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segunda-feira, 6 de agosto de 2018

TRANSFIGURAÇÃO do SENHOR - ano B

Nota Histórica:
       A festa da Transfiguração, celebrada no Oriente desde o século V e no Ocidente a partir de 1457, faz-nos reviver um acontecimento importante da vida de Jesus, com reflexos na nossa vida.
       Situada antes do anúncio da Paixão e da Morte, a Transfiguração foi uma manifestação da vida divina, que está em Jesus. A luz do Tabor é, porém, uma antecipação do esplendor, que encherá a noite da Páscoa. Por isso, os Apóstolos, contemplando a glória divina na Pessoa de Jesus, ficaram preparados para os dolorosos acontecimentos, que iriam pôr à prova a sua fé. Vendo Jesus na Sua condição de servo, já não poderão esquecer a Sua condição divina.
       Anúncio da Páscoa, a Transfiguração encerra também uma promessa – a da nossa transfiguração. Jesus, com efeito, fez transparecer na Sua Humanidade a glória de que resplandecerá o seu Corpo Místico, a Igreja, na Sua vinda final.
       A nossa vida cristã é, pois, um processo de lenta transformação em Cristo. Iniciado no nosso Baptismo, completa-se na Eucaristia, «penhor da futura glória», que opera a nossa transformação, até atingirmos a imagem de Cristo glorioso.

"Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e subiu só com eles para um lugar retirado num alto monte e transfigurou-Se diante deles. As suas vestes tornaram-se resplandecentes, de tal brancura que nenhum lavadeiro sobre a terra as poderia assim branquear. Apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus. Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: «Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas:  uma para Ti, outra para Moisés, outra para Elias». Não sabia o que dizia, pois estavam atemorizados. Veio então uma nuvem que os cobriu com a sua sombra e da nuvem fez-se ouvir uma voz: «Este é o meu Filho muito amado: escutai-O». De repente, olhando em redor, não viram mais ninguém,  a não ser Jesus, sozinho com eles. Ao descerem do monte, Jesus ordenou-lhes que não contassem a ninguém o que tinham visto, enquanto o Filho do homem não ressuscitasse dos mortos. Eles guardaram a recomendação, mas perguntavam entre si o que seria ressuscitar dos mortos" (ano B: Mc 9, 2-10).
       Ao longo da Sua vida pública, Jesus faz com que os Seus discípulos experimentem as mais diversas situações. Nem tudo será agradável. Haverá momentos dolorosos. Aliás, um pouco antes da Transfiguração Jesus anuncia um futuro mais ou menos negro, pelo menos humanamente falando. Vai ser entregue nas mãos das autoridades, vai ser morto... No meio da tristeza e desilusão por parte dos seus mais próximos seguidores, Jesus dá-lhes uma garantia, mostra-lhes o Céu. Esta antecipação mostra a divindade de Jesus, para de novo assumir a nossa humanidade com toda a crueza que a limitação e a finitude podem envolver. O seu destino é mortal, é como o de todos os mortais. Vai passar pela mesma provação. Aqui, Jesus mostra claramente àqueles apóstolos que a última palavra há de ser de Deus, da Vida nova...
       Importa, em todas as situações, escutar a Sua voz. É a voz do Pai de entre as nuvens que ressoa por todo o universo e que garante a eternidade para todos os que acreditarem n'Aquele que Ele enviou ao mundo, o Seu Filho muito amado.

sábado, 6 de agosto de 2016

Transfiguração do Senhor - ano C

Nota Histórica:
       A festa da Transfiguração, celebrada no Oriente desde o século V e no Ocidente a partir de 1457, faz-nos reviver um acontecimento importante da vida de Jesus, com reflexos na nossa vida.
       Situada antes do anúncio da Paixão e da Morte, a Transfiguração foi uma manifestação da vida divina, que está em Jesus. A luz do Tabor é, porém, uma antecipação do esplendor, que encherá a noite da Páscoa. Por isso, os Apóstolos, contemplando a glória divina na Pessoa de Jesus, ficaram preparados para os dolorosos acontecimentos, que iriam pôr à prova a sua fé. Vendo Jesus na Sua condição de servo, já não poderão esquecer a Sua condição divina.
       Anúncio da Páscoa, a Transfiguração encerra também uma promessa – a da nossa transfiguração. Jesus, com efeito, fez transparecer na Sua Humanidade a glória de que resplandecerá o seu Corpo Místico, a Igreja, na Sua vinda final.
       A nossa vida cristã é, pois, um processo de lenta transformação em Cristo. Iniciado no nosso Baptismo, completa-se na Eucaristia, «penhor da futura glória», que opera a nossa transformação, até atingirmos a imagem de Cristo glorioso.

      Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago e subiu ao monte, para orar. Enquanto orava, alterou-se o aspecto do seu rosto e as suas vestes ficaram de uma brancura refulgente. Dois homens falavam com Ele: eram Moisés e Elias, que, tendo aparecido em glória, falavam da morte de Jesus, que ia consumar-se em Jerusalém. Pedro e os companheiros estavam a cair de sono; mas, despertando, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com Ele. Quando estes se iam afastando, Pedro disse a Jesus: «Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias». Não sabia o que estava a dizer. Enquanto assim falava, veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra; e eles ficaram cheios de medo, ao entrarem na nuvem. Da nuvem saiu uma voz, que dizia: «Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O» (Ano C: Lc 9, 28b-36). 

