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sábado, 9 de julho de 2022

Domingo XV do Tempo Comum - ano C - 10.julho.2022


1 – Jesus é o Bom Samaritano, por excelência, faz-Se próximo, tão próximo de mim e de ti, de todos, que Se confunde connosco; tão próximo que Se deixa ver, prender, crucificar; tão próximo que O podemos tocar para d'Ele recebermos a força da ternura de Deus. Sendo Deus, não Se vale da omnipotência, mas humilha-Se até estar da nossa estatura, assumindo os nossos sofrimentos, as nossas chagas, para as curar, para nos redimir e nos fazer participantes da Sua vida divina.
Um doutor da Lei quis experimentar Jesus, para O expor, para mostrar a todos que, diante de questões religiosas mais elaboradas, Ele meteria os pés pelas mãos: «Mestre, que hei de fazer para receber como herança a vida eterna?». Jesus devolve-lhe a pergunta, pois um Mestre da Lei terá que ser um conhecedor profundo da mesma. E a resposta é imediata: «Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento; e ao próximo como a ti mesmo».
Fez a pergunta e deu a resposta! Aparentemente está tudo dito! Jesus confirma o veredito, desafiando a fazer o que diz a Lei. Apanhado em contramão, o doutor da Lei volta a questionar Jesus: «E quem é o meu próximo?».
Dá a impressão que são discussões estéreis! Mas muitas vezes as discussões servem apenas de desculpa ou justificação para não meter mãos à obra, para deixar que o tempo resolva ou outros se comprometam. Próximo é quem precisa de mim? É meu familiar e amigo? O meu vizinho? A pessoa que professa a mesma fé que eu? É do mesmo partido? É meu conterrâneo? Perfilha o mesmo clubismo? Um estrangeiro, refugiado, um estranho é meu próximo?

2 – Não adianta explicar a quem não quer compreender. Ainda assim, não argumentando, Jesus faz com que o doutor da Lei reflita e tire ilações, através de uma parábola. Como história, há liberdade para o ouvinte tirar as próprias conclusões. A argumentação é impositiva e por vezes cada um fica com o que lhe parece, nesta pequena história dá para que a pessoa se sinta envolvida, chamada para dentro da história, interiorizando a mensagem.
«Um homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores. Roubaram-lhe tudo o que levava, espancaram-no e foram-se embora, deixando-o meio- morto. Por coincidência, descia pelo mesmo caminho um sacerdote; viu-o e passou adiante. Do mesmo modo, um levita que vinha por aquele lugar, viu-o e passou também adiante. Mas um samaritano, que ia de viagem, passou junto dele e, ao vê-lo, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas deitando azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirou duas moedas, deu-as ao estalajadeiro e disse: ‘Trata bem dele; e o que gastares a mais eu to pagarei quando voltar’».
Depois da parábola, é a vez de Jesus questionar o doutor da Lei, o especialista em Sagrada Escritura: «Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?».
As dúvidas estão desfeitas! É próximo quem se aproxima para ajudar: «O que teve compaixão dele». O foco, neste caso, não são os outros, mesmo os que precisam de ajuda, mas tu e eu, se percebemos as necessidades dos nossos semelhantes e se temos urgência em ajudá-los. Sou próximo se me faço próximo. «Então vai e faz o mesmo».

3 – Como sempre, não basta saber, é preciso fazer, não chegam as intenções, é preciso pôr mãos às obras, não são suficientes os propósitos, urge colocar-se a caminho. Claro que o conhecimento, as intenções e os propósitos predispõem-nos para o compromisso em ação. Ninguém ama o que desconhece. Faz-se caminho dando o primeiro passo. Vai e faz do mesmo jeito!
É deste modo que começamos a Eucaristia, pedindo a Deus que dilate o nosso coração, impelindo-nos a conformar a nossa vontade com os Seus desígnios: "Senhor nosso Deus, que mostrais aos errantes a luz da vossa verdade para poderem voltar ao bom caminho, concedei a quantos se declaram cristãos que, rejeitando tudo o que é indigno deste nome, sigam fielmente as exigências da sua fé".
Tal como o doutor da Lei, nós conhecemos os desígnios de Deus revelados pelos Seus mensageiros. Na primeira leitura, Moisés, ao comunicar o Mandamento de Deus ao Povo, diz claramente que está ao alcance de todos cumpri-lo, não é uma sobrecarga, mas um compromisso que liberta e aproxima. Não são preceitos complexos, distantes, inscritos no Céu! «Escutarás a voz do Senhor teu Deus, cumprindo os seus preceitos e mandamentos que estão escritos no Livro da Lei, e converter-te-ás ao Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma... Esta palavra está perto de ti, está na tua boca e no teu coração, para que a possas pôr em prática».
Ainda que venha de fora, de Deus, do Céu, o Mandamento do Senhor interioriza-se, pois não visa ser um fardo, mas uma ajuda, iluminando as nossas escolhas e mostrando-nos o caminho que nos humaniza, irmana e nos salva dos nossos egoísmos e preconceitos.

