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quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

São João, Apóstolo e Evangelista

       Filho de Zebedeu, rico pescador de Bethsaida (Mc 1, 20; Mt 4, 18--22; Jo 1, 44), e de Salomé, que mais tarde se viria a consagrar ao serviço de Jesus e dos Apóstolos, foi educado, com o seu irmão Tiago, na seita dos zelotes. Tornado discípulo de João Baptista, por ele seria encaminhado para Jesus, vindo a ser bem depressa, um dos membros mais ativos do grupo.
       A João confiou Jesus não só o maior número de missões, mas também os Seus mais íntimos segredos. A ele confiará igualmente Sua Mãe, que terminará os Seus dias na companhia do «Discípulo amado». Após uma longa vida apostólica, o Apóstolo do amor será exilado para a ilha de Patmos (Apoc. 1), no tempo de Domiciano, sendo o último dos Doze a deixar a terra.
       João é o autor de vários Cartas, do Apocalipse e do quarto Evangelho.

Oração de colecta:
       Deus todo-poderoso e eterno, que por meio do apóstolo São João nos revelastes os mistérios do Verbo, concedei-nos a graça de compreender e amar as maravilhas que ele nos fez conhecer. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.


Santo Agostinho, bispo, sobre a Primeira Epístola de São João 

A Vida manifestou-Se na carne 

O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos, o que tocámos com as nossas mãos acerca do Verbo da Vida. Quem poderia tocar com suas mãos o Verbo, se não fosse porque o Verbo Se fez carne e habitou entre nós?
O Verbo, que Se fez carne para poder ser tocado com as mãos, começou a ser carne no seio da Virgem Maria; mas não foi então que começou a ser o Verbo, porque, como diz São João, Ele era desde o princípio. Vede como a sua Epístola é confirmada pelas palavras do seu Evangelho que acabais de escutar: No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus.
Talvez haja alguém que tome a expressão «Verbo da Vida» como se fosse referida a Cristo, mas não ao corpo de Cristo que podia ser tocado com as mãos. Reparai no que vem a seguir: E a Vida manifestou-Se. Portanto, Cristo é o Verbo da Vida.
E como Se manifestou? Era desde o princípio, mas não se tinha manifestado aos homens; apenas Se tinha manifestado aos Anjos, que O contemplavam e se alimentavam d’Ele como de seu pão. Mas que diz a Escritura? O homem comeu o pão dos Anjos.
Portanto, a Vida manifestou-Se na carne, para que, nesta manifestação, aquilo que só o coração podia ver, fosse visto também com os olhos e desta forma sarasse os corações. De facto o Verbo só pode ser visto com o coração, ao passo que a carne pode ser vista também com os olhos corporais. Éramos capazes de ver a carne, mas não éramos capazes de ver o Verbo. Por isso O Verbo Se fez carne que nós podemos ver, para sarar em nós aquilo que nos torna capazes de ver o Verbo.
Nós damos testemunho do Verbo e vos anunciamos a vida eterna, que estava junto do Pai e foi manifestada em nós, isto é, foi manifestada entre nós e, ainda mais claramente, foi-nos manifestada.
Nós vos anunciamos o que vimos e ouvimos. Prestai atenção: Nós vos anunciamos o que vimos e ouvimos. Eles viram o Senhor presente na carne, ouviram as palavras da sua boca e anunciaram-nas a nós. Por isso também nós ouvimos, mas não vimos.
Seremos nós, por isso, menos afortunados que aqueles que viram e ouviram? Mas então, porque acrescenta: Para que estejais também em comunhão connosco? Eles viram e nós não vimos; e, apesar disso, estamos em comunhão, porque temos uma fé comum.
E a nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho, Jesus Cristo; e vos escrevemos isto, para que a vossa alegria seja completa. A alegria completa encontra-se, como ele diz, na mesma comunhão de vida, na mesma caridade, na mesma unidade.

Fonte: Secretariado Nacional da Liturgia.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

TRANSFIGURAÇÃO do SENHOR - ano B

Nota Histórica:
       A festa da Transfiguração, celebrada no Oriente desde o século V e no Ocidente a partir de 1457, faz-nos reviver um acontecimento importante da vida de Jesus, com reflexos na nossa vida.
       Situada antes do anúncio da Paixão e da Morte, a Transfiguração foi uma manifestação da vida divina, que está em Jesus. A luz do Tabor é, porém, uma antecipação do esplendor, que encherá a noite da Páscoa. Por isso, os Apóstolos, contemplando a glória divina na Pessoa de Jesus, ficaram preparados para os dolorosos acontecimentos, que iriam pôr à prova a sua fé. Vendo Jesus na Sua condição de servo, já não poderão esquecer a Sua condição divina.
       Anúncio da Páscoa, a Transfiguração encerra também uma promessa – a da nossa transfiguração. Jesus, com efeito, fez transparecer na Sua Humanidade a glória de que resplandecerá o seu Corpo Místico, a Igreja, na Sua vinda final.
       A nossa vida cristã é, pois, um processo de lenta transformação em Cristo. Iniciado no nosso Baptismo, completa-se na Eucaristia, «penhor da futura glória», que opera a nossa transformação, até atingirmos a imagem de Cristo glorioso.

"Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e subiu só com eles para um lugar retirado num alto monte e transfigurou-Se diante deles. As suas vestes tornaram-se resplandecentes, de tal brancura que nenhum lavadeiro sobre a terra as poderia assim branquear. Apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus. Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: «Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas:  uma para Ti, outra para Moisés, outra para Elias». Não sabia o que dizia, pois estavam atemorizados. Veio então uma nuvem que os cobriu com a sua sombra e da nuvem fez-se ouvir uma voz: «Este é o meu Filho muito amado: escutai-O». De repente, olhando em redor, não viram mais ninguém,  a não ser Jesus, sozinho com eles. Ao descerem do monte, Jesus ordenou-lhes que não contassem a ninguém o que tinham visto, enquanto o Filho do homem não ressuscitasse dos mortos. Eles guardaram a recomendação, mas perguntavam entre si o que seria ressuscitar dos mortos" (ano B: Mc 9, 2-10).
       Ao longo da Sua vida pública, Jesus faz com que os Seus discípulos experimentem as mais diversas situações. Nem tudo será agradável. Haverá momentos dolorosos. Aliás, um pouco antes da Transfiguração Jesus anuncia um futuro mais ou menos negro, pelo menos humanamente falando. Vai ser entregue nas mãos das autoridades, vai ser morto... No meio da tristeza e desilusão por parte dos seus mais próximos seguidores, Jesus dá-lhes uma garantia, mostra-lhes o Céu. Esta antecipação mostra a divindade de Jesus, para de novo assumir a nossa humanidade com toda a crueza que a limitação e a finitude podem envolver. O seu destino é mortal, é como o de todos os mortais. Vai passar pela mesma provação. Aqui, Jesus mostra claramente àqueles apóstolos que a última palavra há de ser de Deus, da Vida nova...
       Importa, em todas as situações, escutar a Sua voz. É a voz do Pai de entre as nuvens que ressoa por todo o universo e que garante a eternidade para todos os que acreditarem n'Aquele que Ele enviou ao mundo, o Seu Filho muito amado.

sábado, 5 de maio de 2018

Se Me perseguiram a Mim, também a vós...

