A terceira Carta Encíclica de Bento XVI empresta o título a este blogue. A Caridade na Verdade. Agora permanecem a fé, a esperança e a caridade, mas só esta entra na eternidade com Deus. Espaço pastoral de Tabuaço, Távora, Pinheiros e Carrazedo, de portas abertas para a Igreja e para o mundo...
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sexta-feira, 30 de dezembro de 2022
quarta-feira, 29 de dezembro de 2021
sábado, 30 de dezembro de 2017
sábado, 31 de dezembro de 2016
Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus - 2017
1 – Cada novo ano civil se inicia sob o patrocínio de Maria, Mãe de Deus. Renovamos a esperança num mundo em que (re)nasça e cresça a paz e a alegria, a luz e a justiça e a ternura da Virgem Mãe.
A vida de Jesus é envolvida pela docilidade e delicadeza, pela inclusão e pelo cuidado aos mais frágeis. Como lembra São Pedro, o Senhor Jesus passou fazendo o bem, sem fazer aceção de pessoas. Por certo não será difícil encontrar a doçura, a afetividade, a delicadeza em Maria e em toda a sagrada Família. A entreajuda nas tarefas de casa e nos compromissos sociais, a participação na vida da comunidade, os tempos de festa e de alegria, os momentos de dor, de perda e de luto, as grandes comemorações comunitárias e o ritmo semanal que culmina na reunião familiar, na refeição ritual, na ida à Sinagoga para agradecer a vida, para invocar as bênçãos de Deus para a família, para a aldeia e para o povo, para o trabalho e para os animais, que garantirão parte essencial da alimentação, para recordar a história e a aliança de Deus com o Seu povo e a promessa de novos tempos de prosperidade e de bênção.
Pelo fruto se vê a árvore. E os frutos que Jesus vive e partilha clarificam e testemunham a vivência na Sua família humana. Em tempos difíceis, sob o domínio do império romano, as famílias e as comunidades apoiam-se mutuamente para sobreviverem. A elevada carga de impostos que têm de pagar às autoridades dificultam a vida mas fortalecem a união. Seguindo a Lei do Senhor, a atenção aos mais pobres, provendo agasalho, alimento e abrigo. Os dias de festa são para todos. Quem pode mais, ajuda quem se encontra em situação periclitante. Os estrangeiros e pedintes são acarinhados, lembrando-se que também foram estrangeiros. Esse auxílio agrada ao Senhor.
2 – No Principezinho, o narrador inicia a sua história com um desenho: uma jiboia a digerir um elefante. Como os adultos não percebem o desenho, faz um segundo, colocando os contornos do elefante dentro da jiboia. Tinha então seis anos de idade e mostra o desenho 1 e depois o 2 para meter medo, mas para quem vê não passa de um chapéu. Dizem-lhe que deixe de brincar e se dedique à história, à geografia, à matemática e à gramática. Só mais tarde, muito mais tarde, já aviador, perdido no deserto do Saara, alguém, o pequeno Príncipe, percebe espontaneamente o seu desenho: uma jiboia a digerir um elefante! Afinal, as pessoas adultas são esquisitas, andam de um lado para o outro e nem sabem o que procuram!
«Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado…» (Lc 10, 21).
Só os pequeninos, os pobres, os simples, os humildes de coração compreendem os mistérios de Deus e, quando não compreendem, confiam. Não admira, portanto, que sejam os pastores os primeiros a escutarem a luz e a voz que vem das alturas e a compreenderem que Aquele Menino é uma bênção de Deus dado à humanidade.
Os pastores são gente simples, pobre, humilde! Aproximam-se rapidamente de Maria e de José, veem o Menino deitado na manjedoura e extravasam de alegria, relatando tudo o que ouviram acerca d'Aquele Menino. Todos ficam maravilhados. Têm o encanto do encontro e a alegria da partilha. Há de ser assim o nosso encontro com Jesus, contando-Lhe a nossa vida e confiando-Lhe os nossos anseios e preocupações, os nossos sonhos e projetos. Em simultâneo, atraiamos outros com o nosso entusiasmo em falar de Jesus, em viver perto de Jesus, em transparecer Jesus. Sempre que isso acontecer connosco, outros hão de escutar e hão de aproximar-se, farão a experiência do encontro e alegrar-se-ão a partilhar a boa Nova de Jesus.
Sublinha-se, neste episódio, a importância da dimensão missionária. Os pastores escutam os Anjos. Diante de Jesus, Maria e José, dizem as razões da sua alegria. No regresso a suas casas continuam a anunciar Jesus e o que Deus fez a favor de todo o povo.
3 – «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38) «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da sua serva...» (Lc 1, 46-55). As palavras de Maria sublinham a humildade com que acolhe e vive a Sua vocação de Se tornar a Mãe do Salvador. Como sublinhava o então Cardeal Ratzinger / Bento XVI, Maria engrandece o Senhor, não que Deus possa ser engrandecido, mas porque Maria, na Sua humildade e transparência, permite que a grandeza de Deus Se torne manifesta e visível para o mundo. É a Sua missão. Há de ser também a nossa: engrandecermos, com humildade, nas palavras e nos silêncios, nos gestos e nas obras, a presença de Deus, para que Ele, em nós e através de nós, continue a operar maravilhas.