4 – A oração faz-nos descentrar de nós, para nos centrar em Deus e nos Seus desígnios de amor. Fixando-nos em nós, por mais apetências que tenhamos, por mais resiliência que possuamos, acabaremos por soçobrar ou por nos endeusarmos.
"Eu sou pobre e miserável: defendei-me com a vossa proteção. Louvarei com cânticos o nome de Deus e em ação de graças O glorificarei". Centrando-nos em Deus e colocando o nosso coração e a nossa vida n'Ele, procurando sintonizar a nossa com a Sua vontade, a confiança de que Ele nos traz a paz na tormenta e a alegria na adversidade, garantindo-nos a vida, no tempo e na eternidade.
Deixemo-nos guiar pelo salmista: "A Vós, Senhor, elevo a minha súplica, pela vossa imensa bondade respondei-me. Ouvi-me, Senhor, pela bondade da vossa graça, voltai-Vos para mim pela vossa grande misericórdia". O desafio que a oração nos lança, é para nós e para todos. "Vós, humildes, olhai e alegrai-vos, buscai o Senhor e o vosso coração se reanimará. O Senhor ouve os pobres e não despreza os cativos. Os seus servos a receberão em herança e nela hão de morar os que amam o seu nome".
A oração também é catequese, pois nos ensina a olhar para Deus com humildade e a caminharmos juntos, com todos aqueles que procuram a verdade e a bondade. Não há oração que não seja compromisso, pessoal, de transformação, procurando acolher a vontade de Deus, e na predisposição firme e séria de trabalhar por um mundo mais justo e fraterno, o que implica a atenção primeira aos mais desfavorecidos.

5 – Jesus Cristo é o Bom Samaritano e o paradigma para nós, individualmente e como comunidade. Ele é o chão, a referência, o ponto de partida, a meta, o contexto em que havemos de gastar e viver a nossa vida.
São Paulo sublinha que «Cristo Jesus é a imagem de Deus invisível, o Primogénito de toda a criatura; porque n’Ele foram criadas todas as coisas no céu e na terra, visíveis e invisíveis... por Ele e para Ele tudo foi criado. Ele é anterior a todas as coisas e n’Ele tudo subsiste. Ele é a cabeça da Igreja, que é o seu corpo. Ele é o Princípio, o Primogénito de entre os mortos; em tudo Ele tem o primeiro lugar. Aprouve a Deus que n’Ele residisse toda a plenitude e por Ele fossem reconciliadas consigo todas as coisas, estabelecendo a paz, pelo sangue da sua cruz, com todas as criaturas na terra e nos céus».
Ele, Deus connosco, salva-nos, redime-nos, integra-nos na Sua vida divina; faz-Se nosso irmão, faz-nos Seus amigos e herdeiros das bênçãos divinas. Cabe-nos abrir o nosso coração e a nossa vida, e respirar e expirar o Seu Espírito de Amor.

Pe. Manuel Gonçalves

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Quem é o meu próximo?

       Jesus, tomando a palavra, disse: «Um homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores. Roubaram-lhe tudo o que levava, espancaram-no e foram-se embora, deixando-o meio morto. Por coincidência, descia pelo mesmo caminho um sacerdote; viu-o e passou adiante. Do mesmo modo, um levita que vinha por aquele lugar, viu-o e passou também adiante. Mas um samaritano, que ia de viagem, passou junto dele e, ao vê-lo, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas deitando azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirou duas moedas, deu-as ao estalajadeiro e disse: ‘Trata bem dele; e o que gastares a mais eu to pagarei quando voltar’. Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?». O doutor da lei respondeu: «O que teve compaixão dele». Disse-lhe Jesus: «Então vai e faz o mesmo» (Lc 10, 25-37).
       Um dos doutores da Lei pergunta a Jesus o que deve fazer para ter como herança a vida eterna. A resposta é óbvia, e por maioria de razão, para quem conhece a Sagrada Escritura: amar a Deus, em primeiro lugar, antes e acima de tudo, e ao próximo como a si mesmo. Quanto ao primeiro mandamento mas há dúvidas. Quanto ao segundo - o amor ao próximo - e talvez mais para se desculpar do que para tentar compreender, existem mais dúvidas. O doutor a Lei pergunta a Jesus: quem é o meu próximo?
       A resposta de Jesus vem em forma de parábola - conhecida parábola do Bom Samaritano -, tornando mais explícita a mensagem, mas respeitando a liberdade de aceitar ou não essa mensagem.
       Um homem foi assaltado. Passaram o sacerdote e o levita, mas querendo preservar-se da contaminação legal passam à frente, preferiam estar aptos a participar do culto, mesmo abandonando o homem caído na estrada. Prevalece, aparentemente, o primeiro mandamento, isto é, amar a Deus. A religião parece, nesse caso, opor-se à caridade. Jesus rectifica: o amor de Deus manifesta-se e concretiza-se no auxílio ao outro.
       Jesus vai mais longe. O próximo não é apenas aquele que precisa da minha ajuda, próximo sou eu quando me aproximo. É uma opção pro-activa, leva-me ao compromisso, a tomar a iniciativa de ir ao encontro do outro. Não basta passivamente esperar que o outro venha ao meu encontro ou que o outro me peça ajuda. É uma profunda revolução na mentalidade daquele e de todos os tempos. Amar a Deus nos outros. A própria imagem de Deus, como o Bom Samaritano, que não fica no seu canto, lá no alto do Céus, mas vem ao encontro, toma a iniciativa, não fica indiferente, cuida...

