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segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Não há nada oculto que não se torne manifesto

       Disse Jesus à multidão: «Ninguém acende uma lâmpada para a cobrir com uma vasilha ou a colocar debaixo da cama, mas coloca-a num candelabro, para que os que entram vejam a luz. Não há nada oculto que não se torne manifesto, nem secreto que não seja conhecido à luz do dia. Portanto, tende cuidado com a maneira como ouvis. Pois àquele que tem, dar-se-á; mas àquele que não tem, até o que julga ter lhe será tirado» (Lc 8, 16-18).
        Jesus dá-nos um conselho importante: não desperdicemos os talentos que Deus nos dá. E quanto mais os pusermos a render mais eles valem para nós e para os outros. Se ficarmos com os talentos para nós, não servem para os outros mas também não nos são úteis a nós. Quanto mais nos dermos, mais receberemos. O dom, com efeito, só o é verdadeiramente na partilha.
       A imagem da luz... quando acesa serve para alumiar toda a casa e toda a vida. Não se esconde. Para isso deixava-se ficar apagada. O que fazemos está sempre visível para nós e para Deus, pelo que a constante não deverá ser o medo mas o compromisso para deixarmos Deus agir em nós e através de nós. É também um convite à coerência de vida, entre o que mostramos e o que somos, entre o que damos aos outros a ver e aquilo que brota do nosso coração, entre o que podemos esconder e o que revelamos.
       A luz da Fé guia-nos para a verdade, para o bem, para Deus, compromete-nos com os outros e com a transformação do mundo em que vivemos. A fé é é obscurantismo que nos afasta da realidade ou encobre deficiências de compreensão ou de justificações nas dificuldades da vida. Como sublinha Bento XVI, e que Francisco visualiza, a Fé leva-nos além da dúvida. Não se opõe à ciência. Pressupõe-na, na certeza que o essencial, o amor, os afetos, a ligação aos outros, ultrapassa qualquer ciência positivista. A luz da Fé introduz-nos na alegria e na esperança. Não estamos sós e não desapareceremos com a morte.
       Hoje, escondo a minha fé? Por preguiça? Por comodismo? Ou deixo que a Luz da Fé me faça transparecer para os outros e para o mundo o Deus que me habita? Pelas palavras e pelos gestos, pela voz e pela vida?

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Eu vim ao mundo como luz...

Disse Jesus em alta voz:
       «Quem acredita em Mim não é em Mim que acredita, mas n’Aquele que Me enviou; e quem Me vê, vê Aquele que Me enviou. Eu vim ao mundo como luz, para que todo aquele que acredita em Mim não fique nas trevas. Se alguém ouvir as minhas palavras e não as guardar, não sou Eu que o julgo, porque não vim para julgar o mundo, mas para o salvar. Quem Me rejeita e não acolhe as minhas palavras tem quem o julgue: a palavra que anunciei o julgará no último dia. Porque Eu não falei por Mim próprio: o Pai, que Me enviou, é que determinou o que havia de dizer e anunciar. E Eu sei que o seu mandamento é vida eterna. Portanto, as palavras que Eu digo, digo-as como o Pai Mas disse a Mim» (Jo 12, 44-50).
       Se estivermos num compartimento sem luz, ou com uma luz difusa, não nos aperceberemos do aspeto que envolve o espaço, pode estar limpo ou estar com lixo espalhado, pó aqui, uma parede escura acolá, um ponto de humidade, um tapete com uma nódoa.
       A luz que incide sobre o espaço não o torna mais sujo ou mais limpo, mas ilumina, expõe. Se o lugar está limpo e arrumado dá gosto estar ali. Se o espaço está desarrumado, sujo, cria asco, com vontade de sair dali ou de fazer uma limpeza mais completa. Ao fim e ao cabo não foi a luz que tornou o habitáculo sujo, apenas pôs em evidência.
       Jesus vem como LUZ para iluminar, para nos guiar ao bem e à beleza, para nos ajudar a ver o que nos afasta dos outros e de Deus. Ele vem para salvar, nunca para condenar ou destruir ou aniquilar. Quem escuta a Sua Palavra e a põe em prática entra no caminho da Luz.

sábado, 1 de abril de 2017

Domingo V da Quaresma - ano A - 2 de abril de 2017

       1 – Comum a todos, a morte é um mistério que nos ultrapassa. Ninguém quer morrer. Quando alguém quer antecipar a morte – estando plenamente consciente e sem nenhum trauma depressivo – não quer morrer mas tem medo de sofrer, de ser um empecilho para os outros. Terei forças para suportar um sofrimento descomunal e desumano? Perante o que vem pela frente, por que não colocar já um termo, prevenindo a dor e o sofrimento. Isto diz bem da cultura atual: eliminar sacrifícios e toda a dor e mal-estar. Quando não se consegue, corta-se o mal pela raiz. É um tema muito delicado. Só quem acompanha de perto vidas destroçadas pela doença crónica e/ou terminal poderá ter um juízo mais compreensível. Cabe-nos, a todos, assegurar a dignidade de toda a pessoa, desde a conceção à morte natural. Só Deus é o Senhor da vida e da morte. Para Ele todos valem tudo, como filhos bem-amados, independentemente das limitações humanas, físicas ou mentais. E de nenhum modo podemos impor a morte aos outros...
       Ao longo da Sua vida terrena, Jesus depara-se com a história humana, com os seus limites e fragilidades. Cresceu num ambiente familiar, em Nazaré, onde as pessoas se conheciam e se ajudavam mutuamente. Paredes meias com as alegrias e as tristezas de todos. É crível que tenha a experiência da perda do Pai, São José, aquele que Lhe deu nome e casa, O protegeu e O ensinou a trabalhar. Teve então que se tornar o homem da casa, assumindo as responsabilidades que eram do pai.
       2 – O Evangelho deste Domingo traz-nos a Ressurreição de Lázaro. Mas traz-nos também a nossa condição humana, com os seus desafios e as suas perdas. A história de Deus não apenas se cruza com a história humana, mas entranha-se, enraíza-se, enxerta-se na minha, na tua, na nossa vida.
       Jesus vem para todos. Quando falamos em todos corremos o sério risco de diluir os afetos e os compromissos com pessoas de carne e osso. É conhecido um comentário acerca da Princesa Diana: todo o mundo a amava, menos o marido! Nós gostamos de todo o mundo e estamos disponíveis a ajudar toda a gente, a dificuldade é ajudar o meu colega de carteira, a minha mãe nas tarefas de casa, o vizinho que está sempre a implicar com o meu cão que faz barulho e lhe faz as necessidades à porta!
       Há sempre muitas pessoas a seguir Jesus. Porém, Jesus tem disponibilidade para criar laços, escutar desalentos, confortar desavindos, olhar olhos nos olhos quem precisa de atenção e carinho.
       Em Betânia, Maria, Marta e Lázaro são Seus amigos. Quando Lázaro está doente, mandam-n’O chamar e Jesus voltará novamente à Judeia, existindo o perigo real de ser morto. A resposta de Jesus é contundente, mas é também um desafio: «Não são doze as horas do dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo. Mas, se andar de noite, tropeça, porque não tem luz consigo». Tal como víamos no domingo passado, Jesus é a Luz do mundo (cf. Jo 9, 1-41), se andarmos na Luz não tropeçaremos, se andarmos de noite, sem Luz em nós, por certo que nos encaminhamos para a morte.
       3 – Quando Jesus chegou a Betânia, o seu amigo Lázaro já jazia no sepulcro há quatro dias. Pelo caminho, vemos como os discípulos vão discorrendo das palavras de Jesus. Tomé, o apóstolo que no habituamos a reconhecer como incrédulo, predispõe-se a morrer com Jesus, pois conclui que a ida para a Judeia é uma espécie de suicídio, depois das ameaças verificadas antes. Contudo, Jesus não volta para morrer, mas para "recuperar", ressuscitar Lázaro e, quando a hora chegar, volta para dar a vida, para que todos, e não apenas Lázaro, sejamos ressuscitados para um vida abundante de graça e salvação.
       Gente de bem, por certo, Marta e Maria recebem muitas pessoas que lhes apresentam as condolências. Marta, a irmã mais ativa, mal sabe que Jesus está perto vai ao Seu encontro e diz-lhe: «Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido. Mas sei que, mesmo agora, tudo o que pedires a Deus, Deus To concederá». Marta confia em Jesus. É possível, contudo, como se percebe com o avançar do diálogo, que Marta confie que o pedido de Jesus a Deus seja para o irmão ir para bom lugar e não tanto para "regressar" à vida terrena, pois logo que Jesus lhe diz «Teu irmão ressuscitará», ela Lhe responde: «Eu sei que há de ressuscitar na ressurreição do último dia».

