A terceira Carta Encíclica de Bento XVI empresta o título a este blogue. A Caridade na Verdade. Agora permanecem a fé, a esperança e a caridade, mas só esta entra na eternidade com Deus. Espaço pastoral de Tabuaço, Távora, Pinheiros e Carrazedo, de portas abertas para a Igreja e para o mundo...
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quinta-feira, 31 de outubro de 2019
terça-feira, 20 de novembro de 2018
Hoje a salvação entrou nesta casa!
Jesus entrou em Jericó e começou a atravessar a cidade. Vivia ali um homem rico chamado Zaqueu, que era chefe de publicanos. Procurava ver quem era Jesus, mas, devido à multidão, não podia vê-l’O, porque era de pequena estatura. Então correu mais à frente e subiu a um sicómoro, para ver Jesus, que havia de passar por ali. Quando Jesus chegou ao local, olhou para cima e disse-lhe: «Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa». Ele desceu rapidamente e recebeu Jesus com alegria. Ao verem isto, todos murmuravam, dizendo: «Foi hospedar-Se em casa dum pecador». Entretanto, Zaqueu apresentou-se ao Senhor, dizendo: «Senhor, vou dar aos pobres metade dos meus bens e, se causei qualquer prejuízo a alguém, restituirei quatro vezes mais». Disse-lhe Jesus: «Hoje entrou a salvação nesta casa, porque Zaqueu também é filho de Abraão. Com efeito, o Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido» ( Lc 19, 1-10).
O Evangelho deste dia mostra o chamamento interior. Deus suscita em nós a
conversão. Zaqueu sentiu necessidade de encontrar Jesus. Ultrapassa os
obstáculos, fazendo que a sua pequena estatura não seja impedimento para
chegar até Jesus. Jesus olha e vê Zaqueu. Deus vê para lá da nossa
estatura, do nosso pecado, mas nós precisamos de caminhar ao Seu
encontro e deixarmo-nos ver por Ele, para, a exemplo de Zaqueu, nos
deixarmos transformar.
Alguns desafios do Evangelho proposto para hoje:
Alguns desafios do Evangelho proposto para hoje:
- desejo de ver e de encontrar Jesus;
- deixar-nos "ver" por Ele. Não nos escondamos da Sua presença e do Seu chamamento;
- desçamos do nosso "pedestal", do nosso orgulho, e acolhámo-l'O em nossa casa. Façamos do nosso coração e da nossa vida, a Sua casa, morada santa de Deus, pois "hoje entrou a salvação nesta casa";
- acolher a pessoa no seu todo, como ser humano, filho de Deus. Jesus não julga Zaqueu. Chama-o na sua pequenez, quer ir a sua casa..
- que a nossa pequena estatura não nos impeça de ver Jesus, que veio "procurar e salvar o que estava perdido".
Veja a reflexão completa no XXXI Domingo Tempo Comum.
terça-feira, 20 de março de 2018
VL - O coração não se pode ‘photoshopear’
O Papa Francisco esteve em trânsito pela “sua” América Latina, entre 15 e 22 de janeiro, Chile e Perú. Mantendo a tradição, no último domingo, rezou o Angelus, deixando uma mensagem para todos, mas especialmente aos jovens: o nosso coração não se pode photoshopear. O Papa recomenda que as homilias tenham uma ideia clara, uma mensagem, uma imagem. Lá diz o ditado que uma imagem vale por mil palavras. Imagens e gestos. É o jeito de Jesus que nos interpela com parábolas, comparações, analogias, pequenas estórias, imagens do quotidiano!
O mundo da moda, da música, do espetáculo, da televisão, das revistas conhecem bem o Photoshop, um programa de tratamento de fotografia. Dá para cortar “gorduras”, mazelas no corpo, no rosto, colocando as fotos ao gosto do freguês, de quem é retratado ou para quem vê. A propósito há um pequeno livro de Augusto Cury – A ditadura da beleza – acerca da beleza (sobretudo feminina) publicitada nos meios de comunicação social. Segundo o Psiquiatra brasileiro os “modelos” formatados são uma diminuta percentagem, pois as mulheres concretas não correspondem a medidas decididas por catálogo. É uma ditadura que se impõe pelo marketing, como se as pessoas pudessem se enfaixadas num modelo único!
De forma muito assertiva, como já nos habituou, o Papa Francisco diz como é agradável ver bonitas fotografias, cuidadas digitalmente, mas logo lembrando que o coração, fonte de onde brota o amor, onde se joga a felicidade verdadeira, não pode ser photoshopeado. Nem os outros, nem a realidade. Os filtros coloridos utilizados nas fotos ou nos vídeos não funcionam com os amigos.
Jesus não nos quer maquilhados, quere-nos como somos. Quando Jesus olha para nós não nos vê como seres perfeitos, mas repara no amor que temos no coração para dar aos outros, servindo-os. Na verdade, diz o Papa, Jesus “não Se fixa na tua altura, se tens dificuldade em falar ou não, se adormeces ao rezar, se és muito jovem ou uma pessoa idosa. A única pergunta é: queres seguir-Me e ser Meu discípulo? Não percas tempo em mascarar o teu coração; enche a tua vida do Espírito!”
O Papa dá como exemplo a aposta de Deus em Moisés, tartamudo; em Abraão, um idoso; em Jeremias, muito jovem; em Zaqueu, de baixa estatura; em Pedro, titubeante, e muitos outros.
Há momentos que apetece desistir. Nesses momentos, “não vos deis por vencidos, não percais a esperança! Não vos esqueçais dos Santos, que nos acompanham do céu; recorrei a eles, rezai e não vos canseis de pedir a sua intercessão”.
