A terceira Carta Encíclica de Bento XVI empresta o título a este blogue. A Caridade na Verdade. Agora permanecem a fé, a esperança e a caridade, mas só esta entra na eternidade com Deus. Espaço pastoral de Tabuaço, Távora, Pinheiros e Carrazedo, de portas abertas para a Igreja e para o mundo...
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sexta-feira, 9 de dezembro de 2022
sábado, 26 de maio de 2018
São Filipe de Néri - o Santo da Alegria
Depois de ficar órfão, recebeu um convite de seu tio para que se dedicasse aos negócios. Mas, tendo vida de oração e discernimento, ele percebeu que Deus o chamava a um outro negócio: expressar com a vida a caridade de Cristo.
Néri foi estudar em Roma. Estudou Filosofia e Teologia, se deixando conduzir e formar pelo Espírito Santo. E mesmo antes de ser padre visitava os lugares mais pobres de Roma. Formou uma Associação para cuidar dos doentes pobres.
São Filipe disse sim para a glória de Deus e iniciou a bela obra do Oratório do Divino Amor, se dedicando aos jovens e testemunhando sua alegria. Vivia da Divina Providência,indo aos lares dos ricos pedir pelos pobres.
Homem de oração, penitência e adoração.
Partiu para o céu com 80 anos, deixando para nós esse testemunho: renunciar a si mesmo, tomar a cruz a cada dia e seguir Jesus, é uma alegria!
Fonte: Canção Nova.
sábado, 16 de dezembro de 2017
quarta-feira, 28 de junho de 2017
Paróquia de Tabuaço | Profissão de Fé | 2017
A Profissão de Fé, festa do 6.º ano de catequese tem sido celebrada na Salinidade de Pentecostes, enriquecendo este dia. Este ano, caiu a 4 de junho de 2017. Professaram a sua fé, em festa, a Cláudia Feição, a Joana Filipa, o Fábio Alexandre, o Guilherme, o João Pedro, a Lara Sofia, o João Rafael, o Jorge Daniel, o João Miguel, a Adriana Filipa e a Rita Alexandra.
A celebração iniciou na Capela de Santa Bárbara e prosseguiu na Igreja Matriz de Tabuaço. Alguns momentos mais sublinhados como o acender da Vela no Círio Pascal e o benzer-se (cada um) na Pia Batismal, evocando desta forma o Batismo, no qual pais e padrinhos assumiram, com a sua fé e pertença à Igreja, a missão de educar os filhos ou afilhados na fé da Igreja. À medida que vão crescendo, os filhos e afilhados vão assumindo, no desejo, nas palavras e na participação na vida da comunidade, a fé que os une à Igreja, aos outros cristãos, para integrarem e enriquecerem a família de Deus.
Algumas imagens da Profissão de Fé:
Outras fotos disponíveis: Paróquia de Tabuaço no Facebook
sábado, 25 de março de 2017
Domingo IV da Quaresma - ano A - 26.março.2017
1 – Domingo da Alegria e da luz, da unção e da vida nova trespassada de graça e salvação, presença de Deus na minha e na tua vida. Deserto e tentações, pão e palavra de Deus. Montanha e altura, Jesus e apóstolos, vislumbre da eternidade, luz vinda do Céu. Sede e água, Samaritana e Água Viva que é Jesus e um alimento maior que toda a fome. A verdade e o espírito, a adoração de Deus e o amor aos irmãos.
Mais forte que toda a cegueira, a Luz de Cristo, que nos eleva para Deus e nos faz reconhecer os outros como irmãos. É conhecida a estória do sábio que pergunta aos seus discípulos qual o momento exato em que a noite dá lugar ao dia. Respostas: quando conseguimos ver o chão que pisamos, quando distinguimos a sombras e sabemos se são pessoas ou são árvores, quando surge o primeiro raio de sol no horizonte! Passa a ser dia, conclui o sábio, no momento em que olhamos para os outros e os reconhecemos como irmãos. É esta a luz que salva, que nos irmana, que nos faz viver e sentir como família de Deus.
2 – Jesus encontrou um cego de nascença. É Jesus que nos encontra. Será importante que nos predisponhamos a deixar-nos encontrar por Ele. Neste encontro a proximidade de Jesus e a distância dos seus discípulos. O preconceito, a dúvida, o questionamento. Se ele está cego, alguma coisa fez de errado. Ou ele ou os pais. Infelizmente, ainda na atualidade, o obscurantismo da fé é gigante, manifestando falsa resignação: foi Deus que quis, paciência! Como se Deus quisesse o nosso mal, como se um Pai tivesse gosto em ver os filhos a sofrer.
Jesus não se interroga nem explica esta fragilidade. Faz o que está ao Seu alcance para resolver ou minorar a situação. Em vez das palavras e da reflexão filosófica e/ou moral e religiosa, Jesus intervém para curar, para salvar, para sanar todo o mal, não apenas o mal físico mas tudo o que anoitece a vida humana. «É preciso trabalhar, enquanto é dia, nas obras d’Aquele que Me enviou. Vai chegar a noite, em que ninguém pode trabalhar. Enquanto Eu estou no mundo, sou a luz do mundo».
Ele vem como Luz, para iluminar todos os recantos da vida humana. As trevas fazem-nos tropeçar e atropelar os outros. É dia quando e sempre que eu reconheço o outro como irmão.
Para os judeus, e para muitos de nós, a cegueira é sinal de maldição de Deus. Este homem é desprezado e excluído. Não bastava a falta de vista quanto mais a exclusão social e religiosa. Jesus inclui-o. Não de forma mágica, mas com o poder de Deus e a unção da terra e da vida (terra e saliva), e com a água que lava e purifica. Novamente este elemento. Precisaria Jesus de utilizar estes elementos da natureza? Talvez não, mas uma vez mais Jesus nos remete para a terra, para os dons da natureza, para o esforço, pouco ou muito, mas que se exige a quem quer ser curado por Ele.
3 – Diante do assombro, o medo ou a conversão, a maledicência ou o silêncio, a indiferença ou o testemunho, a negação e o cinismo ou a abertura ao mistério. Mais cego é aquele que não quer ver.
O cego de nascença foi curado. Os vizinhos e os que o tinham visto a mendigar interrogam-se e interrogam-no, incrédulos, atónitos. Este homem dá testemunho do que nele se operou pelas mãos e pelas palavras de Jesus.
Entram em cena os fariseus e o legalismo, o preconceito. Diante do milagre reconhecido, a suspeição e a insinuação. Por todas as formas tentam desacreditar o milagre, mas como são muitas as pessoas que conheciam o cego de nascença e testemunham a cura, arranjam outra desculpa para não aceitarem Jesus. Afinal, Ele curou o cego, mas em dia de sábado! O mal passa a ser o dia da cura, como se Jesus não viesse de Deus por fazer tais coisas ao sábado. Não querem ver e portanto há que arranjar desculpas como aqueles que não vão à Missa e justificam-se dizendo que os que lá vão são piores! É uma desculpa infantil.
O interrogatório vai-se fazendo com uma ameaça prévia: quem professar que Jesus é o Messias será expulso da Sinagoga. Perante a insistência, aquele que era cego lança-lhes o repto: estais tão interessados em saber, será que quereis tornar-vos discípulos? A resposta dos fariseus, embora negando Jesus, é também um profissão de fé: «nós somos discípulos de Moisés. Nós sabemos que Deus falou a Moisés; mas Este, nem sabemos de onde é». Vale a pena deter-nos na resposta do homem curado: «Isto é realmente estranho: não sabeis de onde Ele é, mas a verdade é que Ele me deu a vista. Ora, nós sabemos que Deus não escuta os pecadores, mas escuta aqueles que O adoram e fazem a sua vontade. Nunca se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. Se Ele não viesse de Deus, nada podia fazer».
Perante tal testemunho e convicção, os fariseus e os doutores da Lei expulsam-no da Sinagoga, reafirmando que a cegueira é consequência do pecado: «Tu nasceste inteiramente em pecado...».
4 – A cura é um primeiro passo, a conversão vem a seguir é mais demorada, leva uma vida inteira. Na maioria das vezes Jesus exige a fé (prévia) para intervir curando. No relato desta cura não se faz qualquer referência à fé deste homem. Sinal e expressão que Deus age além de nós, toma a iniciativa e a Sua misericórdia não está inteiramente dependente da nossa vontade. Cabe-nos acolher ou recusar a bondade e as maravilhas do Senhor. Mas Deus não atua na condicional.
No Evangelho não sabemos como prosseguiu a vida de alguns dos que foram curados por Jesus. Uns passaram a segui-l'O; a outros, Jesus recomendou que regressassem às suas famílias e dessem testemunho das maravilhas de Deus neles realizadas. Alguns são curados e não mais se lembram de quem os curou, como no caso dos 10 leprosos em que só um vem agradecer, louvando e dando glória a Deus.
