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quinta-feira, 12 de maio de 2016

Encontros que (nos) salvam…

       Encontros. Nem todos têm a mesma profundidade. Cada encontro deveria ser único, provocando mudança. Quando nos encontramos, a nossa vida enriquece-se.
       Encontrar o outro não é tarefa fácil. O encontro implica-nos, compromete-nos, responsabiliza-nos. No Principezinho mostra-se essa clarividência: somos responsáveis pelas pessoas que cativamos. O outro, quando deixo que me encontre, quando o quero encontrar, torna-se especial, torna-se único, muda a minha vida para sempre e muda a qualidade do meu relacionamento com todos os outros.
       Fazemos esta experiência todos os dias: quando amuámos com alguém, a expressão do nosso rosto muda para todas as pessoas. Quando descobrimos a alegria e a paz com esta ou com aqueloutra pessoa, o nosso rosto adquire luz para todas as pessoas que encontrarmos durante o dia.
Quem se encontra com Jesus Cristo descobre um sentido novo para a sua vida:
A Samaritana (Jo 4, 1-42). Um diálogo de descoberta. Jesus interpela-a na sua vida pessoal mas também na sua maneira de se colocar diante de Deus. A Samaritana é desafiada a descobrir a verdade. Converte-se a Jesus e anuncia-O.
A mulher adúltera (Jo 8, 1-11). Vai e não voltes a pecar.
Zaqueu (Lc 19, 1-11). O cobrador de impostos, ao serviço do império romano, traidor para os judeus. Jesus encontra-O e Ele muda: compensa os que roubou e dá aos pobres, com generosidade.
A mulher que toca no manto de Jesus (Mt 9, 20-22). No meio de uma multidão, a mulher encontra-se. Basta-nos o olhar de Jesus e deixarmo-nos envolver pela luz que brota do Seu rosto.
Apóstolos. Jesus cruza-se com eles, no meio da multidão, nos seus postos de trabalho. Interpela-os. Vinde e vereis. Tornam-se discípulos missionários.
João Batista (Lc 1, 39-45). Ainda no seio materno encontra Jesus e rejubila!
Também o Jovem rico (Lc 18, 18-27) não fica indiferente à figura de Jesus, mas naquele momento não está preparado para O seguir.
       Ao longo da História da Igreja os exemplos multiplicam-se.
Paulo de Tarso (Atos 9,1-30), depara-se com a figura de Jesus (cai do cavalo) e a sua vida dá uma volta de 180 graus. De Perseguidor a Apóstolo.
Santo Agostinho. O encontro com Jesus transforma-o. A sua vida doravante é dedicada ao estudo, à oração, à reflexão, à pregação da Palavra de Deus.
Francisco de Assis. Da riqueza material à pobreza, à simplicidade, para que o Evangelho passe pela sua vida, em todos os seus gestos.
Inácio de Loyola, Francisco Xavier, Madre Teresa de Calcutá, João Paulo II, Padre Américo e tantos homens e mulheres.

Publicado na Voz de Lamego, n.º 4360 , de 26 de abril de 2016

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Gianfranco RAVASI - Quem és TU Senhor?

GIANFRANCO RAVASI (2013). Quem és TU Senhor? Encontros e desencontros com o Homem que mudou a História. Prior Velho: Paulinas Editora. 144 páginas.
       Belíssima leitura do Cardeal Gianfranco Ravasi, centrando-se em Jesus Cristo. Os encontros e desencontros com o Crucificado Ressuscitado. A identidade de Jesus. O ambiente que que nasceu e cresceu. A linguagem utilizada no anúncio da Boa Nova. Anúncio de uma grande Alegria.
       Na primeira parte, as Aparições da Páscoa; o encontro com os discípulos de Emaús e como os olhos se abrem; o Cordeiro imolado; o encontro/desencontro com o Cônsul Pilatos, governador da Judeia. Na segunda parte, a identidade de Jesus, segundo São Lucas; as duas genealogias de Jesus e as preocupações que estão na sua base; a intrução de Jesus, saberia ler e escrever - numa terra de quatro línguas (latim, grego, hebraico e aramaico - o mais provável é que Jesus fosse bilingue (hebraico e aramaico); Jesus como Messias, aceite por novos movimentos, que o consideram Messias mas não filho de Deus, pelo que partilham o património comum até ao Concílio de Niceia; o celibato de Jesus como vocação. Na terceira parte, o Anunciador da Alegria, com o seu perfil de comunicador, acentuando-se as parábolas, os milagres, o diálogo/discussão alguns grupos de judeus, palavras envolventes que desafiam, interpelam, provocam, abençoam, curam, expulsam demónios. A concluir, o envio dos discípulos "obrigados" a tornar visível a fé, o Evangelho, em palavras e em obras, testemunhando. O testemunho não é uma qualquer publicitação egoísta, mas luz que há de transparecer para o mundo.
       A leitura abre o nosso horizonte, permitindo-nos não apenas conhecer uma pessoa, um acontecimento, mas enriquecendo o nosso vocabulário, para mais facilmente percebermos os outros e para melhor nos fazermos compreender. No caso concreto, para melhor conhecermos Jesus Cristo, como viveu e como as comunidades O experimentaram, e como na atualidade Jesus Cristo (e o Cristianimo) continua a ser uma Pessoa que desafia, provoca, renova, converte, nos faz ter vontade de O imitar, com coragem e humildade.
       De forma simples, quase poética, o autor leva-nos ao encontro de Jesus, para que n'Ele descubramos a nossa condição de filhos de Deus e nos comprometamos como irmãos. Um dos temas também presentes é a relevância de Cristo e do cristianismo nesta Europa descristianizada, mas cujos elementos estruturantes, e identificação da Europa se encontram muito vincados, além das divisões políticas e económicas e pese embora alguns estados se manifestarem contra os sinais que evocam a nossa origem, a nossa cultura, comum, e nos aproximam como irmãos.

