A terceira Carta Encíclica de Bento XVI empresta o título a este blogue. A Caridade na Verdade. Agora permanecem a fé, a esperança e a caridade, mas só esta entra na eternidade com Deus. Espaço pastoral de Tabuaço, Távora, Pinheiros e Carrazedo, de portas abertas para a Igreja e para o mundo...
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sábado, 23 de abril de 2022
sábado, 18 de abril de 2020
terça-feira, 3 de julho de 2018
São TOMÉ, Apóstolo
Nota Biográfica:
Jesus disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente».
Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!».
Disse-lhe Jesus: Porque me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto».
Oração (coleta):
Tomé é conhecido entre os Apóstolos especialmente pela sua incredulidade que se desvaneceu na presença de Cristo ressuscitado; ele proclamou a fé pascal da Igreja: «Meu Senhor e meu Deus». Sobre a sua vida nada se sabe ao certo, além dos pormenores contidos no Evangelho. Diz-se que pregou o Evangelho na Índia. Desde o séc. VI celebra-se no dia 3 de Julho a memória da trasladação do seu corpo para Edessa.
Jesus disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente».
Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!».
Disse-lhe Jesus: Porque me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto».
Oração (coleta):
Concedei-nos, Deus omnipotente, a graça de celebrar com alegria a festa do apóstolo São Tomé, de modo que, ajudados pela sua intercessão, tenhamos a vida pela fé em Jesus Cristo, que ele reconheceu como Senhor. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
BENTO XVI sobre SÃO TOMÉ
Queridos irmãos e irmãs!Prosseguindo os nossos encontros com os doze Apóstolos escolhidos diretamente por Jesus, hoje dedicamos a nossa atenção a Tomé. Sempre presente nas quatro listas contempladas pelo Novo Testamento, ele, nos primeiros três Evangelhos, é colocado ao lado de Mateus (cf. Mt 10, 3; Mc3, 18; Lc 6, 15), enquanto nos Actos está próximo de Filipe (cf. Act 1, 13). O seu nome deriva de uma raiz hebraica, ta'am, que significa "junto", "gémeo". De facto, o Evangelho chama-o várias vezes com o sobrenome de "Dídimo" (cf. Jo 11, 16; 20, 24; 21, 2), que em grego significa precisamente "gémeo". Não é claro o porquê deste apelativo.Sobretudo o Quarto Evangelho oferece-nos informações que reproduzem alguns traços significativos da sua personalidade. O primeiro refere-se à exortação, que ele fez aos outros Apóstolos, quando Jesus, num momento crítico da sua vida, decidiu ir a Betânia para ressuscitar Lázaro, aproximando-se assim perigosamente de Jerusalém (cf. Mc 10, 32). Naquela ocasião Tomé disse aos seus condiscípulos: "Vamos nós também, para morrermos com Ele" (Jo 11, 16).Esta sua determinação em seguir o Mestre é deveras exemplar e oferece-nos um precioso ensinamento: revela a disponibilidade total a aderir a Jesus, até identificar o próprio destino com o d'Ele e querer partilhar com Ele a prova suprema da morte. De facto, o mais importante é nunca separar-se de Jesus. Por outro lado, quando os Evangelhos usam o verbo "seguir" é para significar que para onde Ele se dirige, para lá deve ir também o seu discípulo. Deste modo, a vida cristã define-se como uma vida com Jesus Cristo, uma vida a ser transcorrida juntamente com Ele. São Paulo escreve algo semelhante, quando tranquiliza os cristãos de Corinto com estas palavras: "estais no nosso coração para a vida e para a morte" (2 Cor 7, 3). O que se verifica entre o Apóstolo e os seus cristãos deve, obviamente, valer antes de tudo para a relação entre os cristãos e o próprio Jesus: morrer juntos, viver juntos, estar no seu coração como Ele está no nosso.Uma segunda intervenção de Tomé está registada na Última Ceia. Naquela ocasião Jesus, predizendo a sua partida iminente, anuncia que vai preparar um lugar para os discípulos para que também eles estejam onde Ele estiver; e esclarece: "E, para onde Eu vou, vós sabeis o caminho"(Jo 14, 4). É então que Tomé intervém e diz: "Senhor, não sabemos para onde vais, como podemos nós saber o caminho?" (Jo 14, 5). Na realidade, com esta expressão ele coloca-se a um nível de compreensão bastante baixo; mas estas suas palavras fornecem a Jesus a ocasião para pronunciar a célebre definição: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida" (Jo 14, 6). Portanto, Tomé é o primeiro a quem é feita esta revelação, mas ela é válida também para todos nós e para sempre. Todas as vezes que ouvimos ou lemos estas palavras, podemos colocar-nos com o pensamento ao lado de Tomé e imaginar que o Senhor fala também connosco como falou com ele.Ao mesmo tempo, a sua pergunta confere também a nós o direito, por assim dizer, de pedir explicações a Jesus. Com frequência nós não o compreendemos. Temos a coragem para dizer: não te compreendo, Senhor, ouve-me, ajuda-me a compreender. Desta forma, com esta franqueza que é o verdadeiro modo de rezar, de falar com Jesus, exprimimos a insuficiência da nossa capacidade de compreender, ao mesmo tempo colocamo-nos na atitude confiante de quem espera luz e força de quem é capaz de as doar.Depois, muito conhecida e até proverbial é a cena de Tomé incrédulo, que aconteceu oito dias depois da Páscoa. Num primeiro momento, ele não tinha acreditado em Jesus que apareceu na sua ausência, e dissera: "Se eu não vir o sinal dos pregos nas suas mãos e não meter o meu dedo nesse sinal dos pregos e a minha mão no seu peito, não acredito" (Jo 20, 25). No fundo, destas palavras sobressai a convicção de que Jesus já é reconhecível não tanto pelo rosto quanto pelas chagas. Tomé considera que os sinais qualificadores da identidade de Jesus são agora sobretudo as chagas, nas quais se revela até que ponto Ele nos amou. Nisto o Apóstolo não se engana. Como sabemos, oito dias depois Jesus aparece no meio dos seus discípulos, e desta vez Tomé está presente. E Jesus interpela-o: "Põe teu dedo aqui e vê minhas mãos! Estende tua mão e põe-na no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê!" (Jo 20, 27). Tomé reage com a profissão de fé mais maravilhosa de todo o Novo Testamento: "Meu Senhor e meu Deus!" (Jo 20, 28). A este propósito, Santo Agostinho comenta: Tomé via e tocava o homem, mas confessava a sua fé em Deus, que não via nem tocava. Mas o que via e tocava levava-o a crer naquilo de que até àquele momento tinha duvidado" (In Iohann. 121, 5). O evangelista prossegue com uma última palavra de Jesus a Tomé: "Porque me viste, acreditaste. Felizes os que, sem terem visto, crerão" (cf. Jo 20, 29). Esta frase também se pode conjugar no presente; "Bem-aventurados os que crêem sem terem visto".Contudo, aqui Jesus enuncia um princípio fundamental para os cristãos que virão depois de Tomé, portanto para todos nós. É interessante observar como o grande teólogo medieval Tomás de Aquino, compara com esta fórmula de bem-aventurança aquela aparentemente oposta citada por Lucas: "Felizes os olhos que vêem o que estais a ver" (Lc 10, 23). Mas o Aquinate comenta: "Merece muito mais quem crê sem ver do que quem crê porque vê" (In Johann. XX lectio VI 2566). De facto, a Carta aos Hebreus, recordando toda a série dos antigos Patriarcas bíblicos, que acreditaram em Deus sem ver o cumprimento das suas promessas, define a fé como "fundamento das coisas que se esperam e comprovação das que não se vêem" (11, 1). O caso do Apóstolo Tomé é importante para nós pelo menos por três motivos: primeiro, porque nos conforta nas nossas inseguranças; segundo porque nos demonstra que qualquer dúvida pode levar a um êxito luminoso além de qualquer incerteza; e por fim, porque as palavras dirigidas a ele por Jesus nos recordam o verdadeiro sentido da fé madura e nos encorajam a prosseguir, apesar das dificuldades, pelo nosso caminho de adesão a Ele.Uma última anotação sobre Tomé é-nos conservada no Quarto Evangelho, que o apresenta como testemunha do Ressuscitado no momento seguinte à pesca milagrosa no Lago de Tiberíades (cf. Jo21, 2). Naquela ocasião ele é mencionado inclusivamente logo depois de Simão Pedro: sinal evidente da grande importância de que gozava no âmbito das primeiras comunidades cristãs. Com efeito, em seu nome foram escritos depois os Atos e o Evangelho de Tomé, ambos apócrifos mas contudo importantes para o estudo das origens cristãs. Por fim recordamos que segundo uma antiga tradição, Tomé evangelizou primeiro a Síria e a Pérsia (assim refere já Orígenes, citado por Eusébio de Cesareia, Hist. eccl. 3, 1) depois foi até à Índia ocidental (cf. Atos de Tomé 1-2 e 17ss.), de onde enfim alcançou também a Índia meridional. Nesta perspectiva missionária terminamos a nossa reflexão, expressando votos de que o exemplo de Tomé corrobore cada vez mais a nossa fé em Jesus Cristo, nosso Senhor e nosso Deus.
