Mostrar mensagens com a etiqueta Sementes. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Sementes. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Recebeu a palavra em boa terra: ouve a palavra...

       Jesus aos seus discípulos: «Escutai o que significa a parábola do semeador: Quando um homem ouve a palavra do reino e não a compreende, vem o Maligno e arrebata o que foi semeado no seu coração. Este é o que recebeu a semente ao longo do caminho. Aquele que recebeu a semente em sítios pedregosos é o que ouve a palavra e a acolhe de momento com alegria, mas não tem raiz em si mesmo, porque é inconstante, e, ao chegar a tribulação ou a perseguição por causa da palavra, sucumbe logo. Aquele que recebeu a semente entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo e a sedução da riqueza sufocam a palavra, que assim não dá fruto. E aquele que recebeu a palavra em boa terra é o que ouve a palavra e a compreende. Esse dá fruto e produz ora cem, ora sessenta, ora trinta por um» (Mt 13, 18-23).
       Fácil de entender a parábola. Mais fácil se torna com a explicação de Jesus.
       Tradicionalmente, os diferentes terrenos seriam diferentes pessoas. Mas não é descabido pensar que cada um de nós, em diferentes épocas da sua vida, passa por diversas fases, umas vezes é terreno fértil, outras, pedregoso, outras vezes, terra com muitos espinhos.
       Por vezes as circunstâncias da vida deixam-nos sem paciência para escutar. Fechamo-nos. Não queremos ouvir. Não queremos que nos macem. Isolámo-nos.
       Outras vezes, escutámos a Palavra de Deus e a voz da nossa consciência que nos atrai para Deus, mas temos muitas urgências: decidir, fazer, comprar, sair, divertir, encontros e mais encontros, festas, compromissos inadiáveis, muito trabalho... e não temos tempo nem para nós, nem para os outros, nem para a família, nem para viver com alegria e generosidade.
       Por vezes até gostaríamos de fazer diferente, comprometermo-nos mais, mas falta a coragem. Outras vezes, deixamos que outros façam. Outras vezes, vamos com a corrente...
       Mas também sabemos ser, e também somos, em muitas situações, terreno fértil, onde a Palavra de Deus germina e dá fruto em abundância.

