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quarta-feira, 13 de junho de 2018

Santo António de Lisboa, presbítero e doutor da Igreja

       Fernando Martins de Bulhões, nome de batismo, filho de Martinho de Bulhões, descendente de cavaleiros celtas, e de Maria Teresa Taveira, fidalga, descende de Fruelas, rei das Astúrias, terá nascido em 1195, em Lisboa.
        Os primeiros anos foram no aconchego da família, mostrando desde muito cedo uma especial devoção por Nossa Senhora, crescendo em bondade e integridade de costumes.
       Fez os seus primeiros estudos na escola anexa à Sé Catedral de Lisboa. Com 15 anos ingressou nos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, no Mosteiro de São Vicente de Fora, de Lisboa, transferindo-se, dois/três anos depois para a casa-mãe, para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Aí fez estudos em Direito Canónico, Filosofia e Teologia.
       Terá sido ordenado sacerdote entre os anos 1218 e 1220.
        Seduzido pelo exemplo de vida dos primeiros frades franciscanos, que iam muitas vezes ao Mosteiro de Santa Cruz pedir esmola, ingressou, passado um ano da sua ordenação sacerdotal, no convento de Santo António dos Olivais, em Coimbra.
       Ainda durante o ano de 1220, é enviado para Marrocos, onde nunca chegou, pois a embarcação naufragou e deixou-o em Messina, nas costas da Secília. Aí pediu guarida num convento franciscano.
       Em Maio de 1221 foi a Assis, onde terá conhecido São Francisco de Assis.
       Em Bolonha, depois de ter sido escolhido para fazer a conferência espiritual, aos monges que iriam ser ordenados, evidencia os seus conhecimentos em Sagrada Escritura e dotes em oratória. A partir daqui passa a dedicar-se inteiramente ao apostolado. Percorreu diversas cidades de Itália, entre 1223 e 1225. Em Rimini encontra forte resistência à evangelização. Conta-se, que nessa altura, foi à costa do Adriático e começou a pregar aos peixes: “Ouvi a palavra de Deus, vós peixes do mar e do rio, já que a não querem escutar os infiéis herejes”. Os peixes acudiram em grande quantidade, deitando a cabeça de fora. Muitas teriam sido as conversões.
       Em Outubro de 1226 morreu o fundador da Ordem, Francisco de Assis, sendo canonizado em 1228. Santo António participou nesta elevação, deslocando-se depois por Ferrara, Bolonha e Florença. Em 1229, e depois de ter percorrido a Itália vai para Pádua… 
       Morreu a 13 de Junho de 1231, cansado e doente, depois de uma vida dedicada à pregação do Evangelho. Conta-se que logo que morreu, as crianças de Pádua correram por toda a cidade a gritar: “Morreu o Santo. Morreu Santo António”. Os seus restos mortais repousam na Basílica de Pádua, construída em sua memória.
       Menos de um ano depois, em 30 de Maio de 1232, foi canonizado pelo Papa Gregório IX, na catedral de Espoleto, em Itália. O Papa Pio XII, em 1946, proclamou-o “doutor da Igreja”, considerando-o “exímio teólogo e insigne mestre em matérias de ascética e mística”.

In Boletim Voz Jovem, Junho 2010.

Oração de coleta:
       Deus eterno e todo-poderoso, que em Santo António destes ao vosso povo um pregador insigne do Evangelho e um poderoso intercessor junto de Vós, concedei que, pelo seu auxílio, sigamos fielmente os ensinamentos da vida cristã e mereçamos a vossa protecção em todas as adversidades. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
 Dos Sermões de Santo António de Lisboa
(I, 226) (Sec. XIII)

A linguagem é viva, quando falam as obras

Quem está cheio do Espírito Santo fala várias línguas. As várias línguas são os vários testemunhos sobre Cristo, como a humildade, a pobreza, a paciência e a obediência; falamo-las, quando mostramos aos outros estas virtudes na nossa vida. A linguagem é viva, quando falam as obras. Cessem, portanto, as palavras e falem as obras. De palavras estamos cheios, mas de obras vazios; por este motivo nos amaldiçoa o Senhor, como amaldiçoou a figueira em que não encontrou fruto, mas somente folhas. Diz São Gregório: «Há uma norma para o pregador: que faça aquilo que prega». Em vão pregará os ensinamentos da lei, se destrói a doutrina com as obras.
Mas os Apóstolos falavam conforme a linguagem que o Espírito Santo lhes concedia. Feliz de quem fala conforme o Espírito Santo lhe inspira e não conforme o que lhe parece!
Há alguns que falam movidos pelo próprio espírito e, usando as palavras dos outros, apresentam-nas como próprias, atribuindo-as a si mesmos. Desses e de outros como eles, fala o Senhor pelo profeta Jeremias: Eis-Me contra os profetas que roubam uns aos outros as minhas palavras. Eis-Me contra os profetas, oráculo do Senhor, que forjam a sua linguagem para proferir oráculos. Eis-Me contra os profetas que profetizam sonhos mentirosos – oráculo do Senhor – e, contando-os, seduzem o povo com mentiras e jactância, não os tendo Eu enviado nem dado ordem alguma a esses que não são de nenhuma utilidade para este povo – oráculo do Senhor.
Falemos, por conseguinte, conforme a linguagem que o Espírito Santo nos conceder; e peçamos-lhe, humilde e devotamente, que derrame sobre nós a sua graça, para que possamos celebrar o dia de Pentecostes com a perfeição dos cinco sentidos e a observância do decálogo, nos reanimemos com o forte vento da contrição e nos inflamemos com essas línguas de fogo que são os louvores de Deus, a fim de que, inflamados e iluminados nos esplendores da santidade, mereçamos ver a Deus trino e uno.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

