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sábado, 28 de janeiro de 2023

Domingo IV do Tempo Comum - ano A - 29.janeiro.2023


1 – O cristianismo, mais que um emaranhado de normas, de leis, costumes e tradições, é um encontro. No dizer do Papa Bento XVI, a fé começa a partir do encontro com Jesus. "No início do ser cristão não há uma decisão ética, ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo" (Deus caritas est, 1).
É este encontro que nos converte, nos mobiliza e nos compromete com os Seus desígnios de ternura, de perdão e de fraternidade. O encontro com Jesus faz germinar a fé, torna-nos capazes de acolher Deus e o Seu amor. É um encontro que gera vida, que porta a Boa Nova da salvação, que se concretiza no amor, ligando-nos, em simultâneo a Deus, de Quem nos vem a vida e o amor, e ao nosso semelhante, sujeito que nos permite responder ao amor de Deus, amando e servindo.
Amar implica desejo de identificação. Os enamorados criam uma linguagem própria, tiques que só eles compreendem, tendem a ter gostos semelhantes, a querer ver os mesmos filmes e a ouvir as mesmas músicas, a aprimorarem o paladar para gostarem das mesmas comidas. Sendo essencial que preservem a identidade, é natural que, quem ama, procure gostar do que o outro gosta e partilhar os seus gostos; os amigos de um (quase sempre) acabam por ser amigos do outro. É assim que respondemos ao amor de Deus, procurando amar os Seus projetos e aqueles que Ele ama.
A fé faz-nos acreditar, amar e seguir Jesus Cristo, procurando em tudo sermos-Lhe agradáveis e prestáveis, imitando-O, assumindo os Seus gestos, a Sua postura de vida, os Seus tiques, assumindo as Suas feições.

2 – Para O seguirmos temos de estar perto d'Ele, prestar atenção ao que nos diz, perceber o Seu olhar em diferentes situações, saber de cor os passos que Ele dá ou daria se estivesse no nosso lugar. Subimos com Ele à montanha, para escutarmos o Seu sermão, deixando-nos arrebatar pelos desafios que nos lança.
O Mestre dos Mestres quer que a vida seja abundância e nada nos distraia do serviço e da caridade, nada nos distraia dos outros a quem devemos auxílio, ajuda e amor.
O Sermão da Montanha ambienta-se nas Bem-aventuranças. Para alguns estudiosos, e talvez para são Mateus, é uma espécie de alternativa, melhor, substituição dos 10 Mandamentos. No alto da montanha, Moisés proclama a Lei dada por Deus ao Seu povo, Aliança que se firma (ou amadurece) entre Deus e o Povo Eleito. No alto da montanha, Jesus proclama a nova Lei de Deus para o Seu povo, uma nova Aliança, duradoura e definitiva. Ainda que seja assim, os 10 Mandamentos continuam a ser uma referência importante para os cristãos, uma ajuda, balizando ou iluminando o que mantém próximos da vontade de Deus. Porém, a Lei escrita em tábuas de pedra, em Cristo, inscreve-Se no Seu e no nosso coração. Ele é a própria Lei, a Palavra de Deus, em carne e osso... As bem-aventuranças mostram-nos abertura e compromisso, até ao limite. Na verdade, Ele fez-Se um de nós, gastando-Se totalmente para que tenhamos vida em abundância, para garantir que sabemos o caminho que nos faz irmãos e nos abre as portas da eternidade.

3 – Vale a pena ler e reler, e escutar, as palavras de Jesus: «Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados os humildes, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa».
Jesus não exalta a humildade, a pobreza, a injustiça ou a perseguição, como vitimização; não é um discurso a sancionar ou a apelar à miserabilidade, ou a incentivar a resignação. Não se trata de omissão ou demissão, mas de resiliência, luta, compromisso, fidelidade, amor aos outros como a si mesmo, amor ao jeito de Jesus. Ainda que seja preciso morrer para salvar, cuidar, reconciliar! São felizes os que não arranjam desculpas para fugir ou passar ao largo, são felizes os compassivos, os pacificadores, os que lutam pela justiça e pela paz, os que, mesmo com sacrifício, suor e lágrimas, estão prontos para ajudar o seu semelhante e a lutar com eles e por eles nas situações de adversidade. São felizes os que apostam na verdade e numa vida com honestidade, defendendo os mais indefesos, aqueles que não têm voz nem vez.
A humildade, a pobreza e a comoção resultam do amor a Deus, enquanto resposta, vivido e concretizado no amor aos outros. Quem ama (de coração) coloca o outro em primeiro lugar... daí a pobreza, pois se despoja para servir, expondo-se ao outro, com o que tem e com o que é. Por excelência, Jesus expõe-Se por inteiro, abdicando de qualquer prorrogativa divina, de qualquer poder; faz-Se pobre e dispõe-Se amar ao ponto de não reservar nada para Si, nem tempo, nem a própria vida (biológica).
"Concedei, Senhor nosso Deus, que Vos adoremos de todo o coração e amemos todos os homens com sincera caridade".

4 – Presunção e água benta cada um toma a que quer. Uma pessoa presunçosa, e mais facilmente são os outros do que nós, assim o pensamos, é uma pessoa fechada e focada em si. Quando sabemos tudo e temos para nós que não precisamos de ninguém e não temos mais nada a aprender, colocamo-nos numa posição de sobranceria, orgulho, soberba que nos impede de reconhecer os outros no seu ser e no seu saber. No final, também deixaremos de precisar de Deus, pois nos bastamos a nós próprios.
Ao longo da história da humanidade, sempre que alguém se bastou a si mesmo, colocou os outros num patamar inferior, servindo-se deles e instrumentalizando-os para os seus interesses pessoais e megalómanos. Quando se insiste na humildade não se faz por parecer bonito ou para ficar bem na imagem, mas porque é a humildade – o reconhecimento que podemos aprender mais, ser melhores do que no dia anterior, saber que estamos a caminho e beneficiamos do conhecimento, do saber e das apetências dos outros – que permite avançar, construir.
A soberba e a sobranceria têm conduzido à violência, aos conflitos, às guerras, à destruição de pessoas e de bens, para subjugar os outros, não os reconhecendo como iguais. Esta é também a urgência de reconhecermos que só Deus é Deus e que n'Ele somos iguais, somos irmãos.
Na primeira leitura, Sofonias desafia os mais pequenos a seguir o caminho da humildade e da justiça. «Procurai o Senhor, vós todos os humildes da terra, que obedeceis aos seus mandamentos. Procurai a justiça, procurai a humildade; talvez encontreis proteção no dia da ira do Senhor. Só deixarei ficar no meio de ti um povo pobre e humilde, que buscará refúgio no nome do Senhor».

5 – Com o salmista rezamos a nossa confiança no Senhor, nosso Deus. «O Senhor faz justiça aos oprimidos, dá pão aos que têm fome e a liberdade aos cativos. / O Senhor ilumina os olhos dos cegos, o Senhor levanta os abatidos, o Senhor ama os justos. / O Senhor protege os peregrinos, ampara o órfão e a viúva e entrava o caminho aos pecadores».
Em Jesus, o salmo ganha carne, um rosto, uma maneira nova, plena e definitiva de encarnar a ternura e o amor de Deus. Jesus é o Pobre por antonomásia, despojando-Se da omnipotência divina para Se expor à nossa vontade, limitações e ao nosso pecado. Ele não força, entrega-Se. Nós podemos amá-l'O e segui-l'O ou rejeitá-l'O, persegui-l'O, destruí-l'O em nós, nos outros e no mundo. A máxima pobreza é consequência do amor pleno, sem reservas nem condições. Quem ama expõe-se ao outro, sujeita-se aos seus desejos e até caprichos, procurando em tudo fazê-lo feliz.

