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terça-feira, 11 de agosto de 2015

Dia Mundial do Migrante e do Refugiado | 2015 | Mensagem do Papa Francisco


MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA O DIA MUNDIAL DO MIGRANTE E DO REFUGIADO – 2015

"Igreja sem fronteiras, mãe de todos"

Queridos irmãos e irmãs!

Jesus é «o evangelizador por excelência e o Evangelho em pessoa» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 209). A sua solicitude, especialmente pelos mais vulneráveis e marginalizados, a todos convida a cuidar das pessoas mais frágeis e reconhecer o seu rosto de sofrimento sobretudo nas vítimas das novas formas de pobreza e escravidão. Diz o Senhor: «Tive fome e destes-Me de comer, tive sede e destes-Me de beber, era peregrino e recolhestes-Me, estava nu e destes-Me que vestir, adoeci e visitastes-Me, estive na prisão e fostes ter comigo» (Mt 25, 35-36). Por isso, a Igreja, peregrina sobre a terra e mãe de todos, tem por missão amar Jesus Cristo, adorá-Lo e amá-Lo, particularmente nos mais pobres e abandonados; e entre eles contam-se, sem dúvida, os migrantes e os refugiados, que procuram deixar para trás duras condições de vida e perigos de toda a espécie. Assim, neste ano, o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado tem por tema: Igreja sem fronteiras, mãe de todos.

Com efeito, a Igreja estende os seus braços para acolher todos os povos, sem distinção nem fronteiras, e para anunciar a todos que «Deus é amor» (1 Jo 4, 8.16). Depois da sua morte e ressurreição, Jesus confiou aos discípulos a missão de ser suas testemunhas e proclamar o Evangelho da alegria e da misericórdia. Eles, no dia de Pentecostes, saíram do Cenáculo cheios de coragem e entusiasmo; sobre dúvidas e incertezas, prevaleceu a força do Espírito Santo, fazendo com que cada um compreendesse o anúncio dos Apóstolos na própria língua; assim, desde o início, a Igreja é mãe de coração aberto ao mundo inteiro, sem fronteiras. Aquele mandato abrange já dois milénios de história, mas, desde os primeiros séculos, o anúncio missionário pôs em evidência a maternidade universal da Igreja, posteriormente desenvolvida nos escritos dos Padres e retomada pelo Concílio Vaticano II. Os Padres conciliares falaram de Ecclesia mater para explicar a sua natureza; na verdade, a Igreja gera filhos e filhas, sendo «incorporados» nela que «os abraça com amor e solicitude» (Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 14).

A Igreja sem fronteiras, mãe de todos, propaga no mundo a cultura do acolhimento e da solidariedade, segundo a qual ninguém deve ser considerado inútil, intruso ou descartável. A comunidade cristã, se viver efectivamente a sua maternidade, nutre, guia e aponta o caminho, acompanha com paciência, solidariza-se com a oração e as obras de misericórdia.

Nos nossos dias, tudo isto assume um significado particular. Com efeito, numa época de tão vastas migrações, um grande número de pessoas deixa os locais de origem para empreender a arriscada viagem da esperança com uma bagagem cheia de desejos e medos, à procura de condições de vida mais humanas. Não raro, porém, estes movimentos migratórios suscitam desconfiança e hostilidade, inclusive nas comunidades eclesiais, mesmo antes de se conhecer as histórias de vida, de perseguição ou de miséria das pessoas envolvidas. Neste caso, as suspeitas e preconceitos estão em contraste com o mandamento bíblico de acolher, com respeito e solidariedade, o estrangeiro necessitado.

Por um lado, no sacrário da consciência, adverte-se o apelo a tocar a miséria humana e pôr em prática o mandamento do amor que Jesus nos deixou, quando Se identificou com o estrangeiro, com quem sofre, com todas as vítimas inocentes da violência e exploração. Mas, por outro, devido à fraqueza da nossa natureza, «sentimos a tentação de ser cristãos, mantendo uma prudente distância das chagas do Senhor» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 270).

