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quarta-feira, 9 de setembro de 2015

SOFIA LISBOA - NUNCA DESISTAS DE VIVER

SOFIA LISBOA, com Natália Heleno Pereira (2014). Nunca Desistas de Viver. Alfragide: Lua de Papel. 208 páginas.
       Sofia Lisboa era a vocalista dos Silence 4, banda cujo sucesso ainda lhes é reconhecido. Depois da banda terminar, tornou-se professora de fitness. Casou, engravidou, tinha tudo para ter a vida que sempre sonhou. Nova, bonita, realizada profissionalmente, com amigos. Mas eis que o telefonema lhe corta a vida em duas metades (antes e depois do telefonema): leucemia (um tipo dos mais graves). Tinha sobre si a sentença da morte.



       A pessoa que passa por uma grave doença, por um cancro, reage à sua maneira. Parafraseando Tolstoi,  as famílias felizes são iguais, as famílias tristes são originais, pois cada uma sofre à sua maneira, única, especial, irrepetível. Também as pessoas a quem a doença e/ou o sofrimento profundo bate à porta. Não há duas doentes iguais, ainda que a doença seja a mesma. A pessoa, com a sua predisposição, a sua educação, o seu otimismo ou o seu pessimismo, a família e os amigos que têm ou não tem. Tudo é diferente. Refira-se que quando a doença chega não leva em linha de conta se a pessoa é pobre ou rica, feliz ou infeliz, se é feia ou bonita, magra ou mais forte.
       Sofia Lisboa passou por diversas fases. Por momentos de esperança e otimismo, por momentos de tristeza e decepção. Não lhe faltaram os amigos. A família. O marido que a acompanhou intensamente durante o período mais difícil (viriam a separar-se, tão grande foi o desgaste da doença). Logo no início, a perda do bebé, consequência inevitável para iniciar os tratamentos. Foi a primeira grande perda, e com essa perda também a impossibilidade de ser novamente mãe (biológica).
       Vieram os tratamentos. Durante vários meses. Encontrou pelo caminho profissionais que eram amigos e competentes, mas também profissionais indispostos com a vida. A irmã deu-lhe uma segunda vida, já que a medula era compatível. O transplante trouxe a esperança, mas o combate ainda estava longe de ser bem sucedido, física e mentalmente. Para que o próprio organismo aceitasse a medula da irmã, foi submetida a intensos tratamentos, nomeadamente cortisona. Chegou um momento que dependia em tudo dos outros. Aumentou de peso, tinha pelos pelo corpo inteiro, usava fralda, não se podia levantar. Havia dias que o desejo era "partir", não fosse o peso que colocaria na família e nos amigos. Tinha perdido tudo: a beleza, a vida (de outrora), o filho, o marido...
       A família e os amigos fizeram-lhe "ver" que havia que viver não em função da vida anterior mas da que está pela frente. Como ela, como todos, é sempre mais fácil falar.
       Com a recuperação, também a possibilidade de fazer novas coisas, de começar a sair, ainda que com muitos cuidados. Outro dos propósitos era juntar o grupo Silence 4. A David Fonseca, o "razito" que teve o sonho de formar uma banda, apostada no som acústico e em duas vozes, uma masculina e outra feminina, pediu que voltasse a reunir o grupo. Se sobrevivesse então estaria lá para agradecer, cantar, vibrar, se morresse seria uma espécie de tributo e eternização. Uma parte da receita, como veio a acontecer, seria para a Liga Portuguesa contra o Cancro.
        Outro dos propósitos era escrever um livro sobre esta travessia, de forma a ajudar outros a enfrentar a doença com valentia, em lógica de "podemos ser derrotadas mas não desistentes", pois nem tudo depende de nós.
       O livro que ora propomos é precisamente este testemunho eloquente, este desafio, apesar de todas as dificuldades e do sofrimento atroz, é possível não desistir de viver.

Outras LEITURAS anteriormente recomendadas, que enfrentaram o cancro, sob diversas manifestações e com finais diferentes: (Manuel Forjaz, José Maria Cabral e Corbella faleceram pouco tempo depois dos emocionadas testemunhos)
  1. MANUEL FORJAZ: Não te distraias da vida
  2. Manuel Forjaz e JAC: 28 minutos e 7 segundos de vida
  3. José Maria Cabral: O desafio da Normalidade
  4. Fernanda Serrano: Também há finais felizes
  5. Chiara Corbella Petrillo: nascemos e jamais morremos

terça-feira, 7 de abril de 2015

Manuel Forjaz e JAC: 28 minutos e 7 segundos de vida

MANUEL FORJAZ e JOSÉ ALBERTO CARVALHO (2015). 28 minutos e 7 segundos de vida. Alfragide: Oficina do Livro. 4.ª Edição. 248 páginas.


