A terceira Carta Encíclica de Bento XVI empresta o título a este blogue. A Caridade na Verdade. Agora permanecem a fé, a esperança e a caridade, mas só esta entra na eternidade com Deus. Espaço pastoral de Tabuaço, Távora, Pinheiros e Carrazedo, de portas abertas para a Igreja e para o mundo...
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sexta-feira, 16 de agosto de 2024
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sábado, 7 de agosto de 2021
sábado, 31 de julho de 2021
sábado, 25 de agosto de 2018
sábado, 11 de agosto de 2018
terça-feira, 17 de abril de 2018
Eu sou o pão da vida: quem vem a Mim não terá fome
Disse a multidão a Jesus: «Que milagres fazes Tu, para que nós vejamos e acreditemos em Ti? Que obra realizas? No deserto os nossos pais comeram o maná, conforme está escrito: ‘Deu-lhes a comer um pão que veio do céu’». Jesus respondeu-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: Não foi Moisés que vos deu o pão que vem do Céu; meu Pai é que vos dá o verdadeiro pão que vem do Céu. O pão de Deus é o que desce do Céu para dar a vida ao mundo». Disseram-Lhe eles: «Senhor, dá-nos sempre desse pão». Jesus respondeu-lhes: «Eu sou o pão da vida: quem vem a Mim nunca mais terá fome, quem acredita em Mim nunca mais terá sede» ( Jo 6, 30-35 ).
Persistir e voltar ao passado é uma tentação muito frequente, sobretudo quando ainda não se sabe muito do futuro que se vai tornando presente. O que lá vem, envolve uma dose de desconfiança e medo, pois não sabemos com o que podemos contar. Repetir o que já vivemos, fazer o que já fizemos, dá-nos alguma tranquilidade e sossego. Já sabemos com o que contamos. Na vida pessoal, na vida familiar, na vida profissional, precisamos de nos sentirmos em casa, seguros, saber com o que contámos, sem grandes surpresas. A rotina também solidifica a nossa relação com os outros e com a vida. O que valoriza a festa é a féria, se todos os dias fossem de festa, a festa passava a ser rotina e deixava festa. Mas, muitas vezes, precisamos de abrir as janelas e as portas, para entrar ar fresco e salubre, e para sairmos para que os nossos movimentos nos tornem ágeis e saudáveis.
Jesus é água vida, e vida nova, é ar puro, alimento que nos sacie, Irrompe pela nossa vida, como uma enxurrada de vida e de compaixão. Ele é NOVIDADE, a grande BOA NOVA, bela notícia de salvação. Vem por inteiro e traz-nos Deus, dando-nos o melhor de Si, dando-Se, entregando a Sua vida, mostrando que o amor de Deus por nós não tem limite, o limite é a eternidade. Desde sempre nos chama, para sempre nos quer com Ele junto do Pai. Não quer que nenhum de nós se perca, quer-nos TODOS com Ele. Faz-Se Um connosco, um de nós, para nos unir a Ele e nos elevar.
A multidão segue-O. Vamos nós também. Sigamos. Vejamos. Ouçamos. Também duvidamos das Suas palavras? E do Seu amor? Ver para crer! Por vezes, diante do sofrimento e das dificuldades, parece que não há sol nem esperança. Quereríamos um sinal inequívoco que podemos contar com Deus e que Deus está na nossa vida. Jesus desafia-nos: quem acredita n'Ele tem a vida eterna, encontra um sentido para a vida, que ultrapassa o tempo, a morte, o sofrimento.
quarta-feira, 21 de março de 2018
Tu tens palavras de vida eterna...
Muitos discípulos, ao ouvirem Jesus, disseram: «Estas palavras são duras. Quem pode escutá-las?». Jesus, conhecendo interiormente que os discípulos murmuravam por causa disso, perguntou-lhes: «Isto escandaliza-vos? E se virdes o Filho do homem subir para onde estava anteriormente? O espírito é que dá vida, a carne não serve de nada. As palavras que Eu vos disse são espírito e vida. Mas, entre vós, há alguns que não acreditam». Na verdade, Jesus bem sabia, desde o início, quais eram os que não acreditavam e quem era aquele que O havia de entregar. E acrescentou: «Por isso é que vos disse: Ninguém pode vir a Mim, se não lhe for concedido por meu Pai». A partir de então, muitos dos discípulos afastaram-se e já não andavam com Ele. Jesus disse aos Doze: «Também vós quereis ir embora?» Respondeu-Lhe Simão Pedro: «Para quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós acreditamos e sabemos que Tu és o Santo de Deus» (Jo 6, 60-69).
Temos vindo a escutar, durante esta semana, o Evangelho de de São João, no qual Jesus Se apresenta como o verdadeiro Pão da Vida, o Pão de Deus. A afirmação de Jesus – o meu corpo é verdadeira comida, o meu sangue é verdadeira bebida... quem não comer a minha carne e não beber o meu sangue não terá a vida... – gera polémica na população, nos judeus e nos discípulos. Nesta parte final do capítulo 6, são os discípulos que se interrogam, duvidam e dispersam.
Perante a dispersão dos judeus e dos discípulos, Jesus questiona os Doze sobre as disposições: «Também vós quereis ir embora?». Pedro, em nome dos outros Apóstolos, responde inequivocamente: «Para quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós acreditamos e sabemos que Tu és o Santo de Deus».
A dissidência dá lugar à firmeza, à convicção, ao seguimento consciente e livre. O projeto de Jesus Cristo é um projeto de salvação, de vida nova, desafiando os limites do tempo e do espaço, dando o melhor que cada um possui em favor de todos, para que o que se dá se multiplique e atravesse o próprio Céu. É um projeto arrojado e libertador. Jesus não quer que os seus discípulos, e ninguém, viva no medo do passado ou sob o peso de leis castradoras e injustas, mas que todos possam apreciar a VIDA como dom, transformando a dádiva recebida em dádiva oferecida a favor dos outros.
Veja também: Reflexão Dominical
sexta-feira, 23 de junho de 2017
Quando nos zangamos por nada!...
1 – Muitas vezes zangamo-nos por muito pouco ou mesmo por nada.
Por uma palavra fora do contexto, por um gesto a mais ou a menos, por uma ideia ou uma perspectiva diversa. Em quantas situações entramos em conflito e acabamos, no final, por nem saber aonde começou, o motivo que o desencadeou, ou como chegamos àquele ponto.
Acontece-nos a todos. Acontece até estarmos a falar do mesmo, a concordarmos uns com os outros e discutirmos porque utilizamos uma ou outra palavra diferente, ainda que tenha o mesmo sentido.
A discussão, só por si, não é negativa. Pode ser muito produtiva, ajudar-nos a crescer, a aprender, a caminhar com os outros. E isso acontece também: num primeiro momento barafustamos, e depois a frio verificámos que afinal até podemos não ter a razão toda, ou até ter pouca razão.
Aqui pode residir a sabedoria, a capacidade de aceitar os limites e de aproveitar o contributo do outro, assentando desde logo que numa discussão partimos todos com a certeza dos nossos pontos de vista. Senão, não haveria discussão!
Contudo, há discussões e discussões, nem todas têm a mesma amplitude. Umas e outras deixam mazelas e podem afastar-nos para sempre dos outros, quando não admitimos que poderemos estar errados, quando não nos pomos no lugar do outro, vem a altercação e posteriormente a ofensa e a ruptura.
Por outro lado, o discordar de alguém também não é negativo, é sinal que pensamos por nós e não vamos simplesmente na corrente. O discordamos de alguém não implica ruptura, antes pelo contrário pode ser um motivo extra para conhecermos melhor os outros e enriquecermos o "nosso vocabulário" humano.
2 – A determinada altura da vida, Jesus, na Sua pregação itinerante, apresenta-Se como o Pão da Vida, o alimento para a vida eterna, implica os seus discípulos no confronto com a verdade e a exigência do seguimento. Eles compreendem o alcance das Suas palavras: "Estas palavras são duras. Quem pode escutá-las?" ... "E a partir de então – diz o Evangelho – muitos discípulos afastaram-se e já não andavam com Ele" (Jo 6, 60-69).
Saliente-se a opção destes discípulos, não concordando deixam o seguimento. A Jesus não se Lhe ouvem palavras de recriminação, tão-somente o acentuar das convicções e das opções dos demais discípulos: "Também vós quereis ir embora?"
Seria bom reflectirmos sobre isto: a verdade deve libertar-nos sem medo de perdermos os que nos são próximos. Aquela não deve ser desculpa para o afastamento, mas a proximidade também não deve servir de escusa para a verdade. Não devemos aligeirar as nossas convicções somente com receio de incomodarmos os outros, ou pelo desconforto que podem provocar as nossas palavras. Devemos, isso sim, ter a generosidade de afirmarmos o que somos, em todas as circunstâncias, e de admitirmos que os outros também podem ter razão…
Editorial, Voz Jovem, n.º 88, Junho 2007
sábado, 15 de agosto de 2015
XX Domingo do Tempo Comum - ano B - 16.08.2015
1 – Acreditar em Jesus implica-nos por inteiro, alma, corpo e espírito, sem reservas nem subterfúgios, mesmo que o nosso pecado nos afaste deste compromisso. A nossa primordial vocação é à santidade, comum a todos os batizados. À medida que o tempo avança a nossa identificação a Cristo há de revelar-se cada vez mais efetiva. Cada um de nós – no seu corpo, isto é, na sua vida por inteiro – deve como que fundir-se no único Corpo de Cristo. "Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim" (Gál 2, 20). Jesus Cristo há de ser tudo em todos, como caminho na história e como plenitude na eternidade, mas que inicia connosco, aqui e agora, no tempo presente. Comer a Sua carne, beber o Seu sangue, comungar Cristo é entrar em comunhão com a Sua vida, para sermos assimilados por Ele. Palavras duras pois bem sabemos das nossas insuficiências. Mas Ele não nos faltará. E ainda bem que sabemos dos nossos limites, o que nos permite reconhecer a necessidade dos outros e do Outro.
