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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Só nos resta a inteligência

Os cem anos da República portuguesa cruzaram-se com os dois mil anos da Igreja Católica. E, em Portugal, ambas protagonizaram um século.

       De fragmentos se faz a história. Quem a realiza, quem a lê e quem a conta. Nada envolve tudo ou tudo explica. Multiplicam-se as máquinas da memória, a declinação de dados, o cruzamento de factos. A intercepção com as ideologias, a proximidade com os elementos antagónicos, a manipulação segundo os envolvimentos favoráveis ou de desconforto, faz da história um instrumento de busca, na purificação constante das águas da memória. Nem vale a pena misturá-la com histórias. Ou carregá-la de adjectivos, hipérboles, dramas, ou simples colorações de circunstância. Ninguém é quimicamente puro nas análises que ensaia porque ninguém sabe a história toda nem todas as histórias. Como o futuro, o passado límpido apenas a Deus pertence.
       E há o tempo. «O passado não cessa de nos surpreender, mais que o presente, mais que o futuro talvez», diz Jean-Claude Carrière em diálogo com Umberto Eco. Cem anos de implantação da República em Portugal têm muito a ver com este todo. Nas diferentes narrativas dum facto que não é acontecimento dum dia ou explosão duma hora. Remexe muitas páginas da história e traz permanentes surpresas, enquanto insinua que tem tudo dito e feito. Daí, a procura honesta e rigorosa dos enquadramentos, causas próximas e remotas, intervenientes de primeiro plano ou programadamente escondidos. Com a humildade de quem sabe que a história é uma recolha meticulosa de fragmentos que parecem ser um todo, não podemos cansar-nos de procurar as linhas mestras que a sequência vertiginosa dos séculos foi criando como um vulcão paciente que atingiu altíssimas temperaturas e no arrefecimento progressivo e lento foi criando montanhas, planícies, desertos, oásis, terras áridas e rios abundantes. Sem nunca desistir da sua revolução criadora ao espalhar por pátrias infindas as suas lavas mornas. Os cem anos da República portuguesa cruzaram-se com os dois mil anos da Igreja Católica. E, em Portugal, ambas protagonizaram um século, tiveram encontros e desencontros com leituras contrárias, desdobrando os mesmos factos em dividendos que geraram algumas guerras religiosas no meio de muitas guerras civis. A República não é uma data única. É um rasto de tempo num pequeno espaço chamado Portugal.
       Que se retome a memória. Mas que nunca se perca a inteligência. Foi no contexto das novas memórias que Michel Serves o afirmou. Mas que cabe neste tempo de boas e más memórias que estamos a celebrar.

Pe. António Rego, Editorial Agência Ecclesia.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Centenário da República Portuguesa

"No centenário da República, as minhas felecitações e a minha bênção a Portugal inteiro, país rico de humanidade e de cristianismo".
Bento XVI
(Mensagem do Papa Bento XVI, no Livro de Honra da Presidência da República, no dia 11 de Maio de 2010)

Textos sobre o Centenário da República,
na AGÊNCIA ECCLESIA.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O Hino Nacional (outro símbolo nacional)

O Hino Nacional é o outro símbolo nacional ( além da Bandeira Nacional), definido pelo artigo 11º da Constituição. Com música da autoria de Alfredo Keil e letra de Henrique Lopes de Mendonça, A Portuguesa foi composta no rescaldo emocional do "Ultimatum" e tornou-se a marcha dos revoltosos do 31 de Janeiro. Certamente por esse motivo, foi proibida pelo regime monárquico. A revolução de 5 de Outubro acabaria por recuperá-la e, logo em 17 de Novembro, o Ministério da Guerra determinava que, sempre que se executasse o hino "A Portuguesa", todos os militares presentes, quando fardados, fizessem continência e, estando à paisana, se descobrissem, conservando-se de pé, em ambos os casos, até ao final da execução.
Contudo, a aprovação da versão oficial só se viria a dar em 1957, através da resolução do Conselho de Ministros publicada no Diário do Governo, 1ª série, nº 199, de 4-9-1957. Em consequência, foi elaborada a versão para grande orquestra sinfónica, da autoria de Frederico de Freitas, e, a partir desta, a versão para grande banda marcial, pelo major Lourenço Alves Ribeiro, inspector das bandas militares.

