A terceira Carta Encíclica de Bento XVI empresta o título a este blogue. A Caridade na Verdade. Agora permanecem a fé, a esperança e a caridade, mas só esta entra na eternidade com Deus. Espaço pastoral de Tabuaço, Távora, Pinheiros e Carrazedo, de portas abertas para a Igreja e para o mundo...
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sexta-feira, 9 de agosto de 2024
sábado, 15 de dezembro de 2018
Elias já veio... em João Baptista
Jesus respondeu-lhes: «Certamente Elias há-de vir para restaurar todas as coisas. Eu vos digo, porém, que Elias já veio; mas, em vez de o reconhecerem, fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim também o Filho do homem será maltratado por eles». Então os discípulos compreenderam que Jesus lhes falava de João Baptista (Mt 17, 10-13).

Neste tempo do Advento a
figura de João Baptista é incontornável. Ele é o Precursor. Vem antes
para anunciar a vinda do Messias, para preparar a Sua chegada. Vem para
contrariar o que veio em parte a acontecer com a chegada do Messias, que
muitos não percebam que estão diante o Ungido do Senhor.
Há sempre tanta gente à espera e a olhar para o Céu, aguardando um
sinal inequívoco para agir, para avançar, para seguir em frente. Quantas
vezes não era mais fácil Deus impor-se claramente e com força?! Mas Ele
é brisa suave, está em nós como o ar que respiramos, por vezes nem
sentimos a Sua presença. Muitas pessoas, no tempo de Jesus, continuaram à
espera de Elias... a olhar para o Céu, e afinal Ele estava no meio
deles.
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017
VL – Deus não mora à superfície…
O Profeta de Elias, depois de matar os profetas idólatras, é avisado pelo Rei Acaz que o mesmo lhe sucederá. Elias sai da cidade e caminha pelo deserto. Já esgotado, pede ao Senhor que lhe tire a vida. O anjo do Senhor aparece-lhe por duas vezes e ordena-lhe: «Levanta-te e come, pois tens ainda um longo caminho a percorrer». Elias faz como o Senhor lhe ordena e dirige-se para o monte Horeb. Aí passa a noite. O Senhor faz saber a Elias que vai passar… «Passou um vento impetuoso e violento, que fendia as montanhas e quebrava os rochedos diante do Senhor; mas o Senhor não se encontrava no vento. Depois do vento, tremeu a terra. Passou o tremor de terra e ateou-se um fogo; mas nem no fogo se encontrava o Senhor. Depois do fogo, ouviu-se o murmúrio de uma brisa suave. Ao ouvi-lo, Elias cobriu o rosto com um manto, saiu e pôs-se à entrada da caverna» (1 Reis 19, 1- 14).
Deus nem sempre é evidente. Em questões de fé nem tudo é branco e preto. Um crente passa por momentos de treva, de dúvida e hesitação. Um “ateu” pode estar perto de Deus, em busca, a percorrer um caminho de aproximação.
É, em meu entender, uma das linhas condutoras do texto de Tomáš Halík, Paciência com Deus, procurando fazer pontes, prevenir juízos precipitados, para não encerrar o próprio Deus em ideias preconcebidas e limitando a Sua ação.
Deus poderá não ser tão evidente como por vezes se faz crer. Por um lado, em Jesus Cristo, Deus manifesta-Se em plenitude, revela o Seu rosto. Mas não Se deixa aprisionar por uma pessoa ou por uma instituição ou por uma religião. Quem se convence que possui Deus está perto de blasfemar, pois Deus é e continuará a ser Mistério.
Por outro lado, segundo o teólogo checo, o caminho da fé não é linear. A busca honesta e decidida tem avanços e recuos. Deus nem sempre está onde O queremos, pode estar onde não pensamos. Elias é surpreendido. Deus não está na tempestade mas na brisa suave, onde quase não Se percebe.
Santa Teresinha, no momento de especial sofrimento vive a “noite da fé”, contudo, não diminui o amor que permanece até à eternidade. Em Nietzsche, na proclamação da morte de Deus, segundo o autor, também se intui o silêncio dos crentes que deixaram que Deus fosse morto sem protestarem, sem reivindicarem a Sua vida e a Sua presença… Mais perigoso que um ateu convicto é um crente apático!
publicado na Voz de Lamego, n.º 4398, de 7 de fevereiro de 2017
sábado, 7 de novembro de 2015
XXXII Domingo do Tempo Comum - ano B - 8.11.2015
1 – Quando o pouco é tudo e quando o muito é insignificante!