Enquadramento mais abrangente:
XV Domingo do TC (ano A) - 10 de julho de 2011

sábado, 19 de julho de 2014

XVI Domingo do Tempo Comum - ano A - 20 de julho

       1 – Deus é lento para a ira e rico de misericórdia, "é um Deus clemente e compassivo, sem pressa para Se indignar e cheio de misericórdia e fidelidade" (Ex 34, 6). É isto que Jesus volta a dizer-nos de forma clara e inequívoca.
       Depois da parábola do Semeador que sai a semear e cuja semente encontra terrenos diversos, Jesus propõe-nos a parábola do trigo e do joio. «O reino dos Céus pode comparar-se a um homem que semeou boa semente no seu campo. Enquanto todos dormiam, veio o inimigo, semeou joio no meio do trigo e foi-se embora. Quando o trigo cresceu e começou a espigar, apareceu também o joio».
       Apercebendo-se do que está a acontecer logo os seus servos querem cortar o mal pela raiz. Então o senhor diz-lhes: "Não! Não suceda que, ao arrancardes o joio, arranqueis também o trigo". Quando chegar a altura da ceifa, amadurecendo o trigo e o joio, terão oportunidade de separar o trigo e o joio. Ao nascer e no crescer o trigo e o joio confundem-se facilmente. Mas com o tempo, o trigo cresce acima do joio…
       Já em casa, Jesus volta a explicar aos discípulos a parábola do trigo e do joio. «Aquele que semeia a boa semente é o Filho do homem e o campo é o mundo. A boa semente são os filhos do reino, o joio são os filhos do Maligno e o inimigo que o semeou é o Diabo. A ceifa é o fim do mundo e os ceifeiros são os Anjos. Como o joio é apanhado e queimado no fogo, assim será no fim do mundo».
       Em cada um de nós, cresce o trigo e o joio simultaneamente. Poderemos colocar os bons de um lado e os maus do outro lado. Nesse caso cortamos o joio antes da ceifeira. E de que lado nos situamos? Seremos os bons para excluir os maus? Ou seremos os maus que se querem perdidos na escuridão e no pecado?
       Amadureçamos a semente que Jesus lançou no nosso coração e na nossa vida, cuidemos da nossa terra, vamos mondando com cuidado para não destruir o que de bom vamos encontrando, criemos condições cada dia mais favoráveis para que o trigo seja mais forte e robusto e possa ir abafando o joio que há em nós.
        2 – Uma árvore ao cair faz muito mais barulho que todas as árvores da floresta a crescer.
       Uma notícia negativa gera uma maior atenção e tem direito a um tempo de antena alargado com todos os desenvolvimentos possíveis, os vários pontos de vistas, opiniões de quem viu e de quem não viu, emoções, sentimentos. Uma notícia positiva tem algumas dificuldades de afirmação, ainda que possa ser um bom sinal na medida em que o bem continua a ser expectável.
       A velha imagem que se adequa à parábola de Jesus, o risco de deitar fora a água suja e o bebé. Olhando para a vasilha só se vê a água turva, mas dentro está o bebé. É preciso cuidado e antes de deitar fora a água verificar que nada de bom e útil segue o mesmo destino.
       No recente Campeonato do Mundo de Futebol, 16 equipas, espalhadas pelos diferentes continentes conseguiram um feito meritório, entre muitas outras apuraram-se para a fase final. Luta, trabalho, sacrifício, para superar os adversários. Na fase final, algumas equipas obtiveram mais sucesso que outras. Até podem ter perdido jogos em que jogaram melhor futebol. Este tem uma dose elevada de sorte. Um primeiro golo pode derrubar por completo a confiança. Uma derrota ou a eliminação fez explodir, em relação a algumas seleções de futebol, como Portugal e Brasil, um rol infindável de críticas como se tudo tivesse corrido mal. Perante uma derrota é difícil ver o bem e avaliar de forma equilibrada, sem com isto desvalorizar a necessidade de se fazer uma avaliação sobre o correu bem e o que correu menos bem.
       O trigo e o joio, o bem e o mal, o branco e o preto, a vida e a morte, a luz e as trevas. As antíteses até podem ser atraentes, mas a vida não é assim, é multicolor e tem diversas matizes, uma definição não encaixa em todas as pessoas do mesmo modo.
       Temos pressa e queremos resultados imediatos. Bento XVI, no início do Seu pontificado, dizia de uma forma muito acessível que a nossa pressa destrói, precipita-nos. A paciência de Deus, que brota do amor, da compaixão, da Sua misericórdia infinita, constrói. Deus é paciente, espera por nós. Sempre.
       Num grupo eclesial, numa turma (escolar), num clube de futebol, num partido, numa empresa, um incidente, uma momento infeliz, pode destruir rapidamente tudo o que se construiu com carinho e dedicação. Caindo em rápidos juízos de valor, o sério risco de colocarmos tudo em causa, desanimarmos, fazermos com que os outros desanimem.
       Paga o justo pelo pecador. Algo correu mal. Aconteceu o que não era suposto acontecer. Alguém tem de pagar as favas, ou pagam todos. Um elemento saiu fora da linha, então desiste-se por completo do projeto em causa.
       3 – Deus age, por vezes silenciosamente, em nós e através de nós. Podemos ter vontade e desejo de transformar o mundo inteiro, mas nem a nossa vida transformaremos senão deixarmos que o Espírito Santo nos envolva e reaviva em nós a memória e a identidade de filhos adotivos de Deus.
       Com o tempo, tomamos consciência que o nosso esforço não obtém resultados imediatos nem tampouco os frutos que eram esperados diante do muito que fizemos. A reação pode levar-nos a desistir e a conformar-nos com as situações vigentes. Porém, tal como na parábola do trigo e do joio, contamos com a paciência e compaixão de Deus. Para que a semente dê fruto abundante e maduro é preciso cuidado, trato, mas sobretudo deixar que Deus opere na terra que somos, solo ávido da Palavra de Deus e da Sua presença amorosa.
       Jesus explicita o agir de Deus e a confiança que nos deve suscitar através de mais duas parábolas:
  • «O reino dos Céus pode comparar-se ao grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. Sendo a menor de todas as sementes, depois de crescer, é a maior de todas as plantas da horta e torna-se árvore, de modo que as aves do céu vêm abrigar-se nos seus ramos».
  • «O reino dos Céus pode comparar-se ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha, até ficar tudo levedado».
       Também por aqui se vê que Deus não age pelo exterior, pela força, pelo espetacular, mas pelo humilde e delicado, a partir do nosso interior. Deus age apenas e só através do amor com que nos cria e salva em Cristo Jesus, pela força do Espírito Santo. Por mais pequena que seja a semente, com Deus produzirá em abundância. O que fizermos só por nós pode ser muito, mas será sempre pouco. O que fizermos com Deus, ou deixarmos que Deus faça em nós e através de nós, ainda que seja pouco, será sempre muito, será sempre amor, e não correremos o risco de desanimar com a mesma facilidade de nos centrarmos apenas em nós. Sozinhos não existimos. Alguém duvida?

