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terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

A oferenda do justo enriquece o altar

       "Cumprir a lei equivale a muitas oferendas, ser fiel aos mandamentos é um sacrifício de salvação. Dar graças é uma oblação de flor de farinha e a esmola é um sacrifício de louvor. O que mais agrada ao Senhor é desviar-se do mal, afastar-se da injustiça é um sacrificio de expiação. Não te apresentes diante do Senhor de mãos vazias, todos estes sacrifícios se oferecem porque são mandados por Deus. A oferenda do justo enriquece o altar e o seu agradável perfume sobe à presença do Altíssimo. O sacrifício do justo é agradável ao Senhor e o seu memorial não será esquecido. Dá glória ao Senhor com generosidade e não sejas mesquinho nas primícias que ofereces. Em todas as tuas oferendas mostra um rosto alegre e consagra o dízimo de boa vontade. Dá ao Altíssimo conforme Ele te deu, com generosidade, segundo as tuas posses. Porque o Senhor sabe retribuir e te dará sete vezes mais. Não tentes suborná-l’O com presentes, porque não os aceitará. Nem confies num sacrifício injusto, porque o Senhor é juiz e não faz acepção de pessoas" (Sir 35, 1-15).
       Pedro começou a dizer a Jesus: «Vê como nós deixámos tudo para Te seguir». Jesus respondeu: «Em verdade vos digo: Todo aquele que tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou terras, por minha causa e por causa do Evangelho, receberá cem vezes mais, já neste mundo, em casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, juntamente com perseguições, e, no mundo futuro, a vida eterna. Muitos dos primeiros serão os últimos e muitos dos últimos serão os primeiros» (Mc 10, 28-31).

      Os profetas, os sábios religiosos, os justos, tiveram, muitas vezes, de alertar para a purificação do culto e das devoções, para que estas levasse as pessoas a aproximar-se entre si e não fossem apenas ritos descontextualizados do dia a dia.
        Por um lado, o autor sagrada fala das oferendas e dos sacrifícios devidos a Deus. No entanto, que tais sacrifícios resultem da generosidade e da bondade de cada oferente. Por outro, o acento tónico recai sobre o cumprimento dos mandamentos. Dar graças vale mais que qualquer sacrifício...
       As práticas rituais são importantes, pois ligam-nos a uma comunidade e a uma história, mas o que conta (mais) é a adesão alegre ao Senhor, nosso Deus e a consequente prática do bem.
       No evangelho, as palavras de Jesus apontam para o mesmo. Os primeiros, no Seu ver e agir, são os que servem.