          Sobre o tema do Cristianismo na Europa vale a pena ler também: CHRISTOPH SCHÖNBORN (2014). Cristo na Europa. Uma fecunda interrogação.
       Do mesmo autor também recomendámos: O que é o Homem? Sentimentos e laços humanos na Bíblia.

sábado, 2 de novembro de 2013

XXXI Domingo do Tempo Comum - ano C - 3 de novembro

       1 – «Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa». O convite de Jesus, feito a Zaqueu, e a cada um de nós, é extraordinário. É um encontro verdadeiramente revelador. Zaqueu era cobrador de impostos, publicano, profissão geradora de ódios, pois o que cobravam era fruto do trabalho, do sustento e das canseiras de muitas famílias, algumas das quais com escassos recursos, e ainda por cima os impostos cobrados era direcionados para o imperador romano, a potência invasora, e para as autoridades locais. Por outro lado, os cobradores de impostos, muitas vezes, aproveitavam o posto que ocupavam e a proteção que tinham, para cobrar maquias consideráveis para si próprios.
       Jesus entra na cidade de Jericó. Continua a caminhar, indo ao encontro das pessoas. Ali vive um homem rico, o chefe dos cobradores de impostos. Sente-se atraído por Jesus. Ouviu falar d'Ele. Há muitas pessoas à procura de Jesus. Também ele quer ver Jesus. Mas para ver Jesus é necessário ter os olhos bem abertos, e sobretudo o coração. Zaqueu é de pequena estatura, de vistas curtas, pouco mais vê que a sua carteira. Mas sente-se impelido a ver Jesus e sobe a uma árvore, coloca-se em local elevado em relação ao chão e à multidão.
       Entretanto, Jesus levanta o olhar e de imediato o interpela: «Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa». É preciso descer, colocar-nos ao nível de Jesus, que sendo de condição divina, quis ser um de nós, para no meio de nós nos ensinar a ser irmãos, porque filhos de Deus, do mesmo Pai. Se ficarmos no lugar em que nos encontramos, no nosso pedestal, na nossa vidinha, poderemos até ver Jesus, mas à distância, e apenas com os olhos, não com o coração. Zaqueu desce rapidamente e recebe Jesus com alegria.
       É uma alegria convertida em compromisso: «Senhor, vou dar aos pobres metade dos meus bens e, se causei qualquer prejuízo a alguém, restituirei quatro vezes mais». Não basta acolher o amor de Deus, é necessário que este AMOR maior seja serviço aos outros.
       Vêm então os reparos daqueles que, vendo Jesus, ainda não O descobriram, ainda não se deixaram tocar pela Sua presença, pelo Seu olhar, pelas Suas palavras: «Foi hospedar-Se em casa dum pecador». Jesus não se deixa enredar na cusquice e conclui: «Hoje entrou a salvação nesta casa, porque Zaqueu também é filho de Abraão. Com efeito, o Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido».
        2 – O Evangelho é um desafio de salvação. Devemos manter aceso em nós o desejo de querer ver Jesus, de O encontrar, de O seguir, de O levarmos para casa, de O trazermos para a nossa vida.
       Só a humildade nos coloca no caminho de Jesus, de contrário Ele passa e nós deixamo-nos ficar, em cima do sicómoro, ou comodamente a murmurar, pelos outros que avançam caminhando com Ele. O chamamento não é para os outros. É para mim. Para ti. É para todos nós. Ele passa. Ele faz-Se caminho, verdade e vida. Ele vem habitar connosco, vem ficar em nossa casa.
       Se a nossa estatura é pequena, há que procurar mais afincadamente, abrir o coração, fazer com que as nossas vistas sejam mais largas, alcancem mais longe, e não se fixem apenas nos nossos pés, nos nossos passos. Olhar para ver Jesus. Seguir os Seus passos. Procurá-l’O onde Ele vai passar. Escutar o seu convite. Segui-l'O para onde for. É necessário descer, do nosso comodismo, da nossa janela, não deixar que Ele passe adiante sem nós. Também São Paulo caiu do cavalo, do alto do seu orgulho e da sua presunção. Jesus bate à nossa porta, grita-nos aos ouvidos, envia-nos um impulso ao coração, como fez aos discípulos de Emaús.
       Acolher Jesus, segui-l'O deixando que entre em nossa casa, gera ALEGRIA que transborda, contagia e se espalha para as casas vizinhas, para as pessoas que se cruzam connosco. Não é possível encontrar Jesus e acolhê-l'O sem uma elevada dose de alegria. Não é possível que Ele passe na nossa vida e não deixe marcas profundas que nos leve a modificar os aspetos da nossa vida que ainda não correspondem à Sua palavra de amor e de perdão. Ou então ainda não O encontramos. Não basta acolher o amor de Deus, é necessário que este AMOR maior seja serviço aos outros.
        Hoje a salvação quer entrar em minha casa, na tua, na nossa casa. Por mais perdidos que estejamos, Jesus vem para salvar-nos, para nos introduzir na comunhão de Deus. Levemos a outros esta alegria. Não impeçamos ninguém de se aproximar e de ver Jesus. A multidão impedia que Zaqueu chegasse perto de Jesus. Não sejamos empecilho para os outros pela nossa opacidade, pela nossa tibieza. Ao invés, deixemo-nos contagiar e contagiemos. Evangelizados e evangelizadores.
        3 – A história de salvação revela-nos um Deus que está por perto, mesmo quando da nossa parte há recusa, pecado, rutura. Com efeito, a salvação não é um momento para a vida inteira. Pode haver um clique (inicial) transformador, como em Zaqueu, como em São Paulo, como em Santo Agostinho. No caso haveria uma preparação anterior e interior. Zaqueu queria ver Jesus. Paulo procurava a fidelidade à religião e à verdade. Santo Agostinho, como o próprio refere, há muito que procurava Deus, mesmo quando não sabia, na filosofia e na vida.
       É como o casal. O sim que um dia assumem para toda a vida, é para renovar todos os dias. Como o SIM de Maria ao Anjo, que A faz levantar e rapidamente correr ao encontro da Sua prima Santa Isabel. Serviço, alegria e louvor.
       Deus ama-nos. Como Pai, com amor de Mãe. Mesmo quando nos desviamos. Até podemos cansar-nos de pedir perdão, como dizia o papa Francisco, logo no início de pontificado, Deus não Se cansa de nos perdoar.
“Diante de Vós, Senhor, o mundo inteiro é como um grão de areia na balança, como a gota de orvalho que de manhã cai sobre a terra. De todos Vos compadeceis, porque sois omnipotente, e não olhais para os seus pecados, para que se arrependam. Vós amais tudo o que existe e não odiais nada do que fizestes... Mas a todos perdoais, porque tudo é vosso, Senhor, que amais a vida. Por isso castigais brandamente aqueles que caem e advertis os que pecam, recordando-lhes os seus pecados…”
        A confiança da Sabedoria é rezada pelo salmista: “O Senhor é clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade. O Senhor é bom para com todos e a sua misericórdia se estende a todas as criaturas. O Senhor é fiel à sua palavra e perfeito em todas as suas obras. O Senhor ampara os que vacilam e levanta todos os oprimidos”.
       Deus é Bom e Compassivo.

