A terceira Carta Encíclica de Bento XVI empresta o título a este blogue. A Caridade na Verdade. Agora permanecem a fé, a esperança e a caridade, mas só esta entra na eternidade com Deus. Espaço pastoral de Tabuaço, Távora, Pinheiros e Carrazedo, de portas abertas para a Igreja e para o mundo...
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sexta-feira, 20 de dezembro de 2024
segunda-feira, 15 de agosto de 2022
quarta-feira, 15 de dezembro de 2021
Domingo IV do Advento - C - 19 de dezembro de 2021
1 – O Evangelho de São Lucas abre praticamente com visitação do Anjo Gabriel a Zacarias e a Maria, uma virgem desposada com um homem chamado José. Cada uma das visitações traz um anúncio. Zacarias e Isabel vão ser pais, apesar da idade avançada. Para eles, a idade de serem pais já tinha passado, já se tinham conformado com essa “maldição”. Apesar disso, são tementes a Deus, justos e cumpridores da Lei, procedendo irrepreensivelmente segundo os mandamentos e preceitos do Senhor. A Deus nada é impossível. Deus opera para além dos nossos limites racionais e torna viável o que é inalcançável, favorecendo-nos com a Sua benevolência. É inacreditável. Zacarias fica sem palavras. Não há palavras que possam expressar o inaudito que nos chega de Deus. Estamos longe de nos apercebermos de quanto bem Deus faz por nós ou coloca ao nosso alcance!
2 – A visitação do Anjo a Maria tem um propósito que alterará para sempre a história da humanidade. Mesmo para os que não acreditam, contestam ou se manifestam indiferentes, Aquele que está para vir ao mundo deixará marcas na pequena cidade de Nazaré, em Belém, em Jerusalém e no mundo inteiro. Nada, nunca será como antes. “Salve, cheia de graça, o Senhor está contigo… conceberás e darás à luz um filho, e chamá-lo-ás Jesus. Ele será grande e será chamado Filho de Deus Altíssimo”. Sim, como é possível! Deus a nascer de uma jovem, humilde, campónia, como será isso? Diante de tão grande assombro, Maria confia no anúncio que lhe é feito e predispõe-se a ser parte do mistério salvífico: “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”. Deus chama, desafia, espera por nós, confiando no nosso discernimento! Maria responde e confia na fé que A liga a Deus. O seu “sim” assenta na intimidade com o Senhor. Ela alimenta-se de oração, é cheia de graça!
3 – A palavra de Deus desinstala-nos, inquieta-nos, põe-nos em movimento. Mau será quando a Palavra de Deus já não nos inquietar, quando nos deixar ficar como antes e/ou sentadinhos à espera que a vida aconteça. A palavra de Deus é viva e eficaz! Mas a sua eficácia também depende do nosso sim, da nossa vontade em Lhe respondermos. Esta resposta tem duas direções: Deus e próximo.
A Virgem Maria mostra-nos como se faz!
Depois de tão grandes novas, Ela podia fazer-se grande, orgulhar-se de ter sido a escolhida, mas continua ser serva, disposta, em tudo, a ser prestável. Não reserva tempo para refletir, para festejar, para medir as consequências, as dificuldades que possam vir pela frente. Não pensa no futuro. Sabe que pode confiar. Confia absolutamente em Deus. Maria levantou-se, diz-nos o Evangelho, e foi apressadamente para a montanha, em direção a uma cidade de Judá (Ein-Karim, seis quilómetros a oeste de Jerusalém), e entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel.
Maria levanta-se e parte apressadamente, como mulher da caridade, vai ajudar Isabel nos últimos tempos de gravidez, e como mulher missionária, transportando a Alegria que contagia aqueles que encontra. Isabel fica cheia do Espírito Santo: “Eis que quando a voz da tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança soltou de júbilo no meu ventre”.
Como Maria, levantemo-nos e vamos apressadamente anunciar o Evangelho, com a voz e com a vida.
4 – O que nos faz correr é a fé revelada, vivida e comunicada em Jesus Cristo, que vem da eternidade para entranhar no mundo o amor do Pai e nos fazer participantes da vida divina. Deus sempre está perto de quantos o invocam de coração sincero. Não está apenas nos bons momentos como uma ideia vaga de Alguém que cuida de nós e nos protege, mas está em todo o tempo, também ou sobretudo nos momentos de aflição, cuidando de nós. É, com efeito, nesses momentos que a nossa oração terá que ser mais intensa, mais amadurecida, mais confiante e mais despojada.
A vinda do Messias, o Emanuel, Deus connosco, insere-se nas promessas de Deus e na certeza que Ele não abandona a obra das Suas mãos, do Seu amor. «De ti, diz o Senhor, Belém-Efratá, pequena entre as cidades de Judá, de ti sairá aquele que há de reinar sobre Israel... Deus os abandonará até à altura em que der à luz aquela que há de ser mãe. Então voltará para os filhos de Israel o resto dos seus irmãos. Ele se levantará para apascentar o seu rebanho pelo poder do Senhor, pelo nome glorioso do Senhor, seu Deus. Viver-se-á em segurança, porque ele será exaltado até aos confins da terra. Ele será a paz».
Entenda-se, Deus não Se afasta, o povo é que O coloca à margem, procurando, como Adão e Eva, e Caim, viver como se Ele não existisse ou como se fosse um adversário da nossa afirmação e da nossa felicidade. Temos que caminhar, rezar, para fazermos, novamente, a experiência da Sua presença entre nós.