in Audiência Geral, 27 de Setembro de 2006: AQUI.
sexta-feira, 27 de abril de 2018
Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida
Disse Jesus aos seus discípulos:
«Não se perturbe o vosso coração. Se
acreditais em Deus, acreditai também em Mim. Em casa de meu Pai há
muitas moradas; se assim não fosse, Eu vos teria dito que vou
preparar-vos um lugar? Quando Eu for preparar-vos um lugar, virei
novamente para vos levar comigo, para que, onde Eu estou, estejais vós
também. Para onde Eu vou, conheceis o caminho». Disse-Lhe Tomé: «Senhor,
não sabemos para onde vais: como podemos conhecer o caminho?»
Respondeu-lhe Jesus: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai
ao Pai senão por Mim» (Jo 14, 1-6).
As palavras de Jesus desafiam, em todas as circunstâncias, à confiança em Deus. Não temais. Eu venci o mundo. Eu estarei convosco até ao fim dos tempos. Tende coragem. Não se perturbe o vosso coração. Acreditai.
Jesus antevê momentos de dificuldade, de dúvida, de dispersão, e enquanto é tempo prepara o coração, a mente, as emoções, dos seus discípulos. Eu vou, mas à frente. Vou preparar-vos um lugar. Se agora estais COMIGO, Eu quero que continue a ser desta forma. Onde Eu estiver aí estareis. Estarei sempre convosco. Vou para o Pai. Em CASA de meu Pai há muitas moradas. Sabeis o caminho. Eu Sou o CAMINHO. Vinde por MIM.
Na primeira Leitura, as palavra de Paulo na sinagoga de Antioquia da Pisídia:
O Livro dos Atos dos Apóstolos, depois de narrar diversos feitos que envolvem todos os apóstolos, mas sobretudo a liderança de São Pedro, centra-se agora na figura ímpar de São Paulo. Os discípulos, com as perseguições à Igreja, espalhavam, com mais fervor no anúncio do Evangelho.
Em Antioquia, dirigindo-se ainda aos judeus, Paulo mostra como em Jesus se cumprem as promessas de Deus a Israel. Os Profetas lidos em cada Sábado na sinagoga veem confirmados as suas palavras na vinda de Jesus, como Messias e Senhor. Mas, os judeus de Jerusalém, sobretudo os chefes, não O reconheceram, condenaram-n'O à morte... mas Deus ressuscitou-O dos mortos e Ele apareceu aos discípulos.
Na primeira Leitura, as palavra de Paulo na sinagoga de Antioquia da Pisídia:
«Irmãos, descendentes de Abraão e todos vós que temeis a Deus, a nós foi dirigida esta palavra da salvação. Na verdade, os habitantes de Jerusalém e os seus chefes não quiseram reconhecer Jesus, mas, condenando-O, cumpriram as palavras dos Profetas que se lêem cada sábado. Embora não tivessem encontrado nada que merecesse a morte, pediram a Pilatos que O mandasse matar. Cumprindo tudo o que estava escrito acerca d’Ele, desceram-no da cruz e depuseram-n’O no sepulcro. Mas Deus ressuscitou-O dos mortos e Ele apareceu durante muitos dias àqueles que tinham subido com Ele da Galileia a Jerusalém e são agora suas testemunhas diante do povo. Nós vos anunciamos a boa nova de que a promessa feita a nossos pais, Deus a cumpriu para nós, seus filhos, ressuscitando Jesus, como está escrito no salmo segundo: ‘Tu és meu Filho, Eu hoje Te gerei’» (Atos 13, 26-33).
Em Antioquia, dirigindo-se ainda aos judeus, Paulo mostra como em Jesus se cumprem as promessas de Deus a Israel. Os Profetas lidos em cada Sábado na sinagoga veem confirmados as suas palavras na vinda de Jesus, como Messias e Senhor. Mas, os judeus de Jerusalém, sobretudo os chefes, não O reconheceram, condenaram-n'O à morte... mas Deus ressuscitou-O dos mortos e Ele apareceu aos discípulos.
Com a Ressurreição e com as aparições do Ressuscitado, a missão dos Apóstolos de anunciarem a boa notícia de que Deus cumpriu as promessas em Jesus Cristo. Também São Paulo é testemunha privilegiada de Jesus Cristo.
terça-feira, 7 de fevereiro de 2017
TOMÁŠ HALÍK - PACIÊNCIA COM DEUS
TOMÁŠ HALÍK (2014). Paciência com Deus. Oportunidade para um encontro. (3.ª Edição). Prior Velho: Paulinas Editora. 288 páginas.
Tomáš Halík, neste título, Paciência com Deus, e que tem como subtítulo “Oportunidade para um encontro”, procura perceber o Zaqueu que se esconde no sicómoro (figueira…), mas que Deus descobre por entre a folhagem. Vivemos num tempo em que podemos, com alguma facilidade, catalogar os que têm fé e os que não têm, os crentes e os ateus. O autor recusa uma leitura apressada, fácil, em que se crie uma divisória nítida. Há muitos Zaqueus para os quais temos que olhar com carinho, com atenção. Deus escapa-nos, não se enforma nas nossas conceções racionais. É mistério que, no entanto, está presente em cada um de nós, pois todos fomos/somos criados à Sua imagem e semelhança. Não nos podemos apossar d’Ele, pois também se encontra nos outros…
Um dos textos citados pelo autor é o do profeta Elias.
Elias, depois de matar os profetas idólatras, é avisado pelo Rei Acaz que o mesmo lhe será feito. Elias sai da cidade e caminha pelo deserto. Já esgotado, pede ao Senhor que lhe tire a vida. O anjo do Senhor aparece-lhe por duas vezes e ordena-lhe: «Levanta-te e come, pois tens ainda um longo caminho a percorrer». Elias faz como o Senhor lhe ordena e dirige-se para o monte Horeb. Aí passa a noite. O Senhor faz saber a Elias que vai passar… «Passou um vento impetuoso e violento, que fendia as montanhas e quebrava os rochedos diante do Senhor; mas o Senhor não se encontrava no vento. Depois do vento, tremeu a terra. Passou o tremor de terra e ateou-se um fogo; mas nem no fogo se encontrava o Senhor. Depois do fogo, ouviu-se o murmúrio de uma brisa suave. Ao ouvi-lo, Elias cobriu o rosto com um manto, saiu e pôs-se à entrada da caverna» (1 Reis 19, 1- 14).