       A transfiguração é como um "rebuçado" dado por Jesus aos Apóstolos, para enfrentarem os momentos de dificuldade que se aproximam, quando o Mestre for perseguido, preso e levado à Cruz. Esta antecipação mostra a divindade de Jesus, para de novo assumir a nossa humanidade com toda a crueza que a limitação e a finitude podem envolver.
       Importa, em todas as situações, escutar a Sua voz. É a voz do Pai de entre as nuvens que ressoa por todo o universo.

terça-feira, 10 de março de 2015

Para lá das nuvens, o sol continua a brilhar

O texto publicado na última edição da Voz de Lamego (3 de março de 2015) foi em parte utilizado na dinâmica da Quaresma nas Paróquia de Tabuaço e de Pinheiros, no segundo domingo da Quaresma, com a proclamação do Evangelho da Transfiguração de Jesus...
(Paróquia de Tabuaço)
(Paróquia de Pinheiros)

       Ficamos felizes com um dia radiante, cheio de sol e de luz e sobretudo se é em pleno inverno. Há dias em que as nuvens são densas, carregadas, escuras, prontas a cair-nos em cima.
       Assim é connosco, com a nossa vida. Por vezes, os desertos, as cinzas, o sofrimento, a morte, a tristeza, fazem-nos perder o pé. Mas sabemos que não será para sempre.
       O Sol continua a brilhar para lá das nuvens que nos assustam e tiram brilho aos nossos dias.
       Por vezes precisamos apenas de um raio de sol, uma palavra, um sorriso, alguém que nos diga que a nossa vida faz sentido e que as coisas vão melhorar, apesar de tudo. Dias melhores virão.
       Jesus tinha dito aos seus discípulos que ia ser morto (cf. Mc 8, 27-33).
       Os discípulos ficam em desespero. Como é possível que Jesus vá ser morto? Logo agora que encontraram um sentido maior para as suas vidas!
       Jesus mostra-lhes a luz que vem das alturas, mostra-lhes o Céu (cf. Mc 9, 2-10), mas não lhes diz, nem a eles nem a nós, que a vida vai ser fácil daqui para a frente. Não. Diz-lhes que têm que descer da Montanha. Por maiores que sejam as dificuldades, Deus não os abandonará.
       Quando as trevas forem mais densas e o sofrimento mais intenso, lembrar-se-ão deste momento, desta luz, para prosseguirem caminho, pois para lá das nuvens o Sol continua a brilhar, depois das trevas a luz virá, depois da noite o dia surgirá.
       A Quaresma desperta-nos para esse caminho de luz e salvação, de esperança e vida nova. A Quaresma é um tempo limitado (podemos dizê-lo em relação à Páscoa, que se prolonga por 50 dias e em todas as Eucaristias do anos, e em relação à Páscoa definitiva). Logo estaremos a celebrar a Ressurreição de Cristo, a Páscoa.
       É uma primavera de promessas a despontar. O que está encoberto, sob a terra, logo desabrochará; os rebentos morrerão para que nasçam as flores e os frutos. A Páscoa, a vida, a felicidade, Deus, o amanhã, impelem-nos a caminhar, a avançar. Ainda que seja um pequeno vislumbre de luz far-nos-á avançar com mais segurança, até que a luz inunde por completo o espaço em que caminhamos, até que a vida se imponha sobre a morte, a luz sobre as trevas, a alegria sobre a tristeza.
       Transfiguremo-nos com Cristo, para melhor sentirmos a Páscoa!

in Voz de Lamego, edição de 3 de março de 2015

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Domingo II da Quaresma - ano B - 1 de março de 2015

       1 – Fomos com Jesus ao deserto, para rezar, para nos encontrarmos connosco e com Deus, para criarmos maior disposição para acolher Deus e mais tempo para os outros. Os desertos da nossa vida põem-nos à prova. Na intimidade com Deus, vencida a tentação do desânimo, do egoísmo, da facilidade, a tentação de dispensarmos os outros e o próprio Deus, ficamos mais fortes, mais ágeis, mais humildes; esvaziamo-nos de nós para nos preenchermos com o Espírito Santo que conduziu Jesus ao deserto e ao longo de toda a sua vida.
       Hoje o convite é para subirmos com Jesus à montanha, como discípulos. Naquele tempo, Jesus levou Pedro, Tiago e João. Hoje toma-nos pela mão, a cada um de nós, para O seguirmos. São Marcos coloca-nos em movimento. É preciso SAIR da nossa comodidade, da cidade, da aldeia, dos nossos afazeres, e CAMINHAR, e não apenas em terreno plano, mas SUBIR à montanha. É-nos exigida valentia. Sermos mornos (nem quentes nem frios, nem vou lá nem faço míngua) não é suficiente para seguir Jesus. Com Ele, não há mínimos garantidos, há sempre caminho a fazer, poderemos sempre identificar-nos mais e mais com o Seu amor.
       Depois de ter anunciado aos seus discípulos a paixão cruenta, Jesus envolve-os nesta manifestação de luz, deslumbramento, antecipando e visualizando a ressurreição, vida nova. A transfiguração é uma AMOSTRA da RESSURREIÇÃO. Também para nós. No meio das dificuldades e dos desertos precisamos de luz que nos indique o caminho, que nos recoloque em dinâmica de esperança, precisamos que nos digam que a vida tem sentido, e que melhores dias estão para vir, apesar de tudo!
       2 – Jesus abre-lhes o coração, transfigura-Se diante deles, diante de nós. A conversar com Ele, a Lei e os Profetas, representados por Moisés e Elias. A eternidade torna-se mais visível. Resplandece a esperança. Está-se bem naquele lugar, naquele momento. Então Pedro, assumindo a liderança de entre os apóstolos, diz a Jesus: «Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés, outra para Elias».
       Estão como que fora de si, a sonhar acordados. Sentem-se bem, confortáveis, envolvidos, parece que o tempo parou, SUBIRAM com Jesus. Como no batismo, do Céu vem uma voz: «Este é o meu Filho muito amado: escutai-O». Há, porém, algumas diferenças significativas. No Batismo, a voz do Pai dirige-se a Jesus: És o meu filho muito amado (cf. Mc 1, 7-11). Agora dirige-se a Pedro, Tiago e João, e a cada um de nós, garantindo Jesus como Filho, mas agrafando-nos à Sua missão: escutai-O. Por aqui se vê a prioridade e a urgência da escuta. Antes de sermos missionários, evangelizadores, somos ouvintes, discípulos, aprendizes. Com o tempo, seremos discípulos missionários, quanto mais escutarmos mais testemunharemos Jesus.
       Eis que acordamos do sonho. Precisamos de DESCER com Jesus. Foi para isso que Ele veio. Desceu das alturas para viver como um de nós, connosco, no meio do mundo e da história, entranhado na nossa vida, ajudando-nos a olhar para o Pai. Ele é o Caminho que nos conduz a Deus, a Verdade e a Vida. N’Ele temos acesso ao Pai, quem O vê, vê o Pai (cf. Jo 14, 1-9).
       O relato da transfiguração é também uma parábola da vivência da nossa fé. Orientamos a vida, com as suas esperanças e as suas tristezas, para a celebração da Eucaristia, na qual nos encontramos com Jesus, morto e ressuscitado, ou na qual Ele nos encontra, pelo Seu Espírito Santo. Neste encontro poderemos transfigurar a nossa vida. Mas não acaba aí. A Eucaristia, se a vivemos com autenticidade, faz-nos DESCER ao encontro dos outros, sobretudo dos mais necessitados de pão e de atenção.
       3 – A ordem dada aos apóstolos, para que não dissessem nada a ninguém até à ressurreição dos mortos, levanta também o véu sobre o que lá vem. Estão para chegar tempos difíceis. Provação. Dúvida. Perseguição. E a morte do Filho do Homem. Mas não será o fim, pois Ele se levantará da morte para a vida. É tão surpreendente esta boa nova que os discípulos se interrogam sobre o que será a ressurreição dos mortos. São apanhados de surpresa. E nós também!