A coragem da fé, da esperança e da caridade permite reduzir as distâncias que nos separam dos dramas humanos. Jesus Cristo está sempre à espera de ser reconhecido nos migrantes e refugiados, nos deslocados e exilados e, assim mesmo, chama-nos a partilhar os recursos e por vezes a renunciar a qualquer coisa do nosso bem-estar adquirido. Assim no-lo recordava o Papa Paulo VI, ao dizer que «os mais favorecidos devem renunciar a alguns dos seus direitos, para poderem colocar, com mais liberalidade, os seus bens ao serviço dos outros» [Carta ap. Octogesima adveniens (14 de Maio de 1971), 23].

Aliás, o carácter multicultural das sociedades de hoje encoraja a Igreja a assumir novos compromissos de solidariedade, comunhão e evangelização. Na realidade, os movimentos migratórios solicitam que se aprofundem e reforcem os valores necessários para assegurar a convivência harmoniosa entre pessoas e culturas. Para isso, não é suficiente a mera tolerância, que abre caminho ao respeito das diversidades e inicia percursos de partilha entre pessoas de diferentes origens e culturas. Aqui se insere a vocação da Igreja a superar as fronteiras e favorecer «a passagem de uma atitude de defesa e de medo, de desinteresse ou de marginalização (...) para uma atitude que tem por base a “cultura de encontro”, a única capaz de construir um mundo mais justo e fraterno» (Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado - 2014).

Mas os movimentos migratórios assumiram tais proporções que só uma colaboração sistemática e concreta, envolvendo os Estados e as Organizações Internacionais, poderá ser capaz de os regular e gerir de forma eficaz. Na verdade, as migrações interpelam a todos, não só por causa da magnitude do fenómeno, mas também «pelas problemáticas sociais, económicas, políticas, culturais e religiosas que levantam, pelos desafios dramáticos que colocam à comunidade nacional e internacional» [Bento XVI, Carta enc. Caritas in veritate (29 de Junho de 2009), 62].

Na agenda internacional, constam frequentes debates sobre a oportunidade, os métodos e os regulamentos para lidar com o fenómeno das migrações. Existem organismos e instituições a nível internacional, nacional e local, que põem o seu trabalho e as suas energias ao serviço de quantos procuram, com a emigração, uma vida melhor. Apesar dos seus esforços generosos e louváveis, é necessária uma acção mais incisiva e eficaz, que lance mão de uma rede universal de colaboração, baseada na tutela da dignidade e centralidade de toda a pessoa humana. Assim será mais incisiva a luta contra o tráfico vergonhoso e criminal de seres humanos, contra a violação dos direitos fundamentais, contra todas as formas de violência, opressão e redução à escravidão. Entretanto trabalhar em conjunto exige reciprocidade e sinergia, com disponibilidade e confiança, sabendo que «nenhum país pode enfrentar sozinho as dificuldades associadas a este fenómeno, que, sendo tão amplo, já afecta todos os continentes com o seu duplo movimento de imigração e emigração» (Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado - 2014).

À globalização do fenómeno migratório é preciso responder com a globalização da caridade e da cooperação, a fim de se humanizar as condições dos migrantes. Ao mesmo tempo, é preciso intensificar os esforços para criar as condições aptas a garantirem uma progressiva diminuição das razões que impelem populações inteiras a deixar a sua terra natal devido a guerras e carestias, sucedendo muitas vezes que uma é causa da outra.

À solidariedade para com os migrantes e os refugiados há que unir a coragem e a criatividade necessárias para desenvolver, a nível mundial, uma ordem económico-financeira mais justa e equitativa, juntamente com um maior empenho a favor da paz, condição indispensável de todo o verdadeiro progresso.