O diálogo continua. Disse-lhe Jesus: «Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá; e todo aquele que vive e acredita em Mim, nunca morrerá. Acreditas nisto?». Ao que se segue nova profissão de fé por parte de Marta: «Acredito, Senhor, que Tu és o Messias, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo».
       4 – Marta vai chamar Maria, que rapidamente vem ao encontro de Jesus e se prostra a Seus pés, validando o que antes a sua irmã tinha dito, isto é, que a presença de Jesus teria evitado a morte de Lázaro.
       Maria chora e, com ela, os judeus que a acompanham. O evangelista sublinha a comoção de Jesus que também chora a morte do amigo. Alguns constatam a amizade mas questionam-se acerca do poder de Jesus, pois se curou um cego também poderia ter evitado a morte de um amigo.
       O túmulo em que Lázaro se encontra sepultado faz-nos visualizar o túmulo de Jesus. Uma gruta, com uma pedra posta à entrada. Comovido, Jesus pede que retirem a pedra. Continua a contar com o nosso esforço, cabe-nos fazer o que está ao nosso alcance, Deus fará o resto. A intervenção de Marta faz perceber o óbvio, o corpo já está em decomposição, já cheira mal. Está mesmo morto. Após a remoção da pedra, Jesus levanta os olhos para o Céu e reza: «Pai, dou-Te graças por Me teres ouvido. Eu bem sei que sempre Me ouves, mas falei assim por causa da multidão que nos cerca, para acreditarem que Tu Me enviaste».
       A oração faz milagres, Deus sempre nos ouve, mas nem sempre compreendemos os Seus desígnios. Podemos não fazer o mundo à nossa maneira, mas poderemos acolher as bênçãos de Deus e procurar que o mundo seja dom onde vivamos como irmãos.
       É então que Jesus brada para que Lázaro saia. Ele sai, de mãos e pés enfaixados com ligaduras e com o rosto envolvido num sudário. Antecipa-se aqui o sepultamento de Jesus. É necessário que lhe tirem as ligaduras. Antecipa-se também a ressurreição de Jesus. Quando forem ao Seu túmulo, vão perceber que saiu pelo próprio pé, deixando as ligaduras e o sudário arrumados.
       Muitos dos judeus que foram visitar Marta e Maria acreditaram em Jesus.

       5 – Pouco a pouco, o Povo da Promessa e da Aliança, vai percebendo que Deus é um Deus de vivos e não de mortos. Não teria sentido doutra maneira. Um Deus que não garantisse a preservação da nossa identidade para sempre seria um Deus a prazo, talvez útil e necessário para nos iludir no tempo, mas apenas isso, uma ilusão, um momento, um fogacho de esperança.
       Não é fácil entender a ressurreição dos mortos. Por certo. Até porque ninguém nos relatou como será. Sabemos que Jesus ressuscitou Lázaro, o filho da viúva de Naim, a filha de Jairo e foi ressuscitado por Deus Pai, ascendendo para junto d'Ele, de onde nos atrai e nos convoca. Há os que dizem acreditar em Deus mas não na vida eterna, na ressurreição dos mortos. Crer em Deus, que é fonte de vida, pressupõe fé na ressurreição e esperança que a nossa vida permanecerá para sempre.
       O profeta Ezequiel traz-nos a Palavra de Deus: «Vou abrir os vossos túmulos e deles vos farei ressuscitar, ó meu povo, para vos reconduzir à terra de Israel. Haveis de reconhecer que Eu sou o Senhor, quando abrir os vossos túmulos e deles vos fizer ressuscitar, ó meu povo. Infundirei em vós o meu espírito e revivereis. Hei de fixar-vos na vossa terra e reconhecereis que Eu, o Senhor, digo e faço». E Deus é sempre fiel à Sua promessa. Mais que Lázaro ou que os filhos da Viúva de Naim e de Jairo, Jesus é a realização da promessa do Senhor, que antecipa a nossa própria ressurreição para Deus. De referir que só a ressurreição de Jesus é gloriosa, para sempre. Lázaro voltará a morrer, cuja ressurreição final o catapultará para a eternidade, e não para uma nova vida histórica, temporal ou reencarnada.

       6 – A certeza que o tempo presente, por mais violento e doloroso que seja, será passageiro, a esperança na vida futura, ressuscitada, a fé em Deus que fará justiça aos injustiçados, aos pobres, aos excluídos, levou alguns a falar no descomprometimento dos cristãos, pois fixando-se no futuro, deixariam de se empenhar na transformação do mundo.
        Pelo contrário, sem Deus e sem futuro, sem garantia de eternidade e de uma justiça definitiva, é que todos ficaríamos ao deus-dará, agindo cada um segundo os seus interesses mais imediatos. Sabendo que Deus nos espera, o compromisso em acolher a Sua misericórdia, os Seus dons, já aqui, na nossa vida, vivendo, amando, servindo, antecipando, tanto quanto possível, a glória da eternidade. Por conseguinte, rezamos, "Senhor nosso Deus, concedei-nos a graça de viver com alegria o mesmo espírito de caridade que levou o vosso Filho a entregar-Se à morte pela salvação dos homens". A entrega e a vida de Jesus, o Seu compromisso com todos, preferencialmente pelos mais desfavorecidos, mostra-nos o caminho do Pai.
       Diz-nos São Paulo: "Se Cristo está em vós, embora o vosso corpo seja mortal por causa do pecado, o espírito permanece vivo por causa da justiça. E se o Espírito d’Aquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou Cristo Jesus de entre os mortos, também dará vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós".
       Caminhamos mais seguros, comprometidos na história, envolvidos no Espírito Santo, para vivermos ao jeito de Jesus, dando a vida, gastando-a a favor dos outros e não a guardando para nós. E assim iniciamos a vida eterna...

