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sábado, 18 de janeiro de 2025

Domingo II do Tempo Comum - ano C - 17 de janeiro

       1 – O Apóstolo São Pedro, no livro dos Atos dos Apóstolos (10, 34-38), lembra-nos que «Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo demónio, porque Deus estava com Ele».
       O Batismo de Jesus marca uma viragem na Sua vida. O nosso batismo há de marcar um tempo novo, de graça e de salvação. Seguindo entre o Povo, Jesus faz-Se batizar, connosco, para que nos batizemos com Ele. Pedro e os demais apóstolos são batizados na morte e na ressurreição de Jesus, Batismo consumado. A partir desta luz que irradia da Páscoa de Jesus, os discípulos seguem-n'O, anunciando-O, levando-O a todo o mundo, testemunhando-O com palavras e com a vida. Assim terá de ser connosco, batizados, novas criaturas, para vivermos de maneira nova, à maneira de Jesus, amando, servindo, dando a vida, transformando a água em vinho novo para a festa da partilha e da comunhão.
       Na vida de Jesus, e na Liturgia da Igreja, ao batismo segue-se a vida pública. Jesus irrompe pelas aldeias e pelas cidades, pelas montanhas e pelos vales, em terra ou em mar, a anunciar a salvação de Deus, a libertação das pessoas e dos povos, pela misericórdia e pela graça, pelo perdão e pelo amor sem medida, ou melhor, com a medida do amor de Deus.
       2 – No atual ciclo de leituras, ano C, aberto com o primeiro domingo do Advento, o evangelista que mais de perto nos acompanha é São Lucas. Porém, aqui e além, a oportunidade de escutar e mastigar outros evangelhos. Hoje a Liturgia da Palavra brinda-nos com o primeiro milagre de Jesus, segundo o evangelista São João, e que ocorre nas Bodas de Caná da Galileia.
       À primeira vista, Jesus, como Messias esperado e prometido, passa despercebido. Está na festa como convidado. Maria, a Mãe de Jesus foi convidada e em atenção à Mãe também Jesus e os seus discípulos são convidados.
       Jesus não é nenhum bicho de 7 cabeças, estranho, esquisito, extraterrestre. Ele assume-nos por inteiro. E assume-Se como verdadeiro Homem. Sendo Deus é Deus connosco, confunde-Se connosco, encarna, caminha connosco, vive como nós. Não cai do Céu aos trambolhões, nasce de uma Mulher, tem uma família, tem amigos, vai às festas dos familiares, participa nas dores e nas tristezas do seu povo. Não é romantismo, é a vida real de Jesus. Nas Bodas de Caná, Jesus está descontraidamente a festejar. Envolvido. Entre familiares e amigos.
       3 – A festa decorre normalmente. Os noivos estão felizes da vida, talvez um pouco ansiosos, falando com uns e com outros, preocupados em que tudo corra bem e todos se sintam felizes. Do mesmo jeito, os seus pais mal apreciam a comida e a bebida para se assegurarem que nada vai faltar aos convidados.
       Maria é apresentada como Mãe. As mães sempre desenvolvem uma grande perspicácia: atentas a tudo o que diz respeito aos seus filhos, ao que fazem, ao que dizem, ao que sentem, procurando adivinhar-lhes as preocupações. Muitas vezes alargam esta sensibilidade maternal às outras pessoas. Maria, Mãe de Jesus, tal como o Filho, está festejando. Mas mantém-se atenta. É amiga da família e preocupa-se com que tudo corra bem. Há pessoas assim. Maria é modelo e referência. Apercebe-se antes de todos os outros que o vinho está a faltar.
       Diante dos contratempos poderemos bloquear sem saber o que fazer, ou passemos à frente como se não nos dissesse respeito, deixando que outros resolvam. Maria toma a iniciativa e faz o que está ao Seu alcance. Vai ter com Jesus e diz-lhe: «Não têm vinho». Mais que um pedido parece ser um desabafo, isto é, se quiseres podes agir! A oração de Maria não força Deus, mas confia.
       A resposta de Jesus – «Mulher, que temos nós com isso?» – sintoniza, num primeiro tempo, com aquilo que pensamos, por que é que nos havemos de intrometer num problema que não criámos e que não nos diz respeito diretamente?
       «Ainda não chegou a minha hora». Jesus tem consciência do tempo em que Se manifestará a todos. Ainda não terá chegado a hora! Por vezes também nos acontece. Nós é que sabemos, quando, como, com quem, em que circunstâncias. E ficamos retinentes quando nos dizem que temos de fazer isto ou aquilo. Por casmurrice não fazemos. Também aqui Jesus nos dá uma lição importante, fazendo-nos olhar para Maria, Sua Mãe, que não desiste, dizendo aos serventes, que hoje somos nós: «Fazei tudo o que Ele vos disser». O que pedirmos com fé à Mãe, o Filho não deixará de atender. Ela intercede por nós, porque também nos assume como filhos.
       4 – Jesus não demora em justificações ou desculpas. Poderia passar culpas! Quem vai para o mar prepara-se em terra! Se os noivos e as suas famílias marcaram a festa de noivado-compromisso, então deveriam prever o número das pessoas e os dias da festa. Quem não quer ajudar sempre arranja desculpas. Quem se dispõe a ajudar, ajuda quando é preciso ajudar.
       Jesus manda os serventes – que hoje somos nós – encher as talhas de água. Seis talhas de pedra destinadas à purificação dos judeus. 600 litros de água transformada em 600 litros de vinho de qualidade.
       Os serventes seguem Jesus e fazem o que Ele lhes pede. Jesus conta com eles e connosco: «Tirai agora e levai ao chefe de mesa». Sem saber a origem deste vinho novo, o chefe de mesa prova e fica admirado, dizendo ao noivo: «Toda a gente serve primeiro o vinho bom e, depois de os convidados terem bebido bem, serve o inferior. Mas tu guardaste o vinho bom até agora».
       Jesus serve-nos o melhor vinho. Serve-nos a Sua vida por inteiro, cuja abundância já se visualiza neste primeiro milagre. Transforma a água em vinho. Transforma a Sua vida para Se nos dar, no pão e no vinho, com o Seu Corpo e o Seu sangue, em abundância, a abundância do amor.
       5 – As promessas de Deus ao Seu povo, anunciadas pelos profetas, começam a realizar-se. Não podemos não ouvir a voz sonante de Isaías. Também aqui se usa a imagem do noivado.
       "Por amor de Sião não me calarei, por amor de Jerusalém não terei repouso, enquanto a sua justiça não despontar como a aurora e a sua salvação não resplandecer como facho ardente. Os povos hão de ver a tua justiça e todos os reis a tua glória... Não mais te chamarão «Abandonada», nem à tua terra «Deserta», mas hão de chamar-te «Predileta» e à tua terra «Desposada», porque serás a predileta do Senhor e a tua terra terá um esposo. Tal como o jovem desposa uma virgem, o teu Construtor te desposará; e como a esposa é a alegria do marido, tu serás a alegria do teu Deus".
        Deus desposa o Seu povo, permanecendo por perto, não Se afastando mesmo quando é afastado. Os afastamentos trazem a diabolização, as divisões, a conflitualidade nas famílias e nas comunidades. Deus não Se impõe. O "contrato" de casamento é (quase) unilateral. Deus ama primeiro e ama sempre, além do nosso pecado e das nossas infidelidades, além do nosso esfriamento e das nossas hesitações. O olhar de Deus e a Sua mão não se afastam, para não nos perder, para não perder o Seu povo. Deus não desiste. Nunca desiste de nós.