São Sebastião, Padroeiro da Diocese de Lamego

       1 – O padroeiro principal da Diocese de Lamego, é São Sebastião, ao qual se junta Santo Agostinho, padroeiro secundário..
        Quando uma terra e/ou uma comunidade escolhe um patrono isso deve-se ao seu carisma e à vontade de seguir a sua determinação e o exemplo da sua vida. Os santos mártires ganharam uma enorme projeção nas comunidades cristãs dos primeiros séculos e pelos séculos seguintes.
       É nesta perspetiva que São Sebastião, Santa Eufémia, Santa Inês, Santa Luzia, Santa Leocádia, São Vicente, diácono, Santa Bárbara, se impõem por todo o mundo cristão, pelo testemunho de fidelidade ao Evangelho, a Jesus Cristo, arriscando a própria vida. Foi também uma forma de catequizar as comunidades, pregar através de exemplos concretos.
       São Sebastião, que se celebra a 20 de janeiro, dia da sua morte, é a nossa escolha para janeiro, para também nós, unidos à Diocese, procurarmos acolher o testemunho da sua vida, na fidelidade à Igreja, no compromisso com o nosso tempo e com este mundo em que vivemos.
       É mais uma figura do ano sacerdotal que nos interpela. A coragem demonstrada diante dos perseguidores, diante dos algozes, desvela-nos o rosto de Deus, que em Cristo Jesus, Se entrega inteiramente à humanidade.
       2 – Descendente de uma família nobre, terá nascido em Narbona, sul de França, em meados do século III. Segundo a maioria dos estudiosos, os seus pais eram de Milão, onde cresceu até se mudar para Roma. Mas também há quem defenda que o pai era natural de Narbona e Sebastião tenha nascido em Milão.
       Em nome da religião enveredou por uma carreira militar, para desse modo defender os cristãos que sofriam uma terrível perseguição. As suas qualidades são amplamente elogiadas: figura imponente, prudência, bondade, bravura, era estimado pela nobreza e respeitado por todos. O imperador Diocleciano, reconhecendo nele a valentia e desconhecendo a sua religião, nomeou-o capitão general da Guarda Pretoriana. Animava os condenados para que se mantivessem firmes e fiéis a Jesus Cristo.
       Cada mártir que surgia era um alento para Sebastião. Foi denunciado por Fabiano, então Governador Romano. Diocleciano acusou-o de ingratidão. Foi cravado por flechas, até o julgarem morto. Santa Irene encontrou-o e tratou-o. Depois de restabelecido voltou junto do imperador. Este mandou que fosse chicoteado até à morte e depois deitado à Cloaca Máxima, o lugar mais imundo de Roma. O corpo foi recuperado e sepultado nas catacumbas da Via Ápia. Faleceu a 20 de janeiro de 288, ou 300.

       3 – O tempo e o ambiente em que vivemos não é de perseguição declarada aos cristãos, mas a nossa tarefa não é mais fácil que a de São Sebastião. A sua fé confrontou-se com a perseguição, ajudando aqueles que estavam próximos de desanimar.
       Quantas vezes nos deixamos contagiar por um contexto, por valores e leis contrários à fé que professámos? Quantas oportunidades para nos afirmarmos cristãos? Quantas formas de perseguição aos valores que defendemos? Quantos cristãos precisam que os animemos na sua fé, na sua caminhada espiritual?!
       São Sebastião, rogai por nós!

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Editorial da Voz de Lamego | SOCIEDADE do CANSAÇO

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Padres para servir | Voz de Lamego | 23 de setembro

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Editorial Voz Jovem - Ide e fazei discípulos

       Enquanto aguardámos o lançamento do Ano Pastoral 2013/2014, e a publicação da CARTA PASTORAL de D. António Couto, nosso Bispo, propomos a reflexão que se segue, introduzindo a temática sobre a qual incidirá o próximo Plano Pastoral da Diocese de Lamego - Ide e fazei discípulos.
       Decorre, de 11 de outubro de 2012 a 24 de novembro de 2013, solenidade do Cristo Rei e, na nossa Diocese, Dia da Igreja Diocesana, o ANO DA FÉ no qual procuramos acolher, traduzir, viver sob o lema pastoral: [Com MARIA] Vamos juntos construir a Casa da Fé e do Evangelho.
       O lema aglutinador enquadra o ano da Fé e a inevitabilidade da Nova Evangelização, com uma linguagem mais acessível e vivência mais autêntica da Fé, redescobrindo a beleza do Evangelho, deixando-se preencher pela alegria da salvação, tornando-se testemunha, em palavras e gestos, do amor de Jesus Cristo.
       O lema aponta para um movimento, que não tem fim, com a finalidade de edificar a Igreja como Casa onde todos cabem, para onde todos são chamados, onde a Fé e o Evangelho são alimento para a vida quotidiana. Uma CASA com ramificações em todas as casas, em todas as famílias, e em todas as dimensões da vida, como refere o nosso Bispo, D. António, na Carta Pastoral.
       A Casa está em construção permanente. Jesus é a pedra angular. Sólidos alicerces: a graça de Deus, a Palavra, os Sacramentos, a vida em comunidade. Somos pedras vivas deste edifício. As portas estão escancaradas, para ACOLHER e para PARTIR ao encontro dos outros.
       No início de pontificado, em 22 de outubro de 1978, o Papa João Paulo II lançava um desafio aos jovens e extensível a toda a Igreja: “Não, não tenhais medo! Antes, procurai abrir, melhor, escancarar as portas a Cristo!”
        Bento XVI, no início do seu pontificado, a 24 de abril de 2005, renovava o apelo: “Quem deixa entrar Cristo não perde nada, nada do que torna a vida livre, bela e grande. Não! Só nesta amizade experimentamos o que é belo e o que nos liberta. Queridos jovens: Não tenhais medo de Cristo! Ele não tira nada, concede tudo. Quem se dá a Ele, recebe cem por um. Sim, abri, escancarai as portas a Cristo – e encontrareis a verdadeira vida”.
       Na Jornada Mundial da Juventude, na Alemanha, acentua a interpelação: “Atrevei-vos a colocar os vossos talentos e dons ao serviço do Reino de Deus... tende a ousadia de ser santos brilhantes, em cujos olhos e corações reluz o amor de Cristo, levando assim a luz ao mundo…”
        «Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (Mt 28, 19-20).
       Após a Ressurreição, Jesus aparece aos seus discípulos e envia-os. Envia-nos.
       Ide e fazei discípulos.
       Nunca deixamos de ser discípulos, alunos, aprendizes de Jesus Cristo. Simultaneamente, a missão de comunicar a alegria que recebemos. Ilustrativo o encontro de Maria com Isabel: “Logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio” (Lc 1, 44). Quem recebe a Boa Notícia, não pode fazer outra coisa senão passá-la ao próximo.
       Ide e fazei discípulos.
       É uma tarefa de sempre. Como os discípulos da primeira hora, temos de viver Jesus, deixando que Ele nos fale e aja através de nós, pelo Espírito Santo. Logo nos tornamos mensageiros do Seu amor, da Boa Notícia da salvação.
       São Paulo deixou o mote: “se eu anuncio o Evangelho, não é para mim motivo de glória, é antes uma obrigação que me foi imposta: ai de mim, se eu não evangelizar!” (1 Cor 9, 16).
       O Papa Francisco, em vésperas da Sua eleição, já convocava a Igreja para sair a levar esta boa notícia a todos os recantos: “Evangelizar supõe na Igreja a "parresia" [coragem, entusiasmo] de sair de si mesma. A Igreja está chamada a sair de si mesma e ir para às periferias, não só as geográficas, mas também as periferias existenciais: as do mistério do pecado, as da dor, as da injustiça, as da ignorância e da indiferença religiosa, as do pensamento, as de toda a miséria… Quando a Igreja não sai de si mesma para evangelizar torna-se autorreferencial e então adoece… A Igreja, quando é autorreferencial, sem se aperceber, julga que tem luz própria, deixa de ser o mysterium lunae [mistério da lua]… [que o próximo Papa] …ajude a Igreja a sair de si para as periferias existenciais, que a ajude a ser a mãe fecunda que vive da “doce e reconfortante alegria de evangelizar”.
       Estão a decorrer as Avalanches da Fé, uma proposta de D. António Couto, para percorrer todo o chão da Diocese de Lamego, levando Jesus Cristo, com o entusiasmo e a alegria dos jovens, a todas as pessoas e realidades envolventes. A perspetiva entra já neste novo ano pastoral: IDE E FAZEI DISCÍPULOS…