Tem-nos feito companhia o Evangelho de João e as palavras de Jesus confiadas aos seus discípulos, de uma forma mais intimista, como Alguém que está de partida e quer deixar uma mensagem que congregue os que ficam.
Disse Jesus aos seus discípulos: «Se o mundo vos odeia, sabei que primeiro Me odiou a Mim. Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu. Mas porque não sois do mundo, pois a minha escolha vos separou do mundo, é por isso que o mundo vos odeia. Lembrai-vos das palavras que Eu vos disse: ‘O servo não é mais do que o seu senhor’. Se Me perseguiram a Mim, também vos perseguirão a vós. Se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. Mas tudo isto vos farão por causa do meu nome, porque não conhecem Aquele que Me enviou» (Jo 15, 18-21).

        O Testamento  (entenda-se por Testamento, testemunho, aliança, ou mesmo herança) de Jesus é a Sua Vida, sobretudo com o mistério da Sua paixão redentora. Ele dá a vida. Atesta a fidelidade de Deus para com a humanidade. Cumpre a promessa divina de nunca desistir do ser humano. Sela a Aliança, com a humanidade inteira, com o Seu sangue, com a Sua vida, e não com sacrifícios de animais.
       É neste sentido que os discípulos orientarão as suas vidas. A vida do Mestre é exemplo. Como Ele faz assim devem fazer os discípulos. O tratamento a que foi sujeito, também os discípulos o serão. O discípulo não é maior do que o Mestre. Neste ponto Jesus não tem nada de político ou diplomático, não negoceia com os discípulos, não os ilude, não suaviza as dificuldades que virão, não esconde o futuro. Há indícios claros do que está para acontecer com Ele e, consequentemente, o que sucederá também aos Seus discípulos. Jesus diz-lhes claramente.
       Importa perseverar até ao fim, para que o TESTAMENTO de Jesus seja também o nosso testamento, uns para com os outros e para com o mundo, neste tempo e no lugar em que nos encontramos.

       Por outro lado, o livro dos Atos dos Apóstolos, lido aos e nos dias da semana, em tempo de Páscoa, mostra-nos a Igreja que se forma, se edifica, se expande, partindo da oração, invocando a presença do Espírito Santo, deixando-se guiar por Deus e procurando responder a cada nova situação, com delicadeza e tolerância, tudo para que Cristo ocupe o centro.
Paulo chegou a Derbe e depois a Listra. Havia lá um discípulo chamado Timóteo, filho de uma judia crente e de pai grego. Os irmãos de Listra e de Icónio davam dele bom testemunho. Querendo Paulo levá-lo consigo, mandou-o circuncidar, por causa dos judeus que havia na região, pois todos sabiam que seu pai era grego. Nas cidades por onde passavam, transmitiam as decisões dos Apóstolos e anciãos de Jerusalém, recomendando que se cumprissem. Desse modo as Igrejas eram confirmadas na fé e cresciam em número, de dia para dia. Como o Espírito Santo os tinha impedido de anunciarem a palavra de Deus na Ásia, atravessaram a Frígia e o território da Galácia. Quando chegaram à fronteira da Mísia, tentaram dirigir-se à Bítínia, mas o Espírito de Jesus não lho permitiu. Atravessaram então a Mísia e desceram a Tróade. Durante a noite, Paulo teve uma visão: Um macedónio estava de pé diante dele e fazia-lhe este pedido: «Passa à Macedónia e vem ajudar-nos». Logo que ele teve esta visão, procurámos partir para a Macedónia, convencidos de que Deus nos chamava para anunciar ali o Evangelho (Atos 16, 1-10).
       Há algumas tradições judaicas que são cumpridas não por que sejam necessárias, mas para não provocar animosidades desnecessárias. O importante é Jesus Cristo e o Seu evangelho. As comunidades vão perseverando e aumentando o número dos cristãos. Quem guia a Igreja, como conclui o autor sagrado, é o Espírito de Cristo. 

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Levantou-se uma grande perseguição à Igreja

       No tempo de Páscoa são-nos apresentadas leituras dos Atos dos Apóstolos e muito do Evangelho de São João. A primeira transparece a vida, a alegria, a garra, a vitalidade com que as comunidades cristãs se vão formando, enfrentando dificuldades e novas realidades. O anúncio do Evangelho dá frutos efetivos, ainda que surgem obstáculos nem sempre fáceis de vencer. O Espírito Santo guia os discípulos para nossas paragens.
       Depois do apedrejamento de Estêvão, o primeiro mártir cristão, a perseguição à Igreja acentuou-se o que vai permitir a expansão mais célere do cristianismo. Os persguidos levam a mensagem e os motivos da perseguição e suscitam entusiasmo noutros, pela alegria, convicção, pelo testemunho.
Levantou-se uma grande perseguição contra a Igreja de Jerusalém e todos, à excepção dos Apóstolos, se dispersaram pelas terras da Judeia e da Samaria. Alguns homens piedosos sepultaram Estêvão e fizeram grandes lamentações por ele. Saulo, por sua vez, devastava a Igreja: ia de casa em casa, arrastava homens e mulheres e metia-os na prisão. Entretanto, os irmãos dispersos andaram de terra em terra, a anun¬ciar a palavra do Evangelho. Foi assim que Filipe, tendo descido a uma cidade da Samaria, começou a anunciar Cristo àquela gente. As multidões aderiam unânimemente às palavras de Filipe, porque ouviam falar dos milagres que fazia e também os viam. De muitos possessos saíam espíritos impuros, soltando enormes gritos, e numerosos paralíticos e coxos foram curados. E houve muita alegria naquele cidade (Atos 8, 1b-8).
       No evangelho, São João fala-nos da identidade de Jesus, como o verdadeiro alimento, o Pão que desce do Céu para dar vida ao mundo, para que n'Ele saciemos a nossa sede, a nossa ânsia de sentido e de felicidade:
Disse Jesus à multidão: «Eu sou o pão da vida: Quem vem a Mim nunca mais terá fome e quem acredita em Mim nunca mais terá sede. No entanto, como vos disse, ‘embora tivésseis visto, não acreditais’. Todos aqueles que o Pai Me dá virão a Mim e àqueles que vêm a Mim não os rejeitarei, porque desci do Céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade d’Aquele que Me enviou. E a vontade d’Aquele que Me enviou é esta: que Eu não perca nenhum dos que Ele Me deu, mas os ressuscite no último dia. De facto, é esta a vontade de meu Pai: que todo aquele que vê o Filho e acredita n’Ele tenha a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia» (Jo 6, 35-40)
       Para Jesus, e assim também para os seus discípulos, que somos nós também, a missão fundamental é fazer a vontade de Deus, procurando que a nossa vontade se aproxime ou funda com a vontade de Deus para nós e para a humanidade. Ele vem para salvar. A salvação acontece quando nos tornamos dóceis ao Espírito de Deus e disponíveis para darmos a vida a favor de muitos.

