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terça-feira, 21 de novembro de 2017

Raniero Cantalamessa - PARA QUE NADA SE PERCA

RANIERO CANTALAMESSA (2017). Para que nada se perca. Novos pensamentos sobre o Concílio Vaticano II. Lisboa: Paulus Editora. 128 páginas.
       Raniero Cantalamessa é o Pregador oficial da Casa Pontifícia, há mais de 30 anos, desde 1980. Nos tempos fortes do Advento e da Quaresma, é ele quem, habitualmente, orienta os retiros do Papa, dos Cardeais e de outros signatários da Cúria vaticana. Cantalamessa, italiano, nascido a 22 de julho de 1934, é frade franciscano capuchinho.
       No 50.º aniversário do Encerramento do Concílio Ecuménico Vaticano II, o autor teve a ideia de refletir sobre o mesmo nos retiros seguintes a realizar na Casa Pontifícia, Advento (2015) e Quaresma (2016). Muito já se refletiu sobre o Vaticano, Cantalamessa procurou abordar os principais documentos, as quatro Constituições: Lumen Gentium, sobre a Igreja; Sacrosanctum Concilium, sobre a Liturgia; Dei Verbum, sobre a Palavra de Deus, e Gaudium et Spes, sobre a Igreja no mundo, refletindo também sobre o Decreto sobre o Ecumenismo, Unitatis redintegratio.
       A reflexão proposta visa uma dinâmica sobretudo espiritual dos documentos, acentuando os compromissos dos cristãos e da Igreja já em andamento ou ainda a cumprir, desafiando-nos de novo a debruçar-nos sobre a riqueza do Concílio e dos documentos gerados para bem da Igreja e do compromisso dos cristãos para este tempo da história, deixando que o Espírito Santo continue a a inspirar-nos para acolhermos e transparecermos Jesus Cristo e assim nos assumirmos, em definitivo, filhos do mesmo Pai.
       É um saboroso contributo para viver a fé na e com a Igreja, Corpo de Cristo, do qual somos membros, povo de Deus convocado pela palavra e pela caridade. Fica mais perto de nós o sopro do Espírito Santo que inspirou os Padres conciliares do Vaticano II.

Algumas frases sugestivas proferidas pelo autor e agora passadas a livro:
Mérito do então Cardeal Ratzinger ao ter realçado a relação intrínseca entre as duas imagens: «A Igreja é Corpo de Cristo porque é Esposa de Cristo... Corpo de Cristo que é Igreja com o Corpo de Cristo que é a Eucaristia... Sem a Igreja e sem a Eucaristia, Cristo não teria "corpo" no mundo».
«O que conta não é o lugar que ocupo na Igreja, mas o lugar que Cristo ocupa no meu coração!».
«Se a Igreja é o corpo de Cristo, a adesão pessoal a Ele é o único modo de começar, existencialmente, a fazer parte dela».
«Jesus já não é uma personagem, mas uma pessoa; já não é alguém de quem se fala, mas alguém a quem e com quem se pode falar, porque ressuscitado e vivo; já não é apenas uma memória, por mais liturgicamente viva e operante, mas uma presença... A fecundidade da Igreja depende do seu amor a Cristo».
«Não nos salvamos pelas boas obras, mas não nos salvamos sem  as boas obras... A criança não pode fazer absolutamente nada para ser concebida no ventre da mãe, precisa do amor de dois progenitores... no entanto, depois de ter nascido, tem de acionar os seus pulmões para respeirar e mamar; em suma tem de fazer alguma coisa, senão a vida que recebeu acabará... a fé sem as obras morre».
«O contrário de santo não é pecador, mas fracassado».
Madre Teresa de Calcutá: «A santidade não é um luxo, é uma necessidade».
«É sobretudo quando a oração se torna cansaço e luta que se descobre toda a importância do Espírito Santo para a nossa vida de oração. Então o Espírito Santo torna-se a força da nossa oração 'débil', a luz da nossa oração extinta; numa palavra, a alma da nossa oração. Na verdade, Ele 'irriga o que é árido'... O fosso que existe entre nós e o Jesus da história é preenchido pelo Espírito Santo. Sem Ele, na liturgia tudo é apenas memória; com Ele, tudo também é presença».
Santo Inácio de Antioquia: «Que nada se faça sem o teu consentimento; mas tu não faças naa se o consentimento de Deus».
«Não há missão, nem envio, sem uma prévia saída. Falamos frequentemente de uma Igreja 'em saída'. Mas devemos dar-nos conta  de que a primeira porta que temos de sair não é da Igreja,da comunidade, das instituições ou das sacristias; é a do nosso 'eu'. O Papa Francisco explicou-o muito bem em determinada ocasião: 'Estar em saída - dizia - significa antes de tudo sair do centro para deixar no centro o lugar a Deus'».
«Antes de ferir os ouvintes, a palavra deve ferir o anunciador, mostrar-lhe o seu pecado e impeli-lo à conversão».
«Quanto mais aumenta o volume da atividade, tanto mais deve aumentar  o volume da oração».
«A palavra não faltará, certamente, porque, ao contrário, quanto menos se ora, mais se fala, mas são palavras ocas, que não chegam a ninguém».
«O Evangelho do amor só se pode anunciar por amor. Se não nos esforçarmos por amar as pessoas que temos diante de nós, as palavras transformam-se-nos facilmente nas mãos em pedras que ferem e das quais nos protegemos como nos protegemos de uma saraivada».«É preciso amar Jesus, porque só quem está apaixonado por Jesus pode proclamá-l'O ao mundo com íntima convicção. Só se fala com entusiasmo daquilo por que se está apaixonado. Quando, no anunciador, existe o amor também existe a alegria, o que é o fator determinante para o sucesso do anúncio».
«Abrir-se ao outro sexo é o primeiro passo para se abrir ao outro que é o próximo, até ao Outro com maiúscula que é Deus. O matrimónio nasce no sinal da humildade; é o reconhecimento de dependência e, portanto, da própria condição de criatura. Apaixonar-se por uma mulher ou por um homem é fazer o ato mais radical de humildade. É fazer-se mendigo e dizer ao outro: 'Não e basto a mim mesmo, preciso do teu ser'... Diante de Deus, podemos dizer que a sexualidade humana é a primeira escola de religião».
«O predomínio do homem sobre a mulher faz parte do pecado do homem, não do projeto de Deus».
«Deus é amor e o amor exige comunhão, permuta interpessoal; requer que haja um 'eu' e um 'tu'. Não há amor que não seja amor por alguém; onde só há um sujeito não pode haver amor, mas apenas egoísmo ou narcisismo. Onde Deus é concebido como Lei ou como Poder absoluto não há necessidade de uma pluralidade de pessoas... O Deus revelado por Jesus Cristo é amor, é único e só, mas não é solitário; é uno e trino...».

sexta-feira, 16 de maio de 2014

RATZINGER . Von BALTHASAR - Maria, primeira Igreja

Cardeal JOSEPH RATZINGER e HANS URS VON BALTASHAR (2014). Maria, primeira Igreja. Coimbra: Gráfica de Coimbra 2, 190 páginas.

