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sábado, 12 de abril de 2025

TIMOTHY RADCLIFFE - ESCUTAI-O

Timothy Radcliffe (2024), Escutai-O! Para uma espiritualidade sinodal. Prior Velho: Paulinas Editora. 120 páginas.

O autor nasceu em Londres, em 1945, é um dos mais notáveis autores cristãos contemporâneos, para além de biblista e teólogo. Formado em Oxford e Paris, é membro da comunidade de Blackfriars, em Oxford. Foi mestre-geral da Ordem dos Pregadores entre 1992 e 2001, sendo o único dominicano da Província Inglesa a exercer este cargo, desde a fundação da Ordem em 1216. Desempenha funções de docente em Oxford e de consultor do Pontifício Conselho «Justiça e Paz», sendo frequentemente solicitado para conferências e palestras em todo o mundo. Foi criado Cardeal pelo Papa Francisco, a 8 de dezembro de 2024.

“Com o Sínodo sobre a Sinodalidade, o maior exercício de auscultação a nível mundial na história da humanidade, o papa Francisco convidou o povo de Deus a repensar criativamente, sob a batuta do Espírito, o modo de ser e estar em Igreja”. Timothy Radcliffe foi escolhido para pregar aos participantes no Sínodo sobre a Sinodalidade, em outubro de 2023. Neste livro são recolhidas as meditações, com o autor a explorar, “sem fabricados receios ou infundados entusiasmos, o desafio que a Igreja tem à sua frente, realçando a conversão interior e coletiva que este pressupõe. Partindo do episódio bíblico da Transfiguração, Radcliffe mostra como a comunhão plena só é possível aí onde as partes se escutam, esvaziando-se das suas certezas para acolher o outro como ele é. Nesse movimento, o Espírito fala: escutemo-Lo!”

Como em outros títulos, a leitura é corrida, sobressaindo a vivência de fé, como sacerdote dominicano, com uma vasta experiência de vida, com encontros diversos, com muitas histórias para contar. Uma linguagem atraente, de fácil perceção, com vida. Sendo o resultado de conferências/meditações o estilo só poderia ser vivo.

Ao sugerirmos o livro nada melhor do que partilharmos alguns parágrafos, acedendo ao discurso e às palavras do autor:

“Em casa, somos confirmados como somos e convidados a ser mais. O lar é o lugar onde somos conhecidos e amados e nos sentimos seguros, mas onde também somos desafiados a embarcar na aventura da fé. Precisamos de renovar a Igreja enquanto casa comum se quisermos falar a um mundo que padece de uma crise de falta de lar.

“A base do nosso encontro amoroso sempre foi o nosso encontro com o Senhor, cada um junto ao seu próprio poço, com os seus fracassos, fraquezas e desejos. Ele conhece-nos como somos e liberta-nos para nos encontrarmos com um amor que liberta e não controla. No silêncio da oração somos libertados.

A Samaritana conhece Aquele que a conhece totalmente. E isso impulsiona-a na sua missão. «Vem ver o homem que me contou tudo o que já fiz. Ela vivera até àquele momento na vergonha e na ocultação, temendo o julgamento dos seus concidadãos. Vai ao poço no calor do meio-dia, quando não está lá ninguém. Mas agora o Senhor lançou luz sobre tudo o que ela é e ama-a. Após a Queda, Adão e Eva esconderam-se da vista de Deus, envergonhados. Agora ela entra na luz…

Por isso, neste Sínodo, ouviremos pessoas que falarão com verdade sobre «as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje»

Se a autoridade da beleza fala do fim da viagem, da pátria que nunca vimos, a autoridade da santidade fala do caminho a seguir se quisermos lá chegar. É a autoridade dos que dão a vida.

Pregamos o Evangelho através de amizades que ultrapassam fronteiras. Deus ultrapassou o abismo entre Criador e criatura. A amizade de Deus chegou mesmo à última barreira, a da morte. Quando Maria Madalena percorria o jardim em busca do corpo do seu amado Senhor, ouviu uma voz: «Maria!» (Jo 20,16). A Igreja é a comunidade de amizade que abraça os vivos e os mortos que estão vivos em Deus, a comunhão dos santos.

 

Autor: Timothy Radcliffe

Título: Escutai-O!