sábado, 11 de fevereiro de 2017

Domingo VI do Tempo Comum - ano A - 12 de fevereiro

       1 – Jesus ainda não desceu. Não desçamos nós também. Mantenhamo-nos junto d'Ele, na montanha, a escutá-l'O para O seguirmos, para procuramos sintonizar-nos o mais possível. A multidão permanece. Os discípulos continuam sentados, na primeira fila, para não perderem nada e absorverem cada palavra, cada nuance, cada conselho.
       Hoje é connosco, permanecer junto a Jesus, escutá-l'O, apreender a Sua mensagem e captá-la para o nosso tempo e para as circunstâncias atuais. Só poderemos partir para O testemunhar, para O transparecer, para anunciar a Sua Palavra, se permanecermos ligados, sintonizados, identificados com Ele. Quando mais próximos, mais aptos a IR e anunciar a Boa Nova a toda a criatura. Nisto consiste precisamente o sermos discípulos missionários. Não é possível separar as águas. Só os discípulos são missionários. Só sendo missionários permanecemos como discípulos.
       Na linguagem como na vida, Jesus apresenta-Se dócil, próximo, a favor dos mais desfavorecidos e da integração de todos no Reino de Deus, repudiando as injustiças, a sobranceria, as invejas e os ódios, promovendo o serviço, o amor e o perdão, contando connosco, comigo e contigo. Cada pessoa conta. Cada um de nós é assumido como irmão, filho bem-amado do Pai. Jesus não vem para derrubar o bem que existe, mas para desfazer os muros da incompreensão, do egoísmo, da intolerância, da violência, e contruir pontes e laços de entreajuda, de comunhão e de fraternidade.
       Na montanha, mais perto de Deus, para que ao descer para a cidade, para a povoação, seja Deus que Se traz, Se anuncia e Se dá aos outros.
       2 – «Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim revogar, mas completar».
       A lei do amor não torna mais fácil a nossa vida. Jesus não revoga os preceitos da Lei de Moisés. Não tem o propósito de alijar, iludir, facilitar, mas de elevar, aperfeiçoar, plenizar. Jesus é a Carne viva da Lei, o Corpo e a Vida. Mas a carne, o corpo e a vida são delicados e temos que os tratar como tal, com delicadeza e cuidado, prestando a máxima atenção para não ferir, não magoar, para não danificar. Quando cuidamos da carne do outro, do seu corpo e da sua vida, estamos a entrar no seu mundo, estamos a reconhecê-lo como parte essencial do nosso mundo. Quando tocamos as feridas e as chagas do outro, como nos lembra a Santa Teresa de Calcutá, tocamos os ferimentos de Jesus.
       Não precisamos de leis nem de regras, desde que amemos de todo o coração! Por certo! Como diria Santo Agostinho, ama e faz o que quiseres! Só que quem ama cuida, sofre, ampara, acolhe, serve, acarinha, gasta-se, respeita, dá-se, entrega-se. A não ser que amar seja apenas uma palavra dita da boca para fora e gasta pelo muito e/ou mau uso da mesma. A não ser que amar seja apenas gozar, sentir prazer, tirar proveito do outro, servir-se do outro enquanto é útil e satisfazer os próprios interesses e caprichos. Amar exige muito de mim. Exige tudo. Não se ama a meio termo, a meio gás, com condições ou reservas. A vida não é branco e preto, também é cinzenta e vermelha, castanha e amarela. No entanto, ou se ama ou não se ama. Amar muito já está dentro do amar. Amar exige tudo de mim e de ti. Exige que gastemos as forças, o corpo e o espírito a favor do outro, de quem, pelo amor, me faço próximo, me faço irmão. Amar é dar a vida. É gastar a vida. É confiar ao outro a própria vida. Foi isso que Jesus fez connosco, comigo e contigo, com a humanidade inteira. Por amor, gastou-Se até à última gota de sangue.
       As suas palavras entram-nos pelos ouvidos dentro até chegarem ao coração. Outrora poderíamos ainda ter desculpas, não saber, estarmos a caminhar e a amadurecer. Mas agora é tempo de viver, de amar e servir. «Se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos Céus». Se vos preocupais apenas com os mínimos garantidos não servis o reino de Deus, que exige o máximo.
       3 – Aos antigos foi dito muita coisa, mas agora é a própria Palavra de Deus, em Pessoa, em Jesus Cristo, que Se comunica. Não basta "não" matar, é preciso dar-se, ser pró-ativo no bem a dizer e a fazer, indo ao encontro do outro, auxiliando-o, servindo-o.
       As leis, como a de Moisés, de inspiração divina, tiveram o fito de criar situações de maior justiça e equidade, evitando roubos, assassínios, situações que pudessem minar as relações dentro das famílias e dentro dos clãs. A pedagogia da Lei compromete-nos com o "mais". Há sempre mais a fazer, sempre mais para cuidar, sempre mais para melhorar. Quem se fica pelas exigências da lei, paralisa, não evolui, não se liberta da estagnação da vida. O que se proíbe ajuda a orientar as forças e a vida para o que se pode. Há uma linha que não se pode transpor, pois se se transpuser estaremos a contrariar a vida como dom e como compromisso. A lei esclarece-nos. Não podemos passar a linha, mas acima da linha há uma vida a viver, a realizar. Ora, Jesus, com a Sua vida, mas também com as Sua palavras, diz-nos que a preocupação não há de ser a de guardar ou pisar a linha, mas viver de tal forma que essa preocupação não tenha morada em nós. Imaginemos um campeonato de futebol. Há uma linha abaixo da qual se desce de divisão. Quem se mantiver muito acima dessa linha, poderá fazer coisas melhores, pela confiança, pela garra. O medo da descida pode criar insegurança e gerar mais medo e provocar mais derrotas. O amor gera amor. A vida gera vida e multiplica-a. A diferença, neste campeonato, é que ninguém precisa de descer de divisão, todos podem chegar em primeiro lugar.
       As últimas palavras do Evangelho para este domingo deixam claro que a nossa «linguagem deve ser: ‘Sim, sim; não, não’. O que passa disto vem do Maligno». A linguagem e a vida, as palavras e os gestos, as respostas e as obras. Clareza, verdade, serviço, amor. É uma linha acima, pela positiva, pelo que aproxima, pela fidelidade, pelo envolvimento com os outros.