       Uma colaboração curiosa entre dois dos maiores teólogos do século XX. Aquele que viria a ser eleito Papa, adotando o nome de Bento XVI, Cardeal Ratzinger, alemão. Hans Urs Von Balthasar, teólogo e sacerdote suíço, morreu (1988) dois dias antes de ser escolhido para Cardeal pelo Papa João Paulo II.
       O livro foi publicado pela primeira vez na Alemanha em 1980. A versão que temos entre mãos é a tradução portuguesa da quarta edição alemã de 1997, aumentada com novos artigos dos dois amigos que enriqueceram o pensamento da Igreja na segunda metade do século XX.
       É certo que não se devem ler os livros só pelo nome dos seus autores. Mas estes dois, em conjunto, ou individualmente, são uma garantia de fidelidade a Jesus Cristo e ao Seu Evangelho, de fidelidade comprometida com a Igreja e com a sociedade. Hans Urs Von Balthasar foi considerado como o homem "mais culto" do século XX, e um dos maiores teólogos do seu tempo. De Ratzinger não existem dados novos: um dos teólogos mais brilhantes do século XX e nos começos do século XXI. Ligação dos dois ao papa que agora é santo, João Paulo II, que elevaria Balthasar a Cardeal e que escolheu o Cardeal para o ajudar no serviço da Igreja, nomeando-o como Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé e não lhe concedendo a reforma que algumas vezes lhe solicitou. Até ao fim, Ratzinger foi o "braço direito" de João Paulo II, sucedendo-lhe no ministério petrino.
       Mas vamos ao livro que motiva esta sugestão de leitura. Os textos recolhidos foram escritos como intervenções, artigos, homilias, sintonizados na figura ímpar de Maria, a primeira Igreja. São textos acessíveis, de fácil compreensão, como estamos habituados em Ratzinger/Bento XVI e que não difere muito no que se refere a Von Blathasar. Procuram-se dos dados bíblicos sobre a figura e a missão de Maria, procurando apresentar linhas e critérios para uma sã devoção. Um e outro mostram a evolução da devoção a Nossa Senhora, fazendo a ponte para o diálogo com os protestantes e com os ortodoxos. Mostram que Maria não apenas é a primeira discípula de Jesus, mas tem um papel especialíssimo, como primeira Igreja, a Igreja espiritual. Por exemplo, Balthasar, fala na Igreja petrina, ministerial, masculina, e na Igreja mariana, anterior, que nasce com a Encarnação, espiritual e feminina. Maria é Mãe de Jesus, e torna-se Mãe da Igreja. O que se diz da Igreja pode dizer-se de Nossa Senhora, e o que se diz de Maria pode dizer-se da Igreja. O SIM de Maria vem antes, Ela é a Igreja sem mácula, santa, pura. A Igreja é santa também neste fundamento. É pecadora nos seus membros.
       Um dos aspetos abordados e curiosos, e que temos ouvido expressar ao Papa Francisco, é precisamente o papel da Mulher na Igreja e que valeria uma reflexão mais aprofundada como desafio o atual Papa. Maria tem uma missão precedente em relação a Pedro, a Igreja Espiritual, santa, imaculada, feminina. Maria, criatura como nós, assume-se primeira discípulo, envolvida pelo mistério pascal do Seu Filho Jesus. Pelo Espírito Santo, nasce Jesus, nasce a Igreja. É verdadeira intercessora, mesmo onde Jesus a coloca no silêncio como nas Bodas de Caná: Mulher, que temos nós a ver com isso? Ainda não chegou a Minha hora. No entanto, Maria prossegue: Fazei o que Ele vos disser. É um papel que continua a desempenhar.
       A Igreja é, com Maria, sobretudo feminina, custodia a vida biológica e a vida espiritual. Mas a Igreja é também uma realidade sociológica, que se rege com regras e estrutura e daí a necessidade da dimensão masculina, o ministério petrino. Como Cristo encarnou, por Maria, também a Igreja tem que encarnar no tempo e na história.
       Outro aspeto importante, que ambos os autores sublinham, é a necessidade de não descurar as devoções populares que traduzem uma grande sensibilidade. A esse propósito, o então Cardeal Ratzinger sublinhava como os teólogos da libertação deram um contributo decisivo nomeadamente partindo do Magnificat, pelo qual se mostra a exaltação dos humildes e o derrube dos poderosos.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Paróquia: territorialidade, humanidade e fé

       O que dá o seu verdadeiro rosto á realidade paroquial é o tipo de população, os fatores humanos, a herança do passado, as mudanças que se operaram. A relação com o solo (chão) vai unida à relação com as pessoas que tem nele as suas raízes. Há um fundamento da comunidade humana: a convivência. O ser humano é espírito encarnado; por isso enxerta a sua vida nas coordenadas espácio-temporais. Entra-se numa paróquia que existe antes de casa um, que acolhe o que chega, que vincula os que estavam antes, os mais velhos, também os defuntos. Essa base espacial que dizer que a territorialidade da paróquia não é simplesmente um facto geográfico convencional, um meio que se adota para promover as relações de vizinhança, mas que a Igreja está ao serviço das pessoas tal e como vivem num lugar. A missão da paróquia consistirá em assumir o que vive uma população para apresenta-lo diante de Deus e anunciar a todos o Evangelho do Reino.
       Compreende-se assim que a paróquia seja uma instituição internamente heterogénea e mais «lenta», porque leva sobre si a carga dos cristãos não praticantes, dos aleijados, dos que se não crentes mas que não rompem definitivamente a sua vinculação eclesial…

in JOAQUIN PEREIA. Otra iglesia es posible. p. 281

Corresponsabilidade, participação e sinodalidade...

       Os membros provenientes dos diversos grupos eclesiais, ainda que eleitos, não são «representantes» de tipo parlamentário, mas crentes que foram designados para testemunhar a fé e colaborar na missão da Igreja. O termo de representação no domínio eclesial deve traduzir-se por testemunho de fé.
       Esta perspetiva tem uma consequência importante. O voto no interior de um organismo eclesial de corresponsabilidade não tem o mesmo significado que no domínio secular. Na estrutura sinodal da Igreja, na qual o problema da unidade nunca pode resolver-se pela afirmação absoluta da maioria, o voto, não só consultivo, mas inclusivamente deliberativo, tem outro sentido. A votação não se pode entender como vitória do ponto de vista da maioria, nem é um compromisso ou acordo entre uma práxis autoritária e uma democrática (quer dizer, um instrumento para excluir o poder absoluto do bispo ou do pároco).
       A votação é um ato jurídico formal, sim, mas serve sobretudo para fixar a opinião dos crentes que dão testemunho da fé. Esse voto não é um ato de busca da vontade política, mas o reconhecimento de uma realidade. Expressa um componente constitutivo do processo de configuração comunitária do que chamamos um juízo eclesial de comunhão. Por isso corresponde-lhe uma específica força vinculante que expressa a unidade da fé da Igreja.

in JOAQUIN PEREIA. Otra iglesia es posible. p. 255

domingo, 16 de março de 2014

Joaquín Perea - Outra Iglesia es posible

JOAQUIM PEREA. Otra Iglesia es posible. Eclesiologia práctica para cristianos laicos. Edições HOAC. Madrid 2011. 3.ª edição. 336 páginas.
       O título deste livro não é uma pergunta, mas uma afirmação: é possível outra Igreja, isto é, que a Igreja sofra renovação, conversão, novos compromissos eclesiais. É possível uma nova evangelização, com novos métodos e novo ardor, com uma linguagem mais acessível, que resulte do testemunho, do compromisso concreto e efetivo com as pessoas que nos rodeiam.
       Formulado como pergunta, esta afirmação surge muitas vezes numa perspetiva de contestação, de oposição, de substituição de uma por outra Igreja. Não é o caso presente, até porque o autor é um sacerdote com experiência pastoral e empenhado em comunicar a beleza do Evangelho e a presença contagiante de Jesus.
       Partindo da realidade, a verificação que a renovação conciliar muitas vezes não passou de uma mera cartilha de intenções. O Vaticano II foi uma oportunidade para a Igreja, mas as consequências práticas não seguiram os desejos formulados pelos documentos, alguns dos quais terão restringido o que vinha a ser a sensibilidade pré-conciliar.
       Um dos elementos fundamentais foi a concepção da Igreja como Povo de Deus, Corpo de Cristo, acentuando-se a eclesiologia da comunhão, em que serviços e ministérios adquirem novo vigor, surgindo uma maior corresponsabilidade entre todos os membros da Igreja. A pirâmide que sustentava a definição da Igreja, com o clero no topo e os leigos na base, quase como meros espectadores, é alterada para uma fundamentação batismal. Há um POVO ao qual todos pertencemos pelo Batismo, participando na tríplice função de Cristo: sacerdote, profeta e rei. Os ministros ordenados fazem parte do Povo Deus, não estão por cima mas ao serviço.
       Na prática, muitas situações continuam como antes. Dum lado os que mandam, do outro os que obedecem. Por outro lado, embora o apelo à corresponsabilidade, à participação, à sinodalidade seja evidente, não tem concretização no ordenamento prático e jurídico da Igreja.
       A nossa Diocese de Lamego tem no plano pastoral para este ano a criação de Conselhos Pastorais Paroquiais, Arciprestais e Diocesano, perspetivando uma maior participação dos leigos, cuja legitimidade vem da condição de batizados. Sem ser democracia, a Igreja há de buscar formas mais democráticas para viver a fé, testemunhar a esperança, anunciar o Evangelho. Não se procuram maiorias quantitativas, mas a unanimidade de fé em Cristo Jesus. Instrumentos de participação e de corresponsabilidade, e sobretudo com o ensejo de uma Igreja mais sinodal, em que há lugar para os ministros ordenados, sem desprimor da missão laical.
       Também para esta reflexão é muito útil esta leitura. Trata do lugar da Paróquia e da Igreja local, das comunidades eclesiais, enxertadas na comunidade paroquial. Trata da catolicidade da Igreja na paróquia e na Diocese. Avança com propostas. Situa-nos no tempo, na cultura, na realidade dos nossos dias, onde a Igreja é dispensável ou onde se lhe concede um espaço ao lado de outras associações. Uma Igreja sem privilégios que tem de testemunhar a fé, a esperança e a caridade. Igreja pobre e dos pobres. Fala da coordenação do trabalho pastoral, das unidades pastorais, do repensar o papel das paróquias, como comunidades a evangelizar, não para destruir mas para englobar na pastoral da evangelização...
       O autor sublinha que a sensibilidade pré-conciliar aponta para uma reflexão aprofundada sobre a "Opção preferencial pelos pobres", acentuado por exemplo pelos padres operários, em França, dando lugar, durante do Concílio, à reflexão sobre a Igreja e a sua abertura ao mundo, relegando-se para segundo plano a reflexão e o compromisso com os pobres. Sublinha também o autor que só o episcopado latino-americano, onde se incluía o atual Papa, refletiu a opção pelos pobres, uma Igreja pobre para os pobres, produzindo documentos e efetivando práticas.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