5 – Não havendo muitos dados sobre Nossa Senhora, nos Evangelhos, como em todo o Novo Testamento, há os suficientes para nos dizerem que Maria é uma mulher de fé, simples, dócil, atenta aos sinais de Deus, talvez mística, a viver num ambiente pacífico, orante, numa família fiel aos preceitos da Lei de Moisés.
Só num ambiente orante é possível ser-se místico, escutar a voz de Deus, perceber a Sua presença e reconhecer a Sua vontade. Por conseguinte, neste tempo de Advento, que nos prepara para o Natal e nos faz viver, sempre, inseridos no mistério pascal, a oração há de ser o combustível que alimenta a nossa fé, clarifica a nossa esperança e fortalece o nosso cuidado pelos irmãos.
A abrir a celebração, suplicamos: "Infundi, Senhor, a vossa graça em nossas almas, para que nós, que pela anunciação do Anjo conhecemos a encarnação de Cristo, vosso Filho, pela sua paixão e morte na cruz alcancemos a glória da ressurreição". A glória da ressurreição está reservada, não apenas para a eternidade, para o momento da nossa morte, mas para o presente histórico, aqui e agora, concretizável em todo o bem que façamos em nome de Jesus Cristo.
Com o salmista, pedimos que o Senhor venha em nosso auxílio. Por outras palavras, que deixemos que o Senhor Deus aja em nossos corações, na nossa vida e no mundo, tornando-nos seus mensageiros e ativando o Seu amor em nós e na terra que habitamos. "Pastor de Israel, escutai... Despertai o vosso poder e vinde em nosso auxílio... Deus dos Exércitos, vinde de novo, olhai dos céus e vede, visitai esta vinha; protegei a cepa que a vossa mão direita plantou, o rebento que fortalecestes para Vós... Estendei a mão sobre o homem que escolhestes, sobre o filho do homem que para Vós criastes".
A nossa prece é acompanhada de um compromisso: "Nunca mais nos apartaremos de Vós, fazei-nos viver e invocaremos o vosso nome".
6 – Há oito dias, a multidão, os soldados, os publicanos perguntavam a João Batista o que deveriam fazer para mudar de vida, para efetivarem a conversão. São João Batista responde com recomendações concretas e realizáveis, como a opção pela justiça, pela verdade e pela não violência, o usar a profissão, não para explorar, mas para ajudar, vivendo honestamente.
Hoje visualizamos a postura de Nossa Senhora: levanta-se e vai apressadamente, a anunciar a Boa Nova e a assegurar-se que a sua prima Isabel tem a ajuda que precisa. Para isso, Maria deixa a comodidade da casa e da terra e parte sem calcular perigos nem dificuldades.
Na segunda leitura, Jesus é-nos apontado como modelo de filho e de "discípulo" do Pai. Jesus vem para nos redimir e para nos ensinar a viver segundo a vontade do Pai, que nos quer bem e a viver harmoniosamente, sendo auxiliares uns dos outros.
«Não quiseste sacrifícios nem oblações, mas formaste-Me um corpo. Não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado. Então Eu disse: ‘Eis-Me aqui; no livro sagrado está escrito a meu respeito: Eu venho, ó Deus, para fazer a tua vontade’».
A verdadeira transformação opera-se a partir do interior, mesmo que os sinais e situações exteriores possam despertar-nos para essa conversão interior. No mistério pascal, "fomos santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita de uma vez para sempre". Cabe-nos colocar a render os dons e os talentos e ativar a vida nova que recebemos do Senhor.
Pe. Manuel Gonçalves
sábado, 22 de dezembro de 2018
A minha alma glorifica o Senhor
Maria disse:
«A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva: de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-poderoso fez em mim maravilhas, Santo é o seu nome. A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que O temem. Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência para sempre».
Maria ficou junto de Isabel cerca de três meses e depois regressou a sua casa (Lc 1, 46-56).

No encontro de Nossa Senhora com a sua prima Isabel, a quem fora ajudar prontamente, quando soube que esta se encontrava grávida há seis meses, às palavras de alegria de Isabel, manifestando o próprio júbilo e o do filho (João Batista) que carrega no seio, Maria responde com esta belíssima oração.
Maria expressa a grandeza de Deus, que ao longo do tempo realizou maravilhas em favor do Seu povo, na promoção dos mais frágeis, dos desprotegidos da sociedade e da religião, protegendo o Seu povo. A misericórdia divina está presente em todos os momentos, favoráveis e desfavoráveis, do povo da primeira aliança.
Por outro lado, Maria reconhece, de novo, a sua pequenez, a humildade que Lhe permite escutar Deus, acolher o Seu mistério e dizer "sim" para toda a vida. Só a humildade nos salva. Só com humildade perscrutamos Deus na nossa vida, só a humildade nos abre ao mistério...
sexta-feira, 21 de dezembro de 2018
Bendita és Tu entre as mulheres...
Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha, em direcção a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino exultou-lhe no seio. Isabel ficou cheia do Espírito Santo e exclamou em alta voz: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor? Na verdade, logo que chegou aos meus ouvidos a voz da tua saudação, o menino exultou de alegria no meu seio. Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor» (Lc 1, 39-45).
Ontem escutámos o Evangelho da anunciação do Anjo a Nossa Senhora, cujas palavras finais continuam a ser um desafio permanente para os cristãos: faça-se em mim segundo a tua palavra... Hoje escutamos o Evangelho da Visitação de Nossa Senhora à Sua prima Santa Isabel onde se destaca uma postura a imitar, a pressa em ser prestável, em ajudar. Maria corre para a Montanha em auxílio da Sua prima. E nós, quando detectamos necessidades também corremos para o nosso semelhante?