Queridos migrantes e refugiados! Vós ocupais um lugar especial no coração da Igreja e sois uma ajuda para alargar as dimensões do seu coração a fim de manifestar a sua maternidade para com a família humana inteira. Não percais a vossa confiança e a vossa esperança! Pensemos na Sagrada Família exilada no Egipto: como no coração materno da Virgem Maria e no coração solícito de São José se manteve a confiança de que Deus nunca nos abandona, também em vós não falte a mesma confiança no Senhor. Confio-vos à sua protecção e de coração concedo a todos a Bênção Apostólica.

Vaticano, 3 de Setembro de 2014.
FRANCISCO

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Papa Francisco - contra a indiferença à fome e à morte

       Excertos da homilia proferida hoje pelo papa Francisco na ilha italiana de Lampedusa, porto de abrigo para milhares de migrantes africanos e asiáticos que tentam chegar à Europa.
        «Imigrantes mortos no mar, naquelas barcas que em vez de serem uma rota de esperança se tornaram uma rota de morte. Quando há algumas semanas tomei conhecimento desta notícia, que infelizmente tantas vezes se repete, o meu pensamento tornou-se continuamente como um espinho no coração que traz sofrimento. E então senti que devia vir aqui hoje rezar, fazer um gesto de proximidade, mas também para despertar a nossa consciência, a fim de que o que aconteceu não se repita.»

       «Muitos de nós, incluindo também eu, estamos desorientados, deixámos de estar atentos ao mundo em que vivemos, não cuidamos, não protegemos o que Deus criou para todos, e também deixámos de ser capazes de nos protegermos uns aos outros. E quando esta desorientação assume as dimensões do mundo, chega-se à tragédia como a que assistimos.»
       «Estes nossos irmãos e irmãs procuravam sair de situações difíceis para encontrar um pouco de serenidade e de paz; procuravam um lugar melhor para si e para as suas famílias, mas encontraram a morte. Quantas vezes aqueles que procuram isto não encontram compreensão, acolhimento, solidariedade.»
        «Quem é o responsável por este sangue? (…) Todos nós respondemos: não sou eu. (…) Hoje ninguém se sente responsável por isto; perdemos o sentido da responsabilidade fraterna; caímos na atitude hipócrita do sacerdote e do servidor do altar, de quem fala Jesus na parábola do Bom Samaritano: olhamos o irmão meio morto na berma da estrada, talvez pensando “pobrezinho”, e continuamos pela nossa estrada, não é a nossa função. (…)»
       «A cultura do bem-estar, que nos leva a pensar em nós próprios, torna-nos insensíveis aos gritos dos outros, faz-nos viver em bolas de sabão, que são belas mas não são nada, são a ilusão do fútil, do provisório, que conduz à indiferença para com os outros, e assim conduz à globalização da indiferença.»
       «"Adão, onde estás?", "onde está o teu irmão?", são as duas perguntas que Deus coloca ao início da história da humanidade [livro do Génesis] e que dirige também a todos os homens do nosso tempo, também a nós. Mas eu desejo que nos coloquemos uma terceira pergunta: "Quem de nós chorou por estes factos e por factos como este?", pela morte destes irmãos e irmãs? Quem chorou por estas pessoas que estavam nas barcas? Pelas jovens mães que levavam as suas crianças? Por estes homens que desejavam alguma coisa para sustentar a própria família? Somos uma sociedade que esqueceu a experiência das lágrimas (...).»
       «"Quem chorou?" Senhor, nesta Liturgia, que é uma Liturgia de penitência, peçamos perdão pela indiferença para com tantos irmãos e irmãs; pedimos-te perdão por quem se acomodou, quem se fechou no próprio bem-estar que conduz à anestesia do coração; pedimos-te perdão por aqueles que com as suas decisões a nível mundial criaram situações que conduzem a estes dramas. "Adão, onde estás?", "onde está o sangue do teu irmão?". Ámen.»