CONSELHOS PASTORAIS - Como uma bússola

       Não perder o Norte!”. Esta expressão familiar pode ajudar-nos a compreender a responsabilidade do Conselho Pastoral Paroquial (CPP). Não perder o Norte, para uma comunidade cristã, é não perder de vista a sua razão de ser: a missão que deve realizar no espaço humano que é a paróquia. Esta missão que nos é confiada pelo Cristo e pelo Espírito Santo é única na diversidade de exigências: anunciar a pessoa de Jesus Cristo, experimentar a fraternidade, celebrar a fé e comprometer-se no serviço aos mais pequenos. O CPP, como uma bússola, ajuda a comunidade a manter o rumo da missão.
       Para ser fiel à sua responsabilidade, o CPP dá orientações pastorais, de forma que a equipa pastoral mandatada, formada por responsáveis nomeados pelo bispo (padres, diáconos, responsáveis por diferentes serviços e missões…), conselho económico e outros grupos assumam a responsabilidade das áreas que lhes são confiadas e tenham uma actuação de conjunto.
       Eis um dos maiores desafios do CPP: ser o conselho mais próximo da missão e deixar que os outros intervenientes actuem no seu próprio domínio. Lugar de discernimento, de decisão, de concretização, de coordenação e de avaliação, o CPP é um teste de verdade para os nossos discursos quanto à responsabilidade confiada aos baptizados na construção da Igreja.
       O CPP torna-se um lugar de aprendizagem onde os seus membros praticam o diálogo, o respeito mútuo e, assim, vivem uma experiência eclesial. Permite aos ministros ordenados, às pessoas mandatadas e às forças vivas da comunidade trabalhar sinodalmente no serviço da missão, fazendo em conjunto um pedaço do caminho. Uma oportunidade que pode exigir uma conversão mútua nas nossas maneiras de conceber e de articular as nossas responsabilidades respectivas!
       O CPP está ao serviço da comunidade. Os seus membros (que será vantajoso renovar regularmente) devem ser capazes de trabalhar harmoniosamente, discernir os sinais e apontar pontos da pastoral actual, ser solidários com as outras realidades eclesiais (zona pastoral, arciprestado, diocese…). Assim, é o mesmo espírito missionário que anima o CPP e a comunidade no serviço à paróquia.
       O número dos membros não é uma garantia de sucesso. Antes, o CPP deve ser constituído à imagem da comunidade que quer animar. Será isto utópico ou realizável? Nada melhor do que sermos nós a demonstrá-lo.
 
FONTE: Jornal diocesano VOZ DE LAMEGO, n.º 4252, de 18 de fevereiro de 2014.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

CONSELHOS PASTORAIS - participar e ser sujeito

       O termo “participação” está muito presente nos textos do concílio Vaticano II. Com efeito, encontramo-lo por 133 vezes para falar da participação de todos os baptizados na oração da Igreja (SC 8, 10…; LG 11, 42, 51; CD 30; PO 5; AA 4, 10…) e na missão recebida de Cristo (LG 12, 26…; CD 17; AA 2, 9, 10, 29; AG 41; UR 1, 4). Esta participação designa também a comunhão com Deus à qual os homens são chamados e é a comunhão dos homens entre si que define a Igreja: “Ao participar realmente do corpo do Senhor, na fracção do pão eucarístico, somos elevados à comunhão com Ele e entre nós” (LG 7). Esta união funda-se na escritura e na tradição, de acordo com 1 Cor 10, 17: “Uma vez que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, porque todos participamos desse único Pão”.
       Resumindo, pelo baptismo somos introduzidos numa participação na vida divina que nos abre a uma participação na vida eclesial, alimentada pela nossa participação na liturgia. Através desta participação “todos, segundo o seu modo próprio, cooperam na obra comum” (LG 30).
       Participar, ter consciência de si diante do outro, permite a cada um afirmar-se como sujeito, capaz de dizer e dizer-se, pensar e afirmar, decidir e executar. E isto vale também para o que denominamos “Igrejas locais”, as dioceses, onde a Igreja universal se revê e se concretiza num determinado tempo e espaço.
       Antes do último concílio, a Igreja católica apresentava- -se como uma Igreja uniformemente romana, aparecendo como uma única e vasta diocese, onde o Papa sozinho pensava e decidia por todos e onde os bispos eram meros executantes. A reflexão conciliar, apoiada pelo pensamento de teólogos e pastores que, antes do Concílio, manifestavam outras opções e proponham outros caminhos, proporcionou um ressurgimento das Igrejas locais. Por exemplo, os documentos conciliares confirmam as conferências episcopais existentes e determinam a sua existência por todo o mundo católico (CD 36-38), desejando que mantenham ligações enentre si (CD 38), fazem referência aos conselhos presbiterais (PO 7), aos conselhos pastorais (CD 27) e aos conselhos para o apostolado dos leigos (AA 26), ao mesmo tempo que abordam o ressurgimento dos sínodos e dos concílios provinciais (CD 36) e é neste contexto que aparece também a sugestão de instalar um sínodo dos bispos junto do Papa (CD 5).
       Como escreveu W. Kasper, "a eclesiologia de comunhão põe fim ao modelo de uma pastoral que se entende somente como um cuidar dos fiéis e como uma simples resposta às suas necessidades. Ela visa o ser-sujeito da Igreja e de todos na Igreja" (A Teologia e a Igreja).
       Tal como se reconhece capacidade às dioceses para serem sujeito de opções e ritmos diferenciados dentro da unidade eclesial que sempre se deve manter, também se reconhece o mesmo para os baptizados: todos são convidados a serem membros activos e participativos, a tornarem-se sujeito dentro da Igreja.
 
FONTE: Jornal diocesano VOZ DE LAMEGO, n.º 4249, de 28 de janeiro de 2014.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Conselhos Pastorais - Povo de Deus

       Os conselhos pastorais fazem parte das inovações que modificaram a vida das paróquias depois do Concílio Vaticano II. Para compreendermos tal entusiasmo importa apenas referir a noção de “Povo de Deus” apresentada na constituição dogmática Lumen gentium (LG) e como isso abre uma nova via para pensar o lugar de todos na vida da Igreja.
       O primeiro esquema deste documento (1962) propunha um texto que se identificava com outros anteriores e colocava a hierarquia antes e o laicado no final. Um primeiro debate promove alterações ao texto e, após sugestões sucessivas, é aprovado o texto actual, em 1964. Uma das alterações mais visíveis, e que importa sublinhar aqui, é a colocação do capítulo sobre o Povo de Deus antes da parte que aborda a hierarquia. Há uma inversão da disposição dos capítulos que é muito mais que a mudança na disposição do conteúdo. Colocar antes a realidade do Povo de Deus contribui de forma decisiva para uma procura do equilíbrio eclesiástico do todo. O Povo de Deus é anterior à hierarquia, concebendo-se a Igreja, na sua totalidade, como unidade e permitindo colocar antes a noção de comunidade, ao mesmo tempo que permite situar os ministros. A partir daqui não é o leigo que se define face ao clérigo, mas é o padre que se apresenta com uma função particular em referência ao Povo de Deus.
       É esta nova perspectiva que permite aos Padres conciliares reconhecer que “a todo o discípulo incumbe o encargo de difundir a fé, segundo a própria medida” (LG 17). A Igreja é reconhecida como uma realidade comum que pertence a todos; melhor, que está para lá dos seus membros.
       É o Espírito Santo que move toda a Igreja, todo o povo de Deus, para continuar a obra da criação e da Redenção, “a cooperar para que o desejo de Deus que fez de Cristo o princípio de salvação para todo o mundo se realize totalmente” (LG 17).
       Este aspecto comunitário, que emerge através da introdução da noção de Povo de Deus, revela a pertinência de pensar a Igreja a partir de todos os seus membros. Este “todos” pode ser associado a uma outra noção, particularmente fecunda para o Concílio, a de “participação”.