Se cada um de nós "comunga", come, saboreia o Corpo de Cristo (poderíamos com propriedade falar da comunhão sacramental e da comunhão de desejo, propósito e de vida. A comunhão sacramental deve corresponder à comunhão de vida com Jesus, mas ainda que aquela não se efetue, o cristão pode e deve alimentar-se da Palavra de Deus, procurando viver o mais possível de acordo com o Evangelho), então caminhamos ao encontro uns dos outros, pois todos nos encontramos em Cristo e assim formamos – todos – o Seu Corpo.
Por vezes separamos a pessoa das suas palavras e dos seus atos. Sim. A pessoa traz em si impressa a imagem de Deus, com o consequente mandamento "não matarás", em absoluto, nada farás de mal ao outro, pois ofenderás a Deus. Com efeito, podemos confiar numa pessoa e ter dúvidas na sua palavra. A pessoa é mais do que os seus pecados! Em Cristo, porém, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, tudo está implicado. Confiar n'Ele compromete-nos com a Sua Palavra, com os seus ensinamentos visíveis no seu modo de proceder. A dureza das Suas palavras passa por aqui: imitá-l'O em todas as situações da vida, sem descanso nem desistências nem atalhos.
2 – «Eu sou o pão vivo que desceu do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu hei de dar é minha carne, que Eu darei pela vida do mundo... Se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós... A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e Eu nele... aquele que Me come viverá por Mim. Este é o pão que desceu do Céu; não é como o dos vossos pais, que o comeram e morreram: quem comer deste pão viverá eternamente».
As palavras de Jesus são delicadas e provocam, naqueles dias como ao longo da história da Igreja, ruturas. Os judeus interpretam o que nos vai na alma: «Como pode Ele dar-nos a sua carne a comer?». Não pensemos que é uma questão superficial e resultante de má vontade. Não. Algum de nós entenderia as palavras de Jesus? Como é possível comer a carne de Jesus? Alguns dos discípulos vão seguir outro caminho, como veremos no próximo domingo. Mais tarde, justificando a perseguição à Igreja, dir-se-á que os cristãos são canibalistas, sacrificam, matam, comem pessoas nas suas orações.
Questionado, Jesus não retira o que disse nem emenda o conteúdo das suas palavras. Como temos visto, Jesus esclarece, insiste, mas sem se desviar: quem come o Meu Corpo e bebe o Meu sangue terá a vida eterna, terá parte Comigo, viverá por Mim. Eu sou o Pão da vida e o pão que Eu hei de dar é a minha carne.
Como cristãos católicos professamos a fé na presença real de Cristo nas espécies do pão e do vinho, que pela consagração, por ação do Espírito Santo, se transubstanciam no Corpo e no Sangue de Cristo e que nos alimentam na vida presente, antecipando o banquete na eternidade de Deus. O próprio Jesus o afirma durante a última Ceia, tomando o pão e o cálice com vinho: "tomai e comei, isto é o Meu corpo; tomai e bebei, isto é o Meu sangue derramado por todos". Jesus prepara os seus discípulos para a Sua morte e ressurreição, dizendo-lhes que pela Ressurreição estará presente de maneira nova, gloriosa e real, através do mistério da Eucaristia.
Alguns dos nossos irmãos protestantes continuam a ter dificuldade em aceitar que o pão e o vinho se transformem em Cristo, quando muito são uma presença simbólica de Jesus. Discussões à parte, a Eucaristia traz-nos a certeza da presença real de Jesus, Ele está verdadeiramente vivo e no meio de nós. Deu-nos o Espírito Santo. O Espírito Santo dá-nos Jesus Cristo, vivo e real.
3 – A sabedoria convida-nos para o festim de Deus: «Vinde comer do meu pão e beber do vinho que vos preparei. Deixai a insensatez e vivereis; segui o caminho da prudência».
Os Padres da Igreja hão de identificar a Sabedoria com a segunda pessoa da Santíssima Trindade, isto é, com Jesus Cristo, Filho de Deus. Ele é a Sabedoria, a Palavra do Pai, o Pão que desce do Céu, o Corpo entregue por amor para gerar vida e vida em abundância.
4 – Comungar Cristo, ou seja, estar e colocar-se em comunhão com Cristo, implica seguir os Seus ensinamentos, mesmo que em alguns momentos os não compreendamos tão bem, expressos na sua postura de vida e disseminados na Sagrada Escritura, numa lógica constante de edificar o mundo pelo bem, pela paixão, pelo amor: "Guarda do mal a tua língua e da mentira os teus lábios. Evita o mal e faz o bem, procura a paz e segue os seus passos" (Salmo).
São Paulo, na Carta aos Efésios, que continuamos a escutar, é bem claro sobre as implicações de acreditar/seguir Cristo, como discípulos: "Não vivais como insensatos, mas como pessoas inteligentes. Aproveitai bem o tempo... procurai compreender qual é a vontade do Senhor. Não vos embriagueis com o vinho, que é causa de luxúria, mas enchei-vos do Espírito Santo, recitando entre vós salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e salmodiando em vossos corações, dando graças, por tudo e em todo o tempo, a Deus Pai, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo".
A ação brota da oração, da contemplação. Para irradiarmos a alegria, a beleza e a misericórdia de Deus no mundo temos que primeiramente O acolher no nosso coração e na nossa vida. Como disse Madre Teresa de Calcutá, a "oração é uma linha direta de comunicação com Deus" que nos conduz aos outros a começar pelos de minha casa.
5 – Celebramos hoje a Jornada do Migrante e do Refugiado, num convite cada vez mais premente por acolhermos os que chegam com a sua miséria e com o seu apelo.
Na mensagem para este dia, o Papa Francisco, propondo o tema "Igreja sem fronteiras, mãe de todos", começa por referir que "a Igreja, peregrina sobre a terra e mãe de todos, tem por missão amar Jesus Cristo, adorá-Lo e amá-Lo, particularmente nos mais pobres e abandonados; e entre eles contam-se, sem dúvida, os migrantes e os refugiados, que procuram deixar para trás duras condições de vida e perigos de toda a espécie". Prossegue, recordando o juízo final: «Tive fome e destes-Me de comer, tive sede e destes-Me de beber, era peregrino e recolhestes-Me, estava nu e destes-Me que vestir, adoeci e visitastes-Me, estive na prisão e fostes ter comigo» (Mt 25, 35-36).
A Igreja em Portugal transformou o tema proposto pelo Papa, sintonizando-se com o Evangelho deste dia: "Igreja Sem Fronteiras. Somos um só Corpo".
Na Peregrinação Nacional dos Migrantes a Fátima (12 e 13 de agosto), ficou clara esta urgência, mormente nas palavras de D. António Marto, na disponibilidade da Igreja acolher mais refugiados e imigrantes que vêm desembarcar na Europa, em condições desumanas. É uma proposta concreta para um problema real e concreto.
Pe. Manuel Gonçalves
Textos para a
Eucaristia (B):
Prov 9, 1-6; Sl 33 (34); Ef 5, 15-20; Jo 6, 51-58.
sábado, 8 de agosto de 2015
XIX Domingo do Tempo Comum - ano B - 9 de agosto
1 – O murmúrio pode ser corrosivo. Por vezes parece inevitável. Porque nos magoaram! Porque sentimos inveja e não o assumimos! Porque não merecemos o que nos fazem ou o que dizem de nós! Seja como for, o murmúrio não acrescenta nada à nossa vida, nada produz de bom.
E quando nos voltamos para Deus? Certamente que o fazemos porque O consideramos amigo. E os amigos "têm a obrigação" de nos compreender, de nos escutar e de agir a nosso favor. Quantas vezes a vida atraiçoa a nossa confiança e a nossa fé em Deus?!
Na condução do Povo Eleito, Moisés é intermediário do murmúrio e dos lamentos do Povo que privilegia o pão, o conforto, a segurança, à liberdade e confiança em Deus. Deus escuta e dá-lhes o Pão do Céu, provisório, pois o verdadeiro Pão descido do Céu é Jesus, do Qual nos alimentamos na Eucaristia até à vida eterna.
Os hebreus (judeus) murmuraram na míngua de pão; os judeus, ao tempo de Jesus, murmuram por Ele ter dito: «Eu sou o pão que desceu do Céu», argumentando com o facto de conhecerem as origens (terrenas) de Jesus: «Não é Ele Jesus, o filho de José? Não conhecemos o seu pai e a sua mãe? Como é que Ele diz agora: ‘Eu desci do Céu’?».
2 – Vale a pena escutar por inteiro a resposta de Jesus:
«Não murmureis entre vós. Ninguém pode vir a Mim, se o Pai, que Me enviou, não o trouxer; e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia. Todo aquele que ouve o Pai e recebe o seu ensino vem a Mim. Não porque alguém tenha visto o Pai; só Aquele que vem de junto de Deus viu o Pai. Quem acredita tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida. No deserto, os vossos pais comeram o maná e morreram. Mas este pão é o que desce do Céu, para que não morra quem dele comer. Eu sou o pão vivo que desceu do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu hei-de dar é a minha carne, que Eu darei pela vida do mundo».
Está aqui tudo o que diferencia Jesus de todos os Messias e nos diferencia de todos os crentes. É o Corpo de Cristo que comungamos, é o Seu sangue que bebemos. É no Corpo de Cristo, que é a Igreja, que nos encorpamos e nos incorporamos para formarmos um só Corpo.
As palavras de Jesus vão provocar uma razia entre os discípulos. É compreensível a dúvida e o questionamento dos judeus: como é que Ele pode dar-nos a Sua carne a comer? Alguns discípulos vão seguir por outros caminhos, pois apesar de uma maior proximidade temporal, não estão preparados para o que estão a ouvir. Nos primeiros séculos da Igreja, uma das acusações feitas aos cristãos é de canibalismo. A linguagem usada leva os que estão de fora a perceber mal.