Tendo conhecimento do que os fariseus e doutores da Lei fizeram a este homem, Jesus veio ao seu encontro e, então sim, desafia-o à fé: «Tu acreditas no Filho do homem?». A fé é muito mais que um conjunto de ideias, ainda que credíveis, a fé é um encontro. Deus vem ao nosso encontro e em Jesus Cristo encontra-nos no nosso peregrinar, no nosso caminho. A fé decide-se diante Jesus: «Eu vim a este mundo para exercer um juízo: os que não veem ficarão a ver; os que vêem ficarão cegos».
Poderíamos recordar um dos pontos da mensagem do papa Francisco para esta Quaresma: o pecado cega-nos. Palavras semelhantes com que Jesus termina o diálogo com os fariseus e doutores da Lei: «Se fôsseis cegos, não teríeis pecado. Mas como agora dizeis: ‘Nós vemos’, o vosso pecado permanece». Um trocadilho sugestivo, a cegueira, isto é, a inocência, a pureza, livra do pecado; a presunção e o auto endeusamento geram pecado, tornam-nos cegos.
A verdadeira cura, o milagre mais difícil é a conversão do coração e a persistência no bem.
5 – Para nós, que fomos batizados na água e no Espírito Santo, a luz deve guiar-nos pelo caminho do bem, pelo caminho de Jesus. «Outrora vós éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor».
Se fomos libertados das trevas, como nos lembra o apóstolo, ajamos como tal, como filhos da luz. Procuremos em tudo o que mais agrada ao Senhor, afastando-nos do mal, das obras das trevas: a injustiça, a mentira, a hipocrisia, a corrupção. «Desperta, tu que dormes; levanta-te do meio dos mortos e Cristo brilhará sobre ti». A autenticidade da nossa fé é verificável pelos frutos da luz: a bondade, a justiça e a verdade. O bem e o cuidado pelos outros devolve-nos a visão que nos conduz até à eternidade; o pecado da indiferença, do egoísmo, da prepotência cega-nos, não nos deixa reconhecer que o irmão é dom, não nos deixa entrever a eternidade de Deus.
6 – O pecado faz parte da nossa condição mortal, finita, limitada. Mas não estamos sós. O mal maior não está no pecado, está em não nos reconhecermos pecadores. O mal não são os pecadores que se predispõem a acolher a misericórdia do Senhor, o mal são os corruptos, os hipócritas, que persistem no mal e não se abrem ao bem de Deus. O Papa Francisco tem repetido amiúde: pecadores sim, não corruptos. Não há nada que Deus não possa perdoar, redimir, menos os idólatras, ou seja, aqueles que se colocam no lugar de Deus, excluindo-O, e maltratando os irmãos.
Não estamos sós. Frágeis, somos fortalecidos pela graça do Senhor. Ele é o Bom pastor que nos guia e nos conforta. Ele nos leva a descansar em verdes prados e nos conduz às águas refrescantes, para sempre habitaremos na casa do Senhor.
7 – Na primeira leitura, Samuel é enviado por Deus para ungir um novo Rei. A perceção de Samuel é semelhante à nossa, fixa-se nas aparências, com o risco da cegueira, incapaz de ver o verdadeiro bem, os sinais da presença de Deus. Samuel deslumbra-se com os irmãos de David pelo porte, pela beleza. Diz-nos o Senhor, «Deus não vê como o homem; o homem olha às aparências, o Senhor vê o coração».
Os sete filhos passam diante de Samuel e todos parecem reunir qualidades para se tornarem reis. No final, Deus escolhe aquele que não conta, jovem e pastor. Tornar-se-á um grande Rei, com pecados, mas temente a Deus, sempre, em todo o tempo. O Papa Francisco invoca-o como São David, pois, apesar das falhas graves, profundas, na sua conduta pessoal, está sempre pronto para assumir o seu pecado diante de Deus, intercedendo pelo povo, arcando com as consequências do seu mau proceder.
8 – «Deus de misericórdia, que, pelo vosso Filho, realizais admiravelmente a reconciliação do género humano, concedei ao povo cristão fé viva e espírito generoso, a fim de caminhar alegremente para as próximas solenidades pascais» (Oração de coleta).
Pe. Manuel Gonçalves
terça-feira, 14 de fevereiro de 2017
Timothy Radcliffe - NA MARGEM DO MISTÉRIO
TIMOTHY RADCLIFFE (2017). Na margem do mistério. Ter fé em tempos de incerteza. Prior Velho: Paulinas Editora. 144 páginas.
Mais uma belíssima leitura que ora recomendamos. Claro, se fazemos uma sugestão é precisamente por pensarmos que é pertinente para nós e também o será para os outros. O autor, Timothy Radcliffe, é inglês, sacerdote dominicano, formado em Oxford e em Paris, é autor de várias obras de espiritualidade, já foi Mestre-geral da Ordem dos Pregadores (dominicanos), e como sacerdote dominicano já percorreu diversas partes do mundo.
Já aqui o sugerimos: TIMOTHY RADCLIFFE - IMERSOS EM DEUS.
Por estes dias lemos e sugerimos três títulos: SILÊNCIO, de Shusaku Endo, PACIÊNCIA COM DEUS, de Tomáš Halík, e A ESTRADA, de Cormac McCarthy e cada um à sua maneira falava das questões que nos coloca a fé em tempos de crise, de adversidade, de confusão e relativismo.
Coincidentes no tempo de leitura, também este título nos fala das dificuldades da leitura da fé, do cristianismo e da Igreja nos tempos atuais, convocando a encontrar novas respostas ou pelo menos a formular novas perguntas, deixando-se surpreender pela graça de Deus e pelos sinais que estão presentes nas novas situações, com coragem e persistência, com disponibilidade para escutar, para abraçar, para acolher, com firmeza e docilidade, com verdade e coragem. Sem renunciar à sua fé, pelo contrário, só uma fé esclarecida, feita de convicções e de alegria, pode dialogar com outras opções de vida e com outras religiões.
Viver e partilhar a esperança. Anunciar o Evangelho da Alegria. A alegria que vem da fé não é cutânea, é baseada em Jesus Cristo, está para lá do sofrimento. Com efeito, a alegria só é consistente tendo experimentado a dor e o sofrimento e a própria morte, não se encerrando aí, mas procurando dar sentido à vida. O Papa Francisco diz-nos que "a fé não deve ser confundida com estar bem ou sentir-se bem, com sentir-se consolado no íntimo, porque temos um pouco de paz no coração. A fé é o fio de ouro que nos liga ao Senhor, a pura alegria de estar com Ele, de estar unido a Ele; é o dom que vale e avida inteira, mas que só dá fruto, se fizermos a nossa parte".
As normas, nesta época, continuam a ser válidas, mas mais o calor humano, a proximidade, a entreajuda, o compromisso com o que nos une, a abertura aos outros, a promoção das diferenças que podem enriquecer-nos e ajudar-nos a crescer. A abertura e a tolerância não é o mesmo que desistência, do que cedência pura e simples aos valores e às convicções dos demais, pelo contrário, a certeza da própria identidade ajuda a dialogar, a fazer pontes, a reconhecer o outro e a olhá-lo olhos nos olhos, sem medo, sem medo de ser provocado, sem medo das perguntas e dos questionamentos. Apostar na misericórdia não é negar o pecado ou as imperfeições. Significa isso sim, que os defeitos, os erros, o pecado, não nos impedem de ser irmãos. O caminho de Jesus é o do perdão e da misericórdia. É um caminho exigente. É levar a sério o outro e a sua liberdade. Se eu desculpo sem mais... isso seria contraproducente. Alguém mata uma pessoa. Deus não lhe vai dizer que não interesse, que passe à frente... Não. Isso não seria misericórdia! A misericórdia reabilita, leva a sério a pessoa, envolve-a para corrigir o caminho e enveredar por um caminho alternativo de bem e de proximidade.
Do mesmo jeito o perdão. Perdoar sempre. Mas nem sempre é possível perdoar. Na cruz, Jesus não diz: eu perdoo-vos, mas sim "Pai perdoa-lhes...". Por vezes é necessário dar tempo. Rezar. Pedir a Deus pelos que nos fizeram mal, nos traíram. Há de chegar um dia que já não quero mal à pessoa, porquanto rezo por ela. Há de chegar a altura que estou pronto para aceitar o outro, apesar do que me fez.
Alegria e música para enfrentar a dor... e a morte... quando não há palavras...
Uma palavra de agradecimento e de estima ao colega e amigo sacerdote que me ofereceu este belíssimo livro.