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017
VL – Silêncio: Deus não mora à superfície
Esta semana partimos de dois livros, que podem ser sugestões de leitura: Silêncio, de Shusaku Endo, e Paciência com Deus, de Tomáš Halík.
“Silêncio”, romance adaptado por Martin Scorsese a filme, e daí também a grande divulgação momentânea, retrata a vida de um missionário jesuíta, português, que teve um papel muito importante na evangelização em terras do Japão. E, perante as muitas dificuldades que encontrou, terá renunciado à fé católica.
O provincial dos jesuítas em Portugal, em entrevista à Agência Ecclesia, sublinha a grande oportunidade para confrontar as várias dimensões da fé. A obra recorda uma página histórica do encontro difícil entre o cristianismo (e o Ocidente) e as tradições japoneses que inicialmente acolheram com benevolência o cristianismo e depois moveram-lhe uma grande perseguição. Para o Padre José Frazão Correia é uma grande oportunidade para revisitar a questão dramática da fé. A dificuldade em permanecer firme num ambiente de extrema perseguição. Revisitar a experiência da fé a partir da sua dimensão dramática e equívoca, várias perspetivas possíveis para enquadrar a questão da adesão a Jesus e da sua visibilidade pública.
O filme/romance não nos permite fazer uma leitura a branco e preto, bem e mal, afirmação da fé pelo martírio ou negação da fé pela apostasia. Aqui percebemos que a aproximação à fé, a afirmação de fé em contextos de grande perseguição, de um grande sofrimento, põe em reserva um juízo demasiado fácil… Publicamente o personagem principal, o padre Sebastião Rodrigues, renuncia à fé, mas o realizador, tal como o autor, faz-nos perceber que no íntimo do padre jesuíta há um percurso de fé e estamos longe de concluir que a sua apostasia pública seja uma renúncia à fé no mais íntimo do seu coração.
Tomáš Halík, neste título, Paciência com Deus, e que tem como subtítulo “Oportunidade para um encontro”, procura perceber o Zaqueu que se esconde no sicómoro (figueira…), mas que Deus descobre por entre a folhagem. Vivemos num tempo em que podemos, com alguma facilidade, catalogar os que têm fé e os que não têm, os crentes e os ateus. O autor recusa uma leitura apressada, fácil, em que se crie uma divisória nítida. Há muitos Zaqueus para os quais temos que olhar com carinho, com atenção. Deus escapa-nos, não se enforma nas nossas conceções racionais. É mistério que, no entanto, está presente em cada um de nós, pois todos fomos/somos criados à Sua imagem e semelhança. Não nos podemos apossar d’Ele, pois também se encontra nos outros…
publicado na Voz de Lamego, n.º 4397, de 31 de janeiro de 2017
terça-feira, 7 de fevereiro de 2017
TOMÁŠ HALÍK - PACIÊNCIA COM DEUS
TOMÁŠ HALÍK (2014). Paciência com Deus. Oportunidade para um encontro. (3.ª Edição). Prior Velho: Paulinas Editora. 288 páginas.
Tomáš Halík, neste título, Paciência com Deus, e que tem como subtítulo “Oportunidade para um encontro”, procura perceber o Zaqueu que se esconde no sicómoro (figueira…), mas que Deus descobre por entre a folhagem. Vivemos num tempo em que podemos, com alguma facilidade, catalogar os que têm fé e os que não têm, os crentes e os ateus. O autor recusa uma leitura apressada, fácil, em que se crie uma divisória nítida. Há muitos Zaqueus para os quais temos que olhar com carinho, com atenção. Deus escapa-nos, não se enforma nas nossas conceções racionais. É mistério que, no entanto, está presente em cada um de nós, pois todos fomos/somos criados à Sua imagem e semelhança. Não nos podemos apossar d’Ele, pois também se encontra nos outros…
Um dos textos citados pelo autor é o do profeta Elias.
Elias, depois de matar os profetas idólatras, é avisado pelo Rei Acaz que o mesmo lhe será feito. Elias sai da cidade e caminha pelo deserto. Já esgotado, pede ao Senhor que lhe tire a vida. O anjo do Senhor aparece-lhe por duas vezes e ordena-lhe: «Levanta-te e come, pois tens ainda um longo caminho a percorrer». Elias faz como o Senhor lhe ordena e dirige-se para o monte Horeb. Aí passa a noite. O Senhor faz saber a Elias que vai passar… «Passou um vento impetuoso e violento, que fendia as montanhas e quebrava os rochedos diante do Senhor; mas o Senhor não se encontrava no vento. Depois do vento, tremeu a terra. Passou o tremor de terra e ateou-se um fogo; mas nem no fogo se encontrava o Senhor. Depois do fogo, ouviu-se o murmúrio de uma brisa suave. Ao ouvi-lo, Elias cobriu o rosto com um manto, saiu e pôs-se à entrada da caverna» (1 Reis 19, 1- 14).
Deus nem sempre é evidente. Em questões de fé nem tudo é branco e preto. Um crente passa por momentos de treva, de dúvida e hesitação. Um “ateu” pode estar perto de Deus, em busca, a percorrer um caminho de aproximação.
É, em meu entender, uma das linhas condutoras do texto de Tomáš Halík, Paciência com Deus, procurando fazer pontes, prevenir juízos precipitados, para não encerrar o próprio Deus em ideias preconcebidas e limitando a Sua ação.
Deus poderá não ser tão evidente como por vezes se faz crer.
Por um lado, em Jesus Cristo, Deus manifesta-Se em plenitude, revela o Seu rosto. Mas não Se deixa aprisionar por uma pessoa ou por uma instituição ou por uma religião. Quem se convence que possui Deus está perto de blasfemar, pois Deus é e continuará a ser Mistério.