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Editorial Voz Jovem - abril 2013

Sempre soube que a Barca da Igreja não é minha, não é nossa, mas d'Ele (do Senhor)

       Desde o dia 11 de fevereiro, quando Bento XVI anunciou a Sua renúncia como Bispo de Roma, Sucessor de Pedro, que o seu gesto e as suas palavras suscitaram um olhar diferente, para alguns sinal de fraqueza e debilidade, para muitos, onde me incluo, sinal maior da sua humildade e sentido de serviço e fidelidade a Jesus Cristo e à Igreja.
       Em foco com o novo Papa, a HUMILDADE, preconceituosamente pouco sublinhada em Bento XVI. Para muitos, também para mim, essa é precisamente a grande CARTA que Bento XVI escreveu à Igreja e ao mundo. A sua vida é um hino de fé, de alegria, de despojamento, de amor ao Evangelho e à humanidade. Da Baviera para Roma a pedido de João Paulo II. Em duas ocasiões distintas solicitou a dispensa para se dedicar mais à oração e à reflexão teológica. Carregou com João Paulo II a responsabilidade de guiar a Igreja.
       Com a morte do Papa, em 2 de abril de 2005, Joseph Ratzinger estava certo que regressaria finalmente à sua terra natal para descansar, rezar, meditar, escrever, ainda e sempre ao serviço da Palavra de Deus. Mas a eleição de um novo Papa fê-lo ficar retido para sempre na cidade eterna, 8 anos como Papa, de 19 de abril de 2005 a 28 de fevereiro de 2013, e agora remetido à oração, na obediência ao novo Papa Francisco.
       Nascido em família humilde, para Roma levou pouco mais que uma mala de cartão. Não se lhe conhecem outros bens que não sejam os livros, mesmo e apesar do esplendor em que está envolto o Papa, com a riqueza (também material) da Igreja, na bela Basília de São Pedro, na cidade museológica do Vaticano, procurando mostrar a beleza e a riqueza (espiritual) da Palavra de Deus e de Jesus, o Bom Pastor.
       Quando foi eleito, um dos pensamentos, como interpelação a Deus: como é que me fazes uma coisa destas? Sentiu como se tivesse uma guilhotina sobre a Sua cabeça.
       Tenho refletido muito na atitude de Bento XVI. Não há comparação, na Igreja, na sociedade, na política, na cultura, e por mais razões que se encontrem, a HUMILDADE e o SERVIÇO presidem ao seu pedido. No limite das suas forças físicas entendeu que a melhor forma de seguir Jesus e servir a Igreja era permitir que outro com mais vitalidade pudesse levar mais longe o Evangelho de Jesus Cristo. Nos dias que passam não é fácil entender que alguém, tão exposto, se remeta ao completo silêncio. “Cristo que era de condição divina não Se valeu da Sua igualdade com Deus…” Bem poderia ser o lema de Bento XVI, esvaziando-se de Si para que Cristo estivesse mais visível e mais próximo das pessoas deste tempo.
       No brasão episcopal e papal, um dos elementos bem vincados é a figura de um urso, com um fardo sobre o dorso.
       O primeiro Bispo de Frisinga, São Corbiniano, viajava em cavalo para Roma; ao atravessar uma floresta foi atacado por um urso, que lhe devorou o cavalo. O santo homem fez com que o URSO o acompanhasse e levasse a carga até Roma.
        Bento XVI ter-se-á sentido como um urso que carrega a responsabilidade como Pastor, e como Urso torna-se obediente, disponível para transportar a Palavra de Deus e testemunhar Jesus Cristo.
“Sempre soube que a barca da Igreja não é minha, não é nossa, mas do Senhor. E o Senhor não a deixa afundar; é Ele que a conduz, certamente também por meio dos homens que escolheu, porque assim quis…”
 

terça-feira, 9 de abril de 2013

Do sofrimento... à Ressurreição!