Deus nem sempre é evidente. Em questões de fé nem tudo é branco e preto. Um crente passa por momentos de treva, de dúvida e hesitação. Um “ateu” pode estar perto de Deus, em busca, a percorrer um caminho de aproximação.
É, em meu entender, uma das linhas condutoras do texto de Tomáš Halík, Paciência com Deus, procurando fazer pontes, prevenir juízos precipitados, para não encerrar o próprio Deus em ideias preconcebidas e limitando a Sua ação.
Deus poderá não ser tão evidente como por vezes se faz crer.
Por um lado, em Jesus Cristo, Deus manifesta-Se em plenitude, revela o Seu rosto. Mas não Se deixa aprisionar por uma pessoa ou por uma instituição ou por uma religião. Quem se convence que possui Deus está perto de blasfemar, pois Deus é e continuará a ser Mistério.
Por outro lado, segundo o teólogo checo, o caminho da fé não é linear. A busca honesta e decidida tem avanços e recuos. Deus nem sempre está onde O queremos, pode estar onde não pensamos. Elias é surpreendido. Deus não está na tempestade mas na brisa suave, onde quase não Se percebe.
Santa Teresinha, no momento de especial sofrimento vive a “noite da fé”, contudo, não diminui o amor que permanece até à eternidade.
Em Nietzsche, na proclamação da morte de Deus, segundo o autor, também se intui o silêncio dos crentes que deixaram que Deus fosse morto sem protestarem, sem reivindicarem a Sua vida e a Sua presença…
Deus poderá não ser tão evidente como por vezes se faz crer.
Por um lado, em Jesus Cristo, Deus manifesta-Se em plenitude, revela o Seu rosto. Mas não Se deixa aprisionar por uma pessoa ou por uma instituição ou por uma religião. Quem se convence que possui Deus está perto de blasfemar, pois Deus é e continuará a ser Mistério.
Por outro lado, segundo o teólogo checo, o caminho da fé não é linear. A busca honesta e decidida tem avanços e recuos. Deus nem sempre está onde O queremos, pode estar onde não pensamos. Elias é surpreendido. Deus não está na tempestade mas na brisa suave, onde quase não Se percebe.
Santa Teresinha, no momento de especial sofrimento vive a “noite da fé”, contudo, não diminui o amor que permanece até à eternidade.
Em Nietzsche, na proclamação da morte de Deus, segundo o autor, também se intui o silêncio dos crentes que deixaram que Deus fosse morto sem protestarem, sem reivindicarem a Sua vida e a Sua presença…
Mais perigoso que um ateu convicto é um crente apático!
O diálogo faz-se entre ateus convictos e lutadores e crentes em busca. Entre crentes apáticos, seguros de si mesmos, e ateus indiferentes não há diálogo nem discussão possível. Situam-se uns e outros na denúncia de Nietzsche, Deus morreu e também o matámos. O anúncio não deu lugar ao protesto contra a morte de Deus. Foi um grito que passou com indiferença.
Esta é mais uma belíssima obra e provocação do autor chego, convidando-se a uma busca constante, permitindo que os Zaqueus se aproximem e, no momento em que também nós formos e nos sentirmos Zaqueus, nos deixemos interpelar pelas palavras e pelo desafio de Jesus Cristo.
(elaborei o presente texto a partir de dois textos próprios
publicados na Voz de Lamego, sob o título:
1. Silêncio, Deus não mora à superfície (31 de janeiro de 2017)
2. Deus não mora à superfície (7 de fevereiro de 2017)
Sugiro a leitura do seguinte comentário e onde encontra algumas passagens do livro:
Livro da semana: “Paciência com Deus – oportunidade para um encontro”
UM OUTRO APONTAMENTO
Sobre o discurso doo Papa Bento XVI na Universidade de Regensburg... O autor considera que foi uma brilhante conferência, apesar de se ter tornado famosa pela resposta furiosa de grande parte do mundo muçulmano, suscitada pela transmissão sensacionalista dos meios de comunicação social.
"Frente ao irracionalismo... Bento apela a uma nova aliança entre a fé e o racionalismo, a religião e a ciência. Ele admira a união patrística e escolástica do Logos divino - liricamente apresentada no prólogo de São João - e o logos da filosofia helenística. Além disso, apoia a ideia, avançada pelo imperador Miguel contra o Islão, de que Deus também se vincula mediante normas éticas.
... O Papa apresentou ainda outro argumento de importância fundamental: um Deus incompreensível pode ser perigoso - um «Deus racional» (ao contrário de um Deus oculto, misterioso e imprevisível) é um Deus que permite a tolerância e o diálogo. Os que professam um Deus envolto nas trevas do mistério poderiam dar origem a temores que apenas conseguiriam desencadear violência irracional em nome desse mesmo Deus. Tenho pensado muito nesse argumento, que parece lógico e consistente, quando proferido por um homem que sente a responsabilidade pastoral global, nesta era de «terror em nome de Deus»"
sábado, 2 de abril de 2016
Domingo da Divina Misericórdia - ano C - 3 de abril
1 – A plenitude da misericórdia divina é visualizável no mistério da Encarnação, Deus cabe na palma da mão, cabe no meu e no teu coração. A omnipotência reduz-Se à pequenez e à finitude. Deus, em Jesus Cristo, percorre a história, podemos encontrá-l'O, segui-l'O, acohê-l'O em nossa casa, rejeitá-l'O, persegui-l'O e até matá-l'O. Faz-Se Caminho para nós e entra nos caminhos do tempo, vem ao nosso mundo. O mistério da Páscoa, morte e ressurreição de Jesus, condensa e evidencia em definitivo a misericórdia de Deus que Se ajusta à nossa fragilidade. O coração de Deus compadece-se da nossa miséria e envolve-nos no Seu amor. Já tínhamos visto em quinta-feira santa, como Jesus Se ajusta ao ser humano, ajoelhando-se para nos servir, lavando-nos os pés. Olha-nos a partir de baixo, para nos elevar. Em Sexta-feira Santa, Jesus leva até ao fim o Seu amor por nós, não vacilando, apesar de tanta dor. A Cruz é pesada e pesada é a traição e o abandono dos amigos, e como amargas são as trevas que quase O impedem de ver o Pai. No final, entrega-Se, por mim e por ti, por todos.
Com a Páscoa vem uma enxurrada de vida nova. A morte não tem mais a última palavra. Esta é de Deus, é da vida, é do Amor. Jesus regressa trazendo-nos, na expressão de Bento XVI, a vastidão do Céu. Um vislumbre de luz que incendiou o mundo. Assim é a Luz da Fé, à minha luz, a luz do outro, e mais luz, como a chama de um isqueiro num estádio de futebol, quase invisível, mas logo que se acendem dezenas, centenas, milhares, o estádio fica todo iluminado. O encontro com Jesus ressuscitado, a experiência da misericórdia de Deus na nossa vida, impele-nos a sermos luz uns para os outros. Com a nossa luz podemos guiar outros para a luz de Cristo e acender a luz em outros!
São João Paulo II quis que este segundo domingo de Páscoa fosse considerado sob o prisma da misericórdia, acentuando a Páscoa como expoente máximo da compaixão de Deus pela humanidade. Abaixa-Se para nos elevar, como a Mãe que se agacha para pegar o seu filho ao colo!