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (A): Ez 37, 12-14; Sl 129 (130); Rom 8, 8-11; Jo 11, 1-45.

terça-feira, 6 de setembro de 2016

VL - Jesus Cristo é Luz que nos salva


       «Vós sois a luz do mundo. Não se acende uma lâmpada para a colocar debaixo do alqueire, mas sobre o candelabro, onde brilha para todos os que estão em casa. Assim deve brilhar a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus» (Mt 5. 13-16) Jesus é esta luz que vem das alturas para iluminar toda a casa, o mundo inteiro.
       Habituados que estamos à eletricidade, quando falha logo ficamos desnorteados e procuramos resolver o problema com uma vela, uma lanterna, com a luz do telemóvel…
       Basta um lampejo de claridade e já nos orientamos. E se cada um de nós for essa pequena luz para os outros? E se juntarmos a nossa à luz do vizinho?
       Jesus é a Luz que elimina as trevas. O tempo do obscurantismo já era com a vinda de Jesus, ainda que muitos recusem esta luz. Luz que radica na verdade, no serviço, no amor. A ignorância, a superstição, o desconhecido, provocam temor. Muitos servem-se do conhecimento para “dominarem” os outros, escravizando-os pela ameaça, pelo medo, diante de forças poderosas, que exigem sacrifícios e subserviência.
       Ao longo da história muitos viveram à custa do medo alheio. Em terra de cegos, quem tem um olho é rei. A informação também é poder. Daqui também a relevância da educação, da cultura, da aprendizagem. O saber nunca é demais e nunca constitui um mal. Pelo contrário, pessoas bem informadas podem viver mais libertos.
       A preocupação de Jesus é libertar-nos de todos os demónios e espíritos impuros, para vivermos como filhos de um Deus que nos ama tanto ao ponto de nos confiar do Seu Filho amado.
       Perscrutando os sinais dos tempos, verifica-se que a informação, a evolução científica e tecnologia, a globalização do conhecimento, não redundou em mais humanidade. Nas palavras sábias de Bento XVI, a globalização tornou-nos vizinhos mas não irmãos.
       Uma pequena estória. Um jovem da aldeia foi para uma grande cidade. Arranjou trabalho e alugou uma divisão, numa cave. Com o primeiro ordenado mandou colocar eletricidade. Verificou então que as paredes que antes, à luz das velas, pareciam brancas, afinal estavam escurecidas e com algumas manchas! A eletricidade ia permitir arrumar melhor a casa, tirar as nódoas do chão e das paredes e, logo que oportuno, pintar as paredes.
       A luz expôs e tornou visível a sujidade, não a criou…

Publicado na Voz de Lamego, n.º 4376, de 30 de agosto de 2016

terça-feira, 16 de agosto de 2016

VL – A luz que encadeia também ilumina

       Os tempos conturbados, sob ameaça constante do terrorismo, não trazem originalidade, a não ser pela extensão, pela globalização rápida da violência, pela generalização e visualização das agressões, das mortes… há desculpas e justificações que se repetem e há fundamentalismos que não olham a meios.
       O terrorismo é surpreendente. Atualmente é levado a cabo sem precisar de muita organização ou preparação. Acontece em qualquer lugar, a qualquer hora, sem qualquer suspeita. O vizinho do lado. Um membro da família. Alguém que frequenta os mesmos espaços culturais, sociais e lúdicos.
       Violência sempre existiu. Houve momentos na história em que as trevas fizeram perigar a luz e a esperança. Numa guerra convencional há algumas regras. Só se atacam os exércitos ou locais de armamento. Civis, mulheres, crianças são para proteger. Sabe-se quem são os beligerantes. O terrorismo não respeita ninguém, nenhuma regra, nenhuma conduta, nenhuma trégua.
       A desculpa da religião existiu no passado, por exemplo, nas Cruzadas, levadas a cabo pelos países católicos para “evangelizar” os países muçulmanos; a caça às bruxas nos países evangélico-protestantes. A luz que se queria impor afinal eram trevas que impediam a verdadeira luz, inclusiva, promotora da verdade, da paz, da justiça, do respeito pelos outros, pela sua cultura e pela sua idiossincrasia e bem longe da postura de Jesus.
        O Papa Francisco, por ocasião das Jornadas Mundiais da Juventude, voltou a insistir que as religiões promovem a vida, a paz e concórdia. Há grupos fundamentalistas islâmicos, como há grupos católicos fundamentalistas. Há que procurar a paz. Lutar pela justiça. Usar de misericórdia.
       A violência confunde. A ameaça constante traz insegurança e incerteza.
        A Europa continua a dizer-se cristã. Já pouco. Os símbolos cristãos foram escondidos, privatizados, disfarçados e assim muitas manifestações culturais que pudessem beber na fé, na religião, no evangelho. Deus morreu com Nietzsche, mas também com muitos líderes políticos, sendo substituído pelo relativismo, pela indiferença, pela igualdade de ideologias, de géneros, de religiões… uma mixórdia onde vale tudo. A Europa (e o Ocidente), cada vez menos cristã, foi uma civilização inclusiva, com muitos pecados ao longo dos tempos, mas que promoveu a inculturação. Hoje, em qualquer cidade, por mais pequena que seja, há pessoas de várias cores, religiões, etnias…
       É sempre necessário a vigilância e o cuidado para que prevaleça a vida, a verdade, a solidariedade, a inclusão de todos e especialmente dos mais frágeis. O medo que se está a implantar é contrário a uma civilização integradora, capaz de respeitar e até promover as diferenças, sem as anular ou esquecer.

Publicado na Voz de Lamego, n.º 4375, de 9 de agosto de 2016

VL – A luz que ilumina também encandeia

       “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; habitavam numa terra de som­bras, mas uma luz brilhou sobre eles” (Is 9, 1). Este texto do profeta Isaías é lido e relido no Natal, sublinhando que Jesus é essa LUZ: “O Verbo era a Luz verdadeira, que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina... E a Vida era a Luz dos homens. A Luz brilhou nas trevas, mas as trevas não a receberam” (Jo 1, 4-5.9). Jesus é Luz que ilumina todo o homem! Logo acrescenta São João: nem todos se abrem à Luz verdadeira.
       Jesus vem libertar-nos de toda a espécie de escravidão, das superstições, do medo em relação às forças da natureza e a um Deus-Juiz iníquo, pondo a descoberto também aqueles que em nome da política ou da religião usurpam o lugar de Deus e espezinham aqueles que deveriam ajudar e servir.
       Jesus traz esperança. Devolve a dignidade às pessoas. Dá coragem aos mais frágeis para não desistirem dos seus sonhos e lutarem pelos seus direitos. O obstáculo nunca poderá ser Deus, que é Pai. Deus não pode ser nem desculpa nem justificação para amordaçar, para controlar, para subjugar, para agredir, para matar. Jesus leva até ao fim este propósito. Morre por amor, para nos libertar, para nos devolver por inteiro à nossa filiação divina, com a força de nos irmanar.
       O mundo ocidental levou tempo a assimilar esta mensagem libertadora e luminosa. A cristandade viveu momentos de trevas, de preconceito, sob ameaças do inferno. Contudo, a revolução francesa como a globalização cultural, as democracias modernas como a luta pela igualdade entre os géneros foram possíveis num mundo amplamente cristianizado.
       Hoje convivem no mundo judaico-cristão pessoas de todas as cores, raças, culturas, religiões. Verificou-se, porém, que o chão que se tinha como cristão permitiu duas guerras mundiais, a crise económico-financeira, que tem sacrificado milhões de pessoas, a crise dos refugiados, os atos terroristas. Não a LUZ mas as trevas. A luz não leva ao mal, mas o mal pode querer de regresso as trevas, a desconfiança, o medo, o preconceito. É um medo que se espalha pela violência gratuita perpetrada por interesses encapotados, como sublinhou o Papa Francisco, a caminho das Jornadas Mundiais da Juventude, na Polónia: encontramo-nos em guerra, mas não de religiões, mas de interesses estranhos e egoístas.
       O mal não vem da LUZ. Esta pode erradicar as trevas. Todavia, pode encandear aqueles que vivem nas trevas. As obras das trevas desejam trevas.

Publicado na Voz de Lamego, n.º 4374, de 2 de agosto de 2016

sábado, 19 de dezembro de 2015

Coroa do Advento: Quarto Domingo do Advento

Coroa do Advento - texto para acompanhar o acender da quarta vela.
Depois da saudação inicial e antes do Ato penitencial.