        6 – Com Jesus realizam-se as promessas de Deus. A abundância da Sua vinda e da Sua vida leva-nos ao louvor e à ação de graças: "Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor, terra inteira, cantai ao Senhor, bendizei o seu nome. Anunciai dia a dia a sua salvação, publicai entre as nações a sua glória, em todos os povos as suas maravilhas".

       7 – Na segunda leitura, São Paulo lembra-nos que todos somos batizados no mesmo Espírito para formarmos um só povo, vivendo ao serviço uns dos outros, como Jesus que veio para viver connosco, assumindo os nossos sonhos e os nossos pecados, o nosso sofrimento. Cabe-nos, imitando-O, dar a vida pelos nossos irmãos, pelas pessoas que Deus coloca na nossa vida.
       Há diversidade de dons espirituais, de ministérios, de operações, mas "é o mesmo Deus que realiza tudo em todos". Com efeito, os dons recebidos e os ministérios assumidos são em ordem ao bem de todos. "É um só e o mesmo Espírito que dá a um o dom da fé, a outro o poder de curar; a um dá o poder de fazer milagres, a outro o de falar em nome de Deus; a um dá o discernimento dos espíritos, a outro o de falar diversas línguas, a outro o dom de as interpretar. Mas é um só e o mesmo Espírito que faz tudo isto, distribuindo os dons a cada um" para o bem comum.
       Não nos ensoberbeçamos com os dons recebidos, que nos são "emprestados" para o utilizarmos a favor dos outros, como Jesus Cristo que sendo rico Se fez pobre para nos enriquecer com a Sua pobreza. "Infundi em nós, Senhor, o espírito da vossa caridade, para que vivam unidos num só coração e numa só alma aqueles que saciastes com o mesmo pão do Céu."