       4 – A vida de Jesus, a Sua morte e ressurreição, firma definitiva e plenamente a Aliança de Deus com a humanidade. Víamos no domingo passado que a Aliança de Deus confiada a Noé é unilateral, Deus promete a Sua bênção e proteção sobre a humanidade e não exige nenhuma contrapartida. Obviamente, como diria o Papa Bento XVI, até o amor oblativo de Deus aguarda uma resposta, mesmo que não parta dessa premissa, mas da vontade originante.
       Em Abrão antecipa-se a entrega do Filho de Deus. Abraão oferece a Deus o seu bem mais precioso, o seu amado Filho. Deus recusa o sacrifício de Abraão. Aceita o gesto, mas não a morte. A morte de alguém não aplaca a ira de Deus, porque em Deus prevalece o amor, a bondade e a misericórdia. «Porque obedeceste à minha voz, na tua descendência serão abençoadas todas as nações da terra». A oferenda de Abraão vale-lhe a bênção de Deus, extensível a toda a humanidade.
       Deus aceitará a vida de Jesus como oferenda, entregue voluntariamente para salvação da humanidade. Será também a morte de um inocente, mas desta feita não de um filho alheio mas do próprio filho. Não por interposta pessoa – é Abraão que oferece o filho – mas pelo próprio – Jesus responde com a Sua vida, pessoalmente.
       Com a morte e sobretudo com a ressurreição de Jesus, por Ele anunciada, sela-se a Aliança nova e definitiva. E «se Deus está por nós, quem estará contra nós? Deus, que não poupou o seu próprio Filho, mas O entregou à morte por todos nós, como não havia de nos dar, com Ele, todas as coisas? Quem acusará os eleitos de Deus, se Deus os justifica? E quem os condenará, se Cristo morreu e, mais ainda, ressuscitou, está à direita de Deus e intercede por nós?»

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (ano B): Gen 22, 1-18; Sl 115 (116); 2 Rom 8, 31b-34; Mc 9, 2-10.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Transfiguração do Senhor (Ano A)

Nota Histórica:
       A festa da Transfiguração, celebrada no Oriente desde o século V e no Ocidente a partir de 1457, faz-nos reviver um acontecimento importante da vida de Jesus, com reflexos na nossa vida.
       Situada antes do anúncio da Paixão e da Morte, a Transfiguração foi uma manifestação da vida divina, que está em Jesus. A luz do Tabor é, porém, uma antecipação do esplendor, que encherá a noite da Páscoa. Por isso, os Apóstolos, contemplando a glória divina na Pessoa de Jesus, ficaram preparados para os dolorosos acontecimentos, que iriam pôr à prova a sua fé. Vendo Jesus na Sua condição de servo, já não poderão esquecer a Sua condição divina.
       Anúncio da Páscoa, a Transfiguração encerra também uma promessa – a da nossa transfiguração. Jesus, com efeito, fez transparecer na Sua Humanidade a glória de que resplandecerá o seu Corpo Místico, a Igreja, na Sua vinda final.
       A nossa vida cristã é, pois, um processo de lenta transformação em Cristo. Iniciado no nosso Baptismo, completa-se na Eucaristia, «penhor da futura glória», que opera a nossa transformação, até atingirmos a imagem de Cristo glorioso.

      Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João seu irmão e levou-os, em particular, a um alto monte e transfigurou-Se diante deles: o seu rosto ficou resplandecente como o sol e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz. E apareceram Moisés e Elias a falar com Ele. Pedro disse a Jesus: «Senhor, como é bom estarmos aqui! Se quiseres, farei aqui três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias». Ainda ele falava, quando uma nuvem luminosa os cobriu com a sua sombra e da nuvem uma voz dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência. Escutai-O». Ao ouvirem estas palavras, os discípulos caíram de rosto por terra e assustaram-se muito. Então Jesus aproximou-se e, tocando-os, disse: «Levantai-vos e não temais». Erguendo os olhos, eles não viram mais ninguém, senão Jesus. Ao descerem do monte, Jesus deu-lhes esta ordem: «Não conteis a ninguém esta visão, até o Filho do homem ressuscitar dos mortos» (Ano A: Mt 17, 1-9). 

       A transfiguração é como um "rebuçado" dado por Jesus aos Apóstolos, para enfrentarem os momentos de dificuldade que se aproximam, quando o Mestre for perseguido, preso e levado à Cruz. Esta antecipação mostra a divindade de Jesus, para de novo assumir a nossa humanidade com toda a crueza que a limitação e a finitude podem envolver.
       Importa, em todas as situações, escutar a Sua voz. É a voz do Pai de entre as nuvens que ressoa por todo o universo.