Maria é a Aurora da Salvação, a Estrela da Manhã, é Mãe de Deus e nossa Mãe, é Mãe da Igreja. É o primeiro sacrário da história, guarda em Si, no Seu ventre e no Seu coração, Aquele que há de ser para todos salvação e luz. É discípula e missionária da alegria, que comunica a Isabel, aquando da visitação, e que presencia no nascimento de Jesus e na visita dos Pastores e, mais tarde, dos Magos vindos do Oriente, vindos de toda a parte. Por vezes as palavras traduzem a alegria, o espanto, a admiração. Os pastores não disfarçam a a alegria deste encontro e têm urgência em comunicar tudo o que ouviram acerca deste Menino. E continuam pelo tempo fora a anunciar as palavras dos Anjos e a agradável surpresa do encontro com a Sagrada Família de Maria, José e Jesus.
Maria deixa que as palavras saltem do coração, quando se encontra com Isabel. Hoje mantém-se atenta, a escutar com o coração, a meditar nas palavras proferidas pelos pastores. «Maria conservava todos estes acontecimentos, meditando-os em seu coração». Como reiteradamente tem salientado o nosso Bispo, D. António Couto, Maria não apenas escuta mas compõe as palavras e os acontecimentos que lhe chegam ao coração. É uma melodia nova que está a manifestar-Se ao mundo.
4 – A chegada do Deus-Menino, Deus connosco, Jesus (= Aquele que salva), é a maior das bênçãos para a humanidade tantas vezes perdida em confusões e em conflitos, em que pessoas e povos se afirmam pela força. O primeiro dia do ano é também Dia Mundial da Paz. O Papa Francisco, reconhecendo que vivemos num mundo dilacerado pela violência, pela guerra «aos pedaços», terrorismo, criminalidade, ataques e abusos contra os migrantes e refugiados, tráfico humano, devastação ambiental, desafia: «Sejam a caridade e a não-violência a guiar o modo como nos tratamos uns aos outros nas relações interpessoais, sociais e internacionais… Desde o nível local e diário até ao nível da ordem mundial, possa a não-violência tornar-se o estilo caraterístico das nossas decisões, dos nossos relacionamentos, das nossas ações, da política em todas as suas formas».
Na primeira leitura, Deus convoca Moisés para comunicar a bênção a todo o povo. Bênção é a mais bela oração que podemos proferir, pois as palavras comprometem a vida. Tornamo-nos fiadores do bem que professamos, pois o bem dito exige o bem a ser feito. "O Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja favorável. O Senhor volte para ti os seus olhos e te conceda a paz".
Se, com verdade, invocamos a bênção de Deus para nós, então ficamos comprometidos na partilha dessa bênção. Deus não abençoa sob reservas ou condições, com aceção de pessoas, mas abençoa a humanidade inteira. O Antigo Testamento deixa vir ao de cima este compromisso universal. Deus abençoa Abraão para que nele sejam abençoados os povos de toda a terra. Como recorda o velho Simeão, na apresentação de Jesus no Templo: os «meus olhos viram a Salvação que ofereceste a todos os povos, Luz para se revelar às nações» (Lc 2, 30-32).
5 – Chegada a plenitude do tempo, Deus dá-nos o Seu Filho muito amado, para nos resgatar do pecado e da morte, das trevas e da escravidão da Lei. Faz-Se lei para nos tornar filhos adotivos, como sublinha São Paulo, e assim também nós, libertos das cadeias da injustiça e do mal, possamos trabalhar por um mundo mais humano e fraterno, mais pacífico e solidário, procurando que todos se sintam em casa, em segurança e alegria, confiantes no futuro e sobretudo confiando nos outros, que acolhemos como presença de Deus.
Será um bom propósito para iniciar e viver este novo ano. Maria acompanha-nos, estimulando-nos a seguir Jesus, a acolher e amar Jesus, a multiplicarmos a graça que Deus nos dá em abundância, ou, como Ela, tornar-nos de tal modo transparentes que as maravilhas de Deus sejam visíveis em nós e em tudo o que façamos. A oração será o ponto de partida e o ambiente para vivermos, como Maria, ao jeito de Jesus. "Senhor nosso Deus, que, pela virgindade fecunda de Maria Santíssima, destes aos homens a salvação eterna, fazei-nos sentir a intercessão daquela que nos trouxe o Autor da vida, Jesus Cristo, vosso filho".
Se nos predispomos a rezar, predispomo-nos a satisfazer em palavras e obras a vontade de Deus. Só assim a nossa oração é autêntica. Não pedimos a Deus para cumprir a nossa vontade, pedimos que nos ajude a compreender e a realizar a Sua vontade.
"Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção, resplandeça sobre nós a luz do seu rosto… Alegrem-se e exultem as nações, porque julgais os povos com justiça... Deus nos dê a sua bênção e chegue o seu temor aos confins da terra" (salmo).