Viver e partilhar a esperança. Anunciar o Evangelho da Alegria. A alegria que vem da fé não é cutânea, é baseada em Jesus Cristo, está para lá do sofrimento. Com efeito, a alegria só é consistente tendo experimentado a dor e o sofrimento e a própria morte, não se encerrando aí, mas procurando dar sentido à vida. O Papa Francisco diz-nos que "a fé não deve ser confundida com estar bem ou sentir-se bem, com sentir-se consolado no íntimo, porque temos um pouco de paz no coração. A fé é o fio de ouro que nos liga ao Senhor, a pura alegria de estar com Ele, de estar unido a Ele; é o dom que vale e avida inteira, mas que só dá fruto, se fizermos a nossa parte".
As normas, nesta época, continuam a ser válidas, mas mais o calor humano, a proximidade, a entreajuda, o compromisso com o que nos une, a abertura aos outros, a promoção das diferenças que podem enriquecer-nos e ajudar-nos a crescer. A abertura e a tolerância não é o mesmo que desistência, do que cedência pura e simples aos valores e às convicções dos demais, pelo contrário, a certeza da própria identidade ajuda a dialogar, a fazer pontes, a reconhecer o outro e a olhá-lo olhos nos olhos, sem medo, sem medo de ser provocado, sem medo das perguntas e dos questionamentos. Apostar na misericórdia não é negar o pecado ou as imperfeições. Significa isso sim, que os defeitos, os erros, o pecado, não nos impedem de ser irmãos. O caminho de Jesus é o do perdão e da misericórdia. É um caminho exigente. É levar a sério o outro e a sua liberdade. Se eu desculpo sem mais... isso seria contraproducente. Alguém mata uma pessoa. Deus não lhe vai dizer que não interesse, que passe à frente... Não. Isso não seria misericórdia! A misericórdia reabilita, leva a sério a pessoa, envolve-a para corrigir o caminho e enveredar por um caminho alternativo de bem e de proximidade.
Do mesmo jeito o perdão. Perdoar sempre. Mas nem sempre é possível perdoar. Na cruz, Jesus não diz: eu perdoo-vos, mas sim "Pai perdoa-lhes...". Por vezes é necessário dar tempo. Rezar. Pedir a Deus pelos que nos fizeram mal, nos traíram. Há de chegar um dia que já não quero mal à pessoa, porquanto rezo por ela. Há de chegar a altura que estou pronto para aceitar o outro, apesar do que me fez.
Alegria e música para enfrentar a dor... e a morte... quando não há palavras...
Uma palavra de agradecimento e de estima ao colega e amigo sacerdote que me ofereceu este belíssimo livro.
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sábado, 10 de dezembro de 2016
Domingo III do Advento - 11 de dezembro de 2016
1 – Alegra-te, rejubila. O terceiro domingo do Advento, é Domingo da Alegria (gaudete), pois estamos às portas do Natal, celebração festiva do nascimento de Jesus. Em menos de nada estamos lá. À nossa volta já tudo nos fala desta quadra, mesmo que este tudo seja pouco, enfeites e prendas, vendas e compras e luzes, tudo faz parte e obviamente é importante, mas já que se faz a despesa que se festeje com o aniversariante, com Jesus. A iluminação, as árvores enfeitadas, as decorações natalícias, intuem um pouco da festa, pena se ficarmos apenas pela intuição. Essencial será renovar a fé, acolher Jesus, amar Jesus, descobrir Jesus, na oração e na celebração, em casa e na rua, na Igreja e no trabalho, na pessoa amiga e na vizinha, no que está próximo e no que está distante, naquele de quem precisamos e quem precisa de nós, da nossa ajuda, da nossa mão e do nosso coração, do afeto e do pão, da palavra, do sorriso e da vida partilhada.
O dia a nascer! São horas de despertar. Os primeiros raios de Sol começam a clarear a aurora. Já o galo canta e já a vida encanta. É tempo de cantar, de sorrir, de louvar, é tempo de levantar, de amar e de servir, é tempo de aprontar o biberão e dispor das mãos para trabalhar e para partilhar.
A certeza da chegada é anunciada, é prometida, será cumprida, será dada. A promessa vem de Deus, o anúncio feito pelo Batista, tem em Jesus guarida. João cumpriu a sua missão, preparar a chegada do Messias. É o mensageiro que mostra o Reino a emergir. João é preso pela frontalidade com que anuncia e denuncia, pondo a descoberto os artesãos do mal e da corrupção. Da cadeia pede informações sobre Jesus e a Sua luz. Já ouviu dizer mas quer saber em definitivo que Aquele Jesus é mesmo o Messias prometido. A resposta, faz saber Jesus, está nas palavras proferidas, na mensagem proclamada, mas sobretudo no fazer e no viver: «Os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a boa nova é anunciada aos pobres. E bem-aventurado aquele que não encontrar em Mim motivo de escândalo».
2 – Estamos centrados em Jesus. O centro há de ser sempre Jesus. João com alegria e humildade dá-nos a chave para seguir Jesus. Se o que ouve dizer, é o fazer de Jesus, então há que passar das trevas à luz e das palavras proferidas começar a sarar feridas, imitando, testemunhando e transparecendo Jesus, com o mesmo dizer, com o mesmo fazer, amando e gastando a vida.
Mas, querendo ainda olhar para João, para melhor percebermos o que nos quer levar a viver, ouçamos então o que Jesus também tem para dizer: «Que fostes ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento? Então que fostes ver? Um homem vestido com roupas delicadas? Mas aqueles que usam roupas delicadas encontram-se nos palácios dos reis. Que fostes ver então? Um profeta? Sim – Eu vo-lo digo – e mais que profeta. É dele que está escrito: ‘Vou enviar à tua frente o meu mensageiro, para te preparar o caminho’. Em verdade vos digo: Entre os filhos de mulher, não apareceu ninguém maior do que João Baptista. Mas o menor no reino dos Céus é maior do que ele».
O deserto é incerto, mas é desafio certo, dele sair para cumprir o projeto que está a surgir. Jesus é a Palavra e o Rosto e a Vida do Pai. João é a Voz que ressoa pelo deserto até que doa, é Profeta e Precursor, que mostra que é essencial seguir o Salvador, Cristo Senhor.
3 – E continuando neste pendor, em preparação para celebrarmos o nascimento do Redentor, o desafio do Profeta Isaías: alegria, alegria! Não por qualquer passe de magia. Pelo contrário, é a vida, dada e oferecida, trabalhada e comprometida.
A convocação para o júbilo estende-se e abarca toda a criação, o campo, o descampado e a terra árida. Dirige-se a todo o povo, também aos que estão fatigados e abatidos. O Senhor Deus "vem fazer justiça e dar a recompensa. Ele próprio vem salvar-nos". É um tempo novo, de graça e de salvação, para todo o povo. Anuncia-se o que se cumprirá com a chegada do Messias, cegos, coxos e mudos hão de ver, saltar e cantar com alegria. Regressão a Sião os cativos libertos e guiados pelo Senhor.
A alegria firma-se na fé e na confiança em Deus. A Sua vinda está para breve. A Sua promessa é para concretizar. Ele volta-Se para nós, especialmente para aqueles que se predispõem a crescer, a amadurecer, que se querem protegidos, amados e redimidos.
Na verdade "o Senhor faz justiça aos oprimidos, dá pão aos que têm fome e a liberdade aos cativos. O Senhor ilumina os olhos dos cegos, o Senhor levanta os abatidos, o Senhor ama os justos. O Senhor protege os peregrinos, ampara o órfão e a viúva e entrava o caminho aos pecadores. O Senhor reina eternamente. O teu Deus, ó Sião, é rei por todas as gerações".
É a vida de Deus, que nos assume como filhos, desde sempre! A Sua vontade é a nossa felicidade, que passa pela solidariedade, partilhando a vida, as dificuldades e os sofrimentos, as esperanças e a alegrias. O sofrimento é inevitável. Se o "não" está certo, cabe-nos procurar o "sim" e lutar pela justiça, pelo verdade e pelo bem de todos. Preparamos a chegada do Salvador agindo ao Seu jeito, cuidando de quem está mais frágil, pois cada vez que tratarmos a ferida do outro é de Cristo que estamos a cuidar, como muitas vezes lembrava a Santa Teresa de Calcutá.
4 – Vivemos uma época em tudo acelerada, no desenvolvimento científico e tecnológico, nos meios de comunicação, o que nos permite no mesmo instante estar e não estar, estar aqui e na outra parte do mundo, ou deslocar-nos com uma rapidez impensável há uma vintena de anos. Esta volatilidade passa para o pensamento e para os sentimentos. Pressa para tudo, mesmo que não tenhamos feito por isso. É um frenesim. Somos profetas da pressa e da novidade. Tudo rapidamente e tudo dispensável com a mesma brevidade. Temos direito a tudo e no mais breve espaço de tempo, mesmo que tenhamos queimar etapas ou passar por cima dos outros. Andamos apressados. Melhor, corremos sem nos fixarmos em nada. Quando alguém fala mais lentamente, ficamos nervosos porque queríamos que se despachasse. Temos mais que fazer. Só estamos bem onde não estamos. Disponíveis, mas logo mortos por partir. Por vezes partimos antes de chegar. Stresse e ansiedade são o pão nosso de cada dia. Adultos e quantas vezes agimos infantilmente: ou temos ou nos dão, ou fazemos birra!