Por outro lado, a alegria do encontro... também nós, crentes cristãos, deveremos experimentar a alegria do encontro com Jesus Cristo, motivando-nos para a transformação positiva da nossa vida e do mundo que nos envolve.
Por outro lado, a alegria do encontro... também nós, crentes cristãos, deveremos experimentar a alegria do encontro com Jesus Cristo, motivando-nos para a transformação positiva da nossa vida e do mundo que nos envolve.
quarta-feira, 31 de maio de 2017
Visitação de Nossa Senhora à Sua prima Isabel
1 – Chegamos ao final do mês de Maria, não com a consciência de dever cumprido, pois estamos sempre a caminho, e é a caminhar que que Deus nos encontra, mas como página que quisemos pintar com a oração, com o encontro, sintonizando-nos uns com os outros, em Jesus Cristo, sob o olhar e a intercessão de Maria santíssima.
Trouxemos à oração mariana a nossa vida, como deve ser, com alegrias que nos motivam agradecimento, louvor, com preocupações que percorrem os nossos dias, tristezas e dúvidas, unimo-nos à Igreja, rezamos pelo mundo e pela paz, suplicamos pelos nossos familiares, sobretudo aqueles que no presente nos suscitam mais cuidados, e pelas pessoas que se encontram em situação mais frágil.
Iniciámos o mês com a festa de São José operário, um homem justo, trabalhador, discreto, que toma a seu cargo a missão de ser a Casa de Maria e de Jesus. Belo testemunho de vida e de fé!
A meio do mês, a celebração da festa de Nossa Senhora de Fátima, com a Procissão das Velas, que traz muitos corações ao Coração de Maria, e com o dia 13, a comemoração da primeira aparição de Nossa Senhora aos Pastorinhos, em Fátima, mostrando que o Céu está perto de nós, só precisamos de fazer o nosso caminho de conversão, oração, empenho.
Peregrinamos também ao Sabroso, onde a história da fé erigiu um templo em honra de Maria, convidando a sair da nossa comodidade para nos darmos aos outros.
E terminámos o mês com o belíssimo e significativo episódio da Visitação de Maria à Sua prima Santa Isabel.
2 – A liturgia da palavra remete-nos para a confiança em Deus, nosso Salvador. Ainda que o mundo inteiro desmorone, Deus não nos abandona. Por maiores que sejam as nuvens, para lá da escuridão é possível que encontremos Deus a velar por nós: “Não temas, Sião, não desfaleçam as tuas mãos. O Senhor teu Deus está no meio de ti, como poderoso salvador. Por causa de ti, Ele enche-Se de júbilo, renova-te com o seu amor, exulta de alegria por tua causa, como nos dias de festa”.
Por outro lado, a caridade como fruto da graça santificante de Deus. Diz-nos São Paulo: "Seja a vossa caridade sem fingimento. Detestai o mal e aderi ao bem. Amai-vos uns aos outros com amor fraterno; rivalizai uns com os outros na estima recíproca. Não sejais indolentes no zelo, mas fervorosos no espírito; dedicai-vos ao serviço do Senhor. Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação, perseverantes na oração. Acudi com a vossa parte às necessidades dos cristãos; praticai generosamente a hospitalidade..."
Fortalecidos pelo Espírito Santo caminhemos na caridade ao encontro dos outros.
3 – No evangelho, o relato da Visitação:
“Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha, em direção a uma cidade de Judá… Isabel ficou cheia do Espírito Santo e exclamou em alta voz: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor?»… Maria disse então: «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva: de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-poderoso fez em mim maravilhas, Santo é o seu nome”.
São Lucas deixa-nos alguns dados precisos. Maria vai apressadamente para a Montanha. A pressa das palavras deve dar lugar à pressa da caridade. A rivalidade, como lembra São Paulo, seja no serviço, na atenção ao outro, na caridade.
Encontro, no seio materno, de João Batista e de Jesus. Ambos gerados por ação de Deus, envolvidos no mistério divino, ainda que a missão e as circunstâncias sejam distintas. A alegria é uma característica fundamental no nosso encontro com Jesus Salvador. Como nos sentimos por nos sabermos salvos por Jesus? É diferente a nossa vida por termos Jesus na nossa vida?
Papel preponderante de Maria na vida de Jesus, e futuramente na comunidade cristã. Ela é a eleita do Senhor, a cheia de Graça, escolhida para ser a Mãe do Filho do Altíssimo. É bem-aventurada porque acreditou em tudo o que o Senhor lhe comunicou. Isabel deixou-se contagiar com a PRESENÇA de Deus em Maria. E nós, cristãos, de que forma nos deixamos contagiar por Jesus, pela Sua palavra, pelos seus sacramentos, pelas pessoas que Ele coloca ao nosso lado?
Textos para a
Eucaristia: Sof 3, 14-18; Rom 12, 9-16b; Lc 1, 39-56.