       Em tempos recomendamos o livro de Manuel Forjaz: NÃO TE DISTRAIAS DA VIDA. Neste livro, Manuel Forjaz deixou um testemunho comovente, pela frontalidade, pelas ideias, pela resiliência face à doença. Dizia então: “A doença provavelmente vai matar-me, não sei quando e não me preocupo com isso. O que sei é que o cancro não vai conseguir matar-me a vida” (p. 153). E prosseguia: “Sei que tenho um cancro e que um dia me vai vencer. Mas esse dia ainda não chegou e até lá tenciono continuar a aproveitar cada momento. Tive várias derrotas na minha vida, mas de todas as vezes caí de pé. É preciso nunca deixar de viver” (p. 155). Veja algumas frases solucionadas AQUI sobre Deus, escolhas, doença, fé, vida, morte.
       Na ocasião em que publicava este livro, convidando a não nos distrairmos da vida, entrou num projeto televisivo com conhecido apresentador José Alberto Carvalho, em programa que teve como título: 28 MINUTOS E 7 SEGUNDOS DE VIDA. Título (quase) aleatório, conjugando minutos e segundos, "porque o tempo pode ser igual para um relógio, mas não para um homem", frase emprestada de Michel Proust e com a qual JAC terminava cada programa. O 10.º programa já não tem a presença física de Manuel Forjaz. Iria ser gravado na quarta-feira de manhã e transmitido na TVI24 nesse dia à noite, porém, no domingo (imediatamente) anterior, a 6 de abril de 2014, o coração de Manuel Forjaz parou. Tinha 50 anos. O 10.ª programa seria gravado com os filhos de Manuel Forjaz. António e José Maria, recordando episódios pessoais e familiares, histórias, mensagens.
       O livro transcreve as conversas de José Alberto Carvalho com Manuel Forjaz, com breves introduções do Jornalista e Diretor da TVI, situando ou contextualizado cada programa e a respetiva escolha dos temas.
       Como ouvimos dizer, não há doenças, mas doentes. Nas intervenções de Manuel Forjaz fica claro que nem todos reagem de maneira semelhante a exames médicos, aos tratamentos, aos comentários que os outros fazem, mas ainda assim compromete-se a falar da vida, do futuro, de projetos. Morreu de cancro... mas não deixou de viver pelo facto de ter cancro, mesmo que tenha tido necessidade de alterar algumas rotinas.

segunda-feira, 24 de março de 2014

José Maria Cabral - O desafio da Normalidade

JOSÉ MARIA CABRAL. O Desafio da Normalidade. (Impressões do fim da vida). Rei dos Livros. Lisboa 1994, 2.ª Edição. 296 páginas.
       Ler um bom livro pode ajudar a abrir a mente e o coração, a pensar em ideias positivas, em deixar-se desafiar pela história vivida e contada em momentos de grande provação. Na parte final do livro Manuel Forjaz, Nunca desistas da Vida, que fizemos questão de ler e, após a leitura envolvente, achamos por bem sugerir, cujo testemunho do autor tinha como um dos propósitos incentivar outras pessoas com cancro a manter as rotinas, procurando manter a mesma agenda, fazer o que se costumava fazer, não alterar nem hábitos nem afazeres. Lembramo-nos então destoutro comovente testemunho. Lemo-lo há vários anos, lá para o ano de 1996. Depois disso voltamos a repescar algumas passagens.
       José Maria Cabral é médico, ligado precisamente à oncologia. Familiar e próximo de muitas pessoas com cancros e com cancros de muitas estirpes. No dia 8 de outubro de 1991, às três da tarde, no meio do trabalho, foi-lhe comunicado que sofria de uma doença maligna incurável (linfoma maligno). "O cancro parece representar o princípio do mal, a dissolução da unidade, a desindividualização. Por tudo isto e por razões mais obscuras, o cancro, entre outros males, constitui um verdadeiro desafio à normalidade".
       A primeira reação é de dor, de surpresa, de medo. A reflexão fá-lo fixar-se no outono, o declínio da natureza e do espírito. Como sempre, procura a calma serena. "Preparei a minha esperança para dar sentido a uma nova etapa da vida... Percebi a minha nudez... Sentia-me novo para morrer". 44 anos... "Antes, mais jovem tinha preguiça em deitar-me, agora tinha preguiça em permanecer ativo e só pensava em adormecer"... Os médicos são os doentes mais piegas.
       Com o progredir da doença e dos tratamentos, fica cada vez mais dependente, mais exposto aos outros. Agora está do outro lado. Não é médico, é o doente, com neessidade de atenção, de cuidado, de precauções variadas. Mas insiste com a vida. Não deixa de viver a família, com a mulher e os filhos, e de fazer viagens. Naquele que ele define como "o ano da minha morte", não deixa de ir numa viagem a Roma, embora seja o Porto, a sua cidade, e a família, os espaços onde se sente feliz.
       Perpassa muito sofrimento, certamente. A linha condutora, porém, é de grandeza corajosa, procurando viver bem, fazer as coisas mais normais como ir à casa de banho, apreciar pequenas vitórias, enfrentar os medos, os próprios mas sobretudo os da família. Custa mais ainda o sofrimento que a família possa vir a ter. Tem pouco tempo de vida. Mas quer esgotar as hipóteses que lhe são colocadas para minorar a dor ou a possibilidade de cura, calculando o preço/benefício. Sobrevém uma grande fé em Deus. Há um momento em que a normalidade parece ser aceitar a própria morte como inevitável, para não sofrer e não fazer sofrer os outros. É um testemunho muito lúcido sobre a vida, o amor, a família, a introspecção (o Porto e a família), a beleza, a alegria e a santidade, o trabalho e os amigos. Pedindo emprestado as palavras a Manuel Forjaz, diria que o cancro o matará mas não matará a sua a vida, relacionando-se com os amigos, com a família, com o mundo, com Deus. Enquanto houver tempo, há que viver o melhor possível, procurando viver, com as limitações da doença, a normalidade. Estuda com afinco os tratamentos. Às tantas dão-o como curado, que é sol de pouca dura... Novos tratamentos... transplante da medula óssea... debates acesos... perante 5% de hipótese, valerá a pena submeter-se a novo tratamento? Em Paris, ou em Portugal... sempre o Porto.