Por outro lado, segundo o teólogo checo, o caminho da fé não é linear. A busca honesta e decidida tem avanços e recuos. Deus nem sempre está onde O queremos, pode estar onde não pensamos. Elias é surpreendido. Deus não está na tempestade mas na brisa suave, onde quase não Se percebe.
Santa Teresinha, no momento de especial sofrimento vive a “noite da fé”, contudo, não diminui o amor que permanece até à eternidade.
Em Nietzsche, na proclamação da morte de Deus, segundo o autor, também se intui o silêncio dos crentes que deixaram que Deus fosse morto sem protestarem, sem reivindicarem a Sua vida e a Sua presença…
Deus poderá não ser tão evidente como por vezes se faz crer.
Por um lado, em Jesus Cristo, Deus manifesta-Se em plenitude, revela o Seu rosto. Mas não Se deixa aprisionar por uma pessoa ou por uma instituição ou por uma religião. Quem se convence que possui Deus está perto de blasfemar, pois Deus é e continuará a ser Mistério.
Por outro lado, segundo o teólogo checo, o caminho da fé não é linear. A busca honesta e decidida tem avanços e recuos. Deus nem sempre está onde O queremos, pode estar onde não pensamos. Elias é surpreendido. Deus não está na tempestade mas na brisa suave, onde quase não Se percebe.
Santa Teresinha, no momento de especial sofrimento vive a “noite da fé”, contudo, não diminui o amor que permanece até à eternidade.
Em Nietzsche, na proclamação da morte de Deus, segundo o autor, também se intui o silêncio dos crentes que deixaram que Deus fosse morto sem protestarem, sem reivindicarem a Sua vida e a Sua presença…
Mais perigoso que um ateu convicto é um crente apático!
O diálogo faz-se entre ateus convictos e lutadores e crentes em busca. Entre crentes apáticos, seguros de si mesmos, e ateus indiferentes não há diálogo nem discussão possível. Situam-se uns e outros na denúncia de Nietzsche, Deus morreu e também o matámos. O anúncio não deu lugar ao protesto contra a morte de Deus. Foi um grito que passou com indiferença.
Esta é mais uma belíssima obra e provocação do autor chego, convidando-se a uma busca constante, permitindo que os Zaqueus se aproximem e, no momento em que também nós formos e nos sentirmos Zaqueus, nos deixemos interpelar pelas palavras e pelo desafio de Jesus Cristo.
(elaborei o presente texto a partir de dois textos próprios
publicados na Voz de Lamego, sob o título:
1. Silêncio, Deus não mora à superfície (31 de janeiro de 2017)
2. Deus não mora à superfície (7 de fevereiro de 2017)
Sugiro a leitura do seguinte comentário e onde encontra algumas passagens do livro:
Livro da semana: “Paciência com Deus – oportunidade para um encontro”
UM OUTRO APONTAMENTO
Sobre o discurso doo Papa Bento XVI na Universidade de Regensburg... O autor considera que foi uma brilhante conferência, apesar de se ter tornado famosa pela resposta furiosa de grande parte do mundo muçulmano, suscitada pela transmissão sensacionalista dos meios de comunicação social.
"Frente ao irracionalismo... Bento apela a uma nova aliança entre a fé e o racionalismo, a religião e a ciência. Ele admira a união patrística e escolástica do Logos divino - liricamente apresentada no prólogo de São João - e o logos da filosofia helenística. Além disso, apoia a ideia, avançada pelo imperador Miguel contra o Islão, de que Deus também se vincula mediante normas éticas.
... O Papa apresentou ainda outro argumento de importância fundamental: um Deus incompreensível pode ser perigoso - um «Deus racional» (ao contrário de um Deus oculto, misterioso e imprevisível) é um Deus que permite a tolerância e o diálogo. Os que professam um Deus envolto nas trevas do mistério poderiam dar origem a temores que apenas conseguiriam desencadear violência irracional em nome desse mesmo Deus. Tenho pensado muito nesse argumento, que parece lógico e consistente, quando proferido por um homem que sente a responsabilidade pastoral global, nesta era de «terror em nome de Deus»"
sábado, 29 de outubro de 2016
XXXI Domingo do Tempo Comum - ano C - 30/10/2016
1 – Um publicano a rezar no Templo, colocando-se diante de Deus, despido de qualquer presunção ou pretensão, certo da misericórdia de Deus. Apresenta-se transparente e disponível para deixar que Deus o transforme. É a atitude do discípulo de Cristo. O discípulo é aquele que se predispõe a amadurecer, a crescer como pessoa, aperfeiçoando as arestas que ainda magoam os outros, pela indiferença ou pelos gestos de maldade, injustiça, violência.
Hoje o Evangelho mostra-nos outro modelo de discípulo. Zaqueu, o homem de vistas curtas, de estatura baixa, que não vê além do seu nariz, do seu umbigo. Mas chega um dia em que se sente impelido a ver e conhecer Jesus. Dois fatores o impedem de chegar perto de Jesus. O primeiro tem a ver sua pequena estatura. Já deu o primeiro passo: a decisão de ver Jesus. O outro obstáculo é a multidão. A multidão, na qual também nos encontramos, pode ajudar a encontrar Jesus, apontando para Ele, mas pode também impedir que alguém se aproxime de Jesus, mantendo-se compacta e barrando a passagem.
Em que situações a multidão impede de ver Jesus?
Em que situações a multidão ajuda a encontrar Jesus?
São duas questões que devemos colocar-nos. Sabemos que a vivência da fé, a coerência de vida, o testemunho, o cuidado com os mais frágeis, pode levar outros a querer estar perto de Jesus e a desfrutar da mesma fé e do mesmo compromisso. O inverso manifesta-se quando a vida concreta contradiz abertamente a fé professada. O nosso intento será sempre, reconhecendo o nosso pecado, procurar o mais possível a identificação a Jesus Cristo.