sábado, 6 de agosto de 2016

Transfiguração do Senhor - ano C

Nota Histórica:
       A festa da Transfiguração, celebrada no Oriente desde o século V e no Ocidente a partir de 1457, faz-nos reviver um acontecimento importante da vida de Jesus, com reflexos na nossa vida.
       Situada antes do anúncio da Paixão e da Morte, a Transfiguração foi uma manifestação da vida divina, que está em Jesus. A luz do Tabor é, porém, uma antecipação do esplendor, que encherá a noite da Páscoa. Por isso, os Apóstolos, contemplando a glória divina na Pessoa de Jesus, ficaram preparados para os dolorosos acontecimentos, que iriam pôr à prova a sua fé. Vendo Jesus na Sua condição de servo, já não poderão esquecer a Sua condição divina.
       Anúncio da Páscoa, a Transfiguração encerra também uma promessa – a da nossa transfiguração. Jesus, com efeito, fez transparecer na Sua Humanidade a glória de que resplandecerá o seu Corpo Místico, a Igreja, na Sua vinda final.
       A nossa vida cristã é, pois, um processo de lenta transformação em Cristo. Iniciado no nosso Baptismo, completa-se na Eucaristia, «penhor da futura glória», que opera a nossa transformação, até atingirmos a imagem de Cristo glorioso.

      Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago e subiu ao monte, para orar. Enquanto orava, alterou-se o aspecto do seu rosto e as suas vestes ficaram de uma brancura refulgente. Dois homens falavam com Ele: eram Moisés e Elias, que, tendo aparecido em glória, falavam da morte de Jesus, que ia consumar-se em Jerusalém. Pedro e os companheiros estavam a cair de sono; mas, despertando, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com Ele. Quando estes se iam afastando, Pedro disse a Jesus: «Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias». Não sabia o que estava a dizer. Enquanto assim falava, veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra; e eles ficaram cheios de medo, ao entrarem na nuvem. Da nuvem saiu uma voz, que dizia: «Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O» (Ano C: Lc 9, 28b-36). 

       A transfiguração é como um "rebuçado" dado por Jesus aos Apóstolos, para enfrentarem os momentos de dificuldade que se aproximam, quando o Mestre for perseguido, preso e levado à Cruz. Esta antecipação mostra a divindade de Jesus, para de novo assumir a nossa humanidade com toda a crueza que a limitação e a finitude podem envolver.
       Importa, em todas as situações, escutar a Sua voz. É a voz do Pai de entre as nuvens que ressoa por todo o universo.

sábado, 9 de maio de 2015

Domingo VI da Páscoa - ano B - 10 de maio de 2015

       1 – «Assim como o Pai Me amou, também Eu vos amei. Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor».
       Crescemos e amadurecemos imitando os outros no nosso comportamento, na nossa aprendizagem, nos nossos gestos, de tal forma que o convívio que se prolonga no tempo acentua as parecenças até mesmo no timbre de voz. Com facilidade confundimos, ao telefone, a voz de dois irmãos, ou da mãe e da filha, ou do pai e do filho. Há filhos que caminham como os pais, têm os mesmos tiques ou trejeitos e imitam-nos no vestir. Pouco disponíveis para escutar os conselhos, repreensões ou sermões, mas prontos para repetir a postura dos pais. Se em casa se fala muito alto, na escola os filhos reproduzirão a mesma sonoridade. Se há palavrões em família, não será muito diferente na escola. Nem tudo é linear. Há crianças de famílias desestruturadas que têm comportamentos exemplares e crianças de famílias bem estruturadas com comportamentos perturbadores quando longe dos pais. Refira-se, a propósito, que hoje em dia a postura mimética é mais abrangente, imitam-se os colegas da sala de aula, os atores de determinada série de televisão, os amigos lá da rua. A televisão e a Internet, meios privilegiados de difusão, facilmente globalizam gestos, formas de vestir e de pensar.
       E como cristãos, quem é que imitamos? A maioria? O que está na moda?
       Os valores que defendemos, na medida em que estamos inseridos numa cultura globalizada, nem sempre são concordes com a fé professada. Recordo os milhares de jovens que aplaudiam o Papa João Paulo II, nos EUA, na sua última viagem apostólica àquele país. Quando lhes perguntavam sobre valores, da vida, da dignidade da pessoa humana desde a conceção à morte natural, as respostas eram curiosas: gostavam do Papa – figura mundial – mas não das ideias que defendia.
       Temos um modelo a seguir e a imitar: Jesus Cristo. Como o Pai me ama, também Eu vos amo. Dou a vida por vós. Amai-vos uns aos outros como EU vos amo.


       2 – As palavras movem, os testemunhos arrastam. Como sublinhava o Papa Paulo VI, o nosso tempo mais que mestres quer testemunhas, ou mestres que sejam testemunhas. Jesus dá-nos o exemplo. É a referência da nossa vida, dos nossos gestos. Não temos que imitar mais ninguém, em absoluto. Devemos ser referência uns para os outros, mas na medida em que transparecemos Jesus Cristo e o Seu evangelho de verdade e de caridade. Como nos dirá São Paulo: sede meus imitadores como eu sou imitador de Cristo.
       O plano original de Deus aponta para uma imitação libertadora, como família, revendo-nos uns nos outros. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Da mesma carne, do mesmo sangue, com a mesma origem. Saímos das mãos de Deus e do Seu coração. Auxiliares uns dos outros. O pecado surge não por sermos diferentes, mas por queremos excluir os outros da nossa vida e colocar-nos diante deles como senhores absolutos do mundo.
       A Encarnação de Deus, em Jesus Cristo, e o Seu mistério pascal, paixão, morte e ressurreição, invertem o caminho para nos colocarem novamente na senda de Deus, orientando-nos uns para os outros, assumindo-nos como irmãos, como família. Ele entrega a Sua vida por nós. «Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos». Para termos vida em abundância. «Disse-vos estas coisas, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa. É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei». Jesus trata-nos como irmãos, como amigos. «Vós sois meus amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi a meu Pai».
       A amizade leva-nos à proximidade (e vice-versa) e à identificação. Identificamo-nos com os nossos amigos, de quem aceitamos conselhos, recomendações, a quem pedimos opinião. «Fui Eu que vos escolhi e destinei, para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça. O que vos mando é que vos ameis uns aos outros». Como ramos unidos à videira, também nós daremos muitos frutos se unidos a Cristo, se d'Ele nos alimentarmos.


       3 – É mentiroso todo aquele que diz amar a Deus e odiar o seu semelhante. É uma afirmação que decorre da Palavra de Deus e da vivência da fé. Se Deus é Pai de todos, todos somos irmãos. Não podemos rezar o Pai-nosso em comum e depois cada um ir à sua vida, com as suas preocupações, mesmo que honestas e defensáveis. Não. O Pai-nosso não é apenas uma oração que Jesus nos ensina, é um desafio e um compromisso. Reconhecemo-nos diante de Deus como irmãos, dispondo-nos a acolher o Seu reino e a Sua vontade em todo o mundo.
       Com efeito, diz-nos o apóstolo são João, na segunda leitura, «amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. Assim se manifestou o amor de Deus para connosco: Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, para que vivamos por Ele. Nisto consiste o amor: não fomos nós que amámos a Deus, mas foi Ele que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados».
       O amor ao próximo não é uma opção. Se seguimos Cristo é para O imitarmos, acolhendo a Sua palavra. Somos discípulos missionários. Embrenhamo-nos no Evangelho e transparecemo-lo através da nossa vida, até que possamos dizer o mesmo que o apóstolo Paulo: «Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim» (Gl 2, 20), «Para mim, viver é Cristo» (Fil 1, 21).
       Jesus dá a Sua vida por nós. Nesta entrega é visível que Deus nos ama primeiro para que também nós possamos amar-nos uns aos outros. É no amor que conheceremos a Deus e n'Ele permaneceremos.