Da dedicatória do livro:
"Diverte-me a vida, aprecio a vida com intensidade todos os dias. Todo o tipo de vida: vegetal, animal, humana, espiritual..., a criação!
Agradeço aos que me ajudaram no aprofundamento deste sentimento que me arrebata.
Agradeço a dedico estas considerações em particular à minha mulher e aos meus filhos, à família que me faz viver".

Frases avulso:
"Como custa o silêncio! O silêncio da aceitação e obediência, o silêncio para me encher dos outros e me encher de nada de mim!" (p 58).

"As batalhas do meu temperamento desigual oscilavam assim dentro de uma grande amplitude, entre o fantástico e o péssimo, entre a realidade e o sonho, entre a alegria e a tristeza, entre a amizade e o isolamento, entre a glória e o arrependimento" (p 69)

Sobre Mafalda, a mulher: "Eu sofria por ver a dor dela e ela sofria por ver que sobre a minha dor eu tinha a dor pela dor dela. Cada um de nós como desaparecia na dor do outro" (p 82).

"O mês de janeiro chegou. Entrei no ano da minha morte. Era assim que eu interpretava a minha vocação" (p 100).

"Admirava cada vez mais a criação. Quanto mais sentia que nada do que existia era meu, que as minhas coisas e o meu corpo estavam hipotecados, mais gosto tinha pela vida e pelas coisas, pelas coisa em si, não porque fossem minhas... Eu não tenho nada, mas nada, nada meu! E que importa" (p 101).

"Sempre o tempo, sempre o espaço sem tempo, sempre o espírito sem a morada do tempo, sempre a qualidade sem medida... O homem sem tempo não pode ser homem! O tempo parece a alma do homem. Espaço e tempo, corpo e alma, dor e liberdade, obediência e vontade, ato e desejo, diversidade e unidade, dilemas longos e irreais como essas horas sem ritmo" (p. 125).

"É preciso amar inteiramente sem contrapartidas. Amar é querer estar sempre vivo para morrer. É preciso amar sem ver, sem possuir, viver com o estranho e o doloroso instrumento da fé, não a minha mas a que Deus me oferece" (p 196)

"Não poderei transportar uma árvore para o mar e plantá-la.mas poderei ver Deus face a face, poderei plantar-me na intimidade divina. Deus roçou o universo do querer humano. Deus procurou na pequenez do homem a grandeza divina. Deus quis-se na vontade do homem" (p 290).

sexta-feira, 21 de março de 2014

Manuel Forjaz - doença, vida, escolhas, fé, Deus, morte

       “A doença provavelmente vai matar-me, não sei quando e não me preocupo com isso. O que sei é que o cancro não vai conseguir matar-me a vida” (p. 153)

       “Sei que tenho um cancro e que um dia me vai vencer. Mas esse dia ainda não chegou e até lá tenciono continuar a aproveitar cada momento. Tive várias derrotas na minha vida, mas de todas as vezes caí de pé. É preciso nunca deixar de viver” (p. 155)

       “A minha fé é plástica, irracional, absoluta, converso com Deus enquanto passeio na rua, Ele senta-se ao meu lado à noite antes de adormecer e quando rezo, não papagueio apenas umas ave-marias e um pai-nosso, falo com Ele, discuto, exponho as minhas inquietações. Vou à missa com regularidade e passo pela Igreja dos Mártires rodas as semanas para falar durante uns minutos com o padre João Seabra, que me casou, batizou os meus filhos e continua a ser o meu confessor” (p 149)
       “Não deixar nada para amanhã, não pôr a vida em suspenso à espera do resultado de mais um exame, viver todos os dias, deixou de ser um objetivo e passou a ser um hábito, uma rotina” (p 140)
       "O sofrimento é relativo, podia ser pior, poder ter acontecido ais meus filhos. Vou morrer, sim. Eu e mais 155 mil pessoas no mesmo dia. Mas não é amanhã, e enquanto isso não acontece a vida segue pujante, bela, cheia de amor, de pequenos prazeres, sol e peixe grelhado. A única coisa que quero é seguir a minha vida tal como ela é, manter tudo exatamente na mesma. Sem nunca baixar os braços, sem nunca parar de procurar mais um tratamento, mais uma alternativa, mais uma opção” (p 55-56)


in MANUEL FORJAZ, Nunca te distraias da Vida.