2 – Quando queremos alguma coisa, de verdade, vamos atrás. Insistimos, uma e outra vez. Não desistimos à primeira. Procuramos os meios, as pessoas, os instrumentos para obtermos o que desejamos. Zaqueu decidiu ver Jesus. Não apenas avistá-l'O à distância, mas vê-l'O de perto, deixar-se ver por Ele. Também aqui a multidão teve uma influência positiva. Zaqueu ouviu falar de Jesus. Terá ouvido muitas coisas acerca do Mestre da Docilidade. Como chefe de publicanos, cobradores de impostos odiados por toda a gente, foi ouvindo o que se dizia acerca de Jesus: um Profeta que anuncia um reino novo, um tempo novo, uma nova maneira das pessoas se relacionarem. As palavras e os prodígios, a mensagem e a Sua postura. A alternativa: um subversivo, um revolucionário, um lunático. Das informações recolhidas, um desejo forte de encontrar-se pessoalmente com Jesus, confirmando com os próprios olhos o que ouvira dizer. Não basta o que ouvimos dizer, é necessário o encontro com Jesus.
"Então correu mais à frente e subiu a um sicómoro, para ver Jesus, que havia de passar por ali". Colocado num lugar estratégico, para ver sem ser visto. Mas antes de ver, já Jesus, chegado ao local, o vê e o chama: «Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa». Atónito e surpreendido, logo desce e com alegria recebe Jesus em sua casa. Não há tempo para perguntas e para porquês. Agora é o tempo da conversão. A conversão iniciara-se com o desejo de ver Jesus e completa-se com o acolhimento alegre a Jesus.
O discípulo torna-se missionário. «Senhor, vou dar aos pobres metade dos meus bens e, se causei qualquer prejuízo a alguém, restituirei quatro vezes mais». A alegria do encontro com Jesus provoca compromisso e mudança de vida. Zaqueu só precisou de um lampejo de luz para se abrir à misericórdia de Deus, que se manifesta e age em Jesus. Doravante a postura de Zaqueu não mais será a mesma.
3 – Somos responsáveis uns pelos outros. A desresponsabilização pelo próximo é pecado que fere os outros e que brada aos Céus. Deus pergunta a Caim sobre o seu irmão e ele responde-Lhe – acaso sou guarda do meu irmão? Contradiz a fraternidade original e a vontade de Deus. No Evangelho Jesus reporá o mandamento: amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. Não há maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos. Jesus não demonstra o amor, mostra-o ao entregar-Se por nós.
Como relembra o Principezinho, somos responsáveis por aqueles que cativamos. E devemos cativar e cuidar de cada pessoa, de todas as pessoas, da pessoa que está à minha beira, pois foi-me enviada por Deus. É a presença de Deus no meio de nós. Quero encontrar Deus? Queres encontrar-te com Deus? O próximo é a resposta! Cuidar de quem precisa de mim e de ti, de quem precisa de nós. Fazermo-nos próximos para ajudar. Esta é a via para chegar a Deus.
Não há outra forma. Deus deixa-Se ver, tocar, prender, abraçar em cada pessoa. Não podes, lembra São Tiago, fazer juras de amor a Deus, que não vês, se desprezas os outros que vês, em quem podes ver Deus. Deus não Se manteve e não Se mantém distante de nós. Em Jesus Cristo, Deus encarnou, assumiu a nossa natureza humana. A fragilidade e o pecado foram tocados e redimidos pela carne de Jesus Cristo. Encarnou. Viveu. Morreu. Ressuscitou. Ascendeu para Deus Pai. Mas não nos deixa órfãos, dá-nos o Espírito Santo, que acende em nós a chama do amor e nos ilumina tornando Cristo visível na Palavra proclamada, nos Sacramentos celebrados, nas pessoas encontráveis no nosso peregrinar.
Aquela multidão que vê Jesus a entrar em casa de Zaqueu – o chefe de publicanos, odiado pela profissão que exerce, concluindo-se que pertencia àqueles que usam e abusam do cargo –, não fica convencida: «Foi hospedar-Se em casa dum pecador». Jesus não percebe. É ingénuo. Como vai logo hospedar-se em casa de uma pessoa assim?! A resposta de Jesus vem mais à frente: «Hoje entrou a salvação nesta casa, porque Zaqueu também é filho de Abraão. Com efeito, o Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido». Também aqui se pode ver a intuição da parábola do Pai Misericordioso: "este teu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado".
A vinda de Jesus ao mundo tem um propósito firme: que n'Ele todos descubram Deus e se deixem salvar pelo Seu amor. Por conseguinte, cabe-nos hoje mostrar Deus aos nossos contemporâneos, transparecendo-O nas palavras e nos gestos, com a voz e com a vida.
4 – Maior que o nosso pecado é a misericórdia e a complacência de Deus. A humildade faz-nos mirar ao espelho, não para nos vermos, mas para vermos o quanto Deus nos ama. Víamos na semana passada que a oração do pobre sobe ao céu, a oração do fariseu traz-lhe a justificação de Deus. A prepotência e a soberba condenam-nos a girar em torno do nosso umbigo, acabando zonzos, acabando por cair no vazio e na solidão…
"Diante de Vós, Senhor, o mundo inteiro é como um grão de areia na balança, como a gota de orvalho que de manhã cai sobre a terra. De todos Vos compadeceis e não olhais para os seus pecados... Vós amais tudo o que existe... A todos perdoais, porque tudo é vosso, Senhor, que amais a vida. O vosso espírito incorruptível está em todas as coisas. Por isso castigais brandamente aqueles que caem e advertis os que pecam, recordando-lhes os seus pecados, para que se afastem do mal e acreditem em Vós, Senhor".