sábado, 15 de março de 2014

Domingo II da Quaresma - ano A - 16 de março de 2014

       1 – «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência. Escutai-O». Do batismo à transfiguração. Do deserto para a montanha. Há oito dias, no primeiro domingo da Quaresma, tempo privilegiado para assumirmos a Páscoa de Jesus como caminho de reconciliação e de vida nova, o evangelho trazia-nos as TENTAÇÕES de Jesus, numa clara identificação connosco. Aquelas mostram a comunhão fraterna de Jesus com a humanidade. Mostram também como podemos segui-l'O, vencendo o egoísmo, e o apetite voraz do poder. Pouco antes, Jesus tinha sido batizado no rio Jordão, por João Batista. Logo que Jesus saiu da água, a voz do Pai: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus todo o meu agrado» (Mt 3, 16). E sobre Ele desceu o Espírito Santo.
       O deserto e a montanha. Lugares provisórios. O clima, num e noutro local, não é o mais favorável. Demasiado calor, ou excesso de vento e de frio. Poucas coisas. Lugares quase inóspitos. Onde se torna mais fácil encontrar a Deus, pois pouca coisa nos distrai d'Ele. Não há seguranças humanas. Onde a fé se prova, e a confiança, e se experimenta (ou não) a presença de Deus, como Aquele que não nos abandona em nenhuma circunstância, por mais desfavorável que seja.
       O deserto não é habitável. É um ponto de passagem. Também a tentação, e as provações, para nos tornarem mais fortes, ou nos prepararem para outras dificuldades de maior monta. Assim a Montanha, que nos permite ver mais longe, olhando ao redor, mas também e sobretudo ver o mundo que pulsa à nossa frente. Obrigamo-nos a descer para a cidade dos homens. A montanha desprende-nos das amarras presentes, relativizando as seguranças materiais, humanas, para que o nosso coração, a nossa vida se predisponha a encontrar seguranças mais definitivas, a encontrar-se com Deus.
       2 – Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e levou-os, em particular, a um alto monte e transfigurou-Se diante deles: o seu rosto ficou resplandecente como o sol e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz. E apareceram Moisés e Elias a falar com Ele. Pedro disse a Jesus: «Senhor, como é bom estarmos aqui! Se quiseres, farei aqui três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias». Ainda ele falava, quando uma nuvem luminosa os cobriu com a sua sombra e da nuvem uma voz dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência. Escutai-O». Ao ouvirem estas palavras, os discípulos caíram de rosto por terra e assustaram-se muito. Então Jesus aproximou-Se e, tocando-os, disse: «Levantai-vos e não temais». Erguendo os olhos, eles não viram mais ninguém, senão Jesus. Ao descerem do monte, Jesus deu-lhes esta ordem: «Não conteis a ninguém esta visão, até o Filho do homem ressuscitar dos mortos».
       A quaresma, e toda a vida do cristão, é uma subida à montanha, ao encontro do Senhor, para que da nuvem, uma e outra vez, ouçamos a voz de Deus, uma e outra vez acolhamos Jesus como Filho de Deus, procurando viver como irmãos; uma e outra vez e outra ainda, comprometendo-nos com o mundo, com as pessoas de carne e osso. Jesus mostra-nos o Céu, como promessa, como antecipação, mas propondo que a transfiguração se vá realizando no tempo atual. Ao olharmos o mundo não podemos ficar indiferentes, à distância, como se não fosse nada connosco. A fé não nos isola, pelo contrário, irmana-nos no peregrinar, com as suas oportunidades e com as suas dificuldades. Estamos no mesmo barco. Há uma LUZ maior. Depois de lhes/nos anunciar a morte, Jesus abre-lhes/nos o Céu.
       Aproximamo-nos da cozinha, de onde se desprende um aroma que faz crescer água na boca, já n os vemos a sentados e a provar tais delícias. Mas ainda não é hora, ainda temos coisas a fazer, lavar as mãos, colocar a mesa, esperar pelos que faltam. Para aliviar a nossa ânsia e o nosso apetite, a mãe lá nos dá a provar do seu manjar. Ainda não são horas da refeição, mas permite-nos "apressar" o que temos a fazer, enquanto acalma a nossa fome. Assim Jesus com a transfiguração. Desvela a LUZ que vem das alturas, como esperança, como desafio. Por ora é tempo de regressar à realidade para a transformar, para a preparar para o encontro com Deus.
       3 – A proximidade com Deus, o alimento que sacia a nossa busca e provoca nova procura, não nos paralisa no autocomprazimento, mas envia-nos. «Levantai-vos e não temais». Eu estou convosco. Não é tempo para ficar de braços cruzados à espera que nos caia o Céu em cima, como na conhecida estória do Astérix.
        Diz o Senhor a Abraão: «Deixa a tua terra, a tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que Eu te indicar. Farei de ti uma grande nação e te abençoarei; engrandecerei o teu nome e serás uma bênção. Abençoarei a quem te abençoar, amaldiçoarei a quem te amaldiçoar; por ti serão abençoadas todas as nações da terra». Abraão partiu, como o Senhor lhe tinha ordenado.
       E diz-nos também a nós: deixa o teu recanto e o teu comodismo, levanta-te, procura o olhar que precisa de ti; nas tuas mãos, no teu coração, no teu abraço, no teu sorriso, eu abençoarei os teus irmãos. Os apóstolos desceram com Jesus. Abraão deixou o lugar do seu conforto e fez como o Senhor lhe pedira. E nós que ouvimos a Palavra de Deus? Extasiamo-nos diante das Suas maravilhas? E depois, o que fazemos? Descemos da nossa concha para nos encontrarmos como irmãos?
        4 – O encontro com os outros, e tudo o que de bom façamos por eles, nem sempre nos trazem o conforto e a gratidão que merecemos. Quantas vezes iremos sentir que fizemos pouco, ou não conseguimos fazer o suficiente para acabar com a miséria à nossa volta. Outras vezes, sentimos que o nosso trabalho foi em vão, ninguém nos agradeceu e parece que deram pouca importância à nossa generosidade e ao nosso desgaste. Outras vezes ainda, somos incompreendidos não apenas pelos estranhos e indiferentes, mas por aqueles que nos são mais próximos e por quem gastámos tempo e energias.
       A descida do monte, a entrada na cidade dos homens, o compromisso com pessoas de carne e osso, podem, momentaneamente, ofuscar a LUZ que vem das alturas, provocando-nos dor, dúvida, hesitação, incerteza. No entanto, o convite de Jesus é inequívoco, o chamamento de Deus e o envio é clarividente: levantemo-nos, vamos, façamos novos discípulos.
       Para os cristãos, espalhar a Boa Nova não é uma opção, é um compromisso, é uma OBRIGAÇÃO (exemplificando: não é uma imposição exterior, mas a assunção interior da nossa identidade e da nossa pertença, membros do Corpo de Cristo, que é a Igreja), que decorre da sua condição de batizados.
       Diz-nos o Apóstolo: «sofre comigo pelo Evangelho, apoiado na força de Deus. Ele salvou-nos e chamou-nos à santidade, não em virtude das nossas obras, mas do seu próprio desígnio e da sua graça. Esta graça, que nos foi dada em Cristo Jesus, desde toda a eternidade, manifestou-se agora pelo aparecimento de Cristo Jesus, nosso Salvador, que destruiu a morte e fez brilhar a vida e a imortalidade, por meio do Evangelho»
       Quando as forças nos faltarem, o ânimo (a alma) nos abandonar, saibamos que Deus continua a confiar em nós e a contar connosco. Para lá das nuvens, por mais densas que sejam, o SOL continua a brilhar, pronto a irromper no mundo através de nós. Adiante...

