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domingo, 2 de outubro de 2016

Carta Pastoral de D. António Couto | 2016-2017


IDE POR TODO O MUNDO
E ANUNCIAI O EVANGELHO A TODA A CRIATURA

«A Igreja não cresce por proselitismo, mas por atração: por atração maternal, por esta oferta de maternidade; cresce por ternura, por maternidade, pelo testemunho que gera sempre novos filhos» (Papa Francisco)[1].

Não animador ou monitor, mas transparência ou testemunha fiel de Jesus Cristo

1. Todo o discípulo missionário, enquanto testemunha e anunciador do Evangelho, não pode ser um simples animador ou monitor, mas transparência ou testemunha fiel da presença viva e operante do próprio Senhor no meio da comunidade. O discípulo missionário só tem autoridade na medida em que é fiel a Cristo e como Ele obediente, nada dizendo ou fazendo por sua conta e risco ou a seu-bel-prazer. A vida do discípulo missionário não é da ordem da criatividade, mas da fidelidade. Só pode dizer e fazer aquilo que, por graça, lhe foi dado ouvir, aquilo que, por graça, lhe foi dado ver fazer. O discípulo missionário é então também um contemplativo. É aqui que voltamos outra vez à configuração do discípulo missionário com Cristo e à sua transfiguração em Cristo e por Cristo. O discípulo missionário não é, portanto, aquele que vai apenas, com o relógio, o mapa e a caixa de primeiros socorros na mão, em auxílio de alguém. O discípulo missionário tem de passar do tempo do relógio e do mero auxílio para o dom total de si. A tempo inteiro e corpo inteiro. Missionário é aquele que, como Jesus e à maneira de Jesus, põe em jogo a própria vida, e não simplesmente as coisas ou os adereços. Tudo, e não apenas o supérfluo. Sempre, e não apenas um segmento de tempo. Em toda a parte, e não apenas na sua rua.
Missão «total»: todos, tudo, sempre, em toda a parte
2. Vale a pena começar por receber um extrato do chamado «segundo final» de Marcos, onde aparece inserida a frase que nos indica o caminho para o ano pastoral de 2016-2017:

«16,14Em último lugar fez-se ver aos Onze, enquanto estavam à mesa, e reprovou a sua incredulidade e dureza de coração, porque não acreditaram naqueles que o tinham visto ressuscitado. 15E disse-lhes: “Indo por todo o mundo, anunciai o Evangelho a toda a criatura”. 16Quem acreditar e for batizado, será salvo, mas quem não acreditar, será condenado. 17São estes os sinais que acompanharão os que acreditarem: no meu nome, expulsarão demónios, falarão línguas novas, 18e, se pegarem em cobras nas mãos e beberem veneno mortal, não lhes fará mal; imporão as mãos aos doentes, e ficarão bem.
19O Senhor Jesus, depois de ter falado com eles, foi elevado ao céu, e sentou-se à direita de Deus. 20Eles, então, tendo saído, anunciaram o Evangelho por toda a parte, enquanto o Senhor cooperava e confirmava a Palavra com os sinais que a acompanhavam» (Marcos 16,14-20).

3. Trata-se da última página do Evangelho de Marcos, certamente tardia, talvez do séc. II, mas grandiosa e imponente, e cheia de referências significativas para a vida cristã de qualquer tempo e lugar. Esta página fecha o Evangelho de Marcos, condensa-o e encerra-o numa grande inclusão literária e teológica através dos termos «anunciar», «acreditar» e «Evangelho», usados a abrir o Evangelho (1,14-15) e a fechar o Evangelho (16,15-16). Mas o anúncio do Evangelho a toda a criatura (16,15) reclama também o início da Escritura, a página da Criação, com o ser humano a receber de Deus o mandato de dominar a criação inteira (Génesis 1,26 e 28). É ainda nesse sentido de inclusão literária e teológica com a Criação, que as cobras, uma das quais dominou então o ser humano (Génesis 3,1-5), são agora dominadas (16,18), do mesmo modo que é o bem (kalôs), em vez da cura, que agora se estabelece sobre os doentes (16,18). Outra vez o eco intertextual da Criação, onde, no texto grego dos LXX, o bem, bom e belo (kalós) impregna por completo a Criação inteira, atravessando-a por oito vezes (Génesis 1,4.8.10.12.18.21.25.31 LXX). No texto hebraico, é por sete vezes que soa esta nota com o termo tôb, que passa o mesmo significado de bem, bom e belo (Génesis 1,4.10.12.18.21.25.31). O «Senhor Jesus» (16,19), única menção em todos os Evangelhos, enche a cena, quer para recriminar a nossa incredulidade e dureza de coração (16,14), quer para continuar a manifestar a sua confiança em nós, dado que, não obstante a nossa incredulidade, e, talvez por isso mesmo, insiste em enviar-nos e acompanhar-nos na missão «total» do Evangelho que agora nos confia (16,15 e 20). Cai aqui por terra uma certa retórica de santidade, que falsamente defende que só os santos são idóneos para a missão de anunciar o Evangelho! E ganham espaço os que fracassaram, como os Onze e nós com eles e como eles, que anunciam a Ressurreição de Jesus, que continua vivo e atuante no meio de nós, e a prova somos nós, pois Ele mudou a nossa vida de fracassados e desistentes para testemunhas fiéis e transparentes! E esta mudança operada em nós tem de fazer parte do relato que fazemos do Evangelho.

4. Cinco temas enchem a página, o pátio, o átrio sempre entreaberto do Evangelho: 1) a autoridade soberana e nova de Jesus assente, não na distância e tirania, mas na proximidade e familiaridade; 2) a missão total a nós confiada; 3) o mundo novo e bom, sadio e otimizado que brota da prática do Evangelho; 4) o envolvimento de todos; 5) a Presença nova e sempre ativa e comprometida do Ressuscitado connosco.

4.1. A soberania nova, próxima e familiar de Jesus fica registada no facto de toda a operação ser realizada no «nome de Jesus» (16,17), mediante envio seu (16,15), com a sua Presença cooperante (synergéô) (16,20) e confirmante (bebaióô) (16,20), o mesmo verbo da Confirmação sacramental (bebaíôsis). Etimologicamente, deriva do verbo baínô, que significa «caminhar», e supõe terreno firme e sólido (bébaios) sobre o qual se pode caminhar com destreza e segurança. É esta destreza e solidez que a Confirmação confere aos confirmados. Sem esquecer nunca que firmeza e solidez, em chão bíblico, remetem sempre para fidelidade e confiança no domínio interpessoal. A não esquecer também, neste contexto, que só um verdadeiro soberano confia a sua história e a sua missão a gente como nós, que só deu até agora sinais de fraqueza e de pouca ou nula fiabilidade. Um grande tema bíblico desde a Criação: a omnipotência de Deus como que limitada pela nossa liberdade, concedendo-nos aqui a imensa dignidade de partilhar connosco a sua autoridade, deixando também nas nossas mãos a capacidade de fazer surgir um mundo novo, cheio de bem, de bondade e de beleza.

4.2. Esta missão total, que deve envolver «todos, tudo e sempre» (Bento XVI, Mensagem para o 85.º Dia Missionário Mundial 2011), é retratada com tinta excecional em Marcos, ao usar as expressões «indo por todo o mundo» (16,15), «anunciai o Evangelho a toda a criatura» (16,15), e «tendo saído, anunciaram por toda a parte» (16,20). É a missão total, e não por etapas. Jesus não recomenda: «a começar pela rua tal, ou pela cidade tal…». Portanto, esta missão total também não é para levar a cabo ao sabor das emergências (ver a decisão de Jesus em Marcos 1,38-39; Lucas 4,42-43). A ventania do Pentecostes ou o vento suavíssimo do Espírito deve levar alento a toda a criatura, da mesma forma que a semente do Evangelho é para ser lançada por toda a parte, em todo o tipo de terreno, como na parábola do semeador, sem qualquer estudo prévio de rentabilidade.

Pensar, querer, ver, falar, fazer bem, belo e bom
4.3. Mundo novo e bom, salvo, sadio e saudável, otimizado, sem forças demoníacas e sem ponta de veneno. Esta ligação e eco intertextual das narrativas da Criação faz ver a missão como nova criação, em que o homem, finalmente transparência do Deus criador e senhor, sem raivas nem ódios, ciúmes e violências, «domina» a terra e os animais, isto é, estabelece a mansidão, a doçura da palavra e a harmonia sobre a terra (Génesis 1,26-31). Até a cobra perde a astúcia e o veneno mortal que ostenta em Génesis 3,1-5, e mostra-se mansa e sujeita ao domínio das mãos do homem. À luz da missão salutar e salvadora, nenhuma criatura é portadora de veneno (cf. Sabedoria 1,14), e a doença é vencida pela bênção que sai das mãos e do coração do missionário, outra vez à imagem de Deus, que enche este mundo de bem (kalôs LXX) (16,18), que é uma nota que atravessa o texto da Criação, vincando ainda mais a inclusão literária e teológica já atrás acenada. Note-se que, em vez da presença do bem, em situação de doença, seria de esperar, não o advérbio bem (kalôs), mas o verbo curar, que se usa habitualmente em situações idênticas, dito com o verbo therapeúô (cf. Mateus 4,24; 8,16; 10,1.8; Marcos 1,34; 3,10; 6,13; Lucas 4,40; 6,18b; 9,1.6) ou iáomai (Marcos 5,29; Lucas 6,18a.19; 9,2). De notar que a nossa Eucaristia, que é com certeza a mais alta forma de oração, catequese e evangelização, assenta as suas raízes mais fundas na bênção e em bendizer, sendo a sua expressão mais antiga «O cálice da bênção que bendizemos» (1 Coríntios 10,16). Celebrar a Eucaristia é, pois, sempre um grande exercício de «bendizer», isto é, de dizer bem, e não mal, e implica mudar a nossa vida toda da clave do mal para a clave do bem. O mal divide. O bem une. Levar uma comunidade a celebrar a Eucaristia é sempre transmitir aos seus membros uma nova cultura. Não de maledicência, mas de aprendermos a pensar, querer, ver, falar e fazer bem, belo e bom, que é a fonte da comunhão.