terça-feira, 20 de março de 2018

VL – Vai, e faz tu também do mesmo modo.

Lema proposto por D. António Couto para o novo ano pastoral, cuja abertura ocorreu no passado sábado, a 30 de setembro, no Seminário Maior de Lamego. A Carta Pastoral de D. António Couto para 2017-2018 fundamenta e dá forma ao Plano Pastoral da Diocese: Vai, e faz do mesmo modo. O proceder de Jesus há de ser o proceder de cada cristão. Seguir Jesus é proceder do mesmo modo, na proximidade e no cuidado aos irmãos em situação mais frágil. É uma acentuação, que deve traduzir uma vivência permanente, na imitação do divino Mestre. 

D. António Couto parte, antes de mais, do Amor precedente de Deus que nos ama e por amor nos chama à vida e nos mantém vivos. Amar-nos uns aos outros deriva do amor que Deus é e nos tem. E será amando-nos como Ele nos ama que seremos reconhecidos como discípulos de Jesus. 

O quadro referencial é a parábola do Bom Samaritano (Lc 10, 25-37), com que Jesus responde a um Doutor da Lei que queria armar-lhe uma cilada. É também uma resposta para nós e um desafio. Identifica o Seu agir, o Seu modo de acolher, de Se aproximar, de tratar as feridas, de curar e chamar outros para cuidarem, para tratarem as feridas de todo o homem caído à beira do caminho ou à porta de nossa casa. Em alguns momentos podemos assumir o modo de agir do Sacerdote e do Levita que passaram, viram e se afastaram, para não se incomodarem e não terem chatices. Eles são tocados pelo preconceito. Cabe-nos olhar e imitar o Bom Samaritano, aproximar-nos, usar de misericórdia, cuidar, e agregando outros para ajudar. A indiferença em relação a quem sofre pode ser uma tentação que nos bate à porta, nos entra pelo coração a dentro e nos desirmana dos outros. 

Vai, e faz também tu do mesmo modo. É o desafio lançado por Jesus àquele doutor da Lei e a nós quando o saber não nos conduz ao fazer. É a interpelação de D. António Couto a toda a Diocese de Lamego e destina-se a todos, pessoas, paróquias e movimentos, serviços e departamentos, mais velhos e mais novos, homens e mulheres. A pertença a Cristo compromete-nos com o Seu MODO de pensar, falar e de atuar. O Bom Samaritano espelha bem o AGIR de Jesus que Se aproxima dos mais frágeis e tudo faz para os curar, reabilitar, devolver à vida. 

Respirar Jesus, viver Jesus, testemunhar Jesus e fazer, cada um de nós, do mesmo modo.