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (ano C): Is 62, 1-5; Sl 95 (96); 1 Cor 12, 4-11; Jo 2, 1-11.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Domingo IV do Advento - ano A - 18 de dezembro de 2022


1 - O sonho comanda a vida. Refrão bem conhecido da música portuguesa, da autoria de António Gedeão. "Eles não sabem, nem sonham, que o sonho comanda a vida. Que sempre que um homem sonha o mundo pula e avança". É também conhecida a máxima da Fernando Pessoa: "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce".
Deus sonhou para nós um mundo belo e harmonioso, pleno de amor e de ternura, onde prevaleceriam a alegria e a fraternidade. Os desígnios de Deus mantiveram-se inalterados, respeitando sempre a vontade humana, mas fazendo-nos ver caminhos e opções que nos reconciliariam uns com os outros, possibilitando um mundo mais humano, mais acolhedor, mais casa de todos e para todos. Deus continua a sonhar-nos no Seu amor e a pensar para nós todo o bem, a abundância da graça. É neste plano salvador que preparar Maria para ser a Mãe do redentor, Deus connosco, o Emanuel.
O profeta Isaías comunica a Acaz e a todo o povo o sonho de Deus, uma promessa que há de cumprir-se a seu tempo: «Escutai, casa de David: Não vos basta que andeis a molestar os homens para quererdes também molestar o meu Deus? Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: a virgem conceberá e dará à luz um filho e o seu nome será Emanuel».
Acaz recusa pedir um sinal, entendendo que não se deve pôr Deus à prova. No entanto, é o próprio Deus que, através do Profeta, quer revelar a Sua vontade, os seus sonhos a favor da humanidade. Desta forma se acalenta a esperança, mas simultaneamente é um aviso à navegação, o sinal deve produzir efeito de imediato, alterando o rumo de vida, a corrupção, a falta de respeito e de cuidado pelas pessoas, sobretudo as mais vulneráveis. As promessas de Deus são para cumprir, cabe-nos fazer o que está ao nosso alcance, para que se efetivem os Seus sonhos, permitindo um mundo habitável.

2 - Com o nascimento de Jesus, cumpre-se em plenitude a promessa de Deus, o Emanuel está connosco, vem para habitar no meio de nós e para nos habitar através do Seu Espírito de amor.
O relato do nascimento de Jesu, relatado por Mateus, sublinha o mistério da concepção. Maria engravida pela ação do Espírito Santo. Outro dado importantíssimo é o papel de José, esposo de Maria, que constata a gravidez sem que tivesse contribuído para tal.
O Evangelho mostra um José surpreendido, admirado, desprevenido, mas também ponderado. Homem bom e justo, como sublinham os evangelhos, José reflete sobre o que terá acontecido. Deve ter passado por momentos de grande dúvida, de revolta, sem saber o que pensar ou o que fazer. Não é fácil para ninguém sentir-se abandonado, traído, enganado. Para José, por certo, também o não foi. Todavia, não se deixou levar pelo momento, por um qualquer gesto repentino e impensado. Olha para a sua vida, mas coloca a de Maria em primeiro lugar, apesar da "traição". É a isso que chamamos amor: colocar a pessoa amada, colocar o outro, em primeiro lugar. Agir não em função do que nos é mais fácil, mais cómodo, mais favorável, mas em função das necessidades do outro.
No judaísmo, uma situação desta levaria à condenação, por apedrejamento, da mulher. Seria esse o destino de Maria. Com efeito, provando-se que José, a quem ela estava prometida, havendo um compromisso sólido e duradouro, já eram o que estavam destinados a ser, um casal, Maria ia estar em maus lençóis, não havia salvação possível. José encontra uma solução, iria abandoná-la em silêncio. Dessa forma, ele ficaria com as culpas de a ter desonrado e ela ficava protegida na família dele e dela, pois a ação e responsabilidade seria atribuídas a José.
Deus tem planos para nós que nem adivinhamos. No meio do caos, José foi capaz de parar e refletir e achar uma solução que protegesse Maria e o Menino, mas Deus não o deixou esperar mais e apareceu-lhe num sonho, através de um Anjo: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que nela se gerou é fruto do Espírito Santo. Ela dará à luz um Filho e tu pôr-Lhe-ás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados». Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor anunciara por meio do Profeta, que diz: «A Virgem conceberá e dará à luz um Filho, que será chamado ‘Emanuel’, que quer dizer ‘Deus connosco’». Quando despertou do sono, José fez como o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu sua esposa.