Obviamente que a Eucaristia não faz de nós carnívoros ou canibalistas, faz-nos irmãos porque nos transforma em Cristo, pois quando comungamos não absorvemos Cristo, como diria Santo Agostinho, mas deixamo-nos absorver por Ele. Vale também para aqueles que não podendo abeirar-se da comunhão sacramental, comungam Cristo na Palavra de Deus, assumindo os mesmos sentimentos e propósitos, para se unirem a Ele e ao Seu Corpo, que é a Igreja, que somos nós.
3 – Voltamos a encontrar-nos com um Profeta, um dos mais ilustres para o povo da primeira Aliança, o profeta Elias. Jesus comparará João Batista a Elias, o novo Elias. Por sua vez, os discípulos dirão que alguns consideram Jesus como João Batista, ou Elias, ou um dos profetas (cf. Mc 8, 27-33).
Como o povo, antes de entrar na terra prometida, também Elias entra no deserto, antes da importante missão a que Deus o chama. Também Jesus Cristo, antes da vida pública, passará a prova do deserto.
O deserto é um lugar inóspito. De dia o calor tórrido e à noite o frio glaciar. Não há seguranças. Se vem uma ventania não há como abrigar-se. Se não há mantimentos suficientes, a morte é a próxima etapa. Chegará o tempo que só Deus nos valerá.
Como não evocar as palavras do papa Bento XVI no dia em que iniciava solenemente o Seu pontificado, em 24 de abril de 2005: «E existem tantas formas de deserto. Há o deserto da pobreza, o deserto da fome e da sede, o deserto do abandono, da solidão, do amor destruído. Há o deserto da obscuridão de Deus, do esvaziamento das almas que perderam a consciência da dignidade e do caminho do homem. Os desertos exteriores multiplicam-se no mundo, porque os desertos interiores tornaram-se tão amplos. Por isso, os tesouros da terra já não estão ao serviço da edificação do jardim de Deus, no qual todos podem viver, mas tornaram-se escravos dos poderes da exploração e da destruição».
Um dia inteiro no deserto e Elias cai em desânimo: «Já basta, Senhor. Tirai-me a vida, porque não sou melhor que meus pais». Elias está em desistência, deita-se por terra e adormece. Deus chama-o através do seu santo Anjo: «Levanta-te e come». Elias comeu e bebeu e tornou a deitar-se.
A vida por vezes é tão dura que só nos apetece desistir.
O Anjo do Senhor insiste: «Levanta-te e come, porque ainda tens um longo caminho a percorrer». Elias levanta-se, come e bebe. Revigorado, Elias prossegue o seu caminho, "durante quarenta dias e quarenta noites até ao monte de Deus, Horeb".
Que mais poderemos dizer? Que o verdadeiro alimento nos é dado por Deus, que nos alenta nos desertos a percorrer ao longo da vida, até chegarmos ao Seu monte santo, até que os nossos dias se completam sobre a terra.
4 – Novamente o salmo que, ajudando-nos a rezar, nos desafia a confiar em Deus: "Procurei o Senhor e Ele atendeu-me, libertou-me de toda a ansiedade. Voltai-vos para Ele e ficareis radiantes, o vosso rosto não se cobrirá de vergonha. / Este pobre clamou e o Senhor o ouviu, salvou-o de todas as angústias. Saboreai e vede como o Senhor é bom: feliz o homem que n’Ele se refugia".
5 – E para não fugirmos ao figurino dos últimos domingos, aí está imensa e intensa página da Carta aos Efésios: "Não contristeis o Espírito Santo de Deus... Seja eliminado do meio de vós tudo o que é azedume, irritação, cólera, insulto, maledicência e toda a espécie de maldade. Sede bondosos e compassivos uns para com os outros e perdoai-vos mutuamente, como Deus também vos perdoou em Cristo. Sede imitadores de Deus, como filhos muito amados. Caminhai na caridade, a exemplo de Cristo, que nos amou e Se entregou por nós, oferecendo-Se como vítima agradável a Deus".
6 – Hoje a Igreja evoca a memória de Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) que, “como cristã e judia, aceitou a morte com o seu povo e para o seu povo, que era visto como lixo da nação alemã” (Bento XVI, em Auschwitz, 2006).
Teresa Benedita da Cruz foi morta em Auschwitz-Birkenau, campo de extermínio nazi, em 9 de agosto de 1942, poucos meses depois de ser aprisionada. Tinha 51 anos de idade. As suas origens judaicas não a impediram de procurar mais além da sua religião e, inspirando-se em Santa Teresa de Ávila, tornou-se cristã, consagrando-se como irmã carmelita. Dedicou a sua vida aos judeus e aos alemães. Fez de Cristo o Seu único alimento até entrar na glória eterna.
Pe. Manuel Gonçalves
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sábado, 1 de agosto de 2015
XVIII Domingo do Tempo Comum - ano B - 2 de agosto
1 – «A obra de Deus consiste em acreditar n’Aquele que Ele enviou».
Jesus fixa-nos novamente no essencial. Como seus seguidores temos a obrigação de cuidar uns dos outros e sobretudo dos mais pequeninos. A satisfação das necessidades básicas não nos deve desviar do que nos humaniza e portanto nos faz imagem e semelhança de Deus. Se amamos a Deus, se O temos por Pai, trataremos todos como irmãos. Remetemo-nos ao duplo mandamento do amor: amar a Deus com toda a vida e ao próximo como a nós mesmos. Ou simplesmente amar como Jesus amou, dando a vida. Bem vistas as coisas, basta amar bem a Deus. Se O amarmos de todo o coração nada diremos e nada faremos que Lhe desagrade. Se O amamos de verdade, tudo faremos por Lhe sermos agradáveis, realizando a Sua vontade.
O ministério de Jesus leva-nos para outras margens. Novamente o simbolismo: Jesus não se fica só numa margem, na segurança da terra firme e das pessoas conhecidas, faz-se ao mar e vai ao encontro de outras pessoas. A multidão percebe que nem Ele nem os discípulos estão à beira mar. Sobem para as barcas e vão para Carfanaum onde os encontram. Antes queriam fazê-l’O Rei, agora seguem-n’O, mas Jesus não se ilude, pois bem sabe quais as intenções: «Vós procurais-Me, não porque vistes milagres, mas porque comestes dos pães e ficastes saciados. Trabalhai, não tanto pela comida que se perde, mas pelo alimento que dura até à vida eterna e que o Filho do homem vos dará. A Ele é que o Pai, o próprio Deus, marcou com o seu selo».
A mensagem de Jesus insiste no trabalho e no compromisso. Há que investir e não ficar à espera que a vida aconteça. Toca a meter mãos às obras. Os milagres acontecem mas temos de fazer o que está ao nosso alcance na certeza que Deus fará o mais.
«Que devemos nós fazer para praticar as obras de Deus?» A pergunta que Lhe fazem parece mais uma desculpa, mas é útil para Jesus esclarecer: «A obra de Deus consiste em acreditar n’Aquele que Ele enviou». Jesus coloca-Se como a grande obra de Deus. Quem n'Ele acredita terá a vida eterna. Ele é o Pão da Vida.
2 – «Eu sou o pão da vida: quem vem a Mim nunca mais terá fome, quem acredita em Mim nunca mais terá sede... Não foi Moisés que vos deu o pão do Céu; meu Pai é que vos dá o verdadeiro pão do Céu. O pão de Deus é o que desce do Céu para dar a vida ao mundo».
Escutávamos na primeira leitura que Deus responde ao murmúrio do povo com o alimento necessário para a caminhada pelo deserto. A multiplicação dos pães antecipa a abundância do alimento no Corpo e Sangue de Cristo, na Eucaristia. O Pão que Deus dá ao Povo também é um alimento provisório até à Terra Prometida, onde poderão trabalhar a terra para produzir pão abundante para todos. Para nós Jesus é a Terra Prometida e o verdadeiro Pão de Deus.
Moisés, o grande líder de Israel, faz chegar a Deus o clamor do povo. Através de Moisés, Deus, sempre Deus, mantém-Se fiel, na Sua benevolência para com o povo: «Vou fazer que chova para vós pão do céu. O povo sairá para apanhar a quantidade necessária para cada dia... Eu ouvi as murmurações dos filhos de Israel».
O autor sagrado completa a informação dizendo que "nessa tarde apareceram codornizes, que cobriram o acampamento, e na manhã seguinte havia uma camada de orvalho em volta do acampamento. Quando essa camada de orvalho se evaporou, apareceu à superfície do deserto uma substância granulosa, fina como a geada sobre a terra. Quando a viram, os filhos de Israel perguntaram uns aos outros: «Man-hu?», quer dizer: «Que é isto?», pois não sabiam o que era. Disse-lhes então Moisés: «É o pão que o Senhor vos dá em alimento».
Percebe-se melhor a resposta de Jesus aos que O interpelam: "Não foi Moisés que vos deu o pão do Céu; meu Pai é que vos dá o verdadeiro pão do Céu. O pão de Deus é o que desce do Céu para dar a vida ao mundo... Eu sou o pão da vida: quem vem a Mim nunca mais terá fome, quem acredita em Mim nunca mais terá sede».
3 – Respondemos à Palavra de Deus com o Salmo, que também é Palavra de Deus: “Deu suas ordens às nuvens do alto e abriu as portas do céu; para alimento fez chover o maná, deu-lhes o pão do céu. / O homem comeu o pão dos fortes! Mandou-lhes comida com abundância e introduziu-os na sua terra santa, na montanha que a sua direita conquistou”.