quarta-feira, 19 de março de 2014

MANUEL FORJAZ - Não te distraias da vida

MANUEL FORJAZ. Não te distraias da vida. Poderei morrer da doença, mas a doença não me matará. Oficina do Livro. Alfragide 2014. 172 páginas.
       Quase por acaso, ou talvez não, encomendei, via Internet, este livro, sem conhecer o autor. Vi a promoção da publicação e pela descrição seria uma leitura interessante e envolvente afinal era o testemunho de alguém que tem cancro e que já passou por muitas intervenções, tratamentos, por melhoras e por recaídas, por momentos em que o otimismo natural o predispunha a celebrar a vida, outras vezes as notícias que se tornavam desanimadoras sobretudo quando chegavam novos exames a contradizer a esperança de vencer a doença. Num dia seguinte, encontrei o José Alberto Carvalho, na TVI 24, a entrevistar um homem, sem cabelo, que me fez lembrar o economista Vítor Bento (outro Vítor que poderia ter sido Ministro das Finanças). Afinal, pelo desenrolar da conversa, me apercebi que era precisamente o autor do livro que tinha encomendado nas vésperas.
       Como diria Tolstoi, as famílias felizes são todas iguais, as famílias tristes são cada uma à sua maneira. Ou como popularmente se vai dizendo, não há doenças, há doentes, pois cada pessoa reage de maneira específica à manifestação da doença, que pode ter o mesmo nome, mas cuja reação interage com a pessoa. Acrescentaríamos que a doença se faz particular na pessoa, a pessoa "faz" a doença ser diferente que noutras pessoas. Assim também o cancro, no caso concreto num pulmão. Uns querem falar da doença, outros não. Uns reagem com esperança e não quebram as rotinas, a não ser que a isso sejam forçados, outros deixam de viver.
       O livro resulta do desejo de acalentar a esperança para os que enfrentam situações semelhanças e para as pessoas que convivem com doentes oncológicos. Há pouco tempo recomendámos a leitura do livro da Fernanda Serrano - Também há finais felizes -, que viveu momentos de grande aflição e que parece ter superado os anos de maior risco da doença "reincidir". Pelo que se vê no presente testemunho, Manuel Forjaz continua a viver à espera do próximo tratamento, da próxima experiência, sem deixar de procurar, de lutar, de incentivar outros. Além do livro, tem usado várias plataformas para contar a sua experiência, para responder a quem busca respostas, fazendo sugestões para enfrentar a doença, mas também acompanhar, trabalhando na área de empreendedorismo, a criação de empresas.
       É uma história de vida, como filho, como marido, como pai, como católico, como professor, como diretor de empresas de sucesso mas que também passam por dificuldades. O importante é não desistir. Como refere no subtítulo: «poderei morrer da doença, mas a doença não me matará [a vida]». Há tantas coisas que se podem fazer. Não adiar para amanhã. Não desanimar. Pior é ter cancro no Sudão do Sul onde os cuidados médicos são muito deficitários. Não se contente com uma resposta, busque outras.
       Uma das perspetivas, e apesar da doença por vezes o deixar de rastos, é a procura por manter hábitos e rotinas. Veio à memória outro livro, outra história comovente, a de um médico oncologia, José Maria Cabral, em quem se manifestou o cancro. O título - O desafio da Normalidade - mostra como é possível arranjar forças para procurar viver a vida com os amigos e com a família, não deixando que a doença ganhe na qualidade dos afetos e dos sentimentos.
       Conheça ou não alguém com cancro, tenha alguém na família ou não, esta leitura será sempre um desafio, uma provocação. Pode lembrar-nos, no meio das nossas aflições, que há outros cujo sofrimento é bem mais violento e constante. Por outro lado, e numa perspetiva de fé que o autor também expressa, não valerá a pena perguntar: "Porquê eu?", pois pode acontecer a todos. Não é certamente um castigo de Deus. Integra a fragilidade biológica do ser humano. A fé pode abrir outra perspetiva, dando-nos força mas também esperança diante da eminência da morte.
ANEXO 1:
O MEU CANCRO: REGRAS PARA VIVER MELHOR
- Proíba quem quer que seja de lhe falar de quem morreu de cancro; quem tem cancro tem presente que vai morrer provavelmente mais cedo que a maioria, não precisa ser lembrado todos os dias;
- Por outro lado, e em sentido contrário, estimule quem o rodeia a contar histórias de quem venceu, está a vencer ou vive com a doença há muito tempo; inspire-se nas boas histórias, sem nunca perder o bom senso;
- Não tenha pena de si próprio. Isso gera um círculo fechado de tristeza e angústia de que é difícil libertar-se;
- Não tente perceber «porquê eu?». Porque sim. Uns cancros são genéticos, outros são ambientais, outros são profissionais. Acontece, não há razões místicas ou religiosas. Toca a muitas pessoas, aqui e no Sudão do Sul, onde claramente as condições de tratamento são bem piores;
- Se ainda assim tem tendência para ficar a remoer esse tipo de pensamentos, lembre-se (quem, como eu, tiver filhos) que ainda bem que fomos nós e não eles;
- Perceba que vai morrer, mas lembre-se que morrem todos os dias 155 mil pessoas, algumas em circunstâncias bem piores que a sua. E vai morrer, mas não é já amanhã. E até lá, a vida segue, bela, poderosa, pujante, cheia de coisas boas, cheia de amor, de pequenos prazeres, de sol e peixe grelhado;
- Não perca demasiado tempo a pensar na sua morte e no disparate das bucket list (apesar de ser tolerável ir ver o filme de Morgan Freeman e Jack Nicholson). Se o fizer, esquece-se de viver. Manter tudo exatamente na mesma - contactos, vida social e profissional -, praticar exercício físico e seguir uma boa alimentação, é a melhor maneira de continuar a viver;
- Siga as medicinas alternativas que entender, mas só depois de as estudar, de ouvir testemunhos credíveis e certificar-se de que não afetam os tratamentos clássicos que estiver a seguir.
ANEXO II
O CANCRO DOS OUTROS: REGRAS PARA LIDAR COM A DOENÇA
- Lembre-se que ninguém morre logo amanhã; às vezes morre-se em poucas semanas, mas a vastíssima maioria dos doentes com cancro dura bastante mais e alguns sobrevivem além da idade de morrer de velho;
- Prepara-se para possíveis recaídas. Muitos doentes tratam-se à primeira, outros à segunda e outros à terceira (mas nunca desistimos);
- Não dramatize. A medicina evoluiu muito e hoje os doentes vivem com razoável qualidade de vida;
- Há doentes que querem falar do cancro e outros que preferem não tocar no assunto. Respeite essa decisão mas, em qualquer caso, se não está psicologicamente preparado é melhor não se armar em enfermeiro ou psicólogo;
- Esqueça as tragédias alheias e as histórias de quem nãos e safou, disso os doentes já têm chegue. Dê sorrisos, miminhos e amor que é tudo o que um doente com cancro precisa na eterna luta contra a doença;
- A quimioterapia não é um horror de diarreias, enjoos e aftas. Há dois dias de «psicadélicos», ao segundo e ao terceiro dia, mas cada caso é um caso e cada pessoa reage de maneira diferente. O segredo para reforçar a energia é «canja de galinha», muito mar, se possível, e boa disposição à volta;
- Ficar careca acontece a muita gente, mas o cabelo volta a crescer, não há drama nenhum nisso - brinquem com a situação (só os carecas mesmo é que perdem o cabelo para sempre);
- Todos morremos, disso ninguém escapa. O segredo não é por isso falar de morte, que é óbvia e absoluta, mas sim lembrar o outro de não se esquecer de viver a vida, que é fantástica, surpreendente e extraordinária;
- Nunca digam a alguém com cancro que está mal ou vai morrer, sejam, louca e racionalmente positivos e otimistas.
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domingo, 2 de fevereiro de 2014