2 – Páscoa de Jesus Cristo. Sepulcro sem corpo e sem vida. A vida está além do sepulcro. Não é um teatro em que se possa dizer que a vida está aquém das cortinas, contudo está aquém do sepulcro e além da morte. Jesus ressuscitou. A vida germina de novo em abundância. Deixou-Se matar, e Deus Pai ressuscitou-O, agora deixa-Se ver. Deixa-Se encontrar novamente, deixa-Se perceber ao nosso olhar e ao nosso coração. Não é fantasma, é Ele mesmo. Traz as marcas da crucifixão e a mesma mensagem: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós».
Na tarde daquele Primeiro Dia, nova criação, Jesus volta a colocar-Se no MEIO, congregando, unindo, formando comunidade, é o ELO mais forte, sem o Qual não existe comunidade, mas medo e atrofiamento. Não é um corpo que foi reanimado, mas uma forma totalmente nova de Se manifestar. É tanta a LUZ que encandeia num primeiro momento. A aparição assusta, os gestos e as palavras, e as marcas de cumplicidade, esclarecem e comprometem. A morte tinha sido violenta e abrupta a separação. Já havia rumores. Algumas mulheres afirmavam que Ele tinha ressuscitado! Para os discípulos não passam de rumores que só deixam de o ser se puderem comprovar. E eis que vem Jesus, como sempre o havia feito, e os centra à Sua volta, mas logo enviando-os, com uma missão específica: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos». A misericórdia divina tem novos intérpretes. Os discípulos são os braços, as pernas, as mãos, o coração de Jesus para o mundo das pessoas.
3 – Mas como sermos testemunhas se não estávamos quando Jesus apareceu? O envio também é extensível a nós, ou só àquele grupo restrito? É possível ser enviado sem a comunidade?
O Espírito sopra onde quer. Não podemos encerrar Deus nos nossos esquemas mentais nem dentro das portas que Lhe fixamos. Porém, Deus quer-nos à volta da mesma mesa, pois é ao mesmo Reino que nos chama. Quando estamos alheados, com os pés e com o coração distantes dos outros, será mais difícil reconhecermos a presença de Jesus, pois esta enlaça-nos, une-nos, irmana-nos. Jesus morre na Cruz para nos salvar, não Se salva a Si mesmo, mas a nós. Se Deus é o mesmo, Pai-nosso, se Jesus está no Meio, só estando juntos poderemos, verdadeiramente, testemunhá-l'O.
Tomé, chamado Dídimo, isto é, Gémeo, nosso irmão gémeo, lembra-nos que a fé não é um dado adquirido, mas é procura constante para encontrar com Jesus, nas variadas situações da vida. Naquela tarde, Tomé não estava. Ouve o testemunho dos outros que viram Jesus. É um dizer indireto, em segunda mão. Tomé precisa de ver e de tocar. A fé não é mera abstração intelectual. Envolve-nos mental, afetiva e racionalmente. Oito dias depois, Jesus volta a colocar-se no MEIO deles, com Tomé presente. As marcas da paixão podem ver-se no Corpo de Jesus, e novamente a mensagem de sempre: a paz esteja convosco. É hora de Tomé ser surpreendido por Jesus: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé encontra-se com Jesus e ao vê-l'O confessa: «Meu Senhor e meu Deus!».
Não se pense que a incredulidade de Tomé foi assim tão diferente da dos outros discípulos. Eles tinham escutado rumores, mas só quando Jesus lhes apareceu é que acreditaram. Não estava na primeira vez, porém, quando Jesus o encontra, Tomé acredita.
Contudo, o anúncio é crucial para a transmissão da fé. A fé chega-nos através da comunidade, com Jesus ao centro, e pelo testemunho daqueles que fizeram a experiência de encontro com Jesus. Diz-nos Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto».
4 – A Ressurreição de Jesus não é um acontecimento sensível, empírico, mas deixa marcas profundas na história. ONZE apóstolos, assustadiços, medrosos, fechados a sete chaves com medo que lhes suceda o mesmo que ao Mestre da Misericórdia. A experiência nas últimas horas de vida de Jesus foram avassaladoras. Nenhum deles estava preparado para aquele desfecho. Foi um descalabro: todos abandonaram o Mestre da Docilidade. Pedro negou-O publicamente. Judas traiu-O e precipitou o desfecho aguardado. Afastam-se de Jerusalém.
Em pouco tempo os discípulos estão de volta. O encontro com o Ressuscitado abre portas e janelas e eles saem a testemunhar Jesus em todos os ambientes e em toda a parte. "Pelas mãos dos Apóstolos realizavam-se muitos milagres e prodígios entre o povo. Unidos pelos mesmos sentimentos, reuniam-se todos no Pórtico de Salomão... Uma multidão cada vez maior de homens e mulheres aderia ao Senhor pela fé, de tal maneira que traziam os doentes para as ruas e colocavam-nos em enxergas e em catres, para que, à passagem de Pedro, ao menos a sua sombra cobrisse alguns deles. Das cidades vizinhas de Jerusalém, a multidão também acorria, trazendo enfermos e atormentados por espíritos impuros e todos eram curados".
É tempo de os discípulos imitarem Jesus, anunciando a Boa Nova aos pobres, curando os doentes, libertando os oprimidos pelos muitos demónios que impedem de viver a bem com os outros.
5 – Como tinha garantido, Jesus não estará ausente da vida dos Seus discípulos e da vida da comunidade. Ele está no MEIO e é a partir do Meio que nos une a todos, como irmãos, apesar e além das diferenças e das características específicas.
No Apocalipse, João ressalva a presença e a proteção de Jesus: "No dia do Senhor fui movido pelo Espírito e ouvi atrás de mim uma voz forte, semelhante à da trombeta… Voltei-me e vi alguém semelhante a um filho do homem... Quando o vi, caí a seus pés como morto. Mas ele poisou a mão direita sobre mim e disse-me: «Não temas. Eu sou o Primeiro e o Último, o que vive. Estive morto, mas eis-Me vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e da morada dos mortos. Escreve, pois, as coisas que viste, tanto as presentes como as que hão de acontecer depois destas».
Com a mesma fé que libertou os discípulos das cadeias do medo e da morte, cofiemo-nos ao "Deus de eterna misericórdia" que reanima a fé do Seu povo na celebração anual das festas pascais, para que aumente em nós os dons da Sua graça, "para compreendermos melhor as riquezas inesgotáveis do Batismo com que fomos purificados, do Espírito em que fomos renovados e do Sangue com que fomos redimidos".
Renovados em Cristo, configurados à Sua morte e ressurreição, pelo Espírito Santo, tornemo-nos obreiros da misericórdia divina nos nossos ambientes, em casa, na família, no trabalho, com os amigos e vizinhos, nos momentos de descontração e lazer, na alegria e na festa, no sofrimento e no luto, e a todos comuniquemos confiança e paz, carinho e ternura.
Pe. Manuel Gonçalves
segunda-feira, 20 de abril de 2015
Será a ressurreição um final feliz?
Há uns anos em Salamanca, ouvi, com dois amigos sacerdotes, a voz castelhana de uma mulher a despertar os que, indiferentes, passavam ou se afastavam de uma zaragata entre dois homens: “matam um homem na praça maior e ninguém faz nada”. Assim era: cada pessoa seguia como se nada se estivesse a passar. Rapidamente as pessoas se voltaram e puseram fim àquela bulha.
Esta tolerância pode matar. Passamos ao lado para não sermos incomodados no futuro. Não queremos "intrometer-nos" na vida dos outros, "entre marido e mulher ninguém meta colher", entre pais e filhos... eles que se entendam! É preferível não ver, não ouvir, não fazer nada... Passamos ao lado, porque não podemos corrigir todo o mal, todos os conflitos. Estes são cada vez mais e mais violentos. Abertura de telejornais, primeiras páginas de jornais e revistas: conflitos, guerras, guetos, violência doméstica, corrupção...