Textos para a Eucaristia: Gen 12, 1-4a; Sl 32 (33); 2 Tim 1, 8b-10; Mt 17, 1-9.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Bento XVI - a partir da janela do Vaticano - Há um ano

Queridos irmãos e irmãs,
       Obrigado pelo vosso afeto!
       Hoje, segundo domingo da quaresma, temos um Evangelho particularmente belo, aquele da Transfiguração do Senhor. O evangelista Lucas coloca especial atenção para o fato de que Jesus se transfigurou enquanto rezava: a sua é uma experiência profunda de relacionamento com o Pai durante uma espécie de retiro espiritual que Jesus vive em um alto monte na companhia de Pedro, Tiago e João, os três discípulos sempre presentes nos momentos da manifestação divina do Mestre (Lc 5,10; 8,51; 9,28). O Senhor, que pouco antes tinha predito a sua morte e ressurreição (9, 22) oferece aos discípulos uma antecipação da sua glória. E também na Transfiguração, como no batismo, ressoa a voz do Pai celeste: "Este é o meu filho, o eleito; escutai-o!" (9, 35). A presença então de Moisés e Elias, que representam a Lei e os Profetas da antiga Aliança, é ainda mais significativa: toda a história da Aliança é orientada para Ele, o Cristo, que cumpre um novo "êxodo" (9, 31), não para a terra prometida como no tempo de Moisés, mas para o Céu. A intervenção de Pedro: "Mestre, é bom estarmos aqui" (9, 33) representa a tentativa impossível de parar esta experiência mística. Comenta Santo Agostinho: “[Pedro] ... sobre o monte ... tinha Cristo como alimento da alma. Por que ele iria descer para voltar aos trabalhos e dores, enquanto lá estava cheio de sentimentos de amor santo para Deus e que o inspiravam, portanto, a uma conduta santa? (Discurso 78,3: PL 38,491).
       Meditando sobre esta passagem do Evangelho, podemos aprender um ensinamento muito importante. Antes de tudo, o primado da oração, sem a qual todo o empenho do apostolado e da caridade se reduz ao ativismo. Na quaresma aprendemos a dar o tempo certo à oração, pessoal e comunitária, que dá fôlego à nossa vida espiritual. Além disso, a oração não é um isolar-se do mundo e das suas contradições, como no Tabor queria fazer Pedro, mas a oração reconduz ao caminho, à ação. "A existência cristã - escrevi na mensagem para esta quaresma - consiste em um contínuo subir ao monte do encontro com Deus, e depois voltar a descer trazendo o amor e a força que daí derivam, para servir os nossos irmãos e irmãs com o próprio amor de Deus" (n. 3).

       Queridos irmãos e irmãs, esta Palavra de Deus a sinto de modo particular dirigida a mim, neste momento da minha vida. Obrigado! O Senhor me chama a 'subir o monte', a dedicar-me ainda mais à oração e à meditação. Mas isto não significa abandonar a Igreja, ao contrário, se Deus me pede isto é para que eu possa continuar a servi-la com a mesma dedicação e o mesmo amor com o qual tenho buscado fazê-lo até agora, mas de modo mais adequado à minha idade e às minhas forças. Invoquemos a intercessão da Virgem Maria: ela nos ajude a todos a seguir sempre o Senhor Jesus, na oração e nas obras de caridade.