Sofrimento
       Quando se aproxima, logo duvidamos do seu amor. Nesta sociedade que a todo o custo se esforça para não se esforçar, procurando o mais fácil, o que não dê muito trabalho e incomode pouco, o sofrimento já não é compreensível. E, em certa medida, é positivo. Devemos lutar contra o mal e contra o sofrimento.
       No entanto, este muitas vezes carrega o esforço, o amor, a dedicação, a ternura a pessoas ou a projectos.
       Aferimos daqui que o sofrimento pode ser tomado em dois sentidos antagónicos. Como condenação, quando nos aprisiona, nos subjuga, como fonte de desespero, de fuga e de demissão. Como redenção, quando se acolhe na sua inevitabilidade, quando e sempre que nos aproxima dos outros, seja nas situações em que solicitamos os outros, seja quando nos solicitam a pedir compreensão e ajuda. É redentor quando é oferecido pelo outro, como Cristo por nós, como as mães pelos filhos. O sofrimento de Nossa Senhora, até à cruz, exprime amor e oblação. Os sofrimentos de Jesus Cristo traduzem um amor sem medida pela humanidade.
Medo
       Diante dos sofrimentos vividos, dos desencontros, dos amores destruídos, dos desertos interiores, poderemos facilmente ser lavados ao medo. Podem ser medos por antecipação ou por desilusão. O medo do futuro, de ficar sozinho, da solidão, de falhar um projecto ou uma relação, o medo de ser criticado ou rejeitado. Ou o medo de arriscar de novo, de confiar naquela pessoa ou naquela instituição que nos deixou na mão, às vezes o medo de ser feliz por anteciparmos um sofrimento posterior.

       Jesus ensina-nos um outro caminho, o da
Esperança
       Sendo testado pelo sofrimento, pelo sacrifício, pela doação, Jesus mostrou-se sempre confiante na presença de Deus Pai nas suas palavras e nos seus gestos. Quando a desilusão advinha, pelas incompreensões, pelos mal-entendidos, pelo cansaço, Jesus retirava-se em oração para Se reencontrar e reencontrar o Pai.
       Por vezes, o grito do jardim das oliveiras era lancinante: “Abbá, Pai, tudo Te é possível, afasta de mim este cálice!” Mas recobrando ânimo logo se colocava no coração do Pai: “Mas não se faça o que Eu quero, e sim o que Tu queres” (Mc 14,36).
       É força que comunica aos seus discípulos: “No mundo tereis tribulações, mas tende confiança: Eu já venci o mundo!” (Jo 16, 33).
        Por conseguinte, na
Ressurreição
       Deus confirma o projecto de Jesus. Ao lugar do vazio, da morte e do sepulcro, sucede a alegria do encontro e da vida. A morte não tem a última palavra. A última palavra é do amor, é da vida, é de Deus.
       Consequentemente, como crentes cristãos, devemos sentir-nos ressuscitados/ salvos com Jesus Cristo e comprometermo-nos com os outros e com o mundo, animados pela Esperança de Deus.

Editorial Voz Jovem, n.º 76, Maio 2006

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Um Papa tímido e sem medo

       Será exagero, ou talvez não. A entrevista que Bento XVI concedeu ao jornalista Peter Seewald diz mais sobre a sua visão do mundo, da história e do hoje, que o conjunto dos seus discursos. Exprime melhor a sua fé que os seus tratados de teologia. Define melhor o homem, o padre, o cidadão e o Papa que as imagens televisivas mais próximas dos momentos solenes do Sumo Pontífice. Porquê? Porque abre o coração de Joseph Ratzinger a um olhar íntimo, não esquematizado por ele mas pelas observações e perguntas que o jornalista lhe lança, envolvendo-o sempre na sua história pessoal e não na esfinge a que muitas vezes a imagem pública o condena.
       Sabendo embora que são muitas horas de diálogo, que o Papa não deixa escapar qualquer resposta impensada, que o texto foi revisto para aperfeiçoamento de algumas referências factuais, sobressai em toda a  conversa um homem que nunca separa o  seu pensamento  da sua história pessoal. Nada parte dum laboratório irreal mas duma reflexão experimentada da vida, da Igreja, de Deus, do homem, de Jesus Cristo, da história do mundo e dele próprio. Aprofunda o que pensa, deixa soltar algumas dúvidas sobre a forma de agir, exprime a sua concepção de poder enquadrado na sua actuação como Papa, pratica a colegialidade "como trabalho de equipa", mostra a importância e a limitação da Cadeira de Pedro, conversa com todo o rigor teológico e sentido pragmático. Sucede não a soberanos mas ao Pescador. Manifesta de forma luminosa a paixão de harmonizar razão e fé, não esconde alguma timidez sem qualquer tipo de medo em afirmar a verdade como obsessão. É um tímido sem medo de ninguém que até gosta dos adversários. Conhece o sofrimento e sabe que é este que tempera a alma e a desprende do relativo.
       Mas diz também que não é um homem de gabinete, que conhece e acompanha o mundo, não volta a cara aos sinais dos tempos, não se conforma com a cultura que quer viver sem Deus. Propõe vigorosamente a urgência da conversão, sem qualquer azedume para com a modernidade. E, sem qualquer  tom catastrófico, admite que  a Terra corre verdadeiro risco de sobrevivência sem dar por isso.
       Mais afeito às análises que às sínteses consegue derramar, nas poucas palavras que profere, todos os seus compêndios, numa espécie de oceano lógico, teológico e humano que o habita. Não diz tudo o que pensa, mas dá a impressão que nada do que pensa fica por dizer. E deixa - outro recato - o espaço aberto a quem dele discorda em qualquer matéria. Com a coragem de dizer que não é infalível.
       Fascinante este horizonte de homem, crente, cristão e Papa no abrir dum novo ano. Onde se não devem esconder os medos e perturbações. Mas onde prevalece a serenidade e a esperança. De quem reconhece a medida do tempo e o afronta com a eternidade.