4.4. Nós já sabemos, são muitos os documentos a dizê-lo, que esta missão do anúncio do Evangelho de Jesus compete a todos. É por natureza que a Igreja é missionária, diz-nos a Decreto Conciliar Ad gentes, n.º 2, e «evangelizar constitui, de facto, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua identidade mais profunda», insiste Paulo VI, na feliz Exortação Apostólica Evangelii nuntiandi [1975], n.º 14. Por isso, «a pregação do Evangelho não é para a Igreja um contributo facultativo, mas um dever que lhe incumbe» (Paulo VI, Evangelii nuntiandi, n.º 5; Bento XVI, Mensagem para o Dia Missionário Mundial, 2012. É a maneira de ser da Igreja, e é a nossa maneira de ser, dado que é a sua e a nossa identidade, vocação e graça. Mas de entre todos os Evangelhos, só esta página seleta de Marcos diz expressamente que os belos e maravilhosos «sinais» que acompanham o anúncio do Evangelho são realizados por todos os que acreditam (Marcos 16,17-18). Esta extraordinária «democratização» das maravilhas operadas por Deus por intermédio de todos os que acreditam serve para datar este texto do século II. No século I, estes prodígios estavam confinados aos Apóstolos, e, a partir do século III, será o clero o seu proprietário. Magnífico texto este, que põe todo o povo de Deus a realizar maravilhas! Portanto, queridos irmãos e irmãs, sede o que sois, sempre e em toda a parte, e não deixeis por mãos e corações alheios, as maravilhas do Evangelho que Deus vos dá para vós realizardes! É este o combustível do «Evangelho da alegria», que Deus deposita largamente no coração de todos os seus filhos e filhas, para consolação nossa e de todos os nossos irmãos e irmãs.

4.5. Chegados aqui, à última página do Evangelho de Marcos, ainda podemos verificar dois gestos opostos e significativos. Jesus terminou o seu caminho, é elevado ao céu, e senta-se à direita de Deus (16,19), sinal de preeminência e de bênção. E os discípulos de Jesus, que têm agora o mundo inteiro pela frente, levantam-se, saem, e anunciam o Evangelho (16,20). «Sair», hebraico yatsa՚, é o verbo clássico do êxodo, mas é também, de forma muito significativa, o verbo do nascimento. «Sair de si» é um dos dinamismos mais poderosos do Evangelho, que o Papa Francisco lembrou e pediu à Igreja (Evangelii gaudium [2013], n.os 20.23.27.97.259.261. A Evangelização, que implica este dinamismo, continua a ser a tarefa central e sempre nova dos discípulos de Jesus de todos os tempos. «A Igreja existe para evangelizar» (Evangelii nuntiandi [1975], n.º 14). Fica ainda claro que a Ascensão de Jesus não o retira do nosso convívio, pois Ele continua connosco, cooperando e confirmando a missão da Evangelização que nos confiou.

Encontrar Jesus: sem Ele, todos os caminhos estão fechados
5. Aquando da escolha de Matias para «a diaconia (ou serviço) do apostolado» abandonada por Judas (Atos 1,25), Pedro pronuncia estas palavras indicativas:

«1,21É necessário, pois, que, dos homens que vieram connosco durante todo o tempo em que entrou e saiu à nossa frente o Senhor Jesus, 22tendo começado desde o Batismo de João até ao dia em que Ele foi arrebatado diante de nós, um destes se torne connosco testemunha da sua Ressurreição» (Atos 1,21-22).

Nas palavras de Pedro, «o serviço do apostolado», que consiste em tornar-se testemunha transparente e credível da Ressurreição do Senhor Jesus, requer, de todos aqueles que a ele se venham a dedicar, três condições fundamentais: 1) ter feito todo o caminho connosco, e sempre atrás do Senhor Jesus; 2) atrás do Senhor Jesus traduz a atitude do discípulo: sempre com o Mestre; nunca, porém, à frente do Mestre, mas seguindo-O sempre de perto no caminho; 3) o caminho tem um começo e um termo assinalados, sempre com referência ao Senhor Jesus: desde o Batismo até ao dia da Ascensão diante de nós. Bem assimiladas estas palavras de Pedro, é fácil compreender que é a familiaridade com Jesus que faz dos discípulos de ontem e de hoje mensageiros autênticos. Portanto, também hoje, os verdadeiros mensageiros do Evangelho serão aqueles a quem foi dada a graça de construir uma verdadeira familiaridade com Jesus, que chama aqueles que Ele quer, que os faz (verbo de criação), para estarem com Ele, e os enviar a anunciar o Evangelho (cf. Marcos 3,13-14).

6. Bem nos recordou o Papa Bento XVI, em missão Apostólica entre nós em maio de 2010, na homilia proferida no Porto (14 de maio): «Tudo se define a partir de Cristo, quanto à origem e à eficácia da missão». E deixou este desabafo: «Quanto tempo perdido, quanto trabalho adiado, por inadvertência deste ponto!». Uma vez encontrados por Cristo, não nos podemos mais desencontrar, pois é Ele que as pessoas nos pedem (cf. João 12,21), e, sem Ele, nada podemos fazer (cf. João 15,5). Temos mesmo de o procurar até o encontrar (cf. Lucas 2,44-46). Mas também Ele vem à nossa procura junto ao poço de Jacob (cf. João 4,1-42), ou nos caminhos de Emaús (cf. Lucas 24,13-35), ou de Damasco (Atos 9,1-19; 22,1-21; 26,2-23; Filipenses 3,12), ou quando estamos descrentes e acomodados (cf. Marcos 16,14-20). Recolhendo outra vez o bom ensinamento de Bento XVI, secundado por Francisco, é necessário compreender bem, compreender até ao coração, que «no início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo» (Deus caritas est [2005], n.º 1; Evangelii gaudium [2013], n.º 7). Mas é preciso compreender também que este lume novo aceso por Jesus sobre a praia (cf. João 21,9), não é para o deixarmos apagar e reduzir a cinzas. É para transportar com carinho no coração ou na concha da mão, vivendo diariamente com este lume dentro, hitlahabut, como dizem os hebreus, com uma chama dentro. E depois, é preciso apegar a outros este lume. Ou, lembrando os bons ensinamentos de São João Paulo II: «Quem verdadeiramente encontrou Cristo, não pode guardá-l’O para si; tem de O anunciar» (Novo millennio ineunte [2001], n.º 40). E o Sínodo sobre a Nova Evangelização para a transmissão da fé cristã, realizado em outubro de 2012, veio reafirmar que a fé não se decide com a invenção, uso e divulgação de novas estratégias, mas «na relação que instauramos com a pessoa de Jesus» (cf. Lineamenta, n.º 2; Instrumentum laboris, n.º 39). Uma comunidade que seja capaz de mostrar o quanto se alimenta e é transformada pelo encontro com o Senhor Ressuscitado é o melhor lugar para comunicar a fé.

Saber Jesus com «um coração que vê»
7. São Paulo, que Bento XVI apontou como «o maior missionário de todos os tempos» (Mensagem para o 46.º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, 2008), e Paulo VI propôs como «modelo de cada Evangelizador» (Evangelii nuntiandi [1975], n.º 79), confessa que, no início da sua vida nova de seguidor de Jesus Cristo, está o facto imprevisível e irresistível de ter sido agarrado (katelêmphthên) por Jesus Cristo (Filipenses 3,12). Foi assim, nesta luta desigual (katelêmphthên, aor. pass. de katalambáno, supõe uma luta), que Paulo chegou ao sublime conhecimento de Jesus Cristo, seu Senhor, e do que vale a pena fazer e desfazer na vida (Filipenses, 3,8). Dada a excelência do conhecimento novo que o tomou de assalto e o levou a mudar tudo na sua vida, Paulo confessa com convicção e ousadia: «Decidi não outra coisa saber (eidénai) entre vós senão Jesus Cristo, e este crucificado (estaurôménon: part. perf. pass. de stauróô)» (1 Cor 2,2). Em termos gramaticais, eidénai é o infinito perfeito do verbo oîda, raiz id-, que, pelo seu uso semântico, também significa «ver», o que implica que só se conhece ou sabe bem o que se vê. Trata-se, todavia, de um conhecimento novo e de uma visão nova. Não se trata tanto daquele trabalhoso processo de conhecimento, que é próprio da filosofia, e que o verbo ginôskô ilustra, mas tão-pouco deriva da simples visão ocular. Na verdade, não se vê apenas com os olhos. «Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos», escreveu Saint-Exupéry. Há um conhecimento, um saber e uma visão mais profunda que envolve e impregna a pessoa toda e a vida toda. Corresponde talvez à expressão feliz «um coração que vê», usada por Bento XVI na Carta Encíclica Deus caritas est [2005], n.º 31, e deixa entender, à maneira do Papa Francisco, que «a fé não olha só para Jesus, mas leva-nos a ver do ponto de vista de Jesus, com os seus olhos: é uma participação na sua maneira de ver» (Carta Encíclica Lumen fidei [2013], n.º 18). Francisco volta a esta temática de «O olhar de Jesus», que tudo enche de beleza, na sua Carta Encíclica Laudato Si’ [2015], n.os 96-100.