       4 – O sol quando nasce é para todos. Como lembra a Sagrada Escritura, Deus faz chover sobre bons e maus (cf. Mt 5, 45). A salvação que nos é dada em Jesus Cristo, no mistério pascal que celebramos em cada Eucaristia, não é prerrogativa de um ou outro grupo, de um ou outro iluminado. É para todos, independentemente da origem, do caminho percorrido, da raça, da cor, ou da nacionalidade. A única condição é amar, deixar-se plasmar pelo Espírito de Deus.
       Ao longo da história da Igreja, este Corpo de Cristo a que pertencemos pelo Batismo, como membros de que Ele é a Cabeça e o garante, viveu os dramas das diferentes épocas, culturas e sensibilidades, procurando, através dos mais humildes e dos mais santos, aproximar-Se de Jesus, identificar-se com Ele, manter-se fiel ao Evangelho. Logo no início surgem dissensões. As pessoas têm opiniões próprias que precisam de moldar ao proceder de Jesus, libertando-se das arestas de cada um, para sermos MAIS em Cristo.
       Os apóstolos, nomeadamente Pedro, compreendem que a Páscoa não é benefício dos judeus, mas terá que chegar a todos. A conversão de Cornélio, oficial romano, é um desafio para o qual, aparentemente, a primeira comunidade não estava preparada, ainda que o envio de Jesus seja a todo o mundo, a todas as nações. «Na verdade, diz Pedro, eu reconheço que Deus não faz aceção de pessoas, mas, em qualquer nação, aquele que O teme e pratica a justiça é-Lhe agradável».
       O Senhor opera maravilhas a favor de todos os povos. «Todos os fiéis convertidos do judaísmo, que tinham vindo com Pedro, ficaram maravilhados ao verem que o Espírito Santo se difundia também sobre os gentios, pois ouviam-nos falar em diversas línguas e glorificar a Deus».

       5 – O salmista ajuda-nos a rezar e a agradecer: «O Senhor deu a conhecer a salvação, revelou aos olhos das nações a sua justiça. Recordou-Se da sua bondade e fidelidade em favor da casa de Israel. Os confins da terra puderam ver a salvação do nosso Deus. Aclamai o Senhor, terra inteira, exultai de alegria e cantai».

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (B): Atos 10, 25-26. 34-35. 44-48; Sl 97 (98); 1 Jo 4, 7-10; Jo 15, 9-17.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Transfiguração do Senhor (Ano A)

Nota Histórica:
       A festa da Transfiguração, celebrada no Oriente desde o século V e no Ocidente a partir de 1457, faz-nos reviver um acontecimento importante da vida de Jesus, com reflexos na nossa vida.
       Situada antes do anúncio da Paixão e da Morte, a Transfiguração foi uma manifestação da vida divina, que está em Jesus. A luz do Tabor é, porém, uma antecipação do esplendor, que encherá a noite da Páscoa. Por isso, os Apóstolos, contemplando a glória divina na Pessoa de Jesus, ficaram preparados para os dolorosos acontecimentos, que iriam pôr à prova a sua fé. Vendo Jesus na Sua condição de servo, já não poderão esquecer a Sua condição divina.
       Anúncio da Páscoa, a Transfiguração encerra também uma promessa – a da nossa transfiguração. Jesus, com efeito, fez transparecer na Sua Humanidade a glória de que resplandecerá o seu Corpo Místico, a Igreja, na Sua vinda final.
       A nossa vida cristã é, pois, um processo de lenta transformação em Cristo. Iniciado no nosso Baptismo, completa-se na Eucaristia, «penhor da futura glória», que opera a nossa transformação, até atingirmos a imagem de Cristo glorioso.

      Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João seu irmão e levou-os, em particular, a um alto monte e transfigurou-Se diante deles: o seu rosto ficou resplandecente como o sol e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz. E apareceram Moisés e Elias a falar com Ele. Pedro disse a Jesus: «Senhor, como é bom estarmos aqui! Se quiseres, farei aqui três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias». Ainda ele falava, quando uma nuvem luminosa os cobriu com a sua sombra e da nuvem uma voz dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência. Escutai-O». Ao ouvirem estas palavras, os discípulos caíram de rosto por terra e assustaram-se muito. Então Jesus aproximou-se e, tocando-os, disse: «Levantai-vos e não temais». Erguendo os olhos, eles não viram mais ninguém, senão Jesus. Ao descerem do monte, Jesus deu-lhes esta ordem: «Não conteis a ninguém esta visão, até o Filho do homem ressuscitar dos mortos» (Ano A: Mt 17, 1-9). 

       A transfiguração é como um "rebuçado" dado por Jesus aos Apóstolos, para enfrentarem os momentos de dificuldade que se aproximam, quando o Mestre for perseguido, preso e levado à Cruz. Esta antecipação mostra a divindade de Jesus, para de novo assumir a nossa humanidade com toda a crueza que a limitação e a finitude podem envolver.
       Importa, em todas as situações, escutar a Sua voz. É a voz do Pai de entre as nuvens que ressoa por todo o universo.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Limites que aproximam 2

       Diante do sofrimento e do mal haverá lugar para a esperança? Ouvirá Deus a minha prece? Onde Se esconde Deus quando preciso d’Ele?
       Job e Qohélet chegam à conclusão que o sofrimento não é resultado do bem ou do mal, pois há pessoas boas a sofrer muito e pessoas más a terem uma vida regalada. Os dois textos chegam quase a um beco sem saída. Se não houver uma justiça maior do que aquela que vivemos no tempo presente a nossa busca não teria sentido, tudo seria em vão. Se bem que essa constatação nos pudesse levar a desfrutar melhor da vida, positiva ou negativamente, o vazio seria sempre o destino dos nossos atos, e os nossos fracassos seriam sempre avassaladores.
       Tudo é vaidade (tudo é em vão), a não ser que nos salve o olhar de Deus. "O resumo do discurso, de tudo o que se ouviu, é este: teme a Deus e guarda os seus preceitos, porque este é o dever de todo o homem. Deus pedirá contas, no dia do juí­zo, de tudo o que está oculto, quer seja bom, quer seja mau".
       Job da mesma forma disponibiliza-se com humildade para reconhecer e aceitar a justiça de Deus que ultrapassa toda a justiça humana, ainda que nosso espírito ainda não esteja capacitado para ver.
       Voltando ao ponto de partida, importa fazer de todas as nossas experiências uma oportunidade para nos tornarmos mais fortes, para aprendermos a viver melhor, mais confiantes, disponíveis para acolher o que o tempo nos pode trazer e sobretudo as pessoas e o mistério de Deus nos podem dar.
       Parafraseando São Paulo, quando sou fraco é que sou forte. As minhas fraquezas e insuficiências podem efetivar a decisão firme de me abrir ao semelhante e me disponibilizar para aprender, para crescer. Os fracassos de hoje podem ser janelas abertas que me trazem o vento fresco, o sol que inunda de luz a minha casa, possibilitando que veja para lá das dificuldades do tempo presente.
       O tempo presente não se compara ao que há de vir, onde veremos Deus face a face – São João sublinha que o que somos é uma pequena amostra do que seremos (1Jo 3,2) –, porquanto o nosso compromisso é com o tempo, com o mundo, com a história. É a nossa missão maior, que nos coloca a caminho – São Paulo (Fil 1, 19-26): vivo para ser útil para os meus irmãos.