3 - É tão grande o mistério da Encarnação, inserido no mistério pascal, da ressurreição de Jesus e da nossa redenção, que só uma fé madura poderá fazer-nos aproximar do mistério. Mais do que compreender, cabe-nos acolher Deus na nossa vida, deixar-nos amar por Ele, sentirmo-nos amados, para amarmos os outros, na certeza de que amando e cuidando dos outros estamos a responder ao amor de Deus por nós.
São Paulo assume-se como servo de Jesus Cristo, «apóstolo por chamamento divino, escolhido para o Evangelho que Deus tinha de antemão prometido pelos profetas nas Sagradas Escrituras, acerca de seu Filho, nascido, segundo a carne, da descendência de David, mas, segundo o Espírito que santifica, constituído Filho de Deus em todo o seu poder pela sua ressurreição de entre os mortos: Ele é Jesus Cristo, Nosso Senhor».
Se inicialmente o apóstolo fala da sua vocação e da sua missão, logo sublinha que tudo se inclui e tudo está envolvido no mistério pascal. É em Cristo Jesus que somos redimidos e preenchidos com a vida de Deus. Com efeito, «por Ele recebemos a graça e a missão de apóstolo, a fim de levarmos todos os gentios a obedecerem à fé, para honra do seu nome, dos quais fazeis parte também vós, chamados por Jesus Cristo». O mistério recebido, a graça que nos transforma, faz-nos apóstolos, anunciadores do Evangelho. Se o mistério nos encontrou, melhor, se nos deixamos surpreender pelo mistério, pelos sonhos de Deus, não podemos não transbordar de alegria, respondendo ao amor (de Deus) com amor (ao próximo). É, na verdade, o que acontece com todos os encontros. O encontro de José com Maria encheram-nos de alegria, mas, sucessivamente, o deixaram desiludido, exigindo uma escolha, um caminho. O envolvimento no sonho de Deus apazigua o seu coração e altera para sempre a sua decisão.
Quando Paulo é surpreendido por Deus e envolvido no Seu mistério (e no Seu sonho), não mais deixará de viver e anunciar a Boa Nova.

4 - Deixemo-nos encontrar por Deus. Ele procura-nos. Ele vem ao nosso encontro. Nas origens, Adão e Eva esconderam-se, envergonhados. Aprendamos com eles, ou com os seus erros. Como poderíamos ter vergonha do nosso Pai, que é mais Mãe? É certo que, por vezes, nos distanciamos, brigando com os irmãos, ou sentindo-os adversários, mas Deus, que é Pai, poderia recusar ver-nos, poderia recusar o nosso olhar?
Peçamos-Lhe confiantes: «Infundi, Senhor, a vossa graça em nossas almas, para que nós que, pela anunciação do anjo, conhecemos a encarnação de Cristo, vosso Filho, pela sua paixão e morte na cruz alcancemos a glória da ressurreição».
O conhecimento que nos vem da fé, que se cimenta na oração, é relação com Deus, que nos escuta para que escutemos a Sua Palavra e concretizemos a Sua vontade.
O salmista reza a grandeza de Deus e a bênção que experimentamos quando não nos fechamos no nosso orgulho ou no nosso egoísmo. «Do Senhor é a terra e o que nela existe, o mundo e quantos nele habitam. Ele a fundou sobre os mares e a consolidou sobre as águas. / Quem poderá subir à montanha do Senhor? Quem habitará no seu santuário? O que tem as mãos inocentes e o coração puro, que não invocou o seu nome em vão nem jurou falso. / Este será abençoado pelo Senhor e recompensado por Deus, seu Salvador. Esta é a geração dos que O procuram, que procuram a face do Deus de Jacob».
Procuremos a face do Senhor que nos procura com amor.

Leituras para a Eucaristia (ano A): Is 7, 10-14; Sal 23 (24), 1-2. 3-4ab. 5-6 L2: Rom 1, 1-7 Ev: Mt 1, 18-24

quarta-feira, 25 de março de 2020

Solenidade da Anunciação do Senhor

Nota histórica:
       Deus que no decorrer dos séculos, tinha encarregado os profetas de transmitir aos homens a Sua palavra, ao chegar a plenitude dos tempos, determina enviar-lhes o Seu próprio Filho, o Seu Verbo, a Palavra feita Carne.
       Contudo, o Pai das misericórdias quis que a Incarnação fosse precedida da aceitação por parte daquela que Ele predestinara para Mãe, para que, assim como uma mulher contribuiu para a morte, também outra mulher contribuísse para a vida» (Lumen gentium, 56).
       No momento da Anunciação, através do Anjo Gabriel, Deus expõe portanto, a Maria os Seus desígnios. E Maria, livre, consciente e generosamente, aceita a vontade do Senhor a seu respeito, realizando-se assim o mistério da Incarnação do Verbo. Nesse momento, com efeito, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade começa a Sua existência humana. O filho de Deus faz Se Filho do Homem. O Deus Altíssimo torna-Se o «Deus connosco».
       Ao celebrar este mistério, precisamente nove meses antes do Natal, a Solenidade da Anunciação orienta-nos já para o Nascimento de Cristo. No entanto, a Incarnação está intimamente unida à Redenção. Por isso, as Leituras (especialmente a segunda) introduzem-nos já no Mistério da Páscoa.
       Essencialmente festa do Senhor, a Anunciação não pode deixar de ser, ao mesmo tempo, uma festa perfeitamente mariana. Na verdade, foi pelo sim de Maria que a Incarnação se realizou, a nova Aliança se estabeleceu e a Redenção do mundo pecador ficou assegurada.
 