A alegria sustentada na fé e na confiança em Deus não nos torna incólumes ao sofrimento, ao esforço e ao sacrifício. A alegria dá-nos o ânimo (alma) para continuar, persistir, porque Aquele que nos criou está mais à frente, à nossa espera, à espera de nos levar ao colo se formos a cair. A certeza que Deus nos ama como Pai e nos sustenta no Seu regaço com amor de Mãe não nos apressa, não nos precipita, pelo contrário, fortalece-nos para caminharmos no frio e no calor, na tempestade e no zénite. "O Senhor é a minha força, n'Ele eu confio e nada temo" (cântico de Taizé).
Escutemos as sábias e inspiradas palavras de São Tiago: "Esperai com paciência a vinda do Senhor. Vede como o agricultor espera pacientemente o precioso fruto da terra, aguardando a chuva temporã e a tardia. Sede pacientes, vós também, e fortalecei os vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima. Não vos queixeis uns dos outros, a fim de não serdes julgados. Eis que o Juiz está à porta. Irmãos, tomai como modelos de sofrimento e de paciência os profetas, que falaram em nome do Senhor".
São palavras que nos desafiam e nos serenam. Desafiam-nos à paciência fundada no amor e na fé. Antecipamos a vinda do Senhor com a paciência e com a benevolência para com os outros, para que o juízo de Deus que vem nos seja favorável.
Pe. Manuel Gonçalves
Textos para a Eucaristia (A): Is 35,1-6a.10; Sl 45 (46); Tg 5,7-10; Mt 11,2-11.
sábado, 12 de dezembro de 2015
Domingo III do Advento - ano C - 13 de dezembro
1 – O terceiro Domingo do Advento é conhecido como da Alegria (Gaudete), tal é a LUZ que vem do Natal e que se anuncia cada vez com mais intensidade. A alegria tem muitas cores e muitas motivações, ainda que as expressões sejam idênticas: exuberância, sorriso, apaziguamento, conversação, proximidade, contágio. Como nos lembra Toltoi, as famílias alegres são todas iguais, mas cada uma sofre à sua maneira. A alegria gera comunicação e comunidade; a tristeza, sem mais, afasta, isola, atrofia, por culpa própria, por cansaço dos outros ou pelo desgaste do tempo.
A alegria é possível para quem encontrou a paz, um sentido para vida, uma luz interior que não se apaga por maior que sejam as tempestades. Falta mais um domingo para o Natal. A proximidade espiritual (também cronológica) já não deixa margem para a dúvida: Deus está a chegar à minha e à tua vida. Deus vai nascer. Deus vai querer estar connosco. Ele vai querer para nós todo o bem. Ele está a chegar, porque sempre vem, porque sempre Se aproxima, porque sempre nos ama com amor de Mãe e de Pai, porque sempre Se dá, total e absolutamente, sem reservas nem condições. É Deus de Misericórdia, cujo ROSTO é Jesus, o Deus que Se faz Menino e que Se deixa embalar, tocando-nos com a Sua fragilidade de Menino, ternura de uma criança que acaba de nascer. As Mães ensinam-nos /dizem-nos a beleza dos filhos acabados de nascer. Já não há tempo a perder, não há tempo para nos distrairmos com outras coisas. Ele faz-Se anunciar. Já vem lá, arrumemos a casa, abramos as portas, arejemos os espaços, perfumemo-nos de alegria. O nosso coração já se dilata, queremos apressar a Sua chegada.
Preparemo-nos para a festa. Ponhamos o melhor sorriso para O receber. Vistamo-nos de esperança. Quando um amigo, um familiar regressa, para uma ocasião festiva, logo começamos a imaginar a alegria que vamos experimentar, e já vivemos nesta antecipação, pois já estamos a viver com esta chegada certa.
2 – Enquanto nos preparamos para escutar o Evangelho, as leituras que o procedem falam-nos desta ALEGRIA no Senhor que vem, em Deus que nos ama, na salvação iminente.
A profecia de Sofonias dá como certa a salvação e, por conseguinte, desafia todo o povo: «Clama jubilosamente, filha de Sião; solta brados de alegria, Israel. Exulta, rejubila de todo o coração, filha de Jerusalém... O Senhor teu Deus está no meio de ti, como poderoso salvador. Por causa de ti, Ele enche-Se de júbilo, renova-te com o seu amor, exulta de alegria por tua causa, como nos dias de festa».
Deus alegra-Se connosco e por nós. Vem salvar-nos e a Sua alegria envolve-nos e compromete-nos. Pela mesma razão podemos e deveremos exultar de alegria porque Ele já está no meio de nós. E se Ele está connosco, e está por nós, nada nos poderá separar da felicidade que não tem fim. Estamos a caminho e experimentaremos a fragilidade da nossa existência. Mas se Deus é a garantia da nossa felicidade definitiva, se Ele segue connosco, os nossos caminhos são mais seguros e sabemos que, com maior ou menor esforço, sacrifício e dedicação, haveremos de chegar à meta prometida.
Do mesmo jeito, São Paulo nos convoca: «Alegrai-vos sempre no Senhor. Novamente vos digo: alegrai-vos. Seja de todos conhecida a vossa bondade. O Senhor está próximo. Não vos inquieteis com coisa alguma; mas em todas as circunstâncias, apresentai os vossos pedidos diante de Deus, com orações, súplicas e ações de graças. E a paz de Deus, que está acima de toda a inteligência, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus».
A alegria advém do amor de Deus e da certeza inabalável que Ele está por perto. Por isso Lhe poderemos suplicar, agradecer e colocar-nos diante d'Ele com o que somos, com as nossas alegrias e os nossos sonhos, com os nossos pecados e com todo o bem que deixamos passar através da nossa voz e da nossa vida.
3 – Como insinua São Paulo, a alegria que experimentamos em Cristo não é passageira, superficial, fingida ou para nos disfarçarmos diante dos outros. A alegria é indelével, vem de Deus, não está a prazo, não é acessória. É definitiva. É uma alegria que nos solidariza no bem, na verdade e na justiça. A alegria requer a partilha. Ninguém faz festa sozinho. Ninguém é feliz na solidão. A alegria também se constrói. É dom de Deus que nos obriga a condividir, a partilhar. Todo o dom só faz sentido e só é dom multiplicando-se pelos outros.
O Evangelho aponta-nos o caminho a percorrer para alcançarmos a alegria que a salvação vem trazer-nos. Deus salva-nos contando com a nossa liberdade e a nossa cooperação. Como nos recorda Santo Agostinho: Deus criou-nos sem nós mas não nos salva sem nós. Não força, não Se impõe. Propõe-Se e expõe-Se. Em Jesus Cristo, Deus deixa-se embalar, deixa-Se amar. Mas também podemos fazer-Lhe mal, persegui-l'O, condená-l'O, pregá-l'O numa cruz. E sempre que o fizermos a um dos irmãos mais pequenos a Ele o faremos. Se tocamos as feridas de alguém, é de Cristo que cuidamos. Se agredimos alguém, é a Cristo que recusamos.
As multidões seguem João Batista e mastigam as suas palavras. O Precursor faz saber que o Messias está a chegar e portanto é tempo de conversão e de mudança de vida. Pessoas de várias condições manifestam a vontade de se preparar: que devemos fazer?
As respostas de João Batista são concretas: «Quem tiver duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma; e quem tiver mantimentos faça o mesmo... Não exijais nada além do que vos foi prescrito... Não pratiqueis violência com ninguém nem denuncieis injustamente; e contentai-vos com o vosso soldo».
Há mais alegria em dar do que em receber. A alegria também se deve procurar, deve ser uma opção de vida, ainda que por vezes a vida seja madrasta. Todas as pessoas e todos os grupos podem participar da alegria que nos vem de Deus, comprometendo-se a construir um mundo mais solidário, mais humano.
4 – São João Batista, que nos acompanha de perto, não se deixa confundir pelos elogios e aponta para Jesus, a verdadeira Alegria, o Messias de Deus: «Eu batizo-vos com água, mas está a chegar quem é mais forte do que eu, e eu não sou digno de desatar as correias das suas sandálias. Ele batizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo. Tem na mão a pá para limpar a sua eira e recolherá o trigo no seu celeiro; a palha, porém, queimá-la-á num fogo que não se apaga».