Pe. Manuel Gonçalves
quinta-feira, 31 de dezembro de 2015
Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus - 01.01.2016
1 – Iniciamos cada ano sob o olhar materno da Virgem Mãe de Deus e nossa Mãe, para que em todo o ano Ela seja a Estrela da Manhã que nos guia para Jesus e nos conduz para dentro do Presépio, dando-nos Jesus, para O adorarmos, contemplando-O, enchendo-nos da Sua alegria e da Sua paz. Exige-se-nos o mesmo que a Maria: acolhê-l'O, adorá-l'O e dando-O aos outros.
Um Menino nos foi dado, um Deus no meio de nós. Em Jesus, Deus entranha-Se na história a partir da própria história, encarnando, fazendo-Se Um de nós. Sem anúncios espetaculares ou publicidade enganosa, sem reportagens ou parangonas. Simplesmente nascendo numa família o mais normal possível, de Nazaré, e como qualquer família, com os seus contratempos, desde logo o nascimento em Belém de Judá.
Há sinais que muitos veem, mas que poucos valorizam e dão crédito. Por regra, só quem tem um coração pobre, grande, disponível para os outros, vazio das coisas e sem orgulhos vãos, é que consegue ler os sinais que surgem na sua vida e à sua volta. Os que estão cheios de si raramente veem o que é verdadeiramente importante, o que conta, o que transforma a vida. Cheios de si, só eles contam, ninguém mais importa, nada têm a aprender ou a descobrir, a importância está neles, os outros são acessórios que embelezam as suas vitórias ou escadas que se permitem pisar para subir mais e mais.
Como Maria a caminho da Montanha, apressadamente, assim os pastores ao encontro do Menino, apressadamente. Não há tempo a perder. Tudo é importante. Mas há acontecimentos que são decisivos e há pessoas – que nos trazem a salvação – que precisam de toda a nossa atenção. Os pastores deixam os rebanhos, partem por que nada têm de mais importante que a adoração de Jesus, o Menino que vem da parte de Deus. Diante de Jesus, tudo é relativo, secundário, dispensável. Só Jesus não se pode dispensar. Recordamos a liturgia da Festa da Sagrada Família: quando Jesus não está no MEIO, não está connosco, então há que deixar tudo, tudo, absolutamente tudo, para ir ao Seu encontro. Sem Ele de pouco vale o que temos ou o que somos. Com Ele, até as provações têm sentido e poderão ser redentoras.
2 – Chegados a Belém, encontram Maria, José e o Menino deitado na manjedoura, conforme o Anjo do Senhor lhes revelara. E de novo não há tempo a perder, não importa a pressa que traziam, nem o que deixaram lá fora, estão em casa pois estão junto de Jesus, encontraram uma RAZÃO maior que iluminará as suas vidas por completo.
Que importa o mundo inteiro se tenho o mundo ao pé de mim, se estou em casa, se sou iluminado pela maior luz, se diante dos olhos e do coração tenho o essencial para ser feliz?
Madre Teresa de Calcutá lembrava muitas vezes que o fundamental é dar atenção e cuidar da pessoa que tenho à minha frente. Se tenho uma pessoa a quem valer e não valho por estar preocupado com a doença, o sofrimento e a miséria de milhares de pessoas, de pouco me adianta fazer e ter bons propósitos. Há que começar por algum lado, melhor, por alguém. Quantas vezes estamos a falar com alguém e não escutamos por que estamos centrados noutras coisas, noutros mundos, em outras pessoas! Mas então e esta pessoa que está diante de mim? Não me merecerá toda a atenção do mundo? Há que acudir a Jesus nesta pessoa concreta.
Os pastores dão-nos uma lição importante: ir ao encontro de Jesus e colocar-nos por inteiro diante d'Ele, com o que somos, com as nossas dúvidas e incertezas, com os nossos sonhos e projetos. Levamos-lhe o nosso dia-a-dia. Quando chegaram, os Pastores contaram tudo o que ouviram do Anjo.
E como será o regresso? Se Ele nos tocou a alma, regressamos mudados para sempre. "Os pastores regressaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes tinha sido anunciado".
3 – Capacidade de admiração dos ouvintes. De cada um de nós. Mal é quando a vida já não tem nada para nos dar, nada que nos faça sorrir, nada a apreciar. Todos ficam admirados, mas obviamente Maria ocupa um lugar especial. As mães bebem, mastigam, cada palavra que se diz dos filhos. "Maria conservava todos estes acontecimentos, meditando-os em seu coração".
Silêncio que acolhe, guarda e medita. Maria também nos desafia pelo Seu silêncio da oração e da adoração. É a primeira a admirar Jesus, a pegar-lhe ao colo, a olhar para as suas feições, a tatear-lhe o corpo, cada pedaço de pele, a aconchegá-l'O contra o seu peito, embrulhando-O para o manter confortável, procurando-lhe o olhar.
Quando os Pastores os encontram, Jesus está na manjedoura. É possível que Maria O tivesse em seus braços, mas coloca-O para que os pastores O possam adorar e pegar-lhe sem se sentirem retraídos. Os Pastores aproximam-se, presenciam o que lhes disseram: o Messias nasceu e está diante dos seus olhos. Como os habitantes da Samaria, quando a Samaritana lhes falou de Jesus: acreditamos não pelo que disseste mas pelo que vimos e Lhe ouvimos. Os pastores confiaram nas palavras do Anjo e partiram, mas fazem a experiência de encontro com Jesus.