FONTE: Jornal diocesano VOZ DE LAMEGO, n.º 4248, de 21 de janeiro de 2014.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Bento XVI - a Alegria da Fé

BENTO XVI. A Alegria da Fé. Paulinas Editora. Prior Velho 2012
        O Papa Bento XVI é uma comunicador por excelência, porque comunica o que lhe vai na alma, fruto de uma experiência profunda de fé, na proximidade com Jesus Cristo, enxertado e mergulhado na história da Igreja, como estudioso, sacerdote, professor, catedrático, pastor, bispo, e como "humilde servidor da vinha do Senhor", desde 19 de abril de 2005 a 28 de fevereiro de 2013. Depois de convocar o Ano Paulino (2000 anos do nascimento de São Paulo) , de convocar o Ano Sacerdotal, convocou o Ano da Fé, a estender-se de 11 de outubro de 2012 (50 anos após o início do Vaticano II e 20 anos após a publicação do Catecismo da Igreja Católica) a 24 de novembro de 2013, solenidade do Cristo Rei do Universo.
       Num ambiente largamente fragmentado, em que ideias/ideologias, convicções, religiões, tudo é igual, marcado por doses significativas de indiferença em relação aos outros, de marginalização e privatização da fé e do fenómeno religioso, sobretudo na Europa e no mundo ocidental ou ocidentalizado, em que as prioridades na sua maioria são novas e velhas formas de escravização, colocando a economia no lugar de Deus, liberalizando e mercantilizando a vida, destruindo os mais frágeis, ser humanos por nascer e idosos vulneráveis arrumados para não incomodar... a convocação do Ano da Fé traz consigo o propósito de mostrar como a Luz da Fé clarifica o que é verdadeiramente importante. Para os cristãos a Porta da Fé é Jesus Cristo, que nos traz Deus, que nos abre a mente e o coração para os valores da vida, para a dinàmica e a essencialidade do amor e da verdade, para a prioridade da pessoa face ao mercado liberalizado e utilitarista.
       Um dos desideratos sublinhados por Bento XVI é a ALEGRIA da fé, a alegria de nos sabermos amados por Deus, nos descobrimos filhos no Filho, redimidos na morte e na ressurreição de Jesus, vastidão do Amor de Deus que clama por amor. Reconhecendo que vivemos no amor de Deus, a urgência de comunicá-lo aos outros para que que todos caminhemos como irmãos, na descoberta constante dos laços de ternura e de amizade que nos unem, na edificação do reino de justiça, de paz e de bem.
       Nesta publicação, Giuliano Vigini faz um apanhado de diversos textos de Bento XVI, homilias, mensagens, discursos, intervenções, cartas encíclicas, ajeitando-os nos grandes temas que nos remetem para o Credo, do Credo para a comunidade, da comunidade para o mundo inteiro: Creio em Deus Pai, Jesus Cristo, Espírito Santo, Igreja, Vida Eterna, Ressurreição dos mortos e comunhão Santos, Sacramentos, Eucaristia, Confirmação, Penitência, Batismo.
       Para aqueles que estão familiarizados com a escrita de Bento XVI têm aqui mais uma oportunidade de se deixarem tocar pela leveza, simplicidade, envolvência, como se estivesse a ouvir e não a ler, tal é a intensidade do texto, a clareza, assomando uma fé profunda, vivida, partilhada, com diversas experiências de vida, dentro da Igreja e em ambientes diversificados. É certo que nestes dias o olhar se fixa mais facilmente no Papa Francisco e na fluidez e espontaneidade do seu discurso e dos seus gestos, mas, para quem não for preconceituoso (em relação ao Papa alemão), não há antagonismo. Estou em crer que quem apreciar ao forma de comunicar de Francisco não terá dificuldade em entender a mensagem de Bento XVI, ainda que aqui ou acolá possam relevar a especificidade de cada um dos Papas, mas a leveza é demasiado similar.
       Para quem se tem deixado tocar pela presença, pelas palavras, pelos gestos do Papa Francisco, e que sempre se sentiu mais distante de Bento XVI, e se calhar nunca o escutou com atenção, com o coração, ou não o leu, terá aqui uma excelente oportunidade para de fazer uma juízo de valor mais equilibrado. São pedaços de uma vida preenchido, transparecendo a Luz de Jesus Cristo, pelo Espírito Santo, na Igreja que formamos.
       Vai valer a pena deixar-se contagiar pela alegria da Fé, que irradia das intervenções de Bento XVI.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Vaticano II - Ser humano diante da morte

       É em face da morte que o enigma da condição humana mais se adensa. Não é só a dor e a progressiva dissolução do corpo que atormentam o homem, mas também, e ainda mais, o temor de que tudo acabe para sempre. Mas a intuição do próprio coração fá-lo acertar, quando o leva a aborrecer e a recusar a ruína total e o desaparecimento definitivo da sua pessoa. O germe de eternidade que nele existe, irredutível à pura matéria, insurge-se contra a morte. Todas as tentativas da técnica, por muito úteis que sejam, não conseguem acalmar a ansiedade do homem: o prolongamento da longevidade biológica não pode satisfazer aquele desejo duma vida ulterior, invencìvelmente radicado no seu coração.

In Gaudium et Spes, n.º 18: AQUI.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Vaticano II - esperanças e temores na atualidade

       Para levar a cabo esta missão, é dever da Igreja investigar a todo o momento os sinais dos tempos, e interpretá-los à luz do Evangelho; para que assim possa responder, de modo adaptado em cada geração, às eternas perguntas dos homens acerca do sentido da vida presente e da futura, e da relação entre ambas. É, por isso, necessário conhecer e compreender o mundo em que vivemos, as suas esperanças e aspirações, e o seu carácter tantas vezes dramático. Algumas das principais características do mundo actual podem delinear-se do seguinte modo.
       A humanidade vive hoje uma fase nova da sua história, na qual profundas e rápidas transformações se estendem progressivamente a toda a terra. Provocadas pela inteligência e actividade criadora do homem, elas reincidem sobre o mesmo homem, sobre os seus juízos e desejos individuais e colectivos, sobre os seus modos de pensar e agir, tanto em relação às coisas como às pessoas. De tal modo que podemos já falar duma verdadeira transformação social e cultural, que se reflecte também na vida religiosa.
       Como acontece em qualquer crise de crescimento, esta transformação traz consigo não pequenas dificuldades. Assim, o homem, que tão imensamente alarga o próprio poder, nem sempre é capaz de o pôr ao seu serviço. Ao procurar penetrar mais fundo no interior de si mesmo, aparece frequentemente mais incerto a seu próprio respeito. E, descobrindo gradualmente com maior clareza as leis da vida social, hesita quanto à direcção que a esta deve imprimir.
       Nunca o género humano teve ao seu dispor tão grande abundância de riquezas, possibilidades e poderio económico; e, no entanto, uma imensa parte dos habitantes da terra é atormentada pela fome e pela miséria, e inúmeros são ainda os analfabetos. Nunca os homens tiveram um tão vivo sentido da liberdade como hoje, em que surgem novas formas de servidão social e psicológica. Ao mesmo tempo que o mundo experimenta intensamente a própria unidade e a interdependência mútua dos seus membros na solidariedade necessária, ei-lo gravemente dilacerado por forças antagónicas; persistem ainda, com efeito, agudos conflitos políticos, sociais, económicos, «raciais» e ideológicos, nem está eliminado o perigo duma guerra que tudo subverta. Aumenta o intercâmbio das ideias; mas as próprias palavras com que se exprimem conceitos da maior importância assumem sentidos muito diferentes segundo as diversas ideologias. Finalmente, procura-se com todo o empenho uma ordem temporal mais perfeita, mas sem que a acompanhe um progresso espiritual proporcionado.
       Marcados por circunstâncias tão complexas, muitos dos nossos contemporâneos são incapazes de discernir os valores verdadeiramente permanentes e de os harmonizar com os novamente descobertos. Daí que, agitados entre a esperança e a angústia, sentem-se oprimidos pela inquietação, quando se interrogam acerca da evolução actual dos acontecimentos. Mas esta desafia o homem, força-o até a uma resposta.