Subtítulo: Para uma espiritualidade sinodal

Editora: Paulinas Editora

Ano: 2024

Número de páginas: 120

sábado, 18 de março de 2017

Georges Bernanos - DIÁRIO DE UM PÁROCO DE ALDEIA

GEORGES BERNANOS (2016). Diário de um pároco de aldeia. Prior Velho: Paulinas Editora. 264 páginas.
       O título já deixa antever um conjunto de vivências num lugar em que as pessoas se conhecem, em que as novidades, os boatos, as insinuações se espalham rapidamente, onde a privacidade é muito relativa. O padre, numa pequena aldeia, rústica, vai escrevendo um diário com as suas impressões, encontros, dificuldades, tornando visível a intriga e o mau-estar entre o pároco, vindo de uma família simples, o senhor conde, benemérito da paróquia e que tem outros familiares mais bem colocados, com outros contacto, como um tio padre.
       Padre jovem, por um lado, e acabado de chegar, as dificuldades cedo se fazem notar. No catecismo ou na celebração da Eucaristia, por vezes com poucas pessoas, outras vezes desinteressadas. Os jovens, em fase adolescente, provocam-no e gozam com ele. As condições sócio-económicas são mínimas. Alimenta-se mal. Por vezes a refeição é vinho aquecido com pão. Pouco mais. As dívidas são do conhecimento da povoação. Os sacerdotes amigos tentam alertá-lo, chamá-lo à razão. De algum modo, até pode ter razão e iniciativa, mas o melhor é não levantar ondas nem enfrentar os poderes instituídos.
       O conde, a esposa e a filha são o rosto mais visível da oposição ao padre. Os pecados que escondem, e talvez para os esconder, voltam-se contra o padre. Ora o convidam ora o alertam para não se meter em determinados assuntos, que não lhe dizem respeito.
       Querendo ser fiel ao ministério sacerdotal não deixa de ouvir, de exortar, de intervir. A saúde é que não ajuda. E os comentários sobre a sua conduta também não. É considerado um bêbado, ainda que não se considere tal. A fraqueza, a batina gasta, uma cor de meter dó, amarelo, sumido, faz pena vê-lo assim e assim se vê, ainda que a bebida (vinho aquecido com pão) seja o único que o seu frágil estômago vai aguentando. Adia a ida ao médico. Quando vai ao médico, a revelação de cancro deixa-o de rastos. Não há muito a fazer.
       Mas não é a doença terminal que mais o afeta, mas o silêncio de Deus. Há muito que vive com dificuldades em falar com Deus, em rezar, em se colocar confiante nas mãos de Deus. Os que se aproximam dele, desabafam, falam e voltam a falar e, no entanto, há um silêncio e um vazio que o preenchem. Faz com que os outros se abram, mas fecha-se, discreto, como que desejando apagar-se. Até a morte quer que seja silenciosa.
"A minha morte está ali. É uma morte igual a qualquer outra, e eu entrarei nela com os sentimentos de um homem muito comum, muito vulgar. É mesmo mais que certo que não saberei morrer melhor do que soube governar a minha pessoa. Vou ser na morte tão desastrado, tão acanhado como na vida... Meu Deus dou-te tudo, de boa vontade. Simplesmente, não sei dar, dou como quem deixa que lhe tirem as coisas. O melhor que tenho a fazer é estar sossegado. Pois se eu não sei dar, Tu, Tu sabes tirar... E no entanto teria gostado de ser, pelo menos uma vez, uma só vez, liberal para contigo... O heroísmo à minha medida está em não ter heroísmo, visto que me faltam as forças, agora o que eu queria é que a minha morte fosse pequena, o mais pequena possível, que se não distinguisse dos outros acontecimentos da minha vida. No fim de conta é a minha natural inépcia..."
Para leituras próximas outras sugestões:
       Obviamente que são livros muito diferentes, Tomáš Halík e Timothy Radcliffe ajduam-nos a refletir em Deus e na Sua presença amoroso na nossa vida, também nos momentos difíceis e até obscuros, apontando para um Deus que em Jesus Cristo Se revela dócil, compreensivo, próximo, exigente.
       Cormac McCarthy mostra que a fé pode ser ténue, mas a força do amor é inabalável, até ao fim. Shusaku Endo, no seu romance com fundo histórico e que deu origem ao filme com o mesmo nome, questiona até que ponto a fé é sustentável nas adversidades e nas monstruosidades. Todos os títulos nos falam da busca de Deus, do questionamento de Deus, da fé e do amor, da vida e da generosidade, da noite e da dúvida e da treva, mas com aquela réstia de esperança que tudo possa ser diferente.