Fernanda Serrano - Também há finais felizes

FERNANDA SERRANO. Também há finais felizes. Oficina do Livro. Alfragide 2013, 3.ª edição, 246 páginas.
       Partindo do título que nos é proposto, constatações imediatas: perante situações aflitivas é possível que haja esperança, pois a prática mostra que há situações que nos levam a bom porto, apesar do percurso atribulado e das tempestades que têm de se enfrentar.
       Esta é uma história de vida que poderia ter um fim trágico e que pelo meio poderia ter deixado sequelas de desgaste e destruição nunca recuperáveis. A conhecida atriz, do teatro e da televisão, e também manequim, tinha uma vida que muitos desejaria, sucesso, visibilidade, uma família unida, pais, marido, e com o segundo filho, uma menina, pareceria uma família completa. Mas a vida dá muitas voltas, e nem sempre apanhamos o comboio.
       Nasce a filha e quase por acaso a atriz descobre um caroço na mama direita. Como mulher e mãe procura manter-se tranquila, mas com uma inquietação crescente. O obstreta tranquiliza-a. A Mãe insiste para que por uma vez tire a limpo o que poderá ser aquele caroço. Dar de mamar à filha tornou-se cada vez mais doloroso, amamentando progressivamente apenas do peito esquerdo, tal o desconforto. Depois de alguma insistência, o obstreta lá lhe recomenda um exame específico, e o que temia aconteceu: tinha um nódulo maligno na mama direita. Há que secar o leite e preparar-se para retirar o peito ou pelo menos em parte. A família está em pânico. Ela, o marido, os pais e alguns amigos chegados. Enquanto pode mantém este segredo em família e no círculo mais chegado, só depois da operação o dará a conhecer ao país.
       Com a operação marcada para retirar a mama do lado direito, consulta outro médica que aconselha mais positivamente a retirar apenas parte pois o temor ainda está circunscrito. Operada tudo corre pelo melhor. Volta a fazer uma vida quase normal, preparando-se para voltar ao teatro e à televisão. está tudo a correr bem. Consulta de novo o seu obstreta a fim de precaver alguma gravidez que tem de evitar a custo, pelo menos nos 2 anos subsequentes à operação. Entretanto coloca o DIU pelo facto de não lhe ser aconselhado a tomar pílula. Durante três anos estará descansada quanto a gravidezes. Durante a quimioterapia não haveria o risco de engravidar.
       Pratica desporto, tem uma alimentação muito regrada, prepara-se em definitivo para fazer uma vida normal, como mãe, como esposa, como atriz. Vai emagrecendo. Menos a barriga. Até que decide fazer um teste de gravidez e outro e outro e está mesmo grávida, de 17 semanas. Quanto colocou o DIU já estava grávida. Correria para médicos. Drama. Indefinição. Corre sério risco de vida. A recomendação mais importante que lhe tinha sido dada era precisamente não engravidar. Está em risco a sua vida. Tem dois filhos para criar. Tem de decidir rapidamente. Em Portugal já não é possível fazer um aborto, a não ser que tivesse sido violada. Ainda assim os médicos dizem-lhe que tem de decidir rapidamente pois corre o sério risco de deixar órfãos os seus filhos.
        Pede um sinal a Nossa Senhora de Fátima. "Sempre fui católica, mas nunca praticante. Era raro ir à missa ou rezar, não ligava nada a essas coisas. Quando passamos por situações delicadas agarramo-nos a tudo. Pode ser egoísmo - só nos lembrarmos nos momentos de aperto e de susto - mas, por outro lado, também é humano. Durante o meu processo clínico tornei-me muito mais crente. Muito mais... Orar, para mim, era uma conversa. Ainda hoje é. Dava graças a Deus pelo que tinha de bom, pedia que tudo se mantivesse bem, para mim e para as pessoas de quem gosto".
       Uma das suas amigas diz-lhe: "Pede uma resposta a Nossa Senhora e acredita que dentro de três dias vais tê-la". Entretanto decide-se a ligar para um especialista em medicina tradicional que a acompanha na recuperação e que lhe diz que a gravidez não acrescenta risco, pois o cancro não decorria de alterações hormonais e o feto em princípio ter-se-ia mantido protegia da intoxicação da quimioterapia. Consulta outro especialista, que lhe diz que a doença está controlada, que o cancro não era hormona-dependente e que a gravidez não acrescenta riscos para este cancro. A decisão desenha-se noutro sentido.
       "Nessa noite tive um sonho lindo, lindo. Sonhei com crianças, com bebés, coma amigas minhas que haviam sido mães há pouco tempo... já não sobravam dúvidas sobre nada. Aquela menina ia nascer. A resposta que tanto procurava, e que pedira a Nossa Senhora na noite de ano novo, chegara mesmo no prazo de três dias".
       Esta é uma leitura que vai valer a pena. Nem todas as histórias são iguais, pois as pessoas e as circunstâncias são diferentes. A história de Fernanda Serrano é comovente, mas é também um AVISO sério às mulheres e aos médicos que as tratam, para que não adiem, para que não façam de conta quando detetam alguma sinal de alarme. É uma história motivadora, de alguém que nunca desistiu, mesmo e apesar de horas bem negras e absolutamente sobre humanas. É uma história de fé, através da qual sempre sentiu sinais de Deus através de Nossa Senhora. É uma história de família. Esta foi um esteio, de apoio, de refúgio, de suporte físico e emocional, de bênção. É uma história de generosidade, e competência. Há muitos erros e alguns são fatais. Há, em contrapartida, pessoas extraordinariamente atentas, disponíveis, competentes, delicadas.
       Não deixe de ler e recomendar. A todas as mulheres. Mas também a todos os familiares, todos temos irmãs, mãe, pessoas amigas.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Pe. Léo - Buscai as coisas do alto - comovente