Esta tolerância não respeita o outro, é indiferença que mata ou deixa morrer!
Na sua primeira Mensagem para o Dia Mundial da Paz (2014), o Papa Francisco relembra-nos a fraternidade a construir, desejo inscrito no nosso coração. Contudo, lamenta a crescente globalização da indiferença perante o sofrimento alheio. Mais recentemente, na Mensagem para a Quaresma (2015), o Papa volta a insistir na globalização da indiferença que se acentua, remetendo-nos para o mistério da encarnação, morte e ressurreição de Jesus: «A Deus não Lhe é indiferente o mundo, mas ama-o até ao ponto de entregar o seu Filho pela salvação de todo o homem. Na encarnação, na vida terrena, na morte e ressurreição do Filho de Deus, abre-se definitivamente a porta entre Deus e o homem, entre o Céu e a terra».
A ressurreição sanciona o compromisso preferente de Jesus com os mais frágeis. Como Seus discípulos, não a poderemos transformar num tónico analgésico, mas, num esforço renovado, teremos que levar a ressurreição a todos os recantos onde predominam as trevas, a morte, o sofrimento.
Texto publicado na Voz de Lamego, edição de 14 de abril de 2015
terça-feira, 14 de abril de 2015
TOMÁŠ HALÍK - O MEU DEUS É UM DEUS FERIDO
TOMÁŠ HALÍK (2015). O Meu é Deus é um Deus ferido. Prior Velho: Paulinas Editora. 240 páginas.
Ao olhar para escaparate, no caso concreto da livraria religiosa da Diocese de Lamego, Gráfica de Lamego, este foi um título/livro que não me despertou atenção. Peguei nele para o desviar de outros. É certo e sabido que o conteúdo é o mais importante, mas o aspeto abre o apetite e pela capa nem o título li direito, pensando que era um livro clássico, pesado. A recomendação veio do meu pároco, Pe. Adriano Cardoso, Pároco de Penude, dizendo que era um autor muito bom, criativo, que ia além dos conceitos habituais e que valia a pena ler.
Permitiu-me desta forma conhecer um autor que me era estranho. É possível que já tivesse lido alguma citação mas nunca me despertou a atenção. Natural de Praga, na República Checa, foi temperado pela perseguição do regime à Igreja Católica, vivendo na clandestinidade, foi ordenado sacerdote em 1978, tornando-se um dos assessores mais próximos do Cardeal Tomášek, figura emblemática da «Igreja do Silêncio». Com o fim do comunismo, tornou-se conselheiro do presidente Václav Havel e, posteriormente secretário-geral da Conferência Episcopal Checa.
Em Portugal, há pelo menos mais dois títulos publicados pela mesma editora, Paciência com Deus. Oportunidade para um encontro (2013), e A noite do confessor. A fé cristã numa era de incerteza (2014).
«O Meu Deus é um Deus ferido» trata do testemunho eloquente do encontro de Jesus com Tomé, cuja incredulidade nos leva a procurar as razões da nossa esperança, não dando a fé como adquirida, mas como procura constante, entre certezas e dúvidas, entre "provas" (testemunhos) e sofrimentos. Tomé é convidado a tocar Jesus, a tocar nas Suas chagas. Se a Maria Madalena Jesus diz "Não Me toques", isto é, não Me detenhas, a Tomé, Jesus diz: vem, vê, toca as minhas chagas. A fé não pode fixar o corpo biológico de Jesus, não tem provas tangíveis, mas deve tocar as feridas de Jesus nos corpos, nas vidas das pessoas.
Sublime também a confissão de Tomé. No diálogo de Jesus com Pilatos, sobrevêm a identidade do homem: Ecce Homo, eis o Homem. Em Tomé, a confissão de fé em Deus: Eis Deus - Meu Senhor e Meu Deus.
Ninguém vai ao Pai senão pelo Filho. Mas o Filho de Deus deixa-Se ver nas feridas e em todos os feridos deste mundo. Se tocarmos as feridas, a chagas do mundo, das pessoas deste tempo - o que fizerdes ao mais pequeno dos irmãos a Mim o fazeis - então podemos tocar Deus. Já não será uma abstração filosófica, mas um encontro real.
Bem-aventurados os que acreditam sem terem visto. A última das Bem-aventuranças. "Só o «não-ver», honesta e humildemente reconhecido e aceite, abre espaço à fé. A fé é proposto persistir neste não-ver. Ela deve velar, até ao fim, para que o o espaço do «não-visível» permaneça vazio e, todavia, simultaneamente aberto - como o sacrário do Sábado Santo, na hora da adoração das chagas do corpo e do coração de Cristo. Para esta tarefa verdadeiramente nada fácil, a fé necessita ainda da esperança e do amor".
Saliente-se ainda a ponte que faz o sacerdote-teólogo checo entre a vivência ocidental e oriental da fé, entre ortodoxos e católicos e destes com os protestantes, pontes ecuménicas e diálogo interreligioso, com os judeus, com os muçulmanos, mas também com as religiões orientais.
Recendamos a leitura da recensão feita pelo
sobre este livro e sobre o autor: AQUI.
sábado, 26 de abril de 2014
Domingo II de Páscoa - ano A - 27 de abril de 2014
1 – Cristo ressuscitou, como disse, Aleluia! Este é o dia que o Senhor fez, alegremo-nos e exultemos de alegria. Aleluia, aleluia. Grande alegria, a maior que o mundo tem, boa notícia da salvação, Jesus, crucificado, morto, sepultado, está vivo, está no meio de nós. Corações ao alto. O nosso coração está em Deus. É a nossa luz e a nossa salvação. O anúncio da Páscoa, que chegou a nossas casas, que levamos aos vizinhos, aos amigos, à família, chegou, naquele dia, o primeiro da semana, o primeiro da nova criação, chegou e ressoou nos ouvidos dos apóstolos.
As mulheres, manhã cedo, ainda escuro, nas primeiras horas do dia, mal se vislumbrava o caminho, foram ao sepulcro. E que viram elas? O sepulcro vazio? Diz-nos o nosso Bispo, D. António Couto, as mulheres, como os discípulos, encontram o sepulcro aberto, mas não vazio, "está, na verdade, cheio de sinais, que é preciso ler com atenção: um jovem sentado à direita com uma túnica branca (Marcos 16,4), dois homens com vestes fulgurantes (Lucas 24,4), as faixas de linho no chão e o sudário enrolado noutro lugar (João 20,6-7). É importante ler os sinais e ouvir as mensagens!"
O Corpo, oferecido em Quinta-feira Santa, não foi roubado. Deus ressuscitou Jesus de entre os mortos, para n'Ele nos inserir num tempo novo, recriado pela Sua graça e misericórdia. E os sinais tendem a multiplicar-se e a transformar aqueles que permitem que Deus se lhes revele. O túmulo abriu-se à luz, à esperança. É urgente que o nosso coração se abra também a esta luz.
2 – Os sinais visíveis no túmulo aberto levam-nos para outro lugar. Finda a noite, é DIA, tempo de procurar Jesus. Melhor, é altura de deixar que Jesus nos encontre: em casa, no campo, a caminhar, no trabalho, na hora de refeição.
"Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos».
O segundo Domingo de Páscoa, o Domingo da Misericórdia, traz-nos a dúvida e o medo de Tomé, bem visível nos demais discípulos, com dificuldade em encarar a claridade imensa da Luz do Ressuscitado. Pouco a pouco se abrem os nossos olhos e os nossos ouvidos. Deus não força. Deus não impõe nem Se impõe. Oferece-se como DOM de vida nova. Mas cabe-nos descobri-l'O, reconhecê-l'O, acolhê-l'O, e anunciá-l'O.