sábado, 9 de julho de 2016

XV Domingo do Tempo Comum - ano C - 10 de julho

       1 – «Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento; e ao próximo como a ti mesmo». Um mandamento ou um duplo mandamento. Amar a Deus acima e antes de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Jesus Cristo dá Corpo a este mandato. Traz-nos Deus, aproxima a eternidade do tempo, vive e visualiza o amor de Deus, amando o ser humano, em especial o mais frágil, integrando, incluindo.
       Moisés lembra-nos que Deus não nos pede o impossível: «Escutarás a voz do Senhor teu Deus, cumprindo os seus preceitos e mandamentos… e converter-te-ás ao Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma. Este mandamento que hoje te imponho não está acima das tuas forças nem fora do teu alcance. Não está no céu... Não está para além dos mares... Esta palavra está perto de ti, está na tua boca e no teu coração, para que a possas pôr em prática».
       A ardilosidade do doutor da Lei é facilmente desmontável pelo próprio. Questiona Jesus que lhe devolve a questão, remetendo-o para a Sagrada Escritura. Inequivocamente, todos os judeus sabem que o primeiro mandamento e o mais importante é amar a Deus de todo o coração, com todas as forças, em todo o tempo, e que a vivência dos mandamentos (n)os coloca na senda da eternidade!
       Para nós cristãos, a herança eterna é dom de Deus, que nos salva em Jesus Cristo, pela Sua morte e ressurreição, mistério pascal que celebramos em cada Eucaristia, recordando e tornando-nos contemporâneos da oferenda de Jesus.
       Os mandamentos são um caminho que nos sintonizam com o melhor de nós mesmos, acolhendo a soberania e primazia de Deus, no empenho pela verdade, pela justiça, por um mundo em que reconheçamos os outros como imagem e semelhança de Deus e, por conseguinte, assimilemos o mandamento “não matarás”, com tudo o que isso implica: cuidar do outro, tratá-lo com respeito e deferência. Isto é algo que já está inscrito no nosso coração. Jesus levará à plenitude este mandamento, interligando o amor a Deus com o dar a vida pelos outros, por todos, pela humanidade. Com efeito, o amor, como o entende o Evangelho, “é a coragem de morrer para o próprio egoísmo, de nos esquecermos de nós próprios em favor dos outros e de sairmos de nós mesmos” (Tomáš Halík).
       2 – A sabedoria autêntica inclui o saber e o fazer; a informação e o conhecimento levados, pelo compromisso, à prática, na vivência quotidiana e concreta na sociedade atual, com estas pessoas que Deus confiou à minha, à tua, à nossa responsabilidade.
       O doutor da Lei volta à carga com outra questão: quem é o meu próximo?
       Talvez lhe possamos dar uma mão! O meu próximo é quem precisa da minha ajuda! O meu familiar! Os meus amigos! Os meus colegas de trabalho e/ou de copos! Os meus vizinhos! Os que constituem o meu bairro! Os do meu partido! Os da minha religião! As pessoas do meu país! Cada pessoa que se cruza comigo! Podemos ainda admitir que o nosso próximo seja também aquele de quem não gostamos tanto!
       Vejamos a resposta de Jesus:
«Um homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores. Roubaram-lhe tudo o que levava, espancaram-no e foram-se embora, deixando-o meio- morto. Por coincidência, descia pelo mesmo caminho um sacerdote; viu-o e passou adiante. Do mesmo modo, um levita que vinha por aquele lugar, viu-o e passou também adiante. Mas um samaritano, que ia de viagem, passou junto dele e, ao vê-lo, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas deitando azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirou duas moedas, deu-as ao estalajadeiro e disse: ‘Trata bem dele; e o que gastares a mais eu to pagarei quando voltar’. Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?». O doutor da lei respondeu: «O que teve compaixão dele».
       Não importa tanto o que os outros dizem, mas o que eu faço. Os mandamentos valem, não tanto pelas discussões académicas, mas sobretudo na medida em que nos aproximam e comprometem com os outros. E, por conseguinte, Jesus remata a questão, desafiando: «Então vai e faz o mesmo».
       3 – A parábola do Bom Samaritano é uma pérola do Evangelho e que nos diz de forma plástica e categórica que Jesus é, por excelência, o Bom Samaritano, que Se debruça sobre a humanidade ferida pelo pecado e pela morte, lhe trata das feridas, a coloca na sua montada, e assume todas as despesas, generosamente, sem cálculos.
       Por mais perfeitas e justas que sejam as leis só serão verdadeiramente humanas se nos ajudarem a conhecer os nossos limites e sobretudo nos deram o impulso para edificar o bem. O Bom Samaritano não se fixa na lei mas na pessoa. As leis estão (ou devem estar) ao serviço da pessoa na sua inserção social e cultural.
       A humanidade de cada pessoa não tem fronteiras mas coloca-nos na fronteira diante do outro, tratando-o como companheiro, como irmão. O sacerdote e o levita deixaram-se aprisionar pela lei e pelo preconceito. Mantiveram-se à distância. Viram um homem caído, derrotado, morto ou quase morto e não ousaram aproximar-se. Viram com os olhos, mas não com o coração. Viram as dificuldades mas não a pessoa ferida. Deixaram-se levar pela razão sem a compaixão.
       Aquele homem, estrangeiro – para amar não há religião ou nacionalidade – olha, aproxima-se e, nesse momento, quando está diante do homem meio-morto, vê, com o coração, compadece-se, toca-o, trata-lhe as feridas, coloca-o na sua montada, guia-o para um lugar seguro, assegura-se que será bem tratado e que ficará bem. Só nessa ocasião segue em frente.
       Vislumbra-se, de forma clarividente, a misericórdia, a compaixão, que anula distâncias, que supera os limites e as leis, que nos faz ver o outro. Jesus inverte o paradigma: mais que saber quem é o meu próximo, importa eu fazer-me próximo do outro para ajudar.
       No amor não há inimigos, nem estrangeiros, nem adversários. No amor há pessoas, há irmãos. A mesma humanidade que se cura e se refaz na comunhão, na partilha e no perdão, na alegria no serviço e na paz, na solidariedade, na verdade e na justiça. “O amor é a única força capaz de unificar as coisas sem as destruir” (Teilhard Chardin). É inclusivo, integrador. Faz-nos olhar além do nosso umbigo e rever-nos nas necessidades e nos sofrimentos do nosso semelhante.