       4 – Quando fazemos um pedido à nossa mãe, ou lhe damos uma explicação, temos a consciência que ela tudo fará para nos atender, para compreender o que fizemos, tudo fará junto do nosso pai para que também ele nos compreenda e aceite os nossos pedidos e/ou limitações.
       A certeza que Deus é Pai e é Mãe (João Paulo I), e que sempre nos perdoa e nos compreende, porque nos ama até ao infinito, cimenta a nossa vontade para d'Ele nos aproximarmos, mais e mais. Também na dúvida, na hesitação, no pecado.
       A missiva de São Paulo manifesta uma forte ligação à comunidade e uma visível comunhão com Deus: “Oramos continuamente por vós, para que Deus vos considere dignos do seu chamamento e, pelo seu poder, se realizem todos os vossos bons propósitos e se confirme o trabalho da vossa fé... Nós vos pedimos, irmãos, a propósito da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo e do nosso encontro com Ele: Não vos deixeis abalar facilmente nem alarmar por qualquer manifestação profética, por palavras ou por cartas, que se digam vir de nós, pretendendo que o dia do Senhor está iminente”. 
       A oração segura-nos em Deus, dilata o nosso coração, ajuda-nos a relativizar (positivamente) o tempo presente, para não embarcarmos em euforias utópicas nem cairmos em desesperos destruidores. Ele é Pai. Lancemo-nos, sem medo, nos Seus braços.

Textos para a Eucaristia: Sab 11, 22 – 12, 2; Sl 144 (145); 2 Tes 1, 11 – 2, 2; Lc 19, 1-10.