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sábado, 29 de junho de 2013

XIII Domingo do Tempo Comum - ano C - 30 de junho

       1 – O “Senhor, porção da minha herança e do meu cálice”, é o meu chão sagrado, a minha casa, meu conforto e meu descanso. No Senhor está o meu destino, Ele é meu norte, meu porto de abrigo. Só Ele é Deus e só Ele merece por inteiro a minha vida, Ele preenche o meu coração e a minha sede, a minha busca de sentido. Só n'Ele deposito toda a confiança, pois só o Senhor garante o meu ontem – a memória do que fui e sou e do povo a que pertenço –, o meu hoje e o meu amanhã. Só n'Ele se preserva a nossa identidade, atraindo-nos até à eternidade.
       “O Senhor está sempre na minha presença, com Ele a meu lado não vacilarei”. Ele guia o meu peregrinar. Ele me guarda em todos os meus passos. Não vacilarei. Ainda que tremam as minhas pernas, Ele me dará a mão para que não tropece, para que não caia no abismo.
       Com o salmo respondemos à palavra de Deus, na condição de crentes e de membros do Seu povo caminhante. Rezamos a nossa vocação e a nossa entrega. Só Deus nos guia do início até ao fim. Ele é o Alfa e o Ómega, o Princípio e o Fim da minha, da tua, da nossa existência. Ele chama-nos desde sempre. Criou-nos por amor e desafia-nos a vivermos na harmonia de filhos, de irmãos. Por isso nos dará Jesus, o Seu filho bem-amado, para que n'Ele encontremos a Luz e a verdade.
       Nas Suas mãos, o meu destino. É nesta confiança que a tribo de Levi se entrega de corpo e alma ao cuidado do templo, à oração, ao culto. Entrados na terra prometida, 11 das 12 tribos recebem o seu quinhão de terra, para cultivar, para ganhar o pão de cada dia, para plantar, para criar animais. A tribo de Levi não recebe terra, a sua terra é o Templo e as oferendas que aí chegarem. Deus e só Deus é a Sua herança, o seu alimento, o seu chão, o seu presente e o seu amanhã.
       2 – “Senhor, porção da minha herança e do meu cálice”, força e sustento na minha vida. O Senhor me chama e me envia. Para Ele não há recantos obscuros. Não precisamos de reservas mentais, ou de viver no condicional. Ele me guarda de dia e de noite, enquanto caminho e quando descanso. Ele está sempre comigo. “Por isso o meu coração se alegra e a minha alma exulta e até o meu corpo descansa tranquilo”. Ele conhece as profundezas da minha alma. Quer-me por inteiro, também os meus medos, as minhas insuficiências e os meus pecados.
       “Até de noite me inspira interiormente”. Posso caminhar seguro. As seguranças materiais são relativas bem como as seguranças familiares, afetivas, na medida que são a prazo, por mais duradouras que sejam. “Vós não abandonareis a minha alma na mansão dos mortos, nem deixareis o vosso fiel sofrer a corrupção”. Os bens materiais por vezes são mais uma fonte de angústia do que de bênção. Precisamos deles, mas deverão ser uma ajuda à nossa felicidade e para nos aproximarmos uns dos outros. Num sentido semelhante, nenhuma pessoa pode substituir Deus na nossa vida, por mais perfeita que seja, em qualquer altura poderá manifestar a sua humanidade, a sua fragilidade. Entre nós, alguém morrerá primeiro e os outros seguirão… depois! Não vivemos em simultâneo!
       A certeza desta falibilidade não deve gerar angústia ou desânimo. O Senhor é a minha herança. Ele assegura a minha história, dar-lhe-á continuidade. Ele me dá a conhecer os caminhos da vida, para que não me perca. Há luz se sigo o Seu olhar. Não estou só, mesmo que todos os meus amigos me abandonem. Ele está comigo, a meu lado, não vacilarei.

       3 – “Senhor, porção da minha herança e do meu cálice”. É a terra que me coube como promessa e como herança, não sairei defraudado. Ele me chama à Sua presença, para que não vacile o meu olhar. Deixarei tudo o que me impede de caminhar, o que me pesa, o que me estorva na proximidade com Ele e no compromisso com os outros. Ele me chama do meio do Seu povo, para de novo me enviar ao Seu povo a fim de testemunhar o Seu amor.
       É a vocação de cada um, de cada crente, dos membros do povo de Deus, ainda que haja vocações específicas de serviço à comunidade. Patriarcas, Profetas e Reis, Juízes e sacerdotes. Na primeira leitura Deus abraça Eliseu (Deus é salvação), através de Elias (o Senhor é Deus), para que possa dar continuidade à profecia. Não importa tanto o ponto de partida, mas a resposta firme. Eliseu não é profeta nem descendente de profetas. É proprietário, trabalha nos campos da sua família.
“Elias passou junto dele e lançou sobre ele a sua capa. Então Eliseu abandonou os bois, correu atrás de Elias e disse-lhe: «Deixa-me ir abraçar meu pai e minha mãe; depois irei contigo». Elias respondeu: «Vai e volta, porque eu já fiz o que devia». Eliseu afastou-se, tomou uma junta de bois e matou-a; com a madeira do arado assou a carne, que deu a comer à sua gente. Depois levantou-se e seguiu Elias, ficando ao seu serviço”.
       A vocação e o seguimento geram alegria e festa. Quem se sente próximo de Deus não quererá esconder para si tamanha alegria. Eliseu por um momento volta para agradecer aos pais, à família, à sua gente. A delicadeza para com a sua gente também faz parte da vocação.