António Rego, Editorial Agência Ecclesia.
(Reposição deste Editorial)

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Editorial Voz Jovem - fevereiro 2012

       1 – Iniciámos o tempo da QUARESMA, dedicado a preparar a celebração litúrgica mais importante dos cristãos: a PÁSCOA. A paixão redentora de Jesus Cristo culmina num grito de alegria que ilumina de paz e de vida a terra inteira. Do túmulo surge uma LUZ tão intensa que renova toda a humanidade. É este o fundamento e a certeza da nossa fé, é o início de uma longa jornada que já leva dois mil anos (aproximadamente).
       O sepulcro não resiste à violência da graça, da vida, do amor que jorra de Deus. Num provérbio muito popular, dizemos da água: água mole tanto bate em pedra dura até que fura. Aqui podemos dizer que a suavidade do amor é força mais robusta que a pedra colocada na entrada do túmulo onde o corpo de Jesus foi depositado.
       2 – A festa tem mais sentido e sabor quando nos preparamos, quando fazemos esforço. Se a festa nos for oferecida tem a beleza da gratuidade, mas, em algumas situações, pode não nos envolver o suficiente. Quando desfrutamos da festa tendo presente o trabalho que nos exigiu então valorizamos cada momento e mesmo se alguma coisa não correr de feição sabemos que fizemos por que tudo fosse pensado e vivido “ao pormenor”. As pequenas falhas, a existirem, serão enquadradas no conjunto da festa, que envolve o antes, o dia propriamente dito, o tempo subsequente que nos permite degustar, tranquila e alegremente. Se chegamos à festa sem qualquer ambientação nem a viveremos com o devido apreço nem saberemos relativizar algum aspeto que não corra tão bem, apontando este ou aquele defeito, pois não fomos nós que tivemos o trabalho.
       Vivamos a Quaresma. Caminhemos resolutamente para a Páscoa. Com a certeza que o trabalho primeiro e maior é de Deus. É Ele que nos chama e opera em nós a conversão. A cada um de nós, e à comunidade a que pertencemos, cabe acolher a benevolência de Deus, numa caminhada iniciada no Batismo.

       3 – Na liturgia da quarta-feira de cinzas sublinham-se vários aspetos a considerar como atitude permanente, mas relembrados com maior vivacidade nesta época: reconhecer a nossa pequenez, a nossa fragilidade humana, não como humilhação mas como abertura aos outros e a Deus, como oportunidade de renovar o nosso compromisso com a verdade e com a caridade.
       O profeta Joel deixa o alerta do Senhor nosso Deus: “Convertei-vos a Mim de todo o coração, com jejuns, lágrimas e lamentações. Rasgai o vosso coração e não os vossos vestidos” (Joel 2, 12-18). Os sinais exteriores e as tradições da piedade popular são de valorizar se resultarem da vivência interior e levarem à prática do bem.
       São Paulo, por sua vez, fixa uma certeza: “somos embaixadores de Cristo” (2 Cor 5, 20ss). Logo, vivemos não de nós e para nós, mas vivemos a partir de Jesus Cristo, alimentamo-nos da Sua vida, da Sua palavra, e a favor de todos.
       No Evangelho (cf. Mt 6, 1-6.16-18), o desafio para que as nossas ações, jejuns, boas obras, não sejam nem apenas nem principalmente para mostrarmos que somos melhores que os outros, mas, com a descrição cristã, beneficiem sem expor, testemunhem a fé de Cristo e tudo, o que fizermos e dissermos, conduza para Ele.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Editorial Voz Jovem - Rostos do Ano da Fé

       1 – O ano da Fé, iniciado no dia 11 de outubro de 2012 e que terminará no dia 24 de novembro do corrente ano, na solenidade de Cristo Rei, há de levar-nos a um testemunho mais luminoso.
       Os santos, ainda que tenham vivido em outros tempos e contextos, ajudam-nos a visualizar a vivência concreta, alegre, corajosa da FÉ.
       No mês de janeiro celebramos vários santos. Destacámos sobretudo o mártir São Sebastião, Padroeiro principal da Diocese de Lamego. Em todas as Igrejas da Diocese existe (pelo menos) uma imagem de São Sebastião e que deveria presidir a todas as procissões em honra dos santos.
       2 – Vejamos as várias invocações neste primeiro mês do ano, iniciado com a solenidade de SANTA MARIA MÃE DE DEUS, em dia Mundial da Paz.
       Dia 2: Basílio Magno e Gregório de Nazianzo, Bispos de doutores da Igreja; dia 7: São Raimundo de Penaforte, Presbítero; dia 10: Beato Gonçalo de Amarante, Padroeiro de Valença do Douro; dia 17: Santo Antão, Abade, Padroeiro da Desejosa; dia 20: mártir São Sebastião, Padroeiro da Diocese de Lamego e da Balsa e São Fabiano, Papa e mártir; dia 21: Santa Inês, Virgem e Mártir; dia 22: São Vicente, diácono e mártir, Padroeiro das Dioceses de Lisboa e do Algarve; dia 24: São Francisco de Sales; dia 25: Conversão de São Paulo; dia 26: São Timóteo e São Tito, Bispos, discípulos de São Paulo; dia 28: São Tomás de Aquino; dia 31: São João Bosco, Presbítero.
       3 – São Sebastião, Padroeiro Principal da Diocese de Lamego, naquilo que a tradição assimilou e transmitiu, é um exemplo como a fé ajuda a ultrapassar os obstáculos da vida e como o cristão se pode santificar nas mais diversas profissões e/ou ocupações. Mais forte que tudo, é o amor a Deus.
       Terá nascido em Narbona, sul de França, de uma família nobre, em meados do século III. Os seus pais seriam de Milão, onde cresceu até se mudar para Roma. Soldado romano vinculado à guarda pretoriano do grande perseguidor da Igreja, Diocleciano, responsável por demasiados martírios de cristãos. Mudou-se para Roma, onde a perseguição era mais intensa e feroz, para testemunhar a fé e defender os cristãos.
       Cai nas graças do imperador, sendo nomeado capitão/comandante da Guarda Pretoriana, mas logo a defesa da fé cristã lhe trará a morte. Animava os cristãos condenados a não desfalecerem. Entretanto foi denunciado por Fabiano, então Governador Romano. Diocleciano acusa-o de ingratidão. Preso a uma árvore, é cravado com flechas, até o julgarem morto. Santa Irene encontrou-o ainda com vida, levou-o para casa e tratou-lhe as feridas. Depois de restabelecido voltou junto do imperador, para defender os cristãos, condenando-lhe a impiedade. Este mandou que fosse chicoteado até à morte e depois deitado à Cloaca Máxima, o lugar mais imundo de Roma. O corpo foi recuperado e sepultado nas catacumbas da Via Ápia.
       Testemunhou a fé, com coragem e alegria, a partir da sua vida, como jovem soldado, cristão. Daqui se conclui que a santidade é possível em qualquer trabalho, em qualquer vocação, em qualquer compromisso humano.
       4 – Passaram alguns séculos, mas o número de mártires continua a ser demasiado elevado. No último ano civil, 2012, 105 mil cristãos deram a vida pela fé. A palavra martírio é traduzível por testemunha. O mártir é testemunha eloquente da fé em Jesus Cristo. Como cristãos, todos devemos tornar-se testemunhas de Jesus Cristo, dando a vida nos gestos e nas palavras.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