6 – Na segunda leitura, são Paulo recorda como Deus se serve de instrumentos frágeis.
As primeiras palavras de Bento XVI, depois de ser eleito Papa, foram: "...Consola-me saber que o Senhor sabe trabalhar e agir também com instrumentos insuficientes. E, sobretudo, recomendo-me às vossas orações...".
O Apóstolo sublinha que diante de Deus somos iguais, pobres, frágeis e, consequentemente, nessa medida, seremos fortalecidos pelo poder e pela grandeza de Deus. «Vede quem sois vós... Deus escolheu o que é louco aos olhos do mundo para confundir os sábios; escolheu o que é fraco, para confundir o forte; escolheu o que é vil e desprezível, o que nada vale aos olhos do mundo, para reduzir a nada aquilo que vale, a fim de que nenhuma criatura se possa gloriar diante de Deus. É por Ele que vós estais em Cristo Jesus, o qual Se tornou para nós sabedoria de Deus, justiça, santidade e redenção. Deste modo, conforme está escrito, 'quem se gloria deve gloriar-se no Senhor'».
Recordemos as palavras de Maria: a minha alma engrandece o Senhor. Como diria o então jovem teólogo, Joseph Ratzinger, não é Maria que engrandece o Senhor, mas é Maria que, pela sua humildade, permite que a grandeza de Deus se manifeste no mundo. Há de ser também esse o nosso compromisso, para que as nossas palavras e obras transpareçam a beleza e o amor de Deus.

Pe. Manuel Gonçalves

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Textos para a Eucaristia (A): Sf 2, 3; 3, 12-13; Sl 145 (146); 1Cor 1, 26-31; Mt 5, 1-12a.

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Pinheiros - Novena de Santa Eufémia 2018 - 6.º Dia

Bem-aventuranças....

       Jesus, erguendo os olhos para os discípulos, disse:
       «Bem-aventurados vós, os pobres, porque é vosso o reino de Deus. Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados. Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque haveis de rir. Bem-aventurados sereis, quando os homens vos odiarem, quando vos rejeitarem e insultarem e proscreverem o vosso nome como infame, por causa do Filho do homem. Alegrai-vos e exultai nesse dia, porque é grande no Céu a vossa recompensa.
       Era assim que os seus antepassados tratavam os profetas.
        Mas ai de vós, os ricos, porque já recebestes a vossa consolação! Ai de vós, que agora estais saciados, porque haveis de ter fome! Ai de vós, que rides agora, porque haveis de entristecer-vos e chorar! Ai de vós, quando todos os homens vos elogiarem!
       Era assim que os seus antepassados tratavam os falsos profetas» (Lc 6, 20-26).
        As bem-aventuranças, como a oração do Pai-nosso, encerram, de forma sintética, simples e clara, todo o Evangelho de Jesus Cristo, ou, pelo menos, o essencial da Sua mensagem.
       São um programa de vida. Para todos.
       O reino de Deus é daqueles e daquelas que estiverem dispostos a dar o melhor de si mesmos, abrindo-se à vida, acolhendo as intempéries do presente e do futuro com a mesma humildade e generosidade que as conquistas, procurando, em cada situação, retirar uma lição de vida, ajudando os outros, vivendo numa lógica de amor sem fim, perdoando as fragilidades próprias e alheias, convertendo-se à verdade, vivendo honestamente, identificando-se com Jesus Cristo, tornando-se, em gestos e palavras, um hino de louvor constante a Deus, confiando no bem, na justiça, em Deus. Assumindo o passado, mas voltados para o futuro, vivendo com alegria no presente.
       Bem-aventurados todos os que vivem, aspirando às coisas do alto, como nos refere hoje São Paulo, não apenas nos momentos fáceis da vida mas em todos os momentos.

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Alegrai-vos e exultai...

     Ao ver as multidão, Jesus subiu ao monte e sentou-Se. Rodearam-n’O os discípulos e Ele começou a ensiná-los, dizendo: "Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados os humildes, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa. Assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós" (Mt 5, 1-12).
       As bem-aventuranças são uma referência vital para todo o crente, para todo o cristão. Nelas está condensada toda a mensagem de Jesus Cristo sobre a vivência dos Seus discípulos. São Bem-aventurados todos os que procuram o bem, partindo da verdade, assumindo uma postura de grande humildade, predispondo-se a viver a caridade, dando a vida pelos outros, em todas as situações.
       O próprio ambiente nos diz da importância que Jesus coloca nas palavras que dirige aos discípulos e à multidão. Qual Moisés, sobe ao monte e senta-se para ensinar. Mas não só. Mostra também a serenidade, senta-se, não fala em andamento, mas cria uma pausa que suscita uma maior atenção e dando maior enlevo àquelas palavras.
       O propósito será o de Maria: Eis a escrava do Senhor, faça-se em Mim segundo a Sua palavra. É a postura de Jesus: "Eu venho, ó Deus, para fazer a vontade a Vossa vontade". Há tornar-se a marca fundamental dos seguidores de Jesus, os cristãos: Minha Mãe e meus irmãos, diz-nos Jesus, são aqueles que escutam a palavra de Deus e a põem em prática.
       As Bem-aventuranças remete-se para a oração do Pai-nosso, e vice-versa, para para toda a mensagem e todo o agir de Jesus: despojar-Se de Si para Se preencher da Presença do Pai e do Seu Amor, deixando-os transbordar para todas as pessoas que encontra pela frente, sobretudo os que se encontram em situação de maior debilidade.
       As bem-aventuranças não é um desafio à miséria, mas precisamente o contrário, fazendo que os bens materiais e a riqueza não sejam empecilho para nos ajudarmos mutuamente, dando sempre prioridade a Deus, aos irmãos, aos sentimentos, aos laços de ternura e de amizade. Dando o melhor, indo ao encontro do melhor que há nos outros. E assim encontraremos Deus, em nós e nos outros.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