In Gaudium et Spes, n.º 4: AQUI.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Leituras: RINO FISICHELA - A Nova Evangelização

R. FISICHELA. A Nova Evangelização. Um desafio para sair da indiferença. Paulus Editora. Lisboa 2012, 176 páginas.
       O autor é nada mais nada menos que o Presidente do Pontíficio Conselho para Promoção da Nova Evangelização. Em 2010, o Arcebispo Fisichela foi chamado por Bento XVI para uma Audiência, como é relatado no início deste livro. Não poderia imaginar que o Papa pretendia criar este novo discatério e que o seu primeiro presidente seria precisamente o autor. A partir daqui se contrói esta reflexão sobre a Nova Evangelização.
       Fisichela faz uma viagem pelas origens da Nova Evangelização, a utilização do termo, na América Latina, a divulgação e aprofundamento pelo Papa João Paulo II, a intuição presente no concílio Vaticano II, e o contributo do Papa Paulo VI, que sem usar a terminologia já desafiava à nova evangelização, voltar de novo aos lugares onde o cristianismo era conhecido, tinha sido vivido e precisava de novo vigor, para que o divórcio entre a fé e a cultura, a Igreja e a sociedade pudesse ser dirimido.
       Uma parte significativa desta reflexão traz-nos a intuição de Bento XVI que dá forma e força à necessidade da nova evangelização, mormente numa Europa adormecida, indiferente, contraditória. Em 2012, celebrava-se em Roma o Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização para a transmissão da fé cristã, dando maior visibilidade a esta urgência. Aguarda-se a publicação da Exortação Apostólica pós-sinodal, agora já com o papa Francisco.
       O autor fala dos fundamentos, mas também dos conteúdos a priviligiar, naquela que é uma missão imprescindível de anunciar o Evangelho de Jesus Cristo, em toda a parte, em todos os ambientes, em palavras e obras, sobretudo com a coerência de vida, ontem como hoje.
       É uma leitura leve e interessante, acessível e pertinente. Quando fala dos autores da nova evangelização traz pouca novidade, podendo ter feito um breve resumo de meia dúzia de linahs, já que segue de perto as intuições de documentos papais.
      De grande beleza a reflexão sobre a Catedral e especificamente a catequese á volta da Basílica da Sagrada Família, em Barcelona.

A visão de D. António Couto, Bispo de Lamego e responsável da Comissão Episcopal das Missões e Nova Evangelização: AQUI.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

FRANCISCO - Pastor para uma nova época

Michel COOL e António MARUJO. Francisco, Pastor para uma nova época. Paulinas Editora. Prior Velho 2013, 192 páginas.
       Da surpresa inicial à descoberta de uma postura coerente de vida, na proximidade de Jesus Cristo, na humildade mas também na frontalidade, na proximidade com as pessoas, independentemente do seu bilhete de identidade.
       Gestos e palavras do novo Papa, têm suscitado críticas muito positivas. Já aqui recomendámos livros sobre o Papa Francisco, e já recomendámos escritos, intervenções, homilias, mensagens, do então Cardeal de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio.
       Hoje sugerimos a leitura deste livro, que é uma espécie de 2 em 1. Sob o mesmo título, dois textos sobre Francisco, Papa eleito a 13 de março de 2013 e que logo suscitou grande curiosidade por ser pouco conhecido para a maioria das pessoas, pelo menos nesta região do globo.
       A primeira parte do livro é da autoria de Michel Cool, francês, repórter especializado em temas religiosos. Sob o título - Francisco, Papa do novo mundo -, trata-se de uma biografia que acompanha o Papa desde as origens, a família, a vocação, o episcopado, e os primeiros dias do Pontificado, como Francisco, procurando um estilo que o identifica como humildes, simples, autêntico. O trabalho aponta 10 prioridades para o Papa e para a Igreja, os dossiers urgentes, revisitando alguns dos textos do então Cardeal, bem como o testemunho de algumas personalidades aquando da Sua eleição surpresa - ou não tanto assim.
       Na parte final apresenta um pequeno abecedário com pronunciamentos do Papa Francisco/Bergoglio: aborto, bispo, Buenos Aires, Economi, Futebol, Humildade, Migrantes, Tango, Verdade, e outros temas.
       A segunda parte é da responsabilidade de António Marujo, jornalista português, e que se dedica sobretudo a temas religiosos. O seu livro, mencionado pela Editora, Deus vem a Público, apresenta diversas entrevistas, feitas ao longo de 10 anos, às mais importantes personalidades do universo religioso.
       Sete desafios à Igreja do Papa Francisco, é o título da reflexão de António Marujo. Partindo da originalidade/especificidade do Papa Francisco, o autor reflete sobre os grandes desafios que se levantam para a Igreja, dentro e fora, na relação com o mundo, no diálogo ecuménico e inter-regioso, seguindo a via do diálogo, da humildade, da verdade, da simplicidade, vivendo na dinâmica do evangelho, com a herança do Vaticano II, em atitude de conversão a Jesus e ao Seu evangelho de amor, e de fidelidade à vontade de Deus, no serviço dos mais frágeis, Igreja dos pobres e a caminho das periferias. Um dos aspetos a ter em conta: a Igreja, nas suas diversas estruturas deverá estar orientada para o serviço das pessoas, transparecendo o Evangelho e evitando burocracias que afastem e dividam.
       Se o título nos leva de imediato para o papado de Francisco, nas suas linhas gerais, os dois autores prestam uma enorme homenagem ao Papa Bento XVI. A comunicação, como a generalidade das pessoas, têm acentuado a postura de Francisco em relação a Bento XVI, e indiretamente a João Paulo II ou outros Papa, comparando-o sobretudo com o Bom Papa João XXIII. Curiosamente, quando os autores destes dois trabalhos abordam os desafios para a Igreja, no compromisso com o mundo atual, em atitude de serviço e de verdade, mostram como Bento XVI desencadeou processos, aprofundou vivências, atuou com firmeza em situações que mereciam atenção, com humildade na relação com as pessoas, convidando à autenticidade, denunciando o carreirismo dentro da Igreja, desafiando à vivência da fé traduzida em caridade.
       Lendo os textos do próprio Papa, enquanto Cardeal, ou já como Papa, cada um poderá tirar ilações da sua maneira de falar, de ver a Igreja e do mundo, da sua forma de se mover. Os gestos têm ajudado muito. Os livros sobre o Papa podem ajudar-nos a melhor interpretar as mensagens e os gestos papais.

domingo, 9 de junho de 2013

Escola de Fé - Creio na Santa Igreja - Pe. João Carlos

       Procuramos responder à iniciativa do nosso Bispo, D. António, de formar nos Arciprestados, nas zonas pastorais e/ou nas paróquias, escolas de vivência da Fé, dedicando tempo e espaço à formação de adultos, ao aprofundamento da da fé, da mensagem de Jesus Cristo, num propósito que deverá ser de todas as dioceses do país, resultado também do pedido dos leigos aquando do inquérito sobre a pastoral da Igreja em Portugal.
       Na passada sexta-feira, 7 de junho, solenidade do Sagrado Coração de Jesus, tivemos entre nós o Pe. João Carlos para abordar mais um elemento do Credo, da nossa identidade cristã-católica. Desta feita, na Igreja Paroquial. O Pe. João Carlos, servindo-se de um diaporama sobre a Constituição Dogmática Lumen Gentium, exarado do Concílio Vaticano II, aprofundou o tema da Igreja, do compromisso eclesial de todos os cristãos, sublinhando o papel dos leigos, dentro e fora da Igreja, a abertura da igreja para outros credos, e para as realidades circundantes. Durante a reflexão foi deixando um testemunho pessoal da forma de viver a fé em diferentes realidades.
       Sobre a Igreja, a abertura da mesma para outras confissões religiosas e para outras religiões. Além disso, sublinhando também o lugar dos santos, a quem devemos chatear. A Igreja não os adora, mas se estão mais perto de Deus, também a sua intercessão está mais próxima. Olhando a partir das três portas que estão na fachada da Sé Catedral de Lamego, a concepção da Igreja "tripartida", porta de entrada no Céu, com os santos, porta da Igreja peregrina, por onde entramos e caminhamos, e a Igreja em purgatório.
       Algumas fotos de mais uma sessão da Escola de Fé:








