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quinta-feira, 14 de março de 2019

Pedi e dar-se-vos-á, procurai e encontrareis...

        Disse Jesus aos seus discípulos: «Pedi e dar-se-vos-á, procurai e encontrareis, batei à porta e abrir-se-vos-á. Porque todo aquele que pede recebe, quem procura encontra e a quem bate à porta abrir-se-á. Qual de vós dará uma pedra a um filho que lhe pede pão, ou uma serpente se lhe pedir peixe? Ora, se vós que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai que está nos Céus as dará àqueles que Lhas pedem! Portanto, o que quiserdes que os homens vos façam fazei-lho vós também: esta é a Lei e os Profetas» (Mt 7, 7-12)
       A desafio é de Jesus: pedir. Rezar incessantemente, confiar em Deus, confiar que Deus atenderá à nossa súplica. Tal como o pai não deixa de atender ao seu filho, assim também Deus não deixará sem resposta e sem auxílio aqueles que Lhe pedem com fé.
       Veja-se a belíssima oração de Ester, na primeira leitura proposta para hoje:

       «Meu Senhor, nosso único Rei, vinde socorrer-me, porque estou só e não tenho outro auxílio senão Vós e corre perigo a minha vida. Desde criança, ouvi dizer na minha tribo paterna que Vós, Senhor, escolhestes Israel entre todos os povos e os nossos pais entre os seus antepassados, para serem a vossa herança perpétua, e cumpristes tudo o que lhes tínheis prometido. Lembrai-Vos de nós, Senhor, e manifestai-Vos no dia da nossa tribulação. Fortalecei-me, Rei dos deuses e Senhor dos poderosos. Ponde em meus lábios palavras harmoniosas, quando estiver na presença do leão, e mudai o seu coração, para que deteste o nosso inimigo e o arruíne com todos os seus cúmplices. Livrai-nos com a vossa mão; vinde socorrer-me no meu abandono, porque não tenho ninguém senão Vós, Senhor» (Est 4, 17).

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Por causa da dureza do vosso coração

        Aproximaram-se de Jesus alguns fariseus para O porem à prova e disseram-Lhe: «É permitido ao homem repudiar a sua esposa por qualquer motivo?». Jesus respondeu: «Não lestes que o Criador, no princípio, os fez homem e mulher e disse: ‘Por isso o homem deixará pai e mãe para se unir à sua esposa e serão os dois uma só carne?’. Deste modo, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu». Eles objectaram: «Porque ordenou então Moisés que se desse um certificado de divórcio para se repudiar a mulher?». Jesus respondeu-lhes: «Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos permitiu repudiar as vossas mulheres. Mas no princípio não foi assim»(Mt 19, 3-12).
        Um tema recorrente na atualidade, mas presente ao longo da história da humanidade é o da relação entre o homem e a mulher e a vivência na exclusividade. Muitas culturas assumem-se poligâmicas. O judaísmo contemplava a relação poligâmica. Veja-se por exemplo o caso do Rei David, que poderia ter mais que uma mulher. Ainda assim com o dever de protecção/pertença. David, no plano moral, tem uma atitude que se lhe condena, o facto de desejar a mulher do próximo, sabendo que não podia desposar tal mulher por esta já ser mulher de Urias. A solução foi arranjar forma de matar Urias para depois tomar a sua mulher.
       No entanto, o judaísmo vai, pouco a pouco, refletindo sobre a relação monogâmica, como correspondendo ao amor exclusivo de Deus para com o seu Povo. Mas numa e noutra situação, a separação, o repúdio (neste caso do homem em relação à mulher), só em casos muito excepcionais. E ainda assim, ao repudiar a mulher, Moisés exigia que os maridos lhes dessem certificados de divórcio para que a mulher pudesse refazer a vida, sem correr o risco de ser apedrejada.
       Na reflexão do Evangelho, Jesus acentua uma vivência anterior em que prevalecia o amor e a união. A dureza do coração é que levou as pessoas à ruptura. Deus criou-nos para vivermos em família, não apenas a união de um homem e de uma mulher, mas também de toda a humanidade. A nossa fragilidade impede-nos de ver mais longe, e para além das limitações alheias, mas o caminho que nos salva é o caminho do amor, do perdão, da unidade.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

O teu Deus será o meu Deus, o teu povo será o meu...