8. Não se sabe, aprende e ensina Jesus, estabelecendo e cumprindo programas mais ou menos de cariz escolar. Não se aprende Jesus pelo caminho do «amor da sabedoria», mas pelo caminho da «sabedoria do amor». A ciência de Jesus é a sabedoria de um «amor crucificado», que mostra que, na base da minha existência nova, está Jesus que morreu por mim por amor, sem levar em conta os meus méritos, que os não tenho. Nem eu nem tu nem ninguém. Por isso é que, para Paulo, saber Jesus é saber Jesus crucificado por amor, isto é, na ação de dar a vida por amor, para sempre e para todos. Em Jesus, Paulo vê um amor novo, não apenas devido a um pequeno grupo de amigos, mas a todos, bons e maus, também aos inimigos. Este «amor crucificado», a todos devotado, é uma forma nova de viver, e rebenta as paredes dos nossos pequenos grupos de amigos, em que tantas vezes vivemos entrincheirados. A paróquia, que deve revestir-se desta nova fisionomia do amor, tem de ser uma comunidade acolhedora e aberta, «em saída». Vislumbra-se daqui a imagem da Igreja e da paróquia que o Papa João Paulo II belamente desenhou na preparação do Grande Jubileu do ano 2000, e que Bento XVI evocou em 2005: «Paróquia, procura-te a ti mesma e encontra-te a ti mesma fora de ti mesma». E o Papa Francisco não se cansa de repetir que «há duas imagens de Igreja: a Igreja evangelizadora, que sai de si mesma, e a Igreja mundana e autorreferencial, que vive em si, de si e para si».

Anunciar Jesus: uma necessidade que se me impõe
9. «Evangelizar não é para mim um título de glória, mas uma necessidade que se me impõe desde fora. Ai de mim se não Evangelizar!» (1 Coríntios 9,16). Portanto, no próprio dizer de Paulo, anunciar o Evangelho impõe-se-lhe, mais do que como uma paixão, como uma necessidade. Paulo anuncia convictamente a notícia da Ressurreição, e diz que o faz como se de uma necessidade se tratasse. E ilustra-o com o relato da sua vida. Mas porque é que este anúncio há de ser, para Paulo, uma necessidade? É uma necessidade porque Paulo considera o acontecimento da Páscoa de Jesus Cristo como único, singular e universal, que o afetou radicalmente na sua maneira de ser homem. A prova é que Paulo mudou tudo na sua vida. Mudou, ou foi mudado. É por isso que Paulo anuncia convictamente a força (dýnamis) de Cristo Crucificado e Ressuscitado (cf. Filipenses 3,10). Mas é ainda uma necessidade porque Paulo pressente que, se não anunciar o Evangelho, a sua vida se desmorona ou arruína, porque está construída sobre a areia e será facilmente arrastada por qualquer vendaval (cf. Mateus 7,26-27). É por isso que Paulo, quando contempla a riqueza de Cristo e do Evangelho, considera tudo o resto como lixo (Filipenses 3,8).

10. Já sabemos que a cultura de hoje não transmite a fé, mas a liberdade religiosa. Se há umas décadas atrás não se podia não ser cristão, hoje pode vir-se a sê-lo, mas ser cristão hoje já não é visto como necessário para alguém viver humanamente bem a sua vida. É por isso que voltamos às coordenadas de São Paulo, e precisamos urgentemente de passar de uma fé de mera convenção para uma fé de entranhada convicção, assente em pessoas e comunidades que sintam a necessidade de encontrar, saber e anunciar Jesus Cristo. Pessoas radicalmente afetadas por Jesus Cristo. Pessoas e comunidades que sintam Jesus Cristo desde as entranhas. No sentido deste único necessário, impõe-se que renovemos todas as coisas. Diz bem o Documento de Aparecida [2007] que «uma paróquia renovada multiplica as pessoas que realizam serviços e acrescenta os ministérios» (n.º 202), para que todos se sintam «fraternalmente acolhidos, valorizados, visíveis e eclesialmente incluídos», «membros de uma comunidade eclesial e corresponsáveis pelo seu desenvolvimento» (n.º 226), podendo dizer com alegria: «A Igreja é a nossa casa! Esta é a nossa casa!» (n.º 246).

11. Quer isto dizer, amados irmãos e irmãs, que, nas nossas paróquias, não pode haver cristãos, tipo «tanto se lhes dá como se lhes deu». Eu sei que há nas nossas paróquias catequistas, grupos corais, acólitos, leitores, grupos de jovens, ministros da comunhão, grupos sócio caritativos, zeladoras, sacristães, irmandades, associações diversas, movimentos diversos, conselhos para os assuntos económicos, conselhos pastorais... A todos deixo a minha gratidão. Mas também sei que há ainda muitos cristãos de convenção, ainda não radicalmente afetados por Jesus Cristo.

12. A listagem que fiz não pode servir para nos deixar descansados, porque já estamos inseridos em alguma missão. Nunca nos podemos esquecer de que, de acordo com o apelo do Papa Francisco, na Evangelii gaudium, «o objetivo destes processos participativos não há de ser principalmente a organização eclesial, mas o sonho missionário de chegar a todos» (n.º 31). A primeira palavra do lema da nossa Diocese para este Ano pastoral continua a ser: «IDE!».

Transforming Mission
13. Para isso, é preciso dar um colorido novo a tudo o que já existe. E é preciso que todos os que se dizem discípulos de Jesus Cristo, e que já frequentam as nossas paróquias, sejam transformados em verdadeiros Evangelizadores. É necessário que os grupos já existentes aumentem em quantidade e qualidade. É urgente fazer surgir novos grupos. Por exemplo, grupos de Evangelização, de acolhimento, de escuta, de oração, de visitação, de leitura, de estudo e reflexão, de caridade, escolas ou laboratórios de vivência e transmissão da fé.

14. A Evangelização é o nosso verdadeiro gerador de alegria e de energia. Ninguém pode ser apenas mero espectador ou recipiente do Evangelho. Esta atitude gera cansaço e desistência, falência a curto ou médio prazo. O Papa Francisco está outra vez cheio de razão quando escreve, na Exortação Apostólica Evangelii gaudium [2013] que é necessário «avançar no caminho de uma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as coisas como estão», e pede à Igreja que se coloque em «estado permanente de missão em todas as regiões da Terra» (n.º 25). E confia a cada um, um TPC, esclarecendo que «Há uma forma de pregação que nos compete a todos como tarefa diária: é cada um levar o Evangelho às pessoas com quem se encontra» (n.º 127). O anúncio do Evangelho, o anúncio essencial, o mais belo, o mais importante e o mais necessário (n.º 35), que soa «Este Jesus Cristo, crucificado e ressuscitado, é o único Salvador» (cf. Atos 2,23-24.32.36; 3,15-16; 4,10; 5,30-31; 10,39-40; 13,28-30; 17,31; 25,19), é «a primeira caridade» para o mundo (n.º 199; Novo millennio ineunte [2001], n.º 50), e nunca nos devemos esquecer que só «a caridade das obras garante uma força inequívoca à caridade das palavras» (Novo millennio ineunte, n.º 50). Se estamos perante o fundamental, então é necessário, como refere o Documento de Aparecida, que «Nenhuma comunidade se deve considerar isenta de entrar decididamente, com todas as forças, nos processos constantes de renovação missionária e de abandonar as estruturas ultrapassadas que já não favoreçam a transmissão da fé» (n.º 365).

15. Para esta experiência viva de missão, de oração e de alegria, convoco todos os diocesanos da nossa Diocese de Lamego: sacerdotes, diáconos, consagrados, consagradas, fiéis leigos, pais, mães, avôs, avós, famílias, jovens, crianças, catequistas, acólitos, leitores, agentes envolvidos na pastoral, membros dos movimentos de apostolado. A todos peço a graça de promoverem mais encontros de oração, reflexão, formação, perdão, partilha e amizade. Mais. Mais. Mais. A todos peço a dádiva de uma mão de mais amor a todos os irmãos e irmãs que experimentam dificuldades e tristezas, e também àqueles que junto de nós vierem procurar a esmola do refúgio. Mais. Mais. Mais. A todos peço que experimentemos a alegria de sairmos mais de nós ao encontro de todos, para juntos celebrarmos o grande amor que Deus tem por nós e sentirmos a alegria da sua misericórdia. Que cada um de nós sinta como sua primeira riqueza e dignidade a de ser filho de Deus com muitos irmãos à sua volta. E para todos imploro de Deus a sua bênção, e de Maria, no centenário das suas aparições em Fátima, a sua proteção carinhosa e maternal.


Dois mil e dezassete,
Ano da Graça, da Misericórdia e da Alegria,
Em que todos os caminhos vão dar a Fátima,
À Cova da Iria,
A Maria.

Titubeantes ou firmes,
À chuva e ao frio,
Vão os teus filhos,
Desfiando o rosário,
Como se fosse o abecedário
Das suas vidas doridas.

Vão ter contigo, Mãe,
Alívio das suas dores,
Atiram-te flores
Com gestos de ternura.
Sabem que acolhes com doçura
As suas preces tecidas de lã pura,
À mistura
Com uma lágrima de amor
Na despedida.

Abençoa, Senhora e Mãe querida,
Estes teus filhos e filhas,
E recolhe-os no manto
Branco
Das tuas maravilhas.