A esperança ativa

       É verdade que todos os paraísos são paraísos perdidos? A julgar pela aparência todas as histórias, até a história bíblica, nos garante que sim. De facto, no livro do Génesis, o primeiro casal humano acaba lançado para fora do paraíso, depois de uma breve e atrapalhada permanência. E as portas do paraíso ficam interditas aos humanos. Contudo, a linguagem simbólica e a natureza teológica daquele relato exigem uma atenção a investimentos de sentido que se podem sintetizar assim: o tempo da salvação não é narrado como nostalgia de uma época de ouro passada, mas, o que se procura afirmar é que, através de vicissitudes e contradições, o tempo não deixa de avançar para uma plenitude. De certa forma, o homem descobre que está fora do paraíso para que possa encaminhar-se para ele. A expulsão bíblica não é, portanto, uma perda, mas o primeiro, e misterioso, passo para o caminho da promessa. O que não se escamoteiam são as tensões e desvios que o homem vai introduzindo. Reconhecer, porém, que mundo e a história não são propriamente lugares paradisíacos não nos deve fazer cair os braços, nem desesperar.
       No território ambíguo que se abre, na irresolução que nos caracteriza a nós próprios, os crentes são chamados a identificar (e a imaginar) novas possibilidades.
       Que ensina a sabedoria bíblica aos nossos tempos conturbados? Ensina, sem dúvida, que a esperança é mais importante de que a saudade; e que a promessa humilde que, quotidianamente, nos coloca a caminho é bem mais preciosa que os paraísos que nos deixam parados a olhar para trás.
       Na magnífica encíclica sobre a Esperança, e que podia bem servir-nos de mapa nas horas de sofrimento e incerteza, escreve o Papa Bento XVI: “A esperança em sentido cristão é sempre esperança também para os outros. E é esperança ativa, que nos faz lutar para que as coisas não caminhem para o «fim perverso». É esperança ativa precisamente também no sentido de mantermos o mundo aberto a Deus. Somente assim, ela permanece também uma esperança verdadeiramente humana”.
 José Tolentino Mendonça
Diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Editorial Voz Jovem - dezembro 2012


       1 – Como é que um acontecimento tão longínquo pode hoje modificar a nossa vida?
       Com efeito, o Natal é tão atual agora como no tempo de Jesus. Como? Trata-se do mistério de Deus que envolve a humanidade toda. Jesus é luz de Israel que Se revelará a todas as nações (cf. Lc 2, 21-39). É o mesmo Deus que quer habitar em nós. Um dia lá em Belém, hoje em cada coração.

       2 – Como reagiria eu se Maria e José me batessem à porta? Tenho lugar para Deus na minha vida? Interpelações de Bento XVI na noite de Natal. Se estamos cheios de nós mesmos não há lugar para os outros.
       Importa voltar ao mistério do Natal. Deus, na Sua grandeza, assume a nossa natureza frágil, “…Por isso venho a ti como menino, para que Me possas acolher e amar”.
       De novo as palavras de Bento XVI:
       “Se a luz de Deus se apaga, apaga-se também a dignidade divina do homem. Então deixamos de ser, todos, irmãos e irmãs, filhos do único Pai que, a partir do Pai, se encontram interligados uns aos outros”.

       3 – Viver hoje o Natal imitando Maria.
       Docilidade na escuta. Não compreende tudo. O essencial só é visível aos olhos do coração.
       Docilidade que interroga. Maria interroga o Anjo e Jesus. Guarda e medita os acontecimentos. Interroguemos a nossa fé. Não aceitar tudo o que vem do mundo, ou com a roupagem do divino…
       Docilidade e pressa no serviço. Primeiro ajudar e só depois pensar. Quem pensa demasiado como ajudar, quase nunca ajuda…

       4 – Viver hoje o Natal imitando José.
       Não fazer julgamentos precipitados. José descobre que Maria está grávida. O filho não é seu. Não se precipita. Aguarda. Pensa. Reflete. Sonha. Só então percebe como os planos de Deus vão além dos planos humanos e temporais.
       5 – Viver hoje o Natal com a Família de Nazaré. A vida nunca é a ideal. Maria e José encontram dificuldades, têm de proteger o Menino, no nascimento. Depois, têm de deixar a casa e a terra para sobreviver.
       Compreensão e tolerância. A religião abre-nos aos outros. Maria e José abrem as portas para os pastores e os magos. Cumprem com as tradições religiosas. Apresentam Jesus no templo, vão lá todas as páscoas, voltam para O procurar, interrogam para perceber, guardam no coração o que ultrapassa a compreensão humana.

       6 – Viver hoje o Natal com a postura de Jesus.
       Jesus alimenta-se da vontade de Deus. Vive a partir de Deus. Mas obedece a Maria e a José (cf. Lc 2, 41-52).

       7 – Viver o Natal a partir do Natal de Jesus.
       Cada vez mais o Natal dispensa Jesus… A vida pulsa mais nos afetos e sentimentos que nos bens que possuímos. No presépio (curral) onde o milagre acontece não há muitas coisas, mas há calor, luz. Aquela criança é uma bênção. Para os pais. Para Israel. Para os povos da terra.
       E hoje? As vidas que nascem (e as que estão para nascer) são bênção para os pais? Para a sociedade? Como é que acolhemos quem irrompe na nossa vida?

in Boletim Voz Jovem, dezembro 2012
Para uma melhor compreensão consultar o esboço: Viver o Natal em 2013

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Encontros... com Jesus...