(reposição da reflexão anteriormente proposta)
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terça-feira, 31 de maio de 2016
Deixar que a Alegria de Maria nos visite
Chegamos ao fim do mês de maio especialmente dedicado a Maria. Um pouco por todo o lado, romarias, procissões, peregrinações, recitação do terço em família, em comunidade, por ruas ou por bairros, a caminhar, de casa em casa. Em todo o mundo (católico)! Os portugueses espalhados pelo mundo não esquecem a Padroeira de Portugal e, em diferentes ocasiões, mas sobretudo em maio, fazem sobressair a sua devoção. O altar do mundo, Fátima, é um centro centrípeto e centrifugo da devoção mariana. Mas há muitos santuários marianos espalhados pelo território nacional. Na nossa Diocese destacam-se os Santuários dos Remédios e da Lapa. Mas existem muitos outros e as zonas pastorais têm em maio as suas peregrinações conjuntas.
O último dia do mês faz-nos revisitar a Visitação de Nossa Senhora à sua prima Isabel (Lc 1, 39-56), o segundo dos mistérios gozosos ou da alegria. Logo que acolhe a missão de ser a Mãe do Salvador do mundo, tendo sabido que Isabel se encontra grávida, Maria parte para a montanha, para levar a grande alegria de ser Mãe no encontro com outra grande alegria, a de sua prima Isabel que também vai ser Mãe numa altura que já parecia ter ultrapassado o prazo de validade para o ser. São Lucas vinca a pressa com que Maria parte, num claro convite aos discípulos de Jesus e à Igreja, a saírem com pressa para O anunciarem a todo o mundo.
A fé de Abraão inicia a Antiga Aliança, como sublinha Joseph Ratzinger/Bento XVI, a fé de Maria inicia a nova Aliança. “Maria põe o seu corpo, todo o seu ser à disposição de Deus para abrigar a Sua presença". Com efeito, "na saudação do anjo torna-se claro que a bênção é mais forte que a maldição”.
Na Visitação, Maria leva a pressa de ajudar, mas sobretudo a Alegria a comunicar. Quando duas mães se encontram não precisam de muitas palavras para se tornarem cúmplices, as suas entranhas falam mais alto e o que nelas está a acontecer faz-se notar a todo o mundo, multiplica a alegria. «Logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio».
A resposta de Maria é oração de louvor e de reconhecimento: «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da sua serva».
Deixemo-nos surpreender por Maria e pela Alegria que traz à nossa vida, que traz à nossa casa.
Publicado na Voz de Lamego, n.º 4365 , de 31 de maio de 2016
sábado, 19 de dezembro de 2015
Domingo IV do Advento - ano C - 20 . dezembro . 2015
1 – Pôr-se a caminho há de ser a atitude permanente dos discípulos de Jesus.
Sair de si, ir ao encontro dos outros, estar em movimento, física mas sobretudo espiritualmente, sair do seu egoísmo para criar espaço para Jesus nascer e crescer, criar espaço para os outros, para os acolher, para os compreender, para os ajudar. Como o Bom Pastor que sai ao encontro das ovelhas desgarradas e perdidas. Assim a missão da Igreja. Assim o compromisso batismal de todos os cristãos.
Se nos domingos anteriores, a figura que nos desafiava a sintonizar com o Messias anunciado, prometido e para breve no meio de nós, era João Batista, neste quarto domingo, Maria irrompe preenchendo o Evangelho e a Igreja e, mesmo sem falar, ensina-nos como proceder para bem acolhermos Jesus, levando-O aos outros.
Depois da Anunciação do Anjo, Maria parte. Não parte de qualquer maneira. Parte com pressa. Com pressa para ajudar a Sua prima Santa Isabel, grávida e de idade avançada (para a época). Leva a Isabel a alegria do Evangelho que se gera no Seu ventre. Ela é a Arca da Nova Aliança, leva em Si a Nova Aliança que é Jesus. E isso é motivo de grande júbilo.
A presença Maria é bênção e toda a bênção gera vida, gera alegria, gera paz.
Isabel comunica-nos a ALEGRIA gerada pela proximidade de Maria e do Deus Menino: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor? Na verdade, logo que chegou aos meus ouvidos a voz da tua saudação, o menino exultou de alegria no meu seio. Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor».
2 – A escolha de Deus distancia-se de muitas das nossas escolhas. Escolhemos (muito mais) pelo aparente, o que nos soa bem, o que é agradável à vista e ao ouvido; a robustez; aquilo com que simpatizamos, os mais belos, mais fortes, mais bem apresentáveis. Perigo para o qual São Tiago alertava as primeiras comunidades cristãs.
Deus escolhe o que é pequeno, pobre, último, insignificante. Não para excluir, mas para incluir. Se os pais tiverem vários filhos, procurarão dar atenção a todos, se os amam de verdade, mas irão ter mais cuidado com os mais frágeis, com os que estão fora, com os que atravessam uma fase complicada, com os mais novos. É uma dinâmica de compensação, de inclusão, de cura, de absorção. Ou seja, compensar quem está menos tempo, incluir quem está fora ou está afastado da mesa e da sala porque está doente; a cura que é potenciada pelo amor, pelo carinho, pelas carícias; absorver os gestos e as palavras de quem está pouco tempo, para continuar a desfrutar daqueles bons momentos, depois da partida.
Deus escolhe o que passa despercebido para confundir os sábios (presunçosos) deste mundo. Chama para incluir, para nos fazer ver que para Ele todos contam, não há ninguém insignificante, pois todos são obra das Suas mãos.
Eis o que diz o Senhor: «De ti, Belém-Efratá, pequena entre as cidades de Judá, de ti sairá aquele que há de reinar sobre Israel... Deus os abandonará até à altura em que der à luz aquela que há de ser mãe. Então voltará para os filhos de Israel o resto dos seus irmãos. Ele se levantará para apascentar o seu rebanho pelo poder do Senhor, pelo nome glorioso do Senhor, seu Deus. Viver-se-á em segurança, porque ele será exaltado até aos confins da terra. Ele será a paz».