Vaticano, 24 de fevereiro de 2013
BENEDICTUS PP XVI

sábado, 23 de fevereiro de 2013

II Domingo da Quaresma - ano C - 24 de fevereiro

       1 – «Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O». 
       Neste segundo domingo de Quaresma, um importante desafio salta à vista: a ESCUTA. Esta pressupõe atender, respeitar, acolher, tentar perceber, o que o outro diz. No caso concreto, é a VOZ que vem dos Céus: Eis o Meu eleito. Escutai-O. A Ele por inteiro. Cada um de nós é muito mais do que aquilo que diz. As nossas palavras podem expressar uma parte do que somos, mas fica sempre algo por dizer e, por outro lado, dizemos o que somos também pelo que fazemos, pelas escolhas, pelas obras, pela postura que nos aproxima ou distancia dos outros.
       No primeiro Domingo de Quaresma, o evangelho apresentava-nos o quadro das tentações de Jesus, sublinhando-se, porém, a intimidade e identificação de Jesus à vontade de Deus. Ele é guiado pelo Espírito. Na hora do batismo, do Céu a mesma voz – É o meu filho muito amado em quem pus toda a minha ternura, escutai-O. No deserto, escutando a Palavra de Deus, sem a manipular, Jesus contrapõe a vontade de Deus a vozes estranhas e desviantes. Ele faz deserto para compreender os nossos desertos e as nossas lutas. Faz deserto para nos fazer saber que, no final, só precisamos de Deus. Sem Deus somos nada, pó volátil, condenado a desaparecer. Com Deus, mesmo tendo poucas coisas, temos TUDO, agora e na eternidade.
       Vale a pena introduzir aqui o apelo do nosso Bispo, D. António Couto, para esta Quaresma:
“Apelo, portanto, a todos os irmãos e irmãs que Deus me deu nesta querida Diocese de Lamego a que, nesta Quaresma, deixemos a enxurrada da Palavra de Deus tomar conta da nossa vida. No meio da enxurrada, perceberemos logo que não salvaremos muitas coisas, e que aquilo que mais queremos encontrar é uma mão segura que nos ajude a salvar a nossa vida”. 
       O essencial para Jesus não é o pão, o poder, a adulação, mas a certeza de Deus na sua Vida, no deserto ou na cidade, na míngua ou na fartura. Deus O salva. E a nós também.
       2 – Vejamos o quadro completo do evangelho e encontraremos mais ligações com o quadro do batismo e das tentações:
“Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago e subiu ao monte, para orar. Enquanto orava, alterou-se o aspeto do seu rosto e as suas vestes ficaram de uma brancura refulgente. Dois homens falavam com Ele: eram Moisés e Elias, que, tendo aparecido em glória, falavam da morte de Jesus, que ia consumar-se em Jerusalém. Pedro e os companheiros estavam a cair de sono; mas, despertando, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com Ele. Quando estes se iam afastando, Pedro disse a Jesus: «Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias». Não sabia o que estava a dizer. Enquanto assim falava, veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra; e eles ficaram cheios de medo, ao entrarem na nuvem. Da nuvem saiu uma voz, que dizia: «Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O». Quando a voz se fez ouvir, Jesus ficou sozinho. Os discípulos guardaram silêncio e, naqueles dias, a ninguém contaram nada do que tinham visto”. 
       Quando sobe à montanha tem o mesmo fito da ida para o deserto, para rezar. A montanha aproxima-nos do alto, de Deus. É um lugar mais isolado, de onde se pode contemplar a cidade, a povoação. Mais perto de Deus para ver melhor a humanidade. “A existência cristã – diz Bento XVI – consiste num contínuo subir ao monte do encontro com Deus e depois voltar a descer, trazendo o amor e a força que daí derivam, para servir os nossos irmãos e irmãs com o próprio amor de Deus”.
       3 – Os discípulos hão de seguir Jesus, para aprender com Ele os caminhos a trilhar. Por ora Jesus prepara-os para as horas difíceis que estão para chegar. Então não haverá tempo para refletir, para entender, tudo passará muito rápido sem o afastamento necessário para assimilar e ultrapassar. Se o coração não estiver suficientemente alimentado pela oração, pela palavra de Deus, poderá não resistir diante de tantas dificuldades.
       O Mestre não lhes esconderá as nuvens carregadas que estão para vir. No entanto, das nuvens mais opacas irromperá, uma vez mais e sempre, a LUZ de Deus. Ele fará ouvir a Sua voz, através de Jesus. Falou-nos por Moisés. Nessa ocasião não estávamos preparados para ouvir. A voz de Deus feriria os nossos ouvidos. Falou-nos pelos profetas. Agora rasga os Céus dando-nos o Seu amado Filho. Se O escutarmos seremos salvos.
       A transfiguração é um compromisso permanente dos cristãos, dos discípulos de Cristo. A luz que vem de Deus permite-nos branquear, lavar, embelezar a nossa vida, tornando-nos translúcidos. A luz incidirá em nós como num cubo de vidro, que se enche de LUZ e por sua vez ilumina tudo o que está à volta. De novo, subimos ao monte de Deus para descermos ao encontro dos irmãos. Jesus antecipa a ressurreição, mostrando que nenhuma opacidade periga a força da luz de Deus. O caminho quaresmal é de preparação, de conversão, de mudança positiva de vida. Contudo, caminhamos na Luz da Páscoa. Só a Ressurreição de Cristo nos converte verdadeiramente.
       4 – Estamos alerta. Deus prepara-nos para grandes coisas. Alia-Se connosco. Jesus retira os discípulos da cidade para que eles vejam mais longe. E vejam para lá de todas as intempéries. Deus procede desta forma, para que não andemos a vaguear sem rumo nem esperança.
       Na primeira leitura, vislumbra-se a pedagogia divina:
“Deus levou Abraão para fora de casa e disse-lhe: «Olha para o céu e conta as estrelas, se as puderes contar». E acrescentou: «Assim será a tua descendência». Abraão acreditou no Senhor, o que lhe foi atribuído como justiça... Nesse dia, o Senhor estabeleceu com Abraão uma aliança, dizendo: «Aos teus descendentes darei esta terra, desde o rio do Egipto até ao grande rio Eufrates».
       Deus toma a iniciativa. Vem ao nosso encontro. Visita-nos em nossa casa. Leva-nos para o exterior de nós, para o deserto, para a montanha, para a entrada da tenda, para que o nosso horizonte seja o céu estrelado. Primeiro, Deus dá-Se, por inteiro. O que nos exige, em resposta? Que vivamos na inundação da Sua luz, do Seu amor.
       5 – A experiência vai-nos dizendo que dobrarmo-nos sobre nós vai-nos limitando, vai-nos deixando curvados, sem horizonte, sem abertura, sem futuro, sem o céu que nos rodeia. Se nos fixamos no chão, no umbigo, se nos colocamos no centro, o nosso mundo começa a ficar demasiado pequeno. Poderemos ficar com tonturas, raquíticos. O corpo habitua-se a ficar curvado.
       A águia deixada no galinheiro, que desaprendeu (ou não chegou a aprender) o que lhe traria a felicidade, voar, ser livre, ir pelo mundo, sem fronteiras. Habituou-se a ser galinha. As galinhas não voam, mesmo tendo asas. A tendência é agarrarem-se ao chão, apoiarem-se em algo sólido. Procuram o alimento na terra. A águia voa, procura o alimento a partir de um campo de visão muito alargado. Quando a jovem águia (quase galinha) viu outra águia a voar, o seu coração pequenino começou a palpitar, mas logo as galinhas lhe disseram para nem tentar, não era para ela… E em nós, pevalece a águia ou galinha?
       Deus faz com que Moisés olhe para o Céu. Jesus leva os discípulos à montanha, para se sentirem mais próximos de Deus, mais motivados a regressar para o meio das pessoas, e para verem a partir do olhar luminoso de Deus.
       Na segunda leitura, São Paulo, depois de convidar à imitação daqueles que estão em sintonia com Jesus Cristo, diz de forma clarificadora:
“A nossa pátria está nos Céus, donde esperamos, como Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo miserável, para o tornar semelhante ao seu corpo glorioso, pelo poder que Ele tem de sujeitar a Si todo o universo. Portanto, meus amados e queridos irmãos, minha alegria e minha coroa, permanecei firmes no Senhor”.
        O caminho cristão é cíclico, melhor, em espiral. Como batizados avançamos em direção à Páscoa eterna, numa quaresma constante, preparamo-nos, renovamos a nossa vida. A nossa quaresma começa por nascer da Páscoa de Jesus. E de Páscoa em Páscoa, vamo-nos transformando, convertendo, caminhando, quaresmando.