       4 – Em Jesus Cristo, Deus revela-Se Misericórdia infinita, Pai de amor e de benevolência. “Aprouve a Deus que n’Ele residisse toda a plenitude e por Ele fossem reconciliadas consigo todas as coisas, estabelecendo a paz, pelo sangue da sua cruz, com todas as criaturas na terra e nos céus”.
       Jesus faz-Se tão próximo da humanidade que a assume por inteiro, na sua fragilidade e finitude, fazendo-Se pecado por nós, deixando-Se ver e tocar, deixando-Se amar e odiar, deixando-Se perseguir e até matar. Para nos redimir. Para nos reconciliar, uns com os outros e com o Pai. Para nos resgatar do pecado e da morte, da solidão e do egoísmo.
       Ele é o Rosto da Misericórdia do Pai, o Bom Pastor, o Bom Samaritano. Não está longe de quantos se fazem próximos, dos construtores da paz e da harmonia, de quantos sonham e trabalham por um mundo melhor, daqueles que ousam esquecer-se de si para tratar as feridas dos outros, de todos os que fazem do amor a mais sagradas das leis.
       E, por outro lado, Ele está tão próximo de nós que O podemos encontrar nos outros, especialmente nos mais pobres e frágeis, a quem nos envia a anunciar o Reino de Deus, a curar e a expulsar os demónios que impedem a luz e a felicidade.
       O convite do salmo é elucidativo: “Vós, humildes, olhai e alegrai-vos, buscai o Senhor e o vosso coração se reanimará. O Senhor ouve os pobres e não despreza os cativos”. A oração faz-nos interceder pelos outros, mas compromete-nos, desde já, aqui e agora, a fazer tudo o que está ao nosso alcance para os atender nas suas preces e nos seus sofrimentos. Somos responsáveis. Teremos de ser samaritanos, isto é, cristãos, procurando agir como Jesus, no cuidado e na delicadeza para com todos.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (C): Deut 30, 10-14; Sal 68 (69); Col 1, 15-20; Lc 10, 25-37.

sábado, 13 de julho de 2013

XV Domingo do Tempo Comum - ano C - 14 de julho

       1 – Sigamos Jesus. Como discípulos procuremos acompanhá-l'O, escutá-l'O, compreender a Sua mensagem. Como BOM SAMARITANO, Ele vem ao nosso encontro, unge-nos com o óleo da caridade, cura as nossas enfermidades, os nossos medos, ilumina as nossas trevas, retira-nos do círculo da morte e da violência, abre-nos o coração de Deus. Traz-nos a eternidade, faz-nos viver humanamente, para nos tornarmos definitivamente imagem e semelhança de Deus.
       No meio da multidão, onde nos queremos com Ele, um doutor da Lei quer testá-l'O. Não é o único. Talvez em alguns momentos da nossa vida quereríamos que Jesus fosse mais evidente (contra o mal), mesmo à custa de parte da nossa liberdade, que Ele respeita e promove. Por que não uma receita para a nossa conduta: «Mestre, que hei de fazer para receber como herança a vida eterna?».
       A primeira resposta de Jesus aponta para a terra, a história e a vida dos homens, para a Sagrada Escritura, palavra de Deus em palavras humanas, vivência da fé do povo eleito. Procuramos no Céu, e a Sua Palavra está entre nós, busquemos, não o extraordinário mas o quotidiano, entre as pessoas que caminham connosco. Deus encontra-nos no nosso caminho. Acha-nos. Para O encontrarmos, basta procurá-l'O nos nossos irmãos. O que diz a Lei? Pergunta Jesus.
       «Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento; e ao próximo como a ti mesmo».
       O doutor da Lei afinal sabe o que é necessário para viver, isto é, para entrar na comunhão com Deus: colocar Deus como prioridade para melhor servir os irmãos.
       Com efeito, a Lei dada a Moisés, o mandato divino, não é nada que não seja acessível aos crentes. “Este mandamento que hoje te imponho não está acima das tuas forças nem fora do teu alcance... Esta palavra está perto de ti, está na tua boca e no teu coração, para que a possas pôr em prática”.