A Portuguesa
Heróis do mar, nobre povo,
Nação valente, imortal,
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória,
Ó Pátria, sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!

Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!

A Bandeira Nacional

No dia 5 de Outubro de 1910, da varanda da Câmara Municipal de Lisboa, proclamou-se a República. Saíram milhares de pessoas para a rua a festejar, a notícia espalhou-se rapidamente pelo país e a mudança tornou-se um facto consumado.

Uma mudança tão profunda justificava que se escolhesse outra bandeira nacional. Mas que cores se deviam usar? E que símbolos?

O governo não perdeu tempo e logo a 15 de Outubro reuniu um grupo de gente com grande prestígio para que elaborasse um projecto de bandeira. Desse grupo faziam parte: o pintor Columbano Bordalo Pinheiro; o jornalista João Chagas; o escritor Abel Acácio de Almeida Botelho; o capitão de artilharia José Afonso Pala e o primeiro-tenente da Marinha António Ladislau Parreira. Naturalmente inspiraram-se nas bandeiras dos centros republicanos e das sociedades secretas que tinham contribuído para o êxito da revolução.

1a Proposta de bandeira
Primeira proposta apresentada pelo grupo
Fonte: Museu da Presidência da República (http://www.museu.presidencia.pt/)

Para justificar os motivos da escolha (a bandeira actual) elaboraram um relatório. Os motivos apresentados, em resumo, baseavam-se no seguinte: o vermelho "cor combativa e quente, é a cor da conquista e do riso. Uma cor cantante, ardente, alegre. Lembra o sangue e incita à vitória"; o verde "cor da esperança e do relâmpago, significa uma mudança representativa na vida do país"; a esfera armilar é o símbolo dos Descobrimentos Portugueses, a fase mais brilhante da nossa História, portanto deve aparecer na bandeira; o escudo com as quinas deve continuar na bandeira como homenagem à bravura e aos feitos dos portugueses que lutaram pela independência; a faixa com sete castelos também deve permanecer porque representa a independência nacional.

O Governo aceitou a proposta mas fez algumas alterações. A nova Bandeira Nacional foi aprovada pelo Governo a 29 de Novembro de 1910 e homologada pela Assembleia Constituinte a 11 de Junho de 1911.

Bandeira nacional
Bandeira Nacional

Outras propostas

A aprovação da Bandeira Nacional provocou grandes discussões e houve gente que imaginou outros modelos. Muitos desses modelos foram publicados em jornais, revistas, postais e num almanaque da época.

Guerra Junqueiro, por exemplo, apresentou uma proposta tendo como cores o azul e o branco. Dizia que não eram as cores do rei mas sim as cores da "alma nacional" e portanto não deviam ser abolidas.

Bandeira Guerra Junqueiro
Proposta apresentada por Guerra Junqueiro
Fonte: Museu da Presidência da República (http://www.museu.presidencia.pt/)

Outro proponente foi Joaquim Augusto Fernandes que apresentou um modelo justificando a escolha dos elementos muito detalhadamente. "Sobre fundo de candura (o branco) cinco traços de heroísmo e esperança (vermelho e verde). Em cima, junto à haste, o céu estrelado da nossa fantasia. A lua ostenta um sonho dourado, já realizado - a História de Portugal representada pela esfera armilar e pelo escudo. As dez estrelas mais pequenas são os dez cantos dos "Lusíadas". As quatro estrelas maiores representam a obra dos portugueses em África, na Ásia, na América e na Oceânia".

Bandeira Joaquim Augusto Fernandes
Proposta apresentada por Joaquim Augusto Fernandes
Fonte: Museu da Presidência da República (http://www.museu.presidencia.pt/)

Além destas houve muitas outras foram propostas...

Bandeira António Arroio
Proposta apresentada por António Arroio
Fonte: Museu da Presidência da República (http://www.museu.presidencia.pt/)

Bandeira Jacinto Rosiers
Proposta apresentada por Jacinto Rosiers
Fonte: Museu da Presidência da República (http://www.museu.presidencia.pt/)

Bandeira António M Sousa
Proposta apresentada por António M. de Sousa
Fonte: Museu da Presidência da República (http://www.museu.presidencia.pt/)

Dia da República

A República Portuguesa é quase centenária. Faz hoje 99 anos. Estas duas imagens são muito republicanas: a bandeira e Maria Madalena associada aos ideais revolucionários da república.