1.º Leitor:
Bom dia, queridos amigos.
Estamos em vésperas de Natal. À nossa volta tudo se prepara para mais uma festa.
Para nós cristãos será importante que a Festa tenha Jesus no centro, pois é Ele que vem nascer no meio de nós, para ser Deus connosco.
No Evangelho veremos a pressa com que Maria sai ao encontro da Sua prima Isabel. Leva a Isabel a alegria do Evangelho que se gera no Seu ventre.
Pôr-se a caminho há de ser a atitude permanente dos discípulos de Jesus.
Sair de si, ir ao encontro dos outros, criar espaço para Jesus nascer e crescer, criar espaço para os outros, para os acolher, para os compreender, para os ajudar.
A presença Maria é bênção e toda a bênção gera vida, gera alegria, gera paz, gera luz (acender as 4 velas).
2.º Leitor:
A escolha de Deus distancia-se de muitas das nossas escolhas. Habitualmente escolhemos o que é agradável à vista e ao ouvido; a robustez e a beleza; aqueles com quem simpatizamos.
Deus escolhe o que é pequeno, pobre, último, insignificante. Não para excluir, mas para incluir. Para Ele todos contam, não há ninguém insignificante, pois todos são obra das Suas mãos.
1.º Leitor:
A Virgem de Nazaré reveste-se de esperança para nós. Ensina-nos a amar, para acolher, a partir, a dar-se, comunicando a alegria. Para Ela cada encontro é oportunidade para levar Deus e, com Deus, partilhar a alegria que não tem fim.
Não precisa que lhe digam onde pode ser prestável. Antes que Lhe peçam, já está a ajudar e a interceder. Já está a caminho. Teve pouco tempo para digerir a notícia que o Anjo Lhe deu. Não há tempo a perder. É necessário partir, é preciso ir, sair, correndo.
2.º Leitor:
A salvação está próxima, pressente-se a alegria no ventre de Maria, que nos traz e nos dá Jesus.
Preparemo-nos para escutar a palavra de Deus, invocando desde já a Misericórdia infinita do Senhor, para que venha em auxílio das nossas fraquezas e dos nossos medos.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Coroa do Advento: Terceiro Domingo do Advento

Coroa do Advento - texto para acompanhar o acender da terceira vela.
Depois da saudação inicial e antes do Ato penitencial.

1.º Leitor:
Bom dia, caríssimos Amigos.
Estamos no terceiro Domingo do Advento, é o Domingo da Alegria.
Alegria porque estamos às portas do Natal. Já não há como voltar atrás.
Deus está a chegar à minha e à tua vida. Deus vai nascer. Deus vai querer estar connosco. Ele está a chegar, porque sempre vem, porque sempre Se aproxima, porque sempre nos ama com amor de Mãe e de Pai, porque sempre Se dá, total e absolutamente, sem reservas nem condições. Em Jesus, Deus faz-Se Menino, deixa-Se embalar, tocando-nos com a Sua fragilidade de Menino.
2.º Leitor:
Já não há tempo a perder, não há tempo para nos distrairmos com outras coisas. Ele faz-Se anunciar. Já vem lá, arrumemos a casa, abramos as portas, arejemos os espaços, perfumemo-nos de alegria.
Preparemo-nos para a festa. Ponhamos o melhor sorriso para O receber. Vistamo-nos de esperança. É um amigo, um familiar que está a chegar. Já sentimos no coração a sua proximidade.
Acendamos todas as luzes (acender as 3 velas), para que melhor O vejamos e para nos deixarmos encontrar por Ele.
1.º Leitor:
«Alegrai-vos sempre no Senhor. Novamente vos digo: alegrai-vos. Seja de todos conhecida a vossa bondade». São Paulo liga a alegria à bondade.
A alegria requer a partilha. Ninguém faz festa sozinho. Ninguém é feliz na solidão. A alegria também se constrói. É dom de Deus que nos obriga a condividir, a partilhar. Todo o dom só faz sentido e só é dom multiplicando-se pelos outros.
Deus salva-nos contando com a nossa colaboração. Se tocamos as feridas de alguém, é de Cristo que cuidamos. Se agredimos alguém, é a Cristo que recusamos.
As multidões perguntam a João Batista: que devemos fazer? Que devemos fazer para preparar a vinda do Messias?
2.º Leitor:
«Quem tiver duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma; e quem tiver mantimentos faça o mesmo... Não exijais nada além do que vos foi prescrito... Não pratiqueis violência com ninguém nem denuncieis injustamente; e contentai-vos com o vosso soldo».

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Coroa do Advento | Segundo Domingo do Advento

Coroa do Advento - texto para acompanhar o acender da segunda vela.
Depois da saudação inicial e antes do Ato penitencial.
1.º Leitor:
Bom dia, caríssimos Amigos.
Neste segundo domingo do Advento, surge João Batista. Vem preparar o caminho do Messias. Vem despertar os nossos corações e as nossas vidas. São horas de acordar. Que o dia não comece a meio ou se inicie sem nós. Queremos mais luz; mais luz, mais luz. (acender a Vela)
2.º Leitor:
A salvação de Deus está próxima e tem um rosto: Jesus Cristo. É o Rosto da Misericórdia do Pai. É um tempo novo e um reino novo; um reino sem trono nem coroa. Reino de amor e de perdão. Não exige qualificações nem se rege pelas aparências, e não necessita da força. O que precisa mesmo é de corações dispostos a amar e a servir com alegria.
1.º Leitor:
Deus tem hora marcada connosco. Deixa-Se ver em Jesus. Deixa-Se tocar. Podemos pegar-lhe ao colo ou pregá-lo numa Cruz. O poder de Deus é tanto que Se reduz à nossa dimensão humana. Precisa de um lugar, uma manjedoura, um estábulo, e quer precisar de nós. Mendiga o nosso amor.
A palavra de Deus é dirigida a João, filho de Zacarias e de Isabel. No deserto. Por vezes necessitamos do silêncio para percebermos que Deus nos fala.
2.º Leitor:
Os verbos que vão aparecer no evangelho: Clamar... Preparar... Endireitar... Altear... Abater... Endireitar... Aplanar... Ver a salvação de Deus. É para este VER que a palavra de Deus nos faz ouvintes. É para este VER que João Batista percorre toda a zona do Jordão, pregando um batismo de penitência para a remissão dos pecados.
Os verbos põem-nos em movimento. A vinda de João faz-nos descruzar os braços e destapar o coração, arejar a mente e faz-nos sair do nosso conforto. Sair, compor o chão, alisar a terra, investir o melhor de nós, e tornarmo-nos terra trabalhada para a semente nascer, crescer e dar muito fruto.
1.º Leitor:
O Advento é um tempo de ESPERA ativa. Deus dá início à obra da salvação. Connosco. Estamos dispostos a deixarmo-nos conduzir por Ele? Queremos ver o Presépio de fora? Ou queremos fazer parte do Presépio, adorando, com Maria e José, o Deus Menino?

Coroa do Advento | Primeiro Domingo do Advento

Coroa do Advento - texto para acompanhar o acender da primeira vela.
Pode fazer-se como ambientação à Eucaristia, antes do cântico de entrada.