       2 – Se dúvidas subsistissem, Jesus convida a procurarmos as respostas em nós, com a ajuda da daqueles que nos precederam. Como dissera Moisés, a Lei não se impõe, pois está inscrita no nosso coração. Trazemos em nós as marcas da nossa origem e filiação divinas. Daí a urgência da oração mais diligente, de um diálogo constante com Deus, com o nosso íntimo, com a voz da nossa consciência. Daí a necessidade do silêncio e da contemplação, da escuta atenta da palavra de Deus.
       Jesus não apresenta soluções mágicas, receitas que encaixem para todos. Convida a refletir, a encontrar caminhos, a deixar-Se tocar pela Graça, a inspirar-nos pelo Espírito Santo que nos habita. Seguimo-l'O, vemos como Ele faz. Escutamos as Suas palavras. Absorvemos os Seus gestos, a Sua entrega constante. Vislumbramos a Sua postura, a Sua opção preferencial pelos mais pobres. E depois caber-nos-á a nós assumir a Sua maneira de agir, para sermos verdadeiramente Seus discípulos.
       E quem é o meu próximo? Pergunta o doutor da Lei e perguntamos nós. É aquele com quem simpatizo, que pertence ao meu grupo de amigos, à minha religião, ao meu partido, ao meu clube, à minha ideologia? É aquele que pensa como eu? Que se identifica com a minha maneira de ser e de viver? É aquele que me merece admiração e respeito?
       A resposta de Jesus é, antes, a formulação de nova pergunta. Cabe-nos a resposta:
«Um homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores. Roubaram-lhe tudo o que levava, espancaram-no e foram-se embora, deixando-o meio- morto. Por coincidência, descia pelo mesmo caminho um sacerdote; viu-o e passou adiante. Do mesmo modo, um levita que vinha por aquele lugar, viu-o e passou também adiante. Mas um samaritano, que ia de viagem, passou junto dele e, ao vê-lo, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas deitando azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirou duas moedas, deu-as ao estalajadeiro e disse: ‘Trata bem dele; e o que gastares a mais eu to pagarei quando voltar’. Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?». O doutor da lei respondeu: «O que teve compaixão dele». Disse-lhe Jesus: Então vai e faz o mesmo».
        3 – A parábola do Bom Samaritano, mais um exclusivo de São Lucas, é uma extraordinária lição sobre o amor de Deus. Ele é Pai de misericórdia, que ama, que nos chama à vida, que acredita em nós. É Deus fiel. Sanciona a nossa liberdade, como na parábola do filho pródigo. Ama-nos até ao sofrimento, até ao infinito. Quebra todos os limites. Deixa-nos partir, mas o Seu olhar permanece em nós, sobre nós, fixa-se no nosso coração. Espera. Leva a paciência ao grau mais elevado. Faz festa quando nos reencontramos com a vida.
       Assim o Pai de Jesus Cristo, assim o Filho, assim os discípulos.
       Deus não fica passivamente à nossa espera. Ele age com o Seu amor. Atrai-nos. Respeita-nos. A porta está aberta. Saímos. A porta não se fecha, como quando saímos de nossas casas. Com efeito, a casa está escancarada. É o Coração de Deus. É um AMOR pró-ativo. (Não é passivo ou reativo). Ama-nos primeiro. Procura-nos. As Suas entranhas revolvem-se quando nos afastamos e com as trevas procuramos esconder a luminosidade do Seu amor e da Sua presença em nós. Ele é o Bom Samaritano. Não se limita a uma circunscrição religiosa, política, ideológica ou de conveniência. Abraça. Todos. Sem exceção. Reabilitando sobretudo os excluídos da vida.
       No caminho de Jericó também estamos nós. Ora como vítimas da violência, do preconceito, da desconfiança, da prepotência. Ora passamos como sacerdotes ou levitas, dispostos a ajudar os nossos, ou quando as circunstâncias forem mais favoráveis e que não nos tragam dissabores, mas não aqueles que consideramos estranhos, desconhecidos, estrangeiros, que fazem parte de outro grupo, de outro partido, de outra religião. Podem ser perigosos! Podem incomodar a nossa letargia… desinstalar-nos!
       No caminho de Jericó, somos samaritanos, sempre que deixamos de lado o egoísmo e a presunção e ajudamos sem estarmos à espera que nos solicitem. Ide e fazei o mesmo. Diz-nos Jesus. Como Eu fiz, fazei vós também. Dai-lhes vós mesmos de comer. Compromisso. Hoje. Não podemos passar ao largo com indiferença, ou deixando que outros façam, ou lavando as mãos como se não fosse connosco, por que não é dos nossos. Ou culparmos a situação presente, desculpando a nossa inação. A mesma pergunta Deus nos faz hoje: onde está o teu irmão? E como responder? Acaso sou guarda do meu irmão? Se somos discípulos de Jesus, arregaçamos as mãos, cingimos os rins, e corremos, sem peias nem teias, e ajudamos, corremos ao encontro do outro.
       Próximo é aquele que precisa da minha ajuda. Mais, próximo sou eu quando me aproximo do outro para ajudar. E é bom que me faça próximo, já que me digo discípulo de Cristo.
       4 – A história da salvação é a história da Aliança de Deus com o Seu povo, com a humanidade inteira, a começar em Abraão. Deus não é Juiz equidistante, sentado no seu cadeirão a ver a humanidade destruir-se. É o Deus de Abraão, de Isaac, de Jacob, é o Deus de Israel. Está identificado com pessoas e com o povo que é eleito em ordem à bênção de todos os povos. É o Deus de Jesus Cristo, próximo, que vem ao nosso encontro, que Se debruça para nos levantar, que nos pega na mão, como a mãe ao filho, que nos socorre, nos lava os pés, e cura as nossas feridas.
“Cristo Jesus é a imagem de Deus invisível, o Primogénito de toda a criatura; porque n’Ele foram criadas todas as coisas no céu e na terra, visíveis e invisíveis... Ele é a cabeça da Igreja, que é o seu corpo. Ele é o Princípio, o Primogénito de entre os mortos; em tudo Ele tem o primeiro lugar. Aprouve a Deus que n’Ele residisse toda a plenitude e por Ele fossem reconciliadas consigo todas as coisas, estabelecendo a paz, pelo sangue da sua cruz, com todas as criaturas na terra e nos céus”.
       Nós somos o Seu Corpo, a Igreja. Através de nós, Ele continua a ser o Bom Pastor, o Bom Samaritano.