A oração faz-nos reconhecer a nossa filiação divina, a interdependência com Aquele que nos criou por amor e nos mantém na existência, até que os nossos dias se cumprem e sejamos conduzidos, por Ele, à morada eterna. Enquanto não chega esse tempo, Deus alimenta-nos para vivermos na santidade como povo eleito, povo resgatado. O nosso alimento, assim no-lo ensina Jesus, é que a vontade de Deus se cumpra no mundo, a começar pela nossa vida.
4 – A leitura da Carta aos Efésios, que temos vindo a escutar ao longo dos últimos domingos, revela a preocupação do apóstolo São Paulo em cimentar a fé dos cristãos, a quem considera como filhos na fé, para que prevaleça a graça de Cristo, a unidade do Espírito Santo, em comunhão com o Pai. Há que imitar os santos de Deus. O próprio Apóstolo dá testemunho com a sua vida: a partir da conversão nunca mais viveu para si mesmo, mas para o Senhor.
São eloquentes, incisivas e comprometedoras as suas palavras: "Não torneis a proceder como os pagãos, que vivem na futilidade dos seus pensamentos. É necessário abandonar a vida de outrora e pôr de parte o homem velho, corrompido por desejos enganadores. Renovai-vos pela transformação espiritual da vossa inteligência e revesti-vos do homem novo, criado à imagem de Deus na justiça e santidade verdadeiras".
A matriz do cristão é Jesus Cristo. É a vida nova no Espírito. Se estamos revestidos com Cristo, vivamos como Ele, como filhos bem-amados do Pai.
Pe. Manuel Gonçalves
sábado, 25 de julho de 2015
XVII Domingo do Tempo Comum - ano B - 26 de julho
1 – O alimento e a pobreza são realidades de todas as épocas. Pobres sempre os tereis. Garantia de Jesus quando os discípulos contestam a generosidade e a devoção de uma mulher que d’Ele se aproxima e sobre Ele derrama um frasco de perfume de alto preço (cf. Mt 26, 6-12; Jo 12, 1-8). Faz-nos lembrar aquelas pessoas que desafiam a Igreja a vender tudo o que tem para acudir aos pobres mas não mexem uma palha para fazer alguma coisa, sabendo-se que muitos crentes dão o melhor que têm, por vezes com muito sacrifício, para terem uma Igreja bem adornada, com tudo o que há de melhor, procurando que a casa que é de todos seja a mais cuidada, e se é para receber o convidado mais importante, Jesus Cristo, não se poupam a esforços. E não tem a ver com quantidades, mas com o coração e com a vida, como exemplifica Jesus apresentando uma viúva pobre que deitou duas pequenas moedas no cofre do templo, mais do que todos os outros, pois estes deitaram do que lhes sobejava e aquela mulher deitou tudo quanto tinha para sobreviver (cf. Lc 21, 1-4), confiando-se totalmente a Deus.
Porém, o cuidado com as coisas de Deus há de sensibilizar-nos a cuidar bem dos preferidos de Deus, os pobres, os pequeninos, os humildes e mansos de coração, os que têm pouco e vivem na míngua. O Juízo Final sintetiza a mensagem de Jesus: "Sempre que fizeste isto a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizeste... Sempre que deixaste de fazer isto a um destes pequeninos, foi a Mim que o deixaste de fazer" (Mt 25, 31-46). Também aqui não se pode simplesmente espiritualizar o amor ao próximo, há que o materializar: tive fome e deste de comer, tive sede e deste-me de beber, era peregrino e me recolheste, estava nu e me vestiste, adoeci e visitaste- me, estava preso e foste ver-me. E veja-se como passados alguns séculos, ainda que com muitos pecados, muitos atrasos e lentidões, muitos distanciamentos, a Igreja tem um compromisso social incomparável. A Igreja, com todos os seus membros, poderá sempre fazer melhor, até esgotar todas as possibilidades! O mandato de Cristo é o ponto de partida e o fundamento, que conta connosco e com os meios que estão ao nosso alcance para fazer a vida acontecer.
Adentremo-nos no Evangelho da multiplicação e da partilha solidária.
2 – Como víamos no domingo passado, ainda que com outro evangelista, há uma numerosa multidão que segue Jesus. São João refere que isso se deve aos milagres que Ele fazia com os doentes. Também aqui se vê que Jesus vai para o outro lado do mar da Galileia. Não fica deste lado, do seu lado, no seu canto, mas leva-nos com Ele para outras paragens. Sobe ao monte, vista privilegiada para ver a multidão que O segue, e diz a Filipe: «Onde havemos de comprar pão para lhes dar de comer?»
Diante do número crescente de pobres, de famílias com dificuldades, empresas a fechar, incumprimento nos pagamentos, também podemos cair em desânimo, concluindo que os problemas são maiores do que as nossas possibilidades: «Duzentos denários de pão não chegam para dar um bocadinho a cada um». É uma pergunta legítima. E se nos pomos a pensar que alguns se puseram a jeito?! Por vezes é necessário acudir às necessidades imediatas, mas a preocupação é revolver as situações a longo prazo, envolvendo aqueles que estão necessitados. É também uma questão de dignidade.
Fixemo-nos em Jesus. Não faz nenhum reparo em relação à multidão. Não Se interroga pelo facto de alguns estarem desprevenidos. O comentário partilhado com Filipe, e com os outros discípulos, e connosco, é sobre o que cada um nós pode fazer para resolver o problema que temos pela frente e saciar aquela multidão.
André, irmão de Simão Pedro, denota a insuficiência dos meios: «Está aqui um rapazito que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas que é isso para tanta gente?».
Para nós é muito pouco, mas faz toda a diferença. «Mandai-os sentar». 5 mil homens. Jesus toma os pães e os peixes, dá graças e distribuiu-os. Todos comem o que querem. Até ficarem saciados. Nova ordem de Jesus que conta connosco: «Recolhei os bocados que sobraram, para que nada se perca». 12 cestos. De 5 pães e dois peixes, depois da refeição para 5 mil homens, sobram 12 cestos! Abundância que vem de Deus. Abundância que vem da partilha.
3 – A primeira leitura, que novamente nos traz um profeta, prepara-nos para ler o Evangelho. Um homem leva a Eliseu pão feito com os primeiros frutos da colheita. 20 pães de cevada, e algum trigo no saco. Eliseu ordena-lhe: «Dá-os a comer a essa gente». Mas como poderia ele pensar em distribuir 20 pães por cem pessoas? Eliseu insiste: «Dá-os a comer a essa gente, porque assim fala o Senhor: ‘Comerão e ainda há de sobrar’». Mais vale quem Deus ajuda do que quem muito madruga!
O verdadeiro milagre é a confiança em Deus e na Sua Palavra. Deus conta connosco. Cabe-nos parte importante na resolução dos problemas que afligem o nosso tempo. Deus age através de nós, dos nossos dons e dos nossos bens. O que fazemos pode não passar de uma gota de orvalho no oceano, mas este só estará completo com a nossa gota de orvalho, como nos lembra a Beata Madre Teresa de Calcutá.
O milagre da multiplicação que Eliseu obtém de Deus, e o milagre da abundância operado por Jesus, podemos vivê-los através da partilha. "A terra está dotada dos recursos necessários para saciar a humanidade inteira. É preciso saber usá-los com inteligência, respeitando o ambiente e os ritmos da natureza, garantindo a equidade e a justiça nas trocas comerciais, e uma distribuição das riquezas que tenha em conta o dever da solidariedade" (São João Paulo II, Mensagem para a Quaresma, 1996).
O milagre só Deus o pode realizar, ainda que através de nós. A partilha faz-nos multiplicar por muitos o pouco que cada um possa ter. Sejam cinco pães e dois peixes! Deus acrescenta-nos no que fica o que damos aos outros. Na partilha as contas são de multiplicar. “A felicidade está mais no dar do que no receber” (Atos 20, 35).
A oração de coleta ajuda-nos a consciencializar a iniciativa e omnipotência de Deus, envolvendo-nos na transformação do mundo presente com o olhar colocado na eternidade: "Deus, protetor dos que em Vós esperam, sem Vós nada tem valor, nada é santo. Multiplicai sobre nós a vossa misericórdia, para que, conduzidos por Vós, usemos de tal modo os bens temporais que possamos aderir desde já aos bens eternos".
4 – A Carta aos Efésios, por sua vez, continua a impelir-nos para os outros, fundamentando a nossa vida e as nossas escolhas em Deus, que é "Pai de todos, que está acima de todos, atua em todos e em todos Se encontra". Se professamos a mesma fé, há que agir para nos vincularmos no mesmo batismo: "Procedei com toda a humildade, mansidão e paciência; suportai-vos uns aos outros com caridade; empenhai-vos em manter a unidade de espírito pelo vínculo da paz. Há um só Corpo e um só Espírito, como há uma só esperança na vida a que fostes chamados. Há um só Senhor, uma só fé, um só Batismo".
A missão de Paulo é levar o Evangelho a toda a parte. Porém, não esquece de verificar o Evangelho e os seus frutos nas comunidades por Ele fundadas, incentivando os cristãos a tornarem-se verdadeiros irmãos em Cristo Jesus.
Pe. Manuel Gonçalves
Textos para a Eucaristia (B): 2 Reis 4, 42-44; Sl 144 (145); Ef 4, 1-6; Jo 6, 1-15.
sábado, 2 de agosto de 2014
XVIII Domingo do Tempo Comum - ano A - 3 de agosto
1 – O AMOR de DEUS é a primeira e a maior bênção que podemos receber. Não é algo de abstrato, racional, ou simplesmente espiritual. Com efeito, quando percebemos o quanto Deus nos ama, a partir de então, a nossa vida muda para sempre e muda integralmente. Não é um jogo de palavras. É a realidade da vida, a experiência da história, a revolução das civilizações.