       4 – Na verdade, diz-nos o Apóstolo, "o Espírito Santo vem em auxílio da nossa fraqueza, porque não sabemos que pedir nas nossas orações; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis. E Aquele que vê no íntimo dos corações conhece as aspirações do Espírito, pois é em conformidade com Deus que o Espírito intercede pelos cristãos". Na oração encontramo-nos com o mesmo Deus, que dilata o nosso coração, envolvendo-nos na compaixão com o próximo.
       O Senhor Deus é o garante da nossa vida presente e futura, Ele que nos criou e em Cristo nos redimiu. Desde sempre, Deus cuida de nós, usando de misericórdia e paciência. "Vós, o Senhor da força, julgais com bondade e governais-nos com muita indulgência, porque sempre podeis usar da força quando quiserdes. Agindo deste modo, ensinastes ao vosso povo que o justo deve ser humano e aos vossos filhos destes a esperança feliz de que, após o pecado, dais lugar ao arrependimento".
       Como é belo saber que o nosso Pai – como os nossos pais terrenos – está sempre de coração disponível e de braços abertos para nos acolher em casa, mesmo quando fomos injustos, ingratos, rebeldes. Por mais que nos tenhamos afastado, o coração do Pai (e dos pais) está pronto para nós. Faz toda a diferença. Sabemos que ainda que tudo corra mal, temos um poiso, um lugar em Quem nos encontrarmos e para onde voltarmos. A nossa casa é onde estão os que nos querem bem.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (ano A): Sab 12, 13. 16-19; Sl 85 (86); Rom 8, 26-27; Mt 13, 24-43.

