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sábado, 29 de maio de 2021

Samuel Lauras: FILHOS DA LUZ EM TEMPOS DE PROVA

DOM SAMUEL LAURAS (2020). Filhos da luz em tempos de prova. Reflexões de um monge para nos mantermos unidos na adversidade. Braga: Frente e Verso. 250 páginas.


Pelo título, sem mais, diríamos que foi escrito em tempo de pandemia e para ajudar a manter a esperança neste tempo de especial provação. Com efeito, foi escrito antes da pandemia, mas é claramente um livro para este tempo, de luzes e sombras. Todos temos as nossas. Mas importa caminharmos, juntos, apesar das nossas diferenças. É possível conciliar São Bento com São Francisco de Assis, como é possível acolher com o mesmo deferimento Bento de XVI e Francisco.
Dom Samuel Lauras é natural da França eem 1954. Na juventude andou afastado da fé e da Igreja. Em 1983, entrou na Abadia de Notre Dame de Sept-Fons, fundada em 1132, da Ordem Cisterciense da Estrita Observância, conhecida como "Trapista". Hoje é abade de Nový Dvur, uma filha de Sept-Fons fundada na República Checa em 2002.
Dom Samuel parte da constatação de que todos somos diferentes, mas todos igualmente, filhos de Deus. Sendo diferentes, podemos aqui e além, deixar vir ao de cima as nossas sombras e criar muros intransponíveis. O desafio, não é anular as diferenças, sejam culturais e religiosas, mas procurar pontos de contacto, e quando não é possível aproximação nas ideias, que haja aproximação na oração, ao mesmo Deus, mantendo-se aberta a porta do diálogo, numa atitude de respeito e acolhimento do outro. O outro tem as suas sombras... mas eu e tu também as temos.
Na contracapa: "Foi nesta escuridão iluminada pela Palavra de Deus, afetado pela ansiedade com o futuro, preocupado com a evolução da sociedade contemporânea, assustado com os dramas que debilitam a Igreja e desolado pelos conflitos que estão a alterar as nossas relações internas, e que estão presentes em mim, que decidi escrever este livro, para dar testemunho.
Dar testemunho de quê? De que é possível viver em Igreja, estar na sociedade, discordar e discutir sem destruir os vínculos que mantêm de pé a comunidade cristã, seja a comunidade dos amigos, dos religiosos, da paróquia, do movimento apostólico, da diocese, da Igreja universal...
É possível discutir sem deixar de ser filho da Luz. Dom Samuel Lauras, abade trapista, não poupa nas palavras, não deserta dos problemas, não esquece o bom humor e, a certa altura, deixa-nos um conselho: "Se não tivéssemos razões para discutir, como ocuparíamos os nossos dias? Talvez pudéssemos construir o futuro..."
É um livro que se lê com agrado, de fácil leitura, acessível, com provocações que nos fazem refletir, sem teias de aranha, partindo sempre da verdadeira Luz com a qual devemos inundar as nossas vidas, opções, caminhos, discussões, as nossas comunidades.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

São Cirilo, monge, e São Metódio, bispo

Nota biográfica:
       Cirilo, natural de Salónica, recebeu uma excelente formação em Constantinopla. Juntamente com seu irmão, Metódio, dirigiu-se para a Morávia, a pregar a fé católica. Ambos prepararam os textos litúrgicos em língua eslava, escritos com letras que depois se chamaram «cirílicas». Chamados a Roma, ali morreu Cirilo a 14 de Fevereiro de 869. Metódio foi então ordenado bispo e partiu para a Panónia onde exerceu intensa atividade evangelizadora. Teve muito que sofrer por causa de pessoas invejosas, mas contou sempre com o apoio dos Pontífices Romanos. Morreu no dia 6 de Abril de 885 em Velehrad (Morávia).

»» Para saber mais, consulte a biografia e as lições de Bento XVI: AQUI.
Oração de colecta:
       Senhor nosso Deus, que iluminastes os povos eslavos por meio dos santos irmãos Cirilo e Metódio, abri os nossos corações aos ensinamentos da vossa palavra e fazei de nós um povo unânime na confissão da verdadeira fé. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Da Vida de Constantino em língua eslava

Fazei crescer a vossa Igreja e reuni a todos na unidade

Constantino Cirilo, fatigado pelos muitos trabalhos, caiu doente; e quando havia já muitos dias que suportava a doença, teve em certa ocasião uma visão de Deus e começou a cantar assim: «O meu espírito alegrou-se e o meu coração exultou, quando me disseram: Vamos para a casa do nosso Deus».
Depois envergou trajes de cerimónia e permaneceu assim todo aquele dia, cheio de alegria e dizendo: «A partir de agora não sou servo nem do imperador, nem de homem algum na terra, mas unicamente de Deus Omnipotente. Eu não existia, mas agora existo e existirei para sempre. Amen». No dia seguinte, vestiu o santo hábito monástico e, juntando luz à luz, impôs-se o nome de Cirilo. E permaneceu assim cinquenta dias.
Ao chegar a hora de receber o repouso e de emigrar para as habitações eternas, ergueu as mãos para Deus e rezou, chorando e dizendo:
«Senhor meu Deus, que criastes todas as ordens de anjos e os espíritos incorpóreos, estendestes o céu e firmastes a terra e formastes do nada todas as coisas que existem, Vós que sempre atendeis aqueles que fazem a vossa vontade, Vos temem e observam os vossos preceitos, atendei a minha oração e conservai na fidelidade o vosso povo de quem me fizestes servo incompetente e indigno.
Livrai-o da malícia ímpia e pagã dos que blasfemam contra Vós; fazei crescer a vossa Igreja e reuni a todos na unidade. Ao povo escolhido tornai-o concorde na fé verdadeira e na recta confissão e inspirai aos seus corações a palavra da vossa doutrina: porque é dom vosso que nos tenhais escolhido para pregar o Evangelho do vosso Ungido, incitando-nos a praticar boas obras e a fazer o que é do vosso agrado. Aqueles que me destes, eu Vo-los devolvo, porque são vossos; governai-os com a vossa mão direita e protegei-os à sombra das vossas asas, para que todos louvem e glorifiquem o vosso nome, Pai e Filho e Espírito Santo. Amen».
Depois de ter beijado a todos com o ósculo santo, disse: «Bendito seja Deus, que não nos entregou aos dentes dos nossos adversários, mas rompeu as suas redes e nos libertou do mal que tramavam contra nós». E assim adormeceu no Senhor, com a idade de quarenta e dois anos.
O Papa ordenou que todos os gregos que estavam em Roma, juntamente com os romanos, se reunissem, acendessem velas e cantassem as suas exéquias, e que lhe fossem dadas honras funerárias não inferiores às que seriam tributadas ao próprio Papa; e assim se fez.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Santo Antão, Abade

Nota biográfica:
       Este insigne pai do monaquismo nasceu no Egipto cerca do ano 250. Depois da morte de seus pais, distribuiu os seus haveres pelos pobres e retirou-se para o deserto, onde começou a sua vida de penitente. Teve numerosos discípulos e trabalhou em defesa da Igreja, animando os confessores na perseguição de Diocleciano e apoiando S. Atanásio na luta contra os arianos. Morreu no ano 356.
Oração de Colecta:
       Senhor nosso Deus, que destes a Santo Antão a graça de viver uma vida heróica na solidão do deserto, concedei-nos, por sua intercessão, que, renunciando a nós mesmos, Vos amemos sempre sobre todas as coisas. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Da Vida de Santo Antão, escrita por Santo Atanásio, bispo

A vocação de Santo Antão

Depois da morte de seus pais, tendo ficado com uma irmã ainda pequena, Antão, que tinha uns dezoito ou vinte anos, tomou conta da casa e da irmã.
Não tinham passado ainda seis meses do falecimento de seus pais, quando um dia em que se dirigia, segundo o seu costume, para a igreja, ia refletindo sobre a razão que levara os Apóstolos a abandonar tudo para seguir o Salvador e por que motivo também aqueles homens de que se fala nos Atos dos Apóstolos vendiam tudo o que possuíam e depunham o preço aos pés dos Apóstolos para que o distribuíssem aos pobres; e ia pensando na grande e maravilhosa esperança que lhes estava reservada nos Céus. Meditando nestas coisas, entrou na igreja mesmo no momento em que se lia o Evangelho e ouviu o que o Senhor disse ao jovem rico: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres. Depois vem e segue-me, e terás um tesouro nos Céus.
Então, considerando que a recordação dos santos exemplos lhe tinha sido enviada por Deus e que aquelas palavras eram dirigidas pessoalmente para ele, logo que voltou da Igreja, Antão distribuiu pelos habitantes da região as propriedades que herdara da família (possuía trezentos campos muito férteis e amenos), para que aquelas não fossem motivo de inquietação para si e para a sua irmã. Vendeu também todos os móveis e distribuiu pelos pobres a grande quantia que assim obtivera, conservando apenas uma pequena parte por causa da irmã.
Tendo entrado outra vez na igreja, ouviu o Senhor dizer no Evangelho: Não vos inquieteis com o dia de amanhã. Não conseguiu permanecer ali mais tempo. Saiu, e até aquele pouco que guardara distribuiu pelos pobres. Confiou a irmã a uma comunidade de virgens consagradas que conhecia e considerava fiéis, para que fosse educada no Pártenon. Quanto a ele, livre já de cuidados alheios, entregou-se a uma vida de ascese e rigorosa mortificação nas imediações da sua casa.
Trabalhava com as suas mãos, pois ouvira a palavra da Escritura: Quem não quiser trabalhar não coma. Do fruto do seu trabalho destinava uma parte para comprar o pão que comia; o resto distribuía-o pelos pobres.
Rezava constantemente, pois aprendera que é preciso rezar interiormente sem cessar; era tão atento à leitura que nada lhe esquecia do que tinha lido na Escritura: tudo retinha de tal maneira que a sua memória acabou por substituir o livro.
Todos os habitantes do lugar e os homens honrados que tratavam com ele, vendo um homem assim, chamavam-lhe amigo de Deus; e uns amavam-no como filho, outros como irmão.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

BENTO XVI - Santos Cirilo e Metódio

Queridos irmãos e irmãs!
        Gostaria hoje de falar dos Santos Cirilo e Metódio, irmãos no sangue e na fé, chamados apóstolos dos eslavos. Cirilo nasceu em Tessalonica em 826/827, filho do magistrado imperial Leão: era o mais jovem de sete filhos. Desde criança aprendeu a língua eslava. Com quatorze anos foi enviado para Constantinopla a fim de ser ali educado e foi companheiro do jovem imperador Miguel III. Naqueles anos foi introduzido nas diversas matérias universitárias, entre as quais a dialéctica, tendo como mestre Fócio. Depois de ter renunciado a um brilhante matrimónio, decidiu receber as ordens sagradas e tornou-se "bibliotecário" no Patriarcado. Pouco depois, desejando retirar-se em solidão, foi esconder-se num mosteiro, mas depressa foi descoberto e foi-lhe confiado o ensino das ciências sagradas e profanas, função que desempenhou tão bem que lhe foi atribuído o apelativo de "Filósofo". Entretanto, o irmão Miguel (que nasceu por volta de 815), depois de uma carreira administrativa na Macedónia, por volta do ano 850 abandonou o mundo e retirou-se à vida monástica no monte Olimpo na Bitínia, onde recebeu o nome de Metódio (o nome monástico devia começar com a mesma letra do nome de baptismo) e tornou-se hegúmeno do mosteiro de Polychron.
       Atraído pelo exemplo do irmão, também Cirilo decidiu deixar o ensino e foi para o monte Olimpo a fim de meditar e rezar. Contudo, alguns anos mais tarde (aprox. 861) o governo imperial encarregou-o de uma missão junto dos Khazares do Mar de Azov, os quais pediam que lhes fosse enviado um letrado que soubesse discutir com os judeus e com os sarracenos. Cirilo, acompanhado pelo irmão Metódio, esteve por muito tempo na Crimeia, onde aprendeu o hebraico. Ali procurou também o corpo do Papa Clemente I, que ali tinha estado exilado. Encontrou o seu túmulo e, quando retomou com o irmão o caminho do regresso, levou consigo as preciosas relíquias. Tendo chegado a Constantinopla, os dois irmãos foram enviados à Morávia ao imperador Miguel III, ao qual o príncipe morávio Ratislau tinha feito um pedido específico: "O nosso povo – dissera-lhe – desde quando rejeitou o paganismo, observa a lei cristã; mas não temos um mestre que seja capaz de nos explicar na nossa língua a verdadeira fé". A missão teve depressa um sucesso inaudito. Traduzindo a liturgia na língua eslava, os dois irmãos conquistaram uma grande simpatia da parte do povo.
       Mas isto suscitou a hostilidade em relação a eles da parte do clero franco, que tinha chegado precedentemente à Morávia e considerava o território pertencente à própria jurisdição eclesial. Para se justificar, em 867 os dois irmãos vieram a Roma. Durante a viagem pararam em Veneza, onde teve lugar um aceso debate com os defensores da chamada "heresia trilíngue": estes consideravam que houvesse só três línguas nas quais se podia licitamente louvar a Deus: a hebraica, a grega e a latina. Obviamente, os dois irmãos opuseram-se com vigor a esta posição. Em Roma Cirilo e Metódio foram recebidos pelo Papa Adriano II, que foi ao encontro deles em procissão para receber dignamente as relíquias de São Clemente. O Papa tinha compreendido também a grande importância da sua missão excepcional. De facto, desde meados do primeiro milénio os eslavos tinham-se instalado em grande número naqueles territórios situados entre as duas partes do Império Romano, a oriental e a ocidental, entre os quais já havia tensões. O Papa intuiu que os povos eslavos teriam podido desempenhar um papel de ponte, contribuindo assim para conservar a união entre os cristãos das duas partes do Império. Portanto, não hesitou em aprovar a missão dos dois Irmãos na Grande Morávia, aceitando e aprovando o uso da língua eslava na liturgia. Os livros eslavos foram colocados no altar de Santa Maria de Phatmé (Santa Maria Maior) e a liturgia em língua eslava foi celebrada nas Basílicas de São Pedro, de Santo André e de São Paulo.
        Infelizmente Cirilo adoeceu de modo grave em Roma. Sentindo aproximar-se a morte, quis consagrar-se totalmente a Deus como monge num dos mosteiros gregos da Cidade (provavelmente em Santa Praxedes) e tomou o nome monástico de Cirilo (o seu nome de baptismo era Constantino). Depois pediu com insistência ao irmão Metódio, que entretanto tinha sido consagrado Bispo, que não abandonasse a missão na Morávia e que voltasse entre aquelas populações. Dirigiu-se a Deus com esta invocação: "Senhor, meu Deus..., atende o meu pedido e faz com que o rebanho que me tinhas confiado se mantenha fiel a ti... Liberta-o da heresia das três línguas, reúne todos na unidade e faz com que o povo que escolheste seja concorde na verdadeira fé e na confissão recta". Faleceu a 14 de Fevereiro de 869.
       Fiel ao compromisso assumido com o irmão, no ano seguinte, 870, Metódio regressou à Morávia e à Panónia (hoje Hungria), onde encontrou de novo a violenta hostilidade dos missionários francos que o aprisionaram. Não desanimou e quando, em 873, foi libertado empenhou-se activamente na organização da Igreja, ocupando-se da formação de um grupo de discípulos. Foi por mérito destes discípulos que pôde ser superada a crise que se desencadeou depois da morte de Metódio a 6 de Abril de 885: perseguidos e postos na prisão, alguns destes discípulos foram vendidos como escravos e levados para Veneza, onde foram resgatados por um funcionário constantinopolitano, que lhes concedeu voltar aos países dos eslavos balcânicos. Acolhidos na Bulgária, puderam continuar a missão iniciada por Metódio, difundindo o Evangelho na "terra da Rus'". Deus, na sua misteriosa providência serviu-se assim da perseguição para salvar a obra dos santos Irmãos. Dela permanece também a documentação literária. É suficiente pensar em obras como o Evangeliário (perícopes litúrgicas do NovoTestamento), o Saltério,vários textos litúrgicos em língua eslava, nos quais trabalharam os dois Irmãos. Depois da morte de Cirilo, deve-se a Metódio e aos seus discípulos, entre outros, a tradução de toda a Sagrada Escritura, o Nomocânone e o Livro dos Padres.
       Querendo agora resumir o perfil espiritual dos dois Irmãos, deve-se registar antes de tudo a paixão com que Cirilo se aproximou dos escritos de São Gregório Nazianzeno, aprendendo dele o valor da língua na transmissão da Revelação. São Gregório tinha expresso o desejo de que Cristo falasse por meio dele: "Sou servo do Verbo, por isso me ponho ao serviço da Palavra". Querendo imitar Gregório neste serviço, Cirilo pediu a Cristo que falasse em eslavo através dele. E introduz a sua obra de tradução com a invocação solene: "Ouvi, vós todos, povos eslavos, ouvi a Palavra que vem de Deus, a Palavra que alimenta as almas, a Palavra que conduz ao conhecimento de Deus". Na realidade, já alguns anos antes que o príncipe da Morávia viesse pedir ao imperador Miguel III o envio de missionários à sua terra, parece que Cirilo e o irmão Metódio, rodeados por um grupo de discípulos, estavam a trabalhar no projecto de recolher dogmas cristãos em livros escritos em língua eslava. Surgiu então claramente a exigência de novos sinais gráficos, mais adequados à língua falada: nasceu assim o alfabeto glagolítico que, modificado sucessivamente, foi depois designado com o nome de "cirílico" em honra do seu inspirador. Foi um acontecimento decisivo para o desenvolvimento da civilização eslava em geral. Cirilo e Metódio estavam convencidos de que cada um dos povos não pudesse considerar que recebeu plenamente a Revelação enquanto não a tivesse ouvido na própria língua e lida nos caracteres próprios do seu alfabeto.
       Atribui-se a Metódio o mérito de ter feito com que a obra empreendida com o irmão não fosse interrompida bruscamente. Enquanto Cirilo, o "Filósofo", era votado à contemplação, ele era mais propenso à vida activa. Graças a isto pôde lançar as bases da sucessiva afirmação daquela à qual poderíamos chamar a "ideia cirilo-metodiana": ela acompanhou nos diversos períodos históricos os povos eslavos, favorecendo o desenvolvimento cultural, nacional e religioso. Era quanto já reconhecia o Papa Pio XI com a Carta apostólica Quod Sanctum Cyrillum, na qual qualificava os dois Irmãos: "Filhos do Oriente, bizantinos por pátria, gregos por origem, romanos por missão, eslavos pelos frutos apostólicos" (AAS 19 [1927] 93-96). O papel histórico por eles desempenhado foi mais oficialmente proclamado pelo Papa João Paulo II que, com a Carta apostólica Egregiae virtutis viri, os declarou co-Padroeiros da Europa juntamente com São Bento (AAS 73 [1981] 258-262). De facto, Cirilo e Metódio constituem um exemplo clássico do que hoje se indica com a palavra "inculturação": Cada povo deve inserir na própria cultura a mensagem revelada e expressar a sua verdade salvífica com a linguagem que lhe é própria. Isto supõe um trabalho de "tradução" muito empenhativo, porque exige a identificação de palavras adequadas para repropor, sem a atraiçoar, a riqueza da Palavra revelada. Disto os dois santos Irmãos deixaram um testemunho muito significativo, para o qual a Igreja olha também hoje para dele obter inspiração e orientação.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