A vida dos apóstolos, e dos discípulos, altera-se para sempre, em 180 graus. Viram e acreditaram. A mensagem liga Jesus ao tempo e à história. O Ressuscitado é o mesmo que o Crucificado. Também a Mensagem é a mesma: A paz esteja convosco. Recebei o Espírito Santo. Eu vos envio a vós, para que vades e deis fruto em abundância.
3 – A morte de Jesus provoca uma razia/crise entre os apóstolos. Judas que traiu. Pedro que negou. Discípulos que fugiram. Portas e janelas fechadas. Discípulos que regressam a suas casas e não à casa comum, onde se deveriam animar uns aos outros. Será necessário que se encontrem outra vez, todos, com/em Cristo Jesus.
Tomé, na tarde daquele primeiro dia da nova criação, não estava. Os outros discípulos testemunham o que viram e ouviram. Tomé precisa de ver, precisa de encontrar-se com Jesus. O testemunho dos colegas é importante, despertando, pondo-o de sobreaviso, lançando incertezas às certezas (frustradas) de Tomé, convocando-o para voltar a casa, regressando à comunidade discipular.
Oito dias depois, Jesus novamente no meio dos apóstolos. Também lá está Tomé. Estão juntos, em casa. As portas continuam fechadas. O medo permanece por algum tempo. Jesus coloca-se no meio. Jesus deve estar sempre no meio, da casa, da comunidade, ocupando o nosso coração e o nosso olhar, a nossa vida por inteiro. É Ele que verdadeiramente nos reúne, nos congrega, nos aproxima. Quanto mais perto estivermos d’Ele tanto mais perto estaremos uns dos outros, e quanto mais nos aproximarmos uns dos outros, mais visível se torna a Sua presença no meio de nós. Jesus traz a paz. Anunciada ao longo da Sua vida pública, é dada de novo na ressurreição.
Diz Jesus a Tomé, e também a nós: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Perante Jesus Ressuscitado não há palavras que possam mostrar o desassombro. A profissão de fé de Tomé, breve, traz o coração às palavras: «Meu Senhor e meu Deus!». Ainda hoje é esta a oração e a profissão de fé que muitos católicos rezam diante do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, o milagre maior da nossa fé. Jesus está vivo, entre nós, especialmente no Sacramento da Eucaristia, nas espécies do pão e do vinho.
Jesus deixa-nos uma interpelação: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto». Há momentos na vida em que o essencial só é visível ao coração. A presença de Jesus, na maioria das vezes, só é palpável na simplicidade, um gesto de perdão, uma mão que se estende para outra mão segurar, uma carícia que salva, uma ferida limpa com amor, uma lágrima que se enxuga com carinho e atenção.
4 – O CORPO de CRISTO, a Igreja, forma-se a partir da Sua Ressurreição. Ele está no meio, é o Guia, o Bom Pastor, a pedra rejeitada que Se tornou pedra angular (Salmo). Somos pedras vivas que se cimentam em Jesus, pelo Espírito Santo.
Para que o corpo permaneça saudável precisa de cuidados, e de alimento, e de vigilância. Para que a Igreja, Corpo de Cristo, se conserve sã, precisa, antes de mais, de Se alicerçar em Cristo, amparando-se em outros pilares importantes.
A comunidade de Jerusalém mostra-nos como ser Igreja. "Os irmãos eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações... Todos os que haviam abraçado a fé viviam unidos e tinham tudo em comum. Vendiam propriedades e bens e distribuíam o dinheiro por todos, conforme as necessidades de cada um. Todos os dias frequentavam o templo, como se tivessem uma só alma, e partiam o pão em suas casas; tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração, louvando a Deus…"
Oração, escuta da Palavra de Deus, meditação, ensino dos Apóstolos, comunhão fraterna, fração do pão. Presença nos locais de culto. Comunidade que se ramifica na casa dos crentes, que exige a celebração e a partilha. A comunhão em Cristo pressupõe a comunhão com os irmãos. A comunhão com os irmãos pressupõe que também nos bens materiais existe entreajuda, conforme as necessidades.
5 – Um dos alimentos para o Corpo Cristo é a escuta da Palavra de Deus, procurando que HOJE ela toque a nossa vida. Pedro, depois do encontro com Jesus Ressuscitado, toma a dianteira na pregação, no anúncio do Evangelho e das maravilhas que Deus operou, por Jesus Cristo, a favor de todo o povo, convocando-nos a viver em lógica de esperança, empenhando-nos na transformação do mundo.
Aí está mais uma belíssima página da primeira Carta de São Pedro:
"Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, na sua grande misericórdia, nos fez renascer, pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos, para uma esperança viva, para uma herança que não se corrompe, nem se mancha, nem desaparece… Isto vos enche de alegria, embora vos seja preciso ainda, por pouco tempo, passar por diversas provações, para que a prova a que é submetida a vossa fé – muito mais preciosa que o ouro perecível, que se prova pelo fogo – seja digna de louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo Se manifestar. Sem O terdes visto, vós O amais; sem O ver ainda, acreditais n’Ele. E isto é para vós fonte de uma alegria inefável e gloriosa, porque conseguis o fim da vossa fé: a salvação das vossas almas".
Ressuscitámos com Jesus Cristo, e a nossa fé liga-nos para sempre à eternidade de Deus, mas porquanto é-nos dado viver no meio de provações. A luz que vem de Cristo há de atrair-nos também nos momentos de dor e de treva, até à alegria eterna, procurando antecipá-la e saboreá-la HOJE com as pessoas que Deus nos dá para cuidarmos e para cuidarem de nós.
Pe. Manuel Gonçalves
Textos para a Eucaristia (A): Atos 2, 42-47; Sl 117 (118); 1 Ped 1, 3-9; Jo 20, 19-31
Reflexão Dominical na página da Paróquia de Tabuaço
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sábado, 6 de abril de 2013
Domindo II de Páscoa - ano C - 7 de abril de 2013
1 – «Não temas. Eu sou o Primeiro e o Último, o que vive. Estive morto, mas eis-Me vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e da morada dos mortos. Escreve, pois, as coisas que viste, tanto as presentes como as que hão de acontecer depois destas».
Revelador o texto do Apocalipse (= Revelação). Aparições (Visões) do Ressuscitado, trazem-nos o Céu, a certeza que Deus não nos larga à nossa sorte. As palavras de Jesus durante a Sua peregrinação humana são DITAS de novo: não temais, Eu venci o mundo, Eu Sou o Senhor da Vida e da Morte. Nada vos pode separar do amor de Deus, nem a espada, nem a potestade, nem a vida nem a morte. Basta querer. Basta acolher Aquele que vem de Deus.
Ressuscitado, Jesus apresenta-Se com o mesmo ROSTO (mais luminoso), a mesma PRESENÇA, a mesma PALAVRA redentora. Somos testemunhas destas coisas, então demos testemunho do que experimentamos, a ALEGRIA de sermos filhos bem-amados de Deus, a paz de sabermos que Deus nos habita. Jesus vive e está no meio de nós.
O autor do Apocalipse e do Evangelho, São João, percebe a tarefa de colocar por escrito o que viu, ouviu, o que viveu junto de Jesus, o que lhe foi revelado e, por conseguinte, coloca por escrito para que outros tenham acesso a Jesus e à Sua Mensagem. As palavras são instrumento da REVELAÇÃO. São palavras humanas a servirem a COMUNICAÇÃO de Deus, e por isso são também Palavra de Deus, palavra de salvação. Não podemos calar o que vimos e ouvimos. Não posso deixar de evangelizar, de levar o mais longe possível a BOA NOTÍCIA. Deus veio até nós, para nos reunir, para nos remir, para construir connosco novos céus e nova terra, para que todas as coisas sejam novas, sob a luz da ressurreição.