E com os pastores, outras pessoas se aproximam do Presépio. Vamos também nós a Belém adorar o Deus Menino. Maria, que lá O tem, estendê-l'O-á para que possamos pegar-lhe, deixando que Ele toque a nossa mão, o nosso coração, e nos envie, como aos pastores, em missão.
4 – Para o cristão, o Batismo marca o arranque de uma vida que se quer de identificação ao autor do Batismo, Jesus Cristo. Um dos primeiros gestos do ritual do Batismo é a escolha do nome do batizando. A primeira missão de Adão e Eva é a de dar nome às coisas e aos animais, para que dominem sobre eles, num domínio que é serviço e cuidado, responsabilidade por aqueles a quem se dá um nome. Quando queremos bem a alguém tratamo-lo pelo nome, num tom e num timbre que ressoe no coração. É das melhores músicas para os nossos ouvidos: o nosso nome dito e ouvido com alegria e amizade, com ternura e afabilidade.
"Quando se completaram os oito dias para o Menino ser circuncidado, deram-Lhe o nome de Jesus, indicado pelo Anjo, antes de ter sido concebido no seio materno". Ele é o Filho de Deus, mas está ao cuidado de Maria e de José, que Lhe dão o nome e a casa. "Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e nos tornar seus filhos adotivos. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: «Abá! Pai!». Assim, já não és escravo, mas filho. E, se és filho, também és herdeiro, por graça de Deus".
Somos filhos de Deus, em Jesus Cristo e como tal somos responsáveis por cada irmão, filho, pai, mãe, pois Deus os colocou na nossa vida para deles cuidarmos. Maria e José exemplificam este cuidado. Jesus nasce e imediatamente lhes merece toda a atenção. Sublinhe-se o facto de São José que sendo pai adotivo e não biológico logo assume a missão de acolher, amar, cuidar, proteger, dar nome a Jesus e amparar a Virgem Mãe. Os laços que nos unem radicam no amor e na proximidade, ultrapassando os laços sanguíneos.
5 – Neste primeiro dia de 2016, colocamo-nos, com Maria, sob o olhar misericordioso de Deus, para que nos ilumine e nos dê a Sua bênção. "Senhor nosso Deus, que, pela virgindade fecunda de Maria Santíssima, destes aos homens a salvação eterna, fazei-nos sentir a intercessão daquela que nos trouxe o Autor da vida, Jesus Cristo, vosso filho".
A bênção há de ser a oração que nos liga a Deus e aos outros, e nos compromete na construção da paz. Como diz Deus através de Abraão: "O Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja favorável. O Senhor volte para ti os seus olhos e te conceda a paz". Assim invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel e Eu os abençoarei». E como salmodicamente respondemos à Palavra de Deus: «Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção, resplandeça sobre nós a luz do seu rosto. Na terra se conhecerão os seus caminhos e entre os povos a sua salvação. Alegrem-se e exultem as nações, porque julgais os povos com justiça e governais as nações sobre a terra».
São também os votos do Papa Francisco, na tradicional Mensagem para o Dia Mundial da Paz que hoje comemoramos: «Não perdemos a esperança de que o ano de 2016 nos veja a todos firme e confiadamente empenhados, nos diferentes níveis, a realizar a justiça e a trabalhar pela paz. Na verdade, esta é dom de Deus e trabalho dos homens; a paz é dom de Deus, mas confiado a todos os homens e a todas as mulheres, que são chamados a realizá-lo».
O compromisso será vencer a indiferença, reconhecendo que os outros são nossos irmãos em Jesus Cristo e, desta forma, conquistar a paz que Ele nos traz.
Pe. Manuel Gonçalves
quarta-feira, 31 de dezembro de 2014
Santa Maria Mãe de Deus - 1 de janeiro de 2015
1 – «Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos entendidos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque isso foi do teu agrado» (Mt 11, 25-26; cf. Lc 10, 21). Felizes os pobres em espírito, os mansos, os humildes de coração, os pacificadores, os misericordiosos, porque terão um coração capaz de ver a Deus, de descobrir nos outros uma bênção, e, abertos à esperança no futuro com Deus, disponíveis para transformar o mundo em que vivem, a começar por eles mesmos (cf. Mt 5, 1-12).
Quando olhamos para o nosso tempo facilmente concluímos, com pesar na maioria das vezes, que o mundo é dos espertos, dos poderosos, daqueles que estão sempre a congeminar ardilosamente como enganar o próximo, subtraindo-se à justiça dos homens e ao compromisso social de contribuir com impostos para o bem comum, fugindo aqui, contornando a lei acolá, arranjando estratégias cada vez mais subtis. Lamentamos que ande meio mundo a enganar outro meio, e se calhar este meio mundo enganador já ultrapassa o meio mundo enganado. E nós de que lado estamos? Já ouvi pessoas a lamentar o facto de não terem mentido, omitindo e/ou enganando, porque estariam em melhores condições de vida ou teriam obtido uma benesse que dessa forma não obtiveram. Sempre lhes digo que não há como uma consciência tranquila!
O Natal, com as diversas celebrações litúrgicas, incluindo a festa da Sagrada Família e a solenidade de Santa Maria Mãe de Deus, aponta-nos numa direção que vai além dos nossos interesses pessoais, melhor, fazem com que os nossos interesses pessoais se vão identificando com o bem do próximo, reconhecendo nos mais frágeis a presença de Deus, assimilando o exemplo de Jesus.
As figuras do Natal sublinham (não a ostentação e o poder, mas) a pobreza, a humildade, a alegria, a capacidade de acolher o outro. Maria e José, família simples, desconhecida, e que se converte em lugar de revelação e mistério de Deus. Simeão e a profetisa Ana, dois velhos (ou idosos como muitos preferem), de quem já nada se espera, mas que, inspirados por Deus, pelo Seu Espírito, vivem na esperança da Salvação. Os seus corações podem não esperar nada do mundo, mas esperam de Deus, estão atentos, rezam, louvam, reconhecem Deus n'Aquele Menino, e anunciam-n'O a quem quer ouvir. E recuando um pouco mais poderíamos falar de um outro casal, Zacarias e Isabel, desenganados da vida, mas que se deixam surpreender por Deus.
2 – Não existe uma condição prévia para Deus nos amar, nos visitar e querer habitar em nós. Ele precede-nos nos Seus desígnios de amor. Ama-nos primeiro. E nunca a partir da nossa bondade ou maldade. Simplesmente nos ama como filhos. Se existe algum precedente, da nossa parte, é precisamente o da humildade, da pobreza, que não aquela que reduz as pessoas a números dispensáveis ou que as leva a mendigar por pão e por atenção, mas a pobreza como opção de vida, como abertura ao Transcendente, como disponibilidade para amar, para transformar o mundo, para nos deixarmos cativar por Ele e por tudo o que à nossa volta é fruto do amor de Deus, a natureza, os animais e sobretudo os outros.
A opção preferencial pelos mais pobres não é um chavão da Teologia da Libertação nem um desiderato da América Latina, é, antes, um compromisso de todos os cristãos que querem seguir Jesus Cristo, numa dinâmica universal de inclusão. A Salvação há de chegar a todos, a começar pelos excluídos, pelos famintos, pelas pessoas e famílias a viver em situações degradantes, desempregados, toxicodependentes, meninos da rua, pessoas abandonadas, mulheres maltratadas, esquecidas, violadas, crianças sem teto e sem proteção familiar ou social, exploradas, destruídas. Quando o não fizermos por nós, porque nos faz bem, ou pelos outros, o bem que lhe fazemos, façamo-lo por Jesus Cristo, deixando que em nós venha ao de cima a nossa vocação primordial de sermos imagem e semelhança de Deus. Tudo o que fizermos ao mais pequeno dos irmãos é ao próprio Cristo que o fazemos (cf. Mt 25, 31-46).
O Papa Francisco, na Sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz parte desta premissa: "Já não escravos, mas irmãos" (cf. Flm 15-16). Em Jesus Cristo, Deus revela-Se como Pai. Se Ele é Pai, nós somos irmãos.
Aos Gálatas, que hoje escutámos, São Paulo prossegue: «Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e nos tornar seus filhos adotivos. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: 'Abá! Pai!'. Assim, já não és escravo, mas filho. E, se és filho, também és herdeiro, por graça de Deus». A verdadeira paz conquista-se pelo amor, que pressupõe a justiça, a igualdade, a fraternidade, no respeito pelas diferenças como contributo positivo para a única família de Deus.
3 – No início de um novo ano, a Igreja propõe-nos – como Igreja nos propomos – olhar para Maria e consagrarmo-nos com Ela a Deus, imitando-A no acolher da vontade de Deus, de tal forma humildes e pobres que Deus caiba em nós, que Deus possa nascer em nós e apressadamente, como Ela em direção à montanha, visitando a Sua prima Isabel, possamos levar a todos a Alegria que nos habita: Deus em nós. Sejamos rosto e presença e vida de Cristo para este tempo. E dessa forma a paz estará mais próxima.
Despojado de tudo, mas com muito calor, Jesus tem por companhia Maria e José, e os animais. Está quentinho numa manjedoura. Aconchegado. Ah, como é belo este quadro do presépio. Ah, como é fácil de ver que não são as muitas comodidades que possuímos que nos fazem vibrar de alegria, que nos fazem sentir úteis e amados. Aquele Menino tem poucas coisas, está despido, envolto em panos, mas acariciado pelo essencial, pelos seus pais. D'Ele emana uma LUZ, um brilho, uma áurea, que nos leva à contemplação, a fazer como os Pastores, reconhecendo n'Ele o próprio Deus e com alegria desbobinarmos tudo o que Deus nos revelou pelos antigos e que nos revela hoje pela palavra, pelos Sacramentos, por cada gesto de amizade e de ternura que nos fazem ou que fazemos aos outros.
Aqueles pastores engrossam o número dos que não contam. São escravos, ainda não irmãos. Trabalham em situações muito precárias, independentemente do sol ou da chuva. Ainda não são irmãos, mas escravos. Mas é a eles que Deus Se revela, reconhecendo-os já como filhos amados. «Os pastores dirigiram-se apressadamente para Belém e encontraram Maria, José e o Menino deitado na manjedoura. Quando O viram, começaram a contar o que lhes tinham anunciado sobre aquele Menino. E todos os que ouviam admiravam-se do que os pastores diziam... Os pastores regressaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes tinha sido anunciado».