De Belém, a pequena cidade, surgirá o Rei - Bom Pastor, Ele será a paz. Vem para reunir, para ajuntar, para congregar numa só família. Não mais se sentirão abandonados quando Aquela Mulher der à luz Aquele que trará a paz e a segurança.
3 – Maria, a escolhida do Senhor, desde toda a eternidade, a Imaculada Conceição, nasce e cresce numa família o mais normal possível. N'Ela Se manifesta a grandeza de Deus. A eleita de Deus não tem privilégios, não nasce num palácio ou numa família reconhecível pelos seus feitos, riqueza ou pelo prestígio social, religioso ou político. É de uma família simples de Nazaré, cidade quase insignificante, em comparação, por exemplo, a Jerusalém, a cidade santa, a cidade de David.
A Virgem de Nazaré reveste-se de esperança para nós. Não tem predicados que não estejam ao nosso alcance. Reunimos, com efeito, as mesmas condições para sermos chamados por Deus e para acolhermos em nós o Salvador de mundo. Ela ensina-nos a tornarmo-nos livres para amar, para acolher, para partir, para encontrar, para dar, para espalhar a alegria. Sem pompa nem vaidades vãs, sem arrogância nem prepotência. Simples. Parte. Corre. Onde é necessário ajudar é aí que é necessário ir e permanecer. Na visitação a Isabel, ou intercedendo pelos noivos de Canaã. Cada encontro é oportunidade para levar Deus e, com Deus, partilhar a alegria que não tem fim.
Não segue com muitas coisas, que por certo atrasariam a viagem. Não leva um séquito de criados para se proteger e para carregarem as suas malas. É uma Mulher simples, do povo. Passa despercebida, como qualquer simples mortal. Provavelmente pediu ajuda a São José e a acompanhasse a casa de Isabel, uma cidade de Judá, Ain Karim, a 140 km de Nazaré. Deixa o que tem de deixar, por ora importa ajudar Isabel, depois pensará no Filho que carrega no Seu ventre.
Não se faz rogada. Não precisa que lhe digam que pode ser prestável. Antes que Lhe peçam, já Ela está a ajudar e/ou a interceder. Já está a caminho. Pouco tempo teve para digerir a notícia que o Anjo Lhe deu. No Seu Sim, abre a humanidade à vinda da divindade, à vinda do Filho de Deus. Mas por ora não há tempo a perder. É necessário partir, é preciso ir, sair, correndo.
4 – A resposta de Maria, alimentada pela fé em Deus, pela confiança no Senhor, sintoniza-nos às maravilhas com que Deus manifesta o Seu amor por nós. A salvação não será primeiramente o que cada um de nós fizer, como conquista, ou usurpação. É de Deus a iniciativa, que Se dá, que Se entrega, que vem, que Se envolve com a humanidade. Precisa e quis precisar de nós. Em Maria encontra a humildade, a delicadeza, a abertura aos Seu planos salvíficos. Com o SIM de Maria, Deus inicia uma nova forma de Se relacionar connosco, vem em carne e osso, para ser Deus connosco, Um de nós. Já não distante. Nunca Juiz, mas Pai. Não de fora. Ou alheado do drama da história. É um Deus compassivo e misericordioso, cujas entranhas de Mãe e Pai se revoltam perante as trevas que nos impedem de ver os outros como irmãos.
Deus não nos exige nada que não possamos fazer. E não exige menos que a nossa vida por inteiro. Maria responde com o que é, e predispõe a Sua vida para acolher Jesus e para O dar a todo o mundo. Será a mesma resposta de Jesus. Não Se Lhe exige sacrifícios, dando a entender que a salvação se conquistaria pelo mérito de cada um, mas entrega-Se a Deus com todo o Seu Corpo, a Sua vida por inteiro, fazendo com que a Sua vida espelhe a Misericórdia do Pai.
A Epístola aos Hebreus fala-nos do Corpo de Cristo, como único e supremo sacrifício na obediência. «Não quiseste sacrifícios nem oblações, mas formaste-Me um corpo. Não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado. Então Eu disse: ‘Eis-Me aqui; no livro sagrado está escrito a meu respeito: Eu venho, ó Deus, para fazer a tua vontade’». O culto que chegará com a vinda de Cristo, é o culto da obediência até à morte e morte de Cruz. Ele oferece-Se a Si mesmo, de uma vez para sempre. Não oferece sacrifícios, exteriores, mas oferece-Se, dando a Sua vida por inteiro. Mostra-nos que o único caminho que nos leva à eternidade passa pelo amor, pela compaixão, passa por acolhermos Deus, dando-nos uns aos outros. Já nem precisamos de dizer que a salvação é um dom que se acolhe partilhando, dando Deus aos outros!
5 – No alto da Cruz, Jesus confia-nos Maria por Mãe, para que A acolhamos em nossa casa, para que sejamos Casa de Oração e de Misericórdia uns para os outros. Procuremos imitá-l'A no Sim sem reservas, confiando, entregando-nos a Deus, indo ao encontro de todos os familiares e amigos, para lhes levar e lhes confiar a Alegria que se gera em nós, como discípulos missionários.
Peçamos ao Senhor ajuda, sabedoria, discernimento: «Infundi, Senhor, a vossa graça em nossas almas, para que nós, que pela anunciação do Anjo conhecemos a encarnação de Cristo, vosso Filho, pela sua paixão e morte na cruz alcancemos a glória da ressurreição».