Textos para a Eucaristia (ano C): Gen 15, 5-12.17-18; Filip 3, 17 – 4,1; Lc 9, 28b-36.

terça-feira, 29 de março de 2011

Editorial Voz Jovem - Março 2011

       1 – Estivemos na Montanha para escutarmos e reflectirmos com o Sermão da Montanha e nos deixarmos sensibilizar pela Mensagem de Jesus.
       A montanha é um lugar de encontro com Deus, de revelação, de ensino. Moisés sobe à montanha e recebe de Deus os Mandamentos; Jesus sobe à montanha e deixa-nos o essencial da Sua palavra de salvação. Na montanha o ar é mais fresco, mais límpido, apetece encher os pulmões desta frescura. Subamos para nos refrescarmos com a presença de Deus; deixemo-nos inundar da Sua luz, para descermos ao nosso mundo, com a energia, a sabedoria e a graça, para testemunharmos a salvação operada em nós pelo Senhor.
       2 – "Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e levou-os, em particular, a um alto monte e transfigurou-Se diante deles: o seu rosto ficou resplandecente como o sol e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz". A Quaresma guiar-nos-á à Páscoa jubilosa. Porquanto é tempo de oração e de caridade, de jejum e de penitência, é tempo de conversão! Estamos na expectativa! Antes da glorificação, atravessámos a dor, o escárnio, a traição, a dúvida, as hesitações. Chegará a hora da agonia e da morte. O próprio Jesus relembra constantemente os momentos difíceis que estão para chegar.
       Os sinais que Jesus dá não são bons para quem espera sucesso e vida facilitada com a Sua presença. Alguns discípulos não resistirão. Quanto maior a adversidade, maior a necessidade de inequívocos sinais de esperança e estes só os encontramos em Deus. Jesus sabe isso. Chama Pedro, Tiago e João e "abre o jogo", fazendo-os subir à montanha, e deixando vislumbrar na Sua luminosidade a Sua identidade divina: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência. Escutai-O».
       A revelação é acompanhada com um desafio: escutar Jesus. Escuta que leva à vivência.
       A experiência é tão envolvente que os discípulos querem permanecer na montanha: "Senhor, como é bom estarmos aqui! Se quiseres, farei aqui três tendas: uma para Ti, outra para Moisés a outra para Elias". Como é bom sentirmos a presença de Deus. Mas temos que "regressar" à terra. Constantemente. A salvação que Deus nos dá, compromete-nos com este mundo. Jesus é peremptório: "Levantai-vos e não temais". Caminhemos!

       3 – Com efeito, Deus não nos quer instalados no nosso canto. Jesus di-lo aos discípulos como Deus o revelara a Abrão: "Deixa a tua terra, a tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que Eu te indicar. Farei de ti uma grande nação e te abençoarei; engrandecerei o teu nome e serás uma bênção. Abençoarei a quem te abençoar, amaldiçoarei a quem te amaldiçoar; por ti serão abençoadas todas as nações da terra" (Gen 12, 1-9).
       Abrão deixa a Sua terra, a casa de seus pais, irá para uma terra estranha, mudará de nome (Abraão) e de vida. Ele é o arameu errante, peregrino. Torna-se para nós um paradigma. Era mais cómodo e mais tranquilo cruzar os braços e ficar sob o tecto do seu pai biológico. Perante o chamamento de Deus, põe-se em movimento, segue a Sua voz, para realizar a Sua vontade. Deus estará com ele. Deus está connosco na nossa peregrinação terrena, desafiando-nos a novos caminhos, sem medo!

       4 – A certeza da salvação é um motivo de sobra no nosso compromisso com a salvação do mundo inteiro. O conforto que esta esperança nos traz, alegra-nos como aos discípulos no alto da montanha, mas como a eles também a nós Jesus nos faz descer até ao nosso semelhante, para que todos O conheçam e tenham n'Ele a vida eterna.

Boletim Paroquial Voz Jovem, Março 2011.
(texto reformulado a partir da homilia do II Domingo da Quaresma)

domingo, 20 de março de 2011

Distanciar-se dos boatos do quotidiano...

Na Sua Mensagem para esta Quaresma 2011, Bento XVI diz o seguinte sobre este II Domingo de Quaresma:

       O Evangelho da Transfiguração do Senhor põe diante dos nossos olhos a glória de Cristo, que antecipa a ressurreição e que anuncia a divinização do homem. A comunidade cristã toma consciência de ser conduzida, como os apóstolos Pedro, Tiago e João, «em particular, a um alto monte» (Mt 17, 1), para acolher de novo em Cristo, como filhos no Filho, o dom da Graça de Deus: «Este é o Meu Filho muito amado: n’Ele pus todo o Meu enlevo. Escutai-O» (v. 5). É o convite a distanciar-se dos boatos da vida quotidiana para se imergir na presença de Deus: Ele quer transmitir-nos, todos os dias, uma Palavra que penetra nas profundezas do nosso espírito, onde discerne o bem e o mal (cf. Hb 4, 12) e reforça a vontade de seguir o Senhor.

Domingo II da Quaresma - 20 de Março

       1 – Voltemos à Montanha - ao monte Tabor - onde Jesus Se transfigura, mostrando-nos claramente a Sua identidade divina. Estivemos na Montanha, durante algumas semanas, para escutarmos e reflectirmos com o Sermão da Montanha e nos deixarmos sensibilizar pela Mensagem de Jesus. A montanha, como víamos então, é um lugar de encontro com Deus, de revelação, de ensino. Moisés sobe à montanha e de Deus recebe as tábuas da Lei; Jesus sobe à montanha e deixa-nos o essencial da Sua palavra de salvação. Hoje, de novo, subimos com Ele, para nos deixarmos envolver pela nuvem luminosa, pela presença amorosa de Deus, no convite à escuta.
       Na montanha o ar é mais fresco, mais límpido, apetece encher os pulmões desta frescura. Como os carros, precisamos de combustível para vivermos em qualidade. Subimos, para nos refrescarmos com a presença de Deus e recebermos o combustível para descermos ao nosso mundo, com a energia, a sabedoria e a graça, para testemunharmos a salvação operada em nós pelo Senhor.