       - Deus é fiel, Deus faz cumprir os nossos planos se temos os nossos propósitos colocados em Deus... Aqui para testemunhar a VITÓRIA de Deus... O cancro tira tudo, a dignidade, passei vergonha, é um TRAPO em CIMA de UMA CAMA, passei vergonha quando as enfermeiras iam trocar a minha fralda... você perde tudo, o auto-domínio, mas sobre a FÉ, essa ninguém tira... quem tem fé perde tudo mas não perdeu nada... a fé projeta-nos... passei momentos difíceis... tinha que vir aqui, para testemunhar a gratidão... tive muitas graças do cancro... três amigos que me carregaram, eles me pegaram no colo... tinha de vir gritar Hossana, vitória de Deus... na vida só é derrotado quem não tem amigos e quem não tem Jesus... estive morto, clinicamente estava à beira da morte... a morte daquele que não acha uma luz... já tivemos muitas dessas noites, escuras... eu não quero perder um minuto dessa doença... para que eu seja mais santo... agora você não se pertence mais... a sua vida tem de ser gasta até ao fim... levar as pessoas a Jesus, essa força que impulsiona para o alto... vosso vida está escondida com Cristo em Deus... Se quer achar a verdadeira vida tem de achar/encontrar Jesus... a dor faz a gente ficar irracional...

       COMOVENTE

       Jesus tem piedade de mim. Jesus, Jesus, Jesus... tenho tanto dó de quem não encontrou Jesus, é o mais miserável, não tem nada... Havemos perder tudo... quem não tem Jesus não tem nada, nada, nada... no dia em que nós nascemos nós ganhamos dois carimbos: um, o Céu (coisas do alto), outro: inferno... Que carimbo pode colocar quando Deus o chamar... Deus colocou em você o carimbo do batismo... um selo, uma marca que ninguém tira... é uma carimbo do Céu... então comporte-se como alguém do Céu... rompa com o pecado... meu Deus, fazia tanto tempo que te não procurava... sentia saudades tuas e acabei voltando aqui... vim fazer meu ninho em Tua casa e repousar...


segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Deus também não podia ver-me assim