A proximidade do Deus que vem salvar-nos convoca-nos ao júbilo mas também ao compromisso. É bom que façamos frutificar a semente em nós plantada pela Palavra de Deus e demos fruto em abundância... A palha sem fruto só dará para queimar. O aviso de João Batista não é uma ameaça. Ele responsabiliza-nos. Não somos mais crianças irresponsáveis, ainda que devamos manter a mesma lisura, mas adultos envolvidos na transformação do mundo. Antecipamos a chegada de Deus pelo bem que promovemos. "Deus é o meu Salvador, tenho confiança e nada temo. O Senhor é a minha força e o meu louvor. Ele é a minha salvação... Cantai ao Senhor, porque Ele fez maravilhas, anunciai-as em toda a terra. Entoai cânticos de alegria, habitantes de Sião, porque é grande no meio de vós o Santo de Israel".
Não estamos sozinhos. E isso é fonte de alegria. Ele segue connosco e faz-Se presente por todos os que nos acompanham no caminho. E isso apazigua-nos e dá-nos vitalidade para continuarmos a trabalhar por um mundo melhor e onde nos reconheçamos como irmãos.
Pe. Manuel Gonçalves
Textos
para a Eucaristia (C): Sof 3, 14-18a;
Sl Is 12, 2-3. 4bcd. 5-6; Filip 4, 4-7; Lc 3, 10-18.
sábado, 3 de outubro de 2015
Eu Te bendigo, ó Pai
Os setenta e dois discípulos voltaram cheios de alegria, dizendo:
«Senhor, até os demónios nos obedeciam em teu nome». Jesus
respondeu-lhes: «Eu via Satanás cair do céu como um relâmpago. Dei-vos o
poder de pisar serpentes e escorpiões e dominar toda a força do
inimigo; nada poderá causar-vos dano. Contudo, não vos alegreis porque
os espíritos vos obedecem; alegrai-vos antes porque os vossos nomes
estão escritos no Céu». Naquele momento, Jesus exultou de alegria pela
acção do Espírito Santo e disse: «Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e
da terra, porque escondeste estas verdades aos sábios e aos inteligentes
e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu
agrado. Tudo Me foi entregue por meu Pai; e ninguém sabe o que é o Filho
senão o Pai, nem o que é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o
quiser revelar». Voltando-Se depois para os discípulos, disse-lhes:
«Felizes os olhos que vêem o que estais a ver, porque Eu vos digo que
muitos profetas e reis quiseram ver o que vós vedes e não viram e ouvir o
que vós ouvis e não ouviram» (Lc 10, 17-24).
Os discípulos regressam a casa, para junto de Jesus. A casa é espaço físico, mas é sobretudo espaço de conforto, de acolhimento, de encontro, de descanso. É em casa que nos sentimos nós, seguros, sem máscaras, sem artifícios. Saímos para regressar. Regressamos para descansar e retemperar as forças. Os discípulos vêm e encontram em Jesus Cristo a CASA onde se sentem protegidos. Contam a Jesus tudo o que sucedeu e como o Seu nome foi glorificado em tudo o que fizeram. Por sua vez, o Mestre dos Mestres confirma os motivos da alegria, não apenas imediata, mas a certeza de terem os nomes inscritos no Céu.
Por outro lado, Jesus desafia-os, e a nós também, a não ensoberbecer, enchendo-se de si, fechando-se à graça e ao entendimento que vem do alto, mas a tornarem-se dóceis, pequeninos, para serem benditos, tornando-se capazes de acolher o mistério que vem da grandeza de Deus.
sábado, 13 de dezembro de 2014
Domingo III do Advento - ano B - 14 de dezembro
1 – «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da sua serva: de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações». O Cântico do Magnificat, que hoje nos é proposto como Salmo Responsorial, mostra-nos a medida, a profundidade, a razão da nossa alegria: a certeza de que Deus coloca o Seu olhar em nós, para nos envolver ternamente com o Seu amor.
Celebrámos na segunda-feira passada, 8 de dezembro, a solenidade da Imaculada Conceição, onde esta belíssima oração de louvor, que brota dos lábios e do coração e da vida de Nossa Senhora, ressoa com mais intensidade. A Imaculada Conceição, a cheia de Graça, alegra-Se com a presença e ação de Deus, antecipando, diante da sua prima Isabel, a alegria de Se saber visitada pelo Espírito Santo que n’Ela opera a maior das maravilhas: a gestação do Filho de Deus. É uma alegria que vem do interior, vem de dentro, mas contagia e transborda exteriormente, de um a outro coração, de um a outro olhar, de pessoa a pessoa. O filho de Isabel, que ficará conhecido como João Batista, exulta de alegria, ainda no ventre de sua mãe, quando Jesus – também no ventre materno – se aproxima. A voz de Maria é melodia para os ouvidos de Isabel, é melodia para os ouvidos daquele feto que nadando nas entranhas de sua mãe faz saber e sentir a alegria pela proximidade de Jesus.
2 – Este é o Domingo da Alegria (Gaudete), que nos prepara para a festividade do Natal, mas cuja alegria antecipadamente experimentamos, pela certeza de que Deus vai irromper na nossa vida e na história do mundo.
A alegria do Evangelho deve envolver-nos, contagiar-nos, transformar-nos, comprometer-nos com o anúncio. Recebemos o Evangelho – a Boa Notícia da salvação –, não para ficarmos contentes, mas para O levar a todo o mundo. É o último mandamento de Jesus: ide e anunciai o Evangelho em toda a terra (cf. Mt 28, 19-20), ou, na ressonância do lema pastoral da nossa Diocese de Lamego: IDE E CONSTRUÍ COM MAIS AMOR A FAMÍLIA DE DEUS.
João Batista dá-nos o exemplo. Vem antes, a preparar o caminho do Senhor, e não cessa de anunciar a proximidade da Sua vinda: "Apareceu um homem enviado por Deus, chamado João. Veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz".
Por ocasião da anunciação logo exulta de alegria no seio da sua Mãe. Trinta anos depois: «Eu sou a voz do que clama no deserto: ‘Endireitai o caminho do Senhor’, como disse o profeta Isaías». Muitas realidades da nossa vida exigem e merecem tempo e meditação. Por vezes é necessário deixar crescer o trigo e o jogo até à hora da ceifa (cf. Mt 13, 24-30). Tal como Jesus, também João Batista se prepara por um longo período de tempo e só vai a jogo quando se sente adulto, maduro, preparado.
A palavra de Deus é acolhida em vasos de barro, que somos nós, mas depois temos que cuidar do vaso para que na nossa fraqueza se manifesta a beleza, a riqueza e a grandeza d'Aquele que vem, o Messias de Deus, a Palavra que Se faz carne.
Como Maria: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38). Como João Batista: «Eu batizo na água, mas no meio de vós está Alguém que não conheceis: Aquele que vem depois de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias»
O Precursor reconhece-se como instrumento ao serviço da Palavra de Deus, ao serviço do Eleito de Deus. Pensemos numa equipa de ciclismo e que tem um chefe de fila. Todos trabalham para que o líder chegue à frente e ganhe a volta, mesmo que tenham de sacrificar os seus egos. Mas se o chefe de fila ganha, toda a equipa está de parabéns. Aqui o chefe de fila é Jesus Cristo. Todos trabalhamos para que Ele viva. Melhor, todos, se somos verdadeiros discípulos, deveremos deixar que Ele trabalhe em nós e através de nós nasça em todo o mundo.
3 – O compromisso com o Evangelho da Alegria é um desafio permanente. São certamente muitas as ocasiões e as razões para que a vida não seja um rio de águas calmas. Quantas vezes a nossa vida se transforma em mar revolto, com ondas tão grandes que nos deitam por terra, embatendo com violência em nós e nas nossas expetativas e seguranças. As tempestades fazem parte da nossa vida, e assim o frio e o nevoeiro e as nuvens densas... o que nos fará apreciar o calor e os dias de sol, e o céu limpo.
O Apóstolo, tendo feito a experiência de encontro com Jesus e convertendo-se ao Evangelho, faz-se arauto da alegria:
«Vivei sempre alegres, orai sem cessar, dai graças em todas as circunstâncias, pois é esta a vontade de Deus a vosso respeito em Cristo Jesus. Não apagueis o Espírito, não desprezeis os dons proféticos; mas avaliai tudo, conservando o que for bom. Afastai-vos de toda a espécie de mal. O Deus da paz vos santifique totalmente, para que todo o vosso ser – espírito, alma e corpo – se conserve irrepreensível para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo. É fiel Aquele que vos chama e cumprirá as suas promessas».
Quais os motivos desta alegria? Repitamo-lo: a presença do Deus de Jesus Cristo em nós, através do Seu Espírito Santo. Daí também o convite à oração. A intimidade com Deus abre-nos as portas do coração à eternidade, ao amor, à esperança e, por sua vez, compromete-nos com o bem. A oração, como a esperança, não é passiva. Rezamos e concorremos para que Deus atue em nós. Empenhamo-nos, afastando-nos de todo o mal, para que Deus nos santifique.