Não deixe de ler o seguinte o comentário ao livro: Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Timothy Radcliffe - NA MARGEM DO MISTÉRIO

TIMOTHY RADCLIFFE (2017). Na margem do mistério. Ter fé em tempos de incerteza. Prior Velho: Paulinas Editora. 144 páginas.
       Mais uma belíssima leitura que ora recomendamos. Claro, se fazemos uma sugestão é precisamente por pensarmos que é pertinente para nós e também o será para os outros. O autor, Timothy Radcliffe, é inglês, sacerdote dominicano, formado em Oxford e em Paris, é autor de várias obras de espiritualidade, já foi Mestre-geral da Ordem dos Pregadores (dominicanos), e como sacerdote dominicano já percorreu diversas partes do mundo.
       Já aqui o sugerimos: TIMOTHY RADCLIFFE - IMERSOS EM DEUS.
       Por estes dias lemos e sugerimos três títulos: SILÊNCIO, de Shusaku Endo, PACIÊNCIA COM DEUS, de Tomáš Halík, e A ESTRADA, de Cormac McCarthy e cada um à sua maneira falava das questões que nos coloca a fé em tempos de crise, de adversidade, de confusão e relativismo.
       Coincidentes no tempo de leitura, também este título nos fala das dificuldades da leitura da fé, do cristianismo e da Igreja nos tempos atuais, convocando a encontrar novas respostas ou pelo menos a formular novas perguntas, deixando-se surpreender pela graça de Deus e pelos sinais que estão presentes nas novas situações, com coragem e persistência, com disponibilidade para escutar, para abraçar, para acolher, com firmeza e docilidade, com verdade e coragem. Sem renunciar à sua fé, pelo contrário, só uma fé esclarecida, feita de convicções e de alegria, pode dialogar com outras opções de vida e com outras religiões.
       Viver e partilhar a esperança. Anunciar o Evangelho da Alegria. A alegria que vem da fé não é cutânea, é baseada em Jesus Cristo, está para lá do sofrimento. Com efeito, a alegria só é consistente tendo experimentado a dor e o sofrimento e a própria morte, não se encerrando aí, mas procurando dar sentido à vida. O Papa Francisco diz-nos que "a fé não deve ser confundida com estar bem ou sentir-se bem, com sentir-se consolado no íntimo, porque temos um pouco de paz no coração. A fé é o fio de ouro que nos liga ao Senhor, a pura alegria de estar com Ele, de estar unido a Ele; é o dom que vale e avida inteira, mas que só dá fruto, se fizermos a nossa parte".
       As normas, nesta época, continuam a ser válidas, mas mais o calor humano, a proximidade, a entreajuda, o compromisso com o que nos une, a abertura aos outros, a promoção das diferenças que podem enriquecer-nos e ajudar-nos a crescer. A abertura e a tolerância não é o mesmo que desistência, do que cedência pura e simples aos valores e às convicções dos demais, pelo contrário, a certeza da própria identidade ajuda a dialogar, a fazer pontes, a reconhecer o outro e a olhá-lo olhos nos olhos, sem medo, sem medo de ser provocado, sem medo das perguntas e dos questionamentos. Apostar na misericórdia não é negar o pecado ou as imperfeições. Significa isso sim, que os defeitos, os erros, o pecado, não nos impedem de ser irmãos. O caminho de Jesus é o do perdão e da misericórdia. É um caminho exigente. É levar a sério o outro e a sua liberdade. Se eu desculpo sem mais... isso seria contraproducente. Alguém mata uma pessoa. Deus não lhe vai dizer que não interesse, que passe à frente... Não. Isso não seria misericórdia! A misericórdia reabilita, leva a sério a pessoa, envolve-a para corrigir o caminho e enveredar por um caminho alternativo de bem e de proximidade.
       Do mesmo jeito o perdão. Perdoar sempre. Mas nem sempre é possível perdoar. Na cruz, Jesus não diz: eu perdoo-vos, mas sim "Pai perdoa-lhes...". Por vezes é necessário dar tempo. Rezar. Pedir a Deus pelos que nos fizeram mal, nos traíram. Há de chegar um dia que já não quero mal à pessoa, porquanto rezo por ela. Há de chegar a altura que estou pronto para aceitar o outro, apesar do que me fez.
       Alegria e música para enfrentar a dor... e a morte... quando não há palavras...
       Uma palavra de agradecimento e de estima ao colega e amigo sacerdote que me ofereceu este belíssimo livro.