       2 – "Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e levou-os, em particular, a um alto monte e transfigurou-Se diante deles: o seu rosto ficou resplandecente como o sol e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz". A caminho da Páscoa, o tempo quaresmal incide na necessidade da oração, da caridade, e do jejum. É uma época penitencial, estamos na expectativa! Antes da glorificação, atravessámos a dor, o escárnio, a traição, a dúvida, as hesitações. Chegará a hora da agonia e da morte. O próprio Jesus relembra constantemente os momentos difíceis que estão para chegar.
       Alguns discípulos não resistirão. Os sinais que Jesus dá não são bons para quem espera sucesso e vida facilitada com a Sua presença. Com efeito, mesmo quando sabemos que as coisas não são fáceis, precisamos de sinais de esperança e estes só os encontramos em Deus. Jesus sabe isso. Chama Pedro, Tiago e João e "abre o jogo", fazendo-os subir à montanha, e deixando vislumbrar a Sua luminosidade, a Sua identidade divina: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência. Escutai-O».
       A revelação é acompanhada com um desafio: escutar Jesus.
       A experiência é tal que os discípulos querem permanecer na montanha: "Senhor, como é bom estarmos aqui! Se quiseres, farei aqui três tendas: uma para Ti, outra para Moisés a outra para Elias". Como é bom sentirmos a presença de Deus. Mas temos que "regressar" à terra. A salvação que Deus nos dá, compromete-nos com este mundo. Jesus é peremptório: "Levantai-vos e não temais".

       3 – Deus não nos quer instalados no nosso comodismo. Jesus di-lo aos discípulos. Deus revela-o a Abrão (= Abraão): "Deixa a tua terra, a tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que Eu te indicar. Farei de ti uma grande nação e te abençoarei; engrandecerei o teu nome e serás uma bênção. Abençoarei a quem te abençoar, amaldiçoarei a quem te amaldiçoar; por ti serão abençoadas todas as nações da terra".
       Abrão deixará a Sua terra, a casa dos seus pais, irá para uma terra estranha, mudará de nome e mudará de vida. Ele é o arameu errante, peregrino. Torna-se para nós um paradigma. Sente o chamamento de Deus. Era mais cómodo e mais tranquilo cruzar os braços e ficar sob o tecto do seu pai biológico. Põe-se em movimento, segue a voz de Deus, para realizar a Sua vontade. Deus estará com ele. Deus está connosco na nossa peregrinação terrena, desafiando-nos a novos caminhos.

        4 – Vivemos em permanente tensão (escatológica). Fomos salvos na morte e ressurreição de Jesus Cristo. Vivemos em peregrinação. A salvação acontece em Jesus. Acontece para a história. Mas ainda não se manifestou totalmente aquilo que havemos de ser. Tensão nesta vida até à eternidade, tensão desde a Cruz, desde a Páscoa de Cristo até ao fim dos tempos.
       "Ele salvou-nos e chamou-nos à santidade, não em virtude das nossas obras, mas do seu próprio desígnio e da sua graça. Esta graça, que nos foi dada em Cristo Jesus, desde toda a eternidade manifestou-se agora pelo aparecimento de Cristo Jesus, nosso Salvador, que destruiu a morte e fez brilhar a vida e a imortalidade, por meio do Evangelho".
       A certeza da salvação é um motivo de sobra no nosso compromisso com a salvação do mundo inteiro. O conforto que esta esperança nos traz, alegra-nos como aos discípulos no alto da montanha, mas como a eles também a nós Jesus nos faz descer até ao nosso semelhante, para que todos O conheçam e tenham n'Ele a vida eterna.
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Textos para a Eucaristia (ano A): Gen 12,1-4; 2 Tim 1,8b-10; Mt 17,1-9.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Este é o Meu Filho muito amado: escutai-O

       "Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e subiu só com eles para um lugar retirado num alto monte e transfigurou-Se diante deles. As suas vestes tornaram-se resplandecentes, de tal brancura que nenhum lavandeiro sobre a terra as poderia assim branquear. Apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus. Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: «Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés, outra para Elias». Não sabia o que dizia, pois estavam atemorizados. Veio então uma nuvem que os cobriu com a sua sombra e da nuvem fez-se ouvir uma voz: «Este é o meu Filho muito amado: escutai-O». De repente, olhando em redor, não viram mais ninguém, a não ser Jesus, sozinho com eles" (Mc 9, 2-13).
       No Evangelho de ontem, escutávamos o anúncio da Paixão de Jesus, com a contestação de Pedro, e o aviso de Jesus à navegação: é preciso estar preparado, quem quiser seguir-Me renuncie a si mesmo, tome a sua cruz, dia a dia, e siga-Me. Os tempos que aí vêm não vão ser fáceis, é necessário fé, muita fé, para não desanimar, para não desistir.
       No Evangelho de hoje, vemos Jesus, com Pedro, Tiago e João, no alto do monte, transfigurano-Se diante deles, de novo como no Baptismo, o testemunho da VOZ do Pai: ´"Este é o Meu Filho muito amado: escutai-O". Se antes Jesus anuncia a morte, agora dá um sinal claro de que é verdadeiramente Filho de Deus. Conforta e sossega desta forma os discípulos mais próximos, sem no entanto esconder ou escamotear os tempos que se aproximam.
       Deixemo-nos interpalar também pelo desafio de Deus, nosso Pai: "escutai-O", pois só na escuta da Sua palavra, da Sua Mensagem podermos descobri o sentido para a nossa vida, poderemos descobrir a nossa vocação.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Renascer da Águia...

       A águia é uma das aves que tem uma vida mais duradoira, mas precisa de (quase) morrer, passando por um processo de sofrimento, para depois ressuscitar, ou melhor, renascer, ou melhor, renovar o que lhe permite viver por mais alguns anos. Em tempo de Páscoa, imitar a Águia, será significativo. Temos de ressuscitar constantemente com Jesus Cristo, renascer, converter-nos, transformar a nossa vida, renovar a nossa atitude, sem esmorecer, sem desistência, mesmo quando o medo e o medo de sofrer nos tirem do sério, ainda assim, deixar-se modelar pelo Espírito de Amor de Jesus Cristo, o Mestre dos Mestres.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Quaresma, tempo de salvação

       Iniciámos a 2.º Semana da Quaresma. Propomos a reflexão que se segue, escutando a música, lendo os textos propostos, meditando nas palavras deste II Domingo da Quaresma: