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terça-feira, 20 de março de 2018

VL – Desafio da normalidade - 2

A normalidade vale pela segurança que dá, como chão que nos impulsiona e nos faz caminhar. Quanto maior a raiz da árvore mais ela cresce para as alturas. As crianças e sobretudo os adolescentes e os jovens passam a vida a correr atrás das novidades. Os adultos seguem pelo mesmo caminho! Sempre insatisfeitos com o que têm, sempre a reclamar contra rotinas e normalidades, mas rapidamente se desencantam com as novidades que logo deixam de o ser! 

É compreensível e melhor se for sinal da ambição do ser humano em desejar ser mais, não cabendo em si mesmo. Neste sentido, a abertura para o futuro e para a eternidade. Na verdade o homem ultrapassa infinitamente o homem (Blaise Pascal). Não cabemos no tempo. Somos mais que a história que nos baliza entre o nascimento e a morte! Porém, os ramos que lançamos para o Céu, não nos dispensa de cuidar das raízes, para que nasçam e cresçam as flores e daí os frutos! A viagem não vale pela chegada mas sobretudo pelo percurso realizado! 

Se entrarmos na vida de Jesus, vamos ver como Ele Se entranha na vida quotidiana das pessoas e na normalidade da vida comunitária. Nasce e cresce numa família que passa despercebida, cumprindo com os deveres sociais e com as leis religiosas. Nalguns pedaços do Evangelho vem ao de cima a vida tranquila de Nazaré, tranquila mas não fácil. Jesus faz-Se compreender com facilidade, pois fala a mesma linguagem que nós, do campo e do trabalho, do suor e das lágrimas, da solidariedade e entreajuda, das dificuldades em pagar os impostos e sobreviver, e de não desistir perante as adversidades do tempo, da natureza ou dos preconceitos sociais! 

Os evangelistas referem que Jesus chega a determinada povoação e logo avança para o sábado seguinte. A semana não traz nada de extraordinário, percebendo-se que Jesus vive inserido nas famílias e nas comunidades! É um judeu integrado! É na normalidade que Jesus continua a entrar na nossa vida, na minha e na tua vida! É na normalidade do tempo e da história que Jesus nos salva, nos interpela, nos desafia e nos envia. Por vezes quase não se dá pela Sua presença. Mas, pouco a pouco, percebe-se a Sua delicadeza, a Sua bondade. N'Ele vê-se o poder e sobretudo o amor de Deus. 

Na normalidade da vida, a extraordinária entrega a favor da humanidade! Assim Cristo! Assim os seus seguidores! E da normalidade do tempo litúrgico, entramos no tempo especial que nos conduz ao mistério que ultrapassa todas as normalidades, a Páscoa de Jesus!

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Leitura: TOMÁŠ HALÍK - QUERO QUE TU SEJAS

TOMÁŠ HALÍK (2016). Quero que Tu sejas! Podemos acreditar no Deus do Amor. Prior Velho: Paulinas Editora. 272 páginas.
       "Tomáš Halík nasceu emm Praga atual República Checa, no ano de 1948. Licenciou-se em Sociologia, Filosofia e Psicologia na Universidade de Charles, Praga, nos inícios dos anos 70. Estudou Teologia, clandestinamente, na mesma cidade, estudo que continuou na Universidade Lateranense, em Roma, e na Faculdade Pontifícia de Teologia, em Wroclaw (Polónia). Durante a ocupação comunista, sendo perseguido como «inimigo do regime», trabalhou como psicoterapeuta de toxicodependentes. Foi clandestinamente ordenado sacerdote em Erfurt (Alemanha do Leste, em 1978, e trabalhou na «Igreja subterrânea», onde foi um dos assessores mais próximos do cardeal Tomášek".
       Na lombada interior da capa, breve apresentação, de Tomáš Halík, de quem já sugerimos outro belíssimo título - O MEU DEUS É UM DEUS FERIDO. Depois de ter escrito sobre fé e esperança, alguém lhe perguntou porque não escrevia sobre o amor. 
       O autor começa por fazer uma pergunta que habitualmente vamos fazendo, mas para a qual nem sempre encontramos uma resposta satisfatória: deonde vem o mal?. "É possível que hoje em dia nos tenhamos acostumado tanto ao mal, à violência e ao cisnismo, que façamos a nós próprios, com surpresa, outra pergunta: donde provém a ternura e a bondade?
       Ao longo do livro, enraizado na Sagrada Escritura, mas também na história, na experiência, na cultura, o autor vai mostrando que o amor é fonte de todo o bem e em todo o bem é possível encontra Deus de amor. Um dos fios condutores é apresentar o duplo mandamento, a interligação entre o amor a Deus e ao próximo como a si mesmo. Amar a Deus, amando o próximo. Deus está em nós. O amor habita-nos na identidade mais profunda, onde podemos encontrar Deus.
       Mais que uma resposta, Deus é pergunta. Não é um dado adquirido, mas sempre me transcende. Vai além de toda a compreensão humana, ainda que Se deixe ver em Jesus Cristo. "Os meus livros não são destinados àqueles que têm certeza absoluta de que compreendem perfeitamente o que significa o mandamento do amor a Deus. Esses certamente já têm a sua recompensa. Eu dirigo-me àqueles que buscam o significado dessas palavras, quer se considerem crentes... quase-crentes ou «antigos crentes»... incrédulos e agnósticos ou não crentes".

Algumas expressões:
"Associar os mandamentos do amor a Deus e o mandamento do amor uns aos outros - o núcleo do Evangelho - é a forma de redescobrir o Deus que «desapareceu», especificamente, na nossa relação com o próximo. Deus acontece onde quer que nós amemos as pessoas, o nosso próximo".
"Deus não pode ser obejeto de amor porque Deus não é um obejeto; a perceção objetiva de Deus conduz à idolatria. Eu não posso amar a Deus da mesma maneira que amo outro ser humano, a minha cidade, a minha paróquia ou o meu trabalho. Deus não está diante de mim, tal como a luz também não está diante de mim: eu não consigo ver a luz, só posso ver as coisas iluminadas pela luz".
"Deus acontece ali onde nós amamos".
"É necessário despir a própria alma, porque só quando já nada restar entre nós e a vontade de Deus, se poderá dar aquela união com Deus a que se chama Amor. Nesse momento somos «transformados em Deus por amor»".
"Há vários anos que me sinto fascinado com um definição do amor que é atribuída a Santo Agostinho: amo: volo ut sis (Amo-te, quero que Tu seja!)... «Eu quero que tu sejas». Esta frase exprime a ausência de dúvidas acerca da existência do amado; a sua existência é óbvia para mim, e o meus sentidos podem prová-la. esta frase exprime a minha confirmação fundamental da existência do meu amado, a minha alegria por ele existir. Eu não me limito a notar a sua existência, experimento-a como gratidão, como qualquer coisa que enriquece fundamentalmente a minha própria vida, sem o meu amado, o meu eu profundo perderia a sua integridade, sem ele o meu mundo ficaria desolado e terrivelmente cinzento.
No amor eu abro um lugar de segurança dentro de mim para a pessoa que amo, no qual ela pode ser plena e livremente quem é. Não precisa de representar nem de fingir para mim, nem de tentar merecer continuamente o meu amor através das suas ações. Além disso, só messe lugar seguro de amor é que uma pessoa se pode tornar aquilo que até então só era em potência. Só agora se pode aperceber do seu pleno potencial, que, sem amor, ficaria atrofiado, murcho e sufocado nas suas próprias raízes.
Estou contente por te ter conhecido; alegro-me pelo milagre do amor; quero que a pessoa a quem amo continue a estar comigo. Sim, gostaria que vivêssemos juntos para sempre. A frase «Eu amo-te, quero que Tu sejas» de Agostinho conduz a outra frase, ou seja, à definição magnífica de Gabriel Marcel: «Amar alguém é dizer-lhe: "Tu não morrerás"»... Dentro do verdadeiro amor há sempre uma fonte de eternidade".
"Deus não é «uma terceira pessoa» na relação entre duas pessoas; Deus é a base e a fonte dessa relação".
"Amar a Deus significa sentirmo-nos profundamente gratos pelo milagre da vida e exprimir essa gratidão ao longo da própria vida, aceitando a minha sorte mesmo quando esta não condiz com os meus planos e expectativas. Amar a Deus significa aceitar com paciência e atenção os encontros humanos como mensagens de Deus cheias de sentido - mesmo quando sou incapaz de as compreender devidamente. Amar a deus significa confiar que até os momentos difíceis e obscuros me revelarão um doa o seu significado".
"Deus não pode forçar os seres humanos a aceitar a salvação, o perdão e a misericórdia. Teoricamente é possível que alguém, pelo seu profundo desejo de que «Deus não seja», manifeste esse perverso desejo de forma tão consistente que acabe por se esquivar fatalmente a Deus e por se condenar a si próprio ao eterno afastamento de Deus e separação em relação a Ele".
"Aquilo que Deus traz para a história, onde nós o devemos procurar, é o amor. Eu sou cristão porque aprendi a acreditar nesse amor".
"A fé requer a coragem de escolher e de confiar".
Citando Teilhard de Chardin, "O amor é a única força capaz de unificar as coisas sem as destruir"