      O Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem chamado José, da descendência de David. O nome da Virgem era Maria. Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo: «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo». Ela ficou perturbada com estas palavras e pensava que saudação seria aquela. Disse-lhe o Anjo: «Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David; reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim». Maria disse ao Anjo: «Como será isto, se eu não conheço homem?» O Anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril; porque a Deus nada é impossível». Maria disse então: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 26-38).

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Nossa Senhora de Lurdes

Nota Histórica:
       Em 1858 a Imaculada Virgem Maria apareceu a Bernarda Soubirous na gruta de Massabielle, perto de Lourdes (França). Por intermédio desta humilde menina, Maria chamou os pecadores à conversão e despertou na Igreja um intenso movimento de oração e caridade, sobretudo em benefício dos doentes e dos pobres.

Oração de Colecta:
       Vinde em auxílio da nossa fraqueza, Senhor de misericórdia, e concedei que, celebrando a memória da Imaculada Mãe de Deus, sejamos purificados dos nossos pecados. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
(De uma carta de Santa Maria Bernarda Soubirous ao P. Gondrand, ano 1861)

A Senhora me falou

Um dia em que fui à margem do Gave apanhar lenha com outras duas meninas, ouvi um rumor. Voltei-me para o lado do prado e reparei que não havia a menor agitação no arvoredo. Então levantei a cabeça e olhei para a gruta. Vi uma Senhora vestida de branco: tinha um vestido branco e uma faixa azul à cintura e uma rosa amarela em cada pé, da cor do rosário que trazia.
Ao ver isto, esfreguei os olhos, julgando que me enganava. Meti a mão na algibeira e encontrei o meu rosário. Quis também fazer o sinal da cruz, mas não consegui levar a mão à testa. Quando, porém, aquela Senhora fez o sinal da cruz, tentei fazê-lo também; a mão tremia-me, mas consegui. Comecei então a rezar o rosário: a Senhora ia passando as contas do seu rosário, mas não movia os lábios. Quando acabei o rosário, a visão desvaneceu-se.
Perguntei às outras duas pequenas se tinham visto alguma coisa e elas responderam que não. Queriam que lhes dissesse o que era, e eu então disse-lhes que tinha visto uma Senhora vestida de branco, mas não sabia quem era, e pedi-lhes que não falassem disso a ninguém. Então elas aconselharam-me a não voltar mais àquele lugar; mas eu disse-lhes que não. Ali voltei no Domingo pela segunda vez, porque me senti interiormente chamada...
Só à terceira vez a Senhora me falou. Perguntou-me se queria ir ali durante quinze dias e eu disse-lhe que sim.
Mandou-me dizer aos sacerdotes que fizessem ali uma capela, e depois mandou-me ir beber à fonte. Como não vi nenhuma fonte, fui beber ao Gave. Ela disse-me que não era ali e fez-me sinal com o dedo, indicando-me o lugar onde estava a fonte. Dirigi-me para lá, mas só vi um pouco de água suja; quis encher a mão para beber, mas não consegui nada. Comecei a escavar e daí a pouco já podia tirar um pouco de água. Deitei-a fora por três vezes, mas à quarta já a pude beber. Em seguida a visão desvaneceu-se e eu fui-me embora.
Durante quinze dias voltei lá, e a Senhora apareceu-me todos os dias, excepto uma segunda-feira e uma sexta-feira. Repetiu-me várias vezes que dissesse aos sacerdotes para fazerem ali uma capela. Mandava-me ir lavar à fonte e dizia-me que rezasse pela conversão dos pecadores. Várias vezes lhe perguntei quem era, mas respondia-me apenas com um leve sorriso. Finalmente, erguendo os braços e levantando os olhos ao céu, disse-me que era a Imaculada Conceição.
Durante esses quinze dias, revelou-me três segredos que me proibiu de dizer fosse a quem fosse. Fui fiel até ao presente.

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Quem fizer a vontade de Deus esse é meu irmão...