Publicado na Voz de Lamego, n.º 4249, de 28 de janeiro de 2014

Limites que aproximam

       Faça das suas insuficiências oportunidade de partilha, de comunhão, de enriquecimento espiritual, de fortalecimento psicológico, numa palavra, faça com que os seus limites sejam uma porta aberta para a saúde (física e espiritual) e para a felicidade.
       Numa série de desenhos animados, Naruto, uma das personagens, dá-nos uma lição extraordinária, e onde se intuem palavras da Bíblia. Jiraiya Sam, um dos três ninjas lendários, da aldeia oculta na folhagem, depara-se com o momento da morte e como numa crónica da sua vida deixa este testamento:
       "Os fracassos são distrações, são testes que aperfeiçoam as nossas qualidades. Vivi a acreditar nisso e em troca jurei cumprir uma missão tão importante que me fizesse esquecer os meus fracassos, assim morreria como um grande ninja... no final também falhei nessa escolha... que história mais inútil... o mais importante é a capacidade de nunca desistir, nunca faltar à palavra, e principalmente nunca desistir, aconteça o que acontecer... Nunca desistir, era essa a verdadeira escolha que tinha de fazer...".
       Encontramos esta riqueza de linguagem no livro de Eclesiastes e no livro de Job, que integram a literatura sapiencial, fazem parte do conjunto de livros do Antigo Testamento, que nos falam da sabedoria, ensinamentos, máximas do povo de Israel, lições de vida deixadas de pais para filhos, de mestres para discípulos.
       Diz Qohélet (Eclesiastes) – vaidade das vaidades, tudo é vaidade… não há nada de novo debaixo do sol, tudo o que o homem faz é vaidade, não passa de um sopro que logo desaparece.
       “Aquilo que foi é aquilo que será; aquilo que foi feito, há de voltar a fazer-se: e nada há de novo debaixo do Sol!... apliquei o meu espírito a estudar e a ex­plorar… Apli­quei, igualmente, o meu co­ra­ção a conhecer a sabedoria, a lou­cura e a insensatez; e reconheci que também isto é correr atrás do vento. Por­que na muita sabe­do­ria há mui­­ta arrelia, e o que au­men­ta o co­nhe­ci­mento, aumenta o sofri­mento” (Ecl 1, 17-18).
       Em Job encontramos o mesmo lamento. O mal seria consequência/castigo do pecado. Job descobre que a sua vida corre mal, o que é uma tremenda injustiça. Sempre se dedicou a fazer o bem, a viver segundo a justiça, a praticar boas obras, a usar de misericórdia. No final, de nada lhe adiantou ser bom e justo, o mundo desabou sobre ele.
       Haverá lugar para a esperança? Ouvirá Deus a minha prece? Onde Se esconde Deus quando preciso d’Ele?

Publicado na Voz de Lamego, n.º 4248, de 21 de janeiro de 2014

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Bento XVI - São João, o filho de Zebedeu

Queridos irmãos e irmãs!