O verdadeiro encontro com Jesus provoca alegria, enche-nos de paz, para logo nos enviar a anunciar esta Boa Notícia a todas as nações. A alegria extravasa, explode, comunica-se. Ninguém faz festa sozinho. Se a solidão, o sofrimento, a desânimo, precisam de partilha e compreensão, a alegria precisa igualmente de ser acolhida, partilhada, celebrada.
4 – A condição prévia para reconhecer e acolher Deus é, definitivamente, esta pobreza que nos faz olhar com o coração e perscrutar os sinais que vêm de Deus. Os pastores estão despertos e fazem-nos estar despertos para partir de imediato à procura do Messias, à procura do Deus que Se esconde n'Aquela criança e em tantos pequeninos do nosso tempo. E por contágio nos fará espalhar tamanha alegria.
Pobreza de Maria e de José que acolhem Aquele que vem de Deus – «Maria conservava todos estes acontecimentos, meditando-os em seu coração» –, e no-l'O apresentam para que O possamos encontrar e O possamos adorar, como os Pastores e como os Magos vindos de longe.
E cruzando o nosso com olhar daquele Menino-Deus, sejamos portadores da Sua bênção para todos. É uma interpelação presente ao longo da História da Salvação, como se pode ver na primeira leitura: «O Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja favorável. O Senhor volte para ti os seus olhos e te conceda a paz». Assim fala Deus a Moisés garantindo-lhe a ele e a todo o povo: «Invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel e Eu os abençoarei».
Que outra coisa poderemos desejar neste novo ano senão a Paz e o Bem que nos chegam de Deus e que não se consomem na nossa fragilidade? Encontrando Jesus no nosso coração, meditando nos acontecimentos destes dias, com Maria, façamos com que através de nós se engrandeça no mundo a presença de Deus. Confiemo-nos por inteiro Àquele que nos pode salvar, até da morte. «Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção, resplandeça sobre nós a luz do seu rosto. Na terra se conhecerão os seus caminhos e entre os povos a sua salvação».
Pe. Manuel Gonçalves
Textos para a Eucaristia: Num 6, 22-27; Sl 66; Gal 4, 4-7; Lc 2, 16-21.
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terça-feira, 31 de dezembro de 2013
Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus - 1-1-2014
1 – Iniciamos o novo Ano com o belíssimo quadro do presépio de Belém, ainda Natal, Maria e José diante do Menino que colocam à adoração do mundo. Os pobres são os primeiros, ou os únicos, a reconhecer Jesus como Filho de Deus, como Luz, o Enviado das alturas. Aquele Menino é uma joia que move corações, que enche toda a casa, como cada criança poderia e deveria encher as nossas casas,as nossas famílias. Desafio permanente, de ontem e de hoje: acolher Aquele que nasce como bênção para nós e para o mundo. Ainda havemos de ver alguns que passam à frente, ou indiferentes, ou se deixam ficar em seus lugares, como Herodes no Palácio, ou os Escribas no Templo, e com eles outros aduladores do poder, da segurança e do prestígio, esquecendo o essencial: o amor sincero e puro, simples e transparente.
Há os que ouvem e se deixam ficar. Há os que nem sequer ouvem. Lá longe, os Magos, descobrem uma estrela nova. Ocupados com o saber, atentos ao que se passa no mundo, põem-se a caminho em busca de um Menino. Antes, os pastores. Estão alerta. Conhecem a natureza e o que ela lhes reserva, de bom e de mau. Pouco têm e são tidos em pouca conta. Excluídos, fazem um trabalho serviçal. Emprestam à Sagrada Escritura uma das mais belas imagens para falar de um Deus próximo, como Bom Pastor, que caminha com as suas ovelhas, dá a vida por elas, conhece-as pelo nome. Os pastores ouvem o Anjo. Não pensam duas vezes. Não fazem cálculos. Partem para Belém. Apressadamente. Como Maria quando sabe que a Sua prima Isabel está grávida. Como José, que ainda de noite pega em Maria e no Menino e vai para o Egipto.
A Boa Nova para hoje: “Encontraram Maria, José e o Menino deitado na manjedoura. Quando O viram, começaram a contar o que lhes tinham anunciado sobre aquele Menino. E todos os que ouviam admiravam-se do que os pastores diziam. Maria conservava todos estes acontecimentos, meditando-os em seu coração. Os pastores regressaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes tinha sido anunciado”.
2 – Pessoas simples e despretensiosas. Chegam e alegram-se. E desbobinam. Contam tudo. É uma notícia alegre, feliz, não podem calar por mais tempo o que guardam com esperança no coração. Pode faltar tudo ao cristão, não falte a capacidade de se deixar surpreender por Deus, a capacidade de se rir, de se alegrar, de se maravilhar com a vida.
Fixemos o nosso olhar nos pastores para os seguirmos na adoração do Menino e no testemunho de tudo o que ouvimos no nosso coração e o que vemos junto ao Presépio. Regressam às suas vidas, louvando e glorificando a Deus. Aquele encontro com o Menino, com Maria e José, encheu-lhes o coração de alegria. Doravante... continuarão a ser pastores. Mas aquela alegria há de acompanhá-los até à morte. E quando estiverem mais cansados hão de lembrar-se do sorriso d'Aquela criança.
