evidenciam a valentia diante da morte, pois esta permitirá rapidamente o encontro definitivo com Jesus.
Segundo Orígenes, baseando-se no final do Evangelho de Mateus, defende que "quando Judas se deu conta do que tinha feito, apressou-se a suicidar-se, esperando encontrar-se com Jesus no mundo dos mortos, e ali, com a alma a nu, pedir-lhe perdão" (ARIEL VALDÉS).
Segundo Orígenes, baseando-se no final do Evangelho de Mateus, defende que "quando Judas se deu conta do que tinha feito, apressou-se a suicidar-se, esperando encontrar-se com Jesus no mundo dos mortos, e ali, com a alma a nu, pedir-lhe perdão" (ARIEL VALDÉS).
Pela experiência humana: quando o nosso melhor amigo se converte em inimigo – risco frequente – arranjamos justificações para dizermos que nos enganámos, ou que nos enganou durante algum tempo, mas que havia sinais à nossa frente, que não quisemos ver. Conseguimos demonstrar, avivando palavras, gestos, acontecimentos do passado, a sua falsidade, desonestidade, o seu egoísmo, a sua ganância. É sempre difícil que, após uma rutura – numa amizade ou num casal, numa empresa ou numa associação – sublinhar que foram diferenças que provocaram o afastamento e que a responsabilidade foi das duas partes. (Também aqui importa não generalizar, por vezes uma das partes fez tudo sem a ajuda de ninguém).
Para nós cristãos, mas também na convivência humana e social, a certeza da nossa fragilidade, a importância de não deixarmos que as trevas, ou a pressa de fazermos tudo à nossa maneira, ocupe o nosso coração. A Luz e o Amor de Jesus ajudou os discípulos a ultrapassarem o medo, a angústia, as trevas, a negação, a fuga. Em Judas, as trevas foram avassaladoras, ainda que tivesse um lampejo de arrependimento: entreguei um homem inocente... Há horas em que o demónio é mais forte... e quantos demónios podemos alimentar dentro de nós?
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FONTE e INSPIRAÇÃO:
ARIEL ÁLVAREZ VALDÉS. Porque atraiçoou Judas a Jesus?, in Bíblica, n.º 291, março-abril 2004.
Vale a pena ler o comentário de TOLENTINO MENDONÇA: Nenhum Caminho será Longo, AQUI: Judas, o discípulo predileto de Jesus.
Sobre o discípulo amado veja-se o artigo publicado na Bíblica, n.º 303, março-abril 2016, ARIEL VALDÉS, Quem era o "Discípulo Amado" de Jesus?.
Depois de seguir a tradição, que aponta João Apóstolo como autor do 4.º Evangelho e portanto o discípulo amado, o autor defende que as características do Apóstolo, com forte carácter, impetuoso, pronto a mandar fogo do céu contrasta abertamente com a delicadeza do Discípulo Amado, próximo, afável. Ainda que a conversão, e o encontro com o Ressuscitado tenha moldado os apóstolos de Jesus. Solução: «"Se o evangelista não nos dá o seu nome, não devemos tentar perguntar quem é", afirmava santo Agostinho» (VALDÉS). Assim sendo, cada um de nós pode ser o discípulo amado se na sua conduta imitar o seu jeito de seguir Jesus e estar perto d'Ele sobretudo nos momentos mais dolorosos. Valeria também ler ou reler Bento XVI/Ratzinger, na obra Jesus de Nazaré. Ratzinger não entra em discussões tão específicas, mas aponta o discípulo amado como modelo a seguir.
segunda-feira, 6 de maio de 2013
Evangelho - o Testamento de um amigo
"O discípulo amado é aquele que tem uma proximidade particular a Jesus; é aquele que se reclina sobre o seu peito, não apenas numa demonstração de afeto, mas também de comunhão de vida e de sentimentos. Este gesto do reclinar é uma imagem que comparece em outros textos judaicos e que tem a ver com a transmissão do testamento. O Evangelho representa, digamos, o testamento de um amigo; o olhar de um amigo sobre Jesus que nos implica profundamente, colocando-nos no seu lugar. A intervenção do discípulo amado liga-se, assim, a um eixo profundo da teologia de João que considera ser através da amizade que nós compreendemos Jesus e nos avizinhamos dele..."
in TOLENTINO MENDONÇA. Nenhum Caminho será Longo.
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quarta-feira, 20 de abril de 2011
Garantiram-lhe 30 moedas de prata
Um dos Doze, chamado Iscariotes, foi ter com os príncipes dos sacerdotes e disse-lhes: «Que estais dispostos a dar-me para vos entregar Jesus?» Eles garantiram-lhe trinta moedas de prata. A partir de então, Judas procurava uma oportunidade para O entregar... Ao cair da tarde, sentou-Se à mesa com os Doze. Enquanto comiam, declarou: «Em verdade, em verdade vos digo: Um de vós Me entregará»... Judas, que O ia entregar, tomou a palavra e perguntou: «Serei eu, Mestre?» Respondeu Jesus: «Tu o disseste» (Mt 26, 14-25).
As trevas inundam o olhar e o coração de Judas. Nunca saberemos toda a motivação que o levou a entregar o Mestre, que ele admirava e seguia. Apóstolo de confiança, era ele o responsável pela bolsa comum e de preparar "as coisas" para a festa da Páscoa bem como para outros momentos. Segundo o relato dos evangelhos era também ele que distribuía esmola pelos mais necessitados. Segundo alguns, a entrega de Jesus procurava acelerar a "hora de Cristo", para que na eminência da morte, Jesus reagisse. Neste caso não seria falta de fé no Messias, mas pressa em ver a salvação de Israel. A pressa dos homens sempre acaba por estragar a paciência amorosa de Deus.
Por outro lado, São Mateus refere que o preço da entrega são umas míseras 30 moedas de prata. É o preço de um escravo. É o preço a pagar por um assassinato à família lesada, para evitar outro assassinato.
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