       Dedicamos o encontro de hoje à recordação de outro membro muito importante do colégio apostólico: João, filho de Zebedeu e irmão de Tiago. O seu nome, tipicamente judaico, significa "o Senhor fez a graça". Estava a consertar as redes na margem do lago de Tiberíades, quando Jesus o chamou juntamente com o irmão (cf. Mt 4, 21; Mc 1, 19). João pertence também ao grupo restrito, que Jesus chama em determinadas ocasiões.
       Está com Pedro e com Tiago quando Jesus, em Cafarnaum, entra em casa de Pedro para curar a sua sogra (cf. Mc 1, 29); com os outros dois segue o Mestre na casa de Jairo, chefe da sinagoga, cuja filha será chamada à vida (cf. Mc 5, 37); segue-o quando ele sobe ao monte para ser transfigurado (cf. Mc 9, 2); está ao lado dele no Monte das Oliveiras quando, face à imponência do Templo de Jerusalém, pronuncia o sermão sobre o fim da cidade e do mundo (cf. Mc 13, 3); e, finalmente, está ao seu lado quando, no Horto do Getsémani, se retira para rezar ao Pai antes da Paixão (cf. Mc 14, 33). Pouco antes da Páscoa, quando Jesus escolhe dois discípulos para os enviar a preparar a sala para a Ceia, confia a ele e a Pedro esta tarefa (cf. Lc 22, 8). 
       Esta sua posição de relevo no grupo dos Doze torna de certa forma compreensível a iniciativa tomada um dia pela mãe: ela aproximou-se de Jesus para lhe pedir que os dois filhos, precisamente João e Tiago, pudessem sentar-se um à sua direita e outro à sua esquerda no Reino (cf. Mt 20, 20-21). Como sabemos, Jesus respondeu fazendo por sua vez uma pergunta: pediu que eles estivessem dispostos a beber do cálice que ele mesmo estava para beber (cf. Mt 20, 22).
       A intenção que estava por detrás daquelas palavras era a de despertar os dois discípulos, introduzi-los no conhecimento do mistério da sua pessoa e de os fazer reflectir sobre a futura chamada a ser suas testemunhas até à prova suprema do sangue.
      De facto, pouco depois Jesus esclareceu que não veio para ser servido mas para servir e dar a própria vida em resgate pela multidão (cf. Mt 20, 28). Nos dias seguintes à ressurreição, encontramos "os filhos de Zebedeu" empenhados com Pedro e outros discípulos numa noite infrutuosa, à qual se segue, pela intervenção do Ressuscitado, a pesca milagrosa: será "o discípulo que Jesus amava" quem reconhece primeiro "o Senhor" e quem o indica a Pedro (cf. Jo 21, 1-13).
       Na Igreja de Jerusalém, João ocupou um lugar de realce na orientação do primeiro agrupamento de cristãos. De facto, Paulo estava incluído entre os que Ele chama as "colunas" daquela comunidade (cf. Gl 2, 9). Na realidade, nos Atos, Lucas apresenta-o juntamente com Pedro quando vão rezar no Templo (cf. Act 3, 1-4.11) ou estão diante do Sinédrio para testemunhar a própria fé em Jesus Cristo (cf. Act 4, 13.19). Juntamente com Pedro é enviado pela Igreja de Jerusalém para confirmar aqueles que na Samaria aceitaram o Evangelho, pregando por eles a fim de que recebam o Espírito Santo (cf. Act 8, 14-15).º
       Em particular, deve recordar-se o que afirma, juntamente com Pedro, diante do Sinédrio que os está a processar: "Quanto a nós, não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos" (Atos 4, 20). Precisamente esta franqueza ao confessar a própria fé permanece um exemplo e uma admoestação para todos nós a estarmos sempre prontos para declarar com determinação a nossa inabalável adesão a Cristo, antepondo a fé a qualquer cálculo ou interesse humano.
      Segundo a tradição, João é "o discípulo predilecto", que no Quarto Evangelho apoia a cabeça no peito do Mestre durante a Última Ceia (cf. Jo 13, 21), encontra-se aos pés da Cruz juntamente com a Mãe de Jesus (cf. Jo 19, 25) e, por fim, é testemunha quer do túmulo vazio quer da própria presença do Ressuscitado (cf. Jo 20, 2; 21, 7).
       Sabemos que esta identificação hoje é debatida pelos estudiosos, alguns dos quais veem nele simplesmente o protótipo do discípulo de Jesus. Deixando aos exegetas a tarefa de resolver a questão, contentamo-nos com receber uma lição importante para a nossa vida: o Senhor deseja fazer de cada um de nós um discípulo que vive uma amizade pessoal com Ele. Para realizar isto não é suficiente segui-lo e ouvi-lo exteriormente; é preciso também viver com e como Ele.
       Isto é possível apenas no contexto de uma relação de grande familiaridade, repleto do calor de uma total confiança; por isso um dia Jesus disse: "Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos... Já não vos chamo servos, visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai" (Jo 15, 13.15).
        Nos apócrifos Atos de João o Apóstolo é apresentado não como fundador de Igrejas nem sequer como guia de comunidades já constituídas, mas em contínua itinerância como comunicador da fé no encontro com "almas capazes de ter esperança e de ser salvas" (18, 10; 10, 8). Tudo é movido pela intenção paradoxal de mostrar o invisível. De facto, ele é chamado pela Igreja oriental simplesmente "o Teólogo", isto é, aquele que é capaz de falar das coisas divinas em termos acessíveis, revelandoumarcano acesso a Deus mediante a adesão a Jesus.
       O culto de João apóstolo afirmou-se a partir da cidade de Éfeso, onde, segundo uma antiga tradição, trabalhou por muito tempo, falecendo ali com uma idade extraordinariamente avançada, sob o Imperador Trajano. Em Éfeso o imperador Justiniano, no século VI, mandou construir em sua honraumagrande basílica, da qual permanecem ainda imponentes ruínas.
       Precisamente no Oriente ele gozou e goza ainda de grande veneração. Na iconografia bizantina é representado com frequência muito idoso segundo a tradição morreu sob o imperador Trajano e em intensa contemplação, quase na atitude de quem convida ao silêncio.
       De facto, sem adequado recolhimento não é possível aproximar-se do mistério supremo de Deus e da sua revelação. Isto explica porque, há anos, o Patriarca Ecuménico de Constantinopla, Atenágoras, aquele que o Papa Paulo VI abraçou num memorável encontro, afirmou: "João está na origem da nossa mais alta espiritualidade. Como ele, os "silenciosos" conhecem aquele misterioso intercâmbio dos corações, invocando a presença de João e o seu coração inflama-se" (O. Clément, Diálogos com Atenágoras, Turim 1972, p. 159). O Senhor nos ajude a pormo-nos na escola de João para aprender a grande lição do amor, de modo que nos sintamos amados por Cristo "até ao fim" (Jo 13, 1) e empreguemos a nossa vida por Ele
 
Os Apóstolos e os Primeiros Discípulos de Cristo, Editorial Franciscana, Braga 2008.

sábado, 16 de março de 2013

Domingo V da Quaresma - ano C - 17 de março

       1 – No evangelho de São Lucas, no domingo passado, Jesus, através da conhecida parábola do Filho pródigo, mostrou-nos como Deus é um Pai que respira amor, perdoa e faz festa pelo regresso do filho. Hoje, no Evangelho de São João, Jesus testemunha, com palavras e gestos, a opção clara e inequívoca pelo amor, que se traduz no perdão, na proximidade com os outros, no acolhimento das pessoas mais frágeis, tantas vezes excluídas pela sua condição social, religiosa, pela sua origem, ou pela situação em que se encontram, doentes, pecadores, publicanos, mulheres de má vida, e no caso presente uma mulher apanhada em flagrante adultério.
       Os dois evangelhos entrelaçam-se. Jesus não vem para separar, julgar, excluir, vem para salvar, incluir, desafiar-nos a sermos MAIS, a darmos o melhor de nós mesmos, a descobrirmos nos outros a presença de Deus.
       A Lei de Moisés tinha previsto que uma mulher apanhada em flagrante adultério fosse morta por apedrejamento. Ouvimos Jesus a dizer que não vem para anular a Lei mosaica. Ele garante a plenitude da Lei. Como? É o que vemos neste episódio, e em muitas outras situações. A Lei suprema é a CARIDADE, preenchida pelo perdão e pelo bem.