       Chegaram à casa onde estava Jesus, sua Mãe e seus irmãos, que, ficando fora, O mandaram chamar. A multidão estava sentada em volta d’Ele, quando Lhe disseram: «Tua Mãe e teus irmãos estão lá fora à tua procura». Mas Jesus respondeu-lhes: «Quem é minha Mãe e meus irmãos?» E, olhando para aqueles que estavam à sua volta, disse: «Eis minha Mãe e meus irmãos. Quem fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, minha irmã e minha Mãe» (Mc 3, 31-35).
       A passagem do Evangelho que hoje nos é proposta mostra a prevalência da vontade de Deus como referencial que no liga a Deus e uns aos outros.
       Aos familiares de Jesus, Mãe e irmãos (= primos carnais) chega uma preocupação que se espalha pela povoação, fruto de algum boato ou comentário maldoso. Naquele como neste tempo, rapidamente se espalham as insinuações e/ou boatos, muito mais um cancro pelo corpo.
       Maria, atenta e vigilante, corre ao encontro do Filho. Confia n'Ele mas o que lhe dizem deixa-a incomodada. Logo vai ter com Jesus para ver o que se passa e trazê-l'O de volta a casa se se confiormarem os boatos, os mal-dizeres.
Jesus rodeado de pessoas, é alertado para a presença de Sua Mãe e Seus parentes, respondendo com clareza: Mãe e irmãos são os que escutam a Palavra, os que fizerem a vontade de Deus. Inclui a Mãe e os parentes, consideranddo-nos da Sua família, com a única condiação de fazermos a vontade Deus. Pertencer à família de Jesus está ao alcance da nossa vontade.

sábado, 29 de dezembro de 2018

Agora deixareis ir em paz o vosso servo...

       Ao chegarem os dias da purificação, segundo a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, para O apresentarem ao Senhor, como está escrito na Lei do Senhor: «Todo o filho primogénito varão será consagrado ao Senhor», e para oferecerem em sacrifício um par de rolas ou duas pombinhas, como se diz na Lei do Senhor. Vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão, homem justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava nele. O Espírito Santo revelara-lhe que não morreria antes de ver o Messias do Senhor; e veio ao templo, movido pelo Espírito. Quando os pais de Jesus trouxeram o Menino para cumprirem as prescrições da Lei no que lhes dizia respeito, Simeão recebeu-O em seus braços e bendisse a Deus, exclamando: «Agora, Senhor, segundo a vossa palavra, deixareis ir em paz o vosso servo, porque os meus olhos viram a vossa salvação, que pusestes ao alcance de todos os povos: luz para se revelar às nações e glória de Israel, vosso povo». O pai e a mãe do Menino Jesus estavam admirados com o que d’Ele se dizia. Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua Mãe: «Este Menino foi estabelecido para que muitos caiam ou se levantem em Israel e para ser sinal de contradição; – e uma espada trespassará a tua alma – assim se revelarão os pensamentos de todos os corações» (Lc 2, 22-35).
       Na apresentação de Jesus no Templo, cumprindo todas as exigências da Lei, destaca-se hoje no Evangelho a profecia do velho Simeão, homem justo e piedoso, que esperava a salvação de Israel. Depois e acolher o Messias em seus braços, cumpre com a vida, não há mais nada a esperar, chegou a plenitude do tempo e da história, o momento da morte pode agora chegar, o último dos desejos foi cumprido.
       Por outro lado, o velho Simeão diz a Maria que Aquele Menino Lhe trará muita dor, mas ao mesmo tempo a Sua vida será LUZ que revelará os corações, vem para evidenciar a salvação e salvar até o que está perdido...

sábado, 22 de dezembro de 2018

A minha alma glorifica o Senhor

       Maria disse:
       «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva: de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-poderoso fez em mim maravilhas, Santo é o seu nome. A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que O temem. Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência para sempre».
       Maria ficou junto de Isabel cerca de três meses e depois regressou a sua casa (Lc 1, 46-56).
       No encontro de Nossa Senhora com a sua prima Isabel, a quem fora ajudar prontamente, quando soube que esta se encontrava grávida há seis meses, às palavras de alegria de Isabel, manifestando o próprio júbilo e o do filho (João Batista) que carrega no seio, Maria responde com esta belíssima oração.
       Maria expressa a grandeza de Deus, que ao longo do tempo realizou maravilhas em favor do Seu povo, na promoção dos mais frágeis, dos desprotegidos da sociedade e da religião, protegendo o Seu povo. A misericórdia divina está presente em todos os momentos, favoráveis e desfavoráveis, do povo da primeira aliança.
       Por outro lado, Maria reconhece, de novo, a sua pequenez, a humildade que Lhe permite escutar Deus, acolher o Seu mistério e dizer "sim" para toda a vida. Só a humildade nos salva. Só com humildade perscrutamos Deus na nossa vida, só a humildade nos abre ao mistério...