       4 – “Senhor, porção da minha herança e do meu cálice, está nas vossas mãos o meu destino”. És Tu Senhor a minha luz, o meu porto seguro. Quero seguir-Te em todos os momentos da minha vida. Em todas as tardes e manhãs, de dia e de noite. Tu és o meu Deus. Se me dás a mão não temerei nenhum mal. Nem as forças mais maléficas poderão alguma coisa quando Tu estás comigo.
       Tu me chamas. Desde sempre. Para estar Contigo e para ser por Ti enviado. Não quero ser discípulo a prazo, com a validade limitada, mas discípulo de corpo e alma, a toda a hora.
       Seguir Jesus implica-nos totalmente, não é para quando convém. A vocação e, consequentemente, o seguimento exigem despojamento, entrega, confiança em Deus, desprendimento do que se deixa. De novo para cada um dos batizados, ainda que mais específico para as vocações sacerdotais e religiosas.
       Também a nós nos diz Jesus: «Quem tiver lançado as mãos ao arado e olhar para trás não serve para o reino de Deus». Para seguir Jesus não podemos ficar toda a vida a olhar para trás, a fazer cálculos, agarrados ao passado, tentando equilibrar o seguimento com as nossas seguranças materiais e/ou afetivas, Ele é a nossa herança, a nossa força, a garantia de eternidade.
       O próprio Jesus experimenta a dureza do caminho. Nem sempre é fácil. Há entraves e desilusões, avanços e contratempos. Ele toma-nos a dianteira. “Aproximando-se os dias de Jesus ser levado deste mundo, Ele tomou a decisão de Se dirigir a Jerusalém”. O Mestre entrevê o Seu fim, mas não Se deixa intimidar. Apresenta-Se como testemunha. A Sua entrega é uma opção, uma escolha. Não sacrifica ninguém. É uma proposta. Alguns não O querem receber, mas nem por isso Ele lhes quer mal. Veja-se como Tiago e João queriam destruir aqueles que não querem o que Jesus quer, o que Deus quer. Não. Há que dar tempo. Haverá sempre tempo, enquanto vivemos, para o arrependimento, para a conversão de vida, para o seguimento de Jesus. O Espírito sopra onde quer!
       Deixai por ora os outros. E vós, quem dizeis que Eu sou? Vinde. Sem medo. Não fiqueis a lamentar-vos com os que ficam para trás, com os que não avançam e nem querem que os outros avancem. É HORA de seguir Jesus. “Candeia que vai à frente alumia duas vezes”. Seguimos atrás d’Ele, seguindo os seus passos, podendo, dessa forma, comunicar a Sua luz, para os que ficam…

       5 – “Senhor, porção da minha herança e do meu cálice”. Se Deus é o meu chão sagrado, a minha casa, o meu forte, então como não experimentar a alegria e a paz?! Como não espalhar o Evangelho por toda a parte e a todos levar a bondade de Deus? Se Ele me sustenta, em todas as vielas e avenidas, não há que temer. Ele precede-nos, vai adiante. O meu tesouro é Ele. N’Ele está o meu coração. E no meu bate forte o Seu coração, o Seu amor.
       Permaneçamos firmes na fé. Na visão paulina, permaneçamos em Cristo para que Ele viva em nós e através de nós. Ele libertou-nos do pecado e da escuridão. É urgente viver como ressuscitados, como filhos da luz, orientando a nossa ação pelo Espírito em que fomos batizados. Que a liberdade, em Cristo, nos conduza à caridade, “pela caridade, colocai-vos ao serviço uns dos outros, porque toda a Lei se resume nesta palavra: «Amarás o teu próximo como a ti mesmo». Se vós, porém, vos mordeis e devorais mutuamente, tende cuidado, que acabareis por destruir-vos uns aos outros. Por isso vos digo: Deixai-vos conduzir pelo Espírito…”
       A vocação do cristão é, antes de mais, à santidade, a sermos perfeitos como o Pai celeste é perfeito, a ultrapassarmos a nossas limitações, a levantar-nos das nossas quedas, a darmos as mãos, a procurarmos a harmonia, a vivermos como irmãos, a fazermos família, a perdoarmos as ofensas e os desvios, a acolhermos a misericórdia de Deus, a deixarmo-nos guiar por Ele, pelo Seu Espírito.
       Ele é “a porção da minha herança e do meu cálice”, nas Suas mãos está o meu destino, Ele me conduz aos prados verdejantes, é o meu alimento, a terra que trabalho com esmero e carinho e que me devolve o pão de cada dia.