4 – A chegada do Messias e a instauração do Reino de Deus é uma alegre notícia que deverá fazer-se ouvir nas montanhas e nas colinas, nos desertos e nos vales, nas aldeias e nos campos, nos descampados e nas cidades. O profeta Isaías, uns séculos antes de João Batista, faz-se precursor desta vinda de Deus ao meio do seu povo.
«O espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu e me enviou a anunciar a boa nova aos pobres, a curar os corações atribulados, a proclamar a redenção aos cativos e a liberdade aos prisioneiros, a promulgar o ano da graça do Senhor. Exulto de alegria no Senhor, a minha alma rejubila no meu Deus, que me revestiu com as vestes da salvação e me envolveu num manto de justiça, como noivo que cinge a fronte com o diadema e a noiva que se adorna com as suas jóias. Como a terra faz brotar os germes e o jardim germinar as sementes, assim o Senhor Deus fará brotar a justiça e o louvor diante de todas as nações».
No início do seu ministério, lendo as palavras de Isaías, Jesus identificar-se-á com a unção do Espírito Santo e com a missão de levar a boa notícia aos pobres e aos povos de toda a terra. Ele virá revestido com as vestes da salvação para que a justiça e a paz brote em toda a parte, e então o júbilo possa comunicar-se a todos os corações. Esta é a razão primeira e última da nossa alegria: Deus, em Jesus, vem habitar em nós, faz a Sua morada no nosso coração, na nossa vida, no nosso mundo. É uma alegria que ninguém nos poderá tirar.
Pe. Manuel Gonçalves
Textos para a Eucaristia (ano B): Is 61, 1-2a. 10-11; Salmo: Lc 1, 46b-48. 49-50. 53-54; 1 Tes 5, 16-24; Jo 1, 6-8. 19-28.
Reflexão dominical também na página da Paróquia de Tabuaço.
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sábado, 8 de novembro de 2014
D. António Couto - Servidores da Alegria do Evangelho
1. A Evangelii Gaudium do Papa Francisco constitui uma imensa provocação para a nossa Igreja. Os nossos hábitos adquiridos saem abalados, as pautas por que habitualmente nos regemos ficam caducas, a nossa maneira de viver assim-assim entra em derrocada. Sim, a força do Evangelho rebenta os nossos vestidos e odes velhos. A alegria não se serve mais em moldes velhos. É urgente um coração novo para acolher esta enxurrada de alegria. precisamos de Pastores novos à medida da Alegria e do Evangelho.
2. É neste contexto que vamos viver mais uma vez a Semana das Vocações e Ministérios, que este ano acontece de 9 a 16 de novembro, subordinada ao tema que o Papa Francisco trouxe pata a cena «Servidores da Alegria do Evangelho». Rezemos ao Senhor da colheita para que seja Ele, Bom e Belo Pastor, a velar sempre pelo rebanho, e para que nos ensine a ser Pastores e formar Pastores segundo o seu coração de Pastor e Pai premuroso.
3. E sejamos generosos no Ofertório de Domingo, dia 16, que será destinado, na sua inteireza, para as necessidades dos nossos Seminários de Lamego e Resende, e também para o Seminário interdiocesano de São José, sediado em Braga, onde se formam os seminaristas maiores das quatro Dioceses do nosso interior norte: Lamego, Guarda, Viseu e Bragança-Miranda.
4. Esta deslocação para junto de um dos polos da Faculdade de Teologia da UCP, neste caso, Braga, acarreta naturalmente despesas extra, mas tornou-se necessária devido ao decréscimo dos seminaristas nestas quatro Dioceses do nosso interior. O baixo número de seminaritas maiores destas quatro Diocese, atualmente reduzido a cerca de 20, não justifca e até desaconselhava que se mantivesse em atividade o Instituto de estudos Teológico que estas quatro Dioceses mantinham em Viseu.
Que Deus nos abençoe e guarde em cada dia, e faça frutificar o labor dos nossos Seminários.
Lamego, 26 de outubro de 2014, Dia do Senhor.
+ António
sexta-feira, 13 de dezembro de 2013
Papa Francisco - Alegria do Evangelho - São Tomás
No passado dia 24 de novembro, solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, e Encerramento do Ano da Fé, o Papa Francisco entregou á Igreja a Sua primeira Exortação Apostólica, A Alegria do Evangelho - Evangelii Gaudium. Resulta do Sínodo dos Bispos, realizado entre os dias 7 e 28 de outubro de 2012, presidido por Bento XVI, sobre a Nova Evangelização para a Transmissão da Fé. Habitualmente, depois do Sínodo é publicada uma Exortação, em que o Papa recolhendo e sintetizando os propósitos do Sínodo, apresenta as linhas de força, neste caso, para a vivência da fé, no contexto atual.
Como é do conhecimento geral, Bento XVI resignou à missão de Papa, sendo eleito um novo Papa, em 13 de março, como título de Francisco, a quem coube elaborar esta Exortação que vivamente recomendamos. O documento anterior, a Encíclica Lumen Fidei, ainda que a assinatura seja de Francisco, foi preparada e enformada por Bento XVI, recolhendo algumas notas/impressões pessoais de Francisco. A Exortação é toda ela da lavra de Francisco.
Muito já se disse e continua a dizer desta Exortação, pelo que aqui traga apenas um ou outro sublinhado.
Em primeiro lugar, e para quem gosta muito de comparações, ficam claro que não são relevantes. Cada Papa tem a sua maneira de ser e de pastorear. Mas as diferenças não são tamanhas como as semelhanças. Num e noutro, em Bento XVI e em Francisco, vêm ao de cima a grande fé e proximidade a Jesus Cristo e à Sua palavra de amor. Escrevem de forma simples, direta, acessível, envolvente, cuja mensagem é claramente perceptível. Cada Papa traz o seu cunho pessoal. Não foi diferente de Bento XVI, não é diferente de Francisco. Se alguma diferença se nota, talvez o facto de o discurso de Francisco não ser não sistemático, mas mais ao correr da pena.
Como em muitos documentos papais anteriores, também este se socorre dos Predecessores, como João XXIII, Paulo VI, João Paulo II, Bento XVI.
Da minha leitura, agradável e viciante, verifiquei outra diferença: Bento XVI cita muito Santo Agostinho, sobre quem escreve, reflete, promove; Francisco escreve e cita com maior frequência São Tomás de Aquino. Para Francisco, a Suma Teológica é uma referência constante. Santo Agostinho para já está mais escondido.
Evangelho significa precisamente Boa Notícia, capaz de suscitar alegria, essencial ao anúncio do Evangelho. Quem acolhe Jesus, fá-lo com alegria, que há de transbordar para os outros, em compromissos de serviço e de caridade.
Há toda uma linguagem e termos que Francisco tem vindo a vincar: cultura do encontro, cuidado dos mais frágeis, educação e cultura, a cultura do descarte, contrapondo com a cultura da proximidade...
Mais um belíssimo texto que infunde esperança, mobilizando a vivência alegre e comprometida da fé, no mundo atual.
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quinta-feira, 12 de dezembro de 2013
Bento XVI - Maria, Virgem Imaculada, Mãe da Igreja
Mas agora devemos perguntar-nos: o que significa "Maria, a Imaculada"? Este título tem algo a dizer-nos? A liturgia hodierna esclarece-nos o conteúdo desta palavra com duas imagens grandiosas. Em primeiro lugar, há a maravilhosa narração do anúncio a Maria, a Virgem de Nazaré, da vinda do Messias. A saudação do Anjo é tecida com fios do Antigo Testamento, especialmente do profeta Sofonias. Ele faz ver que Maria, humilde mulher de província que vem de uma estirpe sacerdotal e traz em si o grande património sacerdotal de Israel, é "o santo resto" de Israel ao qual os profetas, em todos os períodos de dificuldade e de trevas, fizeram referência. Nela está presente o verdadeiro Sião, a morada pura e viva de Deus. O Senhor habita nela, e nela encontra o lugar do seu repouso. Ela é a casa viva de Deus, que não habita em edifícios de pedra, mas no coração do homem vivo. Ela é o rebento que, na obscura noite invernal da história, brota do tronco abatido de David. É nela que se cumpre a palavra do Salmo: "A terra produziu o seu fruto" (67, 7). Ela é o botão do qual deriva a árvore da redenção e dos redimidos. Deus não fracassou, como podia parecer já no início da história com Adão e Eva, ou durante o período do exílio babilónico, e como novamente parecia no tempo de Maria, quando Israel se tornou definitivamente um povo sem importância, numa região ocupada, com poucos sinais reconhecíveis da sua santidade. Deus não fracassou. Na humildade da casa de Nazaré vive o Israel santo, o resto puro. Deus salvou e salva o seu povo. Do tronco abatido resplandece de novo a sua história, tornando-se uma nova força que orienta e impregna o mundo. Maria é o Israel santo; ela diz "sim" ao Senhor, coloca-se plenamente à sua disposição e assim torna-se o templo vivo de Deus.