O que é verdadeiramente mobilizador na nossa vida: o amor. O amor, os afetos, os sentimentos, as emoções. O amor é, no dizer de António Damásio, se a memória não nos atraiçoa, um daqueles sentimentos de fundo, o alicerce, essencial à vida humana. Desde o seio materno que a nova vida é alimentada com o sangue e com as proteínas da mãe, mas também pelo carinho, pela ternura, pelo amor da mãe, cujo corpo (todo o corpo, toda a vida da mulher que será mãe) age para proteger a vida. É tanto assim que este será sempre um argumento para defender a vida desde o ventre materno. A vida da mãe conjuga-se para abonar a vida do filho. E pela placenta passa amor. Hoje, mais do que nunca, se aceita que aquela nova vida humana recebe o exterior, antes de ter consciência, recebe, apercebe-se, e reage ao que vem de fora, a música clássica ou as discussões, o ambiente tranquilo da família ou a tensão depressiva e nervosa que a mãe lhe comunica.
É pelo amor que vamos, é o amor que redime a nossa vida, que nos resgata da solidão e da treva. É o amor que dá sentido e sabor aos nossos dias. É o amor, nas suas diversas traduções, de carinho, beijo, toque, afago, proximidade, envolvimento físico e afetivo, que nos torna humanos. É o amor, em definitivo, que faz girar e evoluir a história, e a cultura, e a educação e as civilizações. O sexo pelo sexo, o dinheiro e os bens materiais, o poder e a ganância, quando muito são substitutos mais rápidos, mas que não resolvem o nosso anseio, o nosso desejo de eternidade. Só o amor promete e concede eternidade. Sem amor, ainda que vivamos (biologicamente), estamos mortos, ossos sem carne e sem vida. É no amor que nos descobrimos filhos de Deus, e nos consideramos irmãos. As piores doenças da atualidade, e que mais pessoas destroem, são precisamente as que resultam da falta de amor, de compreensão, de companhia. Pode dizer-se que a solidão é das "doenças" mais destrutivas dos nossos dias. Todos precisamos de um olhar que encontre o nosso olhar, de um sorriso que torne mais largo o nosso sorriso, de uma palavra que desperte os nossos ouvidos, de um silêncio que preencha o nosso coração. O amor é vida. O Amor que promete e concede eternidade é Deus.
Como refere são Paulo, nada nos pode separar do amor de Deus. «Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo ou a espada? Estou certo de que nem a morte nem a vida, nem os Anjos nem os Principados, nem o presente nem o futuro, nem as Potestades nem a altura nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que se manifestou em Cristo Jesus, Nosso Senhor».
2 – Só o Amor tem a capacidade de Se tornar pequeno, Se reduzir ao mais simples e pequenino, só o Amor consegue fazer-Se ver pela humildade. Deus, o Senhor da força, em Jesus Cristo, abaixa-Se até Se deixar ver, tocar, até Se deixar matar. Pela brisa da tarde, o Senhor passeia entre os homens, entre iguais, carne da nossa carne, osso dos nossos ossos. Não acima, não à parte, não longe ou no exterior, não pela violência ou pelo poder. Mas pela delicadeza, pela pobreza, pela vida despida de preconceitos e ideias feitas, pelo AMOR.
2 – Só o Amor tem a capacidade de Se tornar pequeno, Se reduzir ao mais simples e pequenino, só o Amor consegue fazer-Se ver pela humildade. Deus, o Senhor da força, em Jesus Cristo, abaixa-Se até Se deixar ver, tocar, até Se deixar matar. Pela brisa da tarde, o Senhor passeia entre os homens, entre iguais, carne da nossa carne, osso dos nossos ossos. Não acima, não à parte, não longe ou no exterior, não pela violência ou pelo poder. Mas pela delicadeza, pela pobreza, pela vida despida de preconceitos e ideias feitas, pelo AMOR.
A Encarnação de Deus, traz-nos o Amor da eternidade. Reconcilia-nos. Assume-nos na nossa fraternidade. Em Jesus, Deus dá-nos a vida, resgata-nos do pecado e das trevas, do egoísmo que nos afasta dos outros, da inveja que nos destrói como família, da ganância que mata o sonho e o futuro. Ele entra no coração, na vida concreta. Ensina-nos que o AMOR se dá e se vive concretamente. Ao cair da tarde, os discípulos, com algum cuidado e talvez alguma sensibilidade, lembram a Jesus a multidão que se acercou para O ver, para O escutar: «Este local é deserto e a hora avançada. Manda embora toda esta gente, para que vá às aldeias comprar alimento». Perante um problema concreto, uma multidão faminta, a solução parece óbvia, e hoje ainda mais, quando se acentuam as desigualdades sociais, e a lógica de cada um, cada família, cada grupo partidário, cada lóbi empresarial, se governar e proteger os seus: cada um trate de se desenrascar. É uma lei que vai sendo assumida, a lei do desenrasque ou do salve-se quem puder.
Jesus perentoriamente: «Não precisam de se ir embora; dai-lhes vós de comer».
Belíssima pregação a de Jesus, poucas palavras, incisivas, concretas. Dai-lhes vós de comer. Não laveis as vossas mãos, não assobieis para o lado como se não fosse nada convosco. Não. Não os mandeis embora. Alguns desfalecerão pelo caminho, outros não têm como comprar alimento. Ponde mãos às obras e procurai soluções para lhes dardes de comer. Nem só de pão vive o homem, mas também de pão vive o homem.
3 – Perante os milhentos problemas das sociedades seremos tentados pelo desânimo. Não há soluções mágicas. Eles que vão embora e resolvam. Estamos disponíveis para ouvir, para lhes falar, mas que podemos fazer? São tantos e com tantos problemas e nós tão poucos e com parcos recursos!
Cada um de nós, em algum momento, diante de algum problema, terá concluído que não tinha nem forças, em meios, e por vezes nem vontade para o resolver ou ajudar a revolver. Mas por maiores que sejam os problemas, seguindo Jesus, nunca podemos desistir, renunciando a fazer o que quer que seja. Como refletimos noutros momentos, se não temos capacidade para construir uma casa, demos um tijolo, demos tempo e ajudemos a construí-la. Dai-lhes vós de comer.
Só então os discípulos procuram uma solução ou mais uma justificação: «Não temos aqui senão cinco pães e dois peixes». Há alguma coisa, mas vão ficar todos com fome!
Jesus ensina-nos que por mais pequena que seja a semente, o grão de trigo ou de mostarda, pode gerar a grandiosidade, quanto feito com amor, quando o ponto de partida é a bênção. Em vez de olhar à escassez, Jesus olha para o que tem entre mãos e reza. Só na oração o nosso coração se dilata de forma a reconhecermos os outros como irmãos. Como lembrava João Paulo II, numa das últimas mensagens para a Quaresma, quando partilhamos o pouco que temos dá para muitos, dará para todos. Na atualidade, com a evolução técnica e científica, na agricultura e na indústria, há alimentos suficientes para a humanidade inteira e no entanto existem milhares de pessoas subnutridas e a morrer à fome. Porquê? Injusta distribuição, ganância, açambarcamento dos recursos existentes. É o pecado das origens, Adão e Eva recolhem o fruto da árvore para si, esquecendo os outros. Quando assim é, a fome e a miséria, a pobreza e, consequentemente, a violência e a guerra, ganham terreno.
Jesus "tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao Céu e recitou a bênção. Depois partiu os pães e deu-os aos discípulos e os discípulos deram-nos à multidão. Todos comeram e ficaram saciados. E, dos pedaços que sobraram, encheram doze cestos".
Magistral lição de Jesus, a bênção faz-nos repartir o que temos. Quando partilhamos, chega para todos e para os que hão de vir. O milagre da multiplicação é também (e sobretudo) o milagre da partilha, da bênção e do amor.
4 – Gratuidade e partilha, oração e bênção. Tudo tem origem no amor, tudo tem origem em Deus. O desafio de Jesus – dai-lhes vós de comer –, compromete-nos e opõe-se às nossas justificações: acaso sou guarda do meu irmão? Podemos até encontrar razões nas nossas limitações ou na falta de recursos de que dispomos, mas não convencem Jesus e, por conseguinte, não devem justificar qualquer tipo de resignação. Em sentido cristão, quando falámos em resignação não estamos a falar de demissão, mas de conformação à vontade de Deus, ao Seu Amor infinito, o que nos leva a fazer o mesmo que Ele faria.
Isaías, o profeta que mais claramente anuncia a chegada do Messias, caracterizando os tempos messiânicos, pródigos de paz e humildade, de justiça e de amor, formula o convite do Senhor: «Todos vós que tendes sede, vinde à nascente das águas. Vós que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei. Vinde e comprai, sem dinheiro e sem despesa, vinho e leite. Porque gastais o vosso dinheiro naquilo que não alimenta e o vosso trabalho naquilo que não sacia?».
Sem Deus, tudo é negociável. Com Deus tudo tem sentido, o trabalho e o lazer, o alimento e a convivência. Na atualidade verifica-se que tudo tem um preço, por vezes até a consciência. Mas chegamos a um ponto em que só a gratuidade nos faz irmãos e definitivamente nos compromete. Não há dinheiro que garanta a nossa felicidade, não há dinheiro que sacie a nossa humanidade. Só o AMOR. Sem contrapartidas.
Pe. Manuel Gonçalves
Reflexão Dominical na página da Paróquia de Tabuaço.
sábado, 21 de junho de 2014
Santíssimo Corpo e Sangue de Jesus Cristo - 22 de junho
1 – Como seria se não tivéssemos corpo, ou não fôssemos corpo? Como comunicar? Como nos encontrarmos uns com os outros? Não sei se haverá uma resposta satisfatória. Numa perspetiva espiritual, certamente que seria uma comunicação perfeita, plena, mas para nós humanos, muito confusa, uma espécie de seres de luz, anjos, ainda assim com algum tipo de corporeidade. O corpo que somos distingue-nos e aproxima-nos, identifica-nos e permite-nos colocar-nos como um EU frente a um TU. A pele separa-nos dos outros e do mundo, mas permite-nos ver os outros e o mundo, tridimensionalmente. Mesmo um Anjo (ou um ser de luz) assume uma forma que se torna visível.