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Bendita és Tu entre as mulheres...

       Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha, em direcção a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino exultou-lhe no seio. Isabel ficou cheia do Espírito Santo e exclamou em alta voz: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor? Na verdade, logo que chegou aos meus ouvidos a voz da tua saudação, o menino exultou de alegria no meu seio. Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor» (Lc 1, 39-45).
       Ontem escutámos o Evangelho da anunciação do Anjo a Nossa Senhora, cujas palavras finais continuam a ser um desafio permanente para os cristãos: faça-se em mim segundo a tua palavra... Hoje escutamos o Evangelho da Visitação de Nossa Senhora à Sua prima Santa Isabel onde se destaca uma postura a imitar, a pressa em ser prestável, em ajudar. Maria corre para a Montanha em auxílio da Sua prima. E nós, quando detectamos necessidades também corremos para o nosso semelhante?
       Por outro lado, a alegria do encontro... também nós, crentes cristãos, deveremos experimentar a alegria do encontro com Jesus Cristo, motivando-nos para a transformação positiva da nossa vida e do mundo que nos envolve.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Faça-se em mim segundo a tua palavra

       O Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem chamado José, da descendência de David. O nome da Virgem era Maria. Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo: «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo». Ela ficou perturbada com estas palavras e pensava que saudação seria aquela. Disse-lhe o Anjo: «Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David; reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim». Maria disse ao Anjo: «Como será isto, se eu não conheço homem?» O Anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril; porque a Deus nada é impossível». Maria disse então: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 26-38).
       Vivemos em ambiente de Natal. Façamos com que a celebração festiva do nascimento de Jesus não seja uma passagem apenas exterior, mas que a Luz do presépio, onde encontramos Maria, José e Jesus, nos aproxime dos outros, dentro de portas, em nossa casa, com a nossa família e desta paz em família a partilha da alegria com quem encontramos.
       Hoje, com Maria também nós queremos sentir-nos interpelados por Deus. Também nós, como Maria, tenhamos a humildade e a coragem de dizer ao Senhor: faça-se em mim segundo a Tua santa vontade.

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Nascimento de Jesus, segundo São Mateus

       "O nascimento de Jesus deu-se do seguinte modo: Maria, sua Mãe, noiva de José, antes de terem vivido em comum, encontrara-se grávida por virtude do Espírito Santo. Mas José, seu esposo, que era justo e não queria difamá-la, resolveu repudiá-la em segredo. Tinha ele assim pensado, quando lhe apareceu num sonho o Anjo do Senhor, que lhe disse: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que nela se gerou é fruto do Espírito Santo. Ela dará à luz um Filho e tu pôr-Lhe-ás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados». Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor anunciara por meio do Profeta, que diz: «A Virgem conceberá e dará à luz um Filho, que será chamado ‘Emanuel’, que quer dizer ‘Deus connosco’». Quando despertou do sono, José fez como o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu sua esposa" (Mt 1, 18-25).
        Ontem, o evangelho apresentava-nos a genealogia de Jesus, segundo Mateus, salientando-se a inserção histórica de Jesus numa cultura e num povo determinado, com nome, ascendência, pertença ao povo da aliança, mas na abertura a outros povos, a inclusão de mulheres (quatro pecadoras), dizendo-nos que Jesus vem assumir o nosso pecado e nos redimir. Por outro lado, se José Lhe dá o nome, o apelido, a casa, Jesus nasce de Maria, concebido pelo Espírito Santo, é verdadeiro Homem, é verdadeiro Deus.
       Hoje acentua-se esta dimensão mistérica do nascimento de Jesus. O Deus que salva (= Jesus), nasce pelo poder do Espírito Santo no seio de Maria. São José é envolvido neste mistério, sendo-lhe revelado a origem do Menino Deus. José recebe o encargo de dar NOME a Jesus...
       A figura de São José aparece em relevância nesta passagem, como essencial é a sua missão no mistério de Jesus, na proteção da família de Nazaré, na legalidade e na ligação ao povo. Não é mera figura decorativa, Deus visita-O e fala com Ele, escolhendo-O para ser o Pai (adotivo e legal) de Jesus, dando uma lar, um espaço de segurança e de afetividade, para que o Menino Deus possa ter uma verdadeira família humana. No silêncio, na oração e na meditação, José ensina-nos a discernir os mistérios que se colocam na nossa vida e, percebendo-os, a acolhê-los.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Apresentação de Nossa Senhora