1.º Leitor:
Bom dia, queridos Amigos em Cristo Jesus.
Começa hoje o Advento e um novo ano litúrgico. E tudo o que é novo deve ser encarado com esperança.
Estamos também às portas do Jubileu da Misericórdia, convocado pelo Papa Francisco, iniciando a 8 de dezembro, solenidade da Imaculada Conceição.
São Lucas será o evangelista deste novo ano litúrgico. É o evangelista da misericórdia de Deus.
Neste primeiro domingo do Advento, São Lucas, oferece-nos as palavras de Jesus:
2.º Leitor:
«Hão de ver o Filho do homem vir numa nuvem, com grande poder e glória... Tende cuidado convosco, não suceda que os vossos corações se tornem pesados pela intemperança, a embriaguez e as preocupações da vida, e esse dia não vos surpreenda subitamente como uma armadilha... Portanto, vigiai e orai em todo o tempo, para que possais livrar-vos de tudo o que vai acontecer e comparecer diante do Filho do homem».
1.º Leitor:
Vigiai e orai em todo o tempo. Se o tempo é breve, há que valorizar todos os momentos para fazer o bem. O tempo de Advento lembra-nos a proximidade de Deus, que em Jesus vem habitar connosco.
Como nos preparamos para O acolher? Para que Ele nasça em nós? Como poderemos imitar Maria e dá-lo também aos outros?
As aflições do tempo presente levam-nos a desistir ou tornam-nos mais combativos? Investimos as nossas energias no bem e na verdade ou deixamos que outros façam o trabalho?
2.º Leitor:
Erguei-vos e levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima.
A garantia de Jesus Cristo.
A vida nem sempre nos correrá de feição. Olhamos à nossa volta e vemos que muitos são bem-sucedidos e muitos outros sobrevivem no limiar da tristeza.
E nós? Agradecemos a Deus o que de bom existe na nossa vida ou lamentamo-nos por que os outros têm mais coisas que nós?
Vivemos no medo pelo amanhã ou equilibramos o medo com o compromisso em cuidar dos nossos familiares e amigos?
Jesus aponta a esperança em Deus e desafia-nos a sermos bênção uns para os outros.
Que a luz de Cristo, significada nesta Vela, alumie o nosso coração e a nossa vida e nos guie para fazermos da Casa do Pai, casa de oração e de misericórdia para todos.
1.º Leitor:
Preparemo-nos para participar com alegria na Santa Missa.

domingo, 16 de agosto de 2015

Pensamentos de Madre Teresa de Calcutá

"Para mim evangelizar significa ter Jesus no coração e levá-lo aos corações dos outros»

Fórmulas mágicas:
"- Nunca estejais tristes. Sorri, pelo menos, cinco vezes por dia. Basta um sorriso, um bom-dia, um gesto de amizade.
- Fazei pequenas coisas com grande amor. Contando pelos cinco dedos da mão, pronunciai as palavras de Jesus: Foi a mim que fizeste.
- Fazei pequenas coisas que ninguém, teve tempo de fazer.
- Muitos de vós, antes de partir, vão pedir-me autógrafos. Seria melhor que vos aproximasses de um pobre e, através dele, pudésseis encontrar o autógrafo de Cristo"

«Reza como se tudo dependesse de Deus e age como se tudo dependesse de ti»

"A Igreja somos nós. Não devemos julgar os outros, mas a nós mesmos. Nós seremos julgados por aquilo que tivermos feito a Jesus sofredor e abandonado"

"Temos o Corpo de Cristo. Ele dá-nos força. Jesus vem a nós em forma de pão mostrar-nos o seu amor, e tão faminto que possamos dar-lhe de comer"

"O meu segredo é a oração que se transforma em ação. O que fazemos é amor de Deus em ação"
«A oração é uma linha direta de comunicação com deus».
«No Pai-nosso há tudo. Deus, próximo, eu própria. Se perdoar aos outros posso orar. Não há complicações e, todavia, nós complicamos tanto a vida com tantas coisas supérfluas»

«Caros jovens, o maior mal de hoje é a falta de amor e de caridade, a terrível indiferença com os irmãos e as irmãs, filhos de Deus nosso Pai, que vivem marginalizados, presas da exploração, da corrupção, da pobreza e da doença... A vida é um dom maravilhoso de Deus e todos foram criados para amar e ser amados. Não é um dever ajudar os pobres material e espiritualmente: é um privilégio, porque Jesus, Deus feito Homem, assegurou-nos que "tudo o que fizerdes ao último dos meus irmãs a Mim o fareis"... só no Céu é que veremos quanto somos devedores aos pobres, por nos terem ajudado a amar melhor o Senhor».

«Vós no Ocidente tendes que fazer com que aqueles que são espiritualmente os mais pobres dos pobres, mais do que com pessoas pobres no sentido material. É muito mais simples dar um prato de arroz a um esfomeado, encontrar um leito para quem o não tem... mas consolar ou eliminar um certo tipo de amargura, remover aquela raiva, aquela solidão, requer um empenhamento muito maior».
«No Ocidente, não se morre de fome, mas vós tendes outro tipo de pobreza, muito pior. É a pobreza de quem não ora, de quem não se preocupa com os outros, de quem não sabe sofrer e de quem se desespera. Esta pobreza do coração é mais difícil socorrer»

«O fruto do silêncio é a oração.
O fruto da oração é a fé.
O fruto da fé e o amor.
O fruto do amor é o serviço.
O fruto do serviço é a PAZ»

"A verdadeira santidade consiste em fazer a vontade de Deus com um sorriso"
"A alegria é oração, a alegria é força, a alegria é uma rede de amor. Quem dá com alegria dá muito mais. O melhor modo de mostrar gratidão a Deus e aos homens é aceitar tudo com alegria".
"A alegria é oração. A alegria é força. A alegria é amor. A alegria é uma rede de amor para conquistar as almas. Deus ama quem dá com alegria"
"Nada deve provocar-te tanta dor que te faça esquecer a alegria de Cristo ressuscitado".
"Quem dá com alegria é grande. A alegria é a marca de uma pessoa generosa, humilde que se esquece de tudo, até de si mesma, e procura agradar a Deus em tudo o que faz. Frequentemente, a alegria esconde uma vida de sacrifício, uma contínua união com Deus".
"Fazei com que todo aquele que for ter convosco saia da vossa beira sentindo-se melhor. Todos devem ver a bondade no vosso rosto, nos vossos olhos, no vosso sorriso. a Alegria transparece pelos olhos, manifesta-se quando falamos e caminhamos. Não pode. permanecer encerrada dentro de nós. A alegria é contagiosa».

«É fácil sorrir às pessoas que estão fora da nossa casa. É fácil cuidar das pessoas que não se conhecem bem. É difícil ser sempre solícito e delicado e sorridente e cheio de amo em casa, com os familiares, dia após dia, especialmente quando estamos cansados e irritados. Todos nós temos momentos como estes e é precisamente então que Cristo vem ter connosco vestido de sofrimento».
«O amor começa na própria casa e continua na própria casa, onde nunca faltam ocasiões de o demonstrar. A casa é o primeiro lugar onde é necessário praticar o amor e o espírito de serviço. Não há necessidade de ir a Jericó, o nosso trabalho mais importante deve desenvolver-se em Jerusalém [onde estava a falar], onde está o templo do verdadeiro Deus. Conheceis realmente os vossos familiares, os vossos vizinhos, as pessoas que frequentais? Preocupais-vos com a sua felicidade? Procurai, antes de tudo,  fazer isto e, depois, podereis pensar também nos pobres da Índia ou de outros países»
«As almas de oração são almas de grande silêncio. Nãos e pode encontrar Deus no barulho e na agitação. Deus é amigo do silêncio. Observai a natureza: as árvores, as flores, a erva crescem no silêncio; as estrelas, o Sol, a Lua movem-se no silêncio. Quanto mais recebemos na oração silenciosa mais podemos dar na vida ativa. Temos necessidade de silêncio para poder tocar as almas. Todas as nossas palavras serão inúteis se não vierem do nosso coração. As palavras que não têm a luz de Cristo aumentarão a escuridão. O silêncio dá-nos um modo novo de olhar as coisas»

«Deus criou-nos para amar e para ser amados. É este o início da oração: saber que Ele me ama, saber que fui criada para coisas maiores».

«Jesus teria morrido por uma única pessoa»
«Muitos falam dos pobres, mas poucos falam com os pobres»
«Os pobres não precisam da nossa comiseração. Os pobres precisam da nossa ajuda. O que eles nos dão é muito mais do que o que nós lhes damos».

