A terceira Carta Encíclica de Bento XVI empresta o título a este blogue. A Caridade na Verdade. Agora permanecem a fé, a esperança e a caridade, mas só esta entra na eternidade com Deus. Espaço pastoral de Tabuaço, Távora, Pinheiros e Carrazedo, de portas abertas para a Igreja e para o mundo...
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sábado, 16 de agosto de 2025
sexta-feira, 20 de outubro de 2023
sábado, 13 de agosto de 2022
terça-feira, 22 de março de 2022
quinta-feira, 25 de outubro de 2018
Eu vim trazer o fogo à terra...
Disse Jesus aos seus discípulos: «Eu vim trazer o fogo à terra e que quero Eu senão que ele se acenda? Tenho de receber um baptismo e estou ansioso até que ele se realize. Pensais que Eu vim estabelecer a paz na terra? Não. Eu vos digo que vim trazer a divisão. A partir de agora, estarão cinco divididos numa casa: três contra dois e dois contra três. Estarão divididos o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora contra a sogra» (Lc 12, 49-53).

As expressões do Evangelho de hoje, usadas por Jesus, e à primeira vista, colocam algumas dúvidas e integerrogações. Então Jesus não veio estabelecer a paz em toda a terra? Como é que sendo o Princípe da Paz, Ele vem para incendiar, para pôr mais achas na fogueira, para dividir?
Numa leitura atenta, não apenas ao Evangelho proposto, mas no contexto da vida de Jesus e da Sua mensagem, verificamos que o cristão, o seguidor de Jesus Cristo, não pode acomodar-se, instalar-se no seu conforto sem se comprometer com os outros. O cristão não renuncia aos seus valores para agradar ou para facilitar um determinado tipo de paz. O cristão não combate pessoas, mas deve combater por ideias, por convicções, ainda que por vezes incomode outras pessoas ou instituições.
A paz, mas não a paz a qualquer preço, a paz que se baseia no amor, na justiça, na verdade.
Quando as pessoas agem procurando a verdade e a justiça, a rectidão e a frontalidade, quando se guiam pela sua consciência (bem formada, esclarecida, aberta aos outros) e não se deixam arrastar pela correnteza da opinião geral, estão sujeitas a alguns dissabores, a enfrentar-se com outras opiniões e outras pessoas. Bem entendida a discussão é positiva, como diz o ditado, da discussão nasce a luz. Porém, a procura da verdade pode encontrar diversos obstáculos, porque expõe outros que vivem na mentira e na hipocrisia, e porque podem impedir outros mais de viverem a seu bel-prazer e à custa das ilusões que inculcam nos demais...
Quando as pessoas agem procurando a verdade e a justiça, a rectidão e a frontalidade, quando se guiam pela sua consciência (bem formada, esclarecida, aberta aos outros) e não se deixam arrastar pela correnteza da opinião geral, estão sujeitas a alguns dissabores, a enfrentar-se com outras opiniões e outras pessoas. Bem entendida a discussão é positiva, como diz o ditado, da discussão nasce a luz. Porém, a procura da verdade pode encontrar diversos obstáculos, porque expõe outros que vivem na mentira e na hipocrisia, e porque podem impedir outros mais de viverem a seu bel-prazer e à custa das ilusões que inculcam nos demais...
sexta-feira, 2 de junho de 2017
terça-feira, 16 de maio de 2017
Deixo-vos a minha paz, dou-vos a minha paz...
Paulo e Barnabé continuam em grande atividade missionária. Passam de uma a outra terra anunciando o Evangelho de Jesus Cristo, testemunhando-O com palavras mas também com gestos. Simultaneamente as dificuldades e as provações. Ora perseguidos, ora apedrejados, ora expulsos da cidade. O importante é perseverar em nome de Jesus Cristo, na certeza que Ele nos conduz à vida nova do Reino de Deus, não apenas no futuro mas desde já.
O encontro com Jesus ressuscitado provoca alegria e conduz ao testemunho firme. A fé, como o amor, quanto mais se partilha mais se aprofunda, se esclarece, amadurece. Um fé fechada, triste, vivida no isolamento, é uma fé condenada a morrer. A fé em Jesus Cristo leva ao encontro dos outros, transbordando em alegria o testemunho do encontro com o Mestre dos Mestres. Desde a conversão, São Paulo nunca mais cessou de testemunhar Jesus Cristo, independentemente das condições serem ou não favoráveis.
"Chegaram uns judeus de Antioquia e de Icónio, que aliciaram a multidão, apedrejaram Paulo e arrastaram-no para fora da cidade, dando-o por morto. Mas, tendo-se reunido os discípulos à sua volta, ele ergueu-se e entrou na cidade. No dia seguinte, partiu com Barnabé para Derbe. Depois de terem anunciado a boa nova a esta cidade e de terem feito numerosos discípulos, Paulo e Barnabé voltaram a Listra, a Icónio e a Antioquia. Iam fortalecendo as almas dos discípulos e exortavam-nos a permanecerem firmes na fé, «porque – diziam eles – temos de sofrer muitas tribulações para entrarmos no reino de Deus». Estabeleceram anciãos em cada Igreja, depois de terem feito orações acompanhadas de jejum, e encomendaram-nos ao Senhor em quem tinham acreditado. Atravessaram então a Pisídia e chegaram à Panfília. Depois anunciaram a palavra em Perga e desceram até Atalia. De lá navegaram para Antioquia, de onde tinham partido, confiados na graça de Deus, para a obra que acabavam de realizar. À chegada, convocaram a Igreja, contaram tudo o que Deus fizera com eles e como abrira aos gentios a porta da fé. Demoraram-se ali bastante tempo com os discípulos" (Atos 14, 19-28).
No Evangelho, as palavras de Jesus preparam-nos para o tempo em que Ele não estará nem Se fará sentir fisicamente:
Disse Jesus aos seus discípulos:
«Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como a dá o mundo. Não se perturbe nem intimide o vosso coração. Ouvistes que Eu vos disse: Vou partir, mas voltarei para junto de vós. Se Me amásseis, ficaríeis contentes por Eu ir para o Pai, porque o Pai é maior do que Eu. Disse-vo-lo agora, antes de acontecer, para que, quando acontecer, acrediteis. Já não falarei muito convosco, porque vai chegar o príncipe deste mundo. Ele nada pode contra Mim, mas é para que o mundo saiba que amo o Pai e faço como o Pai Me ordenou» (Jo 14, 27-31a).

A paz, como muitas vezes se refere, não é apenas, ou não há de ser apenas, a ausência de guerra, ainda que seja um objectivo. A paz brota do interior, de um coração em paz consigo, com os outros, com o mundo, em Deus. É esta a paz que Jesus vem trazer, uma paz comprometida com o outro, com a transformação do mundo. Um paz que se funda na caridade, que brota do amor, que conduz a Deus.
Neste sentido, paz não é mero deixar andar (“Laissez faire, laissez passer, lê monde va de lui même”- em tradução livre: deixa fazer, deixa passar, o mundo avança de qualquer jeito). A paz que Jesus nos dá é pro-ativa, exige de nós, compromete-nos, leva-nos à ação, a procurar o bem, a justiça, a verdade. Brota do amor. E o amor traduz-se em gestos concretos, em compromissos efetivos. Não precisamos de transformar o mundo inteiro, precisamos de harmonizar a nossa vida, com o amor de Deus, fazendo com que as nossas palavras e obras revelem alegria, esperança, amor, perdão, vida nova.
quarta-feira, 21 de setembro de 2016
BENTO XVI: Peregrinos da Verdade, Peregrinos da Paz
DISCURSO DO PAPA BENTO XVI
Assis, Basílica de Santa Maria dos Anjos
Quinta-feira, 27 de Outubro de 2011
Queridos irmãos e irmãs,
distintos Chefes e representantes das Igrejas
e Comunidades eclesiais e das religiões do mundo,
queridos amigos,
Passaram-se vinte e cinco anos desde quando pela primeira vez o beato Papa João Paulo II convidou representantes das religiões do mundo para uma oração pela paz em Assis. O que aconteceu desde então? Como se encontra hoje a causa da paz? Naquele momento, a grande ameaça para a paz no mundo provinha da divisão da terra em dois blocos contrapostos entre si. O símbolo saliente daquela divisão era o muro de Berlim que, atravessando a cidade, traçava a fronteira entre dois mundos. Em 1989, três anos depois do encontro em Assis, o muro caiu, sem derramamento de sangue. Inesperadamente, os enormes arsenais, que estavam por detrás do muro, deixaram de ter qualquer significado. Perderam a sua capacidade de aterrorizar. A vontade que tinham os povos de ser livres era mais forte que os arsenais da violência. A questão sobre as causas de tal derrocada é complexa e não pode encontrar uma resposta em simples fórmulas. Mas, ao lado dos factores económicos e políticos, a causa mais profunda de tal acontecimento é de carácter espiritual: por detrás do poder material, já não havia qualquer convicção espiritual. Enfim, a vontade de ser livre foi mais forte do que o medo face a uma violência que não tinha mais nenhuma cobertura espiritual. Sentimo-nos agradecidos por esta vitória da liberdade, que foi também e sobretudo uma vitória da paz. E é necessário acrescentar que, embora neste contexto não se tratasse somente, nem talvez primariamente, da liberdade de crer, também se tratava dela. Por isso, podemos de certo modo unir tudo isto também com a oração pela paz.