Deus para Se comunicar ao mundo, à humanidade, fá-l'O respeitando a nossa gravidade corpórea, através de sinais, de pessoas, de acontecimentos. Podemos ouvir uma voz interior. E a oração convoca-nos para esse santuário onde nos encontramos connosco, com a nossa consciência, com Deus. Assim o que há de mais importante na vida – não tem cor nem forma nem cheiro, não faz barulho nem se deixa ver (com os olhos dos sentidos) – são os sentimentos, o amor, a ternura, a compaixão, a nossa vontade, este querer ser para os outros e diante dos outros, a ligação espiritual e afetiva. Mas também o AMOR assume formas e se exterioriza corporalmente por um carinho, um beijo, um abraço, um presente, ou uma palavra, um olhar, um sorriso.
Qual a melhor maneira de Deus Se dar a conhecer? Pelo nosso interior? Pela oração? Pela meditação? Certamente, como ponto de partida, como consciência do que somos e da nossa origem. Chegada a plenitude dos tempos, Deus escolhe manifestar-Se ao mundo, a nós, através de um CORPO, assumindo a nossa CARNE, osso dos nossos ossos, sangue do nosso sangue, Um entre nós, Um connosco. No seio da Virgem Mãe, no sim de Maria santíssima, Deus encarna. Jesus, verdadeiro Deus, é também verdadeiro homem, o Seu Corpo é visível, põe-n'O em contacto com o mundo, pode aproximar-Se sem assustar ninguém ou sem que alguém O julgue fantasma. Anda de dia. Às claras. Pode ver-Se, pode tocar-Se, podemos aproximar-nos d'Ele.
Com a Sua morte, o Seu corpo desaparecerá para sempre. Com a Ressurreição e as Aparições, a certeza de que continuará num Corpo glorioso, que pode deixar-Se ver e tocar, tem as marcas do Crucificado. Por outro lado, no pão e no vinho, por ação do Espírito Santo, deixa-nos um CORPO, o Seu Corpo, a Sua vida. Torna-Se presente, nos Sacramentos, especialmente na Eucaristia. Até ao fim dos tempos.
2 – Durante a última Ceia, Jesus tomou o pão, depois o cálice com vinho, deu graças a Deus, recitou a bênção e disse, alto e bom som: Isto é o Meu corpo, tomai e comei; Este é o Cálice do Meu sangue, tomai e bebei, fazei isto em memória de Mim. Num momento intenso, mas familiar, acolhedor, dentro de casa, com um grupo restrito, com o ambiente a adensar-se, os semblantes a ficarem carregados. As palavras de Jesus são o Seu testamento, a NOVA ALIANÇA. Ele dará a Sua vida, o Seu Corpo por inteiro, até à última gota de sangue. Mas não os deixa, não nos deixa, sós. Ele ficará no MEIO. Sempre que nos reunirmos no Seu nome. Comendo e bebendo o Seu Corpo e o Seu Sangue.
Será uma PRESENÇA NOVA, que Jesus antecipa na Primeira Ceia, e não Última, como sublinha D. António Couto, a Primeira Ceia do TEMPO NOVO, cuja ação e a vitalidade do Espírito Santo, O tornarão real e sacramentalmente presente. Mas há outros momentos em que Jesus insiste com os discípulos e com as multidões: EU darei a minha Vida por vós. Eu Sou a Carne que haveis de comer, até à eternidade.
O povo eleito experimentou a presença de Deus também pelo alimento, pelo pão: "Foi Ele quem, da rocha dura, fez nascer água para ti e, no deserto, te deu a comer o maná, que teus pais não tinham conhecido".
Mas agora é o próprio Deus que Se faz Carne e Se dá a comer. Escutemos as palavras de Jesus:
«Eu sou o pão vivo descido do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu hei de dar é a minha Carne, que Eu darei pela vida do mundo... Se não comerdes a Carne do Filho do homem e não beberdes o seu Sangue, não tereis a vida em vós. Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue tem a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia. A minha Carne é verdadeira comida e o meu Sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue permanece em mim e Eu nele. Assim como o Pai, que vive, Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, também aquele que Me come viverá por Mim. Este é o pão que desceu do Céu; não é como aquele que os vossos pais comeram, e morreram; quem comer deste pão viverá eternamente».
Dúvidas? Como pode Ele dar-nos a comer a Sua carne? A pergunta de então, a pergunta que podemos também fazer! Depois destas palavras, alguns discípulos seguem outro caminho. São palavras duras, quem pode escutá-las? Também vós quereis ir embora, pergunta Jesus aos discípulos que ficarem. Responde Pedro por nós: "A quem iremos, só Tu tens palavras de vida eterna". Talvez o Apóstolo estivesse inspirado ou talvez tenham sido palavras de circunstância para aliviar a tensão e a dureza do momento. Como é que podemos comer a Sua Carne?
3 – O pão e o vinho e o corpo. Trigo, semeado, amadurecido, e colhido, cujos grãos, moídos, dando origem à farinha, que depois de amassada, se torna uma massa compacta, para formar um único pão. Diversidade de grãos, unidade da massa e do pão. Uvas de muitos cachos, pisados, para formarem o mesmo líquido, o mesmo vinho. Corpo com diversos membros, mas um Corpo único em que os membros, tendo funções diversas, formam a harmonia do conjunto.
Jesus fica presente com o Seu Corpo que é a Igreja, dá-nos o Seu Corpo através do Pão e do Vinho, para que participando d'Ele nos tornemos com Ele, pelo Espírito Santo, Um só Corpo. Ou, como dirá na Oração Sacerdotal, para que todos sejamos UM como Ele e o Pai são Um. Dessa forma, Deus fará a Sua morada em nós, tonando-nos Um com Ele.
A este propósito, São Paulo recorda-nos o que nos identifica como seguidores de Jesus Cristo:
"Não é o cálice de bênção que abençoamos a comunhão com o Sangue de Cristo? Não é o pão que partimos a comunhão com o Corpo de Cristo? Visto que há um só pão, nós, embora sejamos muitos, formamos um só corpo, porque participamos do mesmo pão".
O corpo que somos delimita-nos diante dos outros, mas também nos aproxima, também permite o encontro, o diálogo, o face a face. Imaginemos a construção de um LEGO. Mais uma imagem similar ao Pão, ao Vinho, ao Corpo: grãos, bagos/uvas, membros. As peças do lego são de várias cores, tamanhos e feitios, e podem até ter uma textura diferenciada, mas no final, na junção das diferentes peças, surge a figura que se quer: uma casa, um animal, um veículo. Se uma peça estiver mal colocada, ou no sítio errado, ou a substituir alguma que falta, o objeto pode não sair como desejado. Assim nós na comunidade cristã. Cada um de nós é fundamental, mas se um de nós não cumprir com a sua parte, se desperdiçar os talentos que Deus lhe dá, todo o conjunto sofrerá.
Pe. Manuel Gonçalves
Textos para a Eucaristia: Deut 8, 2-3.14b-16a ; 1 Cor 10, 16-17; Jo 6, 51-58.
Reflexão Dominical na página da Paróquia de Tabuaço
domingo, 26 de agosto de 2012
Na Eucaristia: o pão é para mim e também para o outro
A Eucaristia é o alimento destinado àqueles que no Baptismo foram libertados da escravidão e se tornaram filhos; é o alimento que ampara no longo caminho do êxodo através do deserto da existência humana. Como o maná para o povo de Israel, assim para cada geração cristã a Eucaristia é alimento indispensável que ampara enquanto atravessa o deserto deste mundo, ressequido por sistemas ideológicos e económicos que não promovem a vida, mas ao contrário a mortificam; um mundo no qual domina a lógica do poder e do ter em vez da do serviço e do amor; um mundo no qual com frequência triunfa a cultura da violência e da morte. Mas Jesus vem ao nosso encontro e infunde-nos segurança: Ele mesmo é "o pão da vida" (Jo 6, 35.48).
Cristo une-se pessoalmente a cada um de nós, mas é o próprio Cristo que se une também ao homem e à mulher que estão ao meu lado. E o pão é para mim e também para o outro. Assim Cristo une todos nós a si mesmo e une-nos todos uns aos outros. Na comunhão recebemos Cristo. Mas Cristo une-se de igual modo ao meu próximo: Cristo e o próximo são inseparáveis na Eucaristia. E assim todos nós somos um só pão, um só corpo. Uma Eucaristia sem solidariedade com os outros é uma Eucaristia abusada...
Na Eucaristia, Cristo entrega-nos o seu corpo, doa-se a si mesmo no seu corpo e assim faz-nos seu corpo, une-nos ao seu corpo ressuscitado. Se o homem come o pão normal, este pão no processo da digestão torna-se parte do seu corpo, transformado em substância de vida humana. Mas na sagrada Comunhão realiza-se o processo oposto. Cristo, o Senhor, assimila-nos a si, introduz-nos no seu Corpo glorioso e assim todos juntos nos tornamos seu Corpo...