A salvação está próxima, pressente-se a alegria no ventre de Maria, que nos traz e nos dá Jesus, sabendo de antemão que um dia Ele, o mesmo Jesus, nos dará Maria por Mãe.
Pe. Manuel Gonçalves
Textos para a Eucaristia (C): Miq 5, 1-4a; Sl 79 (80); Hebr 10, 5-10; Lc 1, 39-45.
quinta-feira, 28 de maio de 2015
Maria pôs-se a caminho… 3
A vivência cristã das nossas comunidades paroquiais tem uma dinâmica claramente mariana.
O mês de maio é especialmente balizado pela devoção à Virgem Maria. É uma primavera que nos renova no compromisso de seguir e viver Jesus Cristo. As novenas, procissões, festas, solenidades, caminhadas de oração, jaculatórias, ladainhas, invocações para as diferentes situações da vida, projetam-se ao longo do ano, iniciando com a solenidade de Santa Maria Mãe de Deus e finalizando com a Festa da Sagrada Família.
A Virgem Santa Maria refulge como a Mãe de Jesus, Mãe de Deus. É Mãe, isto é, gerou uma nova vida. Ser Mãe é apontar na direção de outro(s), é Mãe em relação ao(s) filho(s). Jesus é a luz que enche toda a casa e toda a vida. É a bênção que nos faz olhar para além de nós e acolhê-l’O nos outros.
Aquela Mãe, como as nossas Mães, não se preocupa primeiramente com a sua vida, com a sua comodidade, mas TUDO em função do Filho. As mães expõem-se por causa dos filhos, pedem, intercedem, são eles a prioridade. Colocam-se em frente de todos para os proteger como a menina dos seus olhos. Não se envergonham de bater a diversas portas, de ouvir muitos “nãos”.
É por Jesus, é por nós, que Maria Se coloca diante de Deus a interceder, como naquele dia em Caná da Galileia. Aí se visualiza a sua missão. Compreende-se desde já a entrega que Jesus faz de nós a Maria, a partir da Cruz: eis aí os teus filhos! Cuida deles. E como no-l’A confia para que A acolhamos como Mãe, em nossas casas. Acolhê-l’A não tanto por Ela, mas sobretudo por nós, para que não nos falte a LUZ de Deus, para que não nos falte o aconchego seguro de uma Mãe que nos congrega em família.
Deus não deixará de escutar a prece d’Àquela a Quem confiou o Seu Filho e a Quem nos confiou como filhos.
Bem sabemos como são as nossas Mães. Bem sabemos como é Maria, Mãe nossa, Mãe da Igreja. “Minha Mãe não dorme enquanto eu não chegar”. Expressão duma canção popular que assimila a sensibilidade das Mães, a sua vigilância em relação aos filhos. Uma dimensão humana e materna que se expande para incluir outros filhos. Uma mulher-mãe tem um sentido apurado para perceber outros filhos que não os seus, e de os ajudar, ou de interceder: … eu também sou Mãe, eu compreendo, pois o meu filho também…
Originalmente publicado na Voz de Lamego, 26 de maio de 2015
domingo, 24 de maio de 2015
Maria pôs-se a caminho... 2
Maria, Mulher simples, com olhar meigo, predisposta ao silêncio e à contemplação, humildemente à escuta obediente. Esta é a dimensão mais visível. Porém, também o serviço e a pressa em acorrer às necessidades dos outros.
Os evangelhos centram-se em Jesus e no mistério pascal. É na Páscoa que os discípulos se encontram verdadeiramente com Jesus, homem e Deus, descobrindo que as palavras do Mestre não foram discursos de circunstância, mas palavras de vida nova, que os compromete com os outros e os capacita para iniciar o caminho até à eternidade.
Os evangelhos são sobretudo relatos da Paixão de Jesus com introduções que contextualizam e explicitam o mistério de entrega de Jesus.
A Virgem Maria, São José, e outros intervenientes, aparecem sob a luz de Jesus. No entanto, pequenos gestos, algumas palavras, tornam percetível a postura desta ou daquela pessoa. Para percebermos Maria: anunciação; visitação; nascimento de Jesus; acolhimento dos Pastores e dos Magos; apresentação de Jesus; fuga para o Egito; perda e encontro do Menino em Jerusalém; Maria que ocorre para ver o que se passa com Jesus; Maria no caminho para a Cruz, e diante de Jesus crucificado, sendo-nos dada por Mãe; congregando em oração os discípulos, depois da morte de Jesus; presente nas aparições do Ressuscitado; figura incontornável na vida da Igreja, desde o início e ao longo da história. As aparições em Lourdes ou em Fátima insinuam a vontade de Deus estar bem perto de nós, através d’Ela.
Modelo de escuta da palavra de Deus. Modelo de serviço espontâneo, acorrendo, apressada, para a montanha, entre dificuldades do caminho e o perigo à espreita; discreta e solícita nas bodas de Caná; diligente e preocupada com Jesus; cheia de graça e esperança que nos sossega no Seu colo de Mãe no meio das intempéries da vida.
Focados no lema pastoral da Diocese, diríamos que em Maria, a própria família se revê e se encontra, desafiada a sair, a servir, a partilhar a alegria da fé. Cada membro sai do seu comodismo para servir os outros, dentro e fora do espaço familiar. A família não é e não pode ser a soma de egoísmos, mas a conjugação de esforços e compromissos, de participação e partilha, promovendo o melhor de cada um, a favor de todos, acolhendo a pessoa como um todo, com defeitos e virtudes, potenciando o crescimento de cada um, com uma dose q.b. de renúncia e serviço, procurando que o outro seja visível.
