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sábado, 25 de janeiro de 2025

Domingo III do Tempo Comum - ano C - 26 de janeiro

       1 – São Lucas é o evangelista que mais de perto nos acompanhará nos Domingos e Solenidades deste Ano C. É considerado o Evangelho da Oração (do Senhor), do Envio, Evangelho Missionário, Evangelho da Misericórdia de Deus, e também o Evangelho dos Encontros. O Pai de Jesus Cristo, e nosso Pai, é um Deus misericordioso, clemente e compassivo. Algumas das parábolas que teremos oportunidade de escutar são uma marca luminosa da misericórdia de Deus: o Bom Samaritano; a Oração do Fariseu e do Publicano, a Parábola do Filho Pródigo e também da ovelha tresmalhada e da dracma perdida, do Juiz iníquo e da viúva insistente, do rico avarento e do pobre Lázaro ou mesmo do grande banquete. Da mesma forma os diversos encontros de Jesus: com Levi (Mateus), com Zaqueu, com a mulher apanhada em flagrante adultério, a refeição em casa do fariseu Simão e a pecadora arrependida, com a viúva de Naim, a quem ressuscita o filho único, com os 10 leprosos, com o bom ladrão.
       Logo no início do Evangelho, São Lucas apresenta o seu propósito: "Já que muitos empreenderam narrar os factos que se realizaram entre nós, como no-los transmitiram os que, desde o início, foram testemunhas oculares e ministros da palavra, também eu resolvi, depois de ter investigado cuidadosamente tudo desde as origens, escrevê-las para ti, ilustre Teófilo, para que tenhas conhecimento seguro do que te foi ensinado".
       O Evangelho é colocado por escrito para ser transmitido com mais segurança e rigor aos vindouros. É para nós que São Lucas escreve, para acolhermos as palavras e sobretudo a vida de Jesus. Teófilo – o amigo de Deus – somos nós, se nos dispomos acolher Deus com a Sua Palavra.
       2 – Durante a quadra de Natal, escutámos o Evangelho de Infância: anunciação, visitação, nascimento de Jesus, perda e encontro de Jesus no Templo. E claro as referências a São João Batista, anúncio a Zacarias que vai ser pai, nascimento de João Batista, e a pregação do Precursor. Entretanto, o texto lucano faz-nos avançar para a prisão de João Batista, seguindo-Se o batismo (inicial) de Jesus. Logo Jesus é impelido pelo Espírito Santo ao deserto (texto para escutar e refletir no primeiro domingo da Quaresma), onde é tentado pelo demónio. Volta para a Galileia e inicia-se (em definitivo) o ministério público, assumindo-Se como Enviado, Ungido do Senhor, o Filho bem-amado do Pai.
       Vai a Nazaré, onde se tinha criado. A sua fama já se espalhara por toda a região, pelo que também aqui se pressupõe que Jesus já pregava e realizava prodígios, ainda que para Lucas esta presença em Nazaré seja um dos primeiros "atos" públicos de Jesus.
       Era habitual Jesus ir à Sinagoga aos sábados, como todos os judeus crentes. Jesus integra-se no povo, na sua cultura e na sua religião. Estando na Sinagoga de Nazaré, chegado o momento, levanta-se para fazer a Leitura. Faz-nos lembrar a nossa liturgia, com as leituras e com a subsequente reflexão. Entregam-lhe o rolo (livro) de Isaías e encontra a seguinte passagem: «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres. Ele me enviou a proclamar a redenção aos cativos e a vista aos cegos, a restituir a liberdade aos oprimidos e a proclamar o ano da graça do Senhor».
       A liturgia desenrola-se, Jesus enrola o livro de Isaías e entrega-o ao ajudante. Senta-se. Como "mestre", senta-se para fazer a homilia e diz: «Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir».
       Simples, direto, sucinto. HOJE cumpriu-se a Escritura. Vejamos: O Espírito do Senhor está em Jesus, ungiu-O para anunciar a boa nova aos pobres e a liberdade a todos os que vivem oprimidos pela doença, pela solidão, pelo medo. Veio trazer-nos a graça de Deus, cujo ano proclama. É um ANO de GRAÇA que HOJE nos é dado. Hoje, não ontem, não amanhã. Hoje.
       3 – Jesus surge no seguimento de outros Profetas, sendo Ele, não mais um, mas o último, o Profeta por excelência, o Ungido do Senhor. Os Patriarcas, os Juízes e os Profetas mantiveram Deus por perto, com as suas palavras inspiradas, a mensagem da Aliança, animando nos momentos históricos adversos, convocando para a fidelidade à Misericórdia de Deus para se manterem fiéis ao sonho, ao caminho, integrando outros e sendo bênção para todos os povos.
       Extraordinário e comovente relato nos é oferecido na primeira leitura. O Livro da Lei volta a estar disponível. Aqui o Livro sagrado visualiza a presença, o amor, a aliança de Deus com o Povo. O sacerdote Esdras traz o Livro da Lei, coloca-se diante da assembleia, de homens e de mulheres, isto é, todos os que eram capazes de compreender. E leu desde a aurora ao meio-dia.
       Relembremos também a nossa liturgia da Palavra. Esdras está de pé, num estrado de madeira, feito de propósito, elevado em relação à assembleia. Quando Esdras abriu o Livro todos se levantaram. Esdras bendisse a Deus, e o povo, erguendo as mãos, respondeu: «Ámen! Ámen!».
       Homens e mulheres prostram-se por terra para adorarem o Senhor. Os levitas leem, clara e distintamente, a Lei de Deus, explicando o seu sentido, para que todos possam compreender. Esdras e os Levitas ensinam todo o povo, que agradece, emocionado. É então que o governador Neemias, o sacerdote e escriba Esdras e os levitas dizem a todo o povo: «Hoje é um dia consagrado ao Senhor vosso Deus. Não vos entristeçais nem choreis». – Porque todo o povo chorava, ao escutar as palavras da Lei –. Depois Neemias acrescentou: «Ide para vossas casas, comei uma boa refeição, tomai bebidas doces e reparti com aqueles que não têm nada preparado. Hoje é um dia consagrado a nosso Senhor; portanto, não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa fortaleza».
       É o dia consagrado ao Senhor, dedicado à escuta e reflexão da Palavra de Deus, à adoração, mas também à festa em família.
       Podemos perguntar-nos como nos predispomos a escutar, a viver, a testemunhar a Palavra de Deus. Aquele povo emociona-se, comove-se, pois a Palavra de Deus que lhes é dirigida garante-lhes a presença e a bênção de Deus. A sinagoga de Nazaré coloca-se em posição, com os olhos voltados para Jesus, para O escutarem. E nós?
       4 – Hoje somos nós que estamos naquela Sinagoga! HOJE temos os olhos fitos em Jesus, os olhos e os ouvidos. Hoje: a Lei do Senhor, mas muito mais, a Sua graça. É um Ano feliz, santo, benfazejo, porque Deus está no meio de nós, já não apenas em palavras e promessas, mas na Palavra, em Jesus Cristo, que vive no meio de nós e se esconde (especialmente) nos mais pequeninos que colocou na nossa vida, para amarmos e servimos e para aprendermos a ser irmãos.
"A lei do Senhor é perfeita, ela reconforta a alma; as ordens do Senhor são firmes, dão sabedoria aos simples. / Os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração; os mandamentos do Senhor são claros e iluminam os olhos. / O temor do Senhor é puro e permanece eternamente; os juízos do Senhor são verdadeiros, / todos eles são retos. / Aceitai as palavras da minha boca e os pensamentos do meu coração estejam na vossa presença: Vós, Senhor, sois o meu amparo".
       Há leis que matam, que aprisionam, que nos encolhem, que assustam, leis que dividem em maiores e menores, pessoas de primeira e de segunda, leis que nos subjugam. A Lei do Senhor reconforta-nos, desafia-nos, provoca-nos para o melhor de nós mesmos, liberta-nos para o bem, para a justiça e para a verdade. A LEI do Senhor agora tem um ROSTO: Jesus, Rosto da Misericórdia do Pai. Deus não nos governa de fora, distante e indiferente aos nossos sofrimentos. Deus ama-nos a partir de nós, do interior. Em Cristo vem habitar-nos, vem morar connosco.

       5 – Belíssima também a página de São Paulo que temos a dita de hoje escutar. A Igreja é o Corpo de Cristo, do qual Ele é a Cabeça e nós os membros. O Apóstolo sublinha o lugar e a importância de todos os membros, diferentes mas necessários.
       "O corpo é um só e tem muitos membros, e todos os membros do corpo, apesar de numerosos, constituem um só corpo". Também em Cristo acontece da mesma forma: todos nós - "judeus e gregos, escravos e homens livres – fomos batizados num só Espírito para constituirmos um só corpo e a todos nos foi dado a beber um só Espírito".
       No corpo todos os membros contam, todos são importantes. Muitas vezes os membros aparentemente mais frágeis são os que precisam de mais cuidados, pois a sua importância é crucial. E se um dos membros está em sofrimento, todos os membros padecem. Sabemos bem disso: se me doer um dente, é todo o corpo que fica em sofrimento, os ouvidos, a cabeça, o equilíbrio, a disposição, a vontade. É apenas um dente e afeta todo o meu dia.
       "Vós sois corpo de Cristo e seus membros, cada um por sua parte". O mesmo Deus, a mesma fé, o mesmo Batismo, Deus atua em todos. Os dons que Deus nos dá destinam-se ao bem de todos.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (C): Ne 8, 2-4a. 5-6. 8-10; Sl 18 B (19); 1 Cor 12, 12-30; Lc 1, 1-4: 4, 14-21.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Não é Ele o filho do carpinteiro?

       Jesus foi à sua terra e começou a ensinar os que estavam na sinagoga, de tal modo que ficavam admirados e diziam: «De onde Lhe vem esta sabedoria e este poder de fazer milagres? Não é Ele o filho do carpinteiro? A sua Mãe não se chama Maria e os seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? E as suas irmãs não vivem entre nós? De onde Lhe vem tudo isto?». E estavam escandalizados com Ele. Mas Jesus disse-lhes: «Um profeta só é desprezado na sua terra e em sua casa». E por causa da falta de fé daquela gente, Jesus não fez ali muitos milagres (Mt 13, 54-58).
       Surpresa admirável, Jesus na sua terra, em Nazaré, onde cresceu, e se inseriu na comunidade social, cultural e religiosa. Chegada a hora, Jesus sai e vai por aldeias e cidades para a anunciar o Reino de Deus. Nazaré não poderia ficar para trás. Imaginemos, a viagem de João Paulo II à Polónia, de Bento XVI à Alemanha, e do Papa Francisco à Argentina! A reação primeira será de júbilo, o bom filho à casa volta. Também assim com Jesus. Vai à Sinagoga e a reação é de admiração, entusiasmo. Pelo Evangelho se vê que havia notícias que tinha chegado antes d'Ele, de milagres realizados, de multidões.
       Mas por vezes, ao tempo de Jesus como nas nossas vidas, o foco não se centra no que a pessoa é ou faz ou diz, foca-se no que não diz, no que não faz, vindo ao de cima o ciúme e a inveja. Não é Ele o filho do carpinteiro, não conhecemos nós os seus familiares? Que poderá Ele ensinar-nos de novo que não saibamos já? Poderá dizer-nos algo de novo? Poderá mostrar mais do que o que já mostrou ao longo de trinta anos?
       Vem o pedido de provas: realiza aqui milagres como realizaste em outros lugares. Sem generalizar, certamente que muitos dos seus conterrâneos aderiram de coração à Sua mensagem, mas sobrevém a crítica, a dúvida, a inveja, a incredulidade. Jesus não fez muitos milagres pela falta de fé... significa que fez milagres, pois aí havia pessoas de fé.
       Um aspeto notório: a fé faz acontecer a vida, o milagre.
        Outro aspeto relevante: Jesus é de carne e osso e tem família, e tem um lugar onde regressar, e é cidadão do mundo, mas tem a casa da família humana. Está no meio de nós! Não O conhecemos nas nossas vidas?

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Bento XVI - Caro Odifreddi, vou-lhe contar quem foi Jesus

       O papa emérito Bento XVI escreve uma carta ao matemático ateu italiano Piergiorgio Odifreddi sobre a fé, a ciência, o mal. Um diálogo à distância sobre o livro Caro papa, ti scrivo, de autoria de Odifreddi. O cientista, por sua vez, relatou emoção e surpresa ao receber em sua casa a "inesperada carta" do ex-pontífice.
       Ilustríssimo Senhor Professor Odifreddi, (...) gostaria de lhe agradecer por ter tentado até o último detalhe se confrontar com o meu livro e, assim, com a minha fé; é exatamente isso, em grande parte, que eu havia intencionado com o meu discurso à Cúria Romana por ocasião do Natal de 2009. Devo agradecer também pelo modo leal como tratou o meu texto, buscando sinceramente prestar-lhe justiça.
       O meu julgamento acerca do seu livro, no seu conjunto, porém, é em si mesmo bastante contrastante. Eu li algumas partes dele com prazer e proveito. Em outras partes, ao invés, me admirei com uma certa agressividade e com a imprudência da argumentação. (...)
       Várias vezes, o senhor me aponta que a teologia seria ficção científica. A esse respeito, eu me admiro que o senhor, no entanto, considere o meu livro digno de uma discussão tão detalhada. Permita-me propor quatro pontos a respeito de tal questão:

       1. É correto afirmar que "ciência", no sentido mais estrito da palavra, só a matemática o é, enquanto eu aprendi com o senhor que, mesmo aqui, seria preciso distinguir ainda entre a aritmética e a geometria. Em todas as matérias específicas, a cientificidade, a cada vez, tem a sua própria forma, segundo a particularidade do seu objeto. O essencial é que ela aplique um método verificável, exclua a arbitrariedade e garanta a racionalidade nas respectivas modalidades diferentes.

       2. O senhor deveria ao menos reconhecer que, no âmbito histórico e no do pensamento filosófico, a teologia produziu resultados duradouros.

       3. Uma função importante da teologia é a de manter a religião ligada à razão, e a razão, à religião. Ambas as funções são de essencial importância para a humanidade. No meu diálogo com Habermas, mostrei que existem patologias da religião e – não menos perigosas – patologias da razão. Ambas precisam uma da outra, e mantê-las continuamente conectadas é uma importante tarefa da teologia.

       4. A ficção científica existe, por outro lado, no âmbito de muitas ciências. Eu designaria o que o senhor expõe sobre as teorias acerca do início e do fim do mundo em Heisenberg, Schrödinger, etc., como ficção científica no bom sentido: são visões e antecipações para chegar a um verdadeiro conhecimento, mas são, justamente, apenas imaginações com as quais tentamos nos aproximar da realidade. Além disso, existe a ficção científica em grande estilo, exatamente dentro da teoria da evolução também. O gene egoísta de Richard Dawkins é um exemplo clássico de ficção científica. O grande Jacques Monod escreveu frases que ele mesmo deve ter inserido na sua obra seguramente apenas como ficção científica. Cito: "O surgimento dos vertebrados tetrápodes (...) justamente tem sua origem do fato de que um peixe primitivo 'escolheu' ir a explorar a terra, sobre a qual, porém, ele era incapaz de se deslocar, exceto saltitando desajeitadamente e criando, assim, como consequência de uma modificação do comportamento, a pressão seletiva graças à qual se desenvolveriam os membros robustos dos tetrápodes. Entre os descendentes desse audaz explorador, desse Magellan da evolução, alguns podem correr a uma velocidade de 70 quilômetros por hora..." (citado segundo a edição italiana de Il caso e la necessità, Milão, 2001, p. 117ss.).

       Em todas as temáticas discutidas até agora, trata-se de um diálogo sério, para o qual eu – como já disse repetidamente – sou grato. As coisas são diferentes no capítulo sobre o sacerdote e a moral católica, e ainda diferentes nos capítulos sobre Jesus. Quanto ao que o senhor diz sobre o abuso moral de menores por parte de sacerdotes, eu só posso reconhecer – como o senhor sabe – com profunda consternação. Eu nunca tentei mascarar essas coisas. O fato de que o poder do mal penetra a tal ponto no mundo interior da fé é para nós um sofrimento que, por um lado, devemos suportar, enquanto, por outro, devemos, ao mesmo tempo, fazer todo o possível para que casos desse tipo não se repitam. Também não é motivo de conforto saber que, segundo as pesquisas dos sociólogos, a porcentagem dos sacerdotes réus desses crimes não é mais alta do que a presente em outras categorias profissionais semelhantes. Em todo caso, não se deveria apresentar ostensivamente esse desvio como se se tratasse de uma imundície específica do catolicismo.
       Se não é lícito calar sobre o mal na Igreja, também não se deve silenciar, porém, sobre o grande rastro luminoso de bondade e de pureza, que a fé cristã traçou ao longo dos séculos. É preciso lembrar as figuras grandes e puras que a fé produziu – de Bento de Núrsia e a sua irmã Escolástica, Francisco e Clara de Assis, Teresa de Ávila e João da Cruz, aos grandes santos da caridade como Vicente de Paulo e Camilo de Lellis, até a Madre Teresa de Calcutá e as grandes e nobres figuras da Turim do século XIX. Também é verdade hoje que a fé leva muitas pessoas ao amor desinteressado, ao serviço pelos outros, à sinceridade e à justiça. (...)
       O que o senhor diz sobre a figura de Jesus não é digno do seu nível científico. Se o senhor põe a questão como se, no fundo, não soubesse nada de Jesus e como se d'Ele, como figura histórica, nada fosse verificável, então eu só posso lhe convidar de modo decidido a tornar-se um pouco mais competente do ponto de vista histórico. Recomendo-lhe, para isso, sobretudo os quatro volumes que Martin Hengel (exegeta da Faculdade de Teologia Protestante de Tübingen) publicou juntamente com Maria Schwemer: é um exemplo excelente de precisão histórica e de amplíssima informação histórica. Diante disso, o que o senhor diz sobre Jesus é um falar imprudente que não deveria repetir. O fato de que na exegese também foram escritas muitas coisas de escassa seriedade é, infelizmente, um fato indiscutível. O seminário norte-americano sobre Jesus que o senhor cita nas páginas 105ss. só confirma mais uma vez o que Albert Schweitzer havia notado a respeito da Leben-Jesu-Forschung (Pesquisa sobre a vida de Jesus), isto é, que o chamado "Jesus histórico" é, em grande parte, o espelho das ideias dos autores. Tais formas mal sucedidas de trabalho histórico, porém, não comprometem, de fato, a importância da pesquisa histórica séria, que nos levou a conhecimentos verdadeiros e seguros sobre o anúncio e a figura de Jesus.
        (...) Além disso, devo rejeitar com força a sua afirmação (p. 126) segundo a qual eu teria apresentado a exegese histórico-crítica como um instrumento do anticristo. Tratando o relato das tentações de Jesus, apenas retomei a tese de Soloviev, segundo a qual a exegese histórico-crítica também pode ser usada pelo anticristo – o que é um fato incontestável. Ao mesmo tempo, porém, sempre – e em particular no prefácio ao primeiro volume do meu livro sobre Jesus de Nazaré – eu esclareci de modo evidente que a exegese histórico-crítica é necessária para uma fé que não propõe mitos com imagens históricas, mas reivindica uma historicidade verdadeira e, por isso, deve apresentar a realidade histórica das suas afirmações de modo científico também. Por isso, também não é correto que o senhor diga que eu estaria interessado somente na meta-história: muito pelo contrário, todos os meus esforços têm o objetivo de mostrar que o Jesus descrito nos Evangelhos também é o Jesus histórico real; que se trata de história realmente ocorrida. (...)
       Com o 19º capítulo do seu livro, voltamos aos aspectos positivos do seu diálogo com o meu pensamento. (...) Mesmo que a sua interpretação de João 1, 1 seja muito distante da que o evangelista pretendia dizer, existe, no entanto, uma convergência que é importante. Se o senhor, porém, quer substituir Deus por "A Natureza", resta a questão: quem ou o que é essa natureza. Em nenhum lugar, o senhor a define e, assim, ela parece ser uma divindade irracional que não explica nada. Mas eu gostaria, acima de tudo, de fazer notar ainda que, na sua religião da matemática, três temas fundamentais da existência humana continuam não considerados: a liberdade, o amor e o mal. Admiro-me que o senhor, com uma única referência, liquide a liberdade que, contudo, foi e é o valor fundamental da época moderna. O amor, no seu livro, não aparece, e também não há nenhuma informação sobre o mal. Independentemente do que a neurobiologia diga ou não diga sobre a liberdade, no drama real da nossa história ela está presente como realidade determinante e deve ser levada em consideração. Mas a sua religião matemática não conhece nenhuma informação sobre o mal. Uma religião que ignore essas questões fundamentais permanece vazia.
       Ilustríssimo Senhor Professor, a minha crítica ao seu livro, em parte, é dura. Mas a franqueza faz parte do diálogo; só assim o conhecimento pode crescer. O senhor foi muito franco e, assim, aceitará que eu também o seja. Em todo caso, porém, avalio muito positivamente o fato de que o senhor, através do seu contínuo confronto com a minha Introdução ao Cristianismo, tenha buscado um diálogo tão aberto com a fé da Igreja Católica e que, apesar de todos os contrastes, no âmbito central, não faltem totalmente as convergências.
       Com cordiais saudações e com todos os melhores votos para o seu trabalho.
FONTE: AQUI.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Bento XVI responde a matemático italiano

Papa emérito destaca importância do diálogo entre fé e razão apesar das divergências

        O Papa emérito Bento XVI escreveu ao matemático e escritor italiano Piergiorgio Odifreddi, que em 2001 publicou a obra ‘Caro Papa, escrevo-te’, para responder a algumas das suas críticas e questões sobre Jesus e a Igreja.
       A missiva, parcialmente divulgada hoje pelo jornal italiano ‘La Reppublica’, assume uma crítica “dura”, mas franca, às posições de Odifreddi sobre a historicidade de Jesus e a relação entre a Teologia e o mundo científico.
        “Aquilo que diz sobre a figura de Jesus não é digno do seu nível científico”, escreve Bento XVI, após o matemático italiano ter afirmado que sobre Cristo não se saberia nada, do ponto de vista histórico, recomendando ao seu interlocutor a leitura da obra de Martin Hengel (publicada em conjunto com Maria Schwemer), exegeta protestante.
       Joseph Ratzinger, autor de uma trilogia sobre ‘Jesus de Nazaré, nega ter desvalorizado a exegese histórico-crítica dos evangelhos e diz nesta carta que a mesma é “necessária para uma fé que não propõe mitos com imagens históricas, mas reclama uma verdadeira historicidade”.
       “Por isso, também não é correto que afirme que eu me teria apenas interessado apenas pela meta-história: pelo contrário, todos os meus esforços têm o objetivo de mostrar que o Jesus descrito nos evangelhos é também o real Jesus histórico”, acrescenta o Papa emérito.
       Bento XVI responde também às observações de Piergiorgio Odifreddi a respeito dos casos de abusos sexuais de menores por parte de sacerdotes, começando por mostrar “profunda consternação”.
       “Eu procurei desmascarar estas coisas: que o poder do mal penetre até este ponto no mundo interior da fé é um sofrimento para nós”, sublinha, antes de frisar que a Igreja vai fazer “todos os possíveis para que tais casos não se repitam”.
       Segundo o Papa emérito, que liderou a Igreja entre abril de 2005 e fevereiro deste ano, não é “lícito” calar os problemas das comunidades católicas, mas isso não deve fazer esquecer “o grande rasto luminoso de bondade e pureza que a fé cristã deixou ao longo dos séculos”.
       “Ainda hoje, a fé leva muitas pessoas ao amor desinteressado, ao serviço aos outros, à sinceridade e à justiça”, refere.
       A resposta de Bento XVI chegou à casa do matemático italiano no último dia 3: 11 páginas com data de 30 de agosto.
       A carta agradece pelo confronto “leal” de ideias e manifesta o “proveito” tirado de algumas das passagens do livro de Odifreddi, sem deixar de observar “uma certa agressividade e descuido na argumentação” do autor.
       Joseph Ratzinger deixa críticas, em particular, ao que chama de “religião matemática” que deixaria de fora questões “fundamentais” da existência humana, como “a liberdade, o amor e o mal”.
       “A sua religião matemática não tem qualquer informação sobre o mal. Uma religião que descura estas questões fundamentais fica vazia”, responde a Piergiorgio Odifreddi.
       Neste contexto, Bento XVI destaca a necessidade de “manter a religião ligada à razão e a razão à religião”, pedindo que se reconheça que a Teologia produziu resultados “no âmbito histórico e no do pensamento filosófico”.
       A missiva refuta a acusação de que a Teologia seria apenas “ficção científica” e aponta o dedo às teorias sobre a origem do homem e do universo que apresentam “imaginações” com as quais se procura “aproximar-se da realidade”.
 
NOTÍCIA: Agência Ecclesia.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Bento XVI - Jesus de Nazaré. A Infância de Jesus

       Aguardado há algum tempo, o terceiro volume da obra de Bento XVI, Jesus de Nazaré, desta feita, a Infância de Jesus. Ainda que seja o terceiro volume, este livro corresponde à primeira etapa de vida de Jesus, partindo sobretudo dos evangelhos de São Lucas e de São Mateus, que relatam momentos da infância de Jesus.
       Diga-se desde logo, que este estudo foi iniciado antes de Bento XVI ter sido eleito Papa. Joseph Ratzinger é, sem dúvida, um dos teólogos mais brilhantes que a Igreja conheceu no século XX e início deste novo século e milénio. Nesta sua obra, em três volumes, mostra a Sua vertente mais teológica, não fugindo dos vários questionamentos histórico, científicos, de crítica textual, de vivência da fé, em comunhão com a Igreja, povo de Deus, e com o Magistério, alimentando-se particularmente da Bíblia, da Fé, dos Padres da Igreja, mas também de estudos recentes, de autores católicos, mas também protestantes, ou procurando estudos noutras religiões.
       É um texto de fácil leitura, acessível, como nos tem habituado nas homilias, intervenções, catequese, e igualmente nos estudos publicados. Fácil, acessível, recorrendo a imagens, ao sensus fidei, à vida, com a preocupação de aprofundar a fé. A dimensão mais histórica da vida de Jesus, as dúvidas, as imprecisões, as interpretações textuais, a evolução das traduções, as novas descobertas arqueológicas, os novos estudos teológicos, não engendram dificuldades na vivência da fé, fundamentam-na, mas não a aprisionam, o mistério ultrapassa as lacunas que possam ser encontradas na história e na documentação existente. A fé é maior, ainda que enraizada na história, no tempo, em contextos culturais sociais e religiosos específicos...
       Logo depois de publicado, gerou alguma celeuma sobretudo à volta do boi e do jumento no presépio. Saliente-se que os evangelhos não falam em animais presentes junto à manjedoura ou que animais. Em todo o caso Bento XVI refere o contrário do que Lhe foi atribuído: atualmente nenhum presépio, segundo ele, dispensa o boi e o jumento (ou a vaca e o burro).
       Mais uma vez fica claro que não basta ouvir o que nos dizem de outros, mas ir à fonte, ver, ler, escutar, perceber.

Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré. A Infância de Jesus. Princípia Editora. Cascais 2012.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Jardim - lugar da traição, lugar da ressurreição!

Monte das oliveiras...
       "Ali, Jesus experimentou a solidão extrema, toda a tribulação do ser homem. Ali, o abismo do pecado e de todo o mal penetrou até ao fundo da sua alma. Ali foi assaltado pela turvação da morte iminente. Ali O beijou o traidor. Ali todos os discípulos O abandonaram. Ali Ele lutou também por mim.

       ... No «jardim» acontece a traição, mas o jardim é também o lugar da ressurreição. de facto, no jardim, Jesus aceitou completamente a vontade do Pai, assumiu-a e assim inverteu a história".

Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré,  p 126.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O Boi e o jumento... no presépio!

       «Na singular conexão entre Isaías 1,3; Habacuc 3,2; Êxodo 25,18-20 e a manjedoura, aparecem os dois animais como representação da humanidade, por si mesma desprovida de compreensão, que, diante do Menino, diante da aparição humilde de Deus no estábulo, chega ao conhecimento e, na pobreza de tal nascimento, recebe a epifania que agora a todos ensina a ver. Bem depressa a iconografia cristã individuou este motivo. Nenhuma representação do presépio prescindirá do boi e do jumento» – Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré: a infância de Jesus, Cascais, Principia, p.62.
       Foi com alguma perplexidade e razoável estupefação que ouvi e, posteriorrmente, li a reação a estas palavras do último livro do Papa. Nota-se pelas declarações que a maioria não leu o que Bento XVI escreveu, limitando-se a reproduzir frases feitas, servindo-se de preconceitos mais ou menos ideológicos – senão na forma pelo menos no conteúdo – de quem está contra... mesmo que não saiba qual a razão!
       Desde logo surgiram-me questões simples que parecem ter mais a ver com uma certa religiosidade cristã: será que a presença da ‘vaca e do burro’ são tão essenciais para a crença de certas pessoas? Tirar estes adereços mexe assim tanto com a valorização do presépio? Onde terão lido estes defensores da ‘vaca e do burro’ a sua presença nos textos bíblicos? Como podem fazê-los tão imprescindíveis se eles nem estão presentes na narrativa canónica? A quem interessa este ruído sobre questões de lana caprina?
       Reparemos no texto do Papa citado e reportemo-nos também à narrativa lucana (Lc 2, 1-20) onde poderão incluir-se os ditos ‘boi e jumento’, traduzindo ainda por ‘vaca e burro’. 
       ‘Presépio’ significa: curral, estábulo... daí podermos incluir alguns animais nesse contexto. Qual a razão de vermos o boi ou a vaca nesse estábulo? Talvez seja mais uma projeção do tempo em que surgiu o difusão do presépio na cultura ocidental europeia com São Francisco de Assis, na Idade Média, ou ainda com a ruralidade em que se quis colocar ou se pode ver o contexto do nascimento de Jesus entre animais... possivelmente mais ovelhas do que outro gado.
       Talvez o burro/jumento tenha sido o meio de locomoção de José e de Maria entre Nazaré e Belém, a cidade onde se foram recensear. Com efeito, as distâncias eram grandes e os recursos materiais e humanos não seriam mais do que esses de terem um burro para poderem viajar. Daí colocá-lo no contexto do presépio poderá ser tão natural quão difícil de harmonizar animais de diferente estirpe e razoável teimosia... Só quem não os conhece é que se admirará desta alusão à proximidade simples de antagónicos!
       Não deixa ainda de ser significativo que o Papa diga no texto supra citado que aqueles animais – o boi e o jumento ou a vaca e o burro – são ‘representação da humanidade’. Será, então, que a nossa – humana, racional, psicológica e espiritual – simbologia está caraterizada por aqueles dois espécimes? Ou será que, recorrendo aos textos referidos na citação, se pretende fazer uma conjugação dos diferentes humanos, pois se até os animais se entendem e se relacionam em harmonia junto do Deus-Menino, quem somos nós, afinal, para não nós entendermos?
       Bastará parar um pouco diante do presépio para vermos como são fúteis as nossas jactâncias de orgulho: ali está um Deus que Se humilhou e que teve por companhia animais amansados pela pobreza dum Menino que Se fez próximo desde dentro da nossa condição humana e em projeção humanizada.
       Bastará perceber a força de despojamento de um Deus que nasce e é acolhido entre animais porque não havia lugar para Ele na estalagem das ocupações humanas... tais eram (e são) as pretensões de sermos importantes à custa dos direitos dos outros.
       O boi/vaca e o jumento/burro continuarão a ter espaço e oportunidade nos nossos presépios, enquanto andarmos atarefados com inutilidades que nos fazem perder o sentido da vida e a qualidade da existência?
       Que o burro e que a vaca exalem um hálito de ternura sobre este mundo, que rejeita Deus e esquece Jesus! 

Pe. António Sílvio Couto, in AQUI e AGORA,
publicado também no Jornal Voz de Lamego.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Uma morte violenta que é auto-doação

       "A vida ser-lhe-á tirada na cruz, mas desde já, Ele próprio a oferece. Transforma a sua morte violenta num acto livre de auto-doação aos outros pelos outros.
       ... No acto de dar a vida está incluída a ressurreição. Por isso pode, de antemão, distribui-Se a Si mesmo já, porque é já que oferece a Sua vida, que Se oferece a Si mesmo e, deste modo, readquire-a já, agora. Assim pode instituir agora o sacramento em que Se torna o grão de trigo que morre e em que, através dos tempos, Se distribui a Si mesmo aos homens na verdadeira multiplicação dos pães".

Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré,  p 112.

domingo, 26 de agosto de 2012

Cruz e Ressurreição na Eucaristia de Jesus

       ... cruz e ressurreição fazem parte da Eucaristia, que não seria ela mesma sem elas. Mas, visto que o dom de Jesus é essencialmente um dom radicado na ressurreição, a celebração do sacramento devia necessariamente estar ligada à memória da ressurreição. O primeiro encontro com o Ressuscitado aconteceu na manhã do primeiro dia da semana - terceiro dia depois da morte de Jesus - e, por conseguinte, na manhã de domingo. Assim, a manhã do primeiro dia da semana tornou-se espontaneamente o momento do culto cristão e o domingo o "Dia do Senhor".

Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré,  p 121.

domingo, 5 de agosto de 2012

Jesus parte abençoando. Abençoando, parte!

       "... Peçamos-Le que acompanhe as pessoas que amamos ou com quem estamos preocupados. Peçamos-Lhe que Se torne eficazmente presente na sua Igreja.
       E porque não pedir-Lhe que nos conceda também hoje testemunhas novas da sua presença, nas quais Ele mesmo Se aproxime de nós?...
       Jesus parte abençoando. Abençoando, parte; e, na bênção, permanece. As suas mãos continuam estendidas sobre este mundo. As mãos de Cristo que abençoam são como um tecto que nos protege; mas, ao mesmo tempo, são um gesto de abertura que fende o mundo para que o Céu penetre nele e nele possa afirmar a sua presença.
       No gesto das mãos que abençoam, exprime-se a relação duradoura de Jesus com os seus discípulos, com o mundo. Ao partir, Ele eleva-nos acima de nós mesmos e abre o mundo a Deus. Por isso os discípulos puderam transbordar de alegria quando voltaram de Betânia para casa.
       Na fé, sabemos que Jesus, abençoando, tem as suas mãos estendidas sobre nós. Tal é a razão permanente da alegria cristã".

Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré,  pp 236.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O centro da cruz é a VERDADE

(JNRJ = INRI = Jesus Nazareno Rei da Judeia) 

       "O centro da mensagem até à cruz - até à inscrição na cruz - é o Reino de Deus, a nova realeza que Jesus representa. Mas o centro dessa realeza é a Verdade. A realeza anunciada por Jesus nas parábolas e, por fim, de modo totalmente aberto diante do juiz terreno é, precisamente, a realeza da Verdade. A instauração desta realeza como verdadeira libertação do homem é o que interessa".

Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré,  p 160.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Redenção: a verdade que se torna reconhecível

       A «Redenção», no sentido pleno da palavra, só pode consistir no facto de a verdade se tornar reconhecível. E ela torna-se reconhecível se Deus Se tornar reconhecível. Ele torna-Se reconhecível em Jesus Cristo. N'Ele, Deus entrou no mundo, e assim plantou a medida da verdade no meio da história. Externamente, a verdade é impotente no mundo; tal como Cristo, que, segundo os critérios do mundo, não tem poder: Ele não possui nenhuma legião; acaba crucificado. Mas é precisamente assim, na carência total de poder, que Ele é poderoso, e só assim a verdade se torna incessantemente força.

Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré,  pp. 160.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

A vida que a morte não aniquila!

       "O homem encontra a vida quando se une Àquele que é em Si mesmo a vida. Então nele, muitas coisas podem ser destruídas; a morte pode tirá-lo da biosfera, mas a vida que a transcende, a vida verdadeira, permanece... É a relação com Deus em Jesus Cristo que dá aquela vida que nenhuma morte é capaz de tirar".

Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré,  pp. 78.

domingo, 29 de julho de 2012

Ressurreição: lugar do culto cristão

       "O dia da ressurreição é o lugar exterior e interior do culto cristão, e a acção de graças como antecipação criadora da ressurreição por parte de Jesus é a maneira como o Senhor faz de nós pessoas que dão graças com Ele, a maneira como Ele, no dom, nos abençoa e envolve na transformação que, a partir dos dons, deve alcançar-nos e expandir-se no mundo, «até que Ele venha»".

Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré,  p 122.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Deus é a realidade que dá o ser e o sentido

       No mundo, verdade e opinião errada, verdade e mentira estão continuamente indissociáveis. A Verdade, em toda a sua grandeza e pureza, não aparece. O mundo é «verdadeiro» na medida em que reflecte Deus, o sentido da criação, a Razão eterna donde brotou. E torna-se tanto mais verdadeiro quanto mais se aproximar de Deus. O homem torna-se verdadeiro, torna-se ele mesmo quando se conforma co Deus. Então alcança a sua verdadeira natureza. Deus é a realidade que dá o ser e o sentido.
        «Dar testemunho da verdade» significa pôr em realce Deus e a sua vontade face aos interesses do mundo e às suas potências. Deus é a medida do ser. Neste sentido, a verdade é o verdadeiro «Rei» que dá a todas as coisas a sua luz e a sua grandeza. Podemos também dizer que dar testemunho da verdade significa, partindo de Deus, da Razão criativa, tornar a criação decifrável e a sua verdade tão acessível que possa constituir a medida e o critério orientador no mundo do homem, que venham ao encontro dos grandes e poderosos o poder da verdade, o direito comum, o direito da verdade.

Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré,  pp. 158-159.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Ele está agora junto de nós!

       "Na súplica cristã pelo regresso de Jesus está sempre contida também a experiência da sua presença. Esta súplica nunca aparece referida apenas ao futuro. Aqui se aplica precisamente aquilo que disse o Ressuscitado: «Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (Mt 28, 20). Ele está agora junto de nós, de forma particularmente densa na presença eucarística. Mas, em sentido inverso, a experiência da presença traz consigo também a tensão para o futuro, para a presença definitivamente realizada: a presença não é completa, impele para além de si mesmo, põe-nos a caminho do definitivo.

Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré,  pp 234.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O regresso de Cristo: enxugará todas as lágrimas

       "A fé no regresso de Cristo é o segundo pilar da profissão de fé cristã. Ele, que Se fez carne e agora permanece Homem para sempre, que para sempre inaugurou em Deus a esfera do ser humano, chama todo o mundo a entrar nos braços aberto de Deus para que, no fim, Deus Se torne tudo em todos e o Filho possa entregar ao Pai o mundo inteiro congregado n'Ele (cf. 1 Cor 15, 20-28). Isto implica a certeza na esperança de que Deus enxugará todas as lágrimas, não ficará nada que seja sem sentido, toda a injustiça será superada e será estabelecida a justiça. A vitória do amor será a última palavra da história do mundo.
       Durante o «tempo intermédio», requer-se dos cristãos, como atitude fundamental, a vigilância. Esta significa que o homem não se feche no momento presente entregando-se às coisas sensíveis, mas erga o seu olhar para além do momentâneo e da sua urgência. O que conta é manter livre a visão sobre Deus, para d'Ele receber o critério e a capacidade de agir de modo justo".

Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré,  pp 232.