Mas, que aconteceu depois? Infelizmente, não podemos dizer que desde então a situação se caracterize por liberdade e paz. Embora a ameaça da grande guerra não se aviste no horizonte, todavia o mundo está, infelizmente, cheio de discórdias. E não é somente o facto de haver, em vários lugares, guerras que se reacendem repetidamente; a violência como tal está potencialmente sempre presente e caracteriza a condição do nosso mundo. A liberdade é um grande bem. Mas o mundo da liberdade revelou-se, em grande medida, sem orientação, e não poucos entendem, erradamente, a liberdade também como liberdade para a violência. A discórdia assume novas e assustadoras fisionomias e a luta pela paz deve-nos estimular a todos de um modo novo.
Procuremos identificar, mais de perto, as novas fisionomias da violência e da discórdia. Em grandes linhas, parece-me que é possível individuar duas tipologias diferentes de novas formas de violência, que são diametralmente opostas na sua motivação e, nos particulares, manifestam muitas variantes. Primeiramente temos o terrorismo, no qual, em vez de uma grande guerra, realizam-se ataques bem definidos que devem atingir pontos importantes do adversário, de modo destrutivo e sem nenhuma preocupação pelas vidas humanas inocentes, que acabam cruelmente ceifadas ou mutiladas. Aos olhos dos responsáveis, a grande causa da danificação do inimigo justifica qualquer forma de crueldade. É posto de lado tudo aquilo que era comummente reconhecido e sancionado como limite à violência no direito internacional. Sabemos que, frequentemente, o terrorismo tem uma motivação religiosa e que precisamente o carácter religioso dos ataques serve como justificação para esta crueldade monstruosa, que crê poder anular as regras do direito por causa do «bem» pretendido. Aqui a religião não está ao serviço da paz, mas da justificação da violência.
A crítica da religião, a partir do Iluminismo, alegou repetidamente que a religião seria causa de violência e assim fomentou a hostilidade contra as religiões. Que, no caso em questão, a religião motive de facto a violência é algo que, enquanto pessoas religiosas, nos deve preocupar profundamente. De modo mais subtil mas sempre cruel, vemos a religião como causa de violência também nas situações onde esta é exercida por defensores de uma religião contra os outros. O que os representantes das religiões congregados no ano 1986, em Assis, pretenderam dizer – e nós o repetimos com vigor e grande firmeza – era que esta não é a verdadeira natureza da religião. Ao contrário, é a sua deturpação e contribui para a sua destruição. Contra isso, objecta-se: Mas donde deduzis qual seja a verdadeira natureza da religião? A vossa pretensão por acaso não deriva do facto que se apagou entre vós a força da religião? E outros objectarão: Mas existe verdadeiramente uma natureza comum da religião, que se exprima em todas as religiões e, por conseguinte, seja válida para todas? Devemos enfrentar estas questões, se quisermos contrastar de modo realista e credível o recurso à violência por motivos religiosos. Aqui situa-se uma tarefa fundamental do diálogo inter-religioso, uma tarefa que deve ser novamente sublinhada por este encontro. Como cristão, quero dizer, neste momento: É verdade, na história, também se recorreu à violência em nome da fé cristã. Reconhecemo-lo, cheios de vergonha. Mas, sem sombra de dúvida, tratou-se de um uso abusivo da fé cristã, em contraste evidente com a sua verdadeira natureza. O Deus em quem nós, cristãos, acreditamos é o Criador e Pai de todos os homens, a partir do qual todas as pessoas são irmãos e irmãs entre si e constituem uma única família. A Cruz de Cristo é, para nós, o sinal daquele Deus que, no lugar da violência, coloca o sofrer com o outro e o amar com o outro. O seu nome é «Deus do amor e da paz» (2 Cor 13,11). É tarefa de todos aqueles que possuem alguma responsabilidade pela fé cristã, purificar continuamente a religião dos cristãos a partir do seu centro interior, para que – apesar da fraqueza do homem – seja verdadeiramente instrumento da paz de Deus no mundo.
Se hoje uma tipologia fundamental da violência tem motivação religiosa, colocando assim as religiões perante a questão da sua natureza e obrigando-nos a todos a uma purificação, há uma segunda tipologia de violência, de aspecto multiforme, que possui uma motivação exactamente oposta: é a consequência da ausência de Deus, da sua negação e da perda de humanidade que resulta disso. Como dissemos, os inimigos da religião vêem nela uma fonte primária de violência na história da humanidade e, consequentemente, pretendem o desaparecimento da religião. Mas o «não» a Deus produziu crueldade e uma violência sem medida, que foi possível só porque o homem deixara de reconhecer qualquer norma e juiz superior, mas tomava por norma somente a si mesmo. Os horrores dos campos de concentração mostram, com toda a clareza, as consequências da ausência de Deus.
Aqui, porém, não pretendo deter-me no ateísmo prescrito pelo Estado; queria, antes, falar da «decadência» do homem, em consequência da qual se realiza, de modo silencioso, e por conseguinte mais perigoso, uma alteração do clima espiritual. A adoração do dinheiro, do ter e do poder, revela-se uma contra-religião, na qual já não importa o homem, mas só o lucro pessoal. O desejo de felicidade degenera num anseio desenfreado e desumano como se manifesta, por exemplo, no domínio da droga com as suas formas diversas. Aí estão os grandes que com ela fazem os seus negócios, e depois tantos que acabam seduzidos e arruinados por ela tanto no corpo como na alma. A violência torna-se uma coisa normal e, em algumas partes do mundo, ameaça destruir a nossa juventude. Uma vez que a violência se torna uma coisa normal, a paz fica destruída e, nesta falta de paz, o homem destrói-se a si mesmo.
A ausência de Deus leva à decadência do homem e do humanismo. Mas, onde está Deus? Temos nós possibilidades de O conhecer e mostrar novamente à humanidade, para fundar uma verdadeira paz? Antes de mais nada, sintetizemos brevemente as nossas reflexões feitas até agora. Disse que existe uma concepção e um uso da religião através dos quais esta se torna fonte de violência, enquanto que a orientação do homem para Deus, vivida rectamente, é uma força de paz. Neste contexto, recordei a necessidade de diálogo e falei da purificação, sempre necessária, da vivência da religião. Por outro lado, afirmei que a negação de Deus corrompe o homem, priva-o de medidas e leva-o à violência.
Ao lado destas duas realidades, religião e anti-religião, existe, no mundo do agnosticismo em expansão, outra orientação de fundo: pessoas às quais não foi concedido o dom de poder crer e todavia procuram a verdade, estão à procura de Deus. Tais pessoas não se limitam a afirmar «Não existe nenhum Deus», mas elas sofrem devido à sua ausência e, procurando a verdade e o bem, estão, intimamente estão a caminho d’Ele. São «peregrinos da verdade, peregrinos da paz». Colocam questões tanto a uma parte como à outra. Aos ateus combativos, tiram-lhes aquela falsa certeza com que pretendem saber que não existe um Deus, e convidam-nos a tornar-se, em lugar de polémicos, pessoas à procura, que não perdem a esperança de que a verdade exista e que nós podemos e devemos viver em função dela. Mas, tais pessoas chamam em causa também os membros das religiões, para que não considerem Deus como uma propriedade que de tal modo lhes pertence que se sintam autorizados à violência contra os demais. Estas pessoas procuram a verdade, procuram o verdadeiro Deus, cuja imagem não raramente fica escondida nas religiões, devido ao modo como eventualmente são praticadas. Que os agnósticos não consigam encontrar a Deus depende também dos que crêem, com a sua imagem diminuída ou mesmo deturpada de Deus. Assim, a sua luta interior e o seu interrogar-se constituem para os que crêem também um apelo a purificarem a sua fé, para que Deus – o verdadeiro Deus – se torne acessível. Por isto mesmo, convidei representantes deste terceiro grupo para o nosso Encontro em Assis, que não reúne somente representantes de instituições religiosas. Trata-se de nos sentirmos juntos neste caminhar para a verdade, de nos comprometermos decisivamente pela dignidade do homem e de assumirmos juntos a causa da paz contra toda a espécie de violência que destrói o direito. Concluindo, queria assegura-vos de que a Igreja Católica não desistirá da luta contra a violência, do seu compromisso pela paz no mundo. Vivemos animados pelo desejo comum de ser «peregrinos da verdade, peregrinos da paz».
sábado, 13 de agosto de 2016
Domingo XX do Tempo Comum - ano C - 14 de agosto
1 – Seguir Jesus é a vocação primeira do cristão. Seguir e amar. Seguir Jesus, implica amá-l'O. Não podemos seguir quem não amamos. Não amamos para ficarmos de braços cruzados a ver se chove! Amando-O, acima de tudo, segui-l'O-emos em todos os momentos da vida. Amar e seguir Jesus implica-nos por inteiro, compromete-nos com a Sua Palavra, com o Seu mandamento de amor, de tal forma que a intimidade com o Pai, imitando-O, transpareça no cuidado e no serviço ao nosso semelhante.
Seguir Jesus acarreta riscos. Renunciar a si mesmo. Não à sua identidade mais profunda, mas ao que mais facilmente vem ao de cima. Renunciar à aparência. Renunciar ao egoísmo. Centrar a vida em Cristo, ocupando-se dos outros. Amar, cuidar, servir. Para encontrar Jesus em cada pessoa. Para se dar a Jesus, nos outros, como Jesus Se deu, por inteiro, a favor da humanidade. Por nós. Para nossa salvação. Mistério de vida nova. Morte e ressurreição. De braços abertos na cruz. Levantada para o céu, fixada na terra. Braços abertos para abraçar, acolher, envolver, desafiar, enviar. Hoje, os braços de Jesus são os meus e os teus, os nossos. Ele não tem outros braços nem outro olhar nem outro coração nem outro colo. É o meu e o teu, o nosso coração que ama e se dá. A nossa vida acolhida, partilhada, comungada, oferecida. Todo o dom é para dar!
Vai valer a pena. Com sacrifícios. Incompreensões. Contando com a maledicência. Vai valer a pena, pois Ele agirá em nós. Segui-l'O implica que, como Ele, abramos os braços e estendamos as mãos e demos ao pedal para procurarmos e encontramos os outros. Ele vem. Assume-Se um connosco, Um de nós. Vem e percorre o nosso caminho, a nossa vida. Experimenta a dor, o sofrimento, a calúnia, a perseguição, as ofensas, experimenta o suplício da cruz. Vive e enfrenta o medo da dor física e da iminência da morte. Confia-Se ao Pai. Entrega-Se por inteiro nas mãos do Pai. Confiando n'Ele, confia-nos a Ele. Por amor. Amor que vence o medo e a morte e as trevas, abrindo os céus por completo, em definitivo.
2 – «Eu vim trazer o fogo à terra e que quero Eu senão que ele se acenda? Tenho de receber um batismo e estou ansioso até que ele se realize. Pensais que Eu vim estabelecer a paz na terra? Não. Eu vos digo que vim trazer a divisão. A partir de agora, estarão cinco divididos numa casa: três contra dois e dois contra três. Estarão divididos o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora contra a sogra».
Dou-vos a paz, deixo-vos a paz. A paz que vos dou não é a paz do mundo.
As palavras de Jesus sublinham uma paz que brota do amor, da garra em viver a vida e viver em prol da justiça e da verdade. Obviamente que Jesus nos dá a paz. Ele é o nosso descanso, o Bom Pastor, que nos redime e nos congrega em um só rebanho. Mas a paz, como o amor, a verdade, a misericórdia, compromete-nos e desafia-nos. Não é passividade de quem cruza os braços a ver a maré passar. É luta e compromisso com o bem de todos. E quem luta por mais justiça, mais honestidade, mais verdade, sabe de antemão que vai encontrar resistências, obstáculos, contrariedades.
Quem não quer chatices cruza os braços e, qual avestruz, enterra a cabeça na areia para não ver. A paz de Jesus é fogo que interpela, que nos responsabiliza uns pelos outros e por toda a criação. A paz autêntica só será possível quando todos estiverem bem. Por um lado, realiza-se em definitivo na vida eterna. Por outro, é efetivada aqui e agora em dinâmica de serviço solidário, especialmente aos mais frágeis.
O batismo de Jesus (inicia no Jordão) completa-se na Cruz. Ele adentra-se no sofrimento humano, até ao limite das forças. De peito aberto às injúrias, blasfémias, aos insultos. Peito aberto para nos acolher, para Se nos oferecer. Morre "substituindo-nos" como oferenda definitiva ao Pai. Não que o Pai precise que Se aplaque a Sua ira, mas para que a Sua misericórdia seja clarificada para nós e possamos voltar à vida e à comunhão uns com os outros, em Deus. Morre connosco, para nos ressuscitar com Ele. É o Seu batismo definitivo no qual somos enxertados pelo nosso batismo, sacramento que nos faz morrer para o pecado e para a morte e nos faz ressuscitar, novas criaturas, para o bem e felicidade, para a comunhão reconciliada pela Seu amor.
3 – A primeira leitura traz-nos uma belíssima página sobre a vida e a missão de Jeremias. É um dos profetas maiores do judaísmo. E herança comum para judeus e cristãos. Um profeta que apela à interioridade, à conversão e a agir em conformidade com os mandamentos de Deus. De pouco ou nada vale fazer sacrifícios, oferecer holocaustos, se a vida não se modifica e se as injustiças e desonestidades continuam a ser o pão de cada dia.
Há que voltar o olhar, o coração e a vida para Deus e n'Ele procurar as forças, a sabedoria e a humildade para amar, servir, para congregar. As suas palavras inquietam e provocam, desafiam e denunciam os que estão à frente do povo, do rei aos líderes religiosos cujos intentos não é servir o povo, especialmente os pobres, mas servirem-se, explorarem, sem se incomodarem com o sofrimento alheio. As suas maquinações desagradam a Jeremias e bradam aos céus. E não já apenas as suas palavras, mas a sua vida é de tal forma luminosa que põe a descoberto a injustiça e a perversão do rei, dos seus conselheiros, dos líderes políticos e religiosos. Basta olhar para uns e outros e vê-se claramente o que os distingue. Para quem vive nas trevas, a luz é agressão!
Jeremias é uma pedra no sapato. É luz que expõe as trevas. É um adversário a abater.
Os ministros pedem ao rei que lhe dê a morte: «Esse Jeremias deve morrer, porque semeia o desânimo entre os combatentes que ficaram na cidade e também todo o povo com as palavras que diz. Este homem não procura o bem do povo, mas a sua perdição». O rei não se opõe: «Ele está nas vossas mãos; o rei não tem poder para vos contrariar». Faz-nos lembrar um episódio posterior, o de Pilatos. Lavo as mãos. Fazei como vos aprouver. Mas quem não age, por comodismo, também é responsável pelo mal realizado. A tal paz e passividade que não humanizam. Os ministros e seus sequazes prendem Jeremias e fazem-no descer a uma cisterna, onde morreria atolado no lodo, sem pão para comer.
Um estrangeiro, o etíope Ebed-Melc, intervém junto do rei denunciando os que fizeram mal a Jeremias, metendo juízo ao rei de quem obtém permissão para tirar o profeta da cisterna.
Os que lutam pela paz, pela justiça, pela verdade, sabem que podem ser injuriados, maltratados, perseguidos e mesmo mortos, como aconteceu com Martim Luther King, com Mahatma Gandhi, com Dom Óscar Romero, mas ainda assim não cedem à violência nem à injúria.
4 – O autor da Epístola aos Hebreus fala-nos da fé como um combate. Vem-nos à lembrança as palavras de São Paulo que caracteriza a sua vida e missão como um combate da fé, anunciando o Evangelho e vivendo de acordo com Jesus Cristo, em tudo, procurando que Ele seja tudo em todos.
O bom combate da fé, a perseverança, o compromisso com a verdade, conduz à Cruz. Deixando o pecado, fixemo-nos em Jesus que suportou a Cruz, por amor, mas agora vive na glória do Pai. Portanto, refere a carta aos Hebreus, "pensai n’Aquele que suportou contra Si tão grande hostilidade da parte dos pecadores, para não vos deixardes abater pelo desânimo. Vós ainda não resististes até ao sangue, na luta contra o pecado". Ainda estamos a caminho.
Não estamos sozinhos. É n'Ele que nos apoiamos. É Ele que nos atrai. Para a Cruz? Não, para a Misericórdia, para o bem, para o amor! Todavia, sabemos a priori que todo o compromisso exige esforço, sacrifício, renúncia e está sujeito ao sofrimento. Quem se sujeita a amar, sujeita-se a padecer.
Da Palavra de Deus, a certeza que Ele não nos abandona, antes nos sustenta. "Esperei no Senhor com toda a confiança e Ele atendeu-me. Ouviu o meu clamor e retirou-me do abismo e do lamaçal, assentou os meus pés na rocha e firmou os meus passos" (salmo).
Pe. Manuel Gonçalves
Textos para a Eucaristia (C): Jer 38, 4-6. 8-10; Sl 39 (40); Hebr 12, 1-4; Lc 12, 49-53.
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
A Arte da Alegria
Alguém falou no pecado da tristeza. Realmente, há pessoas tristes, desanimadas, desiludidas. Há no mundo de hoje uma espécie de doença, a de não se procurar a verdadeira alegria, ou procurá-la onde não está. O rosto é o espelho da alma, e a alegria, a grande mensageira do coração em paz.
Não achas que o mundo está com os lábios cerrados de mais? Que há poucas pessoas que podem ser consideradas cartaz do bom humor, modelos de alegria? Falta aos homens dos nossos dias o dom da verdadeira alegria, faltam lábios a transbordar sorrisos e rostos a vender felicidade.
A alegria está em vencer o egoísmo e a ganância. Está em sofrer com espírito de luta, mas com aceitação. A verdadeira alegria está na fraternidade.
Há mais alegria em dar que em receber. A alegria está nas boas amizades e no dever levado a sério. Está na vida condividida, no diálogo com Deus, no lar onde existe a verdadeira fé e o verdadeiro amor.
Já não se faz nada com emoção, com alegria e cordialidade. Vamos reagir. Sem alegria morre-se antecipadamente.
Que tipo de felicidade já experimentaste? Hoje tornaste alguém feliz?
BÁGGIO, António - Tudo transformar em cada amanhecer. Lisboa: Edições Paulistas, 1993
domingo, 8 de setembro de 2013
Papa Francisco - na Vigília de oração pela Paz
Palavras do Papa Francisco na Vigília de Oração pela Paz
Praça de São Pedro, no Vaticano
Sábado, 7 de setembro de 2013
Sábado, 7 de setembro de 2013
1 - «Deus viu que isso era bom» (Gn 1,12.18.21.25). A narração bíblica da origem do mundo e da humanidade nos fala de Deus que olha a criação, quase a contemplando, e repete uma e outra vez: isso é bom. Isso nos permite entrar no coração de Deus e recebermos a sua mensagem que procede precisamente do seu íntimo. Podemos nos perguntar: qual é o significado desta mensagem? O que diz esta mensagem para mim, para ti, para todos nós?
Simplesmente nos diz que o nosso mundo, no coração e na mente de Deus, é “casa de harmonia e de paz” e espaço onde todos podem encontrar o seu lugar e sentir-se “em casa”, porque é “isso é bom”. Toda a criação constitui um conjunto harmonioso, bom, mas os seres humanos em particular, criados à imagem e semelhança de Deus, formam uma única família, em que as relações estão marcadas por uma fraternidade real e não simplesmente de palavra: o outro e a outra são o irmão e a irmã que devemos amar, e a relação com Deus, que é amor, fidelidade, bondade, se reflete em todas as relações humanas e dá harmonia para toda a criação. O mundo de Deus é um mundo onde cada um se sente responsável pelo outro, pelo bem do outro. Esta noite, na reflexão, no jejum, na oração, cada um de nós, todos nós pensamos no profundo de nós mesmos: não é este o mundo que eu desejo? Não é este o mundo que todos levamos no coração? O mundo que queremos não é um mundo de harmonia e de paz, em nós mesmos, nas relações com os outros, nas famílias, nas cidades, nas e entre as nações? E a verdadeira liberdade para escolher entre os caminhos a serem percorridos neste mundo, não é precisamente aquela que está orientada pelo bem de todos e guiada pelo amor?
Mas perguntemo-nos agora: é este o mundo em que vivemos? A criação conserva a sua beleza que nos enche de admiração; ela continua a ser uma obra boa. Mas há também “violência, divisão, confronto, guerra”. Isto acontece quando o homem, vértice da criação, perde de vista o horizonte da bondade e da beleza, e se fecha no seu próprio egoísmo.
2 - Quando o homem pensa só em si mesmo, nos seus próprios interesses e se coloca no centro, quando se deixa fascinar pelos ídolos do domínio e do poder, quando se coloca no lugar de Deus, então deteriora todas as relações, arruína tudo; e abre a porta à violência, à indiferença, ao conflito. É justamente isso o que nos quer explicar o trecho do Gênesis em que se narra o pecado do ser humano: o homem entra em conflito consigo mesmo, percebe que está nu e se esconde porque sente medo (Gn 3, 10); sente medo do olhar de Deus; acusa a mulher, aquela que é carne da sua carne (v. 12); quebra a harmonia com a criação, chega a levantar a mão contra o seu irmão para matá-lo. Podemos dizer que da harmonia se passa à desarmonia? Não. Não existe a “desarmonia”: ou existe harmonia ou se cai no caos, onde há violência, desavença, confronto, medo…
É justamente nesse caos que Deus pergunta à consciência do homem: «Onde está o teu irmão Abel?». E Caim responde «Não sei. Acaso sou o guarda do meu irmão?» (Gn 4, 9). Esta pergunta também se dirige a nós, assim que também a nós fará bem perguntar:
- Acaso sou o guarda do meu irmão? Sim, tu és o guarda do teu irmão! Ser pessoa significa sermos guardas uns dos outros! Contudo, quando se quebra a harmonia, se produz uma metamorfose: o irmão que devíamos guardar e amar se transforma em adversário a combater, a suprimir. Quanta violência surge a partir deste momento, quantos conflitos, quantas guerras marcaram a nossa história! Basta ver o sofrimento de tantos irmãos e irmãs. Não se trata de algo conjuntural, mas a verdade é esta: em toda violência e em toda guerra fazemos Caim renascer. Todos nós! E ainda hoje prolongamos esta história de confronto entre irmãos, ainda hoje levantamos a mão contra quem é nosso irmão. Ainda hoje nos deixamos guiar pelos ídolos, pelo egoísmo, pelos nossos interesses; e esta atitude se faz mais aguda: aperfeiçoamos nossas armas, nossa consciência adormeceu, tornamos mais sutis as nossas razões para nos justificar. Como fosse uma coisa normal, continuamos a semear destruição, dor, morte! A violência e a guerra trazem somente morte, falam de morte! A violência e a guerra têm a linguagem da morte!
3. Neste ponto, me pergunto: É possível percorrer outro caminho? Podemos sair desta espiral de dor e de morte? Podemos aprender de novo a caminhar e percorrer o caminho da paz? Invocando a ajuda de Deus, sob o olhar materno da Salus Populi romani, Rainha da paz, quero responder: Sim, é possível para todos! Esta noite queria que de todos os cantos da terra gritássemos: Sim, é possível para todos! E mais ainda, queria que cada um de nós, desde o menor até o maior, inclusive aqueles que estão chamados a governar as nações, respondesse: – Sim queremos! A minha fé cristã me leva a olhar para a Cruz. Como eu queria que, por um momento, todos os homens e mulheres de boa vontade olhassem para a Cruz! Na cruz podemos ver a resposta de Deus: ali à violência não se respondeu com violência, à morte não se respondeu com a linguagem da morte. No silêncio da Cruz se cala o fragor das armas e fala a linguagem da reconciliação, do perdão, do diálogo, da paz. Queria pedir ao Senhor, nesta noite, que nós cristãos, os irmãos de outras religiões, todos os homens e mulheres de boa vontade gritassem com força: a violência e a guerra nunca são o caminho da paz!
Que cada um olhe dentro da própria consciência e escute a palavra que diz: sai dos teus interesses que atrofiam o teu coração, supera a indiferença para com o outro que torna o teu coração insensível, vence as tuas razões de morte e abre-te ao diálogo, à reconciliação: olha a dor do teu irmão e não acrescentes mais dor, segura a tua mão, reconstrói a harmonia perdida; e isso não com o confronto, mas com o encontro! Que acabe o barulho das armas! A guerra sempre significa o fracasso da paz, é sempre uma derrota para a humanidade.
Ressoem mais uma vez as palavras de Paulo VI: «Nunca mais uns contra os outros, não mais, nunca mais… Nunca mais a guerra, nunca mais a guerra! (Discurso às Nações Unidas, 4 de outubro de 1965: ASS 57 [1965], 881). «A paz se afirma somente com a paz; e a paz não separada dos deveres da justiça, mas alimentada pelo próprio sacrifício, pela clemência, pela misericórdia, pela caridade» (Mensagem para o Dia Mundial da Paz, de 1976: ASS 67 [1975], 671). Perdão, diálogo, reconciliação são as palavras da paz: na amada nação síria, no Oriente Médio, em todo o mundo! Rezemos pela reconciliação e pela paz, e nos tornemos todos, em todos os ambientes, em homens e mulheres de reconciliação e de paz. Amém.
FONTE: AQUI.
segunda-feira, 2 de setembro de 2013
Papa João XXIII - Hoje, somente hoje...
No texto do Evangelho proposto para esta segunda-feira da XXII Semana do Tempo Comum, são Lucas apresenta-nos Jesus na Sua visita a Nazaré. Depois de Se levantar para ler a Palavra de Deus e de Se sentar para a comentar, Jesus revela: "cumpriu-se HOJE mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir". Ontem ouvíamos este Decálogo nos momentos de reflexão da RFM, e que contém sugestões do bom Papa João XXIII sobre a serenidade, a construção da paz.
É no HOJE de Jesus que havemos de sintonizar a nossa vida. É HOJE que somos cristãos.
1. Somente hoje, procurarei viver o presente (em sentido positivo), sem querer resolver o problema da minha vida inteiramente de uma só vez.
2. Somente hoje, terei o máximo cuidado pelo meu aspecto: vestirei com sobriedade; não levantarei a voz; serei gentil nos modos; ninguém criticarei; não pretenderei melhorar ou disciplinar alguém, a não ser eu mesmo.
3. Somente hoje, serei feliz na certeza de que fui criado para ser feliz não só no outro mundo, mas também neste.
4. Somente hoje, adaptar-me-ei às circunstâncias, sem pretender que as circunstâncias se adaptem aos meus desejos.
5. Somente hoje, dedicarei dez minutos do meu tempo a uma boa leitura, lembrando que como o alimento é necessário para a vida do corpo, do mesmo modo a boa leitura é necessária para a vida da alma.
6. Somente hoje, realizarei uma boa acção e não o direi a ninguém.
7. Somente hoje, farei algo que não gosto de fazer, e se me sentir ofendido nos meus sentimentos, farei de modo que ninguém perceba.
8. Somente hoje, organizarei um programa: talvez não o siga exactamente, mas o organizarei. E tomarei cuidado com dois defeitos: a pressa e a indecisão.
9. Somente hoje, acreditarei firmemente, não obstante as aparências, que a boa providência de Deus se ocupa de mim como de ninguém no mundo.
10. Somente hoje, não temerei. De modo particular, não terei medo de desfrutar do que é bonito e de acreditar na bondade. Posso fazer, por doze horas, o que me espantaria se pensasse em ter que o fazer por toda a vida.
Conclusão: um propósito totalitário: "Quero ser bom, hoje, sempre, com todos".
FONTE: página Oficial do Vaticano.
quinta-feira, 29 de agosto de 2013
Papa FRANCISCO - Não há paz sem diálogo
Discurso do Papa Francisco a um grupo de estudantes e professores japoneses
Bom dia! Vê-se que entendem o italiano...
Saúdo-vos! Para mim esta visita é um prazer. Espero que esta viagem vos seja muito fecunda, pois conhecer outras pessoas e outras culturas nos faz sempre bem, nos faz crescer.
E por quê? Porque se nos isolarmos em nós mesmos, só teremos o que temos, não poderemos crescer culturalmente; mas se formos ao encontro de outras pessoas, culturas, modos de pensar e religiões, sairemos de nós e começaremos a aventura tão bonita chamada «diálogo».
O diálogo é muito importante para a nossa maturidade, pois no confronto com o outro, com as demais culturas, inclusive no confronto sadio com as outras religiões nós crescemos: crescemos e amadurecemos.
Sem dúvida, há um perigo: se no diálogo nos fecharmos e nos irarmos, poderemos contestar; é o perigo da altercação, e isto não está bem, porque dialogamos para nos encontrarmos, não para impugnar.
E qual é a atitude mais profunda que devemos ter para dialogar e não altercar? A mansidão, a capacidade de encontrar as pessoas, de encontrar as culturas com a paz; a capacidade de fazer perguntas inteligentes: «Mas por que pensas assim? Por que esta cultura é assim?». Ouvir o próximo e depois falar. Primeiro ouvir, depois falar. Tudo isto é mansidão. Se tu não pensas como eu — sabes... penso de outro modo, não me convences — mas somos amigos à mesma; ouvi como tu pensas e tu ouviste como eu penso.
E sabeis algo, algo importante? É este diálogo que faz a paz. Não se pode ter paz sem diálogo. Todas as guerras e lutas, todos os problemas insolúveis, com os quais nos confrontamos existem devido à falta de diálogo. Quando existe um problema, dialogo: isto leva à paz. É isto que desejo a vós nesta viagem de diálogo: que saibais dialogar; como pensa esta cultura, como isto é bonito, não gosto disto, mas dialogando. Assim crescemos. Desejo-vos isto, e uma boa viagem em Roma. Desejo o melhor para vós, para a vossa escola, para as vossas famílias. Deus abençoe todos vós. Obrigado!
Saúdo-vos! Para mim esta visita é um prazer. Espero que esta viagem vos seja muito fecunda, pois conhecer outras pessoas e outras culturas nos faz sempre bem, nos faz crescer.
E por quê? Porque se nos isolarmos em nós mesmos, só teremos o que temos, não poderemos crescer culturalmente; mas se formos ao encontro de outras pessoas, culturas, modos de pensar e religiões, sairemos de nós e começaremos a aventura tão bonita chamada «diálogo».
O diálogo é muito importante para a nossa maturidade, pois no confronto com o outro, com as demais culturas, inclusive no confronto sadio com as outras religiões nós crescemos: crescemos e amadurecemos.
Sem dúvida, há um perigo: se no diálogo nos fecharmos e nos irarmos, poderemos contestar; é o perigo da altercação, e isto não está bem, porque dialogamos para nos encontrarmos, não para impugnar.
E qual é a atitude mais profunda que devemos ter para dialogar e não altercar? A mansidão, a capacidade de encontrar as pessoas, de encontrar as culturas com a paz; a capacidade de fazer perguntas inteligentes: «Mas por que pensas assim? Por que esta cultura é assim?». Ouvir o próximo e depois falar. Primeiro ouvir, depois falar. Tudo isto é mansidão. Se tu não pensas como eu — sabes... penso de outro modo, não me convences — mas somos amigos à mesma; ouvi como tu pensas e tu ouviste como eu penso.
E sabeis algo, algo importante? É este diálogo que faz a paz. Não se pode ter paz sem diálogo. Todas as guerras e lutas, todos os problemas insolúveis, com os quais nos confrontamos existem devido à falta de diálogo. Quando existe um problema, dialogo: isto leva à paz. É isto que desejo a vós nesta viagem de diálogo: que saibais dialogar; como pensa esta cultura, como isto é bonito, não gosto disto, mas dialogando. Assim crescemos. Desejo-vos isto, e uma boa viagem em Roma. Desejo o melhor para vós, para a vossa escola, para as vossas famílias. Deus abençoe todos vós. Obrigado!
Pátio de São Dâmaso, Quarta-feira, 21 de Agosto de 2013
FONTE: aqui.
sábado, 17 de agosto de 2013
XX Domingo do Tempo Comum - ano C - 18 de agosto
1 – De que é que precisamos para nos sentirmos realizados? O que é mais importante no nosso dia-a-dia? O que é imprescindível para sermos felizes e nos considerarmos pessoas?
Ao longo dos últimos domingos, Jesus tem exposto as prioridades para o discipulado. O essencial para nos inserirmos no Seu projeto, e consequentemente, num caminho que nos guie para uma felicidade duradoura, dignificante, e verdadeiramente humana, dentro do Reino de Deus, é a fé, a caridade, ou a fé que se concretiza e traduz pelo serviço, pela partilha, pela conciliação, dando primazia aos bens espirituais, colocando Deus em primeiro lugar para n’Ele descobrimos os outros como irmãos, acolhendo sobretudo os mais frágeis.
Ele próprio assume esta opção preferencial, como inclusão de todos, para que os excluídos sejam incluídos, para que os pobres tenham instrumentos para um trabalho honesto e as condições para viver dignamente, para que todos os que são descriminados pela raça, pela religião, pelo género, sejam assumidos como filhos de Deus. Ouvíamos as palavras inequívocas de Jesus: acolher Deus como tesouro e n'Ele colocar o nosso coração, a nossa vida. Quem se sente salvo por Deus, em Jesus Cristo, pelo Espírito Santo, não poderá deixar de testemunhar com alegria, procurando que outros se deixem contagiar por este AMOR, esta PRESENÇA, na certeza que o dom da fé só o é verdadeiramente se nos compromete na caridade. O DOM (recebido) é para ser dado (e não retido ou usurpado).