       1 – Encontros. Nem todos têm a mesma profundidade. Cada encontro deveria ser único. Cada encontro deveria provocar mudança. Quando nos encontramos, a nossa vida enriquece-se.
       Encontrar o outro não é tarefa fácil. Encontrarem-nos também não. O encontro implica-nos, compromete-nos, responsabiliza-nos.
       No Principezinho mostra-se essa clarividência: somos responsáveis pelas pessoas que cativamos. O outro, quando deixo que me encontre, quando o quero encontrar, torna-se especial, torna-se único, muda a minha vida para sempre e muda a qualidade do meu relacionamento com todos os outros.
       Fazemos esta experiência todos os dias: quando amuámos com alguém, a expressão do nosso rosto muda para todas as pessoas. Quando descobrimos a alegria e a paz com esta ou com aqueloutra pessoa, o nosso rosto adquire luz para todas as pessoas que encontrarmos durante o dia.
       2 – Quem se encontra com Jesus Cristo descobre um sentido novo para a sua vida:
  • A Samaritana (Jo 4, 1-42). Um diálogo de descoberta. Jesus interpela-a na sua vida pessoal mas também na sua maneira de se colocar diante de Deus. A Samaritana é desafiada a descobrir a verdade. Converte-se a Jesus e anuncia-O.
  • A mulher adúltera (Jo 8, 1-11). Ninguém te condenou. Vai e não voltes a pecar.
  • Zaqueu (Lc 19, 1-11). O cobrador de impostos, ao serviço do império romano, traidor para os judeus. Jesus encontra-O e Ele muda: compensa os que roubou e dá aos pobres, com generosidade.
  • A mulher que toca no manto de Jesus (Mt 9, 20-22). No meio de uma multidão, a mulher encontra-se. Por vezes bastava-nos tocar o olhar de Jesus, deixarmo-nos envolver pela luz que brota do Seu rosto.
  • Apóstolos. Jesus cruza-se com eles, no meio da multidão, nos seus postos de trabalho. Interpela-os. Vinde e vereis. De discípulos tornam-se Apóstolos. Ouvintes e anunciadores.
  • João Baptista (Lc 1, 39-45). Ainda no seio materno, um e outro. O encontro traz a alegria.
  • Mesmo o jovem rico (Lc 18, 18-27) não fica indiferente à figura de Jesus, quer mais mas naquele momento ainda não está preparado para se deixar envolver pelo chamamento do Mestre. 
       3 – Ao longo da História da Igreja os exemplos multiplicam-se: Paulo de Tarso (Act 9,1-30) – cai em si (ou cai do cavalo) e, perseguindo cristãos, depara-se com a figura de Jesus. A sua vida dá uma volta de 180 graus. De Perseguidor a Apóstolo.
  • Santo Agostinho. O encontro com Jesus transforma-o. A sua vida doravante é dedicada ao estudo, à oração, à reflexão, à pregação da Palavra de Deus.
  • S. Francisco de Assis. Da riqueza material à pobreza, à simplicidade, para que o Evangelho passe pela sua vida, em todos os seus gestos.
  • Inácio de Loyola, S. Francisco Xavier, Madre Teresa de Calcutá, João Paulo II, Padre (Pai) Américo e tantos homens e mulheres.
        4 – Novena da Imaculada Conceição: lugar e espaço para o encontro da comunidade com Nossa Senhora. De Maria, nossa Mãe para Jesus: Fazei tudo o que Ele vos disser. Vamos ao encontro de Jesus, deixemo-nos tocar por Ele, envolver pela luz do Seu olhar, converter pela Palavra que nos dirige.

Editorial Voz Jovem, n.º 92, Novembro 2007

terça-feira, 27 de novembro de 2012

O desafio do diálogo

O encanto do primeiro encontro (...) não pode iludir a questão de fundo: é importante falar das coisas que unem crentes e não crentes, mas é fundamental discutir também o que os separa

        A criação de um Átrio dos Gentios, por parte do Vaticano, para ir ao encontro de agnósticos e ateus é um sinal para toda a Igreja Católica e Portugal quis dizer presente, organizando uma sessão do projeto, em Braga e Guimarães, simbolicamente capitais europeias da juventude e da cultura, respetivamente.
       O encanto do primeiro encontro deixa uma sensação de dever cumprido e abre as possibilidades que todo o futuro encerra em si, mas não pode iludir a questão de fundo: é importante falar das coisas que unem crentes e não crentes, mas é fundamental discutir também o que os separa, um fosso que muitas vezes oscila entre a indiferença e a pura rejeição. Esse passo implica sair até do próprio átrio, por parte da Igreja, e ir à procura pelas ruas, pelos espaços que não habita, sujeitando-se à crítica, ao escárnio e eventualmente à perseguição, mas sempre na convicção de que a sua mensagem é de todos os tempos e para todas as pessoas.
       Os cruzamentos de reflexões e de valores podem, nesse sentido, reforçar a apresentação dessa mensagem, sem a desvirtuar, tornando-a mais apta à compreensão de quem a desconhece e mais plural para quem, dentro da própria Igreja, se limita a visões parciais, incompletas e mesmo incorretas do património ético, espiritual e religioso do Cristianismo.
       Entre o ‘eu acredito em mim’ e o ‘eu acredito em Deus’, expressões ouvidas em Braga, vai um mundo de questões, de vivências, de opções de fundo que não podem ser ignoradas se o Átrio dos Gentios, em Portugal, quiser mesmo ser a porta para um novo caminho que os seus promotores pretendem. E, necessariamente, tem de deixar os limites geográficos em que se realizou e abrir-se ao país, com o apoio dos responsáveis e das comunidades católicas, para uma nova gramática do ser Igreja num tempo em que a fé não é um dado explícito no viver quotidiano. O diálogo, o verdadeiro encontro, é sempre um prazer mas é, acima de tudo, um desafio constante e nunca terminado.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Editorial Boletim Voz Jovem - outubro 2012