A vida não é quantificável pela quantidade, mas qualificável pela qualidade, pela intensidade, pelos momentos que fazem a história de uma pessoa, de uma família, de uma comunidade. Há vidas cronologicamente longas que se resumem a muito pouco, sem marcas relevantes na história; há vidas cronologicamente curtas em que são precisas muitas páginas e muitas vidas para absorver tudo o que foi vivido e cuja herança humana perdura para lá do tempo presente.
Do mesmo jeito a generosidade. Não é comensurável em cálculos matemáticos, mas visualizável no envolvimento da pessoa naquilo que dá: está totalmente comprometida com o que dá e a quem dá? Ou é apenas um descargo de consciência? Ou um gesto mecânico de tradição?
Jesus – segundo São Marcos – colocou-se em frente da arca do tesouro e observa que muito ricos deitam com ostentação avultadas quantias. Aproxima-se uma viúva (pobre) e deita duas pequenas moedas. Antes Jesus alertava-nos: «Acautelai-vos dos escribas, que gostam de exibir longas vestes, de receber cumprimentos nas praças, de ocupar os primeiros assentos nas sinagogas e os primeiros lugares nos banquetes. Devoram as casas das viúvas, com pretexto de fazerem longas rezas».
Aqueles que tinham a obrigação moral de zelar por todos e sobretudo pelos mais pobres, entre os quais se contavam viúvas e os órfãos, ocupam os lugares para se servirem e usarem de diversas artimanhas para explorar as pessoas mais simples.
Atento ao gesto daquela viúva pobre, Jesus diz aos seus discípulos: «Em verdade vos digo: Esta pobre viúva deitou na caixa mais do que todos os outros. Eles deitaram do que lhes sobrava, mas ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver».
O próprio Jesus explica por que é que aquela mulher dando tão pouco deu tanto, deu muito mais que outros. Dizia a Madre Teresa de Calcutá, que "o amor, para ser verdadeiro, tem de doer. Não basta dar o supérfluo a quem necessita, é preciso dar até que isso nos machuque... o importante não é o que se dá, mas o amor com que se dá”. De forma semelhante relembrava o Papa Francisco: "Não esqueçamos que a verdadeira pobreza dói: não seria válido um despojamento sem esta dimensão penitencial. Desconfio da esmola que não custa nem dói" (Mensagem para a Quaresma, 2014).
2 – Elias, um dos profetas mais ilustres do povo eleito, experimenta a generosidade e a grande fé de um pobre viúva, que na míngua de bens, se prepara, juntamente com o filho, para se entregar à morte.
Seguindo a Palavra de Deus, Elias afasta-se de Israel, povo ao qual pertence e que se encontra sujeito a um tempo de provação e purificação por se ter afastado de Deus. Elias refugia-se em Sarepta, cidade da Fenícia, onde será acolhido por uma viúva, que sobrevive à custa das esmolas, cada vez mais escassas em tempo de fome, pelo que lhe soa estranho o pedido de Elias: «Por favor, traz-me uma bilha de água para eu beber... Por favor, traz-me também um pedaço de pão».
Começa a desenhar-se um tempo novo em que a confiança em Deus prevalece além das dificuldades atuais. Responde-lhe a mulher: «Tão certo como estar vivo o Senhor, teu Deus, eu não tenho pão cozido, mas somente um punhado de farinha na panela e um pouco de azeite na almotolia. Vim apanhar dois cavacos de lenha, a fim de preparar esse resto para mim e meu filho. Depois comeremos e esperaremos a morte».
Certo da promessa de Deus, Elias replica: «Não temas; volta e faz como disseste. Mas primeiro coze um pãozinho e traz-mo aqui. Depois prepararás o resto para ti e teu filho. Porque assim fala o Senhor, Deus de Israel: ‘Não se esgotará a panela da farinha, nem se esvaziará a almotolia do azeite, até ao dia em que o Senhor mandar chuva sobre a face da terra’».
Genericamente sabemos que contamos sobretudo com a generosidade daqueles e daquelas que passaram ou passam privações, pois sabem melhor o que custa a vida. Refira-se, obviamente, que a pobreza (espiritual) autêntica é, antes de mais, a abertura a Deus e a disponibilidade para cuidar do outro, usando a vida, os dons e os bens, como instrumento beneficente de todos.
3 – A Deus não escapa o mais pequeno gesto de amor. Nem um copo de água dado em Seu nome ficará sem recompensa (cf. Mt 10, 42).
Aquela viúva fez conforme Elias lhe pediu. Sentaram-se juntos para comer a mãe e o filho e o profeta. O profeta comprova a promessa de Deus através daquela família que o acolhe, o guarda, protege e o alimenta. E por sua vez, a viúva de Sarepta, com o seu filho, pode comprovar a fidelidade de Deus que não lhe faltará em tempos de carestia. Desde que Elias chegou que não se esgotou nem a farinha nem o azeite.