       Desconhecemos a autoria desta pequena estória, mas vale a pena refletir nela...:
       Ela deu um pulo assim que viu o cirurgião a sair da sala de operações.
       Perguntou:
       - Como é que está o meu filho? Ele vai ficar bom? - Quando é que eu posso vê-lo?
       O cirurgião respondeu:
       - Tenho pena. Fizemos tudo mas o seu filho não resistiu.
       Sally perguntou:
       - Porque razão é que as crianças pequenas tem câncer? Será que Deus não se preocupa? - Aonde estavas Tu, Deus, quando o meu filho necessitava?...'
       O cirurgião perguntou:
       - Quer algum tempo com o seu filho? Uma das enfermeiras irá trazê-lo dentro de alguns minutos e depois será transportado para a Universidade. Sally pediu à enfermeira para ficar com ela enquanto se despedia do seu filho. Passou os dedos pelo cabelo ruivo do seu filho.
       - Quer um cachinho dele?
       Perguntou a enfermeira.
       Sally abanou a cabeça afirmativamente.
       A enfermeira cortou o cabelo e colocou-o num saco de plástico, entregando-o a Sally.
       - Foi ideia do Jimmy doar o seu corpo à Universidade porque assim talvez pudesse ajudar outra pessoa, disse Sally. No início eu disse que não, mas o Jimmy respondeu:
       - Mãe, eu não vou necessitar do meu corpo depois de morrer. Talvez possa ajudar outro menino a ficar mais um dia com a sua mãe.
       Ela continuou:
       - O meu Jimmy tinha um coração de ouro. Estava sempre a pensar nos outros. Sempre disposto a ajudar, se pudesse.
       Depois de aí ter passado a maior parte dos últimos seis meses, Sally saiu do "Hospital Children's Mercy" pela última vez. Colocou o saco com as coisas do seu filho no banco do carro ao lado dela. A viagem para casa foi muito difícil. Foi ainda mais difícil entrar na casa vazia. Levou o saco com as coisas do Jimmy, incluindo o cabelo, para o quarto do seu filho. Começou a colocar os carros e as outras coisas no quarto exatamente nos locais onde ele sempre os teve. Deitou-se na cama dele, agarrou a almofada e chorou até que adormeceu. Era quase meia-noite quando acordou e ao lado dela estava uma carta.
       A carta dizia:
       - Querida Mãe, Sei que vais ter muitas saudades minhas; mas não penses que me vou esquecer de ti, ou que vou deixar de te amar só porque não estou por perto para dizer:"AMO-TE". Eu vou sempre amar-te cada vez mais, Mãe, por cada dia que passe. Um dia vamos estar juntos de novo. Mas até chegar esse dia, se quiseres adotar um menino para não ficares tão sozinha, por mim está bem. Ele pode ficar com o meu quarto e as minhas coisas para brincar. Mas se preferires uma menina, ela talvez não vá gostar das mesmas coisas que nós, rapazes, gostamos. Vais ter que comprar bonecas e outras coisas que as meninas gostam, tu sabes. Não fiques triste a pensar em mim. Este lugar é mesmo fantástico! Os avós vieram me receber assim que eu cheguei para me mostrar tudo, mas vai demorar muito tempo para eu poder ver tudo. Os Anjos são mesmo lindos! Adoro vê-los a voar! E sabes uma coisa?... O Jesus não parece nada como se vê nas fotos, embora quando o vi o tenha conhecido logo. Ele levou-me a visitar Deus! E sabes uma coisa?... Sentei-me no colo d'Ele e falei com Ele, como se eu fosse uma pessoa importante. Foi quando lhe disse que queria escrever-te esta carta, para te dizer adeus e tudo mais. Mas eu já sabia que não era permitido. Mas sabes uma coisa Mãe?... Deus entregou-me papel e a sua caneta pessoal para eu poder escrever-te esta carta. Acho que Gabriel é o anjo que te vai entregar a carta. Deus disse para eu responder a uma das perguntas que tu Lhe fizeste, "Aonde estava Ele quando eu mais precisava?"... Deus disse que estava no mesmo sítio, tal e qual, quando o filho dele, Jesus, foi crucificado. Ele estava presente, tal e qual como está com todos os filhos dele. Mãe, só tu é que consegues ver o que eu escrevi, mais ninguém. As outras pessoas veem este papel em branco. É mesmo maravilhoso não é!?... Eu tenho que dar a caneta de volta a Deus para Ele poder continuar a escrever no seu Livro da Vida. Esta noite vou jantar na mesma mesa com Jesus. Tenho a certeza que a comida vai ser boa.
       Estava quase a esquecer-me: já não tenho dores, o cancro já se foi embora. Ainda bem, porque já não podia mais e Deus também não podia ver-me assim. Foi quando ele enviou o Anjo da Misericórdia para me vir buscar. O anjo disse que eu era uma encomenda especial! O que dizes a isto?...

Assinado com Amor de Deus, Jesus e de Mim.

domingo, 22 de agosto de 2010

Saudade é AMOR que fica!

No início da minha vida profissional, senti-me atraído em tratar crianças e me entusiasmei com a oncologia infantil.

Nós médicos somos treinados para nos sentirmos "deuses". Só que não o somos! Não acho o sentimento de omnipotência de todo ruim, se bem dosado. É este sentimento que nos ajuda a vencer desafios, a se rebelar contra a morte e a tentar ir sempre mais além. Se mal dosado, porém, este sentimento será de arrogância e prepotência.
Quando perdemos um paciente, voltamos à planície, experimentamos o fracasso e os limites que a ciência nos impõe e entendemos que não somos deuses.

Recordo-me com emoção do Hospital do Câncer de Pernambuco, onde dei meus primeiros passos como profissional. Nesse hospital, comecei a frequentar a enfermaria infantil, e a me apaixonar pela oncopediatria. Mas também comecei a vivenciar os dramas dos meus pequenos pacientes, que via como vítimas inocentes desta terrível doença que é o câncer.
Com o nascimento da minha primeira filha, comecei a me acovardar ao ver o sofrimento destas crianças. Até o dia em que um anjo passou por mim.

Meu anjo era uma criança já com 11 anos, calejada por 2 anos de tratamentos, hospitais, exames e todos os desconfortos trazidos pela quimioterapia e radioterapia. Mas nunca vi meu anjo fraquejar. Já a vi chorar sim, muitas vezes, mas não via fraqueza em seu choro. Via medo em seus olhinhos algumas vezes, e isto é humano! Mas via confiança e determinação.

Um dia, cheguei ao hospital de manhã cedinho e encontrei meu anjo sozinho no quarto. Perguntei pela mãe e ouvi uma resposta que ainda hoje não consigo contar sem vivenciar profunda emoção.

Meu anjo respondeu:

- Tio, às vezes minha mãe sai do quarto para chorar escondido nos corredores. Quando eu morrer, acho que ela vai ficar com muita saudade de mim. Mas eu não tenho medo de morrer, tio. Eu não nasci para esta vida!

Pensando que crianças assistem seus heróis morrerem e ressuscitarem nos seriados e filmes, indaguei: - E o que morte representa para você, querida?

- Olha tio, quando a gente é pequena, às vezes, vamos dormir na cama do nosso pai e no outro dia acordamos no nosso quarto, em nossa própria cama não é?

(Lembrei que minhas filhas costumavam dormir no meu quarto e após dormirem eu procedia exactamente assim.)

- É isso mesmo, e então?