2 – Jesus traz-nos Deus. Ele mesmo é Deus, Filho Bem-amado, assumindo-nos como irmãos. Traz-nos a eternidade. É PORTA que torna acessível o Coração de Deus para cada um de nós. É o Príncipe da Paz. O seu messianismo assenta na graça de Deus, no amor sem limites para a redenção de todos os pecadores. Os pilares do Seu reino são o amor, a justiça e a paz.
Curiosamente, as palavras do Evangelho para este domingo parecem apontar noutro sentido:
«Eu vim trazer o fogo à terra e que quero Eu senão que ele se acenda? Tenho de receber um baptismo e estou ansioso até que ele se realize. Pensais que Eu vim estabelecer a paz na terra? Não. Eu vos digo que vim trazer a divisão. A partir de agora, estarão cinco divididos numa casa: três contra dois e dois contra três. Estarão divididos o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora contra a sogra».
Aparentemente, Jesus traz a divisão, o conflito, o fogo. Voltemos a ler o evangelho. Neste e noutros ambientes, Jesus assume as dificuldades em propagar o Evangelho, a verdade, na denúncia da hipocrisia, da falsidade, do abuso do poder civil e religioso, relevando a priorização do serviço, em todas as dimensões da vida social, política e religiosa. As suas palavras geram respostas diferentes. Aqui e além são alimento que salva, mas também geradoras de discussões, de irritação e revolta. Desde o início, na Sinagoga de Nazaré, a terra em que foi criado, que Jesus experimenta variadas reações, destacando-se a incredulidade de muitos e a vontade de O expulsarem da sinagoga e da cidade, querendo mesmo precipitá-l'O do alto da colina. Mais à frente há de dar contas da Sua postura, com injúrias, acusações, com a prisão, os açoites e a morte.
«Deixo-vos a paz; dou-vos a minha paz. Não é como a dá o mundo, que Eu vo-la dou. Não se perturbe o vosso coração nem se acobarde» (Jo 14, 27). Ele vem para nos redimir, chamando-nos a dar o melhor de nós, a darmos Deus aos outros. Isto é algo que inquieta, que perturba, que não nos pode deixar sossegados no nosso canto, com as nossas coisas, na nossa capelinha, achando que já fazemos mais do que nos é pedido. Em Cristo, tudo o que fizermos é pouco. Somos servos inúteis se fizermos o que nos compete. É a nossa vida. A nossa salvação. O que nos inquieta é também o que nos traz a paz de Jesus. Paz comprometida com os outros, pró-ativa, ao jeito de Maria, na atenção cuidada às necessidades alheias, respondendo mesmo antes de nos ser solicitado.
3 – A prossecução deste desiderato pode trazer-nos dissabores, incompreensões, e por vezes até insegurança e desânimo. Nem tudo correrá como esperado. Acontece com Jesus. Também Ele sente a incompreensão, a começar por aqueles que tinham maior obrigação de compreender, de acolher e de O seguir. Os Apóstolos, sempre que detetam o perigo, escondem-se atrás d’Ele, ou desviam-se do caminho, mantêm-se à distância e fogem, negam, fecham-se em casa.
Hoje como ontem. Com Jesus como no tempo dos profetas. Remar contra a maré não é fácil. Muito mais fácil é desistir, deixar-nos ir na corrente, até onde nos levar. Perder-nos-emos, a corrente levar-nos-á a outros destinos; tornar-nos-emos vítimas das circunstâncias. Conduzir-nos-ão por atalhos, talvez mais fáceis, talvez libertos de ondas e tempestades, mas será a vida dos outros não a nossa vida, não a nossa felicidade. Esta conquista-se, vive-se, com o nosso esforço e dedicação, com os nossos fracassos e desencontros, na descoberta da verdade que liberta e da caridade que preenche a alma.
Jeremias, na primeira leitura, experimenta a perseguição, a calúnia, a tortura, a ameaça de morte. Chamado e enviado por Deus, a Sua palavra é fogo, é como espada de dois gumes, que denuncia a prepotência, os desvios dos mandamentos, a idolatria, o poder abusivo do rei, contrapondo com a vontade de Deus. O rei é também ungido do Senhor, por conseguinte deverá servir não os propósitos pessoais, mas o povo de Deus, promovendo a inclusão de todos, sobretudo os mais desfavorecidos. “Os ministros disseram ao rei de Judá: «Esse Jeremias deve morrer, porque semeia o desânimo entre os combatentes que ficaram na cidade e também todo o povo com as palavras que diz. Este homem não procura o bem do povo, mas a sua perdição». O próprio rei se deixa levar pela corrente. Não contrapõe. Fazei o que quiserdes. Lembra Pilatos. Daqui lavo as minhas mãos, é lá convosco.
Eis que surge alguém com vida própria, com convicções, um estrangeiro, etíope, Ebed-Melec, que chama o rei à razão: «Ó rei, meu senhor, esses homens procederam muito mal tratando assim o profeta Jeremias: meteram-no na cisterna, onde vai morrer de fome, pois já não há pão na cidade». O rei altera o mal feito: «Leva daqui contigo três homens e retira da cisterna o profeta Jeremias, antes que ele morra». Não embarquemos nas tendências gerais, pelo menos, sem refletirmos seriamente.
4 – Na convocação do Ano da Fé, Bento XVI, na Carta Porta da Fé, diz-nos que “será decisivo repassar, durante este Ano, a história da nossa fé, que faz ver o mistério insondável da santidade entrelaçada com o pecado. Enquanto a primeira põe em evidência a grande contribuição que homens e mulheres prestaram para o crescimento e o progresso da comunidade com o testemunho da sua vida, o segundo deve provocar em todos uma sincera e contínua obra de conversão para experimentar a misericórdia do Pai, que vem ao encontro de todos”.
4 – Na convocação do Ano da Fé, Bento XVI, na Carta Porta da Fé, diz-nos que “será decisivo repassar, durante este Ano, a história da nossa fé, que faz ver o mistério insondável da santidade entrelaçada com o pecado. Enquanto a primeira põe em evidência a grande contribuição que homens e mulheres prestaram para o crescimento e o progresso da comunidade com o testemunho da sua vida, o segundo deve provocar em todos uma sincera e contínua obra de conversão para experimentar a misericórdia do Pai, que vem ao encontro de todos”.
Acolha-se o testemunho de homens e mulheres que se tornaram boas notícias para os seus coetâneos, deixando-se transformar e transportar pela fé. Olhar fixo em Jesus Cristo. Pela fé, a Virgem Maria acolheu o desafio de Deus e colocou-Se a caminho; os Apóstolos deixaram tudo para O seguir; os discípulos formaram as primeiras comunidades; pela fé, o testemunho dos mártires e de tantos homens e mulheres que se consagraram na docilidade do Espírito; tantos cristãos se comprometeram e comprometem com a justiça social; pela fé, tantos e tantas que nos legaram a alegria de seguir Jesus, ilustrando a beleza do Evangelho. “Pela fé, diz-nos Bento XVI, vivemos também nós, reconhecendo o Senhor Jesus vivo e presente na nossa vida e na história”.
É também esta dinâmica em que se insere na Carta aos Hebreus:
“Estando nós rodeados de tão grande número de testemunhas, ponhamos de parte todo o fardo e pecado que nos cerca e corramos com perseverança para o combate que se apresenta diante de nós, fixando os olhos em Jesus, guia da nossa fé e autor da sua perfeição. Renunciando à alegria que tinha ao seu alcance, Ele suportou a cruz, desprezando a sua ignomínia, e está sentado à direita do trono de Deus. Pensai n’Aquele que suportou contra Si tão grande hostilidade da parte dos pecadores, para não vos deixardes abater pelo desânimo”.
5 – Questionemo-nos de novo: o que verdadeiramente nos faz felizes? O dinheiro? Os bens materiais? Sermos melhores que os outros? A amizade? A família? Os afetos? O bem que fazemos? A imagem que os outros têm de nós? O que é que nos dignifica? O nome e a honra que impusemos? A verdade da nossa vida? A honestidade? O que vale mais, o mundo inteiro a nossos pés ou o trabalho honesto e dedicado e a ajuda que prestamos aos outros? Em que situações nos sentimos melhor? Como perguntava o Papa Francisco, no Brasil, em que pessoas nos miramos? Em Pilatos que lava as mãos e se coloca em atitude de indiferença? Ou em Maria que se apressa para casa de Isabel e em Caná intervém vigorosa junto de Jesus?