"Demo-nos conta que o que fazemos é apenas uma gota no oceano. Mas sem essa gota, faltaria alguma coisa no oceano. Não devemos pensar na quantidade, nos números. Sejamos capazes de amar uma só pessoa de cada vez, de servir uma pessoa de cada vez».

"Para mim, cada um é Cristo e, assim, como existe um só Jesus, aquele que encontro é, naquele momento, o único no mundo".

«Nunca pensei mudar o mundo. Só procurei ser uma gota de água limpa em que o amor de Deus pudesse brilhar. Esforce-se também por ser uma gota de água limpa e já seremos dois. É casado?... Então diga à sua esposa e, assim, já seremos três! Tem filhos? (três filhos)... Diga-lhes também a eles e já seremos seis!»

«Eu sou um lápis nas mãos de Deus. Ele usa-me para escrever o que quer. O lápis não tem nada a ver com tudo isto. O lápis só deve ser usado»

«O amor é um fruto de todas as estações e ao alcance de todos».
"Todos têm o direito de vir ao mundo, desejado ou não. As crianças são o mais belo dom de Deus. O aborto é um crime realizado no ventre da mãe. Ninguém pode decidir sobre a vida alheia. O primeiro direito é nascer. Todos os outros vêm depois".
«Nós combatemos o aborto com a adoção. salvamos milhares de vidas. fazemos circular este aviso nos hospitais e nas clínicas e nas esquadras de polícia: "por favor, não mateis a criança antes de nascer; confiai-no-la". Assim, cada hora do dia e da noite, há sempre alguma (sabei, entre nós há muitas mais solteiras) a quem dizer: "Vem, tomaremos conta de ti, ficaremos com a criança que nascer de ti e dar-te-emos uma família". É uma bênção do Senhor para nós».

«Sente muitas vezes durante o dia a necessidade da oração e preocupa-te em orar. A oração alarga o coração até quando ele é capaz de conter o dom que Deus faz de Si mesmo. Pede e procura e o teu coração será suficientemente grande para recebê-lo e para conservá-lo absolutamente teu».
"Jesus é a palavra que temos de falar
Jesus é a verdade que temos de gritar.
Jesus é o caminho que temos de percorrer.
Jesus é a luz que temos de acender.
Jesus é a vida que temos de viver.
Jesus é o amor que temos de amar.
Jesus é a alegria que temos de partilhar.
Jesus é o sacrifício que temos de oferecer.
Jesus é é a paz que temos de levar.
Jesus é o faminto a quem temos de matar a fome.
Jesus é o sedento a quem temos de matar a sede.
Jesus é o nu que temos de vestir.
Jesus é o sem-teto que temos de abrigar.
Jesus é o doente que temos de tratar.
Jesus é o abandonado que temos de amar.
Jesus é o o não querido que temos de querer...»


Recolha a partir:
FRANCA ZAMBONINI (2005). Madre Teresa. A mística dos últimos.
Prior Velho: Paulinas Editora.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

F. Zambonini: MADRE TERESA, a mística dos últimos

FRANCA ZAMBONINI (2005). Madre Teresa. A mística dos últimos. Prior Velho: Paulinas Editora. 176 páginas.

       Há muita bibliografia sobre a Madre Teresa de Calcutá, a Mãe dos pobres, a pequena freira que se dedicou aos mais pobres dos pobres. Neste biografia, de Zambonini, ressalva-se o essencial da vocação, da vida, da obra de Madre Teresa, bem assim como das Missionárias da Caridade que ela fundou e que estão espalhadas um pouco por todo o mundo. A escolha pelas mais pobres, pois em cada um deles está impresso o rosto de Jesus Cristo.
       Tocar as feridas de um leproso, recolher um moribundo, acolher uma criança abandonada, adotar uma criança que estava para ser descartada antes de nascer, ir pelas ruas pedir esmola para alimentar os famintos, instruir as crianças, apoiar os mas desfavorecidos... como refere muitas vezes a Madre Teresa, é tocar as feridas de Cristo, acolhê-l'O, cuidar d'Ele, "Isto Me fizeste a Mim" (expressão adaptada do inglês para português: cada palavra corresponde a um dedo da mão). É a expressão do juízo final, o que fizeste ao mais pequeno dos meus irmãos a Mim o fizeste. Tem a ver com as obras de misericórdia. Sublinhe-se, como se pode ver no livro, que as Missionárias da Caridade têm casas abertas em muitos países ocidentais, onde a maior pobreza e mais difícil de atender é mesmo a pobreza da solidão, da perda de sentido de Deus, de abertura aos outros e à vida.
       Madre Teresa nasceu a 26 de agosto de 1910 - embora ela refira o dia 27, dia do seu batismo, como o dia do seu nascimento - em Skopje, na Albânia. O nome de batismo é Agnes (Inês) Ganxhe Bojaxhui. Com 18 anos vai para a Irlanda, onde se torna irmã de Loreto, cuja Ordem envia missionárias sobretudo para a Índia. Em 1928 vai finalmente para a Índia, com a missão, como as companheiras, de ensinar (geografia e religião) no colégio de St. Mary, em Entally, Calcutá, de que se tornará Diretora.

       Em 1946, sente a "vocação dentro da vocação", para sair ao encontro dos mais pobres dos pobres daqueles que ninguém quer. Cerca de 2 anos depois solicita ao Vaticano a autorização para deixar a Ordem de Loreto e fundar uma nova Congregação. A partir daqui nunca mais descansará no serviço diário de ajuda aos mais pobres. Pouco a pouco engrossa o números das irmãs que se querem dedicar como ela aos mais pequeninos. vai abrindo casas, primeiro na Índia mas logo em outros países. É um trabalho árduo. Pelo menos 12 horas dedicadas a serviço dos outros, percorrendo as ruas de Calcutá, batendo a muitas portas, autoridades, hospitais, recolhendo as pessoas encontradas abandonadas para morrer. Mais 2 horas de oração, indispensável ao trabalho prático. As Missionárias da Caridade têm também um ramo contemplativo. A Irmã Nirmala, que viria a ser a Sucessora de Madre Teresa à frente da Congregação, ficou responsável por abrir a casa das Missionárias da Caridade, no ramo da Contemplação, em Nova Iorque, invertendo as horas, 12 horas para a oração, duas horas para o serviço aos outros, indicando desta forma que a contemplação leva ao serviço, o serviço leva à oração.
       Pelo caminho a Madre Teresa é reconhecida pelo seu trabalho, nomeadamente sendo-lhe atribuído o Prémio Nobel da Paz e, na Índia, tendo direito a funeral de Estado. Morreu a 5 de setembro de 1997. Continua a inspirar cristãos e não cristãos em todo o mundo. Marcou a Índia, o mundo e a Igreja, com a sua vontade férrea de chegar aos mais desfavorecidos.
       Como a própria referia, não se podem resolver todos os problemas do mundo, comecemos por resolver o que está à nossa frente. Mesmo que sejamos como uma gota de água, mas ainda ainda o oceano ficará incompleto sem essa gota. Começar por nós, amar os de nossa casa. É sempre mais fácil amar e cuidar daqueles que não conhecemos. É imperativo que amemos os que estão perto de nós.
       Este livro é uma biografia, mas é sobretudo um testemunho de vida. A autora conviveu em diferentes ocasiões com Madre Teresa, entrevistando-a e acompanhando-a em viagens, e beneficiando de gestos concretos que demonstram a postura de Madre Teresa de Calcutá.

domingo, 1 de março de 2015

Marcela Candara e A. Romero: Dá-me os Teus olhos


Senhor, "dá-me o caminho que devo seguir,
dá-me teus sonhos, teus anseios, teus pensamentos, teu sentir,
dá-me a tua vida para viver, dá-me os teus olhos quero ver..."

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

A luz do candelabro...