Lamego, 1 de outubro de 2016
+ António, vosso bispo e irmão



[1] Una Chiesa accogliente con le porte aperte. Discurso de abertura no Congresso pastoral da Diocese de Roma, in Avvenire, 18 de Junho de 2014, p. 16.

sábado, 3 de outubro de 2015

Carta Pastoral de D. António Couto | 2015-2016



IDE E FAZEI DA CASA DE MEU PAI CASA DE ORAÇÃO E DE MISERICÓRDIA
«Tudo faço por causa do Evangelho» (1 Coríntios 9,23)
«A minha Casa será chamada Casa de oração para todos os povos» (Isaías 56,7; Marcos 11,17)
«Não se ponha o sol sobre a vossa ira» (Efésios 4,26)
«Quando me perguntam por que entrei na Igreja romana, a minha resposta é sempre esta: para me libertar dos meus pecados; porque não há outra religião que afirme verdadeiramente o perdão dos pecados dos homens… Um católico que se confessa, entra, no verdadeiro sentido da palavra, na manhã clara da sua infância» (Chesterton).
Tudo por causa do Evangelho
1. «Vamos juntos construir a casa da fé e do Evangelho» (2012-2013), «Ide e fazei discípulos» (2013-2014), «Ide e construí com mais amor a família de Deus» (2014-2015), eis o itinerário temático e vivencial que nos propusemos seguir nos últimos três anos pastorais, acompanhando de perto os indicadores do Ano da Fé, da JMJ e da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium [= EG], do(s) Sínodo(s) da Família. «Vamos», «Ide», «Ide». Salta à vista que o verbo «ir» esteve sempre a sinalizar os nossos caminhos, expressando a vinculação da nossa vivência pastoral à missão ordenada por Jesus aos seus discípulos de todos os tempos, espaços e modos, e que deve mobilizar, no belo dizer de Bento XVI, «todos, tudo e sempre» (Mensagem para o Dia Missionário Mundial, 2011). Faz-nos bem, a este propósito, passar os olhos pela agenda do Apóstolo Paulo:
«Fiz-me a mim mesmo servo de todos, para o maior número ganhar. E tornei-me com os judeus como judeu, a fim de os judeus ganhar; com os que estão sujeitos à lei, como sujeito à lei […], a fim de os sujeitos à lei ganhar; com os sem lei, como sem lei, para ganhar os sem lei;  tornei-me com os fracos, fraco, a fim de os fracos ganhar; tornei-me tudo para todos, para, por todos os meios, salvar alguns. Tudo faço por causa do Evangelho» (1 Coríntios 9,19-23). 
2. Salta à vista o total empenhamento do Apóstolo, anunciando o Evangelho «oportuna e inoportunamente» (2 Timóteo 4,2), expondo o Evangelho com a vida, a vida com o Evangelho (1 Tessalonicenses 2,8), a tempo inteiro e coração inteiro, sem tréguas nem compromissos. Todo preenchido pelo anúncio do Evangelho, entregando-se todo e de todas as maneiras, ele foi declarado, com toda a justeza, «o maior missionário de todos os tempos» (Bento XVI) e «modelo de cada evangelizador» (Paulo VI). 
3. Não é, pois, de admirar que, no umbral da porta do novo ano pastoral 2015-2016 em que agora entramos, lá esteja outra vez, a abrir, o verbo «ir», para nos indicar que anunciar o Evangelho continua a ser sempre a tarefa primária da Igreja e de cada discípulo de Jesus, como nos lembra o Papa Francisco (EG, n.º 15). Mas não é de frases feitas que vamos viver. Tem de ser de novas atitudes, novos modos e estilos de vida. E, se anunciar o Evangelho é o nosso modo de ser, o nosso modo de vida, então temos de abandonar velhos vícios de acomodação e conforto, de simples manutenção, conservação e gestão, do «cómodo critério pastoral: “fez-se sempre assim”» (EG, n.º 33), do género meias-tintas, do sim, mas devagar, e de adotar novas práticas que nos levem, de forma decidida e incisiva, a «avançar no caminho de uma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as coisas como estão» (EG, n.º 25), e passar da «simples administração» para um «estado permanente de missão em todas as regiões da Terra» (EG, n.º 25). Neste sentido, nenhuma comunidade pode continuar a cantar a capella, como se tivesse direitos adquiridos sobre o próprio Jesus ou sobre o Evangelho, e todos devemos entrar, decididamente e com todas as forças, sem desperdício algum, naquele dinamismo do «saiamos, saiamos» (EG, n.º 49) com que o Papa Francisco projeta e sonha a nossa Igreja «em saída» pelos caminhos belos da Evangelização (EG, n.os 33-35). E deixamos já a janela aberta para o ano pastoral 2016-2017, que obedecerá ao lema «Ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho a toda a criatura» (Marcos 16,15).
Casa e escola de oração para todos
4. Transponhamos, pois, amados irmãos e irmãs, o limiar da porta. Entremos em Casa. Aproximemo-nos de Deus. Sentemo-nos à Mesa. Deixemo-nos hospedar na Casa de Deus. Aquela Casa que o próprio Deus apresenta assim: «A minha Casa será chamada Casa de oração para todos os povos». Este dizer forte e tranquilo é de Isaías 56,7. O Evangelista Marcos foi o único a recolhê-lo na sua inteireza (11,17). Mateus 21,13 e Lucas 19,46 recolheram apenas a primeira parte («A minha casa será chamada casa de oração»), deixando de fora «todos os povos». A Igreja e a paróquia devem ser então a Casa onde todos devem ser fraternalmente acolhidos, e se devem sentir valorizados, visíveis e eclesialmente incluídos (Documento de Aparecida, n.º 226). Sonhemos, pois, amados irmãos e irmãs, fazer da Igreja e da paróquia um novo lugar, um novo espaço relacional, onde todos, pastores e fiéis leigos, possam dizer com alegria, de acordo com o convite de Bento XVI, no Santuário de Aparecida, em 12 de maio de 2007: «A Igreja é a nossa casa! Esta é a nossa casa!» (Documento de Aparecida, n.º 246). O Papa Francisco quis inserir este jubiloso grito na mensagem que dirigiu aos bispos de Portugal na recente Visita ad Limina Apostolorum (07.09.2015). Entremos, pois, jubilosamente em Casa, conduzidos por Jesus:
«E estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. E encontrou no Templo (hierón) os vendedores de bois e ovelhas e pombas, e os cambistas sentados. E, tendo feito um chicote de cordas, expulsou todos do Templo (hierón), as ovelhas e os bois, bem como os cambistas, espalhou as moedas, derrubou as mesas, e disse aos que vendiam as pombas: “Tirai isto daqui! Não façais da Casa (oíkos) do meu Pai Casa (oíkos) de comércio”» (João 2,13-16). 
5. O episódio aparece situado e datado. O lugar é Jerusalém e o seu Templo. O tempo é a Festa da Páscoa. Ora, uma Festa é, na tradição bíblica, um encontro marcado. Um encontro marcado com Deus e com os outros. Sendo um encontro marcado com Deus e com os outros, então é sempre um espaço de alegria, de filialidade e de fraternidade. E se a Festa é de peregrinação, como é a Páscoa, aqui referida [as outras duas são as Semanas ou Pentecostes e as Tendas], então a alegria, a filialidade e a fraternidade são ainda mais intensas, dado que Festa de peregrinação se diz, na língua hebraica, hag. E o nome hag remete para o verbo hag [= dançar] e deriva de hûg, que significa círculo, e, portanto, família, lareira, encontro, alegria, música, roda, dança, vida. 
6. Encontro, filialidade, fraternidade: marcas acentuadas por Jesus que, em vez de Templo de pedra (hierón), diz Casa (oíkos) – com particular afeto, Casa do meu Pai –, sendo a Casa paterna o lugar do encontro e da intimidade, e não das coisas, da superficialidade, da banalidade, do consumismo, do mercado. Nos paralelos de Mateus, Marcos e Lucas, citando Isaías 56,7, Jesus fala do Templo usando a expressão forte «A minha Casa» (ho oîkós mou) (Mateus 21,13; Marcos 11,17; Lucas 19,46). É neste sentido que o Livro dos Atos dos Apóstolos nos mostra a comunidade-mãe de Jerusalém a frequentar assiduamente o Templo, salientando, no entanto, que a sua maneira de prestar culto a Deus acontecia nas Casas. Do Templo para as Casas (Atos 2,46). Não, não se trata de uma simples mudança de lugar, mas de uma diferente conceção do espaço: não se trata de um espaço local, mas relacional. O novo espaço cultual é a comunidade que vive filial e fraternalmente, verdadeira transparência de Jesus. A extensão deste espaço chama-se comunhão e comunidade. É a comunidade jovem, leve e bela, bem assente em quatro colunas: o ensino dos Apóstolos (1), a comunhão fraterna (2), a fração do pão (3) e a oração (4). Com a boca [= «uma só boca» (en henì stómati: Rm 15,6)] cheia de louvor, os olhos de graça, as mãos de paz e de pão, as entranhas de misericórdia, a comunidade bela crescia, crescia, crescia. Não admira. Era uma comunidade jovem, leve e bela, tão jovem, leve e bela, que as pessoas lutavam por entrar nela!
7. Sintomático é que, postos estes pressupostos, o texto refira, não que Jesus encontrou filhos e irmãos, mas que encontrou vendedores, banqueiros e comerciantes, contra a profecia de Zacarias 14,21, que refere que «Não haverá mais vendedor na Casa do Senhor dos exércitos naquele dia». «A Casa do meu Pai», «A minha Casa», por um lado, e o Mercado, por outro lado, são lugares incompatíveis. São maneiras diferentes de conceber e ocupar o espaço. É, pois, necessário, caríssimos irmãos e irmãs, descobrir e abrir caminhos novos, que nos levem outra vez a cantar com emoção: «Que alegria quando me disseram: “Vamos para a Casa do Senhor!”» (Salmo 122,1). E não nos esqueçamos nunca de acentuar a importância da oração, pois é ela o verdadeiro alicerce da nossa fé, conforme o velho e sempre novo aforismo dos Padres da Igreja antiga: lex orandi lex credendi (est), isto é, como se reza, assim se crê, e não o contrário. Peço às crianças e aos jovens que, em casa, partilhem o seu modo de rezar com os seus pais e avós. Peço aos pais e aos avós que, em casa, partilhem o seu modo de rezar com os seus filhos e netos. Assim, sentir-nos-emos todos mais visivelmente filhos e irmãos, e nascerá no nosso coração filial um mundo muito mais belo e fraterno. 
8. Jesus ensinou-nos a rezar com verdade, simplicidade, ternura e confiança. A colocar-nos como criancinhas diante de Deus, como diante do seu papá ou da sua mamã, em quem abandonam a sua existência. Jesus ensinou-nos, por isso, a chamar a Deus com o nome familiar de Pai. Mas não o pai que impõe respeito, distância e autoridade. Por isso, não nos ensinou a chamar a Deus com o nome de Pai, hebraico ʼab, como era usual tratar Deus no Antigo Testamento e nas orações judaicas do tempo de Jesus. Ensinou-nos a ser pequeninos, criancinhas cheias de simplicidade, ternura e confiança, que, com linguagem infantil, chamam a Deus, não ʼab, mas ʼabbaʼ, ʼab-baʼ, não pai, mas pap-pá, como quando as criancinhas experimentam dizer as primeiras palavras, soletrando e repetindo sílabas e sons. Dizer Pai nosso é então entrar de cabeça no mundo da ternura e da confiança. Mas é ainda perceber que este Pai não é apenas meu, mas nosso, o que quer dizer que só como irmãos, só sendo todos irmãos, podemos rezar com verdade. E pedir o pão nosso é saber que o pão que está sobre a minha mesa não é meu, mas é de todos. É para partilhar. Rezar assim, como Jesus nos ensinou, faz-nos entrar num mundo novo de ternura, de verdade e humildade, e leva-nos também a perceber bem que temos de viver como filhos e irmãos, carinhosamente atentos uns aos outros, até ao ponto sem retorno de já não sabermos viver senão repartindo o pão e o coração.
9. Notemos bem que a oração do Pai nosso não é nossa, não brota de nós. Foi-nos ensinada por Jesus, que nos transmite o segredo mais profunda da sua vida: o Pai, e leva-nos a compreender que Ele é também o nosso Pai carinhoso que cuida de nós, e que nós somos todos irmãos, e só como irmãos podemos pronunciar, sem mentir, as palavras desta oração. O Pai nosso, isto é, rezar de verdade, reclama, de nós a fraternidade, que é um valor que a sociedade laica começa a compreender que não pode produzir por si própria. Se olharmos para a tríade dos valores republicanos franceses, reparamos que a liberdade e a igualdade podem ser, ainda que com reservas, garantidas a nível público. Mas a fraternidade não, porque a fraternidade pressupõe Deus como Pai, que a sociedade laica iluminista não reconhece. Isto significa que nos sistemas fundados sobre os três valores franceses há uma contradição interna, dado que os dois primeiros não podem garantir o terceiro (excelente reflexão do filósofo francês Jean-Luc Marion, in L’Avvenire, 09.02.2012). Por isso mesmo, a nós, cristãos, compete rezar bem e levar e mostrar a este mundo este Deus Pai, que faz de nós irmãos. Não se luta para obter o título de irmão. Irmão nasce-se, e o título de irmão recebe-se. Está aqui uma lição importante que nos compete receber, viver e transmitir a este mundo que vive na orfandade.
Atravessar a porta santa da misericórdia
10. Com a Bula O rosto da misericórdia [= RM], de 11 de Abril do corrente ano da Graça de 2015, o Papa Francisco proclamou o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que abrirá no próximo dia 8 de dezembro, Solenidade da Imaculada Conceição, e encerrará em 20 de Novembro de 2016, Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo. O Papa Francisco deseja ardentemente que todos experimentem verdadeiramente a ação da misericórdia que há em Deus. A Porta Santa da Misericórdia de Deus será aberta na nossa Igreja de Lamego, como em todas as Igrejas particulares, por vontade do Papa Francisco, no Domingo III do Advento, dia 13 de dezembro (RM, n.º 3). Atravessar a Porta Santa da Misericórdia implica peregrinação, emoção e encontro com a misericórdia do Pai (RM, n.º 14). Do mesmo modo que, nos dias 4 e 5 de Março de 2016, sexta-feira e sábado antes do Domingo IV da Quaresma, celebraremos também em todas as Igrejas da nossa Diocese as «24 horas para o Senhor», também em resposta ao apelo do Papa Francisco (RM, n.º 17). Em suma, amados irmãos e irmãs, o ano pastoral em que agora entramos apresenta-se repleto da bondade e da riqueza do nosso Deus. Mas o essencial será sempre acolher e experimentar na vida a misericórdia de Deus, e deixarmo-nos transformar por ela. Neste sentido, vale a pena começar por ver Jesus em ação de misericórdia, percorrendo um episódio do Evangelho. E confrontar com a sua forma de fazer os nossos comportamentos. O desempenho dos discípulos pode ajudar-nos a ver melhor as sombras em que muitas vezes nos enredamos:
«E reúnem-se os apóstolos junto de Jesus e contam-lhe todas as coisas que tinham feito e ensinado. Ele diz-lhes: “Vinde vós, à parte, para um lugar deserto, e descansai um pouco”. Eram, na verdade, muitos os que vinham e partiam, e nem sequer para comer tinham tempo. E partiram numa barca para um lugar deserto, à parte. Viram-nos, porém, partir, e sabendo, muitos, a pé, de todas as cidades, correram e chegaram antes deles. E tendo saído da barca, viu uma grande multidão e TEVE MISERICÓRDIA (esplagchnístê) deles, porque eram como ovelhas sem pastor (cf. Isaías 53,6). 
E COMEÇOU A ENSINAR-LHES (êrxato didáskein) muitas coisas. E tendo a hora adiantado muito, aproximaram-se d’Ele os discípulos d’Ele e diziam: “O lugar é deserto e a hora adiantada. MANDA-OS EMBORA, para que, partindo para os campos e aldeias à volta, COMPREM de comer PARA SI MESMOS (heautoîs)”. Então Ele, respondendo, disse-lhes: “DAI-LHES vós de comer”» (Marcos 6,30-37). 
11. O episódio que acabámos de referir, retirado do Evangelho de Marcos, é conhecido como a «primeira “multiplicação dos pães”», realizada, neste caso, em mundo judaico. Mas vê-se bem que o título de «multiplicação» é inadequado, pois o que está aqui em causa não é, na verdade, uma multiplicação, mas uma divisão ou partilha. Salta à vista, na passagem estreita que nos foi dado atravessar, o comportamento misericordioso e compassivo, acolhedor, inclusivo e de partilha de Jesus, em confronto com o comportamento insensível, não-acolhedor, exclusivista, frio, mercantilista, consumista, egoísta, egocêntrico e autorreferencial dos seus discípulos, que propõem a Jesus que mande as pessoas embora, para que cada um compre de comer para si mesmo (Marcos 6,36). O diagrama a seguir mostra os dois desempenhos em confronto:
12. A Escritura mostra à exaustão que o perigo espreita sempre que se quebra o círculo da fraternidade, e alguém passa a viver, a comprar, a acumular para si mesmo, ou a querer salvar-se a si mesmo (heautô) (Ezequiel 34,2; Lucas 12,21; 23,35.37.39; Romanos 14,7; 2 Coríntios 5,15):
«Filho do Homem, profetiza contra os pastores de Israel. Profetiza e diz-lhes: “Contra os pastores, assim diz o Senhor YHWH: Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos (ro‘îm ’ôtam TM; poiménes heautoús LXX)”» (Ezequiel 34,2; cf. 34,8.10).