       No tempo em que os juízes governavam, houve uma fome no país. Certo homem deixou Belém de Judá e emigrou para os campos de Moab, com a mulher e dois filhos. Ele chamava-se Elimelec e a mulher Noémi. Elimelec, marido de Noémi, faleceu e ela ficou só com os seus dois filhos.
       Ambos casaram com esposas moabitas, uma chamada Orpa e a outra Rute. Permaneceram lá cerca de dez anos. Entretanto os filhos também morreram e Noémi ficou só, sem os dois filhos e sem o marido. Resolveu então voltar dos campos de Moab, juntamente com as noras, por ter sabido, nos campos de Moab, que o Senhor tinha abençoado o seu povo, dando-lhe pão. Orpa despediu-se da sogra e voltou para o seu povo; mas Rute ficou com Noémi. Disse-lhe Noémi: «Olha que a tua cunhada voltou para o seu povo e para o seu deus. Vai também com ela». Rute respondeu-lhe: «Não insistas comigo, para que te deixe e me afaste de ti, pois irei para onde fores e viverei onde viveres. O teu povo será o meu povo e o teu Deus será o meu Deus». Foi assim que Noémi regressou dos campos de Moab, trazendo consigo sua nora Rute, a moabita. Chegaram a Belém no início da ceifa da cevada (Rute 1, 1-2a.3-6.14b-16.22 ).
       Este é um extraordinário texto sobre a conversão de Rute, moabita, e sobre o compromisso que assume com o povo hebreu, o povo da primeira Aliança. Os filhos de Noémi casaram com duas mulheres de Moab. Viúva, Noémi ficou junto dos dois filhos, que viriam a falecer, pelo que voltou para a sua terra, para o seu povo. Como os filhos não deixaram descendências, as noras poderiam voltar para casa dos seus pais a fim de procurarem novos maridos e assim assegurar descendência.
       Noémi, sem marido, sem filhos e sem netos, regressa ao seu povo, sabendo que Deus abençoou o seu povo e que entre os seus poderá encontrar alguma proteção e ajuda. Uma das noras regressa a sua casa. Rute, porém, e em definitivo, segue Noémi, fazendo luminosa profissão de fé: «Irei para onde fores e viverei onde viveres. O teu povo será o meu povo e o teu Deus será o meu Deus».
       Por um lado, pode sublinhar-se a importância de Noemi, certamente que a sua bondade, a sua vivência e a sua fé conduzem Rute pela mão. Por outro, a na continuação do texto se verá que o acolhimento que Noemi teve em terra estrangeira, também a estrangeira Rute será bem acolhida na terra da sua sogra. Nestes dias que se fala de bem acolher estrangeiros e refugiados, aqui está um belíssimo testemunho. Veja-se, no breve livro de Rute, a tradição que perdurou no tempo, de respigar os campos de trigo a fim de matar a fome...
       Chamada de atenção também para o facto de Rute ser incluída na genealogia de David e posteriormente na genealogia de Jesus. A salvação que Deus nos dá inclui-nos a todos, também aos estrangeiros.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Daqui a 40 dias, Nínive será destruída... ou não!

        Jonas entrou na cidade e caminhou durante um dia, apregoando: «Daqui a quarenta dias, Nínive será destruída». Os habitantes de Nínive acreditaram em Deus, proclamaram um jejum e revestiram-se de sacos, desde o maior ao mais pequeno. Logo que a notícia chegou ao rei de Nínive, ele ergueu-se do trono e tirou o manto, cobriu-se de saco e sentou-se sobre a cinza. Depois foi proclamado em Nínive um decreto do rei e dos seus ministros, que dizia: «Os homens e os animais, os bois e as ovelhas, não provem alimento, não pastem nem bebam água. Os homens e os animais revistam-se de sacos e clamem a Deus com vigor; afaste-se cada um do seu mau caminho e das violências que tenha praticado. Quem sabe? Talvez Deus reconsidere e desista, acalmando o ardor da sua ira, de modo que não pereçamos». Quando Deus viu as suas obras e como se convertiam do seu mau caminho, desistiu do castigo com que os ameaçara e não o executou (Jonas 3, 1-10).
       Um olhar mais atento a esta passagem da Escritura e verifica-se que o autor sagrado sublinha sobretudo a misericórdia e benevolência de Deus, bem como a universalidade da salvação. Jonas é enviado a uma cidade estrangeira, onde as relações entre pessoas é pecaminosa, destrutiva, egoística, o que levará á destruição da cidade. Jonas é incumbido por Deus para alertar toda a cidade. As pessoas, a começar pelo rei invertem o seu comportamento, arrependem-se e mudam o seu estilo de vida, o que permitirá preservar a cidade.
       Deus olha para o pecado mas sobretudo para a capacidade e vontade de mudança. Claramente jogam duas visões de Deus: um Deus castigador, pronto a irritar-se e que agrada a Jonas, até porque aquele povo é inimigo, e um Deus misericordioso e compassivo, que quer a salvação de todos.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Sede santos, porque Eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo

Moisés dirige a Palavra do Senhor a todo o povo nos seguintes termos:

        "Sede santos, porque Eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo. Não furtareis, não direis mentiras, nem cometereis fraudes uns com os outros. Não prestarás juramento falso, invocando o meu nome, pois profanarias o nome do teu Deus. Eu sou o Senhor. Não oprimirás nem expropriarás o teu próximo. Não ficará contigo até ao dia seguinte o salário do jornaleiro. Não insultarás um surdo nem colocarás tropeços diante de um cego, mas temerás o teu Deus. Eu sou o Senhor. Não cometerás injustiças nos teus julgamentos: não favorecerás indevidamente um pobre, nem darás preferência ao poderoso; julgarás o teu próximo segundo a justiça. Não caluniarás os teus parentes, nem conspirarás contra a vida do teu próximo. Eu sou o Senhor. Não odiarás do íntimo do coração os teus irmãos, mas corrigirás o teu próximo, para não incorreres em falta por causa dele. Não te vingarás, nem guardarás rancor contra os filhos do teu povo. Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor" (Lev 19, 1-2.11-18).
       A referência da nossa vida é Deus. Ainda que no nosso peregrinar possamos encontrar pessoas, que pelo seu testemunho, sejam exemplares, a referência última é Deus. A Ele devemos seguir e imitar. Moisés di-lo claramente, emprestando as suas palavras a Deus: "Sede santos, por Eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo". É a primeira motivação, o ponto de partida. O ideal.
       E para sermos santos ao jeito do Senhor nosso Deus, o compromisso sério com o nosso semelhante: não cometer injustiças, não reter o bem alheio, não favorecer ninguém nos julgamentos, não caluniar, não odiar, mas corrigir, não e vingar, não mentir, não levantar falsos testemunhos ou suspeitas em relação aos outros, não prestar julgamentos falsos. Ou seja, amar o próximo como a nós mesmos.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

D. António Couto, Bispo de Lamego - O livro do Génesis

ANTÓNIO COUTO, O Livro do Génesis. Letras & Coisas, Leça da Palmeira 2013, 180 páginas (livro de bolso).

       O livro do Génesis suscita curiosidade e estudos diversos, para os homens da fé, da história, da cultura, da ciência. Umas vezes como fonte, outras para contraposição, às vezes para confirmar o que se sabe, outras vezes para conhecer a cultura e a época em que foi escrito, às vezes para escarnecer, outras para aprofundar a própria fé em Deus criador.
       Há aqueles que fazem do livro do Génesis um texto como que ditado por Deus, sem margem para erro; há quem perceba a inspiração de Deus, a leitura religiosa da criação, e se sinta inspirado para agradecer, para louvar a criação e amor de Deus, e para perceber como Deus age na história, por vezes silenciosamente.
       D. António Couto, neste estudo, aborda diversas questões, a criação de Deus, o ser humano como dom da criação, a cultura envolvente, a originalidade do texto bíblico, a igual dignidade do homem e da mulher, criados por Deus - não são extensão ou da mesma natureza, mas são dom -, o pecado, o paraíso/jardim como dádiva de Deus, que dele cuida, confiando-o ao homem, o pecado dos primeiros pais, o fratricídio de Caim, a teologia da eleição, da aliança, de Deus que nunca desiste da humanidade e sempre nos salva.
       As figuras patriarcais, Abraão, Isaac e Jacob, mas também a sugestiva história de José, o filho predileto, o irmão rejeitado, mas que é eleito para a salvação da família de Jacob, para a preservação da aliança de Deus com o Povo.
       Notório nesta páginas a eleição, um povo, mas instrumento de salvação e de bênção para todos os povos. Só nessa medida faz sentido a eleição, como mediação para todos os povos.
       Para quem quiser aprofundar o estudo do livro dos Génesis, para crentes que queiram acolher a história da salvação, como dom a rezar, a agradecer, para outros que queiram alargar os horizontes das suas questões, ou dúvidas, ou enriquecer-se com reflexões sugestivas.
       É um estudo mais científico, mais académico, em relação a outras sugestões que aqui trazemos, mesmo de D. António, como conjunto de reflexões e homilias, mas que se lê e percebe com facilidade. Será uma belíssima oportunidade para ficar por dentro de toda a problemática levantada sobre o livro do Génesis, e sobre a teologia da criação, em diálogo com a ciência, a história, a antropologia, e com uma referência que passa como fio condutor, a encarnação de Jesus Cristo, a Sua morte e ressurreição, o seu ministério de amor e de salvação. Neste fio condutor percebe-se como tudo desemboca em Jesus Cristo, no Qual todas as coisas foram criadas.
       Boa leitura. Meditada. rezada. "Que o leitor se delicie com estas páginas, em que Deus e o homem se procuram e encontram, ou se distanciam. Foi um prazer, espanto e proveito sempre renovados que as fui escrevendo" (D. António Couto).

Veja também a sugestão deste estudo na Livraria Fundamentos: AQUI.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

A nossa humanidade é narração de Deus

"A nossa humanidade é narração de Deus: o nosso rosto conta como é o Seu; as nossas mãos dão a ver as Suas; Ele fala pelas nossas palavras e respira melhor à medida que os nossos gestos se tornam amplos; os nossos olhos testemunham como os d'Ele cintilam; os nossos silêncios e o nosso riso são mapas muito aproximados para quem quiser chegar a Ele. A nossa fragilidade dá a ver a força da Sua compaixão. As ausências em que nos perdemos permitem que se revele ainda mais a Sua amizade. Como qualquer mãe ou pai, Ele não deseja que o filho seja mais alto ou mais baixo, mais louro ou mais tisnado. Ele só quer que os seus filhos sejam o que são de maneira plena. Nada há em nós que lhe seja desconhecido ou indiferente: interrupções e recomeços, frustrações e desafios, turbulências ou tempos de paz. Ele chega a toda a hora, sem nunca verdadeiramente partir. Ele entra quando lhe abrimos a porta, mas está sempre presente. Ele está aqui e além. Está abraçado a nós e à nossa espera para o abraço sem fim"

in TOLENTINO MENDONÇA. Nenhum Caminho será Longo.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Abrir, abrir, abrir

       "Construir mais praças do que paredes; mais mesas do que despensas; abrir, abrir, abrir. Pode até acontecer que este gesto de abertura seja denunciado como traição dos interesses do grupo. Mas, para sermos fiéis ao núcleo mais fundo da autenticidade, temo-nos de interrogar constantemente: «o que é trair?» Não esqueçamos o que ensina Kierkegaad: a única traição é não ter querido nada, profunda e autenticamente".

in TOLENTINO MENDONÇA. Nenhum Caminho será Longo.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Judas, o predileto discípulo de Jesus

       "... nenhuma perturbação provoca em nós tanto impacto, nem golpe nenhum fere como aqueles que nos chegam de um irmão, de um amigo".

       "... só quem nos ama pronuncia corretamente o nosso nome, sabe o seu significado até ao fim, está apto a nomear o nosso mundo na sua complexa e enigmática inteireza. Só quem nos ama é capaz de ver-nos como realmente somos: esta mistura apaixonada e contraditória, esta aventura conseguida e, ainda assim, inacabada, esta pulsão de nervos e de alma, de opacidade e vislumbre. escreveu com razão o poeta: «Quem não me deu Amor, não me deu nada». Só quem nos ama deposita no fundo da terra oscilante do nosso coração uma semente de bondade, um fragmento de amanhã. E, contudo, tal como a noite, a certa hora, espera inevitável pelo dia, ou como tempestade brota, sem sabermos explicar como, do interior da própria bonança, assim é na amizade. Pode existir um momento, uma hora da vida, uma situação em que, com menor ou maior gravidade, sintamos, ao arrepio de tudo, o contacto com um gesto, com uma palavra que a atraiçoa...
       ... A traição estilhaça o nosso quadro interno, precipita-nos na deceção, amarra-nos a um intensa e desconhecida dor...
       ... só quem me ama me pode trair"
        "Em hebraico, Judas significa «o predileto». Tal como Cefas (o nome Pedro) significa «pedra».. Há quem veja aqui traços do humor de Jesus, que chama «pedra» a um seguidor assustado como Pedro e tem como discípulo traidor um de nome «predileto»... Jesus não escolheu Judas por outra razão que não fosse o amor...
       Quando ele se dispôs a seguir Jesus, certamente existia nele idealismo, convicção e verdade... O desejo de verificar com os seus próprios olhos, de se envolver eram genuínos. Depois, foram-se acumulando poeiras, embaraços, esfriamentos, discórdias...