VL – A autoridade Jesus e dos seus discípulos: o serviço

       A liturgia dos últimos e dos próximos domingos serve-nos o Sermão da Montanha (Mt 5,1-7,29), que começa com as Bem-aventuranças e termina desta forma: “Quando Jesus acabou de falar, a multidão ficou vivamente impressionada com os seus ensinamentos, porque Ele ensinava-os como quem possui autoridade e não como os doutores da Lei”.
       Quando ouvimos falar em autoridade quase sempre nos lembramos de poder, de arrogância, de sobranceria. Jesus, desde o início, faz saber aos seus discípulos, daquele e de todos os tempos, que a Sua lógica é diferente, o Seu poder está no amor, no serviço, no gastar a vida não por quem merece mas por todos e especialmente pelos excluídos, os pecadores, os pobres, os doentes.
       Um dia destes, um agente da GNR mandou-me encostar. Como em todas as profissões e/ou vocações há gente boa e gente maldisposta. Seja onde for tenho consciência que cumprem a sua missão. E assim foi. Documentos pessoais e da viatura. Colete. Triângulo. Deu a volta ao carro. Sempre com um ar descontraído, humano. E no final: tenha um bom domingo. Pode arrancar quando puder. Tudo de bom. Cumpriu com zelo, mas também com simpatia o seu dever. E com um gracejo final. Simples. É possível ser sério sem ser carrancudo, arrogante ou implicante. (Em nenhum momento revelei a minha identidade sacerdotal).
       Na linguagem como na vida, Jesus apresenta-Se dócil, próximo, a favor dos mais desfavorecidos e da integração de todos no Reino de Deus, repudiando as injustiças, as invejas e os ódios, promovendo o serviço, o amor e o perdão, contando connosco, comigo e contigo. Cada pessoa conta. Cada um de nós é assumido como irmão, filho bem-amado do Pai. Jesus vem desfazer os muros da incompreensão, do egoísmo, da intolerância, da violência e construir pontes e laços de entreajuda, de comunhão e de fraternidade.
       No Sermão da Montanha Jesus acentua a humildade, o despojamento, a pobreza, mas nunca a desistência ou o conformismo. São felizes os que lutam pela justiça e promovem a paz, os que usam de misericórdia e cuja compaixão constrói humanidade. Jesus não desiste. Vai até ao fim. Por amor. A Sua autoridade caracteriza-se pela bondade, por atrair os que foram colocados de parte pela política, pela sociedade e pela religião. Para Ele não há pessoas perdidas, todos podem recomeçar e ser parte importante no Seu reino de amor. Como nos lembrou há pouco o Papa Francisco, “não há santos sem história, nem pecadores sem futuro”.

Publicado na Voz de Lamego, n.º 4398, de 14 de fevereiro de 2017

sábado, 28 de janeiro de 2017

Domingo IV do Tempo Comum - ano A - 29 de janeiro

       1 – “Só sei que nada sei”. Célebre aforismo do não menos célebre filósofo grego Sócrates. Quanto mais sei, mais sei que nada sei. Partir do pressuposto que estamos a caminho, predispõe-nos a aprender, a descobrir; o que sabemos, por mais que nos pareça, é sempre muito pouco para aquilo que não conhecemos ou para aquilo que podemos aprender. É chamada a dúvida metódica. A dúvida como método de procurar, de não se satisfazer com o aprendido, de não desistir de conhecer e saber mais.
       A fé e a confiança em Deus implicam-nos a buscá-l'O sempre mais. Em Jesus, Deus revela-Se em plenitude, mas continua a ser mistério que nos salva, nos redime e sobre o qual não temos controlo. É como areia nas mãos, temos que as manter um tanto ou quanto abertas, se as fechamos a areia esvai-se. A fé não responde a todas as perguntas e não resolve todas as dificuldades. Muitas vezes, mais que resposta, a fé é pergunta, questionamento, é caminho. É o vislumbre de luz que nos ajuda a atravessar as trevas. Se Jesus vai connosco tudo é mais fácil. Pode acontecer-nos, como Maria e José, quando subiram com Jesus ao Templo, por ocasião do seu 12.º aniversário, que no caminho percebamos que Ele não segue connosco. Nessa ocasião é preciso a pobreza, a humildade e o desprendimento para refazer o caminho, voltar a atrás até encontrar Jesus. A fé é graça, é dom, mas não é um dado adquirido ou uma conquista definitiva. "Deus não mora na superfície" (Tomáš Halík). Tantas as situações em que Deus não é fácil. A fé não é fácil quando a vida é difícil, injusta, contraditória, incompreensível.
       Importa não desistir de procurar. O caminho faz-se caminhando. Há que perceber que quando nos enchemos de nós, esvaziamos a presença dos outros, impedimos que Ele nos preencha e dê sentido à nossa vida. A arrogância, a prepotência, a presunção distanciam-nos da verdade, bloqueiam o caminho, estupidificam a vida.
       2 – As Bem-Aventuranças constituem uma das páginas mais belas, mais conhecidas e refletidas do Evangelho. São uma espécie de Evangelho em miniatura, pois nelas está contido o essencial da mensagem de Jesus. Ele que era rico fez-Se pobre para nos enriquecer com a Sua pobreza, com o Seu amor, com a Sua vida. N'Ele tudo nos fala de Deus, as palavras, os gestos, os encontros. O serviço, a compaixão, a ternura, o perdão. Jesus está onde pulsa a vida. Faz-Se um de nós, um connosco. Com Ele ninguém está a mais. Com Ele, as margens tendem a fluir para o centro e a encontrar o caminho!
       Bem-aventurados os pobres em espírito, os humildes, os que choram, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os que promovem a paz, os que sofrem perseguição por amor da justiça... porque deles é o reino dos Céus... Este não está sujeito à usurpação pelo dinheiro, pela violência, pelo poder. É dom de Deus. O mundo constrói-se pelo amor, pelo serviço, pela persistência, pela justiça e pela verdade. É daqueles que não desistem de fazer o bem, de procurar o melhor para todos, de darem as mãos e o coração e construírem pontes. O reino de Deus é daqueles que não se deixam abater pela maledicência, pela perseguição, pelo poder e respondem com bondade, com serviço e docilidade.
       Desengane-se quem pense que Jesus sanciona, aqui ou em qualquer lugar do evangelho, a miséria ou as injustiças. Pelo contrário, também aqui lança um forte grito de denúncia para quem humilha, violenta, agride, pois deles não será o Reino dos Céus. Este é precisamente para aqueles que o constroem pela paciência, pela compaixão, pela humildade, pela abertura aos outros e a Deus.
       Entre os chefes das nações, a disputa sobre quem é o maior e tem mais poder. Não seja assim entre vós. Quem entre vós quiser ser o maior seja o servo de todos. Eu não vim para ser servido mas para servir e dar a vida por todos. O que fizerdes ao mais pequeno dos meus irmãos é a Mim que o fazeis. Os pobres, os injustiçados, os que vivem à margem (uns porque se autoexcluíram, outros porque foram excluídos), são um desafio à compaixão. Para O imitarmos, para O seguirmos, não podemos passar ao largo e manter-nos à distância, alheados dos sofrimentos dos nossos irmãos, prostrados pela vida, como o sacerdote e o levita da parábola do bom samaritano, cuja identidade pátria e religiosa não são empecilho para se aproximar, para ver, para cuidar, para garantir a vida daquele homem que foi assaltado, agredido, roubado e deixado quase morto. Somos responsáveis uns pelos outros, desde sempre, em todas as situações. Deus perguntar-nos-á pelos nossos irmãos, como perguntou a Caim sobre o seu irmão Abel. Pedir-nos-á contas pelo destino dos outros. 
       3 – O profeta Sofonias aponta para o Senhor Deus, para o Seu proceder, para os Seus mandamentos., desafiando sobretudo os humildes a procurarem a justiça e a humildade. A vontade de Deus é clara: «o resto de Israel não voltará a cometer injustiças, não tornará a dizer mentiras, nem mais se encontrará na sua boca uma língua enganadora».
       A lógica das bem-aventuranças já está presente na primeira leitura. O reino de Deus, o resto de Israel, será dos pobres e dos humildes, daqueles que buscam e se comprometem a construir, com Deus, um povo justo, verdadeiro e humilde.
       4 – Fiz-me tudo para todos, para ganhar alguns para Cristo. Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim. Para mim viver é Cristo. São expressões bem conhecidas do Apóstolo por excelência. Paulo, aguerrido perseguidor, torna-se um fervoroso seguidor. Há muito que estava muito perto de Jesus. Tão perto que nem se apercebeu que já O respirava, já vivia em função d'Ele e dos Seus feitos, das Sua manifestações e da obra que ia Ele realizando através dos apóstolos. Percebeu que segui-l'O era a sua salvação e a razão maior para a sua vida.
       Não pensemos que Paulo era uma pessoa de trato fácil. Manteve sempre um espírito combativo, orientado para Cristo, mas não deixando de agitar as águas, respondendo, contraponto, oportuna e inoportunamente anunciando o Evangelho. Nem a prisão o silenciou. Quando não pela presença ou pela voz, pelas cartas e pelos emissários que envia às diversas comunidades. Percebe-se que alguns dos seus companheiros são mais diplomáticos e tentam apaziguar conflitos e dissensões. Tem uma personalidade forte, mas deixa-se moldar pelo Evangelho.
       Nesta missiva aos Coríntios, vê-se bem a insistência e a persistência do Apóstolo e o seu espírito guerreiro. Dentro da comunidade havia partidários de Pedro e de Paulo, de Apolo e de Cristo, como víamos na semana passada. O Apóstolo relembra-lhes que não há nada além de Cristo. Desta feita, mostra à saciedade que Deus Se revela prevalentemente nos humildes e nos simples. «Não há muitos sábios, naturalmente falando, nem muitos influentes, nem muitos bem-nascidos». Com esta constatação, Paulo sublinha a missão daqueles que procuram viver o Evangelho com simplicidade de coração, dizendo claramente que «Deus escolheu o que é louco aos olhos do mundo para confundir os sábios; escolheu o que é fraco, para confundir o forte; escolheu o que é vil e desprezível, o que nada vale aos olhos do mundo, para reduzir a nada aquilo que vale, a fim de que nenhuma criatura se possa gloriar diante de Deus. É por Ele que vós estais em Cristo Jesus, o qual Se tornou para nós sabedoria de Deus, justiça, santidade e redenção».
       São Paulo conclui exortando: «Quem se gloria deve gloriar-se no Senhor». O discípulo missionário não se comunica, comunica Cristo. Não deve, por conseguinte, fazer sombra, procurando exibir os seus dotes de linguagem ou de poder, mas há de transparecer Jesus, pela humildade, pela verdade e pela compaixão.
       No final podemos sair maltratados, odiados e perseguidos, mas certos que essa não será a última palavra da vida. Jesus segue connosco e anima-nos a prosseguir. «Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa».