A segunda imagem é muito mais difícil e obscura. Esta metáfora tirada do Livro do Génesis fala-nos de uma grande distância histórica, e somente com dificuldade pode ser esclarecida; somente durante a história foi possível desenvolver uma compreensão mais profunda daquilo que ali é mencionado. Prediz-se que durante toda a história continuará a luta entre o homem e a serpente, ou seja, entre o homem e os poderes do mal e da morte. Porém, é também prenunciado que "a estirpe" da mulher um dia vencerá e esmagará a cabeça da serpente, da morte; prenuncia-se que a linhagem da mulher e nela a mulher e a própria mãe vencerá e que assim, mediante o homem, Deus vencerá. Se, juntamente com a Igreja crente e orante, nos colocarmos à escuta diante deste texto, então poderemos começar a compreender o que é o pecado original, o pecado hereditário, e também o que é a tutela contra este pecado hereditário, o que é a redenção.
Qual é o quadro que nesta página nos é apresentado? O homem não confia em Deus. Ele tentado pelas palavras da serpente, alimenta a suspeita de que Deus, em última análise, tira algo da sua vida, que Deus é um concorrente que limita a nossa liberdade e que nós só seremos plenamente seres humanos, quando O tivermos posto de lado; em síntese, somente deste modo podemos realizar na plenitude a nossa liberdade. O homem vive na suspeita de que o amor de Deus cria uma dependência e que é necessário libertar-se desta dependência para ser plenamente ele mesmo. O homem não deseja receber de Deus a sua existência e a plenitude da sua vida. Quer haurir ele mesmo, da árvore da ciência, o poder de plasmar o mundo, de se fazer deus elevando-se ao nível d'Ele e de vencer com as próprias forças a morte e as trevas. Não quer contar com o amor, que não lhe parece confiável; ele conta unicamente com a ciência, dado que ela lhe confere o poder.
Em vez de visar o amor, tem como objectivo o poder com que deseja ter nas suas mãos, de modo autónomo, a própria vida. E ao fazê-lo, confia na mentira e não na verdade, e assim mergulha com a sua vida no vazio, na morte. Amor não é dependência, mas dom que nos faz viver. A liberdade de um ser humano é a liberdade de um ser limitado e, portanto, ela mesma é limitada. Só a podemos possuir como liberdade compartilhada, na comunhão das liberdades: a liberdade pode desenvolver-se unicamente se vivermos do modo justo uns com os outros, e uns para os outros.
Nós vivemos do modo justo, se vivermos segundo a verdade do nosso ser, ou seja, segundo a vontade de Deus. Porque a vontade de Deus não é para o homem uma lei imposta a partir de fora, que o obriga, mas a medida intrínseca da sua natureza, uma medida que está inscrita nele e que o torna imagem de Deus e, assim, criatura livre. Se nós vivermos contra o amor e contra a verdade contra Deus então destruir-nos-emos uns aos outros e aniquilaremos o mundo. Então, não encontraremos a vida, mas defenderemos o interesse da morte. Tudo isto é narrado com imagens imortais na história do pecado original e da expulsão do homem do Paraíso terrestre.
Estimados irmãos e irmãs! Se reflectirmos sinceramente sobre nós mesmos e sobre a nossa história, devemos dizer que com esta narração se descreve não só a história do princípio, mas a história de todos os tempos, e que todos trazemos dentro de nós próprios uma gota do veneno daquele modo de pensar explicado nas imagens do Livro da Génesis. A esta gota de veneno, chamamos pecado original. Precisamente na festa da Imaculada Conceição manifesta-se em nós a suspeita de que uma pessoa que não peque de modo algum, no fundo, seja tediosa; que falte algo na sua vida: a dimensão dramática do ser autónomo; que faça parte do verdadeiro ser homem, a liberdade de dizer não, o descer às trevas do pecado e o desejar realizar sozinho; que somente então seja possível desfrutar até ao fim toda a vastidão e a profundidade do nosso ser homens, do ser verdadeiramente nós mesmos; que devemos pôr à prova esta liberdade também contra Deus, para nos tornarmos realmente nós próprios. Em síntese, pensamos que o mal no fundo seja bem, que dele temos necessidade, pelo menos um pouco, para experimentar a plenitude do ser. Julgamos que Mefistófeles o tentador tem razão, quando diz que é a força "que deseja sempre o mal e realiza sempre o bem" (J.W. v. Goethe, Fausto I, 3). Pensamos que pactuar com o mal, reservando para nós mesmos um pouco de liberdade contra Deus, em última análise, seja um bem, talvez até necessário.
Estimados irmãos e irmãs! Se reflectirmos sinceramente sobre nós mesmos e sobre a nossa história, devemos dizer que com esta narração se descreve não só a história do princípio, mas a história de todos os tempos, e que todos trazemos dentro de nós próprios uma gota do veneno daquele modo de pensar explicado nas imagens do Livro da Génesis. A esta gota de veneno, chamamos pecado original. Precisamente na festa da Imaculada Conceição manifesta-se em nós a suspeita de que uma pessoa que não peque de modo algum, no fundo, seja tediosa; que falte algo na sua vida: a dimensão dramática do ser autónomo; que faça parte do verdadeiro ser homem, a liberdade de dizer não, o descer às trevas do pecado e o desejar realizar sozinho; que somente então seja possível desfrutar até ao fim toda a vastidão e a profundidade do nosso ser homens, do ser verdadeiramente nós mesmos; que devemos pôr à prova esta liberdade também contra Deus, para nos tornarmos realmente nós próprios. Em síntese, pensamos que o mal no fundo seja bem, que dele temos necessidade, pelo menos um pouco, para experimentar a plenitude do ser. Julgamos que Mefistófeles o tentador tem razão, quando diz que é a força "que deseja sempre o mal e realiza sempre o bem" (J.W. v. Goethe, Fausto I, 3). Pensamos que pactuar com o mal, reservando para nós mesmos um pouco de liberdade contra Deus, em última análise, seja um bem, talvez até necessário.
Contudo, quando olhamos para o mundo à nossa volta, podemos ver que não é assim, ou seja, que o mal envenena sempre, que não eleva o homem mas o rebaixa e humilha, que não o enobrece, não o torna mais puro nem mais rico, mas o prejudica e faz com que se torne menor. É sobretudo isto que devemos aprender no dia da Imaculada: o homem que se abandona totalmente nas mãos de Deus não se torna um fantoche de Deus, uma maçadora pessoa consencientemente; ele não perde a sua liberdade. Somente o homem que confia totalmente em Deus encontra a verdadeira liberdade, a grande e criativa vastidão da liberdade do bem. O homem que recorre a Deus não se torna menor, mas maior, porque graças a Deus e juntamente com Ele se torna grande, divino, verdadeiramente ele mesmo. O homem que se coloca nas mãos de Deus não se afasta dos outros, retirando-se na sua salvação particular; pelo contrário, só então o seu coração desperta verdadeiramente e ele torna-se uma pessoa sensível e por isso benévola e aberta.
Quanto mais próximo de Deus o homem está, tanto mais próximo está dos homens. Vemo-lo em Maria. O facto de Ela estar totalmente junto de Deus é a razão pela qual se encontra também próxima dos homens. Por isso, pode ser a Mãe de toda a consolação e de toda a ajuda, uma Mãe à qual, em qualquer necessidade, todos podem dirigir-se na própria debilidade e no próprio pecado, porque Ela tudo compreende e para todos constitui a força aberta da bondade criativa. É nela que Deus imprime a sua própria imagem, a imagem daquela que vai à procura da ovelha perdida, até às montanhas e até ao meio dos espinhos e das sarças dos pecados deste mundo, deixando-se ferir pela coroa de espinhos destes pecados, para salvar a ovelha e para a reconduzir a casa. Como Mãe que se compadece, Maria é a figura antecipada e o retrato permanente do Filho. E assim vemos que também a imagem da Virgem das Dores, da Mãe que compartilha o sofrimento e o amor, é uma verdadeira imagem da Imaculada. Mediante o ser e o sentir juntamente com Deus, o seu coração alargou-se. Nela a bondade de Deus aproximou-se e aproxima-se muito de nós. Assim, Maria está diante de nós como sinal de consolação, de encorajamento e de esperança. Ela dirige-se a nós, dizendo: "Tem a coragem de ousar com Deus! Tenta! Não tenhas medo d'Ele! Tem a coragem de arriscar com a fé! Tem a coragem de arriscar com a bondade! Tem a coragem de arriscar com o coração puro! Compromete-te com Deus, e então verás que precisamente assim a tua vida se há-de tornar ampla e iluminada, não tediosa, mas repleta de surpresas infinitas, porque a bondade infinita de Deus jamais se esgota!".