       "Tal como os restantes discípulos, ele estava convencido de que Jesus se dirigia para Jerusalém para instaurar o Reino de Deus e o Verus Israel (verdadeiro Israel), sob a forma de um poder político, a tal ponto que as discussões entre eles era sobre o lugar que caberia a casa um no futuro governo (cf. Lc 9, 46 e Mc  10, 35-40)...

       "Judas, no fundo, traiu porque se sentiu traído. É a traição que determina o seu gesto. Que, da sua parte, tudo fique decidido durante a Última Ceia, evidencia bem a densidade do desfecho: quando, no partir e repartir do pão, Jesus anuncia que aceita viver a morte como dom, Judas considera isso intolerável. Ele não quer um Messias que morre. E abandona a sala..."

in TOLENTINO MENDONÇA. Nenhum Caminho será Longo.

terça-feira, 28 de maio de 2013

A alegria é um dom da amizade acolhida

       "Quando olhamos para aquilo que somos e vivemos, quando pomos os olhos no fim do caminho que estamos a percorrer, é importante que sintamos que é para a alegria que estamos chamados. É para a roda dos eleitos que estamos a caminhar. E, por isso, deslocamos infatigavelmente o nosso coração do peso da sombra para a leveza da luz, para a leveza da alegria. Na verdade somos atravessados, somos conduzidos, levados pela mão de uma promessa, e essa promessa é alegria. Não sabemos o que é isso. por agora a nossa alegria é parcial, provisória; é ainda a alegria deste momento, deste instante... Porém, a alegria que nos está prometida é uma alegria completa"
       "A alegria não nos pertence. A alegria atravessa-nos. A alegria é sempre um dom. A alegria nasce do acolhimento. A alegria nasce quando eu aceito construir a minha vida numa cultura de hospitalidade... A alegria é um dom da amizade acolhida... A alegria é um dom que me visita na surpresa, no não anunciado... O meu coração é uma soleira, uma porta entreaberta. a minha vida vive do acolhimento amigável. Temos de adquirir uma porosidade, deixarmo-nos tocar, deixamo-nos ligar pelo fluxo reparador da vida".

       "Os dias sem alegria são completamente sem memória.

in TOLENTINO MENDONÇA. Nenhum Caminho será Longo.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Somos argila amassado do tempo

       "Nós somos feitos de tempo; somos amassados da argila do tempo; somos feitos de idades, de estações, de horas, de dias, somos feitos de cronometrias, isto é, de medições de tempo, visíveis e invisíveis. De facto, tudo o que é humano é feito de tempo; somos um reservatório de tempo; lençóis de tempo que se vão acumulando. Para dizer uma palavra - somos duração...
        «Viver sem amigos é morrer sem testemunhas». Os amigos trazem à nossa vida uma espécie de atestação. Os amigos sabem o que é para nós o tempo. Eles testemunham que somos, que fizemos, que amamos, que perseguimos determinados sonhos e que fomos perseguidos por este ou aquele sofrimento. E fazem-no não com a superficialidade que, na maior parte das vezes, é a das convenções, mas com a forma comprometida de quem acompanha. O olhar do amigo é uma âncora. A ela nos seguramos em estações diferentes da vida para receber esse bem inestimável de que temos absoluta necessidade e que, verdadeiramente, só a amizade nos pode dar: a certeza de que somos acompanhados e reconhecidos. Sem isso a vida é uma baça surdina destinada ao esquecimento.
        A história de cada um de nós consuma-se através de uma necessidade de reconhecimento. Para haver um «eu» tem de existir um «tu». Com cada homem vem ao mundo algo de novo que nunca antes existiu, algo de inaugural e de único, mas é na construção de uma reciprocidade que de forma consistente o podemos descobrir. O «eu» tem imperiosa carência de ser olhado amigavelmente por outro, e por outros, para organizar-se e ousar o risco de ser"

in TOLENTINO MENDONÇA. Nenhum Caminho será Longo.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Amizade - lugar de encontro entre Deus e o Homem