Para outras fotos da Escola de Fé, visite a página:

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Bento XVI - a vivência do Concílio Vaticano II

       "É assim que a Igreja cresce: juntamente com Pedro, confessando Cristo, seguindo Cristo. E façamo-lo sempre. Eu estou muito agradecido pela vossa oração, que pude sentir – como disse quarta-feira – quase fisicamente. Embora agora me retire, na oração continuo sempre unido a todos vós e tenho a certeza de que também vós estareis unidos a mim, apesar de permanecer oculto para o mundo.
       Devido às condições da minha idade, não pude preparar, para hoje, um grande e verdadeiro discurso, como alguém poderia esperar; eu pensava mais numa breve conversa sobre o Concílio Vaticano II, tal como eu o vi..."
Vaticano II, sobre a Liturgia:
       "Eu diria que havia diversas: sobretudo o Mistério Pascal como centro do ser cristão e, consequentemente, da vida cristã, do ano, do tempo cristão, expresso no tempo pascal e no domingo que é sempre o dia da Ressurreição. Sempre de novo começamos o nosso tempo com a Ressurreição, o encontro com o Ressuscitado, e, do encontro com o Ressuscitado, saímos para o mundo. Neste sentido, é uma pena que hoje o domingo se tenha transformado em fim de semana, quando na verdade é o primeiro dia, é o início. Interiormente devemos ter isto presente: é o início, o início da Criação, é o início da recriação na Igreja, encontro com o Criador e com Cristo Ressuscitado. Também este duplo conteúdo do domingo é importante: é o primeiro dia, isto é, a festa da criação, o nosso fundamento continua a ser a Criação, acreditamos em Deus Criador; e encontro com o Ressuscitado, que renova a Criação; o seu verdadeiro objectivo é criar um mundo que seja resposta ao amor de Deus"

Vaticano II, sobre a Igreja:
       "Nós somos a Igreja, a Igreja não é uma estrutura; nós, os próprios cristãos juntos, todos nós somos o Corpo vivo da Igreja. Naturalmente isto é válido no sentido que o nós, o verdadeiro «nós» dos crentes, juntamente com o «Eu» de Cristo é a Igreja; cada um de nós, não «um nós», um grupo que se declara Igreja. Isso não! Este «nós somos Igreja» exige precisamente a minha inserção no grande «nós» dos crentes de todos os tempos e lugares. Assim temos a primeira ideia: completar a eclesiologia de modo teológico, mas continuando também de modo estrutural, ou seja, ao lado da sucessão de Pedro, da sua função única, definir melhor também a função dos Bispos, do Corpo Episcopal. E, para fazer isso, encontrou-se a palavra «colegialidade», muito discutida, com discussões acesas, diria mesmo, um pouco exageradas. Mas era a palavra – talvez houvesse ainda outra, mas esta servia – para exprimir que os Bispos, juntos, são a continuação dos Doze, do Corpo dos Apóstolos. Dissemos: só um Bispo, o de Roma, é sucessor de um determinado apóstolo, de Pedro. Todos os outros tornam-se sucessores dos Apóstolos, entrando no Corpo que continua o Corpo dos Apóstolos. Precisamente assim o Corpo dos Bispos, o colégio, é a continuação do Corpo dos Doze, e deste modo se vê a sua necessidade, a sua função, os seus direitos e deveres. A muitos aparecia como uma luta pelo poder, e talvez algum tenha pensado também ao seu poder, mas substancialmente não se tratava de poder, mas da complementaridade dos factores e do completamento do Corpo da Igreja com os Bispos, sucessores dos Apóstolos, como pedra angular; e cada um deles, unido a este grande Corpo, é pedra angular da Igreja".
Vaticano II, sobre a Revelação:
       "Ainda mais conflituoso era o problema da Revelação. Tratava-se da relação entre Escritura e Tradição, e aqui apareciam sobretudo os exegetas interessados numa maior liberdade; sentiam-se um pouco – digamos – em situação de inferioridade relativamente aos protestantes, que faziam as grandes descobertas, enquanto os católicos se viam um pouco como «deficientes» pela necessidade de se submeter ao Magistério. Por conseguinte, aqui estava em jogo uma luta também muito concreta: Que liberdade têm os exegetas? Como se pode ler bem a Escritura? Que quer dizer Tradição? Era uma batalha pluridimensional que não posso mostrar agora; o importante é que a Escritura é de certeza a Palavra de Deus, e a Igreja está sob a Escritura, obedece à Palavra de Deus, não está acima da Escritura. E, no entanto, a Escritura só é Escritura porque existe a Igreja viva, o seu sujeito vivo; sem o sujeito vivo da Igreja, a Bíblia é apenas um livro que abre, se abre para diferentes interpretações sem dar uma derradeira clareza...

Vaticano II, sobre o ecumenismo e a liberdade religiosa:
       O horizonte da segunda parte do Concílio é muito mais vasto. Apresentava-se, com grande urgência, o tema: O mundo de hoje, a época moderna, e a Igreja; e, relacionado com o mesmo, os temas da responsabilidade pela construção deste mundo, da sociedade, a responsabilidade pelo futuro deste mundo e esperança escatológica, a responsabilidade ética do cristão, onde poderá encontrar os seus guias; e, depois, a liberdade religiosa, o progresso e a relação com as outras religiões. Nesta altura, participam realmente na discussão todas as latitudes presentes no Concílio; não só a América, os Estados Unidos…, com um grande interesse pela liberdade religiosa. No terceiro período, estes disseram ao Papa: Não podemos voltar para casa sem levar, na nossa bagagem, uma declaração sobre a liberdade religiosa votada pelo Concílio. Todavia o Papa, com firmeza e decisão, teve a paciência de levar o texto para o quarto período, a fim de encontrar uma maturação e um consenso suficientemente completos entre os Padres do Concílio. Como dizia, jogaram um papel forte no Concílio não só os norte-americanos, mas também a América Latina, bem conhecedora da miséria do povo, de um continente católico, e da responsabilidade da fé pela situação daquela gente. E de igual modo a África, a Ásia, que viram a necessidade do diálogo inter-religioso; despontaram problemas que nós, alemães, – é justo que o diga – no início não tínhamos visto. Não posso agora descrever tudo isto. O grande documento «Gaudium et spes» analisou muito bem os problemas da escatologia cristã e progresso do mundo, da responsabilidade pela sociedade de amanhã e responsabilidade do cristão face à eternidade, tendo assim também renovado a ética cristã, os fundamentos. Mas inesperadamente – digamos – cresceu, ao lado deste grande documento, outro documento que dava resposta, de forma mais sintética e concreta, aos desafios do tempo: a «Nostra aetate». Desde o início, estavam presentes os nossos amigos judeus, que nos disseram a nós, alemães, sobretudo, mas não só a nós, que depois dos tristes acontecimentos deste século nazista, da década nazista, a Igreja Católica deve dizer uma palavra sobre o Antigo Testamento, sobre o povo judeu. Diziam: embora seja claro que a Igreja não é responsável pelo Shoah, todavia uma grande parte daqueles que cometeram tais crimes eram cristãos; devemos aprofundar e renovar a consciência cristã, mesmo sabendo bem que os verdadeiros crentes sempre resistiram contra essas coisas. Tornava-se assim claro que a relação com o mundo do antigo Povo de Deus devia ser objecto de reflexão. É compreensível também que os países árabes – os Bispos dos países árabes – não tivessem ficado felizes com esta possibilidade: temiam em certa medida uma glorificação do Estado de Israel, que naturalmente não queriam. E disseram: Uma indicação verdadeiramente teológica sobre o povo judeu é boa, é necessária, mas, se falardes disso, falai também do Islão; só assim se restabelecerá o equilíbrio; também o Islão é um grande desafio, e a Igreja deve esclarecer igualmente a sua relação com o Islão. Eis uma realidade que então nós quase não compreendemos: um pouco, sim, mas não muito. Hoje sabemos como era necessário!"
O verdadeiro Concílio:
       "Agora quero acrescentar ainda um terceiro ponto: havia o Concílio dos Padres – o verdadeiro Concílio – mas havia também o Concílio dos meios de comunicação, que era quase um Concílio aparte. E o mundo captou o Concílio através deles, através dos mass-media. Portanto o Concílio, que chegou de forma imediata e eficiente ao povo, foi o dos meios de comunicação, não o dos Padres. E enquanto o Concílio dos Padres se realizava no âmbito da fé, era um Concílio da fé que faz apelo ao intellectus, que procura compreender-se e procura entender os sinais de Deus naquele momento, que procura responder ao desafio de Deus naquele momento e encontrar, na Palavra de Deus, a palavra para o presente e o futuro, enquanto todo o Concílio – como disse – se movia no âmbito da fé, como fides quaerens intellectum, o Concílio dos jornalistas, naturalmente, não se realizou no âmbito da fé, mas dentro das categorias dos meios de comunicação actuais, isto é, fora da fé, com uma hermenêutica diferente. Era uma hermenêuticos política: para os mass-media, o Concílio era uma luta política, uma luta de poder entre diversas correntes da Igreja".