Bento XVI, A Alegria da Fé.
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quarta-feira, 11 de dezembro de 2013
Bento XVI - Maria, Estrela da Esperança
Com um hino do século VIII/IX, portanto com mais de mil anos, a Igreja saúda Maria, a Mãe de Deus, como «estrela do mar»: Ave maris stella. A vida humana é um caminho. Rumo a qual meta? Como achamos o itinerário a seguir? A vida é como uma viagem no mar da história, com frequência enevoada e tempestuosa, uma viagem na qual perscrutamos os astros que nos indicam a rota. As verdadeiras estrelas da nossa vida são as pessoas que souberam viver com rectidão. Elas são luzes de esperança. Certamente, Jesus Cristo é a luz por antonomásia, o sol erguido sobre todas as trevas da história. Mas, para chegar até Ele precisamos também de luzes vizinhas, de pessoas que dão luz recebida da luz d'Ele e oferecem, assim, orientação para a nossa travessia. E quem mais do que Maria poderia ser para nós estrela de esperança? Ela que, pelo seu « sim », abriu ao próprio Deus a porta do nosso mundo; Ela que Se tornou a Arca da Aliança viva, onde Deus Se fez carne, tornou-Se um de nós e estabeleceu a sua tenda no meio de nós (cf. Jo 1,14).
Por isso, a Ela nos dirigimos: Santa Maria, Vós pertencíeis àquelas almas humildes e grandes de Israel que, como Simeão, esperavam «a consolação de Israel» (Lc 2,25) e, como Ana, aguardavam a «libertação de Jerusalém» (Lc 2,38). Vós vivíeis em íntimo contacto com as Sagradas Escrituras de Israel, que falavam da esperança, da promessa feita a Abraão e à sua descendência (cf. Lc 1,55). Assim, compreendemos o santo temor que Vos invadiu, quando o anjo do Senhor entrou nos vossos aposentos e Vos disse que daríeis à luz Àquele que era a esperança de Israel e o esperado do mundo. Por meio de Vós, através do vosso «sim», a esperança dos milénios havia de se tornar realidade, entrar neste mundo e na sua história. Vós Vos inclinastes diante da grandeza desta missão e dissestes «sim». Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1,38). Quando, cheia de santa alegria, atravessastes apressadamente os montes da Judeia para encontrar a vossa parente Isabel, tornastes-Vos a imagem da futura Igreja, que no seu seio, leva a esperança do mundo através dos montes da história. Mas, a par da alegria que difundistes pelos séculos, com as palavras e com o cântico do vosso Magnificat, conhecíeis também as obscuras afirmações dos profetas sobre o sofrimento do servo de Deus neste mundo. Sobre o nascimento no presépio de Belém brilhou o esplendor dos anjos que traziam a boa nova aos pastores, mas, ao mesmo tempo, a pobreza de Deus neste mundo era demasiado palpável. O velho Simeão falou-Vos da espada que atravessaria o vosso coração (cf. Lc 2,35), do sinal de contradição que vosso Filho haveria de ser neste mundo. Depois, quando iniciou a atividade pública de Jesus, tivestes de Vos pôr de lado, para que pudesse crescer a nova família, para cuja constituição Ele viera e que deveria desenvolver-se com a contribuição daqueles que tivessem ouvido e observado a sua palavra (cf. Lc 11,27s). Apesar de toda a grandeza e alegria do primeiro início da actividade de Jesus, Vós, já na Sinagoga de Nazaré, tivestes de experimentar a verdade da palavra sobre o «sinal de contradição» (cf. Lc 4,28s). Assim, vistes o crescente poder da hostilidade e da rejeição que se ia progressivamente afirmando à volta de Jesus até à hora da cruz, quando tivestes de ver o Salvador do mundo, o herdeiro de David, o Filho de Deus morrer como um falido, exposto ao escárnio, entre os malfeitores. Acolhestes então a palavra: «Mulher, eis aí o teu filho» (Jo 19,26). Da cruz, recebestes uma nova missão. A partir da cruz ficastes mãe de uma maneira nova: mãe de todos aqueles que querem acreditar no vosso Filho Jesus e segui-Lo. A espada da dor trespassou o vosso coração. Tinha morrido a esperança? Ficou o mundo definitivamente sem luz, a vida sem objectivo? Naquela hora, provavelmente, no vosso íntimo tereis ouvido novamente a palavra com que o anjo tinha respondido ao vosso temor no instante da anunciação: «Não temas, Maria!» (Lc 1,30). Quantas vezes o Senhor, o vosso Filho, dissera a mesma coisa aos seus discípulos: Não temais! Na noite do Gólgota, Vós ouvistes outra vez esta palavra. Aos seus discípulos, antes da hora da traição, Ele tinha dito: «Tende confiança! Eu venci o mundo» (Jo 16,33). «Não se turve o vosso coração, nem se atemorize» (Jo 14,27). «Não temas, Maria!» Na hora de Nazaré, o anjo também Vos tinha dito: «O seu reinado não terá fim» (Lc 1,33). Teria talvez terminado antes de começar? Não; junto da cruz, na base da palavra mesma de Jesus, Vós tornastes-Vos mãe dos crentes. Nesta fé que, inclusive na escuridão do Sábado Santo, era certeza da esperança, caminhastes para a manhã de Páscoa. A alegria da ressurreição tocou o vosso coração e uniu-Vos de um novo modo aos discípulos, destinados a tornar-se família de Jesus mediante a fé. Assim Vós estivestes no meio da comunidade dos crentes, que, nos dias após a Ascensão, rezavam unanimemente pedindo o dom do Espírito Santo (cf. Act 1,14) e o receberam no dia de Pentecostes. O «reino» de Jesus era diferente daquele que os homens tinham podido imaginar. Este «reino» iniciava naquela hora e nunca mais teria fim. Assim, Vós permaneceis no meio dos discípulos como a sua Mãe, como Mãe da esperança. Santa Maria, Mãe de Deus, Mãe nossa, ensinai-nos a crer, esperar e amar convosco. Indicai-nos o caminho para o seu reino! Estrela do mar, brilhai sobre nós e guiai-nos no nosso caminho!
Bento XVI, A Alegria da Fé.
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terça-feira, 26 de novembro de 2013
Papa Francisco - Evangelii Gaudium | oração conclusiva
Oração conclusiva da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium:
Virgem e Mãe Maria,
Vós que, movida pelo Espírito,
acolhestes o Verbo da vida
na profundidade da vossa fé humilde,
totalmente entregue ao Eterno,
ajudai-nos a dizer o nosso «sim»
perante a urgência, mais imperiosa do que nunca,
de fazer ressoar a Boa Nova de Jesus.
Vós, cheia da presença de Cristo,
levastes a alegria a João o Baptista,
fazendo-o exultar no seio de sua mãe.
Vós, estremecendo de alegria,
cantastes as maravilhas do Senhor.
Vós, que permanecestes firme diante da Cruz
com uma fé inabalável,
e recebestes a jubilosa consolação da ressurreição,
reunistes os discípulos à espera do Espírito
para que nascesse a Igreja evangelizadora.
Alcançai-nos agora um novo ardor de ressuscitados
para levar a todos o Evangelho da vida
que vence a morte.
Dai-nos a santa ousadia de buscar novos caminhos
para que chegue a todos
o dom da beleza que não se apaga.
Vós, Virgem da escuta e da contemplação,
Mãe do amor, esposa das núpcias eternas
intercedei pela Igreja, da qual sois o ícone puríssimo,
para que ela nunca se feche nem se detenha
na sua paixão por instaurar o Reino.
Estrela da nova evangelização,
ajudai-nos a refulgir com o testemunho da comunhão,
do serviço, da fé ardente e generosa,
da justiça e do amor aos pobres,
para que a alegria do Evangelho
chegue até aos confins da terra
e nenhuma periferia fique privada da sua luz.
Mãe do Evangelho vivente,
manancial de alegria para os pequeninos,
rogai por nós.
Amen. Aleluia!
domingo, 24 de novembro de 2013
Catequese | Festa do Acolhimento | Magusto | 2013
No dia 9 de novembro, na proximidade do São Martinho,
na nossa paróquia, antecipando este dia comemorativo, realizámos o
Magusto, mais orientado para a catequese, mas aberto a toda a comunidade
cristã. Antes do Magusto a primeira festa de catequese, a Festa do
Acolhimento aos meninos do primeiro ano de catequese.
É
uma festa muito simples, dentro da Eucaristia vespertina, com crianças,
sublinhando precisamente o ACOLHIMENTO que lhes queremos dar, como
comunidade, começando por saber quem são. Par eles certamente, foi uma
oportunidade de festejar a sua entrada na catequese e uma participação
mais ativa na celebração da Eucaristia.
Algumas fotos desta jornada catequética:
Para mais fotos poderá visitar a página da
Paróquia de Tabuaço no Facebook,
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