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (A): Sof 2, 3; 3, 12-13; Sl 145 (146); 1 Cor 1, 26-31;Mt 5, 1-12a.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

No Reino dos Céus quem fizer a vontade do Pai!

       Disse Jesus aos seus discípulos: «Nem todo aquele que Me diz ‘Senhor, Senhor’ entrará no reino dos Céus, mas só aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos Céus. Muitos Me dirão no dia do Juízo: ‘Senhor, não foi em teu nome que profetizámos e em teu nome que expulsámos demónios e em teu nome que fizemos tantos milagres?’. Então lhes direi bem alto: ‘Nunca vos conheci. Apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniquidade’. Todo aquele que ouve as minhas palavras e as põe em prática é como o homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as torrentes e sopraram os ventos contra aquela casa; mas ela não caiu, porque estava fundada sobre a rocha. Mas todo aquele que ouve as minhas palavras e não as põe em prática é como o homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, vieram as torrentes e sopraram os ventos contra aquela casa; ela desmoronou-se e foi grande a sua ruína». Quando Jesus acabou de falar, a multidão estava admirada com a sua doutrina, porque a ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas (Mt 7, 21-29).
       Sermão da Montanha.
       Depois das Bem-aventuranças, o ensino da Oração do Pai-nosso, desafio a sermos sal e luz para o mundo, a não nos deixarmos iludir com os falsos profetas, aí ressoa a voz de Jesus. Neste tempo de dúvidas e incertezas, e eis que as Suas palavras ecoam nos nossos ouvidos e na nossa alma. Está quase a despedir-nos e a enviar-nos de volta ao mundo real e concreto. Antes, dá-nos os instrumentos para que possamos ser verdadeiramente Seus discípulos, lembrando-nos quão importante e essencial é a fé. Mas não uma fé qualquer, a fé em Deus que é Pai e nos criou por amor e nos chama à felicidade, nesta e na vida futura, em estreita ligação com os outros. Uma fé que nos liga à vida presente e que nos compromete com a sociedade actual, com o nosso semelhante, que tal como nós, tem as marcas de pertença a Deus e a quem devemos acolher, respeitar, amar, proteger, de quem devemos cuidar. Somos responsáveis uns pelos outros.
       São inequívocas as palavras de Jesus, não basta que tenhamos boas intenções e que até tenhamos o nome de cristãos, é necessário que a identidade nos leve à prática do bem, das boas obras, isto é, ao cumprimento da vontade de Deus que quer que todos se salvem e tenham a vida em abundância.

sábado, 11 de junho de 2016

Paróquia de Tabuaço: Bem-aventuranças 2016

       Com a aproximação do final do ano catequético, realizam-se as últimas festas da catequese. No sábado, dia 11 de junho, foi a vez dos jovens adolescentes do 7.º Ano de Catequese sublinharem o caminho das Bem-Aventuranças, como opção para uma vida feliz e comprometida com o Evangelho da Alegria, procurando seguir e imitar Jesus Cristo no tempo atual, no ambiente em que vivemos e com os talentos de cada um.
       Algumas fotos desta celebração:

Para ver as restantes fotos disponíveis, visite a Paróquia de Tabuaço no Facebook.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

ANSELM GRÜN - AS OITO BEM-AVENTURANÇAS

ANSELM GRÜN (2010). As oito bem-aventuranças. Caminho para uma vida bem conseguida. Braga: Editorial A.O., 184 páginas.
       Anselm Grün é Monge beneditino, formado em economia e teologia, alemão. Através dos seus livros, conferências, procura testemunhar os tesouros da vida. É por muitos considerado um guia espiritual, reunindo grandes audiências. Já tivemos oportunidade de ler e de recomendar outros títulos, tais como: A sublime arte de envelhecer e tornar-se uma bênção para os outros; O Pai-Nosso. Uma ajuda para a vida autêntica; Que fiz eu para merecer isto? A incompreensível justiça de Deus.
       Este é mais uma belíssimo livro de bolso, que se lê com agrado sobre uma temática essencial da pregação e do proceder de Jesus. As Bem-aventuranças não garantem a vida eterna, mas são um caminho que nos levam a viver melhor e mais próximos do jeito de Jesus.
       O autor parte desde logo do significado de "Bem-aventurança", a procura da felicidade, comum a todos as pessoas, ainda que de maneiras distintas e caminhos diferentes.
       Jesus sobe ao MONTE com os discípulos. O monte aproxima-nos de Deus, da luz. Na cidade, a confusão, o barulho, a poluição. A montanha dissipa o nevoeiro e conduz-nos à calmaria, à natureza em que é possível ouvir os pássaros, o vento, ouvir a Deus. Tal como no Horeb ou Sinai, em que Deus dá a Lei ao Povo através de Moisés, agora Jesus, no monte, dá-nos uma leitura nova da Lei. As leis é para que vivamos harmoniosamente uns com os outros. "É possível uma boa convivência".
       Anselm Grün segue de perto a interpretação de São Gregório de Nisa, lembrando-nos que ele "vê a montanha como o lugar para onde seguimos Jesus, a fim de nos elevarmos para cima das nossas concepções baixas e limitadas «até à montanha espiritual da contemplação mais sublime» (Gregório, 153). O monte está envolvido pela luz de Deus".
       Seguindo o título dos capítulos, o autor faz-nos perceber que as bem-aventuranças são promessa de uma vida em plenitude, acentuando também que "a felicidade não é uma consequência do comportamento, mas é expressão desse comportamento... as oito atitudes das Bem-aventuranças são o lugar onde podemos fazer a experiência de Deus e onde, em Deus, podemos experimentar a nossa verdadeira felicidade... são o caminho para uma vida bem conseguida... aponta um caminho. E podemos ver, no próprio Jesus, como é que Ele percorreu o caminho".

