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domingo, 10 de dezembro de 2017

Cardeal Luis Antonio Tagle - Aprendi com os últimos

Cardeal LUÍS ANTÓNIO TAGLE (2017). Aprendi com os últimos. A minha vida, as minhas esperanças. Lisboa: Paulus Editoria. 160 páginas.
       No último conclave em que foi eleito o atual Papa, Francisco, então Cardeal Jorge Mario Bergoglio, o Cardeal das Filipas, Tagle, era apontando como um dos possíveis à sucessão do papa Bento XVI. Se já era um Cardeal muito conhecido, pela sua juventude e pela presença nos meios de comunicação e por ser também o responsável da Cáritas Internacional, o que lhe permite viajar um pouco por todo o mundo. Abrindo-se a possibilidade de ser Papa,então a procura da sua biografia, da sua história.
       Este livro em formato de entrevista, conduzida por Gerolamo Fazzini e Lorenzo Fazzini, procura apresentar-nos este jovem Bispo e um dos mais novos Cardeais da Santa Igreja, passando pelo berço e contexto em que nasceu e crescer, a sua vocação e a vida como seminaristas, os primeiros anos como padre e os estudos superiores nos EUA, a escolha para Bispo e posteriormente a ascensão a Cardeal. Pelo meio, a escolha para integrar a Comissão Teológica Internacional, presidida então pelo Cardeal Joseph Ratzinger. Quando este o apresentou ao Papa João Paulo II, em dois momentos lhe perguntou a idade e se já tinha feito a Primeira Comunhão.
       A biografia revela as origens humildes do Cardeal Tagle, da sua ascendência filipina e chinesa, abarcando a cultura das Filipinas, mas a abertura ao mundo chinês e ao mundo ocidental. Os estudos nos EUA deram-lhe outra perspetiva mais universal da cultura, da religião, do cristianismo, mas simultaneamente, como filipino, pode dar um contributo para a vivência cristã, o testemunho de vida num mundo de muitas dificuldades, o diálogo e a combatividade com os as autoridades locais, a teologia da libertação vista a partir das Filipinas, numa libertação sobretudo ideológica. As dificuldades do povo filipino está presente na sua formação, na pastoral de sacerdote e de bispo, alargando-se pelo facto de ter assumido a Presidência da Cáritas Internacional. Está habituado ao contacto com a pobreza e com os pobres, a trabalhar não tanto para eles, mas a trabalhar com eles, já que o próprio partilhou o trabalho para viver com dignidade. Nos EUA teve que ser criativo para conseguir fazer o doutoramento, passando trabalhos a computador, ajudando os párocos, aproveitando as férias não para descansar mas para prover ao necessário para pagar as propinas.
       Hoje é uma referência mundial, mas a humildade, o trato fácil, a afabilidade é visível na entrevista e garantida pelos testemunho dos próprios entrevistadores. É também um homem da comunicação, está presente em diversas redes sociais, interagindo com os diocesanos e com pessoas  de todo o mundo.
       Na despedida "oficial" dos Cardeais ao papa Bento XVI o diálogo entre os dois suscitou o riso, pelo que os outros cardeais quiseram saber que palavras trocaram. Segredo pontíficio! Revelando um grande humor. Foi oicasião para o Cardeal lembrar ao papa Bento XVI que afinal já tinha feito a Primeira Comunhão.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Deus e o tufão das Filipinas: O dilema de Epicuro

       1. Como reagir na fé, a cenários de tragédia e de horror, como aqueles que vimos, esta semana, com imagens, que nos chegaram das Filipinas e do Vietnam, e de toda a região atingida pelo furacão Hayan?!
       Perante a devastação da catástrofe ecológica, do incontável número de mortos, do inaceitável sofrimento das crianças, da insuportável tortura da fome, diríamos, que, de algum modo, a realidade do mal, volta a pôr Deus no banco dos réus!
       Voltamos, quase sem querer, ao velho dilema de Epicuro: “Ou Deus quer tirar o mal do mundo, mas não pode” e então não é um Deus todo-poderoso! Ou “Deus pode tirar o mal do mundo, mas não quer” e então não nos ama verdadeiramente! Ou, se “Deus não quer tirar o mal do mundo e não pode” então não é nem bom, nem omnipotente”. Como compaginar afinal a fé num Deus, que é Amor, com uma “natureza que “se vinga sobre os seus filhos”? Como aceitar o silêncio de Deus, face ao grito dos inocentes?

2. Neste lugar não é possível um debate sério, sobre o assunto. Mas ainda assim, vou tentar dizer algumas coisas simples (?), que nos ajudem a ir ao fundo da questão.
       1º O mundo e a humanidade são, na verdade, obra do amor criador de Deus. Ao decidir, livremente, criar este mundo, Deus não podia criar algo igual a Si mesmo, algo que fosse infinitamente perfeito, porque então confundir-se--iam o Criador e a própria criatura! Ao criar as coisas, essas coisas só podiam ser o que são: coisas finitas, inacabadas, imperfeitas, em processo, em evolução, em transformação, em aperfeiçoamento, no tempo presente. Se as coisas deste mundo fossem infinitas e perfeitas, deixariam de ser “coisas” e seriam “de outro mundo”. Portanto, ao ser criado este mundo, ele não poderia ser outra coisa senão uma realidade finita!
       É, portanto, próprio deste mundo, e desta humanidade que somos, a finitude, a nossa imperfeição, que se vai superando, apesar dos nossos limites! Querer um mundo sem esta imperfeição, é praticamente como conceber um círculo quadrado!

       2º Essa finitude, de que afinal não nos livraremos, no tempo presente desta vida, traz consigo a imperfeição moral do pecado, e arrasta consigo a imperfeição física do corpo, com a doença e a morte! Esta imperfeição, que resulta de um mundo que é finito, de um mundo sempre em gestação, explica, por exemplo, as indisposições da Natureza, as suas convulsões, os seus desmandos, os seus vulcões e furacões! A criação está em evolução, em crescimento. E, neste processo de crescimento, há dor, convulsão, agitação. Não há por que se admirar disso. “Ainda não é o fim”.
       Mas caberia perguntar aqui: não são muitas destas catástrofes naturais consequência da nossa desordem espiritual, do nosso abuso desordenado dos recursos da Terra? Não foram feitas construções, em lugares desadequados?! Temos escutado o grito da Terra?

       3º Mas – diremos nós então - se ao criar este mundo, Deus contava com estes “limites” todos, não seria melhor não o ter feito? Se é assim, o mundo e a vida do homem, valem mesmo a pena? Basta olhar para a tragédia destes dias. Nasce aqui e ali uma criança, a quem os pais dão o nome do tufão Hayan. Não é uma mensagem de esperança, de confiança, de certeza, que apesar de tudo, vale a pena?! Não é esta “força da natureza” um ato de fé, na vida do homem, que é um ser finito, mas com uma abertura infinita? Não é este nascimento um sinal de que o mal não pode destruir, em definitivo, a nossa vida?!
       3. Em que ficamos, então, relativamente ao dilema, com que nos defrontámos ao início? Eu diria, olhando agora, para o nosso Cristo Crucificado e ressuscitado:
       Sim, Deus quer tirar o mal deste mundo! E pôde fazê-lo, entrando neste mundo e lutando contra toda a espécie de mal. E pôde vencê-lo, tornando-se Ele próprio a mais injusta vítima do mal no mundo! Neste Deus de Jesus Cristo, Crucificado por nós, o mal tornou-se o lugar onde o amor venceu, onde o amor se revelou em toda a sua plenitude, onde o amor foi mais forte do que a morte! Sim. Deus quer e pode tirar o mal deste mundo! Agora, Deus está, neste mundo, do nosso lado, do lado de cada pessoa, para vencer o mal. Deus luta por mim, Deus luta connosco, contra toda a espécie de mal. E chama-nos a essa luta, para que o escândalo do mal dê lugar ao milagre do bem.

       4. Disse o Cardeal Tagle, das Filipinas: “vemos destruição e ruínas em todos os lugares, mas também vemos a fé e o amor surgir daquelas ruínas e isso torna-nos pessoas mais fortes”. E, mais uma vez, recordo as sábias palavras do Papa Francisco: “Ao homem que sofre, Deus não dá um raciocínio que explique tudo, mas oferece a sua resposta sob a forma duma presença, que o acompanha, de uma história de bem que se une a cada história de sofrimento, para nela abrir uma brecha de luz” (LF 57).

       5. Para terminar, com algo concreto e menos especulativo, vem-me à mente aquela pergunta que um dia fizeram a Madre Teresa: “O que pensa de Deus, quando vê este mundo cheio de injustiças, de solidão, de tragédias”. Ela respondeu, de imediato: “só penso numa coisa: ir ao encontro de alguém, fazer algo de concreto, para que este mundo se torne melhor”.
       Seja este o nosso compromisso, no meio de um mundo, de um país e de uma fé em crise: rezar e trabalhar, sempre e sem desanimar, por um mundo melhor!

Amaro Gonçalo
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Sugestão de leitura para filósofos:

A. TORRES QUEIRUGA, Creo emn Dios Padre, Ed. Sal Terrae, Col. Presencia teológica, Santander 1986, 109-149.