O livro da Sabedoria deixa vir ao de cima a misericórdia de Deus. Do mesmo jeito o Salmo nos ensina a compaixão e a bondade de Deus: "O Senhor é clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade. O Senhor é bom para com todos e a sua misericórdia se estende a todas as criaturas. O Senhor é fiel à sua palavra e perfeito em todas as suas obras. O Senhor ampara os que vacilam e levanta todos os oprimidos".
5 – E porque sabemos que Deus nos atende, suplicamos-Lhe que nos faça caminhar sem obstáculos para os bens por Ele prometidos, ou para aprendermos, com a sabedoria do coração, a fazer com que as dificuldades sejam oportunidades para fortalecer a nossa fé e a nossa confiança em Deus. Por outro lado, a oração previne-nos contra os falsos profetas, comprometendo-nos com o tempo presente, com o mundo atual, sabendo que Deus nos envia em missão, a missão de espalhar a fé e a esperança, através da prática do bem, do cuidado e do serviço a todos os que encontrarmos.
Rezando, o Apóstolo adverte-nos contra o desespero, contra as trevas, contra aqueles que nos querem amedrontar com desgraças. "Oramos continuamente por vós, para que Deus vos considere dignos do seu chamamento e, pelo seu poder, se realizem todos os vossos bons propósitos e se confirme o trabalho da vossa fé. Assim o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo será glorificado em vós... Nós vos pedimos, irmãos, a propósito da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo e do nosso encontro com Ele: Não vos deixeis abalar facilmente nem alarmar por qualquer manifestação profética, por palavras ou por cartas, que se digam vir de nós, pretendendo que o dia do Senhor está iminente".
Hoje como ontem, são muitos os que anunciam o fim do mundo, com imensos sinais destrutivos, numa crescente cultura da morte. Porém, adverte-nos o apóstolo, cabe-nos irradiar a cultura da vida, perseverando, lutando pela justiça e pela verdade, na certeza que Deus vencerá.
Pe. Manuel Gonçalves
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sábado, 2 de novembro de 2013
XXXI Domingo do Tempo Comum - ano C - 3 de novembro
1 – «Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa». O convite de Jesus, feito a Zaqueu, e a cada um de nós, é extraordinário. É um encontro verdadeiramente revelador. Zaqueu era cobrador de impostos, publicano, profissão geradora de ódios, pois o que cobravam era fruto do trabalho, do sustento e das canseiras de muitas famílias, algumas das quais com escassos recursos, e ainda por cima os impostos cobrados era direcionados para o imperador romano, a potência invasora, e para as autoridades locais. Por outro lado, os cobradores de impostos, muitas vezes, aproveitavam o posto que ocupavam e a proteção que tinham, para cobrar maquias consideráveis para si próprios.
Jesus entra na cidade de Jericó. Continua a caminhar, indo ao encontro das pessoas. Ali vive um homem rico, o chefe dos cobradores de impostos. Sente-se atraído por Jesus. Ouviu falar d'Ele. Há muitas pessoas à procura de Jesus. Também ele quer ver Jesus. Mas para ver Jesus é necessário ter os olhos bem abertos, e sobretudo o coração. Zaqueu é de pequena estatura, de vistas curtas, pouco mais vê que a sua carteira. Mas sente-se impelido a ver Jesus e sobe a uma árvore, coloca-se em local elevado em relação ao chão e à multidão.
Entretanto, Jesus levanta o olhar e de imediato o interpela: «Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa». É preciso descer, colocar-nos ao nível de Jesus, que sendo de condição divina, quis ser um de nós, para no meio de nós nos ensinar a ser irmãos, porque filhos de Deus, do mesmo Pai. Se ficarmos no lugar em que nos encontramos, no nosso pedestal, na nossa vidinha, poderemos até ver Jesus, mas à distância, e apenas com os olhos, não com o coração. Zaqueu desce rapidamente e recebe Jesus com alegria.
É uma alegria convertida em compromisso: «Senhor, vou dar aos pobres metade dos meus bens e, se causei qualquer prejuízo a alguém, restituirei quatro vezes mais». Não basta acolher o amor de Deus, é necessário que este AMOR maior seja serviço aos outros.
Vêm então os reparos daqueles que, vendo Jesus, ainda não O descobriram, ainda não se deixaram tocar pela Sua presença, pelo Seu olhar, pelas Suas palavras: «Foi hospedar-Se em casa dum pecador». Jesus não se deixa enredar na cusquice e conclui: «Hoje entrou a salvação nesta casa, porque Zaqueu também é filho de Abraão. Com efeito, o Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido».
2 – O Evangelho é um desafio de salvação. Devemos manter aceso em nós o desejo de querer ver Jesus, de O encontrar, de O seguir, de O levarmos para casa, de O trazermos para a nossa vida.
Só a humildade nos coloca no caminho de Jesus, de contrário Ele passa e nós deixamo-nos ficar, em cima do sicómoro, ou comodamente a murmurar, pelos outros que avançam caminhando com Ele. O chamamento não é para os outros. É para mim. Para ti. É para todos nós. Ele passa. Ele faz-Se caminho, verdade e vida. Ele vem habitar connosco, vem ficar em nossa casa.
Se a nossa estatura é pequena, há que procurar mais afincadamente, abrir o coração, fazer com que as nossas vistas sejam mais largas, alcancem mais longe, e não se fixem apenas nos nossos pés, nos nossos passos. Olhar para ver Jesus. Seguir os Seus passos. Procurá-l’O onde Ele vai passar. Escutar o seu convite. Segui-l'O para onde for. É necessário descer, do nosso comodismo, da nossa janela, não deixar que Ele passe adiante sem nós. Também São Paulo caiu do cavalo, do alto do seu orgulho e da sua presunção. Jesus bate à nossa porta, grita-nos aos ouvidos, envia-nos um impulso ao coração, como fez aos discípulos de Emaús.