Textos para a Eucaristia (ano C): Deut 30, 10-14; Col 1, 15-20; Lc 10, 25-37.

sábado, 17 de julho de 2010

XVI Domingo do Tempo Comum (ano C) - 18 de Julho

       1 – O cristianismo não é abstracto, mas vivência concreta do Evangelho no meio do mundo, na relação concreta e quotidiana com pessoas de carne e osso, procurando a verdade, a partilha solidária, o compromisso pela justiça, o empenho pela paz, a construção de um ambiente saudável e fraterno, em casa, com a família, com os vizinhos, no local de trabalho, no lazer, proporcionando aos outros bem-estar e alegria.
       A Primeira Leitura intui a delicadeza de um homem de fé. Abraão, pela hora do calor, resguarda-se à entrada da tenda, na sombra e no descanso. Passam três homens (de Deus) e imediatamente o grande patriarca os retém para que parem, descansem, retemperem forças. Para ele, em todo o caso, são presença Deus. Com efeito, em todas as pessoas poderemos acolher o rosto de Deus. São muitas as oportunidades que se nos apresentam para fazermos o bem. ainda que seja um copo de água.
       Também no Evangelho deste domingo vemos a vivência do carinho para com Jesus, vivido em gestos concretos de acolhimento, ternura e conforto. Cansado da jornada, Jesus tem na casa de Lázaro, de Maria e de Marta um porto de abrigo. Ao passar sabe que pode descansar e retemperar as forças. Marta atarefa-se para cuidar do bem-estar de Jesus. Maria acolhe-O na escuta atenta. Duas formas de acolhimento que Jesus aprecia.
       2 – Em tempos de agitação, de crise, de dificuldades, o nosso porto seguro é Jesus Cristo. Ouvimos as Suas palavras, "vinde a Mim todos os que andais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei". Para nós, Ele é a tenda de Abraão, a casa de Lázaro, de Maria e de Marta. É Ele que nos trata das feridas, o Bom Samaritano, que nos acolhe, nos escuta, nos dá novas forças para o caminhar. É d'Ele que nos alimentamos, na Sua palavra e nos Seus sacramentos, em especial da Eucaristia, o alimento espiritual até à vida eterna.
       Paulo, na Segunda Leitura, mostra a sua alegria por contribuir para disseminar a palavra de Jesus Cristo, por deixar transparecer o Seu amor por nós, manifesto sobretudo na Sua paixão redentora. Cada um de nós, seguindo a interpelação de São Paulo, deve testemunhar a paixão de Jesus Cristo com alegria, pela voz e com a vida.