Voltemos agora o nosso olhar para Maria, Mãe de Jesus e Mãe nossa. Com José, Maria continua a cuidar o melhor que sabe do Seu Menino, que não é Seu de todo, nasceu d'Ela mas não lhe pertence. Agora os pastores, depois os Magos, os discípulos, as multidões, o Reino de Deus, a morte... e a vida!
Ela guarda tudo no coração. A primeira atitude dos cristãos é a adoração, e o silêncio orante. Os pastores prostram-se diante de Jesus. Assim os magos. Assim Maria. Assim cada cristão. Só na adoração de Deus o nosso coração adquire o tamanho necessário para acolher o outro como irmão.
Aquele Menino é uma bênção. Para a família de Nazaré. Para a humanidade inteira.
3 – Jesus, Deus entre de nós, vem para nos resgatar do pecado e da morte. “Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e nos tornar seus filhos adotivos. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: «Abá! Pai!». Assim, já não és escravo, mas filho. E, se és filho, também és herdeiro, por graça de Deus”.
A Encarnação de Deus visa assumir-nos por inteiro, na nossa fragilidade e na nossa finitude. Ele é um de nós. Nasce de uma MULHER, é "fruto" da terra e do Espírito de Deus. Só é redimido o que é assumido. Jesus assume-nos como irmãos. Temos o mesmo Pai. Mas se dúvidas existissem, Ele dá-nos Maria por Mãe. “Eis o teu filho; eis a tua Mãe” e dessa hora, a hora da morte de Jesus, o discípulo recebe-A em sua casa. Hoje somos nós os discípulos de Jesus. É a nós que Ele nos confia a Sua Mãe. É a Maria que Ele nos confia como filhos. Recebamo-l'A com carinho em nossa casa, para que, tendo-A por Mãe, nos sintamos realmente irmãos uns dos outros.
Atente-se nas palavras do papa Francisco, na Sua Mensagem para este Dia Mundial da Paz: “Uma verdadeira fraternidade entre os homens supõe e exige uma paternidade transcendente. A partir do reconhecimento desta paternidade, consolida-se a fraternidade entre os homens, ou seja, aquele fazer-se «próximo» para cuidar do outro”.
O Papa evidencia o fundamento da fraternidade: Deus, que é Pai de todos. Só nos entenderemos como irmãos se antes nos reconhecermos filhos do mesmo Pai, do mesmo Deus. Nesta casa que é o mundo, o chão que nos irmana, precisamos da ternura e da delicadeza de uma Mãe, para nos empenharmos mais, e mais, e mais, edificando a concórdia, como fruto do amor, do diálogo, da compreensão, e do esforço por sublinharmos o que nos pode enriquecer mutuamente, os dons de cada um, para o bem de todos.
4 – Desde que nos criou por amor que Deus nos procura e vem até nós para suscitar a busca da felicidade, desafiando-nos para o bem. A Encarnação do Verbo, Deus que Se faz carne, é a plenitude da bênção prometida para todos os povos da terra. N'Ele serão abençoadas todas as nações.
É uma promessa que vem de trás, explicitada por Deus a Moisés: «Fala a Aarão e aos seus filhos e diz-lhes: Assim abençoareis os filhos de Israel, dizendo: ‘O Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja favorável. O Senhor volte para ti os seus olhos e te conceda a paz’. Assim invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel e Eu os abençoarei».
Ao iniciarmos um novo ano, renovamos a esperança e confiança no amanhã. Deus vem, Deus nasce em nós e no mundo, Deus manifesta-Se próximo, amigo, Pai, Irmão, faz parte da nossa família, faz família connosco. Rezemos uns pelos outros: “Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção, resplandeça sobre nós a luz do seu rosto”.
Que a Virgem Imaculada, Mãe de Deus, não cesse de nos despertar da sonolência e nos conduzir a Jesus Cristo, Seu Filho, o Príncipe da Paz, para n’Ele nos assumirmos como irmãos, estreitando os laços de amizade e parentesco espiritual. Santa Maria Mãe de Deus, rogai por nós.
Textos para a Eucaristia (ano A): Num 6, 22-27 ; Sl 66 (67); Gal 4, 4-7; Lc 2, 16-21.
Reflexão na página da Paróquia de Tabuaço.
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domingo, 1 de janeiro de 2012
SANTA MARIA, MÃE DE DEUS, RAINHA DA PAZ
1. Oito dias depois da Solenidade do Natal do Senhor, que a liturgia oriental designa significativamente por «a Páscoa do Natal», eis-nos no Primeiro Dia do Ano Civil de 2012, tradicionalmente designado como Dia de «Ano Bom», a celebrar a Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus.
2. Afigura que enche este Dia, e que motiva a nossa Alegria, é, portanto, a figura de Maria, na sua fisionomia mais alta, a de Mãe de Deus, como foi solenemente proclamada no Concílio de Éfeso, em 431, mas já assim luminosamente desenhada nas páginas do Novo Testamento.