sábado, 16 de junho de 2012

XI Domingo do Tempo Comum (ano B) - 17 de junho

       1 – Como o ar que respiramos e que nos permite viver, sem cheiro nem cor, nem intensidade, sem o podermos tocar, ou prender, sem o conseguirmos ver ou dispensar, assim Deus na nossa vida, no mundo, no universo inteiro.
       Quantas vezes experimentamos a fragilidade da nossa condição humana, na doença, na incompreensão daqueles que nos rodeiam e em quem confiamos, pela morte de alguém que nos era demasiado próximo, por situações em que a natureza nos abandona e se revolta, pela incapacidade de resolver os problemas com que nos deparamos, pelo sofrimento de tantas pessoas inocentes.
       No evangelho que hoje nos é proposto são-nos apresentadas duas parábolas sobre o reino de Deus, comparável, segundo Jesus Cristo, a uma semente lançada à terra e que cresce dia e noite, silenciosamente, sem se dar por isso, ou a um grão de mostarda que sendo a menor das sementes se converte em frondosa árvore.
Disse Jesus à multidão: «O reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. Dorme e levanta-se, noite e dia, enquanto a semente germina e cresce, sem ele saber como. A terra produz por si, primeiro a planta, depois a espiga, por fim o trigo maduro na espiga. E quando o trigo o permite, logo mete a foice, porque já chegou o tempo da colheita». Jesus dizia ainda: «A que havemos de comparar o reino de Deus? Em que parábola o havemos de apresentar? É como um grão de mostarda, que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes que há sobre a terra; mas, depois de semeado, começa a crescer, e torna-se a maior de todas as plantas da horta, estendendo de tal forma os seus ramos que as aves do céu podem abrigar-se à sua sombra».
       Numa e noutra parábola, se depreende a presença vital e invisível como Deus na nossa história. Ele agarra-se a nós, desde sempre e para sempre. Vem com a força do Seu Espírito, enformando a nossa vida, mas deixando que seja a nossa vontade a comandar, a acolher ou a rejeitar, em sintonia ou em rutura. Certo é que em momentos de maior dor, temos dificuldade em perceber o Seu amor, a Sua presença. Como Mãe solícita, Deus sofre connosco, caminha connosco, dá-nos o Seu amor maior: Jesus Cristo.
       2 – A história dos homens e das mulheres é feita de momentos de grande transfiguração positiva, de encontro, de descoberta e proximidade, de vida sonhada e partilhada, mas também de situações de aflição e rutura, de conflito, de guerra e violência, de destruição. E nesta nossa história, Deus continua a vir a nós para nos desafiar, para nos conduzir e elevar, para cumprir com as suas promessas de felicidade e para nos garantir o futuro de paz e de justiça, aqui e até à eternidade.
       O povo da aliança fez a experiência dolorosa do exílio, da perseguição, do conflito de poderes, de insegurança. Experimentou o inverno e o desconforto do deserto, a desconfiança, o desencanto, a dúvida. Foram tantas as adversidades e desencontros que muitas vezes Israel gritou pela presença mais palpável, pela intervenção mais ativa e visível de Deus. O povo eleito clamou por justiça e por uma LUZ incandescente, apelando à misericórdia divina, apelando para as maravilhas realizadas no passado a favor de todo o povo.
       O profeta relembra o Deus que vem, vem Ele mesmo. Há que ter esperança, há que abrir o coração e a vida, para que Ele venha e nós O encontremos. As palavras de Deus, segundo Ezequiel:
«Do cimo do cedro frondoso, dos seus ramos mais altos, Eu próprio arrancarei um ramo novo e vou plantá-lo num monte muito alto. Na excelsa montanha de Israel o plantarei e ele lançará ramos e dará frutos e tornar-se-á um cedro majestoso. Nele farão ninho todas as aves, toda a espécie de pássaros habitará à sombra dos seus ramos. E todas as árvores do campo hão de saber que Eu sou o Senhor; humilho a árvore elevada e elevo a árvore modesta, faço secar a árvore verde e reverdeço a árvore seca. Eu, o Senhor, digo e faço».
       Um ramo novo, vida nova, anúncio de frutos novos, vida fundeada na esperança, e nas promessas de Deus. Ele é o Senhor, fiel à palavra dada que breve se há de cumprir.

       3 – Os tempos novos que nos são anunciados pelo profeta são-nos concedidos em Jesus Cristo, que nos traz a vida nova, nos traz o próprio Deus. As promessas alcançam-nos na história, no tempo e no espaço humanos. Em Jesus Cristo, Deus concede-nos ser Sua morada para sempre, no Espírito Santo. Com efeito, antes de deixar este mundo, Jesus deixa-nos o memorial da Sua presença, dando-nos a Sua vida, o Seu Corpo e Sangue, devolvidos na Eucaristia. Ascendendo para a eternidade, com Ele, coloca a nossa natureza humana junto do Pai. Com o Pai, envia-nos o Espírito Santo, que nos recorda o Seu mandamento de amor, e a Sua vida feita oração e oblação, atraindo-nos para a Luz e para a Verdade, atraindo-nos para Si, não como afastamento mas como compromisso com o mundo atual e com as pessoas que pûs em nossa presença.
       São expressivas, uma vez mais, as palavras do Apóstolo:
"Nós estamos sempre cheios de confiança, sabendo que, enquanto habitarmos neste corpo, vivemos como exilados, longe do Senhor, pois caminhamos à luz da fé e não da visão clara. E com esta confiança, preferíamos exilar-nos do corpo, para irmos habitar junto do Senhor. Por isso nos empenhamos em ser-Lhe agradáveis, quer continuemos a habitar no corpo, quer tenhamos de sair dele. Todos nós devemos comparecer perante o tribunal de Cristo, para que receba cada qual o que tiver merecido, enquanto esteve no corpo, quer o bem, quer o mal".
       Vivemos guiados pela luz da fé, de olhar fito em Deus, e enquanto continuamos a habitar em nosso corpo, a missão de Lhe sermos agradáveis, inserindo-nos desde já no Seu reino eterno. Quando chegar a hora do nosso encontro definitivo, a confiança em que vivemos na fé, dará lugar à visão clara do amor de Deus por nós, e em nós, para sempre.