São Bernardo

O santo de hoje nasceu no ano de 1605 em Corleone, Sicília, na Itália. Como é belo poder perceber o testemunho de hoje! Como a misericórdia de Deus fez maravilhas a partir do arrependimento!

São Bernado foi crescendo numa vida longe do relacionamento com Deus e com a Igreja. Logo, distante de si e do amor aos irmãos, o orgulho foi tomando conta do seu coração. Então, decidiu entrar para a vida militar; não para servir a sociedade, mas para dominá-la. De fato, ele estava longe de Deus. Resultado: numa das muitas discussões que viraram briga, ele acabou num duelo, ferindo de morte um companheiro seu da vida militar. Foi neste momento trágico de sua história que ele abriu o coração para Deus, pois sua consciência foi pesando. Embora ele tenha fugido e recorrido a um chamado “direito de asilo”, não foi preso, mas estava preso a uma vida de pecado. Quem poderia resgatá-lo? Nosso Senhor Jesus Cristo, o Verbo encarnado que veio nos assumir na nossa fragilidade e nos revelar este amor que redime, que salva e é a nossa esperança.

Assim, arrependeu-se e começou a busca de uma vida em Deus, uma vida de Igreja, sacramental. Discerniu um chamado à vida religiosa, buscou a família franciscana e ali tornou-se irmão religioso, fiel às regras. De fato, se antes expressava arrogância, agora comunicava paz, penitência, luta contra o pecado.

Ele foi se santificando também no serviço ao próximo. "Santidade sem serviço aos outros pode ser apenas um ideal, mas, no concreto, esta luta, este bom combate é para sermos melhores em Deus, melhores uns para os outros".

Religioso, capuchinho, modelo de vida na pobreza, na castidade e na obediência. Este santo do século XVII nos convida, neste novo milênio, a sermos sinais no poder que a misericórdia divina tem de, com a nossa ajuda e nosso sim, fazer-nos santos.

São Bernardo, rogai por nós!
Fonte:  Canção Nova

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O menino que dava o seu pão ao Menino Jesus

Vivia na cidade de Veneza um homem muito rico. Sua grande fortuna lhe permitia uma vida de luxo e comodidades, mas ele estava entristecido, sem poder desfrutar nada, pois todos os seus filhos morriam.

Tinha o coração triste, e nada o podia consolar. Com satisfação trocaria todas as suas riquezas pelos filhos, embora ficasse na miséria, mas com eles.

Um único filho pequeno lhe restava. Amedrontado com a idéia de perder também aquele, confiou-o ao abade de um mosteiro, convencido de que só a intervenção divina poderia conservar-lhe a vida.

O menino cresceu no mosteiro, em meio à dedicação de todos os monges, que gostavam dele e o atendiam. Sempre alegre, percorria os claustros ou brincava nos jardins, onde admirava as flores ou comia os frutos que colhia. Ele era o único menino ali.

Um dia, enquanto tomava sua merenda, entrou pela primeira vez na igreja, impressionando-se com a suntuosidade. Ficou admirando com grande curiosidade a imagem da Virgem, que tinha nos braços o Menino Jesus, e alegrou-se por encontrar ali outro menino como ele.

Parecendo-lhe que o menino devia também ter fome, sem ter o que comer, subiu ao altar e ofereceu sua merenda ao Menino Jesus.

Durante muitos dias continuou levando o seu pão, do qual separava a melhor parte para dá-la ao Menino Jesus. Ao cabo de um mês, o Filho da Virgem lhe disse:

— Não comerei mais do teu pão, se não quiseres ir comer comigo e com meu Pai celestial.

O menino ficou muito preocupado com essas palavras, e sem saber o que fazer para ir comer com o Menino Jesus. Não havia dito nada aos monges, e resolveu contar ao abade o que tinha feito nos dias precedentes, e que o Menino da Virgem agora se recusava a comer, até que ele o acompanhasse ao Céu.

O abade pediu-lhe que o deixasse ir em sua companhia, quando fosse atender ao convite celestial, e que fizesse esse pedido ao Menino seu amigo.

Naquela mesma tarde reuniu todos os monges e pediu que escolhessem seu sucessor, porque deixaria o cargo. Todos estranharam aquela decisão e a lamentaram, pois ele desempenhava muito bem a função, e todos o amavam. Mas não se atreveram a perguntar-lhe a causa.

À noite todos se recolheram, como de costume, e ao clarear o dia o abade e o menino se sentiram doentes. A doença se agravou, o médico foi chamado e diagnosticou em ambos a mesma doença, que era grave.

No mesmo dia morreram, com um sorriso nos lábios e banhados numa luz celestial, declarando aos monges que atendiam ao chamado para o banquete divino.

(Fonte: V. Garcia de Diego, "Antología de Leyendas de la Literatura Universal - Labor, Madrid, 1953)