Textos para a Eucaristia: 1 Reis 19,16b.19-21; Sl 15 (16); Gal 5,1.13-18; Lc 9,51-62

sábado, 9 de outubro de 2010

XXVIII Domingo Tempo Comum - 10/outubro

       1 – Uma característica fundamental para se ser feliz é a humildade. Do mesmo modo para se ser santo. Santidade e felicidade, para o cristão, são termos equivalentes. A humildade coloca-nos em comunhão com os outros e em comunhão com o Totalmente Outro (ou melhor, o Totalmente Próximo). Leva-nos a reconhecer a nossa indigência, as nossas limitações, a nossa finitude, não como fatalidade, mas como abertura solidária e aceitação do outro e da sua ajuda.
       A soberba e a arrogância, expressões da auto-suficiência, encerram a pessoa em si mesmo. Com efeito, aquele que se considera independente em relação a tudo e a todos, assume não precisar de ninguém. Fecha o coração ao Outro (como próximo e como Deus). Não precisa de salvação. Fecha-se a novas descobertas, a novos encontros, ao conhecimento que vem dos outros e do mundo, fecha-se à esperança e ao futuro.
       O Mestre dos Mestres, Jesus Cristo, mostra-nos que a humildade nada nos tira, mas pode dar-nos o essencial, a própria vida em abundância que Ele nos traz, o próprio Deus.
       2 – Na liturgia da palavra deste domingo, salienta-se a humildade para acolher a salvação, ainda que esta possa vir de fora, doutra religião e de outra nacionalidade, e sobretudo do Alto, e para agradecer o DOM recebido.
       Na primeira leitura, é-nos apresentada a última parte de um episódio que exige a humildade para se dar a cura/salvação. Um general sírio, chamado Naamã, ouve falar de Deus que Se revela a Israel, e do Seu poder. Estando leproso, depois de recorrer a vários meios, resolve tentar a religião judaica e o profeta Eliseu. Este manda-o lavar-se sete vezes no rio Jordão. Num primeiro momento vem o orgulho e a soberba. O general recusa-se, dizendo que no seu país também existem rios. Esperava uma intervenção imediata e milagrosa de Deus. Eliseu exige-lhe um gesto simples mas que implica a renúncia ao preconceito e à presunção. O próprio servo do general lhe lembra que não é nada de especial, não é nada que não se possa fazer facilmente. E então "o general sírio Naamã desceu ao Jordão e aí mergulhou sete vezes, como lhe mandara Eliseu, o homem de Deus".
       No Evangelho, 10 leprosos vão até Jesus. Desde logo, a humildade para reconhecer a necessidade de cura. Jesus manda-os mostrar-se ao sacerdote. Algo de muito simples. A salvação de Deus é DOM que nos envolve, exige um movimento de aceitação da nossa parte.

       3 – Mas a humildade também nos leva à gratidão, que por sua vez nos abre novas janelas para o futuro. O general Naamã volta para agradecer a Eliseu. Este cumpriu como intermediário da graça de Deus e, por conseguinte, a gratidão deve orientar-se para Deus. Também os dons que Deus nos dá são para colocarmos ao serviço uns dos outros.
       No Evangelho, dos 10 leprosos, só um volta para agradecer a Jesus, glorificando a Deus: "um deles, ao ver-se curado, voltou atrás, glorificando a Deus em alta voz, e prostrou-se de rosto por terra aos pés de Jesus para Lhe agradecer. Era um samaritano. Jesus, tomando a palavra, disse: «Não foram dez que ficaram curados? Onde estão os outros nove? Não se encontrou quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?»"
       Quantas vezes, bafejados pela vida, não nos damos conta dos bens que recebemos de Deus, na nossa família, dos que nos são próximos!

       4 – A Epístola de São Paulo a Timóteo, ainda que de forma diversa, também nos fala da humildade do testemunho: recebemos de Deus, para darmos do que recebemos. "Se morremos com Cristo, também com Ele viveremos; se sofremos com Cristo, também com Ele reinaremos; se O negarmos, também Ele nos negará; se Lhe formos infiéis, Ele permanece fiel, porque não pode negar-Se a Si mesmo".
       O testemunho é essencial no cristão: aquele que se sabe salvo por Deus, em Jesus Cristo, e que deixa transparecer a alegria, nas palavras e nas obras, para todo o mundo. A LUZ de Deus que irradia em nós torna-nos luminosos. Não opacos. É uma luz que incendeia o nosso coração, que queima, que transforma, que ilumina, e que não podemos encerrar em nós.
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Textos para a Eucaristia (ano C): 2 Reis 5,14-17; 2 Tim 2,8-13; Lc 17,11-19