       2 – Vale a pena ler/escutar o evangelho:
Jesus foi para o monte das Oliveiras. Mas de manhã cedo, apareceu outra vez no templo e todo o povo se aproximou d’Ele. Então sentou-Se e começou a ensinar. Os escribas e os fariseus apresentaram a Jesus uma mulher surpreendida em adultério, colocaram-na no meio dos presentes e disseram a Jesus: «Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. Na Lei, Moisés mandou-nos apedrejar tais mulheres. Tu que dizes?». Falavam assim para Lhe armarem uma cilada e terem pretexto para O acusar. Mas Jesus inclinou-Se e começou a escrever com o dedo no chão. Como persistiam em interrogá-l’O, ergueu-Se e disse-lhes: «Quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra». Inclinou-Se novamente e continuou a escrever no chão. Eles, porém, quando ouviram tais palavras, foram saindo um após outro, a começar pelos mais velhos, e ficou só Jesus e a mulher, que estava no meio. Jesus ergueu-Se e disse-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?». Ela respondeu: «Ninguém, Senhor». Disse então Jesus: «Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar».
       3 – Jesus recolhe-se no monte das Oliveiras, para alguns momentos de oração e intimidade com o Pai. Regressa à cidade e ao templo. Para ensinar. Todas as horas são boas para ensinar. Nem só de pão vive o homem. A palavra, a abertura de espírito, as razões e o sentido para a vida. Poderemos ter tudo, mas o essencial é que a nossa vida faça sentido, para nós e para os outros, e que descubramos que a nossa luta, o nosso sofrimento, o nosso compromisso, não é em vão. Podemos ter o mundo inteiro, mas se nos faltam razões para viver, a presença dos amigos, a compreensão das nossas limitações, um ombro amigo, se nos falta um FIM pelo qual valha a pena viver, somos miseráveis. Jesus vem para ensinar. Para nos dar Deus. Para nos abrir o Coração do Pai. Para nos revelar um FIM, que não terá fim, será princípio da comunhão plena com Deus.
       A originalidade de alguns fariseus e escribas faz-nos lembrar aquelas pessoas que andam sempre em busca de motivos para denunciar, expor, conflituar, para arranjar confusão, a fim de exibirem a falibilidade dos outros, em contraponto com o heroísmo pessoal. Ou, como refere o célebre psiquiatra brasileiro, denunciando nos outros os próprios defeitos. Apontando para outros, desvia-se a atenção. Mais uma cilada a Jesus. Que fará, cumprirá a lei de Moisés ajudando a matar aquela mulher? E então o perdão e misericórdia que Ele defende?
       Diante d'Ele os acusadores e uma mulher pecadora. Por vezes os gestos são mais eloquentes que muitas explicações. Os acusadores evocam a Lei de Moisés, por que lhes convém. Jesus baixa-se e escreve no chão. Insistem com Ele, interrogam-no. Jesus responde taxativamente: “Quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra”, baixa-se e continua a escrever no chão, a aguardar, provocando uma resposta nova, criativa, original (agora sim) nos seus ouvintes. Frente a Ele fica apenas aquela pobre mulher que já tinha o destino traçado.
       Também aqui é significativa a interação que Jesus provoca: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?». Ela respondeu: «Ninguém, Senhor». Disse então Jesus: «Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar».
       Ao perdoar, e compreender, Jesus não sanciona ou aplaude o pecado daquela mulher, nem lhe diz que fez bem, nem a desculpa com os pecados dos outros. Não lhe diz para esquecer e ir à sua vida. Não. Envia-a para uma vida nova, diferente, de compreendida para convertida. VAI. Não VOLTES a pecar. Tens uma oportunidade para refletir, para começar uma vida nova. Não desperdices a tua vida com situações de pecado que te podem levar à morte. Vive positivamente. Encontrar-se com Jesus implica um caminho novo e não regressar à vida anterior. Foi assim com os Magos, é assim com esta mulher. VAI. NÃO VOLTES ao lugar do passado.
       4 – Desde logo a incoerência e a descriminação da lei. A mulher apanhada em adultério era condenada à morte – infelizmente ainda acontece em alguns países, marcados por fundamentalismos radicais –, e o homem que estava com ela nas mesmas circunstâncias? Por justiça, não teriam que ser os dois levados às autoridades e partilhado o mesmo destino? Em que é que se diferencia o pecado cometido por uma mulher ou por um homem?
       É uma descriminação que perdurou, mesmo em ambientes cristãos.
       Por outro lado, não seremos igualmente pecadores, quando provocamos situações para os outros pecarem? Poderemos, por algum momento, colocar-nos acima dos outros? Eles pecadores, nós santos? Os homens e as mulheres mais santas foram/são as pessoas mais compreensivas, tolerantes, acolhedoras, como no caso concreto de Jesus Cristo. Obviamente que em muitas situações a justiça tem de ser reposta, e o perdão não dispensa dessa justiça, sob pena de as vítimas continuarem a sê-lo.

       5 – O novo Papa, na primeira Eucaristia, na Capela Sistina, propôs-nos três verbos essenciais: CAMINHAR, EDIFICAR, PROFESSAR Jesus Cristo crucificado, caminhar sempre, na presença do Senhor, à luz do Senhor, procurando viver com irrepreensibilidade”, só com esta disponibilidade seremos verdadeiros discípulos do Senhor Jesus.
       Deste modo, a postura do cristão não poderá ser diversa da de Jesus Cristo. Neste ambiente se situam as palavras do apóstolo São Paulo: “Considero todas as coisas como prejuízo, comparando-as com o bem supremo, que é conhecer Jesus Cristo, meu Senhor. Por Ele renunciei a todas as para ganhar a Cristo e n’Ele me encontrar… Continuo a correr… Só penso numa coisa: esquecendo o que fica para trás, lançar-me para a frente, continuar a correr para a meta, em vista do prémio a que Deus, lá do alto, me chama em Cristo Jesus”.
       Em nenhuma circunstância o discípulo de Jesus está dispensado de prosseguir o seu caminho, transparecendo Cristo e Cristo crucificado. Diz o Papa Francisco: “Esta vida é um caminho e quando paramos as coisas não correm bem... Quando professamos um Cristo sem cruz não somos discípulos do Senhor”.

       6 – Em tempo de Quaresma, o nosso olhar só pode fixar-se na CRUZ de Jesus, como expressão do amor de Deus, como sinal do perdão e da caridade que Cristo visualiza para nós. Ele vai à frente. Nós seguimo-l'O e o encontro com Ele far-nos-á seguir por um caminho novo. VAI. Não VOLTES à tua vida anterior.
       Ponhamo-nos à escuta, com o olhar vigilante, para acolhermos e descobrirmos o NOVO CAMINHO com o qual Jesus nos presenteia, anunciado desta forma pelo profeta Isaías:
“O Senhor abriu outrora caminhos através do mar, veredas por entre as torrentes das águas... Eis o que diz o Senhor: «Olhai: vou realizar uma coisa nova, que já começa a aparecer; não a vedes? Vou abrir um caminho no deserto, fazer brotar rios na terra árida. Os animais selvagens – chacais e avestruzes – proclamarão a minha glória, porque farei brotar água no deserto, rios na terra árida, para matar a sede ao meu povo escolhido, o povo que formei para Mim e que proclamará os meus louvores».
       Já vislumbramos a Cruz e para lá da CRUZ e por causa da Cruz já nos incendeia a LUZ da ressurreição, a presença luminosa de DEUS.


Textos para a Eucaristia (ano C): Is 43, 16-21; Filip 3, 8-14; Jo 8, 1-11.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Espaço para a autenticidade...

É urgente que a vida não seja só a acumulação do tempo e do seu cavalgar sonâmbulo
       Gosto, mas gosto muito, que a primeira palavra de Jesus no Evangelho de João seja uma pergunta (e seja aquela pergunta): “Que procurais?” (Jo 1,38). Consola-me ir percebendo que o que sustenta a arquitetura dos encontros e dos desencontros que os Evangelhos relatam é uma espécie de coreografia de perguntas, um intenso tráfico interrogativo, construído a maior parte do tempo a tatear, sem saber bem, com muitas dúvidas, muitos disparos ao lado, muita incapacidade até de comunicar. Isso é uma âncora, por muito que nos custe, pois uma vida só assente em respostas é uma vida diminuída, à maneira de uma primavera que não chegou a ser. Não sei como vai rebentar em nós a primavera, como se vai acender este reflorir que a natureza insinua, este renascer que o gesto pascal de Jesus espantosamente (res)suscita na nossa humanidade. Sei apenas que nas perguntas, mesmo naquelas que são difíceis e nos estremecem, reencontramos a vida exposta e aberta, certamente mais frágil, mas a única que nos permite tocar as margens de uma existência autêntica.