       Disse Jesus à multidão: «Quem traz uma lâmpada para a pôr debaixo do alqueire ou debaixo da cama? Não se traz para ser posta no candelabro? Porque nada há escondido que não venha a descobrir-se, nem oculto que não apareça à luz do dia. Se alguém tem ouvidos para ouvir, oiça». Disse-lhes também: «Prestai atenção ao que ouvis: Com a medida com que medirdes vos será medido e ainda vos será acrescentado. Pois àquele que tem dar-se-lhe-á, mas àquele que não tem até o que tem lhe será tirado» (Mc 4, 21-25).
       A missão da luz é iluminar.
       Se colocarmos a luz num recanto, escondida, abafada, não exercerá a sua função de iluminar. Então não servirá para nada. Assim a nossa vida deverá ser como uma lâmpada acesa, que ilumine o mundo em que vivemos, da nossa família para o universo inteiro.
       Jesus lembra-nos também da generosidade dos nossos juízos para com os outros. A medida que usarmos com o nosso semelhante será usada connosco. Há que ser generosos, para que Deus também o seja connosco.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Tríduo Pascal 2014 | Vigília Pascal

       Uma das celebrações mais significativas, em todo o ano litúrgico, é a Vigília Pascal, enriquecida, nas paróquias onde é possível, com batizados. Não foi o caso da paróquia de Tabuaço. Em todo o caso a celebração da Vigília Pascal, em Sábado Santo, é expressão da liturgia da Igreja, com diversos momentos: bênção do lume novo e do Círio Pascal - Jesus é a Luz do Mundo -, liturgia da palavra, com algumas leituras do Antigo Testamento, ajudando a compreender por inteiro a história da salvação presente na história do povo eleito. Desemboca na Ressurreição de Cristo. Outro momento luminoso é a bênção da água batismal, que será usada nos batismo durante o tempo pascal. O terceiro momento traz-nos sacramentalmente Cristo Ressuscitado, que na Eucaristia nos oferece a Deus Pai, cuja comunhão fortalece a nossa vida e nos compromete com os outros.
       Algumas imagens desta celebração:
 Para mais fotos visitar a página da Paróquia de Tabuaço no facebook.

sábado, 19 de abril de 2014

Precónio Pascal: esta é a NOITE...

       Hoje celebra-se a grande Vigília Pascal, a noite que vislumbra a Ressurreição de Jesus e a comunica a todo o mundo. A celebração divide-se, complementando-se, em 4 grandes partes: Liturgia da Luz, Liturgia da Palavra, Liturgia Baptismal e Liturgia Eucarística.
       Na Liturgia da Luz, a bênção do Lume novo, com o Círio Pascal, símbolo de Cristo, Luz do mundo. Esta parte termina com a proclamação do Precónio Pascal, que apresentamos em baixo.
       Na Liturgia da Palavra escutaremos a narração dos grandes acontecimentos do Povo eleito, com as alianças que Deus realiza com o povo, em que Deus responde com misericórdia e bênção à infidelidade e pecado da humanidade.
       Na Liturgia Baptismal, a bênção da água, que será aspergida sobre a assembleia celebrante e que servirá para os Baptismos celebrados nesta noite e durante o tempo pascal. A água recorda-nos que do lado aberto de Jesus, brotando sangue e água, brotou o Sacramento do Baptismo. É na morte de Jesus e na Sua ressurreição que somos baptizados.
       Na Liturgia Eucarística, celebrámos o mistério maior da nossa fé, antecipado por Jesus para a Quinta-feira santa, no memorial da Última Ceia, mas realizado com a Sua morte e ressurreição.
 Precónio Pascal:
       Exulte de alegria a multidão dos Anjos, exultem as assembleias celestes, ressoem hinos de glória para anunciar o triunfo de tão grande Rei. Rejubile também a terra, inundada por tão grande claridade, porque a luz de Cristo, o Rei eterno, dissipa as trevas de todo o mundo.
       Alegre-se a Igreja, nossa mãe, adornada com os fulgores de tão grande luz, e ressoem neste templo as aclamações do povo de Deus.
       [E vós, irmãos caríssimos, aqui reunidos para celebrar o esplendor admirável desta luz, invocai comigo a misericórdia de Deus omnipotente, para que, tendo-Se Ele dignado, sem mérito algum da minha parte, admitir-me no número dos seus ministros, infunda em mim a claridade da sua luz, para que possa celebrar dignamente os louvores deste círio] .
[V. O Senhor esteja convosco.
R. Ele está no meio de nós.]
V. Corações ao alto.
R. O nosso coração está em Deus.
V. Dêmos graças ao Senhor nosso Deus.
R. É nosso dever, é nossa salvação.
       É verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação proclamar com todo o fervor da alma e toda a nossa voz os louvores de Deus invisível, Pai omnipotente, e do seu Filho Unigénito, Jesus Cristo, nosso Senhor.
       Ele pagou por nós ao eterno Pai a dívida por Adão contraída e com seu Sangue precioso apagou a condenação do antigo pecado.
       Celebramos hoje as festas da Páscoa, em que é imolado o verdadeiro Cordeiro, cujo Sangue consagra as portas dos fiéis.
       Esta é a noite, em que libertastes do cativeiro do Egipto os filhos de Israel, nossos pais, e os fizestes atravessar a pé enxuto o Mar Vermelho.
       Esta é a noite, em que a coluna de fogo dissipou as trevas do pecado.
       Esta é a noite, que liberta das trevas do pecado e da corrupção do mundo aqueles que hoje por toda a terra crêem em Cristo, noite que os restitui à graça e os reúne na comunhão dos Santos.
       Esta é a noite, em que Cristo, quebrando as cadeias da morte, Se levanta vitorioso do túmulo. De nada nos serviria ter nascido, se não tivéssemos sido resgatados.
       Oh admirável condescendência da vossa graça! Oh incomparável predilecção do vosso amor! Para resgatar o escravo, entregastes o Filho.
       Oh necessário pecado de Adão, que foi destruído pela morte de Cristo! Oh ditosa culpa, que nos mereceu tão grande Redentor!
       Oh noite bendita, única a ter conhecimento do tempo e da hora em que Cristo ressuscitou do sepulcro!
       Esta é a noite, da qual está escrito: A noite brilha como o dia e a escuridão é clara como a luz.
       Esta noite santa afugenta os crimes, lava as culpas; restitui a inocência aos pecadores, dá alegria aos tristes; derruba os poderosos, dissipa os ódios, estabelece a concórdia e a paz.
       Nesta noite de graça, aceitai, Pai santo, este sacrifício vespertino de louvor, que, na solene oblação deste círio, pelas mãos dos seus ministros Vos apresenta a santa Igreja.
       Agora conhecemos o sinal glorioso desta coluna de cera, que uma chama de fogo acende em honra de Deus: esta chama que, ao repartir o seu esplendor, não diminui a sua luz; esta chama que se alimenta de cera, produzida pelo trabalho das abelhas, para formar este precioso luzeiro.
       Oh noite ditosa, em que o céu se une à terra, em que o homem se encontra com Deus!
       Nós Vos pedimos, Senhor, que este círio, consagrado ao vosso nome, arda incessantemente para dissipar as trevas da noite; e, subindo para Vós, como suave perfume, junte a sua claridade à das estrelas do céu. Que ele brilhe ainda quando se levantar o astro da manhã, aquele astro que não tem ocaso: Jesus Cristo vosso Filho, que, ressuscitando de entre os mortos, iluminou o género humano com a sua luz e a sua paz e vive glorioso pelos séculos dos séculos.

R. Amen.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Domingo V do Tempo Comum - ano A - 9 de fevereiro

       1 – Disse Jesus aos seus discípulos: «Vós sois o sal da terra. Mas se ele perder a força, com que há de salgar-se? Não serve para nada, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem se acende uma lâmpada para a colocar debaixo do alqueire, mas sobre o candelabro, onde brilha para todos os que estão em casa. Assim deve brilhar a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus».