"Amar e ser amado são faculdades tanto divinas como humana, mas o único verdadeiro amor é o de Deus, porque tudo nele tem a sua origem. A causa pela qual devemos amar a Deus e amarmo-nos uns aos outros é o próprio Deus ..."
"A amizade com Deus torna-se, então, a medida (sem medida) da nossa amizade. «Bem-aventurado quem te ama, e ao seu amigo em Ti, e ao seu inimigo por causa de Ti» [Santo Agostinho, Confissões, IV 9,4]"

"A amizade é antes o próprio lugar do encontro entre o humano e o divino, o lugar onde os amigos podem participar de Deus, podem mergulhar no seu mistério..."

"O amigo espiritual é uma imagem de Cristo; o repouso no seu abraço é o abandono no Espírito Santo, que é vida que circula em Deus. Um amigo torna-se para nós um mestre do desapego e da liberdade interior: «os corações que se amam testemunha,-no por expressões do rosto, por palavras, olhares e mil pequenas nadas, que são gravetos para alimentar o fogo onde as almas se fundem entre si e tornam-se apenas uma. Mas se o que nós acreditamos dever amar nos nossos amigos não nos conduzir a uma amar por amar, a nossa consciência reprovar-nos-á» [Aelredo]"

in TOLENTINO MENDONÇA. Nenhum Caminho será Longo.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

A amizade é um contínuo

 "A amizade não se alimenta de encontros episódicos ou de feitos extraordinários. A amizade é um contínuo. Tem sabor a vida quotidiana, a espaços domésticos, a pão repartido, a horas vulgares, a intimidade, a conversas lentas, à exposição confiada, a peripécias à volta de uma viagem ou de um dia de pesca. A Amizade tem o sabor da hospitalidade, a corridas atarefadas e a tempo investido na escuta. A amizade enche a cada de perfume (cf. Jo 12, 3)"
"A amizade não se satisfaz apenas com a versão pública dos acontecimentos, mas procura sempre um outro lado, um ângulo diferente para olhar mais fundo...

in TOLENTINO MENDONÇA. Nenhum Caminho será Longo.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Eucaristia - comensalidade que congrega crentes

"É verdade que a Eucaristia (cf Lc 22,19-20), centro da vida do Reino, é uma refeição, e que ela condensa, em torno de uma mesa, o inteiro destino do Senhor, como se todos os seus gestos e palavras confluíssem, afinal, para a unidade de um único gesto e de uma única palavra. Mas a Eucaristia nasceu já como uma refeição atípica, impregnada de uma semântica irredutível a esse enquadramento. Desde o princípio foi relatada e acolhida, na fé da comunidade cristã, como Dom radical de si que Jesus protagonizou e como comensalidade que congrega os crentes à volta desse acontecimento. Contudo, aquilo que se verifica é que, além da Eucaristia, os Evangelhos estão costurados pela memória de outras refeições. E estas, colocando Jesus numa situação simbólica cheia de implicações, iluminam para nós o sentido profundo da amizade de Jesus".

in TOLENTINO MENDONÇA. Nenhum Caminho será Longo.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Evangelho - o Testamento de um amigo

 "O discípulo amado é aquele que tem uma proximidade particular a Jesus; é aquele que se reclina sobre o seu peito, não apenas numa demonstração de afeto, mas também de comunhão de vida e de sentimentos. Este gesto do reclinar é uma imagem que comparece em outros textos judaicos e que tem a ver com a transmissão do testamento. O Evangelho representa, digamos, o testamento de um amigo; o olhar de um amigo sobre Jesus que nos implica profundamente, colocando-nos no seu lugar. A intervenção do discípulo amado liga-se, assim, a um eixo profundo da teologia de João que considera ser através da amizade que nós compreendemos Jesus e nos avizinhamos dele..."

in TOLENTINO MENDONÇA. Nenhum Caminho será Longo.