       4 – A fidelidade aos Mandamentos não é um capricho! É uma opção livre e que liberta. Claro que as leis, sobretudo de direito positivo, precisam de ser aperfeiçoadas e por vezes atualizadas diante de novas circunstâncias e situações. Os Mandamentos são, seguindo a Bíblia, Lei de Deus, traduzida em linguagem humana. A Lei em si mesma não salva. Mas orienta para a salvação, aponta para a vivência harmoniosa entre pessoas, previne abusos e desvios, sugere caminhos que, experimentados por outros e fruto da sua experiência, testemunho e reflexão, podem facilitar-nos a vida, pois já não temos necessidade de andar por caminhos errantes, à procura de sermos mais justos, mais honestos, mais inclusivos. A Lei não salva, a vida salva, a graça de Deus salva. A Lei prepara-nos para acolhermos a Deus e vivermos como irmãos.
       Quando éramos mais novos, as leis e as instituições eram uma chatice, um empecilho à nossa liberdade, à alegria e à festa. Existiam para nos aborrecer, para proibir, para castigar, para nos aprisionar. Crescemos, amadurecemos e envelhecemos e percebemos agora que nos ajudavam a não perder tanto tempo. Agora sabemos que resultaram da sabedoria e da vida de outros. Precisamos de fazer o nosso caminho. E, ao partirmos, queremos que os mais novos encontrem em nós referências, testemunho, desafio, encontrem a sabedoria que fomos adquirindo, ainda que saibamos que também vão bater muitas vezes com a cabeça e magoar-se.
       Ben Sirá diz-nos que ser fiel aos mandamentos não é um sacrifício nem uma obrigação, depende da minha, da tua, da nossa vontade. No entanto elucida-nos: «Deus pôs diante de ti o fogo e a água: estenderás a mão para o que desejares. Diante do homem estão a vida e a morte: o que ele escolher, isso lhe será dado. Porque é grande a sabedoria do Senhor, Ele é forte e poderoso e vê todas as coisas. Seus olhos estão sobre aqueles que O temem, Ele conhece todas as coisas do homem. Não mandou a ninguém fazer o mal, nem deu licença a ninguém de cometer o pecado».
       O salmo mostra a felicidade daqueles que seguem o Senhor: «Felizes os que seguem o caminho perfeito e andam na lei do Senhor… que observam as suas ordens e O procuram de todo o coração... Oxalá meus caminhos sejam firmes na observância dos vossos decretos… Abri, Senhor, os meus olhos para ver as maravilhas da vossa lei... Ensinai-me, Senhor, o caminho dos vossos decretos, para ser fiel até ao fim. Dai-me entendimento para guardar a vossa lei e para a cumprir de todo o coração».
       Para concluir estes dois textos nada melhor que a oração de coleta: «Senhor, que prometestes estar presente nos corações retos e sinceros, ajudai-nos com a vossa graça a viver de tal modo que mereçamos ser vossa morada».

       5 – São Paulo, na Carta aos Coríntios, continua a falar de humildade e despojamento, de quem se apronta para acolher a vontade de Deus, a Sua misericórdia e a Sua sabedoria. Só Deus pode garantir-nos eternamente.
       Diante da comunidade, Paulo não quer outra coisa que não seja anunciar Jesus, crucificado e ressuscitado, para que uns e outros, judeus e gregos, livres e escravos, homens e mulheres, todos possam aceder à salvação colocada ao nosso alcance por Jesus Cristo.

Pe. Manuel Gonçalves

Textos para a Eucaristia (A): Sir 15, 16-21 (15-20); Sl 118 (119); 1 Cor 2, 6-10; Mt 5, 17-37.

sábado, 30 de maio de 2015

Sabedoria: a alegria do meu coração!

       Eu Vos louvarei e darei graças, meu Deus, bendizendo o nome do Senhor. Na minha juventude, antes de andar errante, busquei abertamente a sabedoria na minha oração. Pedi-a diante do santuário e procurá-la-ei até ao fim da vida. Quando florescia como uva temporã, ela era a alegria do meu coração. Os meus pés andaram por caminho recto e segui na sua esteira desde a juventude. Mal lhe prestei ouvidos, logo a recebi e encontrei para mim abundante instrução. Graças a ela, fiz grandes progressos: darei glória Àquele que me deu a sabedoria. Porque eu decidi pô-la em prática, procurei zelosamente o bem e não serei confundido. A minha alma combateu corajosamente por ela e fui muito diligente na observância da Lei. Levantei as minhas mãos para o alto e compreendi os seus mistérios. Dirigi para ela a minha alma e encontrei-a na pureza de vida. Com ela, desde o princípio, adquiri inteligência; por isso não serei abandonado (Sir 51, 17-27).


       Oração e sabedoria.
       Melhor, a oração que conduz à sabedoria. Ben Sirá dá testemunho do que foi e do que tem sido a sua vida de oração. Desde a juventude, na oração, pediu a sabedoria a Deus, procurando orientar-se, em todas as fases da sua vida, por essa mesma sabedoria dada por Deus.
       Agora é tempo de dar graças a Deus por lhe ter aberto a mente e o coração para acolher a sabedoria e a disponibilidade para viver diante de Deus, observando diligentemente a Sua Lei.
       Deixemo-nos também nós guiar por esta sabedoria que nos vem de Deus e não cessemos de a pedir na nossa oração.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Enquanto tens vida e saúde, louva o Senhor

       O Senhor permite que voltem para Ele os que se arrependem e reconforta aqueles que tinham perdido a esperança. Converte-te ao Senhor e abandona o pecado, ora na sua presença e atenua assim a tua ofensa. Volta-te para o Altíssimo e afasta-te da injustiça e detesta profundamente a iniquidade. Conhece a justiça e os juízos de Deus e permanece constante na oferenda e na oração ao Deus Altíssimo...
       Louva o Senhor enquanto viveres, louva-O enquanto tens vida e saúde, louva a Deus e glorifica-O pela sua misericórdia. Como é grande a misericórdia do Senhor e o seu perdão para os que a Ele se convertem! (Sir 17, 20-28).
       Jesus afirmou-lhes de novo: «Meus filhos, como é difícil entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus». Eles admiraram-se ainda mais e diziam uns aos outros: «Quem pode então salvar-se?». Fitando neles os olhos, Jesus respondeu: «Aos homens é impossível, mas não a Deus, porque a Deus tudo é possível» (Mc 10, 17-27).

       Jesus encontra-se com o jovem rico, um homem bom, com um coração a precisar de encontrar um sentido novo para a vida, com o anseio de voar mais alto. Cumpre o que social e religiosamente lhe é exigido, mas ainda assim sente-se inquieto, insatisfeito. Jesus faz-lhe uma proposta mais radical: vai vende o que tens, dá aos pobres e depois vem e segue-Me. O jovem, contudo, ainda não está preparado para o que o coração lhe pede e afasta-se entristecido, como triste fica Jesus por tal decisão. É neste contexto que Jesus diz aos seus discípulos que a salvação é, inevitavelmente, obra de Deus. A nós cabe-nos acolhê-la com alegria e generosidade.
       No texto de Ben Sirá, a recomendação para em vida nos convertermos ao Senhor, enquanto temos vida e saúde, na certeza que Deus está sempre pronto a perdoar e a acolher-nos, na certeza que nos compensará, Ele nunca nos falta.
       Dois textos que vale a pena ler com muita atenção, meditar sobre eles e sobretudo para nos deixarmos guiar por tão sábias palavras.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

O amigo fiel é remédio da vida

       A palavra amável multiplica os amigos e uma língua afável atrai saudações agradáveis...  há amigos de ocasião, que não serão fiéis no dia da adversidade. Há amigos que se tornam inimigos, revelando as vossas contendas para tua humilhação. Há amigos para a mesa, que não serão fiéis no dia da desgraça... Afasta-te dos teus inimigos e acautela-te dos teus amigos. O amigo fiel é abrigo seguro: quem o encontrou descobriu um tesouro. O amigo fiel não tem preço: não se pode medir o seu valor. O amigo fiel é remédio da vida: os que temem o Senhor hão-de encontrá-lo. Quem teme o Senhor orienta bem a sua amizade, porque tal como ele é, assim é o seu amigo (Sir 6, 5-17).
       Ben Sirá, na sua experiência e sabedoria, fala-nos hoje da amizade. O amigo vê-se na adversidade e quem encontrou um amigo verdadeiro encontrou um tesouro. Na bonança muitos parecem ser os amigos. Na adversidade se vê quem permanece, quem é verdadeiramente amigo.
       Para lá do cuidado na escolha dos amigos, importa antes de mais o temor de Deus, para que vivendo de acordo com a Sua vontade, a amizade possa tornar-se mais autêntica.