no Encontro de Bento XVI com o clero de Roma, 14 de fevereiro de 2013: AQUI

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Semana de Oração pelas Vocações

Mensagem de Bento XVI para o 50º Dia Mundial de Oração pelas Vocações
21 de Abril de 2013 - 4.º Domingo de Páscoa

As vocações sinal da esperança fundada na fé


Amados irmãos e irmãs!
       No quinquagésimo Dia Mundial de Oração pelas Vocações que será celebrado no IV Domingo de Páscoa, 21 de Abril de 2013, desejo convidar-vos a reflectir sobre o tema «As vocações sinal da esperança fundada na fé», que bem se integra no contexto do Ano da Fé e no cinquentenário da abertura do Concílio Ecuménico Vaticano II. Decorria o período da Assembleia conciliar quando o Servo de Deus Paulo VI instituiu este Dia de unânime invocação a Deus Pai para que continue a enviar operários para a sua Igreja (cf. Mt 9,38). «O problema do número suficiente de sacerdotes – sublinhava então o Sumo Pontífice– interpela todos os fiéis, não só porque disso depende o futuro da sociedade cristã, mas também porque este problema é o indicador concreto e inexorável da vitalidade de fé e amor de cada comunidade paroquial e diocesana, e o testemunho da saúde moral das famílias cristãs. Onde desabrocham numerosas as vocações para o estado eclesiástico e religioso, vive-se generosamente segundo o Evangelho» (Paulo VI, Radiomensagem, 11 de Abril de 1964).
       Nestas cinco décadas, as várias comunidades eclesiais dispersas pelo mundo inteiro têm-se espiritualmente unido todos os anos, no IV Domingo de Páscoa, para implorar de Deus o dom de santas vocações e propor de novo à reflexão de todos a urgência da resposta à chamada divina. Na realidade, este significativo encontro anual tem favorecido fortemente o empenho por se consolidar sempre mais, no centro da espiritualidade, da acção pastoral e da oração dos fiéis, a importância das vocações para o sacerdócio e a vida consagrada.
       A esperança é expectativa de algo de positivo para o futuro, mas que deve ao mesmo tempo sustentar o nosso presente, marcado frequentemente por dissabores e insucessos. Onde está fundada a nossa esperança? Olhando a história do povo de Israel narrada no Antigo Testamento, vemos aparecer constantemente, mesmo nos momentos de maior dificuldade como o exílio, um elemento que os profetas de modo particular não cessam de recordar: a memória das promessas feitas por Deus aos Patriarcas; memória essa que requer a imitação do comportamento exemplar de Abraão, o qual – como sublinha o Apóstolo Paulo – «foi com uma esperança, para além do que se podia esperar, que ele acreditou e assim se tornou pai de muitos povos, conforme o que tinha sido dito: Assim será a tua descendência» (Rm 4,18). Então, uma verdade consoladora e instrutiva que emerge de toda a história da salvação é a fidelidade de Deus à aliança, com a qual Se comprometeu e que renovou sempre que o homem a rompeu pela infidelidade, pelo pecado, desde o tempo do dilúvio (cf. Gn 8,21-22) até ao êxodo e ao caminho no deserto (cf. Dt 9,7); fidelidade de Deus que foi até ao ponto de selar anova e eterna aliança com o homem por meio do sangue de seu Filho, morto e ressuscitado para a nossa salvação.
       Em todos os momentos, sobretudo nos mais difíceis, é sempre a fidelidade do Senhor – verdadeira força motriz da história da salvação–que faz vibrar os corações dos homens e mulheres e os confirma na esperança de chegar um dia à «Terra Prometida». O fundamento seguro de toda a esperança está aqui: Deus nunca nos deixa sozinhos e permanece fiel à palavra dada. Por este motivo, em toda a situação, seja ela feliz ou desfavorável, podemos manter uma esperança firme, rezando como salmista: «Só em Deus descansa a minha alma, d'Ele vem a minha esperança» (Sl62/61,6). Portanto ter esperança equivale a confiar no Deus fiel, que mantém as promessas da aliança. Por isso, a fé e a esperança estão intimamente unidas. A esperança «é, de facto, uma palavra central da fé bíblica, a ponto de, em várias passagens, ser possível intercambiar os termos “fé” e “esperança”. Assim, a Carta aos Hebreus liga estreitamente a “plenitude da fé” (10,22) com a “imutável profissão da esperança” (10,23). De igual modo, quando a Primeira Carta de Pedro exorta os cristãos a estarem sempre prontos a responder a propósito do logos – o sentido e a razão – da sua esperança (3,15), “esperança” equivale a “fé”» (Enc. Spe salvi, 2).
       Amados irmãos e irmãs, em que consiste a fidelidade de Deus à qual podemos confiar-nos com firme esperança? Consiste no seu amor. Ele, que é Pai, derrama o seu amor no mais íntimo de nós mesmos, através do Espírito Santo (cf.Rm 5,5).E é precisamente este amor, manifestado plenamente em Jesus Cristo, que interpela a nossa existência, pedindo a cada qual uma resposta a propósito do que quer fazer da sua vida e quanto está disposto a apostar para a realizar plenamente. Por vezes o amor de Deus segue percursos surpreendentes, mas sempre alcança a quantos se deixam encontrar. Assim a esperança nutre-se desta certeza: «Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele» (1 Jo 4,16). E este amor exigente e profundo, que vai além da superficialidade, infunde-nos coragem, dá-nos esperança no caminho da vida e no futuro, faz-nos ter confiança em nós mesmos, na história e nos outros. Apraz-me repetir, de modo particular a vós jovens, estas palavras: «Que seria da vossa vida, sem este amor? Deus cuida do homem desde a criação até ao fim dos tempos, quando completar o seu desígnio de salvação. No Senhor ressuscitado, temos a certeza da nossa esperança» (Discurso aos jovens da diocese de São Marino-Montefeltro, 19 de Junho de 2011).
        Também hoje, como aconteceu durante a sua vida terrena, Jesus, o Ressuscitado, passa pelas estradas da nossa vida e vê-nos imersos nas nossas actividades, com os nossos desejos e necessidades. É precisamente no nosso dia-a-dia que Ele continua a dirigir-nos a sua palavra; chama-nos a realizar a nossa vida com Ele, o único capaz de saciar a nossa sede de esperança. Vivente na comunidade de discípulos que é a Igreja, Ele chama também hoje a segui-Lo. E este apelo pode chegar em qualquer momento. Jesus repete também hoje: «Vem e segue-Me!» (Mc10,21). Para acolher este convite, é preciso deixar de escolher por si mesmo o próprio caminho. Segui-Lo significa entranhar a própria vontade na vontade de Jesus, dar-Lhe verdadeiramente a precedência, antepô-Lo a tudo o que faz parte da nossa vida :família, trabalho, interesses pessoais, nós mesmos. Significa entregar-Lhe a própria vida, viver com Ele em profunda intimidade, por Ele entrar em comunhão com o Pai no Espírito Santo e, consequentemente, com os irmãos e irmãs. Esta comunhão de vida com Jesus é o «lugar» privilegiado onde se pode experimentara esperança e onde a vida será livre e plena.
       As vocações sacerdotais e religiosas nascem da experiência do encontro pessoal com Cristo, do diálogo sincero e familiar com Ele, para entrar na sua vontade. Por isso, é necessário crescer na experiência de fé, entendida como profunda relação com Jesus, como escuta interior da sua voz que ressoa dentro de nós. Este itinerário, que torna uma pessoa capaz de acolher a chamada de Deus, é possível no âmbito de comunidades cristãs que vivem uma intensa atmosfera de fé, um generoso testemunho de adesão ao Evangelho, uma paixão missionária que induza a pessoa à doação total de si mesma pelo Reino de Deus, alimentada pela recepção dos sacramentos, especialmente a Eucaristia, e por uma fervorosa vida de oração. Esta «deve, por um lado, ser muito pessoal, um confronto do meu eu com Deus, com o Deus vivo; mas, por outro, deve ser incessantemente guiada e iluminada pelas grandes orações da Igreja e dos santos, pela oração litúrgica, na qual o Senhor nos ensina continuamente a rezar de modo justo» (Enc. Spe salvi, 34).
       A oração constante e profunda faz crescer a fé da comunidade cristã, na certeza sempre renovada de que Deus nunca abandona o seu povoe que o sustenta suscitando vocações especiais, para o sacerdócio e para a vida consagrada, que sejam sinais de esperança para o mundo. Na realidade, os presbíteros e os religiosos são chamados a entregar-se de forma incondicional ao Povo de Deus, num serviço de amor ao Evangelho e à Igreja, num serviço àquela esperança firme que só a abertura ao horizonte de Deus pode gerar.
       Assim eles, com o testemunho da sua fé e com o seu fervor apostólico, podem transmitir, em particular às novas gerações, o ardente desejo de responder generosa e prontamente a Cristo, que chama a segui-Lo mais de perto. Quando um discípulo de Jesus acolhe a chamada divina para se dedicar ao ministério sacerdotal ou à vida consagrada, manifesta-se um dos frutos mais maduros da comunidade cristã, que ajuda a olhar com particular confiança e esperança para o futuro da Igreja e o seu empenho de evangelização. Na verdade, sempre terá necessidade de novos trabalhadores para a pregação do Evangelho, a celebração da Eucaristia, o sacramento da Reconciliação.
       Por isso, oxalá não faltem sacerdotes zelosos que saibam estar ao lado dos jovens como «companheiros de viagem», para os ajudarem, no caminho por vezes tortuoso e obscuro da vida, a reconhecer Cristo, Caminho, Verdade e Vida (cf. Jo 14,6); para lhes proporem com coragem evangélica a beleza do serviço a Deus, à comunidade cristã, aos irmãos. Não faltem sacerdotes que mostrem a fecundidade de um compromisso entusiasmante, que confere um sentido de plenitude à própria existência, porque fundado sobre a fé n'Aquele que nos amou primeiro (cf. 1 Jo 4,19).
       Do mesmo modo, desejo que os jovens, no meio de tantas propostas superficiais e efémeras, saibam cultivar a atracção pelos valores, as metas altas, as opções radicais por um serviço aos outros seguindo os passos de Jesus. Amados jovens, não tenhais medo de O seguir e de percorrer os caminhos exigentes e corajosos da caridade e do compromisso generoso. Sereis felizes por servir, sereis testemunhas daquela alegria que o mundo não pode dar, sereis chamas vivas de um amor infinito e eterno, aprendereis a «dar a razão da vossa esperança» (1 Ped 3,15).