domingo, 17 de agosto de 2014

TIMOTHY RADCLIFFE - Imersos na Vida de Deus

TIMOTHY RADCLIFFE (2013). Imersos na Vida de Deus. Viver o Batismo e a Confirmação. Prior Velho: Paulinas Editora. 334 páginas.
       Segundo D. José Cordeiro, Bispo de Bragança-Miranda, "Timothy Radcliffe, um teólogo brilhante, partilha aqui o dizer indizível da vida de Deus em nós. Na sequência de tantos livros atraentes sobre a questão vital do Cristinianismo, oferece-nos agora um rasgado horizonte da narrativa dos sacramentos do Batismo e da Confirmação. Emerge aqui a fascinante aventura da vida de Deus" (contracapa).
       Dominicano, Radcliffe conduz-nos através dos diversos momentos do Batismo, como celebração, alargando à história, à cultura circundante, à literatura, citando autores bem conhecidos, mas também cheio de histórias do dia a dia, na família e no convento, com pessoas de diferentes origens. A redescoberta do Batismo como sacramento que nos faz imergir na vida de Jesus Cristo e nos compromete com as pessoas que nos rodeia, com a família, com os colegas de trabalho. Ser cristãos não é uma capa que se veste, cedendo a tradições ou ritualismos, mas algo que nos identifica com Jesus, nos faz viver com alegria. Ser cristão, fazer o que Ele faz, assumir uma postura de proximidade e de vida nova, abençoados pela presença de Deus em nós.
       Ser batizado é deixar-se transformar pelo Espírito de Deus. É um acontecimento único, de vida nova, que nos compromete com os outros e com a transformação do mundo, modificando em nós os que nos afasta dos outros. O cristianismo é antes de mais um encontro pessoal com Jesus Cristo, que nos assume como irmãos. É uma história de amor, de Deus por nós, que nos quer bem, que nos quer livres e felizes. Ser cristão não é algo triste ou melancólico. Faz-nos sentir livres, úteis, filhos amados de Deus. E como Jesus, o compromisso do serviço e da proximidade, do diálogo. Não deveremos ter o ensejo do pensamento único, mas com humildade vivermos criativamente em cultura de diálogo, de encontro. Há sempre dons e talentos que podemos descobrir noutros que também são filhos de Deus.
       O Batismo liberta-nos do mal, e filia-nos em Deus. O autor parte de diversas situações quotidianos. Em todas as idades precisamos de nos convertermos, de abrirmos o nosso coração e a nossa mente, deixando que Deus possa ser visto através de nós. Ser filhos de Deus também nos faz encarar o sofrimento e a morte na sua relatividade, como oportunidades para nos aproximarmos mais dos outros ou os deixarmos aproximar.
       A opção comprometida com os mais pobres é uma exigência própria dos batizados. Seguir Jesus Cristo leva-nos ao encontro dos mais desvalidos para ajudarmos, para promovermos a dignidade da pessoa humana, mesmo que a aparência nos repugne. Jesus, diante da mulher apanhada em flagrante adultério, homem para ela como mulher e não tanto para o seu pecado, ainda que o convite a ela, como a nós, seja um caminho novo de libertação, de vida nova. Ele reabilita-nos para saborearmos a vida em abundância.
       Se não nos tornarmos como crianças não entraremos no Reino do Deus. Ao sermos batizados somos assumidos como crianças diante de Deus, que é Pai. Mas, e olhando para o Sacramento da Confirmação, o coração de crianças mas em cristãos corajosos, cuja maturidade da fé um desafio permanente.

»» Vale a pena ler a recensão feita pela Livraria FUNDAMENTOS: AQUI.