Bento XVI (Celebração do Corpo de Deus, 7 de junho de 2007)
Ninguém pode tornar-se cristão por si próprio. Tornar-se cristão é um processo passivo. Somente podemos tornar-nos cristãos por meio de outro. E este "outro" que nos faz cristãos, que nos oferece o dom da fé, é em primeiro lugar a comunidade dos fiéis, a Igreja. Da Igreja recebemos a fé, o Baptismo. Sem nos deixarmos formar por esta comunidade, não nos tornamos cristãos. Um cristianismo autónomo, autoproduzido, é uma contradição em si. Em primeiro lugar, este outro é a comunidade dos fiéis, a Igreja, mas em segundo lugar também esta comunidade não age sozinha, segundo as próprias ideias e aspirações. Também a comunidade vive no mesmo processo passivo: somente Cristo pode constituir a Igreja. Cristo é o verdadeiro doador dos Sacramentos. Este é o primeiro ponto: ninguém se baptiza a si mesmo, e ninguém se torna cristão por si próprio. Nós tornamo-nos cristãos...Cristo une-se pessoalmente a cada um de nós, mas é o próprio Cristo que se une também ao homem e à mulher que estão ao meu lado. E o pão é para mim e também para o outro. Assim Cristo une todos nós a si mesmo e une-nos todos uns aos outros. Na comunhão recebemos Cristo. Mas Cristo une-se de igual modo ao meu próximo: Cristo e o próximo são inseparáveis na Eucaristia. E assim todos nós somos um só pão, um só corpo. Uma Eucaristia sem solidariedade com os outros é uma Eucaristia abusada...
Na Eucaristia, Cristo entrega-nos o seu corpo, doa-se a si mesmo no seu corpo e assim faz-nos seu corpo, une-nos ao seu corpo ressuscitado. Se o homem come o pão normal, este pão no processo da digestão torna-se parte do seu corpo, transformado em substância de vida humana. Mas na sagrada Comunhão realiza-se o processo oposto. Cristo, o Senhor, assimila-nos a si, introduz-nos no seu Corpo glorioso e assim todos juntos nos tornamos seu Corpo...
BENTO XVI, Audiência Geral, 10 de dezembro de 2010
sábado, 18 de agosto de 2012
XX Domingo do Tempo Comum - B - 19 de agosto
1 – O maior DOM de Deus à humanidade é JESUS CRISTO. Deus faz-Se homem no seio da Virgem Imaculada, pela graça do Espírito Santo, e assume a nossa humanidade, no tempo e prepara-nos para a eternidade.
Ele é o pão que desce do Céu. E o pão que Ele nos dá é a Sua carne, o Seu Corpo, a Sua vida por inteiro. Retomando o Salmo 40, a epístola aos Hebreus ilumina o DOM que é o Corpo de Jesus. “Tu não quiseste sacrifício nem oferenda, mas preparaste-me um corpo. Não te agradaram holocaustos nem sacrifícios pelos pecados. Então, Eu disse: Eis que venho... para fazer, ó Deus, a tua vontade... Suprime, assim, o primeiro culto, para instaurar o segundo. E foi por essa vontade que nós fomos santificados, pela oferta do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez para sempre” (Heb 10, 1-10).
O cordeiro pascal agora é Jesus Cristo, que Se sacrifica pela humanidade inteira e de uma vez para sempre. Não mais holocaustos ou sacrifícios de animais, mas CRISTO.
Adensa-se o clima.
2 – A primeira leitura convida ao alimento, que é corporal, mas que aponta para o mundo espiritual, um pão que sacia a fome e que anima o espírito para caminhar.
O alimento que Deus nos dá há de orientar-nos para o bem, dando sentido às nossas escolhas, fundamentando a nossa esperança, cuidando do nosso peregrinar.
Nos domingos anteriores, as primeiras leituras, retiradas do Antigo Testamento, apresentavam o alimento como dom de Deus, que dá o pão e o ânimo (alma). Eliseu, reza sobre os pães e distribuiu-os pelos presentes, e do pouco pão se multiplica para muitos, relembrando a passagem do Evangelho da multiplicação dos pães. O povo que caminha pelo deserto é atendido nas suas murmurações, e Deus dá-lhe alimento, o maná e as codornizes, o pão descido do céu. O povo, na certeza que Deus o escuta, caminha doravante mais confiante. Elias, que vagueia pelo deserto, desanimado, pedindo a morte a Deus, é surpreendido pela presença do Anjo do Senhor, que o desperta, lhe oferece o alimento e o desafia a caminhar.
3 – Nestes domingos que temos vindo a escutar o quarto evangelho, Jesus apresenta-Se despudoradamente como o PÃO da VIDA, o verdadeiro alimento que vem de Deus. É a água que sacia. É o Pastor que guarda, protege e guia. É o pão descido do Céu. E o pão que nos dá é a Sua carne, o Seu sangue, o Seu corpo, a Sua vida por inteiro.
E se verdadeiramente O acolhemos como alimento, todo o nosso ser se abrirá à Sua graça infinita. Não estamos sós. Nunca mais. Ele está connosco. Do nosso lado. Veio para ficar. Deixa-nos o Seu corpo, a Sua vida. Não Se divide em dois, nem no tempo nem na eternidade. Não se reparte em metades, uma junto de Deus e outra junto de nós. Ele está realmente nos Sacramentos e especialmente no Sacramento da Caridade, na Eucaristia, neste memorial de vida eterna.
Uma comparação entre a presença de Cristo na cruz e na Eucaristia, que nos foi relembrada numa recente pregação, pode ajudar-nos a compreender o grande mistério do Pão que se nos dá como Corpo de Cristo. Nos crucifixos vemos Jesus Cristo mas Ele não está (o crucifixo é apenas uma imagem). Na Eucaristia não Se vê mas Ele está realmente presente, como o está nos outros Sacramentos, pela força do Espírito Santo.
4 – Se verdadeiramente acolhemos Jesus Cristo como o verdadeiro Pão que Deus nos dá, ALIMENTO de salvação, então a nossa vida muda. Muda como quando gostamos de alguém e queremos ser-lhe agradáveis, fazendo muitas vezes não o que mais gostamos e nos é mais fácil, mas o que sabemos ser do agrado da pessoa amada, que queremos fazer feliz. É isso que define e autentica o amor. Não amo o outro para ele me fazer feliz, mas quando amo o outro tudo faço para que ele seja feliz.
A Palavra de Deus faz-nos passar rapidamente do alimento para o compromisso. Comemos para trabalhar. Alimentamo-nos para vivermos, para caminharmos. Em sentido espiritual, o alimento que é Cristo há de levar-nos a agir como Ele agiu, a amar como Ele amou, a sermos parte do Seu Corpo, a darmo-nos como Ele Se nos deu.
“Guarda do mal a tua língua e da mentira os teus lábios. Evita o mal e faz o bem, procura a paz e segue os seus passos”. Como no Salmo, saboreamos a presença de Deus em nós e, por conseguinte, evitamos todo o mal e perseguimos todo o bem.
Do mesmo jeito, o apóstolo São Paulo, mostra-nos como nos configurarmos ao Corpo de Cristo, que é a Igreja e do qual somos membros:
Ele é o pão que desce do Céu. E o pão que Ele nos dá é a Sua carne, o Seu Corpo, a Sua vida por inteiro. Retomando o Salmo 40, a epístola aos Hebreus ilumina o DOM que é o Corpo de Jesus. “Tu não quiseste sacrifício nem oferenda, mas preparaste-me um corpo. Não te agradaram holocaustos nem sacrifícios pelos pecados. Então, Eu disse: Eis que venho... para fazer, ó Deus, a tua vontade... Suprime, assim, o primeiro culto, para instaurar o segundo. E foi por essa vontade que nós fomos santificados, pela oferta do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez para sempre” (Heb 10, 1-10).
O cordeiro pascal agora é Jesus Cristo, que Se sacrifica pela humanidade inteira e de uma vez para sempre. Não mais holocaustos ou sacrifícios de animais, mas CRISTO.
Adensa-se o clima.
“Os judeus discutiam entre si: «Como pode ele dar-nos a sua carne a comer?»… «Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós… A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e eu nele... Este é o pão que desceu do Céu; não é como o dos vossos pais, que o comeram e morreram: quem comer deste pão viverá eternamente»”.Ele dá-nos o Seu corpo, a Sua vida, para nossa salvação, para que tenhamos a vida em abundância, até à vida eterna.
2 – A primeira leitura convida ao alimento, que é corporal, mas que aponta para o mundo espiritual, um pão que sacia a fome e que anima o espírito para caminhar.
Atente-se na clareza do texto: o pão (e o vinho), símbolo de todo o alimento, não é apenas pão, é mais que pão. Releia-se: Vinde comer... deixai a insensatez e vivereis, segui o caminho da prudência!“A Sabedoria edificou a sua casa e levantou sete colunas. Abateu os seus animais, preparou o vinho e pôs a mesa. Enviou as suas servas a proclamar nos pontos mais altos da cidade: «Quem é inexperiente venha por aqui». E aos insensatos ela diz: «Vinde comer do meu pão e beber do vinho que vos preparei. Deixai a insensatez e vivereis; segui o caminho da prudência»”.
O alimento que Deus nos dá há de orientar-nos para o bem, dando sentido às nossas escolhas, fundamentando a nossa esperança, cuidando do nosso peregrinar.
Nos domingos anteriores, as primeiras leituras, retiradas do Antigo Testamento, apresentavam o alimento como dom de Deus, que dá o pão e o ânimo (alma). Eliseu, reza sobre os pães e distribuiu-os pelos presentes, e do pouco pão se multiplica para muitos, relembrando a passagem do Evangelho da multiplicação dos pães. O povo que caminha pelo deserto é atendido nas suas murmurações, e Deus dá-lhe alimento, o maná e as codornizes, o pão descido do céu. O povo, na certeza que Deus o escuta, caminha doravante mais confiante. Elias, que vagueia pelo deserto, desanimado, pedindo a morte a Deus, é surpreendido pela presença do Anjo do Senhor, que o desperta, lhe oferece o alimento e o desafia a caminhar.
3 – Nestes domingos que temos vindo a escutar o quarto evangelho, Jesus apresenta-Se despudoradamente como o PÃO da VIDA, o verdadeiro alimento que vem de Deus. É a água que sacia. É o Pastor que guarda, protege e guia. É o pão descido do Céu. E o pão que nos dá é a Sua carne, o Seu sangue, o Seu corpo, a Sua vida por inteiro.