Nota histórica:
       Neste dia da dedicação (ano 543) da igreja de Santa Maria a Nova, construída perto do templo de Jerusalém, celebramos, juntamente com os cristãos da Igreja Oriental, a «dedicação» que Maria fez de Si mesma a Deus, já desde a infância, movida pelo Espírito Santo que a encheu de graça desde a sua Imaculada Conceição.
Oração de coleta:
       Ao celebrarmos a memória gloriosa da Santíssima Virgem Maria, nós Vos pedimos, Senhor: concedei nos, por sua intercessão, que mereçamos participar da plenitude da vossa graça. Por Nosso Senhor.
Santo Agostinho, bispo

Acreditou pela fé e concebeu pela fé

Peço-vos que repareis no que diz o Senhor ao estender a mão para os seus discípulos: Estes são minha mãe e meus irmãos e Quem fizer a vontade de meu Pai, que Me enviou, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe. Porventura não fez a vontade do Pai a Virgem Maria, que acreditou pela fé e concebeu pela fé, que foi escolhida para que d’Ela nascesse a salvação entre os homens e que foi criada por Cristo antes de Cristo ter sido criado n’Ela? Maria cumpriu, e cumpriu perfeitamente, a vontade do Pai; e, por isso, Maria tem mais mérito por ter sido discípula de Cristo do que por ter sido mãe de Cristo; mais ditosa é Maria por ter sido discípula de Cristo do que por ter sido mãe de Cristo. Portanto, Maria era bem-aventurada, porque, antes de dar à luz o Mestre, trouxe-O no seio.
Vê se não é como digo. Passava o Senhor, acompanhado da multidão e fazendo milagres divinos. E uma mulher exclamou: Bem-aventurado o ventre que Te trouxe. Ditoso o ventre que Te trouxe. E o Senhor, para que se não buscasse a felicidade na natureza material da carne, que respondeu? Mais felizes os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática. Por isso também Maria era feliz porque ouviu a palavra de Deus e a pôs em prática; guardou mais a verdade de Cristo na sua mente do que o corpo de Cristo no seu seio. Cristo é verdade; Cristo é carne. Cristo é verdade no espírito de Maria, Cristo é carne no seio de Maria; é mais o que está no espírito do que o que se traz no seio.
Maria é santa, Maria é bem aventurada. Mas é mais importante a Igreja do que a Virgem Maria. Porquê? Porque Maria é uma parte da Igreja, membro santo, membro excelente, membro supereminente, mas apesar disso membro do corpo total. Se é membro do corpo, é certamente mais o corpo do que o membro. A cabeça é o Senhor, e Cristo total é a cabeça e o corpo. Que mais direi? Temos no corpo da Igreja uma cabeça divina, temos a Deus por cabeça.
Reparai portanto em vós mesmos, irmãos caríssimos. Também vós sois membros de Cristo, também vós sois corpo de Cristo. Vede como o sois, quando Ele diz: Eis minha mãe e meus irmãos. Como sereis mãe de Cristo? Todo aquele que ouve e pratica a vontade de meu Pai que está nos Céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe. Quando diz «irmãos» e «irmãs», fala evidentemente da mesma e única herança.
É uma só, na verdade, a herança. Por isso, a misericórdia de Cristo, que sendo único não quis ficar só, fez de nós herdeiros do Pai e herdeiros consigo.

sábado, 13 de outubro de 2018

Mais felizes os que escutam a Palavra de Deus...

        Enquanto Jesus falava à multidão, uma mulher levantou a voz no meio da multidão e disse: «Feliz Aquela que Te trouxe no seu ventre e Te amamentou ao seu peito». Mas Jesus respondeu: «Mais felizes são os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática» (Lc 11, 27-28).
       Neste pequeno trecho do Evangelho, proposto para hoje, Jesus sublinha que a escuta da palavra de Deus, levada à prática, é o melhor argumento para se ser Seu discípulo e para integrar o Reino de Deus.
       É a fé de Cristo Jesus que nos salva. Mas a fé não é apenas abstracta ou sentimental, é também compromisso com os outros. Não é oca, mas preenchida com o bem que provoca em nós a favor dos outros. As palavras de Jesus não deixam margem: ouvir a palavra e pô-la em prática. Duas condições da fé: escutar o que Deus nos diz e realizar a Sua vontade.
       A resposta de Jesus à interpelação desta mulher é reveladora. Por um lado, a mulher mostra entusiasmo pelas palavras de Jesus, elogiando-O através da Mãe. Como deveria ser compensador ter um filho assim, sábio, profeta. Por sua vez, Jesus mostra que todos nós podemos ser família d'Ele, a condição é escutar a Palavra de Deus, pondo-a em prática, procurando viver nos ideais do Evangelho da caridade e do perdão.