Originalmente publicado na Voz de Lamego, 19 de maio de 2015
Maria pôs-se a caminho...
O anjo anuncia a Maria que Ela vai ser a Mãe do Filho do Altíssimo. A esta informação acrescenta outra: Isabel, a quem chamavam estéril, também vai ser mãe. Sem delongas, Maria faz-se à estrada e parte apressadamente para uma cidade da Judeia (Ain Karim, aproximadamente 140 Km), para auxiliar Isabel, no final da gravidez (cf. Lc 1, 39-56).
Parar é morrer. Expressão popular que escutámos amiúde.
Estamos em movimento constante. Até dentro de nós. Na sua mensagem para o Dia Mundial de Oração pelas Vocações, o Papa Francisco acentuava esta característica vocacional. Colocar-se à escuta e sair de si. “A vocação cristã só pode nascer dentro duma experiência de missão”.
Como não lembrar a Sua insistência numa Igreja em saída, sendo preferível uma Igreja acidentada por sair que uma Igreja doente por estar parada?!
A condição mesma do cristão é um exercício constante por sair de si, convertendo-se a Jesus, indo ao encontro dos outros para lhes levar o Evangelho. A Diocese de Lamego tem acentuado este compromisso missionário, respondendo ao desafio de Jesus Cristo, que chama para enviar. Com efeito, o Evangelho – bem visível em São Marcos – mostra-nos Jesus em movimento. Passa de uma a outra povoação. Jesus alerta os seus discípulos: é necessário que vamos a outros lugares. Parte de manhã cedo. Envia-os na frente enquanto se despede da multidão. Outras vezes, quando a multidão chega, já Ele partiu.
Maria dá-nos a mesma tonalidade. A acentuação de um aspeto não anula outros, como o tempo para acolher, para estar e servir, para ser casa e bênção para quem chega, descanso para Jesus e para os discípulos antes de novas andanças. Maria é a Mulher da escuta e do silêncio, da meditação e do serviço. A visitação é um exemplo. As Bodas de Caná, da mesma forma, mostram Maria a sair do escondimento e a intervir junto de Jesus. Um movimento duplo: em direção a Jesus/Deus e em direção aos outros. O serviço ao próximo decorre do encontro com Deus. Antes: faça-se em Mim segundo a Tua Palavra… Eles não têm vinho! Só depois: Fazei tudo o que Ele vos disser.
Mais um aniversário das Aparições de Fátima. Acentua-se a dinâmica da peregrinação, a Fátima e de Fátima para o mundo, cuja Imagem peregrina percorre o país e o mundo. Em Maria, Deus sai e encontra-nos no mundo atual, renovando o apelo à conversão. Novamente nos envia a construir o Seu Reino.
Originalmente publicado na Voz de Lamego, 12 de maio de 2015
sábado, 22 de dezembro de 2012
Domingo IV do Advento - ano C - 23 de dezembro
1 – Em vésperas de Natal, celebração festiva do nascimento de Jesus, a Palavra de Deus coloca-nos mais perto do grande milagre da Encarnação: Deus vem em Pessoa para o meio de nós.
O profeta Miqueias, mesmo não tendo noção do alcance das suas palavras, diz-nos claramente que está para chegar o Messias e que virá como pastor para apascentar todo o Israel:
Eis o que diz o Senhor: «De ti, Belém-Efratá, pequena entre as cidades de Judá, de ti sairá aquele que há de reinar sobre Israel. As suas origens remontam aos tempos de outrora, aos dias mais antigos. Por isso Deus os abandonará até à altura em que der à luz aquela que há de ser mãe. Então voltará para os filhos de Israel o resto dos seus irmãos. Ele se levantará para apascentar o seu rebanho pelo poder do Senhor, pelo nome glorioso do Senhor, seu Deus. Viver-se-á em segurança, porque ele será exaltado até aos confins da terra. Ele será a paz».
Miqueias nomeia a cidade onde nascerá Aquele que vem para reinar, um lugar discreto, pobre, pequeno; perspetiva a Sua missão, virá para ajuntar os filhos dispersos de Israel; antecipa o ambiente que chegará com o Seu pastoreio, com a Sua realeza: segurança e paz. Entenda-se, desde já, que esta paz radicará na nossa identificação a Jesus Cristo, e não num determinado de pacifismo descomprometedor. Como o próprio Jesus dirá, a paz pode implicar luta, perseguição, contrariedades a favor da verdade, do bem e do serviço ao próximo.
2 – Da promessa visível em Miqueias avançamos para a oração que se faz súplica no Salmo responsorial: “Deus dos Exércitos, vinde de novo, olhai dos céus e vede, visitai esta vinha; protegei a cepa que a vossa mão direita plantou, o rebento que fortalecestes para Vós. Estendei a mão sobre o homem que escolhestes, sobre o filho do homem que para Vós criastes”.
Esta prece revela uma grande fé em Deus. Apesar dos tempos adversos, o crente confia na benevolência de Deus. Desde logo a experiência do passado, que garante o amor, a fidelidade e a presença de Deus. Foi Deus que criou, que plantou, que cuidou, que fortaleceu. A história da fragilidade gerou conflitos, afastamento, convulsões sociais, políticas e religiosas, dispersão, descaracterização do povo eleito.