       3 – A dinâmica da fé permite que todos nós possamos contribuir com os nossos talentos, com a nossa forma de ser, com as nossas qualidades, procurando dar o melhor de nós mesmos, com a tal alegria de que nos fala São Paulo. Por vezes perdemos tempo a discutir os dons que não temos, ou os dons que os outros têm.
       Ora, Deus é o mesmo. É o mesmo Pai. Os dons são tão variados quanto as pessoas, e cada um tem algo importante e essencial a dar aos outros e ao mundo.
       Quando Jesus chama a atenção de Marta: "Marta, Marta, andas inquieta e preocupada com muitas coisas, quando uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada", diz-lhe precisamente isso. Marta acolhe Jesus com trabalho, arranjando a casa, preparando o repouso e a refeição, mas deverá fazê-lo com alegria, com generosidade e não em esforço. O reparo de Marta a Jesus, merece d’Ele um outro reparo. O que Maria faz é tão ou mais importante. Não basta alimentar o corpo, mas também o espírito. Ela escuta-O, conforta-O do cansaço da missão.
       A Igreja é Marta e Maria. Mas se for demasiado Marta pode esquecer-se da sua origem e do seu fim último. Tudo começa em Deus, na oração, na meditação e na contemplação que leve à Sua adoração. O compromisso com os outros e com o mundo, para o crente, há-de partir daqui, para que não haja instrumentalização de pessoas nem falte a alegria no serviço solidário.
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Textos para a Eucaristia (ano C): Gen 18,1-10a; Col 1,24-28; Lc 10,38-42.

sábado, 10 de julho de 2010

XV Domingo do Tempo Comum - ano C - 10 de julho

       1 – O amor de Deus pela humanidade é sem limites.
       No Antigo Testamento são usadas várias expressões para nos mostrarem o amor de Deus numa perspectiva maternal. Por exemplo, o profeta Oseias, que temos vindo a escutar durante esta semana, diz-nos que Deus ama como uma mãe ama um filho, desde o ventre materno, mesmo antes de nascer. Deus cuida de Israel, dá-lhe de comer, ensina-o, protege-o contra os inimigos e ainda assim vê que o Povo se transvia. Porém, Deus é fiel e não vindicativo. "Atraía-os com laços humanos, com vínculos de amor. Tratava-os como quem pega um menino ao colo, inclinava-Me para lhes dar de comer".
       São expressões intimistas, de fazer corar um homem de barba rija. Desde quando se poderia falar do amor paternos nestes termos tão cúmplices, tão íntimos?! É essa a linguagem bíblica, procurando traduzir o amor de Deus para linguagem humana. A mãe ama de coração, mas numa amor que também é umbilical. Assim também o amor de Deus por nós brota do Seu íntimo.

       2 – Jesus, para nos falar de Deus e do Seu amor pela humanidade, utiliza imagens em que no-l'O mostra como Pai, mas um Pai próximo, preocupado, cujas características desse amor é mais feminino e materno do quer masculino. Jesus diz-nos mesmo que Deus, na relação com a humanidade, não se importa de "quebrar a cara".
       São Lucas, no seu Evangelho, deixa transparecer claramente a misericórdia divina, com uma expressividade em duas parábolas, a do "Filho Pródigo" e a do "Bom Samaritano", que escutamos neste domingo. Na primeira, Deus é comparável ao Pai, que perdoa ao filho a desonra que este lhe faz, corre ao seu encontro no regresso, faz-lhe uma festa e devolve-lhe a condição de filho. Algo de inimaginável no mundo judeu. Na parábola de hoje, ao ensinar o amor ao próximo, Jesus deixa antever também o estilo do amor de Deus: não espera que Lhe peçam ajuda, socorre prontamente, sem medo de contaminações, sem preconceitos. Um Deus que ama muito além das fronteiras culturais, políticas, religiosas e sociais que nós estabelecemos.

       3 – Deus, como vemos na liturgia da palavra, ama-nos infinitamente, como Pai e como Mãe. Para nos mostrar essa proximidade, dá-nos o Seu Filho. "Aprouve a Deus que n’Ele residisse toda a plenitude e por Ele fossem reconciliadas consigo todas as coisas, estabelecendo a paz, pelo sangue da sua cruz, com todas as criaturas na terra e nos céus" (Segunda Leitura), para nos fazer entrar na Sua intimidade.
       Vivendo na intimidade de Deus, em Cristo Jesus, como fazer para d'Ele não nos afastarmos? Jesus responde-nos: "Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento; ao próximo como a ti mesmo" (Evangelho), citando os preceitos já claramente ordenados no Antigo Testamento.
       Eis a recomendação de Moisés ao povo: "Escutarás a voz do Senhor teu Deus, cumprindo os seus preceitos e mandamentos que estão escritos no Livro da Lei, e converter-te-ás ao Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma" (Primeira Leitura).
       Mas se ainda temos dúvidas sobre o próximo, ou como concretizar o amor de Deus na relação com o nosso semelhante, então voltemos a escutar Jesus: o próximo não é apenas o que precisa de mim, próximo é quem se aproxima para ajudar, voluntaria e gratuitamente, como faz o Bom Samaritano.
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Textos para a Eucaristia (ano C): Deut 30,10-14; Col 1,15-20; Lc 10,25-37