Textos para a Eucaristia (ano C): Jer 38, 4-6.8-10; Hebr 12, 1-4; Lc 12, 49-53.
Reflexão Dominical na página da Paróquia de Tabuaço.
quarta-feira, 10 de abril de 2013
Carminho: desafios juvenis à Igreja?
“Que desafios as culturas juvenis colocam à Igreja?”
Inspirada pelas palavras de Bento XVI sou devolvida à pergunta com a certeza de um ponto de partida: Existem inúmeras e cada vez mais culturas juvenis. São uma pluralidade de existências e urgem por se fazer ouvir e respeitar. Somos todos muito diferentes mas somos paralelamente diferentes, igualmente descobridores do mundo, do saber, da beleza, do ser-se mais. Acresce a dificuldade de apaziguar, compreender e responder, proporcionalmente ao crescimento da diversidade, da criatividade e de um mundo “multiverso”. Os desafios surgem como consequência da corrente deste Rio que corre veloz mas nem sempre para a mesma foz.
Inspirada pelas palavras de Bento XVI sou devolvida à pergunta com a certeza de um ponto de partida: Existem inúmeras e cada vez mais culturas juvenis. São uma pluralidade de existências e urgem por se fazer ouvir e respeitar. Somos todos muito diferentes mas somos paralelamente diferentes, igualmente descobridores do mundo, do saber, da beleza, do ser-se mais. Acresce a dificuldade de apaziguar, compreender e responder, proporcionalmente ao crescimento da diversidade, da criatividade e de um mundo “multiverso”. Os desafios surgem como consequência da corrente deste Rio que corre veloz mas nem sempre para a mesma foz.
Desafiar alguém a escutar é como ser a cigarra que manda a formiga trabalhar mas na verdade esse é um ponto fundamental do começo. Ouvir todas estas vozes que sonham, que duvidam, que propõem. Conhecer através dos testemunhos, as culturas juvenis que o mundo tem hoje. Na verdade temos de nos ouvir uns aos outros pois a Igreja vem de dentro.
O respeito pela diferença tem também um papel central na construção de condições para a aproximação dos jovens à sua experiência espiritual pois estas podem ser distintas mas igualmente frutificantes.
Assim podemos desconstruir as turvas visões e recrear junto dos mestres do nosso tempo, um caminho livre, de bem e de verdade.
Ouvindo e aceitando, voltamo-nos para um centro.
O centro está no início. É esse, para mim, o grande desafio: Voltar ao início. Desfazer algumas heras que vão nascendo com o tempo e que se atam às nossas sandálias com calma, crescendo silenciosas e acomodando o andar. Essas que com o tempo nos impedem de contemplar o caminhar e saber aonde vamos.
Em acréscimo, vivemos hoje num tempo de crise económica, de valores, de sonhos. É preciso voltar ao entusiasmo da simplicidade do início: Jesus. Voltar a uma proposta concreta, exigente mas entusiasmante, inspiradora, que a todos aceita e que a todos toca. Uma proposta que assenta nos valores básicos de humanidade, do respeito mútuo e da paz.
Essa proposta de mudança que começamos também agora a testemunhar com o Papa Francisco, que me enche de esperança, que sugere uma atualidade numa Igreja para todos.
Que os desafios que as culturas juvenis colocam à igreja sejam também desafios colocados às culturas juvenis.
Este texto integra o número 19 do "Observatório da Cultura" (abril 2013).
Carminho
domingo, 17 de fevereiro de 2013
terça-feira, 20 de novembro de 2012
sábado, 22 de setembro de 2012
XXV Domingo do tempo Comum - ano B - 23 de setembro
1 – O anúncio da Cruz é uma evidência na vida de Jesus. Para os cristãos, o anúncio e a identificação com a Cruz de Jesus Cristo é um projeto de vida, a sua maneira de ser.
Depois da confissão de fé de Pedro – “Tu és o Messias” –, o anúncio progressivo, mas sem recuos, dos sofrimentos que o Mestre vai enfrentar. Em constante movimento, Jesus anuncia tempos novos, o reino de Deus em ebulição. São Marcos mostra que o Messias, o Ungido do Senhor, é verdadeiro Homem, com sentimentos e emoções, com necessidades (de comer, de beber, de descansar, de ser ouvido) e com sonhos (revolucionar a mente e sobretudo o coração das pessoas), atento a todos, fixando o Seu olhar nas pessoas mais frágeis, naquelas que se apresentam fatigadas, desiludidas, marginalizadas, sem esperança e sem futuro. Ele acolhe, desafia, compreende, ama, perdoa, cura, revoluciona a partir do interior.
Chegados ao meio do evangelho de Marcos, o caminho do sucesso e da fama, que se vinha a espalhar e a consolidar, dá lugar rapidamente à desilusão (por parte dos discípulos), e ao abandono. O messianismo esperado pelo povo, e pelos discípulos, é político, imposto pela força, com um vendaval de violência e morte, e traduzir-se-ia pela substituição do poder imperial e colonizador por um poder nacional e religioso.
É neste sentido que vemos Pedro a repreender Jesus por Ele anunciar o fracasso (humano e visível): «O Filho do homem vai ser entregue às mãos dos homens, que vão matá-l’O; mas Ele, três dias depois de morto, ressuscitará».
A visão de Pedro, e dos demais apóstolos, corresponde à tentação de Satanás: o reino de Deus será do poder, de domínio e de violência sobre os outros. Daí a expressão contundente de Jesus: Afasta-te de mim Satanás. O caminho é outro.
2 – A Cruz é símbolo da entrega total, dádiva por inteiro da Sua vida a favor de todo o povo. É necessário que UM morra por todos. É consequência lógica da Sua vida. Não é um momento. Não se trata de desprezar a VIDA, como dom, mas de recusar o egoísmo e todas as formas de vida que signifiquem destruição dos outros.
Jesus coloca-Se do lado do pedinte, do órfão e da viúva, do estrangeiro e do perseguido, do pobre e do doente, coloca-Se do lado dos mais frágeis. Segue o caminho da Cruz como serviço. A Cruz não vale e não serve por si mesmo. O cristão acolhe a vida como dádiva, protege-a, ama-a e celebra-a; vida que se partilha e se aprofunda na relação com o próximo. Em Jesus, a Cruz é o desembocar de um caminho permanente de fidelidade a Deus e aos homens. Quem assume a defesa dos mais pobres, cedo sofrerá o desprezo e a perseguição dos mais fortes, dos que vivem pela violência. Jesus sabe isto. Não o esconde. Não faz campanha. Não diplomatiza para ter mais seguidores. Não disfarça o desfecho que se irá impor. Anuncia a paixão, a perseguição, sob o poder das autoridades, incomodando com as palavras mas muito mais com o Seu jeito de viver, de se relacionar, de servir.
Para Jesus, dar a outra face, deixar-se machucar, é mais humano do que agredir, morrer é muito mais humano do que matar. Ao egoísmo contrapõe o serviço, o amor e o perdão. Ao poder contrapõe a humildade: «Quem quiser ser o primeiro será o último de todos e o servo de todos». E, tomando uma criança, colocou-a no meio deles, abraçou-a e disse-lhes: «Quem receber uma destas crianças em meu nome é a Mim que recebe; e quem Me receber não Me recebe a Mim, mas Àquele que Me enviou».
3 – As palavras da Sabedoria são clarificadoras sobre o justo e a forma como denuncia o mal e os poderosos instalados em seus palácios e a viver à custa do povo.
“Disseram os ímpios: «Armemos ciladas ao justo, porque nos incomoda e se opõe às nossas obras; censura-nos as transgressões à lei e repreende-nos as faltas de educação. Vejamos se as suas palavras são verdadeiras, observemos como é a sua morte. Porque, se o justo é filho de Deus, Deus o protegerá e o livrará das mãos dos seus adversários».
O justo não procura aniquilar-se, não parte em busca de problemas, ou provocando os outros para a guerra. No entanto, a sua existência é já um atentado a quem pratica declaradamente o mal. Se todos passam indiferentes às injustiças, sobretudo aqueles que pelo seu ofício ou relevância social e religiosa deveriam proteger os mais fragilizados, ou se vivem na mesma corrente de pecado, às tantas até parece que só há um caminho, ou é a forma mais certa de se viver, pois se todos vivem assim! Ora o justo é provocador pelas palavras, denunciando, e muito pela vida de retidão, de justiça e de verdade.