É possível voltar. O pedido a Deus é, sobretudo, um desafio aos membros do povo eleito. Tornou-se para nós um grito. Deus vem. Deus desce. Deus planta, cuida, fortalece-nos. Como reagimos? Estamos disponíveis para O acolher, para O reconhecer nos irmãos, para O descobrir no nosso mundo? Em que medida estamos dispostos a alterar o nosso coração, a nossa vida, para nos tornarmos vinha cultivável e fértil?
3 – São Lucas narra a Visitação de Nossa Senhora à sua prima Santa Isabel. Na anunciação Maria toma conhecimento que Isabel, apesar da idade avançada, foi abençoada por Deus e encontra-se grávida. Que fazer com esta informação? Eis a resposta:
“Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha, em direção a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino exultou-lhe no seio. Isabel ficou cheia do Espírito Santo e exclamou em alta voz: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor? Na verdade, logo que chegou aos meus ouvidos a voz da tua saudação, o menino exultou de alegria no meu seio. Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor».
Registe-se a precisão de Lucas ao relatar a Visitação, deixando-nos alguns dados, mais que curiosos, significativos. Pressa de Nossa Senhora em auxiliar Isabel. Há momentos que as palavras devem imediatamente dar lugar a gestos concretos. Quantas situações em que temos toda a informação, mas não vamos além disso?!
Encontro, no seio materno, de João Batista e de Jesus. Ambos gerados por ação de Deus, envolvidos no mistério divino, ainda que a missão e as circunstâncias sejam distintas. A alegria, como víamos no domingo passado, é uma característica fundamental no nosso encontro com Jesus Salvador. Como nos sentimos por nos sabermos salvos por Jesus? É diferente a nossa vida por termos Jesus na nossa vida?
Papel preponderante de Maria na vida de Jesus, e futuramente na comunidade cristã. Ela é a eleita do Senhor, a cheia de Graça, escolhida para ser a Mãe do Filho do Altíssimo. É bem-aventurada porque acreditou em tudo o que o Senhor lhe comunicou. Isabel deixou-se contagiar com a PRESENÇA de Deus em Maria. E nós, cristãos, de que forma nos deixamos contagiar por Jesus, pela Sua palavra, pelos seus sacramentos, pelas pessoas que Ele coloca ao nosso lado?
4 – Com a chegada de Jesus Cristo, o culto antigo dá lugar a um culto novo, centrado na pessoa, no coração, nos sentimentos e afetos, na postura de cada um na inserção à comunidade crente. Os ritos têm a sua importância, como identificação e referência ao povo, à cultura, à história, em que nos inserimos e a que pertencemos. Muitas vezes, porém, acontece que a pessoa tem de se submeter a costumes e tradições ultrapassadas, sem ligação à vida concreta.
Ao nível religioso sucede o mesmo, introduzem-se elementos que têm sentido numa determinada comunidade, e numa época específica, e com o tempo perdem o seu propósito mobilizador e por vezes mantêm-se apenas por birrice e por receio de mudança, ou para garantir o estatuto a alguns membros da comunidade.
“Ao entrar no mundo, Cristo disse: «Não quiseste sacrifícios nem oblações, mas formaste-Me um corpo. Não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado. Então Eu disse: ‘Eis-Me aqui; no livro sagrado está escrito a meu respeito: Eu venho, ó Deus, para fazer a tua vontade’»... aboliu o primeiro culto para estabelecer o segundo. É em virtude dessa vontade que nós fomos santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita de uma vez para sempre”.
A Epístola aos Hebreus mostra desta forma a prevalência da pessoa sobre a lei. Cristo vai à frente. Ele vem para fazer a vontade de Deus. Encarna para viver, para humanizar, para nos fazer descobrir a nossa pertença a Deus. Ele oferece-Se por nós e para nossa salvação. Maria, como víamos, intui esta prevalência. Exemplifica como fazer: pressa em servir.
Textos para
a Eucaristia (ano C): Miq 5, 1-4a; Sl 79 (80); Hebr 10, 5-10; Lc 1, 39-45.
Reflexão Dominical na página da Paróquia de Tabuaço
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sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
A minha alma exulta de alegria no Senhor...
(Teto da Igreja Paroquial de Tabuaço)
Maria procura realizar a vontade de Deus, mais do que os comentários que possam surgir da parte de terceiros. É isso o mais importante também na nossa vida como crentes, fazer a vontade de Deus e não agir só porque esta ou aquela voz que se levanta nos força ou nos inibe.
Maria dá-nos o exemplo. Não fica a lamentar-se sobre o que poderia fazer ou o que poderia ter feito. Põe-se a caminho. Vai ao encontro. Na atenção aos outros, procura satisfazer a suas carência. É o compromisso dos cristãos, ir ao encontro dos outros, procurando responder às suas necessidades, não apenas materiais mas também espirituais.
Por outro lado, a fé de Maria em Deus, como a de Isabel, leva-A a proclamar as maravilha do Senhor. Poderia manter o silêncio, ficar com a alegria só para si, mas partilha-a com Isabel e connosco. Assim também a nossa fé nos aproxima dos outros, da comunidade e leva-nos a testemunhá-la aos outros, em palavras e em obras (de misericórdia).
É a fé que nos salva. Mas a fé leva-nos à prática das boas obras. A fé de Maria condu-la à montanha para ajudar Isabel.
É a fé que nos salva. Mas a fé leva-nos à prática das boas obras. A fé de Maria condu-la à montanha para ajudar Isabel.
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