Vaticano, 6 de Outubro 2012.
PAPA BENTO XVI

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

YOUCAT - Catecismo Jovem da Igreja Católica

       No 11 de outunro (2012) iniciou-se o ANO da FÉ, proposto pelo Papa Bento XVI, por ocasião da celebração dos 50 anos do concílio Vaticano II e 20 anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica. Nessa mesma altura, irá decorrer a Assembleia Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização para a transmissão da Fé cristã.
       LEITURAS obrigatórias para o ANO DA FÉ: a BÍBLIA; os Documentos do concílio VATICANO II; o CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, publicado em 1992, por João Paulo II e cuja coordenação esteve a cargo do atual Papa, então Cardeal Joseph Ratzinger; a Carta Apostólica Porta da Fé (11 de outubro de 2011), em que Bento XVI promulga/convoca o Ano da Fé e aponta as coordenadas para viver este ano.
       O Catecismo da Igreja Católica é uma referência fundamental para a nossa identidade católica. Assume contributos de muitos estudiosos, dos bispos das dioceses, do mundo inteiro, de congregações, de fiéis, religiosos, sacerdotes... Foi um trabalho demorado, mas cuja objetivo era condensar o essencial do catolicismo, em linguagem acessível a todos, esclarecedora, e referência incontornável.
       Dada esta importância, foram publicados outros subsídios para ajudarem a ler o Catecismo.
       Em 2005 (28 de junho: vigília da solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo), Bento XVI promulgava o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, passavam então, segundo o próprio Papa, 20 anos do início da elaboração do Catecismo da Igreja Católica. O compêndio é de fácil leitura, apresentando-se em formato de perguntas - respostas.
       Em 2011, ano da Jornada Mundial da Juventude, que se realizou em Madrid, na vizinha Espanha, é dado à estampa um novo contributo para divulgação do essencial da Mensagem cristã, experimentada/vivida pelas comunidades católicas, em comunhão com o Papa e com os Bispos, sucessores dos Apóstolos.
       YOUCAT (Youth Catechism of the Catholic Church - Catecismo Jovem da Igreja Católica) é uma proposta apelativa para os mais jovens, mas como outras leituras, também esta poderá ser acessível para todas as idades. Segue a mesma lógica do Compêndio, seguindo o formato de pergunta e resposta, remetendo para o Catecismo, e apresentado frases ilustrativas de autores célebres a desconhecidos, ligados à Igreja, à cultura, à arte, ao desporto,... com imagens inspiradoras.
       Tal como o CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA e também o COMPÊNDIO, o Catecismo Jovem divide em quatro Partes:
  1. Em que cremos (= A Profissão de Fé)
  2. Como celebramos os mistérios cristãos (= A celebração do mistério Cristão)
  3. A vida em Cristo
  4. Como devemos orar (= A oração cristã)
       São 527 questões, que condensam os 2865 números do Catecismo e as 598 questões do Compêndio.
       Pode ler-se de maneiras diferentes. Lendo tudo seguido, seguindo, na margem das páginas, as "citações" de nomes consagrados, dos Papas, da Bíblia; lendo o corpo, as perguntas e respostas e depois voltando a ler as citações. Começando pelo início ou lendo/meditando os temas mais sugestivos para cada um. Ou recorrendo ao índice remissivo, índice de conceitos, que remete para a(s) página(s) respetivas. Pode ler-se de uma assentada. Ou conforme a disposição. Pode ler-se aos bocados e sublinhar o que naquele momento tem mais relevância.
       Os nossos sublinhados irão aparecer por aqui, citações, questões e respostas.
       Pode ler-se a partir de páginas da internet em português como por exemplo:  
       O YOUCAT conta ainda com a Carta de Apresentação do Papa Bento XVI e do Posfácio do Cardeal-Patriarca D. José da Cruz Policarpo.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

YOUTRAVEL - a viagem do YouCat, em Lamego

       No sábado, 19 de janeiro, o projeto YOUTRAVEL, que andará pelo país, a divulgar o Catecismo Jovem da Igreja Católica, oportunidade para rezar e dizer a FÉ que professámos e que testemunhamos aos outros.
       Youcat é uma ferramenta, neto do Concílio Vaticano II, e filho do Catecismo da Igreja Católica, para tornar perceptível aos jovens a linguagem do Catecismo, balizando os princípios e valores fundamentais da fé cristã e da inserção à comunidade crente.
       Adaptado para os jovens, será oportuno e benéfico também para os adultos. Com a ligação ao Catecismo, com testemunhos, imagens, citações, numa apresentação muito juvenil.
       O desejo do Papa Bento XVI é que este jovem Catecismo fosse estudo, individualmente, em grupo, por jovens, catequsitas, em encontros de cristãos. O projeto YOUTRAVEL responde ao desafio do Papa. O Departamento Nacional da Juventude e a Editora Paulus fazem viajar o Youcat pelas Dioceses portugueses.
       Foi a vez da Diocese de Lamego, em encontro realizado no Centro Pastoral de Almacave, promovido pelo Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil e pelo Secretariado Diocesano da Catequese, contoou com jovens e catequistas da paróquia de Tabuaço e da paróquia de Barcos.
       Mais um momento de oração e formação, que reverte a favor dos participantes, mas, logicamente, a favor das comunidades de origem.