1.ª Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino de Deus.
"Quem é pobre em espírito está aberto a Deus que habita nele... Não usa Deus, a fim de ter alguma coisa para si, a fim de conseguir a satisfação dos seus desejos, ou a fim de se sentir melhor ou mais seguro em Deus. A pobreza em espírito é desinteressada... Para São Gregório de Nisa, a pobreza em espírito é a condição para a pessoa se elevar até Deus, em liberdade... A primeira bem-aventurança é, pois, uma caminho de liberdade interior para a verdadeira felicidade". Por deles é o reino de Deus..."O Reino dos Céus é o lugar onde Deus reina em nós. Quem é pobre em espírito, renuncia a ter as rédeas de tudo e a tudo controlar em si. está aberto ao domínio de Deus. Onde Deus reina nele, encontra o acesso ao próprio eu... se alguém se liberta de toda a dependência das coisas deste mundo, nele reina Deus. E o reinado de Deus faz dele verdadeiramente livre".
2.ª Bem-aventurados os que choram porque serão consolados.
É necessário fazer o luto de tudo o que não podemos ser, para valorizarmos o que somos e o que podemos ser, com as circunstâncias que nos contextualizam com o mundo e com o tempo atual. "Aquele que sou, saúda, tristemente, aquele que eu poderia ser" (Kierkegaard). "Jesus proclama bem-aventurados aqueles que estão dispostos a chorar, os que enfrentam a dor da despedida das ilusões. Só eles continuarão sãos, interiormente... Jesus descreve o luto como uma caminho para a felicidade... o luto é um caminho para eu enfrentar a realidade e para me libertar das ilusões com que encubro a realidade. No luto não me esquivo à dor... Ninguém pode realizar todas as possibilidades da vida... Cada decisão me dá alguma coisa e me priva de algo. Compromete-me. E em cada decisão, excluo alguma coisa. E tenho de fazer luto por aquilo que excluo. Se falho o luto, então encho esse défice que fica em mim com uma qualquer sucedâneo... O luto chora e, desse modo, fecunda a alma. A tristeza, pelo contrário, é apenas chorosa... É Cristo quem nos consola. Sim, Ele mesmo é a consolação. Se pomos o olhar n'Ele, no meio do nosso luto, já experimentamos a consolação... e o luto transforma o seu coração..."
3.ª Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra.
"A agressividade está a transformar-se num problema... Tudo tem de ser protegido, para não ser destruído... No terror, pratica-se uma agressividade sem limite. Onde ela é praticada em nome de Deus, não conhece barreiras. O valor do ser humano já não conta. O único objetivo é propagar o medo... As palavras de Jesus sobre a doçura e a mansidão parecem ser, de facto, de um outro mundo". Em contrapartida, "a mansidão nãos e deixa arrastar pelos impulsos, pela ira, ou pelos ciúmes. Permanece arreigada no solo... Jesus não proclama felizes os insensíveis. «Ditosos são, portanto, aqueles que não cedem rapidamente aos movimentos passionais da alma, mas conservam a serenidade no seu íntimo graças à temperança» (São Gregório, 170)... As palavras de Jesus desafiam-me a transmitir, também para fora, a mansidão que experimento dentro de mim... Confio no poder da ternura. Ela é água que amolece a pedra dura... Trabalhamos em nós próprios mas renunciamos a ser perfeitos... A minha terra pertence-me. Expande-se. Herdo a terra, isto é, tenho chão suficiente debaixo dos pés. Deixo de ser dividido... só nos pertencemos a nós próprios se lidamos amistosamente com o que assoma em nós..."
4.ª Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
O autor contextualiza o tempo em que as Bem-aventuranças foram proclamadas por Jesus, o contexto das comunidades que acolheram a mensagem de Jesus, interpretações ao longo da história da Igreja, com pontes à filosofia grega e ocidental, ao ambiente semita, à religiosidade popular. Ponte importante com a atualidade. Começa por referir que "o rendimento médio nos vinte países mais ricos do mundo é 37 vezes superior ao dos vinte países mais pobres... nos últimos 40 anos duplicou a distância... entre as 100 maiores unidades económicas do mundo há 52 empresas mas apenas 48 estados... Não há justiça quanto à igualdade de oportunidades... A injustiça conduz, ultimamente, à guerra". Há, por outro lado, uma «judicialização» cada vez mais abrangente. Tudo está regulamentado. "Os juristas determinam casa vez mais a vida coletiva... já não valem a fidelidade e a confiança, mas unicamente a segurança legal". Anselm Grün constata que "as pessoas anseiam pela verdadeira justiça, por um mundo onde reine a justa distribuição dos bens e das oportunidades, no qual se faz justiça a todos, tanto aos pobres como aos ricos, tanto aos mais fortes como aos mais fracos... existe a convicção de que só onde reina a justiça pode florescer a paz... A fome e a sede de justiça referem-se a todos os homens, a uma ordem justa para todos, à vida em retidão que Deus pensou para todos... As virtudes da justiça, da prudência, da coragem e da temperança põem-nos em contacto com o nosso interior". Segundo São Gregório de Nisa, as virtudes enchem-nos "de doçura e de alegria, em todos os momentos da nossa vida". Com efeito, ainda citando São Gregório, "A bem-aventurança é uma convite a uma vida feliz. Que exercita a justiça não ficará saciado apenas no Além. Será feliz e viverá satisfeito já no meio da luta pela justiça".
5.ª Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
No Jubileu Extraordinário da Misericórdia que decorre (8 de dezembro de 2015 a 20 de novembro de 2016), esta Bem-aventurança coloca-nos em sintonia e em sinfonia com o desejo do Papa Francisco de refletir e viver as Obras de Misericórdia. O Coração misericordioso e compassivo de Deus, que Se faz peregrino connosco, mas que nos Seus gestos encontremos o desafio e o compromisso para vivermos como irmãos, acolhendo e integrando todos, sobretudo os que se encontram em situação mais frágil. Partindo da atualidade, o autor começa por mostrar como o "mercado é implacável. Só o mais forte consegue impor-se, Os outros ficam pelo caminho. O carácter implacável do mercado parece influenciar também a vida social... Quem sabe «vender-se» bem, «vale» alguma coisa... Aqui só contam os números e não a pessoa". Quanto à misericórdia, dela fazem parte a compaixão e o «sofrer com». Segundo alguns, a compaixão é fraqueza (por exemplo o Terceiro Reich). "A falta de misericórdia leva ao endurecimento e à violência na convivência mútua... Só o mais forte consegue