Deus não falta àqueles que n'Ele põem a sua confiança.
A vida, porém, coloca-nos diante de tantas encruzilhadas que em alguns momentos não percebemos de que forma Deus nos manifesta o Seu amor. Na dúvida, prossigamos com o nosso compromisso com os outros. Reconhecendo a nossa pobreza (espiritual), abramo-nos à graça de Deus, deixemos que através de nós Deus chegue a todos e especialmente aos mais frágeis.
O Salmo com que respondemos à Palavra de Deus fala-nos da atenção que merecem os mais desfavorecidos. O proceder de Deus há de conduzir-nos a agir do mesmo jeito, com o mesmo amor, a mesma delicadeza, a mesma misericórdia. «O Senhor faz justiça aos oprimidos, dá pão aos que têm fome e a liberdade aos cativos. O Senhor ilumina os olhos do cego, levanta os abatidos, ama os justos. O Senhor protege os peregrinos, ampara o órfão e a viúva e entrava o caminho aos pecadores».
"Eu bem vi a opressão do meu povo... e ouvi o seu clamor... conheço os seus sofrimentos" (Ex 3, 7). "Quando um pobre invoca o Senhor, Ele atende-o e liberta-o das suas angústias" (Sl 34, 7). Deus desce ao Egipto para libertar o povo da opressão e fá-lo por intermédio de Moisés. Deus age na história atual e faz-Se presente aos mais pobres contando connosco: o que fizerdes ao mais pequeno dos meus irmão a Mim o fareis (cf. Mt 25, 40).
4 – Jesus Cristo, sendo rico, fez-Se pobre para nos enriquecer com a Sua pobreza (cf. 2 Cor 8,9). Aquela viúva, que na sua penúria, deu tudo quanto tinha, para que o Templo continuasse a ser lugar de encontro com Deus. A viuvez feminina era habitualmente acompanhada com a pobreza, a não ser que tivesse filhos homens, um segundo casamento, ou a família fosse generosa e a acolhesse. Uma e outra viúva confiam em Deus. Pobres, dão o que têm. A viúva depende das esmolas e ainda assim dá do que recebe. E quem dá do que lhe dão é amigo de coração.
Ora Deus dá-nos o melhor que tem para nos dar, o Seu próprio filho.
Em Cristo, Deus faz-Se um de nós e oferece-Se por nós. Vem do Céu, vem de Deus, «Cristo não entrou num santuário feito por mãos humanas, figura do verdadeiro, mas no próprio Céu, para Se apresentar agora na presença de Deus em nosso favor».
Como Sumo-sacerdote, Jesus oferece-Se de uma vez para sempre. Chegada a plenitude dos tempos, destrói o pecado, sacrificando-Se a Si mesmo. Não oferece sacrifícios, oferece-Se, tomando sobre Si os pecados da multidão para a todos nos salvar. Esta é a fonte de toda a caridade e de todo o bem. Como seus seguidores, iluminados pela viúva de Sarepta e pela viúva do Evangelho, a certeza que não basta darmos, será sempre inevitável darmo-nos, entregarmo-nos, colocarmos o melhor de nós mesmos na atenção e no cuidado aos outros.
Pe. Manuel Gonçalves
Textos para a Eucaristia (B): 1 Reis 17, 10-16; Sl 145 (146); Hebr 9, 24-28; Mc 12, 38-44.
sábado, 29 de junho de 2013
XIII Domingo do Tempo Comum - ano C - 30 de junho
1 – O “Senhor, porção da minha herança e do meu cálice”, é o meu chão sagrado, a minha casa, meu conforto e meu descanso. No Senhor está o meu destino, Ele é meu norte, meu porto de abrigo. Só Ele é Deus e só Ele merece por inteiro a minha vida, Ele preenche o meu coração e a minha sede, a minha busca de sentido. Só n'Ele deposito toda a confiança, pois só o Senhor garante o meu ontem – a memória do que fui e sou e do povo a que pertenço –, o meu hoje e o meu amanhã. Só n'Ele se preserva a nossa identidade, atraindo-nos até à eternidade.
“O Senhor está sempre na minha presença, com Ele a meu lado não vacilarei”. Ele guia o meu peregrinar. Ele me guarda em todos os meus passos. Não vacilarei. Ainda que tremam as minhas pernas, Ele me dará a mão para que não tropece, para que não caia no abismo.
Com o salmo respondemos à palavra de Deus, na condição de crentes e de membros do Seu povo caminhante. Rezamos a nossa vocação e a nossa entrega. Só Deus nos guia do início até ao fim. Ele é o Alfa e o Ómega, o Princípio e o Fim da minha, da tua, da nossa existência. Ele chama-nos desde sempre. Criou-nos por amor e desafia-nos a vivermos na harmonia de filhos, de irmãos. Por isso nos dará Jesus, o Seu filho bem-amado, para que n'Ele encontremos a Luz e a verdade.
Nas Suas mãos, o meu destino. É nesta confiança que a tribo de Levi se entrega de corpo e alma ao cuidado do templo, à oração, ao culto. Entrados na terra prometida, 11 das 12 tribos recebem o seu quinhão de terra, para cultivar, para ganhar o pão de cada dia, para plantar, para criar animais. A tribo de Levi não recebe terra, a sua terra é o Templo e as oferendas que aí chegarem. Deus e só Deus é a Sua herança, o seu alimento, o seu chão, o seu presente e o seu amanhã.
2 – “Senhor, porção da minha herança e do meu cálice”, força e sustento na minha vida. O Senhor me chama e me envia. Para Ele não há recantos obscuros. Não precisamos de reservas mentais, ou de viver no condicional. Ele me guarda de dia e de noite, enquanto caminho e quando descanso. Ele está sempre comigo. “Por isso o meu coração se alegra e a minha alma exulta e até o meu corpo descansa tranquilo”. Ele conhece as profundezas da minha alma. Quer-me por inteiro, também os meus medos, as minhas insuficiências e os meus pecados.
“Até de noite me inspira interiormente”. Posso caminhar seguro. As seguranças materiais são relativas bem como as seguranças familiares, afetivas, na medida que são a prazo, por mais duradouras que sejam. “Vós não abandonareis a minha alma na mansão dos mortos, nem deixareis o vosso fiel sofrer a corrupção”. Os bens materiais por vezes são mais uma fonte de angústia do que de bênção. Precisamos deles, mas deverão ser uma ajuda à nossa felicidade e para nos aproximarmos uns dos outros. Num sentido semelhante, nenhuma pessoa pode substituir Deus na nossa vida, por mais perfeita que seja, em qualquer altura poderá manifestar a sua humanidade, a sua fragilidade. Entre nós, alguém morrerá primeiro e os outros seguirão… depois! Não vivemos em simultâneo!
A certeza desta falibilidade não deve gerar angústia ou desânimo. O Senhor é a minha herança. Ele assegura a minha história, dar-lhe-á continuidade. Ele me dá a conhecer os caminhos da vida, para que não me perca. Há luz se sigo o Seu olhar. Não estou só, mesmo que todos os meus amigos me abandonem. Ele está comigo, a meu lado, não vacilarei.
3 – “Senhor, porção da minha herança e do meu cálice”. É a terra que me coube como promessa e como herança, não sairei defraudado. Ele me chama à Sua presença, para que não vacile o meu olhar. Deixarei tudo o que me impede de caminhar, o que me pesa, o que me estorva na proximidade com Ele e no compromisso com os outros. Ele me chama do meio do Seu povo, para de novo me enviar ao Seu povo a fim de testemunhar o Seu amor.
É a vocação de cada um, de cada crente, dos membros do povo de Deus, ainda que haja vocações específicas de serviço à comunidade. Patriarcas, Profetas e Reis, Juízes e sacerdotes. Na primeira leitura Deus abraça Eliseu (Deus é salvação), através de Elias (o Senhor é Deus), para que possa dar continuidade à profecia. Não importa tanto o ponto de partida, mas a resposta firme. Eliseu não é profeta nem descendente de profetas. É proprietário, trabalha nos campos da sua família.
“Elias passou junto dele e lançou sobre ele a sua capa. Então Eliseu abandonou os bois, correu atrás de Elias e disse-lhe: «Deixa-me ir abraçar meu pai e minha mãe; depois irei contigo». Elias respondeu: «Vai e volta, porque eu já fiz o que devia». Eliseu afastou-se, tomou uma junta de bois e matou-a; com a madeira do arado assou a carne, que deu a comer à sua gente. Depois levantou-se e seguiu Elias, ficando ao seu serviço”.
A vocação e o seguimento geram alegria e festa. Quem se sente próximo de Deus não quererá esconder para si tamanha alegria. Eliseu por um momento volta para agradecer aos pais, à família, à sua gente. A delicadeza para com a sua gente também faz parte da vocação.
4 – “Senhor, porção da minha herança e do meu cálice, está nas vossas mãos o meu destino”. És Tu Senhor a minha luz, o meu porto seguro. Quero seguir-Te em todos os momentos da minha vida. Em todas as tardes e manhãs, de dia e de noite. Tu és o meu Deus. Se me dás a mão não temerei nenhum mal. Nem as forças mais maléficas poderão alguma coisa quando Tu estás comigo.
Tu me chamas. Desde sempre. Para estar Contigo e para ser por Ti enviado. Não quero ser discípulo a prazo, com a validade limitada, mas discípulo de corpo e alma, a toda a hora.
Seguir Jesus implica-nos totalmente, não é para quando convém. A vocação e, consequentemente, o seguimento exigem despojamento, entrega, confiança em Deus, desprendimento do que se deixa. De novo para cada um dos batizados, ainda que mais específico para as vocações sacerdotais e religiosas.
Também a nós nos diz Jesus: «Quem tiver lançado as mãos ao arado e olhar para trás não serve para o reino de Deus». Para seguir Jesus não podemos ficar toda a vida a olhar para trás, a fazer cálculos, agarrados ao passado, tentando equilibrar o seguimento com as nossas seguranças materiais e/ou afetivas, Ele é a nossa herança, a nossa força, a garantia de eternidade.
O próprio Jesus experimenta a dureza do caminho. Nem sempre é fácil. Há entraves e desilusões, avanços e contratempos. Ele toma-nos a dianteira. “Aproximando-se os dias de Jesus ser levado deste mundo, Ele tomou a decisão de Se dirigir a Jerusalém”. O Mestre entrevê o Seu fim, mas não Se deixa intimidar. Apresenta-Se como testemunha. A Sua entrega é uma opção, uma escolha. Não sacrifica ninguém. É uma proposta. Alguns não O querem receber, mas nem por isso Ele lhes quer mal. Veja-se como Tiago e João queriam destruir aqueles que não querem o que Jesus quer, o que Deus quer. Não. Há que dar tempo. Haverá sempre tempo, enquanto vivemos, para o arrependimento, para a conversão de vida, para o seguimento de Jesus. O Espírito sopra onde quer!
Deixai por ora os outros. E vós, quem dizeis que Eu sou? Vinde. Sem medo. Não fiqueis a lamentar-vos com os que ficam para trás, com os que não avançam e nem querem que os outros avancem. É HORA de seguir Jesus. “Candeia que vai à frente alumia duas vezes”. Seguimos atrás d’Ele, seguindo os seus passos, podendo, dessa forma, comunicar a Sua luz, para os que ficam…
5 – “Senhor, porção da minha herança e do meu cálice”. Se Deus é o meu chão sagrado, a minha casa, o meu forte, então como não experimentar a alegria e a paz?! Como não espalhar o Evangelho por toda a parte e a todos levar a bondade de Deus? Se Ele me sustenta, em todas as vielas e avenidas, não há que temer. Ele precede-nos, vai adiante. O meu tesouro é Ele. N’Ele está o meu coração. E no meu bate forte o Seu coração, o Seu amor.
Permaneçamos firmes na fé. Na visão paulina, permaneçamos em Cristo para que Ele viva em nós e através de nós. Ele libertou-nos do pecado e da escuridão. É urgente viver como ressuscitados, como filhos da luz, orientando a nossa ação pelo Espírito em que fomos batizados. Que a liberdade, em Cristo, nos conduza à caridade, “pela caridade, colocai-vos ao serviço uns dos outros, porque toda a Lei se resume nesta palavra: «Amarás o teu próximo como a ti mesmo». Se vós, porém, vos mordeis e devorais mutuamente, tende cuidado, que acabareis por destruir-vos uns aos outros. Por isso vos digo: Deixai-vos conduzir pelo Espírito…”
A vocação do cristão é, antes de mais, à santidade, a sermos perfeitos como o Pai celeste é perfeito, a ultrapassarmos a nossas limitações, a levantar-nos das nossas quedas, a darmos as mãos, a procurarmos a harmonia, a vivermos como irmãos, a fazermos família, a perdoarmos as ofensas e os desvios, a acolhermos a misericórdia de Deus, a deixarmo-nos guiar por Ele, pelo Seu Espírito.
Ele é “a porção da minha herança e do meu cálice”, nas Suas mãos está o meu destino, Ele me conduz aos prados verdejantes, é o meu alimento, a terra que trabalho com esmero e carinho e que me devolve o pão de cada dia.
Textos para a Eucaristia: 1 Reis 19,16b.19-21; Sl 15 (16); Gal 5,1.13-18; Lc 9,51-62
Reflexão dominical na página da Paróquia de Tabuaço.
sábado, 24 de novembro de 2012
Solenidade de Cristo Rei - ano B - 25 de novembro
XXXIV Domingo do Tempo Comum - ano B
1 – Última etapa da peregrinação de Jesus. O Seu CAMINHO leva-O à Cruz e logo à Ressurreição. Chegou a Jerusalém, acompanhado com os seus discípulos e muitas pessoas que O seguiram desde a Galileia. Pessoas que O seguem de todo o coração. Pessoas que vão no grupo, fazendo o que outros fazem. Pessoas que, por curiosidade, O acompanham para ver o que acontecerá pela festa da Páscoa e para ver a atitude das autoridades do templo e da religião para com Ele.Entretanto, o Evangelho que nos é proposto, encerrando o ano litúrgico com a Solenidade de Cristo Rei, reconhecendo a soberania de Deus sobre a história, o mundo, o tempo, coroa a postura de Jesus Cristo, como temos visto nos domingos precedentes: Ele vem para servir, para dar a vida por todos, para enfrentar, por amor, o mundo inteiro, levando até à última gota a oferenda por nós.
A realeza expectável por parte dos discípulos, e de muitos dos ouvintes de Jesus, seria imposta pelo poder revolucionário, com um forte exército, ajudado com o poder de Deus, com a violência levada aos extremos, se necessário, substituindo os que se encontram no poder pelos seguidores mais fiéis, os Apóstolos, que temos visto a discutir a ver qual será o mais favorecido.
A pergunta do poder instituído – «Tu és o Rei dos Judeus?» –, assume o que se diz no meio do povo, e o que se esperava: que o Messias-Rei libertasse o povo do jugo romano.
Jesus, de forma inequívoca esclarece as dúvidas: «O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que Eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui».
O diálogo prossegue e Jesus clarifica a Sua missão: «Sou Rei. Para isso nasci e vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz».
2 – O discípulo de Jesus não tem outra escolha que não seja AMAR e SERVIR: amar servindo, servir amando. Incluem-se todos os outros valores do evangelho: amizade, ternura, partilha, comunhão, vida nova, verdade, paz, liberdade, justiça, felicidade. Amar e servir, dois verbos, duas palavras, uma escolha de vida, seguimento do Mestre. É o serviço e o amor que nos torna discípulos de Jesus. Como diria santo Agostinho, “quem não vive para servir, não serve para viver”.
Com efeito, Ele é glorificado pela entrega, pelo amor levado às últimas consequências, elevado até à eternidade de Deus.
“Jesus Cristo é a Testemunha fiel, o Primogénito dos mortos, o Príncipe dos reis da terra. Àquele que nos ama e pelo seu sangue nos libertou do pecado e fez de nós um reino de sacerdotes para Deus seu Pai, a Ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Ámen. Ei-l’O que vem entre as nuvens, e todos os olhos O verão, mesmo aqueles que O trespassaram; e por sua causa hão de lamentar-se todas as tribos da terra. Sim. Ámen. «Eu sou o Alfa e o Ómega», diz o Senhor Deus, «Aquele que é, que era e que há de vir, o Senhor do Universo».É o Senhor do Universo pela Omnipotência e sobretudo pelo AMOR a favor da humanidade. É o amor que gera a vida. Somos o transbordar do amor de Deus. Ele não nos larga, não nos deixa ao abandono, entregues ao pecado, à nossa fragilidade e finitude. Criou-nos livres, mas não cessa de vir até nós, como Pai/Mãe desafiando-nos a uma vida abundante e feliz.
3 – Vivemos tempos conturbados. Não basta o que vemos à nossa volta, em nossa casa, ou em nós, ainda somos bombardeados com doses industriais de informações pejadas de violência e sofrimento extremo, que atravessa todas as idades, todas as cidades, com todo o tipo de problemas, de crimes, de abusos, de miséria, de conflito, nas famílias, em grupos rivais, em países inteiros, destruídos por décadas de conflito armado, guerras que não terminam mais.
De tanta desgraça vermos, às tantas tornamo-nos insensíveis ao sofrimento alheio. Ou ficamos doentes, depressivos, desanimando, querendo que venha alguém para resolver. Olhando para a história, não é nada de novo. Sempre houve momentos de grande convulsão. Nessas ocasiões, surgiram profetas, pessoas com a capacidade de mobilizar e rasgar os céus à esperança.
Na primeira leitura, Daniel, numa toada profética, apocalíptica, desperta todo o povo para a certeza de que Deus nunca abandona aqueles que criou por amor:
“Contemplava eu as visões da noite, quando, sobre as nuvens do céu, veio alguém semelhante a um filho do homem. Dirigiu-Se para o Ancião venerável e conduziram-no à sua presença. Foi-lhe entregue o poder, a honra e a realeza, e todos os povos, nações e línguas O serviram. O seu poder é eterno, não passará jamais, e o seu reino não será destruído”.A realeza de Deus é a garantia do nosso futuro e da nossa vida. Ele não nos larga à nossa sorte. Ele virá. Ele vem em nosso auxílio. Desengane-se, uma vez mais, quem pensar que a fé e a esperança em Deus nos desmobilizam. Pelo contrário, fique bem claro, somos responsáveis uns pelos outros, desde sempre, e pelo mundo, como casa comum. Olhar a história a partir da realeza de Deus, a partir do FIM, compromete-nos com o entretanto, com a VIDA a construir, com o mundo a edificar, para vivermos como irmãos, sentindo-nos em casa, sendo a casa uns dos outros.
Importa apressar o futuro, não cronologicamente, mas em qualidade de vida. Para quem está bem consigo, com os outros, com o mundo e com Deus, o tempo passa a correr. Façamos com que o tempo tenha a pressa da caridade e do perdão, nos aproxime de Deus e dos outros. Não deixemos para amanhã ou para outros a transformação do mundo que habitamos.
Textos para
a Eucaristia (ano B): Dan 7, 13-14; Ap 1, 5-8; Jo 18, 33b-37.
Reflexão Dominical na página da Paróquia de Tabuaço
sábado, 17 de novembro de 2012
XXXIII Domingo do Tempo Comum - ano B - 18 de novembro
1 – Disse Jesus aos seus discípulos: «Naqueles dias, depois de uma grande aflição, o sol escurecerá e a lua não dará a sua claridade; as estrelas cairão do céu e as forças que há nos céus serão abaladas. Então, hão de ver o Filho do homem vir sobre as nuvens, com grande poder e glória... quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o Filho do homem está perto, está mesmo à porta. Em verdade vos digo: Não passará esta geração sem que tudo isto aconteça. Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão. Quanto a esse dia e a essa hora, ninguém os conhece: nem os Anjos do Céu, nem o Filho; só o Pai».
Jesus já Se encontra em Jerusalém, com os seus discípulos, anuncia-se breve o desenlace da Sua vida. Porquanto Ele acentua os aspetos mais importantes para viver o reino de Deus, anunciando e vivendo do mesmo jeito, a acolher, a amar, a perdoar, a curar, a dar a vida.
Nas últimas semanas pudemos ver como Jesus vai instruindo os Seus discípulos. A estes falta a vivência da Paixão, da entrega total que o Mestre faz. Por uns instantes mais os discípulos mostram-se apreensivos, à espera do que vai acontecer, mas quase sempre na expectativa que a vida doravante lhes será bem mais favorável.
Desde a confissão de Pedro, palavras reconhecidas por Jesus como inspiração de Deus Pai, que tudo parece estar a funcionar mal. Pedro repreende Jesus quando Ele anuncia o sofrimento, a paixão. Ora, os discípulos discutem quem será o maior entre eles. Tiago e João pedem os lugares principais, logo os outros contestam por desejarem o mesmo. Repreendem quem anuncia e faz milagres em nome de Jesus e que não integra o grupo, sentindo que dessa forma o seu poder seria divido por mais um.
Jesus mostra com evidência que o caminho é do serviço. Quem quiser ser o primeiro seja o último. Quem quiser ser o maior, seja o servo de todos, como Ele que não veio para ser servido mas para servir e dar a vida pela humanidade. Apresenta as crianças, colocando-as no centro, pois só com simplicidade e transparência nos podemos entranhar no Reino de Deus por Ele instaurado. E com a inclusão de todos, começando pelos excluídos e marginalizados, doentes, mulheres, crianças, publicanos, leprosos. Para Deus todos são igualmente filhos bem-amados.
2 – As palavras de Jesus evocam a mensagem apocalíptica presente na Sagrada Escritura, como por exemplo em Daniel, na primeira Leitura: “Naquele tempo, surgirá Miguel, o grande chefe dos Anjos, que protege os filhos do teu povo. Será um tempo de angústia, como não terá havido até então, desde que existem nações. Mas nesse tempo, virá a salvação para o teu povo,… Os sábios resplandecerão como a luz do firmamento e os que tiverem ensinado a muitos o caminho da justiça brilharão como estrelas por toda a eternidade”.
Numa leitura superficial e imediata, a mensagem de Jesus e de Daniel é terrífica, anuncia um tempo de grande convulsão, de guerra, terror por toda a parte. Até o universo concorrerá para tamanha violência. As entranhas revolver-se-ão, o cosmos entrará em destruição.
Numa leitura mais atenta, vemos como são belas e encorajadoras as palavras que nos são propostas. A linguagem é apocalíptica, muito marcada, contudo, pela esperança, pela certeza que Deus guia a história e o tempo. Mesmo os fenómenos mais medonhos não vencerão a força do amor, a grandeza de Deus. Em Daniel, o Anjo é enviado para proteger, para salvar o povo. Não é um tempo de desgraça que se anuncia mas um tempo de alegria, de júbilo, de vida nova.
No Evangelho, Jesus anima os Seus à confiança. Não temais. Quando virdes acontecer estas coisas sabei que o tempo de salvação está próximo, mesmo à porta.
Mais uma vez é expressiva a situação da mulher que está para ser mãe. Os incómodos, as dores, a indisposição, a angústia, durante a gravidez e de forma mais acentuada no parto, são mais ou menos suportáveis pela alegria que está para acontecer com o nascimento do filho. Vale uma vida inteira. Vale todo o sofrimento. A mãe não consegue explicar tamanho milagre, esquece (quase) por completo o sofrimento que ainda agora experimentava.
A salvação pode implicar a Cruz, esta porém não é em nada comparável à LUZ que vem das alturas, que vem da Ressurreição, que por Jesus nos chega da eternidade, pelo Espírito Santo.
3 – Enquanto anuncia momentos dolorosos, Jesus garante a salvação, garante a eternidade e sublimidade das suas Palavras, que não passarão. Passará o Céu e a Terra, mas as Suas palavras são eternas, são vida nova, são alimento, são luz no nosso peregrinar frágil e finito. No meio da tormenta ou da festa, no mar revolto, ou na serenidade da primavera, na fragilidade da doença, da solidão e da morte, ou na beleza do céu estrelado, da paisagem pintada de mil cores, no sorriso de uma criança, encontrar-nos-emos com Ele, Deus nosso, Mestre, Companheiro, Bom Pastor, Amigo próximo e fiel. Ele não falhará. Podemos não O ver aqui ou acolá. Poderão os nossos olhos estar enublados pelas lágrimas, pelo cansaço, pelo desencanto. Ele não dormirá, não Se afastará dos nossos gritos e lamentos, dos nossos sonhos desfeitos. Não Se esconderá do nosso olhar e da nossa súplica ardente, que muitas vezes nos queima a alma e nos destrói por dentro.
Esta garantia não aligeira a nossa responsabilidade para com os outros, o nosso compromisso com a verdade, com a justiça e com o bem. Pelo contrário, sabermos que Ele estará sempre, mesmo quando O não encontramos com o nosso coração, deverá ser força que nos anima a procurá-l'O mais e mais, no mundo, e naqueles que Ele mais ama, nos mais frágeis de nós, nos pequenos deste mundo. Dar esperança a quem a não tem, para também nós fortalecermos com eles a nossa esperança.
4 – Jesus precede-nos na CRUZ e na Glória. Oferece toda a Sua vida, como Sumo-sacerdote, de uma vez para sempre, UM por todos, oblação pura, sem mancha. Traz-nos Deus, dá-nos Deus, eleva-nos para Deus. Rasga o Céu, e vem. Vencerá a morte para nos dar a VIDA em abundância.
“Cristo, tendo oferecido pelos pecados um único sacrifício, sentou-Se para sempre à direita de Deus, esperando desde então que os seus inimigos sejam postos como escabelo dos seus pés. Porque, com uma única oblação, tornou perfeitos para sempre os que Ele santifica. Onde há remissão dos pecados, já não há necessidade de oblação pelo pecado”.
Somos peregrinos. Não caminhamos sós. Ele vai connosco. Levamos os irmãos. Guiam-nos os Santos. Sabemos que o chão que pisamos é sagrado, é chão que nos une ao universo inteiro, a todo o humano, é vida que pulsa desta terra, até aos confins do mundo.
Com o salmista, rezamos a confiança em Deus próximo, para caminharmos mais seguros:
Vivemos a Semana dos Seminários que agora concluímos. Este salmo mostra como a tribo de Levi não tem outro chão, outra terra, outra herança, que não seja Deus. Enquanto as outras tribos têm propriedade, esta conta com as dádivas do templo e com a fé das pessoas que contribuem. É um salmo de entrega, de confiança, de louvor. A segurança não lhes vem da terra mas de Deus.
Com o salmista, rezamos a confiança em Deus próximo, para caminharmos mais seguros:
“Senhor, porção da minha herança e do meu cálice, / está nas vossas mãos o meu destino./ O Senhor está sempre na minha presença, /com Ele a meu lado não vacilarei”.
“Por isso o meu coração se alegra e a minha alma exulta / e até o meu corpo descansa tranquilo. / Vós não abandonareis a minha alma na mansão dos mortos, / nem deixareis o vosso fiel sofrer a corrupção”.
Textos para a Eucaristia (ano B): Dan
12, 1-3; Sl 15 (16); Hebr 10, 11-14.18; Mc 13, 24-32.
Reflexão Dominical na página da Paróquia de Tabuaço
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