Acolher Jesus, segui-l'O deixando que entre em nossa casa, gera ALEGRIA que transborda, contagia e se espalha para as casas vizinhas, para as pessoas que se cruzam connosco. Não é possível encontrar Jesus e acolhê-l'O sem uma elevada dose de alegria. Não é possível que Ele passe na nossa vida e não deixe marcas profundas que nos leve a modificar os aspetos da nossa vida que ainda não correspondem à Sua palavra de amor e de perdão. Ou então ainda não O encontramos. Não basta acolher o amor de Deus, é necessário que este AMOR maior seja serviço aos outros.
Hoje a salvação quer entrar em minha casa, na tua, na nossa casa. Por mais perdidos que estejamos, Jesus vem para salvar-nos, para nos introduzir na comunhão de Deus. Levemos a outros esta alegria. Não impeçamos ninguém de se aproximar e de ver Jesus. A multidão impedia que Zaqueu chegasse perto de Jesus. Não sejamos empecilho para os outros pela nossa opacidade, pela nossa tibieza. Ao invés, deixemo-nos contagiar e contagiemos. Evangelizados e evangelizadores.
3 – A história de salvação revela-nos um Deus que está por perto, mesmo quando da nossa parte há recusa, pecado, rutura. Com efeito, a salvação não é um momento para a vida inteira. Pode haver um clique (inicial) transformador, como em Zaqueu, como em São Paulo, como em Santo Agostinho. No caso haveria uma preparação anterior e interior. Zaqueu queria ver Jesus. Paulo procurava a fidelidade à religião e à verdade. Santo Agostinho, como o próprio refere, há muito que procurava Deus, mesmo quando não sabia, na filosofia e na vida.
É como o casal. O sim que um dia assumem para toda a vida, é para renovar todos os dias. Como o SIM de Maria ao Anjo, que A faz levantar e rapidamente correr ao encontro da Sua prima Santa Isabel. Serviço, alegria e louvor.
Deus ama-nos. Como Pai, com amor de Mãe. Mesmo quando nos desviamos. Até podemos cansar-nos de pedir perdão, como dizia o papa Francisco, logo no início de pontificado, Deus não Se cansa de nos perdoar.
“Diante de Vós, Senhor, o mundo inteiro é como um grão de areia na balança, como a gota de orvalho que de manhã cai sobre a terra. De todos Vos compadeceis, porque sois omnipotente, e não olhais para os seus pecados, para que se arrependam. Vós amais tudo o que existe e não odiais nada do que fizestes... Mas a todos perdoais, porque tudo é vosso, Senhor, que amais a vida. Por isso castigais brandamente aqueles que caem e advertis os que pecam, recordando-lhes os seus pecados…”A confiança da Sabedoria é rezada pelo salmista: “O Senhor é clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade. O Senhor é bom para com todos e a sua misericórdia se estende a todas as criaturas. O Senhor é fiel à sua palavra e perfeito em todas as suas obras. O Senhor ampara os que vacilam e levanta todos os oprimidos”.
Deus é Bom e Compassivo.
4 – Quando fazemos um pedido à nossa mãe, ou lhe damos uma explicação, temos a consciência que ela tudo fará para nos atender, para compreender o que fizemos, tudo fará junto do nosso pai para que também ele nos compreenda e aceite os nossos pedidos e/ou limitações.
4 – Quando fazemos um pedido à nossa mãe, ou lhe damos uma explicação, temos a consciência que ela tudo fará para nos atender, para compreender o que fizemos, tudo fará junto do nosso pai para que também ele nos compreenda e aceite os nossos pedidos e/ou limitações.
A certeza que Deus é Pai e é Mãe (João Paulo I), e que sempre nos perdoa e nos compreende, porque nos ama até ao infinito, cimenta a nossa vontade para d'Ele nos aproximarmos, mais e mais. Também na dúvida, na hesitação, no pecado.
A missiva de São Paulo manifesta uma forte ligação à comunidade e uma visível comunhão com Deus: “Oramos continuamente por vós, para que Deus vos considere dignos do seu chamamento e, pelo seu poder, se realizem todos os vossos bons propósitos e se confirme o trabalho da vossa fé... Nós vos pedimos, irmãos, a propósito da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo e do nosso encontro com Ele: Não vos deixeis abalar facilmente nem alarmar por qualquer manifestação profética, por palavras ou por cartas, que se digam vir de nós, pretendendo que o dia do Senhor está iminente”.
A oração segura-nos em Deus, dilata o nosso coração, ajuda-nos a relativizar (positivamente) o tempo presente, para não embarcarmos em euforias utópicas nem cairmos em desesperos destruidores. Ele é Pai. Lancemo-nos, sem medo, nos Seus braços.
Textos para a Eucaristia: Sab 11, 22 – 12, 2; Sl 144 (145); 2 Tes 1, 11 – 2, 2; Lc 19, 1-10.
Reflexão Dominical na página da Paróquia de Tabuaço.
sexta-feira, 22 de julho de 2011
Amar um ser é esperar nele para sempre
«Que significa amar?
Amar um ser é esperar nele para sempre.
Amar um ser é não o julgar; julgar um ser é identificá-lo com aquilo que dele se conhece: «Agora, conheço-te. Agora julgo-te. Sei aquilo que vales»... Isto representa matar um ser.
Amar um ser é esperar sempre dele algo de novo, algo de melhor.