impor-se. Os outros extinguem-se". Por conseguinte, "neste mundo frio, cresce a aspiração a um mundo misericordioso... [em que] sejamos respeitados na nossa dignidade humana... Jesus manteve-se fiel à misericórdia. E declarou bem-aventurados os que são misericordiosos. Porque alcançarão. Ele acreditou na vitória da misericórdia e da compaixão... Se somos misericordiosos também experimentamos a misericórdia... É misericordioso o que lida consigo e com os outros... Lido amorosamente com a esta criança em mim, necessitada de ajuda. Confio em que a minha criança interior vá amadurecendo, no meu colo materno e no colo materno de Deus, e que venha a ser o que deve ser a partir de Deus... A misericórdia brota do amor ao próximo... A misericórdia devolve-nos a vida... A compaixão pela nossa doença devolve-nos a saúde... A misericórdia de Deus permite-nos ser mais misericordiosos connosco próprios... Quem é misericordioso compreendeu quem é Deus. E participa de Deus. Está em Deus. A misericórdia é, para nós, os seres humanos, o caminho para o coração de Deus".
6.ª Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.
Olhando para o nosso tempo, o autor conclui que "a desconfiança está na moda". Não se aceitam as palavras sem reservas, crê-se que há sempre segundas intenções. No entanto, "aspiramos à clareza e à pureza de sentimentos, a pessoas que possuem um coração puro, que fazem, sem segundas intenções, o que reconheceram ser reto, e que dizem o que para elas brilha como verdade... aspiramos à pureza do coração... O coração puro é o coração simples, sincero, claro... Jesus exorta-nos a deixarmos que a luz irradie sobre o nosso corpo e expulse todas as trevas. Quando nos encontramos com uma pessoa cujos olhos brilham, sem segundas intenções, então também algo em nós se torna claro e límpido". Na Transfiguração, os discípulos "veem, de repente, claramente, quem é Jesus Cristo. E no espelho de Jesus reconhecem-se a si próprios... A meta do ser humano é ver a Deus, na visão passar a ser um com Deus... Se vemos a Deus esquecemo-nos de nós mesmos. Fazemo-nos um com Deus e, ao mesmo tempo, connosco próprios, Na unidade com Deus tomamos consciência de nós próprios, chegamos ao nosso esplendor original e não falseados... Sentimo-nos luz, iluminados pela luz de Deus. Isto é o ápice da Encarnação, o mais alto a que um ser humano pode aspirar". A pureza do coração faz bem à saúde, pois aquele que se encontrou consigo próprio, com a sua luz interior, "deixa de procurar no exterior a cura das suas feridas. Já não espera, vinda do afeto e da ajuda dos outros, a sua saúde. Encontra-a em si mesmo se, graças à pureza, se tornou inteiramente ele próprio".
7.ª Bem aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus.
Olhando para o mundo atual, vemos como é frágil da paz. São disso exemplo as duas Guerras mundiais, mas igualmente tantas zonas de conflito bélico, em diferentes latitudes. No tempo de Jesus Cristo a paz é periclitante. O povo está sob o domínio romano e aquilo que se chama a paz romana (pax romana) não passava efetivamente de pacificação, de imposição da paz pela força, pelo domínio, pelo controlo apertado, aniquilando todos os focos de resistência e até povos inteiros. "Era uma paz violenta". A paz não é algo de passivo, de deixar correr, sem fazer nada, sem intervir, mesmo quando a violência o atinge. A paz é ativa, implica. "Criar paz significa a disponibilidade ativa para ir ao encontro das pessoas que estão em conflito e reconciliá-las entre si". Também em nós devemos fazer as pazes com os nossos inimigos: o nosso medo, a nossa depressão, a nossa susceptibilidade, a nossa falta de disciplina, e então os nossos inimigos convertem-se em amigos e "a nossa terra, de repente, torna-se maior do que nunca sucedeu antes. Em vez de dez mil soldados, temos à disposição trinta mil (cf. Lc 14, 31ss). Ficamos mais fortes... Só quem está em sintonia consigo próprio, ou pelo menos a caminho dessa meta, pode construir a paz entre as pessoas". Por outro lado, prossegue Anselm Grün, a construção da paz resultará do amor e do diálogo, superando o conflito interior para superar os conflitos exteriores, não pela violência mas pelo diálogo. "Se quero vencer os inimigos, não construirei a paz. O derrotado quer vir a ser, um dia, o vencedor. Assim voltará a levantar-se e a continuar a combater. Só quando se alcança um bom equilíbrio todos podem viver em paz... Construir a paz é um processo criativo... Quem cria paz, participa do poder criador de Deus, que fez tudo bem feito". Dando como exemplo Martin Luther King, o autor sublinha que "só o amor pode construir a paz. «O ódio não pode expulsar o ódio. Só o amor consegue. O ódio multiplica o ódio, a violência aumenta a violência, a dureza faz aumentar a dureza, uma espiral permanente de aniquilamento» (Feldmann, 702). O ódio não destrói apenas a convivência, prejudica também a pessoa".
8.ª Bem-aventurados os que sofrem perseguição, por causa da justiça, porque deles é o reino dos Céus.
"A injustiça no mundo clama ao céu. Mas não há quase ninguém que arrisque a pele pela justiça". No mundo atual parece que são felizes aqueles que estão do lado dos vencedores, dos lobos, daqueles que passam por cima dos outros. "A bem-aventurança desafia-nos, mas não sobrecarrega com coisas impossíveis. O que faz é fortalecer a nossa aspiração à coragem de nos empenharmos pela justiça, custe o que custar... A coragem é a expressão da liberdade interior... mantenho-me firma na justiça, mesmo que isso me cause desvantagens junto dos outros". O que me sucede de mal pode empurrar-se para a frente, para o bem. Seguindo de perto São Gregório de Nisa, o autor evoca a imagem das corridas. Os adversários que correm comigo levam-me a avançar, lutando. Os conflitos em que caio podem ajudar-me a ser mais forte.
"São Mateus compôs as oito Bem-aventuranças de tal modo que a primeira e a última contêm a promessa do Reino dos Céus. Os pobres em espírito são, como os perseguidos por causa da justiça, também pessoas interiormente livres, que não se deixam depender da opinião dos outros... porque encontraram em Deus a sua verdadeira essência. Deus reina nelas. E porque Deus reina nelas são por inteiro elas mesmas, livres do poder dos outros. Porque Deus é o seu centro, são elas próprias, no seu centro, estão em sintonia consigo mesmas".
As bem-aventuranças são um caminho para viver melhor e ser mais saudáveis.