Escrevamos também nós. Façamos com que as nossas palavras e a nossa vida sejam um livro aberto, pintado com a postura de Jesus, escrito com o SONHO de cavar em todos os corações AMOR e PERDÃO.
2 – Os primeiros discípulos (que presenciam a peregrinação terrena de Jesus e a sua visitação gloriosa) e nós, os últimos discípulos de Cristo, os discípulos deste tempo e para este mundo, somos RESPONSÁVEIS por tornar habitável esta terra. Teremos que contagiar. Mostrar que JESUS ressuscitou há dois mil anos mas que também ressuscitou na minha, na tua, na nossa vida, nos dias que passam. Ele continua a encontrar-Se no nosso caminho, por vezes silenciosamente, escondido nas lágrimas e nos sorrisos das pessoas que estão ao nosso lado, nas crianças ou nos idosos, nos jovens sonhadores ou nos adultos desencantados, como naquela manhã de Páscoa e naquela tarde, o primeiro dia da NOVA CRIAÇÃO.
“Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes serão retidos».Com a Ressurreição chega Jesus e com Ele a Paz e o Envio. Os discípulos não vão sozinhos. Nós não vamos isoladamente. Vamos como irmãos. Levamos as MARCAS de Jesus. Guia-nos o Seu Espírito de Amor. Ele vive. Não temamos. Ressuscitou e com Ele vêm as marcas da crucifixão, melhor, os sinais do Seu amor por nós. São as mesmas mãos que se abriram para abraçar, para perdoar, para acolher, para apoiar, para levantar. É o mesmo lado que nos anima, o lado do CORAÇÃO. O amor que o levou à Cruz é o mesmo que no-lo devolve VIVO.
3 – Dizia o então Cardeal Ratzinger, papa emérito Bento XVI, respondendo a uma questão, que a Igreja tem tantos caminhos quantas as pessoas, pois cada pessoa faz o seu caminho, ainda que na aproximação ao CAMINHO que é Cristo Jesus. Ao olharmos para o colorido dos apóstolos que compõem o grupo de seguidores vemos como todos eles acolhem Jesus de maneira diferente, mas todos experimentam a dúvida sinalizada hoje em Tomé:
“Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão na seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!» Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto». Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome”.
Tomé, chamado Gémeo (veja-se texto de D. António: AQUI), precisa de provas. Ele não está no primeiro dia da semana. Mais um que se deixou prender pelo medo. Ele não estava com a comunidade e por conseguinte precisa de se incluir DENTRO, para que Jesus possa apresentar-Se no MEIO deles. Só estando com eles O podemos ver. Fora, à margem, contra os outros, não podemos ver Jesus. Tomé é irmão gémeo. Somos como ele. Nos silêncios de Deus aguardamos por clarividências, por provas. Quantas vezes Deus está sorrateiramente no MEIO de nós e nem nos apercebemos, tão grandes sãos as nossas feridas, tão amargas são as nossas lágrimas. O medo deu lugar à alegria, as portas fechadas são escancaradas pela PRESENÇA do Senhor. Mas é preciso deixar que Ele esteja no MEIO de nós. Só assim nos reconhecemos como seus discípulos, como irmãos. A dúvida de Tomé é igual à minha e à tua dúvida. Quando estamos mais sós assola-nos o medo e a treva e a noite.
Mas duvidar não é pecar. O ser humano é um ser que se inquieta e se questiona. A dúvida abre o nosso coração e a nossa mente às SURPRESAS que vêm dos outros, que vêm de Deus. Quando deixarmos de perguntar ou nos tornamos deuses ou demónios, ou temo-nos como auto suficientes, ou como incapazes de Deus. Sem dúvida, sem perguntas, caímos no cinismo que nos pesa e aniquila. Que o nosso irmão Gémeo nos leve à contemplação de Jesus e à sábia profissão de fé: “Meu Senhor e Meu Deus”.
4 – O medo paralisante junto à Cruz dá lugar à alegria contagiante junto do Ressuscitado. Porém, não é um comprazimento pessoal, egoísta. A alegria, a festa, só têm sentido se vividas com os outros, partilhadas. Quando a vida nos sorri saímos fora de nós, por vezes aluamos, saltamos, cantamos, tornámos audível a nossa alegria.
O encontro com Jesus Ressuscitado compromete-nos com o anúncio do Evangelho, visualizando em nossas palavras e nos nossos gestos que Jesus vive em nós. A Igreja dos primeiros dias dá lugar à Igreja contemporânea de cada pessoa, atraindo todos para os últimos tempos, para a plenitude.
“Pelas mãos dos Apóstolos realizavam-se muitos milagres e prodígios entre o povo. Unidos pelos mesmos sentimentos, reuniam-se todos no Pórtico de Salomão; nenhum dos outros se atrevia a juntar-se a eles, mas o povo enaltecia-os. Cada vez mais gente aderia ao Senhor pela fé, uma multidão de homens e mulheres, de tal maneira que traziam os doentes para as ruas e colocavam-nos em enxergas e em catres, para que, à passagem de Pedro, ao menos a sua sombra cobrisse alguns deles. Das cidades vizinhas de Jerusalém, a multidão também acorria, trazendo enfermos e atormentados por espíritos impuros e todos eram curados”.
A alegria da nossa fé há de transformar-nos e transbordar para os outros, para que outros se sintam desafiados a viver a fé, a viver ao jeito de Jesus.
Textos para a Eucaristia (ano C): Atos 5,12-16; Ap 1,9-11a.12-13.17-19; Jo 20,19-31
Reflexão dominical na página da Paróquia de Tabuaço.
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sábado, 30 de abril de 2011
Domingo da Divina Misericórdia - 1 de Maio
1 - "Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos»...
A desolação da morte na CRUZ dá lugar à vida, à ressurreição, e consequentemente à surpresa e depois ao encontro com o Ressuscitado e logo à alegria e à confiança, que por sua vez se converte em partilha, testemunho, nascendo a comunidade crente, que tem como ponto de partida, de chegada, e como sustentáculo a Cristo ressuscitado.
Os discípulos vêem goradas as suas esperanças e as suas certezas acerca do Mestre e Senhor, que eles pouco a pouco vão descobrindo como Messias, esperado pelos profetas e enviado por Deus. Com a Sua morte, os discípulos dispersam, com medo refugiam-se em casa, em Jerusalém e nos arredores, para depois das festas pascais e passado o luto voltarem para a Galileia. Estão frustrados, tristes, sentem que lhes fugiu o chão. Pouco têm para fazer em Jerusalém.
Quando Jesus Se encaminha para a cidade santa, com a entrada triunfal, os discípulos começam a ver os frutos da sua adesão e do seu seguimento. Afinal, tinha valido a pena deixar as suas vidas para trás, porque as promessas de uma vida nova e diferente estavam a concretizar-se. Nova reviravolta: sentados à mesa, Jesus revela-lhes que vai ser entregue e morto. Saem para o horto das oliveiras e já a oração de Jesus os deixa inquietos. Preso Jesus, o processo corre célere, para evitar outro desfecho que não seja a condenação. É o que acontece. E logo quando eles pensavam que Deus não deixaria que tal acontecesse. Mas aconteceu! E agora?! O melhor é acautelar a vida, escondendo-se, mantendo-se no anonimato para não correrem o risco de serem também presos, condenados e mortos.