3. É assim que a encontramos no Leccionário de hoje. Desde logo naquela menção sóbria, e ousamos mesmo dizer pobre, com que Paulo se refere à Mãe de Jesus, escrevendo aos Gálatas: «Deus mandou o seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei» (Gálatas 4,4). Nesta linha breve e densa aparece compendiado o mistério da Incarnação, ao mesmo tempo que se sente já pulsar o coração da Mariologia: Maria não é grande em si mesma; é, na verdade, uma «mulher», verdadeiramente nossa irmã na sua condição de humana criatura. Não é grande em si mesma, mas é grande por ser a Mãe do Filho de Deus, e é aqui que ela nos ultrapassa, imaculada por graça, bem-aventurada, nossa mãe na fé e na esperança. Maria não é grande em si mesma; vem-lhe de Deus essa grandeza.
4. O Evangelho deste Dia de Maria guarda também uma preciosidade, quando Lucas nos diz que «todos os que tinham escutado as coisas faladas pelos pastores ficaram maravilhados, mas Maria GUARDAVA (synetêrei) todas estas Palavras que aconteceram (tà rhêmata), COMPONDO-as (symbállousa) no seu coração» (Lucas 2,18-19). Em contraponto com o espanto de todos os que ouviram as palavras dos pastores, Lucas pinta um quadro mariano de extraordinária beleza: «Maria, ao contrário, GUARDAVA todas estas Palavras que aconteceram, COMPONDO-as no seu coração». Há o espanto e a maravilha que se exprimem no louvor e no canto, e há o espanto e a maravilha que se exprimem no silêncio e na escuta. Maria, a Senhora deste Dia, aparece a GUARDAR com premura todas estas Palavras que acontecem, todos estes acontecimentos que falam e não esquecem. O verbo GUARDAR implica atenção premurosa, como quem leva nas suas mãos uma coisa preciosa. Este GUARDAR atencioso e carinhoso não é um acto de um momento, mas a atitude de uma vida, uma vez que o verbo grego está no imperfeito, que implica duração. O outro verbo belo mostra-nos Maria como que a COMPOR, isto é, a «pôr em conjunto» (symbállô), a organizar, para melhor entender. É como quem com aquelas Palavras COMPÕE um Poema, uma Sinfonia, e se entretém a vida toda a trautear essa melodia e a conjugar novos acordes de alegria.
5. Esta solicitude maternal de Maria, habitada por esta imensa melodia que nos vem de Deus, levou o Papa Paulo VI, a associar, desde 1968, à Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, a celebração do Dia Mundial da Paz. Hoje é já o 45.º Dia Mundial da Paz que se celebra, e o Papa Bento XVI apôs-lhe o tema «Educar os jovens para a justiça e a paz». Na sua Mensagem para este Dia, Bento XVI desafia os jovens a adoptarem a atitude da sentinela que ansiosamente espera pela aurora (Salmo 130,6), e a manterem os olhos levantados para os montes, para o alto, pois é de Deus que vem a salvação (Salmo 121,1). Diz-lhes ainda, olhos nos olhos, que levantem bem alto os seus ideais, e não se deixem atolar no lamaçal desta «noite do mundo», em que tudo aparece sem rosto e sem rumo. Que abram os olhos, dêem asas aos seus sonhos belos, dêem as mãos e tenham a coragem de começar a fazer, ser pioneiros. Que não se fechem no mundo egocêntrico e egolátrico da hipertrofia do «eu» que pensa que se basta a si mesmo, e não precisa de nada nem de ninguém. Contra a sedução das ideologias, que não salvam ninguém, de reduzir o mundo a três dimensões – comprimento, largura e altura –, anulando o horizonte de Deus, Bento XVI exorta ainda a família, a escola, a política, os media a remarem juntos para construir novas atitudes e novas relações estáveis e felizes, assentes na gratuidade, na fraternidade e no amor, novos cenários que proporcionem que chegue a todos os homens o mundo belo que Deus a todos reparte dia após dia. E lembra que educar, na sua etimologia latina, de educere, significa, não levar para dentro de qualquer prisão do «eu» ou outra, mas conduzir para fora de si mesmo, ao encontro dos outros e da realidade. E é sempre bom lembrar que a justiça é o sabor que vem de Deus, e a paz não é a paz romana, assente no poder das armas, nem a paz do judaísmo palestinense, assente nos acordos entre as partes. A paz é um Dom de Deus.
6. De Deus vem sempre um mundo novo, belo, maravilhoso. Tão novo, belo e maravilhoso, que nos cega, a nós que vamos arrastando os olhos cansados pela lama. Que o nosso Deus faça chegar até nós tempo e modo para ouvir outra vez a extraordinária bênção sacerdotal, que o Livro dos Números guarda na sua forma tripartida: «O Senhor te abençoe e te guarde./ O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja favorável./ O Senhor dirija para ti o seu olhar e te conceda a paz» (Nm 6,24-26).
7. Que seja, e pode ser, Deus o quer, e nós também podemos querer, um Ano Bom, cheio de Paz, Pão e Amor, para todos os irmãos que Deus nos deu! E que Santa Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe nos abençoe também. Ámen!
D. António Couto, Bispo de Lamego, in Mesa das Palavras
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