       2 – Jesus continua a abrir a mente e o coração dos seus discípulos, com ensinamentos, gestos, encontros, situações que exigem respostas concretas e, por vezes, imediatas. Hoje, utiliza duas analogias, duas imagens, para fazer compreender aos seguidores a sua missão no mundo, na vida, na história. Vós sois para o mundo o que o sal é na comida: tempero, sabor, sentido. Sois no mundo o que a luz é no meio das trevas: caminho, orientação, transparência.
       Já todos fomos surpreendidos, em alguma ocasião, por uma refeição insossa, sem sal, sem sabor, intragável. É certo que por questões de saúde alguns têm de reduzir ao sal, mas leva tempo até o paladar se habituar a uma comida que parece não saber a nada. Curiosamente, a sabor está nos alimentos, na carne, no peixe, na hortaliça, nas batatas, no arroz, nos ovos. O sal permite-nos apreciar as diferentes dietas alimentares. Se falta sal nada sabe bem. (Por questões de saúde a cozinha substitui o sal por outros condimentos, mas é o referencial simbólico mantém-se).
       O sal, como o fermento, dá forma, textura, potencia o sabor dos alimentos. Não se dá conta do sal ou do fermento. Só a sua falta se faz notar. Assim, mutatis mutandis, os discípulos de Jesus. Mesmo que de forma impercetível deverão levar sabor e sentido ao mundo, atuando com eficácia e persistência, como o sal, como o fermento, nos alimentos.
       Habituados que estamos à eletricidade, quando falha logo ficamos desnorteados. Para alguns é o acesso à internet, a televisão, a rádio, os eletrodomésticos que permitem confecionar os alimentos, o aquecimento ou o ar condicionado. Mas de imediato, e estamos a falar da tarde-noite, procuramos resolver o problema da luz, com uma vela, uma lanterna, com a luz do telemóvel, prosseguindo com dificuldade às apalpadelas com o medo de chocar contra algum objeto. É um transtorno. Mesmo conhecendo o local em que nos movemos é com muita dificuldade que saímos do sítio. Esperamos um pouco a ver se a luz volta ou se os olhos se habituam à escuridão.
       Mas basta um lampejo de claridade e já nos orientamos. E se cada um de nós for essa pequena luz para os outros? E se juntarmos a nossa à luz do vizinho?
        3 – O discípulo de Jesus não pode seguir na correnteza da moda ou da opinião pública, pois esta tanto pode ser positiva e inclusiva, como destrutiva e desagregadora. Podemos até não pisar terra firme e encontrarmo-nos sobre as águas nos mares das Galileias do nosso tempo, podemos até ser apanhados por vendavais e tempestades, mas a referência, a LUZ, o farol que nos guia, é Jesus Cristo, e Ele garante-nos que nada nos separará do Seu amor. Ele estende-nos a mão. Atrai-nos com o Seu olhar. Não nos safa das dificuldades. Porém, sabermos que Alguém está por perto, nos conforta e nos dá ânimo para prosseguir, permite-nos enfrentar o que nos assusta e o que nos faz sofrer. Precisamos dos amigos, dos pais, da família, para que nos deem coragem, nos animem, estejam connosco e nos amem, independentemente das variáveis da nossa vida. O maior dos sofrimentos e das doenças do nosso tempo é precisamente a solidão.
       Vivemos numa época com diversos riscos: cada um querer salvar-se sozinho; seguir por atalhos, facilidades imediatas sem meta nem objetivos; querer apenas o que os outros querem, fazendo coro com a opinião generalizada; afastamento de tudo o que possa sugerir esforço, sacrifício, sofrimento. Obviamente que deveremos combater todo o mal, e livrar-nos do sofrimento, mas este é inevitável. Quem se sujeita a amar, sujeita-se a padecer. Mas só o amor nos livra do cinismo, nos livra de uma vida sem sal, sem luz, sem sentido, e da solidão. A vida não é um descafeinado permanente. Como alguns filósofos sublinham, queremos o sabor mas sem as respetivas consequências: comidas e bebidas light, café sem cafeína, adoçante sem açúcar. Amor livre, ocasional, sem amarras, sem compromissos duradouros, sem porto. Quando nos damos conta estamos sós. E a vida perde o seu encanto. Há pessoas que ficam imediatamente doentes quando pensam que vão ficar sozinhas. Outras lamentam-se quando é demasiado tarde para cultivar amizades, para valorizar a família, para dar prioridade aos afetos e à proximidade. Não se isole! Quem se encerra no seu casulo acabará por se afastar da luz, a que vem de dentro e a que vem do alto.
        4 – E como ser luz e sal, que dá tempero e ilumina a vida, no nosso dia-a-dia?
       A belíssima página de Isaías mostra-nos o caminho, revelando-nos as palavras de Deus: «Reparte o teu pão com o faminto, dá pousada aos pobres sem abrigo, leva roupa ao que não tem que vestir e não voltes as costas ao teu semelhante. Então a tua luz despontará como a aurora e as tuas feridas não tardarão a sarar... Se tirares do meio de ti a opressão, os gestos de ameaça e as palavras ofensivas, se deres do teu pão ao faminto e matares a fome ao indigente, a tua luz brilhará na escuridão e a tua noite será como o meio-dia».
       Na mesma sequência o salmista nos envolve na resposta à palavra de Deus: «O justo deixará memória eterna. Ele não receia más notícias: seu coração está firme, confiado no Senhor. O seu coração é inabalável, nada teme; reparte com largueza pelos pobres, a sua generosidade permanece para sempre e pode levantar a cabeça com altivez».
       Como sublinha Jesus no Evangelho: as vossas/nossas boas obras serão a luz que brilha diante dos homens e iluminam o mundo.

       5 – O cristianismo não é um exercício intelectual, uma abstração, ou uma generalidade. É uma realidade concreta, situada no tempo e no espaço. O ponto de partida e de chegada, o chão que nos ampara, é Deus e o Deus de Jesus Cristo. Deus connosco. Próximo, e que Se faz estrada e vem sujar as mãos na terra, envolvendo-se com a nossa fragilidade e finitude. Procura-nos.
       A fé cristã tem um ROSTO vivo, Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Não é, como em alguns ambientes religiosos se crê, uma religião do Livro. É uma Pessoa, um Acontecimento, que se traduz e atualiza na nossa vida, na nossa história. É Jesus Cristo, numa VIDA de entrega, de amor, numa história que se mistura com a nossa. É mistério. É dádiva. Ele entrega a Sua vida para que nós tenhamos vida e vida em abundância (cf. Jo 10,10). É na Sua morte e ressurreição que ancoramos a nossa fé, a nossa militância crente.
       É isto mesmo que sublinha o apóstolo, que não se anuncia a si mesmo ou alguma doutrina especial, que não tenta iludir com bonitas palavras, mas apresenta Jesus Cristo: “Irmãos, pensei que, entre vós, não devia saber nada senão Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado. A minha palavra e a minha pregação não se basearam na linguagem convincente da sabedoria humana, mas na poderosa manifestação do Espírito Santo, para que a vossa fé não se fundasse na sabedoria humana, mas no poder de Deus”.
       A fé une-nos uns aos outros e compromete-nos com o bem de todos. Não é possível, sob pena de nos tornarmos mentirosos, separar a fé das obras e da vida. A fé faz-nos olhar para Deus com amor. Se olhamos para Deus com Amor, acolhendo-O na nossa vida, não poderemos desprezar a vida dos nossos irmãos, que são ROSTO e PRESENÇA de Deus, aqui e agora (hic et nunc).

Textos para a Eucaristia (ano A): Is 58, 7-10; Sl 111 (112); 1 Cor 2, 1-5; Mt 5, 13-16.