Se bem leio no Evangelho, poderei concluir da maneira pela qual Jesus saiu ao encontro dos homens e os amou e enriqueceu, que Ele sempre os considerou crianças, crianças que não haviam crescido convenientemente, que não haviam sido suficientemente amadas.
Cristo nunca os identificou com aquilo que tinham feito até então.
Pensai, por exemplo, em Maria Madalena: Cristo esperava dela algo que ninguém tinha conseguido descobrir e amou-a tanto, perdoou-lhe tão generosamente que dela obteve o amor mais puro e mais fiel e, admirados, todos à sua volta comentavam: «Será possível que ela seja assim?! Tínhamo-la julgado, pensávamos conhecê-la, haviamo-la condenado e tudo porque nunca fora convenientemente amada...»
Cristo amou-a com tal perfeição que a tornou aquilo que os outros, pobres e desconfiados, demasiado avarentos de amor, não tinham sido capazes de suscitar nela.
Cristo aguardava, esperava tudo de toda a gente. Fazia surgir, ao Seu redor, vocações, amizades e generosidades; e todos os que supunham conhecer de longa data aqueles personagens, ficavam atónitos: «Como? Zaqueu tornou-se generoso? Maria Madalena tornou-se pura e fiel? Tomé tornou-se crente? Mateus, o publicano, feito Apóstolo? E todos esses pobres, todos esses pecadores se transformaram em apóstolos e santos?... Como é possível?»
Alguém os tinha amado, tinha acreditado neles.
Alguém não havia repetido o que nós dizemos: «Não há nada a fazer dele, nada se conseguirá. Tentei tudo. Não quero tornar a vê-lo. Não volto a escrever. É perder tempo...»
Cristo foi ao encontro de cada um deles, dizendo: «Só porque não foi amado o bastante é que se tornou assim mau. Se o amassem mais, seria melhor. Se tivessem sido mais delicados, mais generosos, mais afectuosos para com ele, ele teria conseguido libertar-se daquela armadura, daquela carapaça de que se revestiu para não sofrer tanto»...
Louis Evely, em "Fraternidade e Evangelho", in Abrigo dos Sábios.
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
Amar um ser é esperar nele para sempre
«Que significa amar?
Amar um ser é esperar nele para sempre.
Amar um ser é não o julgar; julgar um ser é identificá-lo com aquilo que dele se conhece: «Agora, conheço-te. Agora julgo-te. Sei aquilo que vales»... Isto representa matar um ser.
Amar um ser é esperar sempre dele algo de novo, algo de melhor.
Se bem leio no Evangelho, poderei concluir da maneira pela qual Jesus saiu ao encontro dos homens e os amou e enriqueceu, que Ele sempre os considerou crianças, crianças que não haviam crescido convenientemente, que não haviam sido suficientemente amadas.
Cristo nunca os identificou com aquilo que tinham feito até então.
Pensai, por exemplo, em Maria Madalena: Cristo esperava dela algo que ninguém tinha conseguido descobrir e amou-a tanto, perdoou-lhe tão generosamente que dela obteve o amor mais puro e mais fiel e, admirados, todos à sua volta comentavam: «Será possível que ela seja assim?! Tínhamo-la julgado, pensávamos conhecê-la, haviamo-la condenado e tudo porque nunca fora convenientemente amada...»
Cristo amou-a com tal perfeição que a tornou aquilo que os outros, pobres e desconfiados, demasiado avarentos de amor, não tinham sido capazes de suscitar nela.
Cristo aguardava, esperava tudo de toda a gente. Fazia surgir, ao Seu redor, vocações, amizades e generosidades; e todos os que supunham conhecer de longa data aqueles personagens, ficavam atónitos: «Como? Zaqueu tornou-se generoso? Maria Madalena tornou-se pura e fiel? Tomé tornou-se crente? Mateus, o publicano, feito Apóstolo? E todos esses pobres, todos esses pecadores se transformaram em apóstolos e santos?... Como é possível?»
Alguém os tinha amado, tinha acreditado neles.
Alguém não havia repetido o que nós dizemos: «Não há nada a fazer dele, nada se conseguirá. Tentei tudo. Não quero tornar a vê-lo. Não volto a escrever. É perder tempo...»
Cristo foi ao encontro de cada um deles, dizendo: «Só porque não foi amado o bastante é que se tornou assim mau. Se o amassem mais, seria melhor. Se tivessem sido mais delicados, mais generosos, mais afectuosos para com ele, ele teria conseguido libertar-se daquela armadura, daquela carapaça de que se revestiu para não sofrer tanto»...
Louis Evely, em "Fraternidade e Evangelho", in Abrigo dos Sábios.
sábado, 30 de outubro de 2010
XXXI Domingo Tempo Comum - 31/Outubro
1 – O nosso encontro com Deus, com Jesus Cristo, modifica-nos interiormente, comprometendo-nos com atitudes e gestos concretos na nossa relação com todos os que nos rodeiam.
No Evangelho aparece-nos mais um publicano, desta feita, o chefe dos cobradores de impostos. Ainda hoje é uma profissão odiosa, mas muito mais naquele tempo e naquele contexto. Ao serviço do império romano, os judeus consideram os publicanos traidores, pecadores públicos.
No domingo anterior, Jesus, na parábola que nos conta, elogia a atitude humilde e suplicante do publicano, em contraponto à soberba e sobranceria do fariseu. Hoje, Jesus exemplifica as suas palavras, indo hospedar-se em casa de um pecador.
Zaqueu é um homem de baixa estatura, isto é, de vistas curtas, só vê o seu bolso, ou como diríamos na actualidade, só vê o tamanho da sua carteira. Mas quer ver Jesus. Já ouviu falar do Mestre dos Mestres e tem curiosidade, ou algo no seu íntimo o chama. Deixa o seu posto de cobrança e sobe a uma árvore. Jesus, que vê ao largo e ao longe, avista-o e diz-lhe: "Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa".