- Quando nós dormimos, nosso pai vem e nos leva nos braços para o nosso quarto, para nossa cama, não é?

- Você é muito esperta!

- Olha tio, eu não nasci para esta vida! Um dia eu vou dormir e o meu Pai vem me buscar. Vou acordar na casa Dele, na minha vida verdadeira!

Boquiaberto, não sabia o que dizer. Chocado com o pensamento deste anjinho, com a maturidade que o sofrimento acelerou, com a visão e grande espiritualidade desta criança, fiquei parado, sem acção.

- E minha mãe vai ficar com muitas saudades minha, emendou ela.

Emocionado, travado na garganta, perguntei: - E o que saudade significa para você, meu anjo?

- Não sabe não tio? Saudade é o amor que fica!

Hoje, aos 53 anos de idade, desafio qualquer um a dar uma definição melhor, mais directa e mais simples para a palavra saudade: é o amor que fica!

Um anjo passou por mim...

Foi enviado para me dizer que existe muito mais entre o céu e a terra, do que nos permitimos enxergar. Que geralmente, absolutilizamos tudo que é relativo (carros novos, casas, roupas de grife, jóias) enquanto relativizamos a única coisa absoluta que temos, nossa transcendência.

Meu anjinho já se foi, há longos anos. Mas deixou uma lição que ajudou a melhorar a minha vida, a tentar ser mais humano e carinhoso com meus doentes, a repensar meus valores.

Que bom que existe saudade! O amor que ficou é eterno.

Rogério Brandão, Médico oncologista

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Dia Mundial sem Tabaco


A Organização Mundial de Saúde (OMS) promove a cada 31 de Maio (desde 1988) o Dia Mundial sem Tabaco. Uma iniciativa que visa recordar-nos a todos dos malefícios que o tabaco pode provocar.

Este ano o público alvo são as mulheres.


Um quinto dos mais de mil milhões de fumadores no mundo são mulheres, um vício que está a crescer entre o público feminino e que a Organização Mundial da Saúde atribui às estratégias utilizadas pela indústria do tabaco.

A indústria tem desenvolvido campanhas específicas para atrair as mulheres, associando estes produtos aos conceitos de independência, sofisticação, "glamour", magreza, elegância e sucesso, e ignorando os malefícios associados ao consumo de tabaco.

"O tabaco é a causa de morte de mais de meio milhão de mulheres em cada ano. Em alguns países, o cancro do pulmão já ultrapassou o cancro da mama como a principal causa de morte por cancro das mulheres", afirma Joana Amado, médica do Serviço de Pneumologia do Hospital Pedro Hispano/ULSM, explicando que ao contrário do que está a acontecer com os homens fumadores, em que a tendência é para estabilizar ou até diminuir, no caso das mulheres o número continua a aumentar. Daí este alerta que é mundial.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Cancro da mama

Um homem atraente de meia idade, entrou num bar e sentou-se. Antes de fazer o pedido, apercebeu-se que um grupo de homens mais jovens, que bebiam numa mesa perto da sua, riam dele com exuberância.
Só quando se lembrou da pequena fita rosa, que levava na lapela do casaco, entendeu o motivo de tanta risada! O homem não deu qualquer importância, mas os insistentes risos começaram a incomodá-lo. Olhou um deles directamente, nos olhos, levou o dedo à lapela e apontou a fita:
- "Isto"?
Com o gesto todos soltaram gargalhadas. O homem ao qual dirigiu o olhar, disse-lhe:
- "Desculpe amigo, só estamos a comentar como está bonito com essa fita rosa no seu casaco azul".
Com toda a calma, o homem fez um gesto ao gozador convidando-o a aproximar-se e sentar-se com ele à mesa. Ainda que bastante incomodado o jovem aproximou-se e sentou-se. O mais idoso com voz calma disse-lhe:
- "Uso esta fita para chamar à atenção sobre o Cancro da Mama. E uso a fitinha em honra da minha Mãe".
- "Sinto muito, amigo.Ela morreu de cancro da mama"?
-"Não, ela está óptima. Mas os seus seios alimentaram-me quando eu era bébé e foram sempre um abrigo, quando tinha medo ou me sentia só. Estou muito grato aos seios da minha mãe e à sua saúde, também".
- "Entendo"; respondeu o outro convencido.
- "Também uso esta fita para homenagear a minha mulher" - continuou o homem.
- "E ela está bem"?
- "Claro que sim.seus seios foram fonte de amor, para ambos. Com eles alimentou a nossa filha de 23 anos. Estou grato pelos seios da minha mulher e pela sua saúde".
- "Já sei. Suponho que também usa a fita para homenagear a sua filha."
- "Não. É muito tarde para isso. Minha filha morreu de cancro da mama, há um mês. Ela pensou que era muito jovem para contrair cancro. Assim, quando acidentalmente notou uma pequena protuberância, ignorou-a. Pensava ela que não incomodando e não doendo... Não havia com que se preocupar."
Comovido e envergonhado, o jovem disse:
- "Sinto muito, senhor."
- "Portanto, também em memória de minha filha, uso esta fitinha rosa com muito orgulho. Isto dá-me oportunidade de falar com outros. Quando voltar para sua casa fale com a sua esposa, sua mãe, suas irmãs, suas amigas. Tome."
O homem tirou do bolso e entregou ao outro uma pequena fitinha rosa. Este pegou, olhou-a, lentamente levantou a cabeça e disse:
- "Ajuda-me a colocá-la?"

«VOCÊ NASCE SEM PEDIR E MORRE SEM QUERER!
APROVEITE O INTERVALO!»