Quando faltam razões ou vontade para mudar de vida, a melhor maneira, para acabar com o incómodo de quem perturba o nosso descanso e o nosso cinismo, é acabar com a reputação e vida desses que tais, expondo, levantando falsos testemunhos, perseguindo, usando da violência. Foi assim que muitos profetas foram exilados, vitimados pelo boato e pela maledicência, e mortos. É a sorte dos justos. Será o desenlace da escolha de Jesus.
4 – “Como Eu vos fiz, fazei-o vós também”. Estas são as palavras de Jesus quando se coloca de joelhos diante dos apóstolos para lhes lavar os pés, consagrando o serviço como única forma de chegar perto de Deus. Ele que era Mestre e Senhor não Se valeu da Sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se, tornou-Se servo, humilhou-Se em obediência até à morte, até à cruz, como se reza e poetisa na Epístola aos Filipenses. Ele não vem para ser servido, mas para servir e dar a vida pela vida de muitos.
Pode até doer, levar-nos à Cruz, mas não há outro caminho que nos leve a Deus que não seja o da caridade, do serviço, da verdade, do perdão (ainda e sempre expressão da caridade). O cristão ama a vida que Deus lhe dá em abundância. A vida em qualidade não dispensa o convívio, a festa com os outros, a "ligação" aos demais. Só há luz em nós se estivermos ligados à corrente. A corrente é o Espírito de Deus em nós, que Se torna mais luminosa e consistente se ligada aos outros. Não nos salvamos sozinhos. Não seguimos pela estrada de ninguém. A nossa estrada é aberta para que possamos seguir juntos.
A Cruz guia-nos pela caridade, pela paz, pela justiça.
Pelo contrário, como insiste São Tiago,
“onde há inveja e rivalidade, também há desordem e toda a espécie de más ações. Mas a sabedoria que vem do alto é pura, pacífica, compreensiva e generosa, cheia de misericórdia e de boas obras, imparcial e sem hipocrisia. O fruto da justiça semeia-se na paz para aqueles que praticam a paz... Cobiçais e nada conseguis: então assassinais. Sois invejosos e não podeis obter nada: então entrais em conflitos e guerras. Nada tendes, porque nada pedis. Pedis e não recebeis, porque pedis mal, pois o que pedis é para satisfazer as vossas paixões”.
Voltemos a ler este pedaço da Epístola. À inveja, ao egoísmo, à injustiça, à guerra, opõe-se como purificação e cura o serviço, o amor, o diálogo, o perdão, e a oração, para que a corrente de Deus nos mantenha vigilantes e atentos e prontos para nos ajudarmos.
A lógica do reino de Deus é a lógica que leva à CRUZ, quem quiser ser o primeiro de todos seja o servo de todos.
Textos para a Eucaristia (ano B): Sab 2, 12.17-20; Tg 3, 16 – 4, 3; Mc 9, 30-37.
Reflexão Dominical na página da Paróquia de Tabuaço
terça-feira, 18 de setembro de 2012
domingo, 1 de janeiro de 2012
SANTA MARIA, MÃE DE DEUS, RAINHA DA PAZ
1. Oito dias depois da Solenidade do Natal do Senhor, que a liturgia oriental designa significativamente por «a Páscoa do Natal», eis-nos no Primeiro Dia do Ano Civil de 2012, tradicionalmente designado como Dia de «Ano Bom», a celebrar a Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus.
2. Afigura que enche este Dia, e que motiva a nossa Alegria, é, portanto, a figura de Maria, na sua fisionomia mais alta, a de Mãe de Deus, como foi solenemente proclamada no Concílio de Éfeso, em 431, mas já assim luminosamente desenhada nas páginas do Novo Testamento.
3. É assim que a encontramos no Leccionário de hoje. Desde logo naquela menção sóbria, e ousamos mesmo dizer pobre, com que Paulo se refere à Mãe de Jesus, escrevendo aos Gálatas: «Deus mandou o seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei» (Gálatas 4,4). Nesta linha breve e densa aparece compendiado o mistério da Incarnação, ao mesmo tempo que se sente já pulsar o coração da Mariologia: Maria não é grande em si mesma; é, na verdade, uma «mulher», verdadeiramente nossa irmã na sua condição de humana criatura. Não é grande em si mesma, mas é grande por ser a Mãe do Filho de Deus, e é aqui que ela nos ultrapassa, imaculada por graça, bem-aventurada, nossa mãe na fé e na esperança. Maria não é grande em si mesma; vem-lhe de Deus essa grandeza.
4. O Evangelho deste Dia de Maria guarda também uma preciosidade, quando Lucas nos diz que «todos os que tinham escutado as coisas faladas pelos pastores ficaram maravilhados, mas Maria GUARDAVA (synetêrei) todas estas Palavras que aconteceram (tà rhêmata), COMPONDO-as (symbállousa) no seu coração» (Lucas 2,18-19). Em contraponto com o espanto de todos os que ouviram as palavras dos pastores, Lucas pinta um quadro mariano de extraordinária beleza: «Maria, ao contrário, GUARDAVA todas estas Palavras que aconteceram, COMPONDO-as no seu coração». Há o espanto e a maravilha que se exprimem no louvor e no canto, e há o espanto e a maravilha que se exprimem no silêncio e na escuta. Maria, a Senhora deste Dia, aparece a GUARDAR com premura todas estas Palavras que acontecem, todos estes acontecimentos que falam e não esquecem. O verbo GUARDAR implica atenção premurosa, como quem leva nas suas mãos uma coisa preciosa. Este GUARDAR atencioso e carinhoso não é um acto de um momento, mas a atitude de uma vida, uma vez que o verbo grego está no imperfeito, que implica duração. O outro verbo belo mostra-nos Maria como que a COMPOR, isto é, a «pôr em conjunto» (symbállô), a organizar, para melhor entender. É como quem com aquelas Palavras COMPÕE um Poema, uma Sinfonia, e se entretém a vida toda a trautear essa melodia e a conjugar novos acordes de alegria.
5. Esta solicitude maternal de Maria, habitada por esta imensa melodia que nos vem de Deus, levou o Papa Paulo VI, a associar, desde 1968, à Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, a celebração do Dia Mundial da Paz. Hoje é já o 45.º Dia Mundial da Paz que se celebra, e o Papa Bento XVI apôs-lhe o tema «Educar os jovens para a justiça e a paz». Na sua Mensagem para este Dia, Bento XVI desafia os jovens a adoptarem a atitude da sentinela que ansiosamente espera pela aurora (Salmo 130,6), e a manterem os olhos levantados para os montes, para o alto, pois é de Deus que vem a salvação (Salmo 121,1). Diz-lhes ainda, olhos nos olhos, que levantem bem alto os seus ideais, e não se deixem atolar no lamaçal desta «noite do mundo», em que tudo aparece sem rosto e sem rumo. Que abram os olhos, dêem asas aos seus sonhos belos, dêem as mãos e tenham a coragem de começar a fazer, ser pioneiros. Que não se fechem no mundo egocêntrico e egolátrico da hipertrofia do «eu» que pensa que se basta a si mesmo, e não precisa de nada nem de ninguém. Contra a sedução das ideologias, que não salvam ninguém, de reduzir o mundo a três dimensões – comprimento, largura e altura –, anulando o horizonte de Deus, Bento XVI exorta ainda a família, a escola, a política, os media a remarem juntos para construir novas atitudes e novas relações estáveis e felizes, assentes na gratuidade, na fraternidade e no amor, novos cenários que proporcionem que chegue a todos os homens o mundo belo que Deus a todos reparte dia após dia. E lembra que educar, na sua etimologia latina, de educere, significa, não levar para dentro de qualquer prisão do «eu» ou outra, mas conduzir para fora de si mesmo, ao encontro dos outros e da realidade. E é sempre bom lembrar que a justiça é o sabor que vem de Deus, e a paz não é a paz romana, assente no poder das armas, nem a paz do judaísmo palestinense, assente nos acordos entre as partes. A paz é um Dom de Deus.
6. De Deus vem sempre um mundo novo, belo, maravilhoso. Tão novo, belo e maravilhoso, que nos cega, a nós que vamos arrastando os olhos cansados pela lama. Que o nosso Deus faça chegar até nós tempo e modo para ouvir outra vez a extraordinária bênção sacerdotal, que o Livro dos Números guarda na sua forma tripartida: «O Senhor te abençoe e te guarde./ O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja favorável./ O Senhor dirija para ti o seu olhar e te conceda a paz» (Nm 6,24-26).
7. Que seja, e pode ser, Deus o quer, e nós também podemos querer, um Ano Bom, cheio de Paz, Pão e Amor, para todos os irmãos que Deus nos deu! E que Santa Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe nos abençoe também. Ámen!
D. António Couto, Bispo de Lamego, in Mesa das Palavras
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