Na Sexta Jesus é morto. No Sábado, pesarosos, os discípulos isolam-se e partilham as mágoas do insucesso. Domingo, o primeiro dia da semana, o primeiro dia de um tempo novo, mas que os Seus seguidores ainda não vislumbram. As mulheres vão ao túmulo, depois os discípulos. O túmulo está vazio. Reúnem-se para discutir as hipóteses acerca do túmulo vazio. Jesus apresenta-Se no meio deles. Nem querem acreditar. "A paz esteja convosco". A saudação é mesma de quando estavam juntos. Não pode ser. Mas não é um espírito, um fantasma, é o mesmo Jesus Cristo, que Se deixa ver e se deixa tocar. A fé ainda precisa de ser "retocada", amadurecida, confirmada. Jesus dá-lhes tempo e espaço para acolherem a Boa Nova, e sobretudo dá-lhes o Espírito Santo, que lhes tinha prometido, e que lhes revelará toda a verdade. E então o extraordinário acontece, as portas escancaram-se até à actualidade.
2 - Um dos Apóstolos não estava no reencontro com Jesus. E eis a mesma dúvida que antes assolava todos: será que o corpo de Jesus não foi roubado, será que apareceu mesmo às mulheres? Que pensar do túmulo vazio? E agora, será que não se juntaram num conluio para amenizar a dor dos mais cépticos e talvez quem sabe aproveitar os créditos da mensagem de Jesus para uma revolução?
"Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!». Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto»".
Mas também Tomé é surpreendido pela presença gloriosa de Jesus, que na omnipotência divina, Se deixa ver e tocar. Não é um fantasma, um espírito a vaguear pelo mundo, é o mesmo Jesus Cristo crucificado e no entanto já ultrapassada a limitação temporal e espacial.
A desolação da morte na CRUZ dá lugar à vida, à ressurreição, e consequentemente à surpresa e depois ao encontro com o Ressuscitado e logo à alegria e à confiança, que por sua vez se converte em partilha, testemunho, nascendo a comunidade crente, que tem como ponto de partida, de chegada, e como sustentáculo a Cristo ressuscitado.
Os discípulos vêem goradas as suas esperanças e as suas certezas acerca do Mestre e Senhor, que eles pouco a pouco vão descobrindo como Messias, esperado pelos profetas e enviado por Deus. Com a Sua morte, os discípulos dispersam, com medo refugiam-se em casa, em Jerusalém e nos arredores, para depois das festas pascais e passado o luto voltarem para a Galileia. Estão frustrados, tristes, sentem que lhes fugiu o chão. Pouco têm para fazer em Jerusalém.
Quando Jesus Se encaminha para a cidade santa, com a entrada triunfal, os discípulos começam a ver os frutos da sua adesão e do seu seguimento. Afinal, tinha valido a pena deixar as suas vidas para trás, porque as promessas de uma vida nova e diferente estavam a concretizar-se. Nova reviravolta: sentados à mesa, Jesus revela-lhes que vai ser entregue e morto. Saem para o horto das oliveiras e já a oração de Jesus os deixa inquietos. Preso Jesus, o processo corre célere, para evitar outro desfecho que não seja a condenação. É o que acontece. E logo quando eles pensavam que Deus não deixaria que tal acontecesse. Mas aconteceu! E agora?! O melhor é acautelar a vida, escondendo-se, mantendo-se no anonimato para não correrem o risco de serem também presos, condenados e mortos.
Na Sexta Jesus é morto. No Sábado, pesarosos, os discípulos isolam-se e partilham as mágoas do insucesso. Domingo, o primeiro dia da semana, o primeiro dia de um tempo novo, mas que os Seus seguidores ainda não vislumbram. As mulheres vão ao túmulo, depois os discípulos. O túmulo está vazio. Reúnem-se para discutir as hipóteses acerca do túmulo vazio. Jesus apresenta-Se no meio deles. Nem querem acreditar. "A paz esteja convosco". A saudação é mesma de quando estavam juntos. Não pode ser. Mas não é um espírito, um fantasma, é o mesmo Jesus Cristo, que Se deixa ver e se deixa tocar. A fé ainda precisa de ser "retocada", amadurecida, confirmada. Jesus dá-lhes tempo e espaço para acolherem a Boa Nova, e sobretudo dá-lhes o Espírito Santo, que lhes tinha prometido, e que lhes revelará toda a verdade. E então o extraordinário acontece, as portas escancaram-se até à actualidade.
2 - Um dos Apóstolos não estava no reencontro com Jesus. E eis a mesma dúvida que antes assolava todos: será que o corpo de Jesus não foi roubado, será que apareceu mesmo às mulheres? Que pensar do túmulo vazio? E agora, será que não se juntaram num conluio para amenizar a dor dos mais cépticos e talvez quem sabe aproveitar os créditos da mensagem de Jesus para uma revolução?
"Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!». Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto»".
Mas também Tomé é surpreendido pela presença gloriosa de Jesus, que na omnipotência divina, Se deixa ver e tocar. Não é um fantasma, um espírito a vaguear pelo mundo, é o mesmo Jesus Cristo crucificado e no entanto já ultrapassada a limitação temporal e espacial.
3 - Com a ressurreição de Jesus Cristo e com o envio do Espírito Santo nasce a Igreja. Quando Jesus aparece aos discípulos dá-lhes, desde logo, a missão. Missão de serem testemunhas da ressurreição e, com a força do Espírito, perdoarem os pecados, estabelecendo no mundo inteiro, no coração de cada homem e mulher, a paz que d'Ele recebem.
Mas para testemunhar e para que no anúncio haja coerência é necessário viver, e viver em comunidade.
O livro dos Actos dos Apóstolos mostra-nos como a comunidade nascente se torna fonte de inspiração para toda a Igreja e para as comunidades futuras: "Os irmãos eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fracção do pão e às orações. Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, toda a gente se enchia de temor. Todos os que haviam abraçado a fé viviam unidos e tinham tudo em comum. Vendiam propriedades e bens e distribuíam o dinheiro por todos, conforme as necessidades de cada um. Todos os dias frequentavam o templo, como se tivessem uma só alma, e partiam o pão em suas casas; tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração, louvando a Deus e gozando da simpatia de todo o povo. E o Senhor aumentava todos os dias o número dos que deviam salvar-se".
Para Deus todos somos filhos. Somos irmãos. Vivamos como irmãos. Neste tempo de carestia, maior terá de ser a nossa atenção para que também entre nós não haja necessitados. A paz não se constrói de estômago vazio.
4 - Pela Sua morte e ressurreição, Jesus introduz-nos nos novos céus e nova terra, redime-nos com o Seu amor, salva-nos com a Sua entrega, ainda que tenhamos que viver em permanente tensão entre a graça de Deus que nos atrai e as nossas fragilidades que, por vezes, se sobrepõem.
São Pedro é muito expressivo, apresentando-se também como testemunha. Por vezes deixou-se enredar no seu egoísmo, nos seus impulsos imediatos, e oscilou entre o seguir o Mestre e o querer alterar-Lhe os planos. Foi provado e escolhido para apascentar o rebanho de Cristo.
Atentemos às Suas palavras: "Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, na sua grande misericórdia, nos fez renascer, pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos, para uma esperança viva, para uma herança que não se corrompe, nem se mancha, nem desaparece... Isto vos enche de alegria, embora vos seja preciso ainda, por pouco tempo, passar por diversas provações, para que a prova a que é submetida a vossa fé – muito mais preciosa que o ouro perecível, que se prova pelo fogo – seja digna de louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo Se manifestar...".
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Textos para a Eucaristia (ano A): Act 2, 42-47; 1 Ped 1, 3-9; Jo 20, 19-31
Reflexão Dominical na página da Paróquia de Tabuaço.
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sexta-feira, 3 de julho de 2009
São Tomé, Apóstolo
3 de Julho: Festa de São Tomé.
Jesus disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente».
Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!».
Disse-lhe Jesus: Porque me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto».
Jesus disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente».
Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!».
Disse-lhe Jesus: Porque me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto».
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