       No fim de semana de 13 e 14 de outubro iniciámos o ANO DA FÉ na nossa comunidade paroquial, tendo sido inaugurado no Vaticano, pelo Papa Bento XVI, no dia 11 de outubro, 50.º aniversário da abertura do Concílio Ecuménico Vaticano II e 20.º aniversário da publicação do Catecismo da Igreja Católica, durante a XIII assembleia ordinária do Sínodo dos Bispos, entre 7 e 28 de outubro, sobre a “Nova evangelização para o transmissão da fé cristã”, no qual participa D. António Couto.
       Ao lema pastoral proposto pelo nosso Bispo, acrescentámos, como sufixo, a companhia de Maria. É a nossa padroeira. Será sempre a referência fundamental deste pedaço de Igreja em Tabuaço, sabendo que a Festa da Imaculada Conceição é um dos momentos mais extraordinários de vivência comunitária da fé cristã, com a novena e o dia da festa, com a solene Eucaristia e a Procissão por algumas das ruas da nossa paróquia. É nossa padroeira. É padroeira de Portugal. É padroeira/madrinha dos Bombeiros Voluntários de Tabuaço.
       Sem grande esforço concluímos que Ela sempre caminha connosco, aponta-nos para Jesus Cristo, Seu Filho – Fazei o que Ele vos disser –, é-nos dada por Mãe, somos-lhe entregues como filhos, no alto da Cruz – Eis o teu filho, eis a tua Mãe – (Jo 19, 26-27). Se até ao momento da Cruz, Maria é Mãe de Jesus e modelo de acolhimento da vontade de Deus, depois da morte e ressurreição Ela torna-se a Mãe de todos os crentes, guardiã da esperança e da unidade. É à volta da Mãe que os apóstolos perseveram unidos à espera do Messias morto, e que voltará. Sem Ela seria o descalabro. Desta hora em diante, como discípulos amados do Senhor, levemo-l’A connosco, para casa, para a vida. Deixemos que Ela nos envolva e nos invada com o Seu olhar de Mãe. Fixemo-nos, como Ela, no olhar de Jesus. Vivamos, como Ela, alimentados pelo Espírito de Deus. Confiemos, como Ela, em Deus que é Pai, ainda que vivamos momentos dolorosos.
       Vamos juntos construir… Depois da Visita Apostólica de Bento XVI a Portugal, a Conferência Episcopal lançou um desafio: “Repensar juntos a Pastoral da Igreja em Portugal”. Diz o nosso Bispo, D. António Couto, na Carta Pastoral que nos é dirigida, e a toda a Diocese de Lamego:
“Convoco todos os Padres e toda a Diocese para abrirmos de par em par as portas da escuta qualificada da Palavra de Deus, da formação, da fração do pão, da comunhão e da oração. Escolas de fé, acolhimento, formação da fé, vivência e transmissão da fé constituem o grito que mais se levantou no chão eclesial aquando da auscultação das pessoas no processo sinodal «Repensar juntos a Pastoral da Igreja em Portugal» (n.º 8).
       E juntos vamos construir uma CASA comum, a Casa da Fé e do Evangelho, procurando que cada coração e cada família, cada grupo e cada comunidade, sejam extensão da Casa da Fé e do Evangelho, melhor, sejam parte integrante, ramificações do CORAÇÃO de Jesus que pulsa em nós.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Editorial Voz Jovem - setembro 2012

       A comunidade cristã está em constante processo de conversão e de transformação, procurando ser fiel, em cada tempo e situação, a Jesus Cristo e ao seu Evangelho, vivendo a fé como oportunidade e espaço de conforto, de diálogo, de provocação e de envolvimento, de todos os seus membros.
       A proposta da Diocese – Vamos juntos construir a casa da Fé e do Evangelho – remete-nos para o ANO da FÉ, que se inicia no dia 11 de outubro de 2012, nos 50 anos da abertura do Concílio Vaticano II e 20 anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica (CIC). Neste âmbito, a realização da Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, em Roma, sobre a Nova Evangelização para a Transmissão da Fé cristã
       D. António Couto dirigiu a toda a Diocese a Sua primeira Carta Pastoral, com a seguinte proposta: Vamos juntos construir a Casa da Fé e do Evangelho, transcorrendo nas suas páginas o Ano da Fé e a necessidade e urgência da Nova Evangelização. 
       Bastará fixarmo-nos no lema para nele encontrarmos sumo para a vivência diocesana, paroquial e familiar.
       VAMOS juntos – atitude de quem se coloca em marcha, abrindo caminhos, rasgando avenidas no coração do outro, trilhando os tempos novos inaugurados por Jesus. Vamos JUNTOS, uns com os outros. Em Igreja, é importante a arte, a beleza, a criatividade e até a competência, mas muito mais se estiver ao serviço dos outros, da comunhão, da partilha, da vida fraterna. Mais do que fazer para os outros – por melhor que se seja – é curial fazer com os outros, dando e recebendo, ensinando e aprendendo, em partilha e comunhão.
       CONSTRUIR – de que adianta olhar na mesma direção se não for para construir, edificar, colocar pedra sobre pedra, fazermos algo de bom e de belo e de duradouro, uns com os outros.
       Construir a CASA, a família. A casa-mãe, a Igreja e as ramificações em cada casa, em todos os corações, como refere D. António, na Carta Pastoral, “É uma comunidade bela, fecunda e feliz,… luz que alumia os que estão na casa… luz que alumia os que entram na casa”. A Casa é espaço de bênção, de acolhimento, de proteção, e também de envio e de missão. Levar da casa a alegria e a paz que nela se encontra.
       Não é uma casa qualquer, mas Casa da FÉ e do EVANGELHO – referência concreta ao Ano da Fé e à Nova Evangelização –. É na fé que nos descobrimos e encontramos como irmãos em Jesus Cristo, filhos do mesmo Deus, e é no Evangelho que alimentamos a nossa fome e sede de sermos luz uns com os outros, neste mundo que é o nosso.
       Na nossa paróquia o lema será alargado, com a envolvência de Nossa Senhora da Conceição, assumindo a dinâmica diocesana:

“COM MARIA, vamos juntos construir a Casa da Fé e do Evangelho”.