E se verdadeiramente O acolhemos como alimento, todo o nosso ser se abrirá à Sua graça infinita. Não estamos sós. Nunca mais. Ele está connosco. Do nosso lado. Veio para ficar. Deixa-nos o Seu corpo, a Sua vida. Não Se divide em dois, nem no tempo nem na eternidade. Não se reparte em metades, uma junto de Deus e outra junto de nós. Ele está realmente nos Sacramentos e especialmente no Sacramento da Caridade, na Eucaristia, neste memorial de vida eterna.
Uma comparação entre a presença de Cristo na cruz e na Eucaristia, que nos foi relembrada numa recente pregação, pode ajudar-nos a compreender o grande mistério do Pão que se nos dá como Corpo de Cristo. Nos crucifixos vemos Jesus Cristo mas Ele não está (o crucifixo é apenas uma imagem). Na Eucaristia não Se vê mas Ele está realmente presente, como o está nos outros Sacramentos, pela força do Espírito Santo.
4 – Se verdadeiramente acolhemos Jesus Cristo como o verdadeiro Pão que Deus nos dá, ALIMENTO de salvação, então a nossa vida muda. Muda como quando gostamos de alguém e queremos ser-lhe agradáveis, fazendo muitas vezes não o que mais gostamos e nos é mais fácil, mas o que sabemos ser do agrado da pessoa amada, que queremos fazer feliz. É isso que define e autentica o amor. Não amo o outro para ele me fazer feliz, mas quando amo o outro tudo faço para que ele seja feliz.
A Palavra de Deus faz-nos passar rapidamente do alimento para o compromisso. Comemos para trabalhar. Alimentamo-nos para vivermos, para caminharmos. Em sentido espiritual, o alimento que é Cristo há de levar-nos a agir como Ele agiu, a amar como Ele amou, a sermos parte do Seu Corpo, a darmo-nos como Ele Se nos deu.
“Guarda do mal a tua língua e da mentira os teus lábios. Evita o mal e faz o bem, procura a paz e segue os seus passos”. Como no Salmo, saboreamos a presença de Deus em nós e, por conseguinte, evitamos todo o mal e perseguimos todo o bem.
Do mesmo jeito, o apóstolo São Paulo, mostra-nos como nos configurarmos ao Corpo de Cristo, que é a Igreja e do qual somos membros:
“Não vivais como insensatos, mas como pessoas inteligentes. Aproveitai bem o tempo, porque os dias que correm são maus… procurai compreender qual é a vontade do Senhor. Não vos embriagueis… mas enchei-vos do Espírito Santo,… dando graças, por tudo e em todo o tempo, a Deus Pai, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo”.O alimento corporal é essencial, mas essencial é também a vida, a graça de Deus, a sabedoria, a companhia, a beleza, a presença dos irmãos, sentirmo-nos parte de algo maior e mais duradouro. Como é bom e belo e agradável sermos Corpo de Cristo.
Textos para a Eucaristia (ano B): Prov 9,1-6; Sl 33 (34); Ef 5,15-20; Jo 6,51-58.
Reflexão Dominical na página da Paróquia de Tabuaço
sábado, 4 de agosto de 2012
XVIII Domingo do Tempo Comum (B) - 5 de agosto
1 – Jesus respondeu-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: Não foi Moisés que vos deu o pão do Céu; meu Pai é que vos dá o verdadeiro pão do Céu. O pão de Deus é o que desce do Céu para dar a vida ao mundo». Disseram-Lhe eles: «Senhor, dá-nos sempre desse pão». Jesus respondeu-lhes: «Eu sou o pão da vida: quem vem a Mim nunca mais terá fome, quem acredita em Mim nunca mais terá sede».
Nos domingos anteriores vimos a sensibilidade de Jesus, plena de humanidade, enxertada no quotidiano e na vida de pessoas de carne e osso. Ele é o Bom Pastor que cuida da humanidade inteira, muitas vezes como ovelhas sem pastor. É o Pão da Vida, o Pão de Deus, que não se desgasta, como todo o alimento, mas se multiplica no acolhimento e na partilha. Não é pão ao lado de outros pães, resposta utilitarista como muitas religiões o fazem, como a religião do consumo e do capitalismo selvagem, em que tudo se vende e se compra e se facilita e se digere cada vez mais com pressa, criando dependentes, pessoas angustiadas, ansiosas pela novidade de momento, em caminhos de posse e egoísmo e destruição.
Os que acorrem a Jesus levam motivações diversas, alguns buscam verdade e outros vida, alguns buscam dividendos e outros colam-se ao sucesso e à fama que daí poderá advir, alguns buscam um caminho fácil, e soluções servidas numa bandeja.
Ao encontrá-l’O no outro lado do mar, disseram-Lhe: «Mestre, quando chegaste aqui?». Jesus respondeu-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: vós procurais-Me, não porque vistes milagres, mas porque comestes dos pães e ficastes saciados. Trabalhai, não tanto pela comida que se perde, mas pelo alimento que dura até à vida eterna e que o Filho do homem vos dará. A Ele é que o Pai, o próprio Deus, marcou com o seu selo».O Pão que é Cristo Jesus não é desgastável, a curto prazo, não se compra nem se vende, não se negoceia ao melhor preço, nem escasseia, dura até à vida eterna, em abundância como a vida humana, em abertura ao Infinito.
2 – A experiência do Povo de Deus que nos conduz a Jesus é feita de muitas buscas e hesitações, de desvios e aproximações a Deus, de descobertas e de desafios. Satisfeitos de uma necessidade logo outra evidenciam. Libertos da escravidão, logo murmuram contra Deus e os chefes que Ele escolheu para os liderar. A vida, no seu rosto mais humano, não é fruto de magia, não é linear, mas multicolor, com altos e baixos, com sinais evidentes da presença e do amor de Deus, mas com a exigência da liberdade, das escolhas a fazer, do trabalho, dos caminhos que cada um, cada família, cada tribo, há de preparar e endireitar até chegar ao CAMINHO que é Deus.
"Toda a comunidade dos filhos de Israel começou a murmurar no deserto contra Moisés e Aarão. Disseram-lhes os filhos de Israel: «Antes tivéssemos morrido às mãos do Senhor na terra do Egipto, quando estávamos sentados ao pé das panelas de carne e comíamos pão até nos saciarmos. Trouxestes-nos a este deserto, para deixar morrer à fome toda esta multidão». Então o Senhor disse a Moisés: «Vou fazer que chova para vós pão do céu. O povo sairá para apanhar a quantidade necessária para cada dia. Vou assim pô-lo à prova, para ver se segue ou não a minha lei. Eu ouvi as murmurações dos filhos de Israel. Vai dizer-lhes: ‘Ao cair da noite comereis carne e de manhã saciar-vos-eis de pão. Então reconhecereis que Eu sou o Senhor, vosso Deus’».Quando eram escravos, aceitavam-se como tal, espécie de máquinas que não pensam, apenas trabalham e comem e descansam conforme lhes é mandado. Livres têm de pensar, de refletir, de procurar comida e alimento, e encontrar um sentido novo para o novo tempo de que dispõem. Têm de conquistar lugar, aprender a ser gente, a tornarem-se solidários na pobreza e na procura e na abundância.
Para qualquer um de nós, a resposta, se imediata, seria de crítica, de recusa e de revolta – como é possível murmurarem contra os libertadores! Ver-se-á a impaciência de Moisés e a sua irritação. Também ele terá que aprender de Deus e com Deus. Para já um pão e um alimento a prazo, em cada manhã e em cada tarde, que também é necessário, mas desde já o alerta para um outro pão, o sentido da nossa existência. A resposta de Deus também aqui é positiva e tornar-se-á plena de graça e salvação em Jesus Cristo, o Pão descido do Céu para ao Céu a todos nos elevar.
3 – Belíssima a ponte que o Apóstolo São Paulo nos ajuda a fazer, entre o Povo Eleito e o novo Povo que é a Igreja, Corpo de Cristo, a Quem pertencemos. Ponte entre a ignorância e a revelação, entre a infantilidade da nossa fé e o amadurecimento em Jesus, entre a hesitação do caminho e a LUZ que d’Ele irradia e nos atrai como íman. Não é o mesmo atravessar um corredor completamente às escuras, sem saber onde vai dar ou atravessá-lo às claras, ou com uma luz que nos guia, mostrando-nos a meta onde queremos ir. Como diz a fadista, não adianta correr se não sabemos o caminho. Ou todo o vento é desfavorável ao barco que anda à deriva (Séneca).
"Não torneis a proceder como os pagãos, que vivem na futilidade dos seus pensamentos. Não foi assim que aprendestes a conhecer a Cristo, se é que d’Ele ouvistes pregar e sobre Ele fostes instruídos, conforme a verdade que está em Jesus. É necessário abandonar a vida de outrora e pôr de parte o homem velho, corrompido por desejos enganadores. Renovai-vos pela transformação espiritual da vossa inteligência e revesti-vos do homem novo, criado à imagem de Deus na justiça e santidade verdadeiras".O convite é semelhante nas três leituras. Deus, através de Moisés, liberta o povo da escravidão para viver um tempo novo, não sob o chicote, mas em liberdade, em que cada um terá que contribuir com os seus talentos, para o bem de todos. No Evangelho, Jesus propõe um nova atitude, que parte da fé, que se alimenta na caridade e no compromisso com o nosso semelhante, que que não se contenta com mínimos garantidos mas com a plenitude da vida eterna. São Paulo recorda-nos a nossa identidade, o nosso nascimento e conhecimento em Jesus, sublinhando que agora que sabemos de Cristo e com Ele nos encontrámos não podemos fazer de conta e viver da mesma maneira. Vivamos à maneira de Jesus Cristo, verdadeiro alimento para as nossas vidas.
Textos para a Eucaristia (ano B): Ex 16, 2-4.12-15; Ef 4, 17.20-24; Jo 6, 24-35.
Reflexão Dminical na página da paróquia de Tabuaço
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