«Assim acontece àquele que entesoura para si mesmo (heautô), e não é rico para Deus» (Lucas 12,21).
«Também os chefes faziam pouco dele, dizendo: “Salvou outros; que se salve a si mesmo (heautón)» (Lucas 23,35).
«Também os soldados faziam pouco dele, e, aproximando-se, ofereciam-lhe azeite, 37 e diziam: se tu és o Rei dos judeus, salva-te a ti mesmo (seautón)”» (Lucas 23,36-37).
«Um dos malfeitores suspensos blasfemava, dizendo-lhe: “Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo (seautón) e a nós”» (Lucas 23,39).
«Nenhum de nós para si mesmo (heautô) vive e nenhum para si mesmo (heautô) morre; se vivemos, é para o Senhor (tô Kyríô) que vivemos; se morremos, para o Senhor (tô Kyríô) morremos» (Romanos 14,7).
«E por todos (Cristo) morreu, para que os vivos não vivam para si mesmos (heautoîs), mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou» (2 Coríntios 5,15).
A lógica individualista e exclusivista do «para si mesmo» (heautô) é errada. A lógica de Jesus, que parte do amor entranhado das vísceras misericordiosas (esplagchnístê) (Marcos 6,34a), é uma lógica de comunhão, de doação, de partilha, de condivisão, de conjunção. Esta lógica nova obedece a outro «para si mesmo»: tomar a Cruz «para si mesmo» (heautô) (João 19,17), dar aos outros, por amor, a própria vida. Por isso, verdadeiramente, Jesus é aquele que «está fora de si» (exéstê), descentrado, sempre em êxodo total ao encontro de Deus e dos irmãos (Marcos 3,21).
13. Sempre neste sentido, o inédito da Cruz é «obsceno», no sentido etimológico do termo: fica fora da cena do nosso imaginário. Diz muito bem Silvano Fausti: «Um sistema de violência acaba sempre por repousar sobre uma alternativa: matar ou ser morto. Nós escolhemos preventivamente a primeira: cada um de nós faz o mal que pode, como profissão principal, de maneira a ser bem sucedido: o ladrão ou o banqueiro, o comerciante ou o operário, o médico ou o barbeiro, o patrão ou o criado, o padre ou o assaltante, o benfeitor ou o delinquente. Cada um, com os meios que tem, pensa primeiro em si». Na verdade, se cada um é inimigo do outro por definição, e se, para cada um, prioritária é a salvaguarda da ameaça do outro, as possibilidades do eu são vencer ou sucumbir, e, em caso extremo, matar ou ser morto. 
14. O que estes malfeitores, que somos nós, não sabemos, e, por causa deste nosso não saber, fazemos o mal, é que existe um Pai, a quem compete cuidar dos seus filhos. E se temos um Pai que cuida de nós, não nos compete ser inimigos, mas irmãos. E se somos filhos e irmãos, também não compete a cada um prover-se e salvar-se a si mesmo, pois é o nosso Pai que nos alimenta, que nos veste, que cuida de nós, que nos ama e nos salva (Mateus 6,26-34). 
15. Aí está outra vez bem à vista o inédito da Cruz: Jesus não se salva a si mesmo, porque salvar-se a si mesmo é mau. Na verdade, é para se salvarem a si mesmos que os homens se odeiam e fazem guerra. Ora, Jesus quer salvar-nos a nós. E, para nos salvar a nós, perde-se a si mesmo. Exactamente o contrário do que fazemos nós, que perdemos os outros pensando que assim nos salvamos a nós mesmos. 
16. Caríssimos irmãos e irmãs, permiti que a todos lembre que a missão da evangelização que deve sempre nortear a nossa vida de discípulos de Jesus tem de ser alimentada na oração e na graça que nos vem de Deus. Não nos esqueçamos de celebrar e valorizar o Domingo, Dia do Senhor, e de frequentar com alegria os Sacramentos, sobretudo a Eucaristia e a Reconciliação. Este ano pastoral deve ter a mesa da Eucaristia sempre posta e a porta da misericórdia sempre aberta. Experimentemos a alegria de perdoar aqueles que nos ofendem. Valorizemos bem a experiência das Confissões Quaresmais. Valorizemos também o exercício bem arreigado na nossa Diocese das 40 horas e jubileus das almas. Façamos tudo para retomar a vivência do Laus perene, para mantermos a nossa Diocese, com todas as suas 223 Paróquias, em permanente Louvor ao nosso Deus e Pai. Relembro as palavras certeiras do escritor inglês Chesterton (1874-1936) sobre a beleza da religião católica: «Não há outra religião que afirme verdadeiramente o perdão dos pecados dos homens… Um católico que se confessa, entra, no verdadeiro sentido da palavra, na manhã clara da sua infância». 
17. Caminhos práticos e direitos para curar a tibieza e a indiferença dos nossos corações e das nossas comunidades:
  • À imagem e imitação de Jesus, os nossos pastores devem ser verdadeiros apóstolos, totalmente dedicados à oração e à pregação, pela Palavra e pelo testemunho (Atos dos Apóstolos 6,4).
  • As nossas paróquias devem ser Casas acolhedoras onde todos os fiéis se sintam filhos de Deus, e experimentem nisso e por isso, a alegria de sermos irmãos. Também devemos abrir as portas do nosso coração aos nossos irmãos oriundos de outras proveniências que procurarem refúgio junto de nós. Será, com certeza, uma experiência de verdadeira fraternidade e alegria, que virá sempre enriquecer a nossa vida em Cristo.
  • As nossas paróquias devem ser Casas e escolas de oração e de vivência da fé em permanência, em que todos se sintam envolvidos, ensaiando novos estilos de vida. Retomemos com alegria a experiência do Laus perene. Assim saberemos e sentiremos que a nossa Diocese, nas suas 223 Paróquias, atravessa os dias do ano da graça que Deus nos concede, sentindo sempre o calor e a ternura da mão de Deus no nosso rosto e no nosso coração.
  • Neste Ano jubilar da Misericórdia, que «o sol nunca se ponha sobre a nossa ira» (Efésios 4,26). Permaneçamos atentos e vigilantes. Aprendamos a ser mais tolerantes e compreensivos. Façamos mais vezes a experiência do perdão, e recorramos mais vezes ao Sacramento da Reconciliação.
  • As nossas paróquias devem investir séria e sabiamente na iniciação à vivência e transmissão da fé, envolvendo neste esforço todas as pessoas.
  • As nossas paróquias devem ser evangelizadoras. Sejamos ousados. «Saiamos, saiamos!». Jovens, relançai a bela experiência das avalanches da fé. Ide ao encontro da alegria. Servi a alegria.
18. Para esta experiência viva de missão, de oração e de misericórdia, convoco todos os diocesanos da nossa Diocese de Lamego: sacerdotes, diáconos, consagrados, consagradas, fiéis leigos, pais, mães, avôs, avós, famílias, jovens, crianças, catequistas, acólitos, leitores, agentes envolvidos na pastoral, membros dos movimentos de apostolado. A todos peço a graça de promoverem mais encontros de oração, reflexão, formação, perdão, partilha e amizade. Mais. Mais. Mais. A todos peço a dádiva de uma mão de mais amor a todos os irmãos e irmãs que experimentam dificuldades e tristezas, e também àqueles que junto de nós vierem procurar a esmola do refúgio. Mais. Mais. Mais. A todos peço que experimentemos a alegria de sairmos mais de nós ao encontro de todos, para juntos celebrarmos o grande amor que Deus tem por nós e sentirmos a alegria da sua misericórdia. Que cada um de nós sinta como sua primeira riqueza e dignidade a de ser filho de Deus com muitos irmãos à sua volta. E para todos imploro de Deus a sua bênção, e de Maria a sua proteção carinhosa e maternal.
Lamego, 03 de outubro de 2015
+ António, vosso bispo e irmão

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Dia da Igreja Diocesana | 27 de setembro | Fotos

D. António Couto | Carta Pastoral | ano pastoral 2014-2015

domingo, 28 de setembro de 2014

D. António Couto | Carta Pastoral | 2014-2015

IDE E CONSTRUÍ COM MAIS AMOR A FAMÍLIA DE DEUS


«Os filhos são um dom de Deus»
(Salmo 127,3)
«Toda a paternidade, como todo o dom perfeito, vêm do Alto, descem do Pai das Luzes»
(Tiago 1,17; cf. Efésios 3,15).
«Sois membros da família de Deus»
(Efésios 2,19)

O amor fontal de Deus-Pai

1. «Deus é amor» (1 João 4,8 e 16) e «amou-nos primeiro» (1 João 4,19), e «nós amamos, porque Deus nos amou primeiro» (1 João 4,19). Então, o amor que está aqui, o amor que está aí, o amor que está em mim, o amor que está em ti, o amor que está em nós, «vem de Deus» (1 João 4,7), e «quem ama nasceu de Deus» (1 João 4,7). Deus amou-nos primeiro, ama-nos e continua a amar-nos sempre primeiro com amor-perfeito (êgapêménos: part. perf. pass. de agapáô), isto é, amor preveniente, fiel, consequente, permanente (1 Tessalonicenses 1,4; Colossenses 3,12). Ama-nos a nós, que estamos aqui, e foi assim que nós começámos a amar. Se não tivéssemos sido amados primeiro, e não tivéssemos recebido o testemunho do amor, não teríamos começado a amar, e nem sequer estaríamos aqui, porque «quem não ama, permanece na morte» (1 João 3,14), sendo então a morte, não o termo da vida, mas aquilo que impede de amar, e, portanto, de nascer!

2. Portanto, se «quem ama nasceu de Deus» (1 João 4,7), o amor que há em nós é remissivo, remete para outrem, remete para a origem. O que é a origem? A origem é o que está antes do começo, a quem a Bíblia e uma parte da humanidade chamam Deus, e nós, cristãos, por imagem, chamamos «Pai». Nova genealogia do amor: o Pai ama o Filho (João 3,35; 5,20), e ama também o mundo (João 3,16), a ponto de enviar o seu Filho ao mundo para lhe manifestar esse amor (João 3,16; 1 João 4,9-10). Só o semelhante conhece o semelhante, e lhe pode comunicar o seu amor. O Pai ama e conhece o Filho Unigénito, e comunica-lhe o seu amor. Como o Pai ama e conhece o Filho Unigénito, também o Filho Unigénito ama e conhece o Pai (Mateus 11,27), e o pode revelar os seus discípulos fiéis (João 15,9), tendo, para tanto, de descer ao nosso nível, fazendo-se homem verdadeiro, semelhante a nós (Filipenses 2,7; Hebreus 2,17). Na verdade, comunica-nos o amor do Pai, e dá-nos a conhecer tudo o que ouviu do Pai (João 15,15). E nós somos convidados a entrar nesse divino colóquio, a acolher esse amor desmesurado, e a passar a amar dessa maneira, como fomos e somos amados (João 13,34; 15,12).

3. Assim, o amor que está em nós, ou em que estamos nós, o amor entre marido e esposa, entre pais e filhos, entre amigos, entre nós, não provém nem de uns nem de outros. Nem sequer de si mesmo. O amor não é meu nem é teu. O amor não é nosso. O amor é dado. Claro. Se «quem ama nasceu de Deus», não é nossa a patente do amor, e temos mesmo de ser extremamente cuidadosos quando pretendemos ajuizar acerca do amor que há nos outros. A antiga equação nivelada: «Ama o próximo como a ti mesmo» (Levítico 19,18), é plenificada e subvertida pela equação paradoxal: «como Eu vos amei» (João 13,34; 15,12). Mesmo aqueles que desconhecem a fonte do amor, é dela que o recebem. Neste sentido, em que a fé se une à razão, não é o casal que faz o amor; é o amor que faz o casal. Do mesmo modo que não é o casal que faz os filhos; é o amor que os faz. São um dom de Deus (Salmo 127,3). Atravessa-nos um calafrio quando nos apercebemos que a humanidade transmite, de idade em idade, de pais para filhos, algo de eterno. Amor eterno, tão terrivelmente ameaçado de idade em idade!


4. É esse amor eterno, primeiro e derradeiro, verdadeiro, que nos faz nascer como irmãos. O lugar que, de forma mais imediata, nos mostra a fraternidade, é a família. E é verdade que, numa família, os filhos, não deixando de ser diferentes na ordem do nascimento, da saúde, da inteligência, temperamento, sucesso, são iguais. E são iguais, não obstante as suas acentuadas diferenças. São iguais, não em função do que são ou do que têm ou do que fazem, mas em função daquilo que lhes é dado e feito. Em função do amor que os precede, o amor dos seus pais, e, em primeira ou última instância, o amor fontal de «Deus-Pai» (Ad gentes, n.º 2), pois nós somos também, diz o Apóstolo, filhos de Deus (1 João 3,2), filhos no Filho (Romanos 8,17.29), membros da família de Deus (Efésios 2,19). É esse amor primeiro que nos torna livres e iguais, logo irmãos. A fraternidade é o lugar em que cada um vale, não por aquilo que é, por aquilo que tem ou por aquilo que faz, mas por aquilo que lhe é feito, antes e independentemente daquilo que deseja, pensa, projeta e realiza, e em que o seu ser é ser numa relação de amor incondicionada, que não é posta por ele, mas em que ele é posto. A verdadeira fraternidade ensina-nos que a nossa consciência não é a autoconsciência daquilo que fazemos, mas a hétero-consciência daquilo que nos é feito e que nós somos sempre chamados a reconhecer e a cantar com renovada alegria, como Maria: «O Todo-poderoso fez em mim grandes coisas» (Lucas 1,49).


O limiar do mistério em cada nascimento

5. Ó abismo da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! (Romanos 11,33). Ó abismo do amor de Deus! Caríssimos pais e mães, os filhos que gerais e que vedes nascer, são, antes de mais, vossos ou são de Deus? Dir-me-eis: este filho é nosso, fomos nós que o geramos, fui eu que o dei à luz, nasceu neste dia, tenho aqui a cédula de nascimento. E eu pergunto ainda: sim, mas porquê esse, e não outro? É aqui, amigos, que entra o para além da química e da biologia, entenda-se, o para além de nós. É aqui, amigos, que entramos no limiar do mistério, na beleza incandescente do santuário, onde o fogo arde por dentro e não por fora. É aqui que paramos ajoelhados e comovidos à beira do inefável e caímos nos braços da ternura de um amor maior, novo, paternal, maternal, que nenhuma pesquisa biológica ou química explicará jamais. Todo o nascimento traz consigo um imenso mistério. Sim, porquê este filho, e não outro? Porquê este, com esta maneira de ser, este boletim de saúde, este grau de inteligência, estas aptidões, esta sensibilidade própria? Sim, outra vez, porquê este filho, e não outro, com outra maneira de ser, outro boletim de saúde, outro grau de inteligência, outras aptidões? Fica patente e latente, evidente, que, para nascer um bebé, não basta gerá-lo e dá-lo à luz. Quando nasce um filho, é também Deus que bate à nossa porta, é também Deus que entra em nossa casa, é também Deus que se senta à nossa mesa, é também Deus que nos visita. Há outra paternidade, a de Deus, por detrás da nossa vulgar paternidade, participação da verdadeira paternidade de Deus. Na verdade, «toda a paternidade, como todo o dom perfeito, vêm do Alto, descem do Pai das Luzes» (Tiago 1,17; cf. Efésios 3,15).


Membros de uma nova família

6. Há, portanto, também uma nova familiaridade. A partir de Deus. Na verdade, no comportamento Misericordioso de Jesus transparece uma nova familiaridade, que assenta a sua fundação muito para além dos meros laços biológicos e anagráficos das nossas famílias. Prestemos atenção ao luminoso dizer de Jesus no caixilho literário de Marcos:
«E vem a mãe dele e os irmãos dele, e, ficando fora, enviaram quem o chamasse. E estava sentada à volta dele a multidão, quando lhe dizem: “Eis que a tua mãe e os teus irmãos e as tuas irmãs estão lá fora e procuram-te”. E respondendo-lhes, diz: “Quem é a minha mãe e os meus irmãos?”. E tendo olhado à volta, para os que estavam sentados em círculo ao seu redor, diz: “Eis a minha mãe e os meus irmãos. Na verdade, aquele que faz a vontade de Deus, este é meu irmão e irmã e mãe”» (Marcos 3,31-35).
Ensinamento espantoso de Jesus que põe em causa a validade de uma maternidade e fraternidade meramente biológicas, fundadas sobre os direitos do sangue [«a tua mãe e os teus irmãos e as tuas irmãs… procuram-te»], para afirmar uma nova familiaridade aberta pelo horizonte novo do éschaton, do último, do primeiro e último, do novíssimo: «aquele que faz a vontade de Deus, este é meu irmão e irmã e mãe». No novo horizonte da vontade do Pai, não se deixa de ser mãe, irmão ou irmã. Não são, porém, esses laços familiares que nos dão direito a amar e a ser amados, mas o termos sido encontrados pelo Amor, que agora somos chamados a testemunhar. «Vós sois testemunhas (mártyres) destas coisas», diz Jesus (Lucas 24,49). Sermos designados por Jesus testemunhas das coisas de Jesus é sermos chamados a envolver-nos de tal modo na história e na vida de Jesus, a ponto de a fazermos nossa, para a transmitir aos outros, não com discursos inflamados ou esgotados, mas com a vida! Sim, aquela história e aquela vida são a nossa história e a nossa vida. Sentir cada criança como filho, cada mulher como mãe e todo o semelhante como irmão ou irmã não é simples retórica, mas a transcrição verbal do novo real compreensível à luz do projeto Criador, Primeiro e Último, em que o mundo aparece como uma única casa e os seus habitantes como uma só família. Nascerá então o mais belo relato. Sim, o relato re-lata, isto é, põe em relação, une, reúne, enlaça, entrelaça. E re-lata, isto é, põe em relação, une, reúne, enlaça, entrelaça duplamente: primeiro, porque faz uma re-lação dos acontecimentos, unindo-os para formar um belo colar; segundo, porque põe em relação o narrador e o narratário. Sim, quando eu e tu e ele e ela, nós todos, relatarmos a mesma história, e não histórias diferentes, nesse dia luminoso e bendito começamos a nascer como irmãos, não pelo sangue, mas pela liberdade. Sim, só o relato nos pode aproximar tanto, fazendo-nos, não apenas estar juntos, mas nascer juntos, como irmãos. Portanto, irmãos e amigos, deixai que grite bem alto aos vossos ouvidos: mais amor, mais família, mais oração, mais missão, mais formação. Mais. Mais. Mais.


O sentido da vida recebida e dada

7. Na origem dos nossos termos «matrimónio» e «património» está o «dom» como «munus», como bem sublinha e explica o famoso linguista francês Émile Benveniste, seguido por Eugenia Scabini e Ondina Greco, no domínio da psicologia social. Munus faz parte de uma rede de conceitos relacionais, que obriga a uma «restituição». Quem não entra neste jogo do munus diz-se immunus, «imune». E voltam as perguntas contundentes: quem recebe a vida, como e a quem a restitui? Salta à vista que não podemos «restituir» a vida a quem no-la deu. Há, neste domínio, uma assimetria originária nas relações familiares. Verificada esta impossibilidade de «restituir» a vida a quem no-la deu, poderíamos pensar em «restituir» em termos análogos: então, o filho poderia, por exemplo, responder ao dom da vida recebida, tomando a seu cargo e cuidado os pais enfraquecidos e velhinhos. Mas este não é o único modo de «restituição» nem o mais significativo. O equivalente simbólico mais próximo é «restituir» em termos generativos (generativo e generoso têm a mesma etimologia), dando, por sua vez, a vida e assumindo a responsabilidade de pôr no mundo uma nova geração. Dar a vida e tomar a seu cuidado uma nova geração é mesmo o modo mais apropriado de «restituir» à geração precedente. Situação paradoxal: respondemos ao débito que nos liga à geração anterior com um crédito em relação à geração seguinte. E os avós têm muito a ganhar com os netos, e estes com aqueles. Todos sabemos. Da família humana à grande família de Deus, passando pela família religiosa. Também por isso, a Bíblia é um livro de nascimentos e de transmissão: da vida e da fé e da graça. Vamo-nos hoje apercebendo de que o mundo em que estamos tem muitas dificuldades em transmitir a vida e a fé e a graça, a cháris, o carisma, que envolve a nossa vida pessoal e da nossa família humana, mas também a vida da Igreja, família de Deus, e das diferentes famílias religiosas. Talvez por isso, nos voltemos tanto para trás, e se fale tanto em voltar às origens, refundar. Mas o caminho a empreender não passará mais por gerar novos filhos na vida e na fé e no carisma? Parece-me que é esta a tarefa que todos temos pela frente, em casa, na Igreja, família de Deus, e nas famílias religiosas.