       Todos somos habitados por perguntas e elas cartografam zonas silenciosas, territórios de fronteira do nosso ser. Estes dias reencontrei a pergunta de Pilatos (ainda no Evangelho de João): “O que é a verdade?” (Jo18,38). E dei comigo a aproximar esta pergunta de uma das frases emblemáticas de Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,2). Sem querer relativizar a natureza densamente dogmática do enunciado, dei comigo, porém, a revisitá-lo em chave existencial. E era como se Jesus, mestre da vida que incessantemente se reformula em nós, nos desafiasse a uma apropriação. Sim, a uma apropriação. É necessário que perante a multidão dos caminhos percorridos e a percorrer cada um de nós diga: “eu sou o caminho que percorro”. É decisivo que as verdades que acordamos não sejam uma sobreposição, mas uma expressão profunda do que somos: “eu sou a verdade”. É urgente que a vida não seja só a acumulação do tempo e do seu cavalgar sonâmbulo, mas que cada um, pelo menos uma vez, possa dizer plenamente: “eu sou a vida”. Acho que é disto que o mistério pascal fala.

José Tolentino Mendonça, Editorial da Agência Ecclesia.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Deus dá-nos a vida eterna, em Jesus Cristo!

       São três que dão testemunho: o Espírito, a água e o sangue; e os três estão de acordo. Se aceitamos o testemunho dos homens, o testemunho de Deus é maior, porque o testemunho de Deus consiste naquele que Ele deu de seu Filho. Quem acredita no Filho de Deus tem em si mesmo este testemunho. Quem não acredita em Deus considera-O um mentiroso, porque não acredita no testemunho dado por Deus acerca de seu Filho. E o testemunho é este: Deus deu-nos a vida eterna e esta vida está em seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida, quem não tem o Filho de Deus não tem a vida. Escrevo-vos estas coisas, para saberdes que tendes a vida eterna, vós que acreditais no nome do Filho de Deus.

       As palavras do Apóstiolo São João às Igrejas de Deus são de confiança, incentivando à fé em Jesus Cristo, de forma a viver como Ele, para chegarmos a viver na lógica da vida eterna. O amor vem de Deus, quem ama permanece em Deus. Quem ama conhece a Deus. A maneira de termos acesso a Deus é amar.
       Na senda do que ouvimos nos dias anteriores, hoje acentua-se a dinâmica da fé em Jesus Cristo. Deus dá-nos a vida eterna. A vida eterna está no Seu Filho, Jesus Cristo. Quem tem o Filho, quem O segue, tem, com Ele e por Ele, a vida eterna.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Quem ama a Deus ame também o seu irmão.

       Nós devemos amar, porque Deus nos amou primeiro. Se alguém disser: «Amo a Deus» e odiar o seu irmão, é mentiroso. Quem não ama o seu irmão, que vê, não pode amar a Deus, que não vê. É este o mandamento que recebemos d’Ele: quem ama a Deus ame também o seu irmão. Quem acredita que Jesus é o Messias nasceu de Deus e quem ama Aquele que gerou ama também o que d’Ele nasceu. Nós sabemos que amamos os filhos de Deus quando amamos a Deus, cumprindo os seus mandamentos, porque o amor de Deus consiste em guardar os seus mandamentos (1 Jo 4, 19 – 5, 4).

       Continuamos com a primeira Epístola de São João, onde se acentua a origem do Amor, o próprio Deus, foi Ele que nos amou primeiro, e a consequência desse amor, amarmo-nos como irmãos. Por outro lado, uma conclusão óbvia do Apóstolo, quem ama a Deus ama também o seu irmão, ou é mentiroso, uma vez que não é possível separar o amor de Deus do amor ao próximo, seria uma contradição intransponível. O amor a Deus conduz, inevitalvelmente, à concretização desse amor na relação com o nossso semelhante.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Amando-nos, Deus permanece em nós!

       Se Deus nos amou tanto, também nós devemos amar-nos uns aos outros. A Deus ninguém jamais O viu. Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e em nós o seu amor é perfeito. Nisto conhecemos que estamos n’Ele e Ele em nós: porque nos deu o seu Espírito. E nós vimos e damos testemunho de que o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo. Se alguém confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele e ele em Deus. Nós conhecemos o amor de Deus por nós e acreditamos no seu amor. Deus é amor: quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele. Nisto se realiza a perfeição do amor de Deus em nós, porque somos neste mundo como é Jesus e assim temos plena confiança no dia do juízo. No amor não há temor; o amor que é perfeito expulsa o temor, porque o temor supõe um castigo. Quem teme não é perfeito no amor (1 Jo 4, 11-18).

       O texto da Epístola de São João é expressivo, não deixando margens para dúvidas. A origem do Amor, é Deus. Ele amou-nos primeiro. Criou-nos, enviou-nos o Seu próprio Filho. A Deus ninguém O viu. Jesus mostrou-nos o rosto de Deus: Pai de Mesiricórdia. Para conhecermos a Deus basta amarmos, confessando que Jesus é o Filho de Deus. Neste mundo, diz-nos o Apóstolo, devemos ser como Jesus e assim se manifestará a presença de Deus em nós.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Amemo-nos, porque o amor vem de Deus

       Amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. Assim se manifestou o amor de Deus para connosco: Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, para que vivamos por Ele. Nisto consiste o seu amor: não fomos nós que amámos a Deus, mas foi Ele que nos amou e nos enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados (1 Jo 4, 7-10).

       A Epístola de São João é taxativa, amemo-nos uns ao outros porque o amor vem de Deus. Amar é a única maneira de conhecer Deus e de n'Ele permanecermos, já que Deus é Amor. Se vimos de Deus, se a nossa filiação é divina, a consequência lógica é que nos amemos, para desse modo potenciarmos o Amor de Deus em nós...

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Mais valioso que o ouro e a prata...

       Pedro e João subiam ao templo para a oração das três horas da tarde. Trouxeram então um homem, coxo de nascença, que colocavam todos os dias à porta do templo, chamada Porta Formosa, para pedir esmola aos que entravam. Ao ver Pedro e João, que iam a entrar no templo, pediu-lhes esmola. Pedro, juntamente com João, olhou fixamente para ele e disse-lhe: «Olha para nós». O coxo olhava atentamente para Pedro e João, esperando receber deles alguma coisa. Pedro disse- lhe: «Não tenho ouro nem prata, mas dou-te o que tenho: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda» (Actos 3, 1-10).

       Ao chegarem perto da povoação para onde iam, Jesus fez menção de seguir para diante. Mas eles convenceram-n’O a ficar, dizendo: «Ficai connosco, porque o dia está a terminar e vem caindo a noite». Jesus entrou e ficou com eles. E quando Se pôs à mesa, tomou o pão, recitou a bênção, partiu-o e entregou-lho. Nesse momento abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-n’O. Mas Ele desapareceu da sua presença. Disseram então um para o outro: «Não ardia cá dentro o nosso coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?» (Lc 24, 13-35).
       Os textos desta quarta-feira de Páscoa falam-nos da missão dos apóstolos (1.ª Leitura) e da aparição de Jesus aos discípulos de Emaús.
       A experiência da Ressurreição, como víamos ontem, faz de nós discípulos e Apóstolos. Quem se encontra verdadeiramente com Cristo ressuscitado não pode deixar de anunciar, por palavras e obras, essa alegria.
       No Evangelho, em mais uma aparição de Jesus, concluímos que também nós poderemos encontrar Jesus ao partir do pão. Já O descobrimos na Sagrada Escritura, mas sobretudo no Sacramento da Eucaristia.