O evangelista mostra-nos Jesus como uma pessoa atenta e atenciosa, chama o seu interlocutor pelo nome próprio.
Zaqueu, por sua vez, recebe Jesus com alegria, em sua casa. Esta alegria não é eufórica nem momentânea, mas transformadora: "Senhor, vou dar aos pobres metade dos meus bens e, se causei qualquer prejuízo a alguém, restituirei quatro vezes mais".
2 – A presença de Deus na nossa vida é um estímulo e uma provocação ao bem, é esperança para o dia de hoje e para amanhã, é chamamento à vida, à felicidade, é garantia de que cada gesto de caridade se manterá até à eternidade.
Deus não desiste de nós, ainda que desistamos d'Ele, ou nos afastemos pelo nosso pecado. Mantém-se fiel à sua promessa, à ALIANÇA de ser nosso Deus para sempre.
Diz-se no livro da Sabedoria: "De todos Vos compadeceis, porque sois omnipotente, e não olhais para os seus pecados, para que se arrependam" (Primeira Leitura). Diante de Deus, o mundo é como uma gota de orvalho, mas ainda assim Deus ama tudo o criou. Perdoa, para que nos ergamos.
No Evangelho, como vimos, Jesus não leva em conta o pecado de Zaqueu mas a vida nova que nele desponta neste encontro de conversão.
A oração de São Paulo, pelas comunidades, é um convite à esperança, para que ninguém se alarme com falsas promessas ou anúncios cataclíticos, e ao compromisso com o tempo e com a história: "oramos continuamente por vós, para que Deus vos considere dignos do seu chamamento e, pelo seu poder, se realizem todos os vosso bons propósitos e se confirme o trabalho da vossa fé".
3 – Face à Palavra de Deus que escutámos/lemos e reflectimos que atitudes poderemos assimilar para a nossa vida? Alguns desafios parecem-nos desde logo claros e importantes:
No Evangelho aparece-nos mais um publicano, desta feita, o chefe dos cobradores de impostos. Ainda hoje é uma profissão odiosa, mas muito mais naquele tempo e naquele contexto. Ao serviço do império romano, os judeus consideram os publicanos traidores, pecadores públicos.
No domingo anterior, Jesus, na parábola que nos conta, elogia a atitude humilde e suplicante do publicano, em contraponto à soberba e sobranceria do fariseu. Hoje, Jesus exemplifica as suas palavras, indo hospedar-se em casa de um pecador.
Zaqueu é um homem de baixa estatura, isto é, de vistas curtas, só vê o seu bolso, ou como diríamos na actualidade, só vê o tamanho da sua carteira. Mas quer ver Jesus. Já ouviu falar do Mestre dos Mestres e tem curiosidade, ou algo no seu íntimo o chama. Deixa o seu posto de cobrança e sobe a uma árvore. Jesus, que vê ao largo e ao longe, avista-o e diz-lhe: "Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa".
O evangelista mostra-nos Jesus como uma pessoa atenta e atenciosa, chama o seu interlocutor pelo nome próprio.
Zaqueu, por sua vez, recebe Jesus com alegria, em sua casa. Esta alegria não é eufórica nem momentânea, mas transformadora: "Senhor, vou dar aos pobres metade dos meus bens e, se causei qualquer prejuízo a alguém, restituirei quatro vezes mais".
2 – A presença de Deus na nossa vida é um estímulo e uma provocação ao bem, é esperança para o dia de hoje e para amanhã, é chamamento à vida, à felicidade, é garantia de que cada gesto de caridade se manterá até à eternidade.
Deus não desiste de nós, ainda que desistamos d'Ele, ou nos afastemos pelo nosso pecado. Mantém-se fiel à sua promessa, à ALIANÇA de ser nosso Deus para sempre.
Diz-se no livro da Sabedoria: "De todos Vos compadeceis, porque sois omnipotente, e não olhais para os seus pecados, para que se arrependam" (Primeira Leitura). Diante de Deus, o mundo é como uma gota de orvalho, mas ainda assim Deus ama tudo o criou. Perdoa, para que nos ergamos.
No Evangelho, como vimos, Jesus não leva em conta o pecado de Zaqueu mas a vida nova que nele desponta neste encontro de conversão.
A oração de São Paulo, pelas comunidades, é um convite à esperança, para que ninguém se alarme com falsas promessas ou anúncios cataclíticos, e ao compromisso com o tempo e com a história: "oramos continuamente por vós, para que Deus vos considere dignos do seu chamamento e, pelo seu poder, se realizem todos os vosso bons propósitos e se confirme o trabalho da vossa fé".
3 – Face à Palavra de Deus que escutámos/lemos e reflectimos que atitudes poderemos assimilar para a nossa vida? Alguns desafios parecem-nos desde logo claros e importantes:
- desejo de ver e de encontrar Jesus;
- deixar-nos "ver" por Ele. Não nos escondamos da Sua presença e do Seu chamamento;
- desçamos do nosso "pedestal", do nosso orgulho, e acolhámo-l'O em nossa casa. Façamos do nosso coração e da nossa vida, a Sua casa, morada santa de Deus, pois "hoje entrou a salvação nesta casa";
- que a nossa pequena estatura não nos impeça de ver Jesus, que veio "procurar e salvar o que estava perdido";
- como São Paulo, rezemos uns pelos outros, em comunidade e pela comunidade, para que frutifique em nós e através de nós a fé que professamos.
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Textos para a Eucaristia (ano C): Sab 11,22-12,2; 2 Tes 1,11-2,2; Lc 19,1-10
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