Missão: «restituição» para a frente

8. Impõe-se, portanto, não a preservação, a conservação, a autoconservação, mas a missão, que é a verdadeira «restituição» a Deus e aos irmãos. Já atrás nos ocupámos a verificar, em termos familiares, a impossibilidade de «restituir» a vida a quem no-la deu. O Salmista também se pergunta no que a Deus diz respeito: «Como «restituirei» ao Senhor por todos os seus benefícios que Ele me deu?» (Salmo 116,12). Sim, como «restituirei» ao Senhor o amor que há em mim? Como «restituiremos» ao Senhor o amor que há em nós? O Salmista responde: «O cálice da salvação erguerei, e o Nome do Senhor invocarei. Os meus votos ao Senhor cumprirei, diante de todo o seu povo» (Salmo 116,13-14). Sim, o Salmista sabe bem que não pode «restituir» diretamente a Deus, mas sabe também que pode sempre agradecer a Deus (restituição análoga), e, passando de mão em mão, em fraterna comunhão, o cálice da salvação, anunciar a todos que Deus atua em favor do seu povo, faz em nós grandes coisas, sendo este anúncio ação de evangelização ou generosa «restituição» generativa. É assim que, de forma empenhada, generosa e apaixonada, como testemunha S. Paulo, se vão gerando (1 Coríntios 4,15; Filémon 10) e dando à luz novos filhos (Gálatas 4,19).

9. Amados irmãos e irmãs, não nos é permitido, nesta encruzilhada da história, ficar quietos, desanimados, tristes e calados. Ou simplesmente entretidos, ensonados e descomprometidos, como crianças sentadas nas praças, que não ouvem, não ligam, não respondem (Mateus 11,16-17; Lucas 7,31-32). Para esta tarefa imensa da transmissão da fé e do amor e da vida verdadeira, vida em grande, todos estamos convocados. Ninguém se pode excluir, ou ficar simplesmente a assistir. São sempre necessários e bem-vindos mais corações, mais mentes, mais entranhas, mais braços, mais mãos, mais pés, mais irmãos. Uma Igreja renovada multiplica as pessoas que realizam serviços e acrescenta os ministérios. A nossa vida humana e cristã tem de permanecer ligada à alta tensão da corrente do Amor que vem de Deus. E temos de ser testemunhas fortes e credíveis de tanto e tão grande Por isso e para isso, podemos aprender a rezar a vida com o orante do Salmo 78:
«As coisas que nós ouvimos e conhecemos,
o que nos contaram os nossos pais,
não o esconderemos aos seus filhos,
contá-lo-emos à geração seguinte:
os louvores do Senhor e o seu poder,
e as suas maravilhas que Ele fez.
Ele firmou o seu testemunho em Jacob,
e a sua instrução pôs em Israel.
E ordenou aos nossos pais,
que os dessem a conhecer aos seus filhos,
para que o saibam as gerações seguintes,
os filhos que iriam nascer. 
Que se levantem e os contem aos seus filhos,
para que ponham em Deus a sua confiança,
não se esqueçam das obras do Senhor,
e guardem os seus mandamentos» (Salmo 78,3-7).
Amados irmãos e irmãs, há coisas que não podemos mais dizer sentados, que é como quem diz, assim-assim, de qualquer maneira ou de uma maneira qualquer. O Amor de Deus, que enche a nossa vida, tem de ser dito com a vida levantada, com um dizer grande, transbordante, contagiante e transformante, com razão, emoção, afeto e paixão. Retomo o dizer do orante e transmissor da fé: «Que se levantem e os contem aos seus filhos» (Salmo 78,6). Ou, de outra maneira: «Uma geração enaltece à outra as tuas obras» (Salmo 145,4). Ou como Maria: «A minha alma engrandece o Senhor» (Lucas 1,47).


Todos-para-todos

10. Para esta tarefa imensa da transmissão da fé e do amor e da vida verdadeira, vida em grande, convoco todos os diocesanos da nossa Diocese de Lamego: sacerdotes, diáconos, consagrados, consagradas, fiéis leigos, pais, mães, avôs, avós, famílias, jovens, crianças, catequistas, acólitos, leitores, agentes envolvidos na pastoral, membros dos movimentos de apostolado. A todos peço a graça de promoverem mais encontros de oração, reflexão, formação, partilha e amizade. Mais. Mais. Mais. A todos peço a dádiva de uma mão de mais amor às famílias desconstruídas e a todos os irmãos e irmãs que experimentam dificuldades e tristezas. Mais. Mais. Mais. A todos peço que experimentemos a alegria de sairmos mais de nós ao encontro de todos, para juntos celebrarmos o grande amor que Deus tem por nós e sentirmos a beleza da sua família toda reunida. Que cada um de nós sinta como sua primeira riqueza e dignidade a de ser filho de Deus. E para todos imploro de Deus a sua bênção, e de Maria a sua proteção carinhosa e maternal.
Santa Maria de um amor maior,
do tamanho do Menino que levas ao colo,
diante de ti me ajoelho e esmolo
a graça de um lar unido ao teu redor. 
Protege, Senhora, as nossas famílias,
todos os casais, os filhos e os pais,
e enche de alegria, mais e mais e mais,
todos os seus dias, manhãs, tardes, noites e vigílias. 
Vela, Senhora, por cada criança,
por cada mãe, por cada pai, por cada irmão,
a todos os velhinhos, Senhora, dá a mão,
e deixa em cada rosto um afago de esperança.

Lamego, 27 de setembro de 2014, Dia da Igreja Diocesana

+ António, vosso bispo e irmão

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quinta-feira, 25 de setembro de 2014

DIOCESE DE LAMEGO | Dia da Igreja Diocesana | 27/09

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Lamego 2014: Carta Pastoral de D. António Couto

       No Encerramento do Ano da Fé, Dia da Igreja Diocesana de Lamego, Solenidade de Cristo Rei Senhor do Universo, no passado dia 24 de novembro de 2013, o nosso Bispo, D. António Couto, deu a conhecer a toda a Diocese a Sua CARTA PASTORAL para enquadrar o novo Ano Pastoral e o tema que o engloba: IDE E FAZEI DISCÍPULOS.
http://www.tbcparoquia.com/dlds/Carta_Pastoral2014_D.Antnio_J_R_Couto.pdf
        Inicia a mesma com uma citação da Constituição Dogmática, Lumen Gentium (9): «Aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo». Segue o enquadramento bíblico. Eis a página do Evangelho:
«Então os Onze Discípulos partiram para a Galileia, para o monte que lhes tinha ordenado Jesus. E vendo-o, adoraram-no; alguns deles, porém, duvidaram.
E aproximando-se, Jesus falou-lhes, dizendo: “Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Indo, pois, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a observar todas as coisas que vos ordenei. E eis que Eu convosco Sou todos os dias até ao fim do mundo”» (Mateus 28,16-20).
       A Carta sublinha prioridades, algumas delas constantes: primado da graça; vida de oração; proximidade; amor; Igreja como casa aberta a todos, dando também continuidade ao lema pastoral do ano anterior, "Vamos juntos construir a Casa da Fé e do Evangelho"; missão evangelizadora/missionária da Igreja; acolhimento do Evangelho com alegria, para o comunicar por palavras e com a vida; formação de cristãos conscientes e empenhados.
       O melhor mesmo é dedicar um tempo a ler, a reler, a meditar, a refletir e mastigar as palavras de D. António, para que depois se assume a beleza, a alegria e o compromisso de fidelidade a Jesus Cristo e ao Seu evangelho de perdão e de amor.

Para LER a CARTA PASTORAL:

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Tabuaço: Plano Pastoral Paroquial

       O Papa Bento XVI propõe a toda a Igreja a vivência do ANO DA FÉ, com início no dia 11 de outubro de 2012, 50.º aniversário do início do Concílio Vaticano II e 20.º aniversário da publicação do Catecismo da Igreja Católica, e com o seu termo no dia 24 de novembro de 2013, Solenidade de Cristo REI do Universo.
       Cada Diocese procurará responder ao desafio do Bento XVI, enquadrando o ANO da FÉ nos planos pastorais respetivos.
       A DIOCESE de LAMEGO, enquadra o Ano da Fé, a Nova Evangelização, sendo que o nosso Bispo é o respondável da Comissão Epsicopal da Nova Evangelização, partindo do projeto sinodal que a Conferência Episcopal preconiza: "Repensar juntos a Pastoral da Igreja em Portugal". Para este efeito D. António Couto publicou a Sua primeira CARTA PASTORAL, onde faz o enquadramento da proposta à Diocese: VAMOS JUNTOS CONSTRUIR A CASA DA FÉ E DO EVANGELHO.
“Convoco todos os Padres e toda a Diocese para abrirmos de par em par as portas da escuta qualificada da Palavra de Deus, da formação, da fração do pão, da comunhão e da oração. Escolas de fé, acolhimento, formação da fé, vivência e transmissão da fé constituem o grito que mais se levantou no chão eclesial aquando da auscultação das pessoas no processo sinodal «Repensar juntos a Pastoral da Igreja em Portugal» (n.º 8).
       Na paróquia Nossa Senhora da Conceição, acrescentamos uma nuance à proposa de D. António Couto, propondo a referência fundamental de Nossa Senhora, como Padroeira e guia e intercessora:

COM MARIA VAMOS JUNTOS CONSTRUIR A CASA DA FÉ E DO EVANGELHO

       Abaixo poderá fazer o download da calendarização das atividades pastorais da paróquia, na aberura para Diocese de Lamego e suas atividades.
 
Faça o donwload da calendarização pastoral paroquial: AQUI - FORMATO PDF
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