Textos para a Eucaristia (ano B): Ez 17,22-24; 2 Cor 5,6-10; Mc 4,26-34.

sábado, 16 de julho de 2011

XVI Domingo do Tempo Comum - 17 de Julho

1 – No Evangelho deste Domingo, Jesus fala-nos de novo em parábolas:
  • "O reino dos Céus pode comparar-se a um homem que semeou boa semente no seu campo. Enquanto todos dormiam, veio o inimigo, semeou joio no meio do trigo e foi-se embora. Quando o trigo cresceu e deu fruto, apareceu também o joio. Os servos do dono da casa foram dizer-lhe: ‘Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem então o joio? Ele respondeu-lhes: ‘Foi um inimigo que fez isso’. Disseram-lhe os servos: ‘Queres que vamos arrancar o joio?’ ‘Não! – disse ele – não suceda que, ao arrancardes o joio, arranqueis também o trigo. Deixai-os crescer ambos até à ceifa e, na altura da ceifa, direi aos ceifeiros: Apanhai primeiro o joio e atai-o em molhos para queimar; e ao trigo, recolhei-o no meu celeiro’".
  • "O reino dos Céus pode comparar-se a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. Sendo a menor de todas as sementes, depois de crescer, é a maior de todas as hortaliças e torna-se árvore, de modo que as aves do céu vêm abrigar-se nos seus ramos".
  • "O reino dos Céus pode comparar-se ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha, até ficar tudo levedado".
       2 – Num primeiro momento, tal como na parábola do Semeador que saiu a semear, do passado domingo, nota-se como a Palavra de Deus, qual semente, pequenina, às vezes quase imperceptível, como o grão de mostarda, ou como fermento invisível ao olhar e até ao paladar (quando muito pode notar-se a sua ausência), germina com eficácia, ainda que por vezes sobrevenha conjuntamente o mal, o joio, que pode abafar o trigo, a boa semente, tal como na vida em que muitas vezes o mal esconde todo o bem de uma pessoa, de um grupo, de uma instituição.
        Veja-se o caso das notícias que passam nos meios de comunicação social: quase na totalidade, negativas. Se aparece uma positiva ou é relativizado, colocada no boletim informativo quase como um apêndice, ou já não provoca entusiasmo. No dia seguinte (se não for no mesmo dia), quando nos encontramos no café, na rua, nos nossos passeios e nos nossos encontros, de que é que falamos, daquela boa notícia? Talvez. Mas o mais certo e habitual é falarmos de mais um episódio negativo, da crise, da corrupção...
       3 – Mas vejamos o significado que Jesus dá à parábola do trigo e do joio. Também agora Ele no-la explica: “Aquele que semeia a boa semente é o Filho do homem e o campo é o mundo. A boa semente são os filhos do reino, o joio são os filhos do Maligno e o inimigo que o semeou é o Demónio. A ceifa é o fim do mundo e os ceifeiros são os Anjos. Como o joio é apanhado e queimado no fogo, assim será no fim do mundo: o Filho do homem enviará os seus Anjos, que tirarão do seu reino todos os escandalosos e todos os que praticam a iniquidade, e hão-de lançá-los na fornalha ardente; aí haverá choro e ranger de dentes. Então, os justos brilharão como o sol no reino do seu Pai".
       Tal como na parábola da semana passada, também acerca desta não é descabido pensar que o trigo e o joio crescem juntos nas mesmas pessoas. Imediatamente, os bons são o trigo e os maus o joio. Mas, reflectindo um pouco mais, vemos como em cada um de nós cresce simultaneamente o trigo e o joio, ainda que por vezes se destaque um dos elementos. Há pessoas que produzem trigo em abundância. Há pessoas que deixam que o joio abafe e destrua a boa semente que trazem em si.

       4 – Olhando ainda para esta parábola, podemos aferir como a paciência de Deus é infinita. Ele não julga no início ou quando surgem as primeiras dificuldades ou os primeiros erros, espera, cuida, ama, perdoa, respeita a nossa liberdade e as nossas escolhas, deixam-nos tentar, deixa-nos errar, mas impele-los para Si, sempre, pacientemente, até ao fim, até que o bem possa abafar o mal.