sábado, 20 de junho de 2015

Tabuaço | Festa das Bem-aventuranças | 2015

       A chegar ao final do ano catequético, a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição viveu mais uma festa da catequese, desta feita sublinhando as Bem-aventuranças, na Eucaristia de sábado, 20 de junho de 2015, com os adolescentes jovens do 7.º Ano de Catequese.
       Depois da introdução à Eucaristia e à Festa das Bem-aventuranças, feita pela catequista, o grupo deu destaque ao ofertório, com sinais e símbolos, o pão e o vinho, a bússola, a flor, a vela e a luz, a cruz. No momento de ação de graças uma flor para Nossa Senhora e uma oração.

Oração a Nossa Senhora das bem-aventuranças
Maria, Mãe de Jesus e Mãe nossa
Bem-aventuranda és Tu
porque acredistaste em tudo o que Te foi dito da parte de Deus.
Os teus dias não foram todos iguais:
Houve dias de dor e de aflição
Dias de alegria e conformação
Dias cizentos e de lágrimas
Dias de festa e de graças
Os teus dias não foram todos iguais!
Igual sempre a Tua confiança e abandono nas mãos do Pai.
Felizes seremos se em Deus colocarmos, como Tu, ó Mãe
a nossa confiança e a nossa vida.

Se, com humildade, soubermos acolher o que vem de Deus:
Faça-me em Mim segundo a Tua vontade...
Se com coragem escutarmos o que Tu nos dizes:
“Fazei tudo o que Ele vos disser”...
Certos que o que Jesus nos quer nos aproxima uns dos outros
Certos que o que Jesus nos pede, nada nos retira, ou nos castiga
Mas faz-nos ser bem-aventurados, felizes,
por nos gastarmos no melhor de nós
e darmos sentido aos dons e aos talentos que recebemos.

Maria, Mãe de Jesus e Mãe nossa
Que nos teus braços de Mãe, nos sintamos amados
e, como Tu, ó Mãe, nos demos por inteiro
para que também nós sejamos bem-aventurados!

Obrigado, Maria, Mãe de Jesus e Mãe da Igreja,
porque no Teu olhar nos encontramos como irmãos de Jesus
e nos assumimos como filhos Teus…
          Avé-Maria...

Fotos que registam e fixam esta celebração na vivência comunitária da fé:
Para ver a totalidade das fotos disponíveis,

sábado, 13 de junho de 2015

Tabuaço - Escola da Fé: 12 de junho de 2015

       A consciência de que o cristão é sempre discípulo, está sempre a aprender e com necessidade de descobrir mais e mais a vida de Jesus e do Evangelho... O facto da catequese, ainda que no itinerário catequético de 10 anos, ser um tempo limitado, voltado para crianças e adolescentes, mas que não esgota nem aprendizagens, nem finaliza nenhum curso, mas é um desafio a embrenhar-se mais em Jesus Cristo, também a através da Sagrada Escritura... Nos dias que correm, em todas as áreas, profissões, a necessidade de formação contínua... um pedido de muitas comunidades e muitos cristãos, para que houvesse mais encontros de formação... as Escolas de Vivência da Fé, como espaço de formação, reflexão, convívio, testemunho, oração, são uma proposta insistente do nosso Bispo, D. António Couto, e corresponde à necessidade de responder ao mandato missionário de Jesus: Ide e fazei discípulos
       No dia 12 de junho, solenidade do Sagrado Coração de Jesus, a última sessão da Escola da Fé, deste ano pastoral de 2014-2015, na nossa paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Tabuaço, sob a orientação do Pe. António Jorge Giroto, Responsável do Arciprestado de Moimenta, Sernancelhe, Tabuaço pelas Escolas de Vivência da Fé.
       Durante o ano, os diversos encontros centraram-se nas Bem-aventuranças (Mt 5, 1-12); nesta última sessão, a reflexão fixou-se na sétima e a oitava:
       Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.
       Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino de Deus.

Algumas fotos deste encontro de formação, convívio e oração:

Para as restantes fotos disponíveis visitar Paróquia de Tabuaço no Facebook.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Bem-aventuranças de Tomás Moro

Felizes os que sabem rir de si mesmos,
porque nunca deixarão de divertir-se.
Felizes os que sabem distinguir uma montanha de uma pedra,
porque evitarão muitos inconvenientes.
Felizes os que sabem descansar e dormir sem buscar pretextos,
porque chegarão a ser sábios.
Felizes os que sabem escutar e calar,
porque aprenderão coisas novas.
Felizes os que são suficientemente inteligentes
a ponto de não se levar muito a sério,
porque serão valorizados pelos que os rodeiam.
Felizes os que estão atentos às necessidades dos outros
sem sentir-se indispensáveis,
porque serão distribuidores de alegria.
Felizes os que sabem ver com serenidade as pequenas coisas
e com tranquilidade as grandes coisas,
porque chegarão longe na vida.
Felizes os que sabem apreciar um sorriso
e esquecer um desprezo,
porque seu caminho será repleto de sol.
Felizes os que pensam antes de agir
e rezam antes de pensar,
porque não se agitarão diante dos imprevistos.
Felizes vocês que sabem calar e sorrir
quando lhes é tirada a palavra,
quando os contradizem ou pisam seus pés,
porque o Evangelho começa a penetrar em seu coração.
Felizes vocês se são capazes de interpretar
sempre com benevolência as atitudes dos outros,
mesmo quando as aparências são contrárias.
Parecerão inseguros, mas este é o preço da caridade.
Felizes sobretudo vocês que sabem
reconhecer o Senhor em tudo o que veem,
pois já encontraram a paz e a verdadeira sabedoria.
(Artigo publicado originalmente por Oleada Joven) FONTE:

terça-feira, 2 de junho de 2015

Paróquia de Tabuaço: próximas festas da Catequese

       As festas da catequese, que integram o itinerário catequético, são uma oportunidade para sublinhar um aspeto importante da catequese, no respetivo ano, e para celebrar a fé, o que se viveu e o que se aprendeu, inserindo-se na comunidade paroquial. São um ponto de chagada mas sobretudo de partida, para outros anos de catequese, para uma maior integração na comunidade, para uma participação mais consciente e assídua na vida da paróquia.
       O mês de maio concentrou, como tradicionalmente, o maior número de Festas da Catequese. Seguem-se mais três, a Primeira Comunhão, meninos do 3.º ano, no próximo Domingo, 7 de junho, solenidade do Corpo de Deus, pelas 15h00. No sábado seguinte, dia 13 de junho, na Eucaristia da catequese, Compromisso e Envio dos jovens do 9.º ano e, no sábado, dia 20 de junho, as Bem-aventuranças, do 7.º ano de catequese.
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sexta-feira, 17 de abril de 2015

Jesus fala com autoridade a partir da verdade

JESUS E O DINHEIRO. José Antonio Pagola:

"Jesus não separou Deus do Seu projeto de transformação do mundo. É possível um mundo diferente, mais justo, mais humano e feliz, precisamente porque Deus o quer assim" (p 19).
"Deus não pode ser Pai de todos sem reclamar justiça para aqueles que são excluídos de uma vida digna. Por isso não O podem servir os que, dominados pelo dinheiro, afogam injustamente os Seus filhos e filhas na miséria e na fome" (p 23).
"Este sistema faz-nos escravos da ânsia de acumular. A História organiza-se, move-se e dinamiza-se a partir desta lógica. Tudo é pouco para nos sentirmos satisfeitos" (p 25).
"Não deis a César o que é de Deus: os pobres. Jesus proclamou repetidamente esta mensagem. Os pequeninos sãos os prediletos do Pai; aos pobres pertence o Reino de Deus. Não se pode sacrificar a vida nem a dignidade dos indefesos a nenhum poder político, financeiro, económico ou religioso. Os humilhados pelos poderosos são de Deus. E de mais ninguém (p 29).
"Chegou o momento de recuperar a compaixão e a misericórdia como herança decisiva que Jesus deixou à humanidade, a força que há de impregnar a marcha do mundo, o princípio de ação que há de mover a história em vista de um futuro mais humano... A misericórdia é o modo de ser de Deus, a Sua maneira de olhar para o mundo e reagir perante as Suas criaturas (pp 33-34).
"O primeiro olhar de Jesus não se dirige ao pecado do ser humano, mas ao sofrimento... Para Jesus, a primeira preocupação foi o sofrimento das pessoas enfermas e subalimentadas da Galileia, a defesa dos aldeões explorados pelos poderosos donos das terras ou o acolhimento dos pecadores e prostitutas, excluídos da religião. Para Jesus, o grande pecado contra o projeto de Deus consiste sobretudo em resistirmos a tomar parte no sofrimento dos outros, fechando-nos no nosso próprio bem-estar" (p 35).
O "sofrimento injusto dos últimos do planeta ajuda-nos a conhecer a realidade do mundo que estamos a construir. Não se conhece o mundo a partir dos centros de poder, mas a partir das massas sem nome nem rosto dos excluídos, os únicos para os quais, paradoxalmente, não há lugar no nosso mundo globalizado. São as vítimas as que mais nos levam a conhecer aquilo que somos" (p 40).
"Os que nada importam são os que mais interessam a Deus. Os que sobejaram dos impérios construídos pelos homens têm um lugar privilegiado no Seu coração. Os que não têm uma religião que os defenda, têm a Deus como Pai (p 45).
"Ser compassivos como o Pai implica lutar contra o esquecimento das vítimas inocentes. Não é possível introduzir no mundo uma cultura da compaixão se não se refletir contra a cultura da amnésia e do esquecimento cruel de milhões de seres humanos que sofrem, vítimas do sistema que hoje conduz a história" (pp 46-47).
"O dinheiro, tendo sido inventado para tornar mais fácil o intercâmbio de bens, há de ser empregue, segundo Jesus, para facilitar a redistribuição, a solidariedade e a justiça fraterna. Só então começa o discípulo a estar em condições de seguir Jesus" (p 57).
"O lema do Governo é claro: «Sabemos o que temos de fazer e fá-lo-emos». Não há alternativa. Nada mais se tem em conta senão cumprir os objetivos económicos que nos são ditados pela troika: o Banco Central Europeu, a Comissão Europeia e o Fundo Monetário Internacional. As decisões estão nas mãos dos tecnocratas. O decisivo é atender às exigência do sistema financeiro internacional. A atividade política, que deveria defender os direitos das pessoas e o bem da sociedade, dilui-se convertendo-se em instrumento dos poderosos do dinheiro" (p 59).
"Era necessária uma 'regulamentação fiscal' que pressiona fortemente os assalariados, mas não toca nas grandes fortunas e oferece uma amnistia injusta aos prevaricadores? (p 60).
"A partir da defesa dos últimos e da vontade de compaixão responsável e solidária, temos de defender e promover a defesa do bem comum exigindo, cuidando e desenvolvendo serviços públicos que garantam as necessidades mais básicas. devemos reagir contra a privatização do individualismo, que nos pode fechar no nosso bem-estar egoísta, deixando indefesos os mais fracos.
Temos de recuperar a importância do que é de todos, a responsabilidade do cuidado de uns pelos outros, a defesa da família como lugar por excelência de relações gratuitas, a comunidade cristã como espaço de acolhimento e de mútuo apoio acolhedor e fraterno" (p 66).
Jesus "fala com autoridade porque fala a partir da verdade" (p 67).
"É um disparate de desumanidade que as três pessoas mais ricas do mundo possuam ativos superiores a toda a riqueza dos quarenta países mais pobres, onde vivem seiscentos milhões de pessoas" (p 75)
"... as tecnologias da comunicação e a mobilidade da política humana torna cada vez mais difícil manter ocultas a fome e a miséria dos empobrecidos do mundo e a destruição progressiva do planeta" (p 76).
in JOSÉ ANTONIO PAGOLA (2014). Jesus e o dinheiro.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Tabuaço: Festa das Bem-aventuranças

       sábado, 31 de maio, Eucaristia vespertina da Ascensão do Senhor, os SETE adolescentes do 7.º ano, a maioria inseridos no Grupo de Acólitos, celebraram a sua festa de catequese, as Bem-aventuranças. Algumas das imagens alusivas a esta festa. No final, a distribuição das Bem-aventuranças a toda a assembleia. Uma celebração muito luminosa, acentuando os laços que nos unem através da vivência das Bem-aventuranças:
Para ver as restantes fotos disponíveis,

quinta-feira, 29 de maio de 2014

ANSELM GRÜN - O Pai-Nosso, uma ajuda para a vida

ANSELM GRÜN (2009). O Pai-Nosso. Uma ajuda para a vida autêntica. Prior Velho: Paulinas Editora. 128 páginas
       Monge beneditino, formado em economia e teologia, alemão, Anselm Grün, através dos seus livros, conferências, procura testemunhar os tesouros da vida. É por muitos considerado um guia espiritual, reunindo grandes audiências. Este pequeno livro é mais um desses tesouros que nos dá vontade de o recomendar vivamente e de ler outros escritos deste autor, já temos mais dois títulos entre mãos.
       Grün percorre os diversos pedidos do Pai-nosso, baseando predominantemente no Evangelho de São Mateus, cuja versão desta oração a Igreja privilegiou. O autor interpreta o Pai-nosso a partir, ou enquadrando as 8 Bem-aventuranças. Estas, segundo ele, são a autêntica interpretação da Oração. A interpretação e a vivência de Jesus.
       Rezar o Pai-nosso implica reconhecer-nos filhos do mesmo Pai, do mesmo Deus, aproximando-nos de Jesus, porque rezamos como Ele rezou, com os mesmos sentimentos. Rezar juntos implica uma novo comportamento. A Oração aproxima-nos de Deus, que por sua vez, nos implica a procurar sentir, pensar, e agir como Ele. As Bem-aventuranças desafiam-nos ao despojamento diante dos bens materiais, numa grande confiança em Deus, mas simultaneamente a trabalhar pelo pão de cada dia, sabendo que Deus caminha connosco e nos apoia na luta contra o mal. Por outro lado, a oração leva-nos a imitar Jesus. Uma vez que a sua opção pelos mais frágeis foi o seu estilo, será também o nosso.
       Na parte final, Grün apresenta o Pai-nosso na versão de são Lucas, cuja oração ocupa o centro do Evangelho mas também o livro dos Atos dos Apóstolos. De uma forme acessível, o autor mostra como a oração é eficaz, no caminho que nos torna solidários uns com os outros, nos prepara para as adversidades e nos leva ao encontro do nosso íntimo, onde podemos ouvir a voz de Deus.
       A leitura desta profunda, mas clara, reflexão, vai por certo ajudar-nos a rezar melhor a sublime oração do Pai-nosso, tomando consciência da riqueza espiritual, mas também do compromisso inegável com os outros, que reconhecemos como irmãos desde logo quando reconhecemos que Deus é Pai Nosso, isto é, Pai de todos.