sábado, 10 de setembro de 2011

XXIV Domingo doTempo Comum - 11 de Setembro

       1 – "Errar é humano, perdoar é divino".
       Neste ditado popular temos uma constatação e um desafio. Por um lado, é próprio da nossa fragilidade humana errarmos, falharmos na nossa relação com os outros. Vale para uns e para outros. Estamos no mesmo barco. Somos da mesma carne. Num ou noutro tempo, lá cometemos um deslize, uma falha, uma palavra que ofende, um gesto que destrói o outro, uma palavra ou um gesto que destrói a confiança do outro, que mina a sua paz e a sua saúde. 
       Desde logo uma lição importante: se todos pecamos, isto é, se temos em nós o gérmen da fragilidade, do errar, mais consciente ou menos conscientemente, então a nossa compreensão e tolerância para com os outros deveria ser um modo de ser, uma constante, uma opção de vida.
       Por outro lado, sabemos como o perdão não é assim tão fácil de conceder. E porquê? Quem já se sentiu ofendido na sua dignidade? Quem foi insultado, traído, desprezado? Quem já foi vítima do ódio, da maledicência, do boato, da injúria, da violência, da injustiça? Quem já viu o seu nome lançado na lama? Como se sentiu, como se viu impelido a agir?
       Por vezes basta uma palavra fora de tempo, ou a ausência de uma palavra de solidariedade, para nos sentirmos ofendidos!
       Este é o grande desafio: perdoar. É a característica fundamental da caridade, a propriedade de Deus. Ama em perfeição. Perdoa em todas as situações. Só Ele nos liberta do peso do pecado e da culpa. Perdoar é divino. Mas é também um caminho, do crente e de toda a pessoa que quer ser livre, que quer ser saudável. É um ideal que devemos prosseguir com alegria, com paixão. O perdão liberta-nos do rancor, da irritação, do ódio, liberta o nosso coração para que ame, para que viva, para que aprecie o mundo à sua volta.

       2 – No Evangelho deste domingo encontrámos um Pedro muito benevolente: “Se meu irmão me ofender, quantas vezes deverei perdoar-lhe? Até sete vezes?”.
       Deverei perdoar? E quantas vezes? Cada um de nós já foi confrontado com esta questão várias vezes ao longo da sua vida. Não será difícil responder. Já que esta ou aquela pessoa me ofendeu, e se não foi uma ofensa à minha dignidade, então poderei vir a perdoar. E se a mesma pessoa me ofender de novo? Aí o perdão já se torna mais complexo, é que se perdoo novamente pode voltar a fazer o mesmo pois sabe como tenho um coração de manteiga. E uma terceira vez? Já é quebrar a cara e perder a vergonha! Perdoar, nem pensar! O abuso também tem um limite!
       Quando Pedro pergunta a Jesus se deve perdoar até sete vezes, ele está a ser demasiado generoso. Talvez pense que Jesus tenha um gesto de reconhecimento e de felicitação por tamanha generosidade. Mas Jesus surpreende-o: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”. O número 7, para a Bíblia, significa perfeição, plenitude. Perdoar 7 vezes é perdoar sempre. Mas para que não restem dúvidas, Jesus eleva o perdão até ao infinito, perdoar sempre, em todas as situações, em todos os momentos, a todas as pessoas.
        Perdoar é divino, perdoar abre-nos o coração aos outros, à vida, à alegria, a Deus. Liberta-nos. Cura-nos. Perdoar traz-nos a confiança, devolve-nos a felicidade. É certo que há situações que não esquecerei, muito menos uma ofensa grave. Fica gravado na memória. Não é uma opção. Perdoar tem a ver com a vontade, é uma opção de vida, é uma escolha. Perdoo, sabendo que me fizeram mal, que feriram a minha dignidade, que me atraiçoaram. Quero bem àquela pessoa, ainda que saiba que me injuriou. Perdoar para sermos perdoados, como na parábola contada por Jesus. Deus perdoa-nos tudo, para que nós vamos perdoando àqueles que nos ofendem.
       Quando não perdoamos, o nosso coração vai-se enchendo de rancor, de ódio, de revolta, de irritação. Para onde quer que vamos, em tudo o que fazemos, acordados ou a dormir, a pessoa que nos ofendeu vai connosco, faz parte da nossa vida, em todas as horas, negativamente. Nem comemos com o mesmo entusiasmo, nem dormimos com a mesma tranquilidade, como que desejaríamos que essa pessoa passasse pelo mesmo... Paralisamos! Adoecemos! Morre em nós a vida nova que recebemos de Deus, em Jesus Cristo, pelo Espírito Santo.
       Embora seja divino, o perdão é uma escolha, é uma questão de saúde, de cura. 

       3 – O perdão é uma exigência da caridade ao jeito de Jesus Cristo. Quem ama perdoa. Os cristãos, seguidores de Jesus Cristo, são chamados a perdoar sempre, deixando-se tocar pela graça de Deus, fonte e origem de todo o amor, fonte e origem do perdão.
       Ben Sirá, alerta-nos para a urgência de pedirmos a Deus a nossa cura, perdoando aqueles que nos ofenderam.
       "O rancor e a ira são coisas detestáveis, e o pecador é mestre nelas. Quem se vinga sofrerá a vingança do Senhor, que pedirá minuciosa conta de seus pecados. Perdoa a ofensa do teu próximo e, quando o pedires, as tuas ofensas serão perdoadas. Um homem guarda rancor contra outro e pede a Deus que o cure? Não tem compaixão do seu semelhante e pede perdão para os seus próprios pecados? Se ele, que é um ser de carne, guarda rancor, quem lhe alcançará o perdão das suas faltas? Lembra-te do teu fim e deixa de ter ódio; pensa na corrupção e na morte, e guarda os mandamentos. Recorda os mandamentos e não tenhas rancor ao próximo; pensa na aliança do Altíssimo e não repares nas ofensas que te fazem".
       As nossas ofensas são perdoadas quando perdoamos as dos outros. A cura é-nos concedida quando libertamos o nosso coração de toda a cólera, sabendo que só desse modo imitámos o proceder de Deus. Como se nos recorda no Salmo: "Como a distância da terra aos céus, assim é grande a sua misericórdia para os que O temem. Como o Oriente dista do Ocidente, assim Ele afasta de nós os nossos pecados".
       Vivendo na graça de Deus, aprenderemos a força libertadora de nos sabermos perdoados, amados por Deus e de sabermos que o nosso perdão disponibiliza o nosso coração, a nossa vida, para a alegria, a confiança, para a disposição para nos encontrarmos e para descobrirmos a beleza da vida, para termos garra para enfrentarmos os momentos de dificuldade com mais serenidade.

       4 – Lembremo-nos da recomendação feita pelo Apóstolo São Paulo aos Romanos: "Nenhum de nós vive para si mesmo e nenhum de nós morre para si mesmo. Se vivemos, vivemos para o Senhor, e se morremos, morremos para o Senhor. Portanto, quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor. Na verdade, Cristo morreu e ressuscitou para ser o Senhor dos vivos e dos mortos".
       Se colocarmos Deus nos nossos pensamentos, na nossa vontade, nas nossas escolhas, nos nossos afazeres, se deixarmos que o Seu Espírito de amor actue em nós, tornar-se-á mais fácil entender que a vida se resolve e se decide na caridade, que, por sua vez, tem no perdão uma das expressões máximas do viver como Jesus viveu, amando, perdoando, fazendo o bem, dando a vida por nós, a que também nós estamos chamados.

Textos para a Eucaristia (ano A): Sir 27, 33 – 28, 9; Sl 102 (103); Rom 14, 7-9; Mt 18, 21-35.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Heranças, esquecidas e/ou perpetuadas!

      Celebremos os louvores dos homens ilustres, dos nossos antepassados através das gerações. Alguns houve que não deixaram lembrança, desapareceram como se não tivessem existido, passaram como se não tivessem nascido, tanto eles como os seus filhos. Mas outros foram homens virtuosos e as suas boas obras não foram esquecidas. Na sua descendência permanece a excelente herança que deles nasceu. Os seus filhos são fiéis à aliança e, graças a eles, também os filhos dos seus filhos. A sua descendência permanece para sempre e jamais se apagará a sua glória (Sir 44, 1.9-13).

       Ben Sirá continua a dar-nos conselhos extraordinários e muito cristãos. A nossa passagem pelo mundo pode ser assinalada pelo bem, pela justiça, pelo amor, pelos valores que comunicarmos aos vindouros e a nossa memória ficar para sempre. Importa deixarmos mundo melhor que o encontrámos.
       Ao invés, há aqueles que passam pelo mundo sem deixarem marcas positivas, sem memória, pois não deixaram boas obras.
       A recomendação à virtude, para que sejamos lembrados pelas gerações e sobretudo na eternidade de Deus.