       Também nas palavras da Sabedoria e do Salmo encontramos esta certeza:
  • "Vós, o Senhor da força, julgais com bondade e governais-nos com muita indulgência, porque sempre podeis usar da força quando quiserdes. Agindo deste modo, ensinastes ao vosso povo que o justo deve ser humano e aos vossos filhos destes a esperança feliz de que, após o pecado, dais lugar ao arrependimento".
  • "Senhor, sois um Deus bondoso e compassivo, paciente e cheio de misericórdia e fidelidade. Voltai para mim os vossos olhos e tende piedade de mim".
       5 – Neste entretanto, enquanto cresce o trigo e o joio, conjuntamente, nós temos a ajuda do Senhor, da Sua Palavra, dos Seus Sacramentos, do Espírito Santo. Como o Apóstolo também nós estamos cientes que "o Espírito Santo vem em auxilio da nossa fraqueza, porque não sabemos que pedir nas nossas orações; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis. E Aquele que vê no íntimo dos corações conhece as aspirações do Espírito, sabe que Ele intercede pelos santos em conformidade com Deus".
       Se o Espírito Santo nos habita, tudo se torna mais fácil, basta-nos acreditar, basta-nos deixar que a nossa vontade se transfigure e se vá identificar com a vontade de Deus, para que o joio que possa haver em nós perca força diante da boa semente que cresce, amadurece e dá fruto.

Textos para a Eucaristia (ano A):
Sab 12,13.16-19; Sl 85 (86); Rom 8,26-27; Mt 13,24-43.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

XV Domingo do Tempo Comum - 10 de Julho

        1 – Naquele tempo, Jesus com os seus discípulos, frente a uma grande multidão, que constantemente surgia na Sua presença, começou a ensinar, usando diversas parábolas. A parábola, proposta neste domingo – "O Semeador que saiu a semear" –, é extraordinária, de uma beleza contagiante, e com uma mensagem provocante, envolvente, comovedora.
       Ouçamo-la do próprio Jesus: “Saiu o semeador a semear. Quando semeava, caíram algumas sementes ao longo do caminho: vieram as aves e comeram-nas. Outras caíram em sítios pedregosos, onde não havia muita terra, e logo nasceram porque a terra era pouco profunda; mas depois de nascer o sol, queimaram-se e secaram, por não terem raiz. Outras caíram entre espinhos e os espinhos cresceram e afogaram-nas. Outras caíram em boa terra e deram fruto: umas, cem; outras, sessenta; outras, trinta por um".
        E se noutras parábolas temos que encontrar uma explicação, nesta o próprio Jesus no-la apresenta: "Quando um homem ouve a palavra do reino e não a compreende, vem o Maligno e arrebata o que foi semeado no seu coração. Este é o que recebeu a semente ao longo do caminho. Aquele que recebeu a semente em sítios pedregosos é o que ouve a palavra e a acolhe de momento, mas não tem raiz em si mesmo, porque é inconstante, e, ao chegar a tribulação ou a perseguição por causa da palavra, sucumbe logo. Aquele que recebeu a semente entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo e a sedução da riqueza sufocam a palavra, que assim não dá fruto. E aquele que recebeu a palavra em boa terra é o que ouve a palavra e a compreende. Esse dá fruto, produz ora cem, ora sessenta, ora trinta por um”.
       2 – Fácil de entender a parábola. Mais fácil se torna com a explicação de Jesus.
Tradicionalmente, os diferentes terrenos seriam diferentes pessoas. Mas não é descabido pensar que cada um de nós, em diferentes épocas da sua vida, passa por diversas fases, umas vezes é terreno fértil, outras, pedregoso, outras vezes, terra com muitos espinhos.
       Por vezes as circunstâncias da vida deixam-nos sem paciência para escutar. Fechamo-nos. Não queremos ouvir. Não queremos que nos macem. Isolámo-nos
       Outras vezes, escutámos a Palavra de Deus e a voz da nossa consciência que nos atrai para Deus, mas temos muitas urgências: decidir, fazer, comprar, sair, divertir, encontros e mais encontros, festas, compromissos inadiáveis, muito trabalho... e não temos tempo nem para nós, nem para os outros, nem para a família, nem para viver com alegria e generosidade.
       Por vezes até gostaríamos de fazer diferente, comprometermo-nos mais, mas falta a coragem. Outras vezes, deixamos que outros façam. Outras vezes, vamos com a corrente...
       Mas também sabemos ser, e também somos, em muitas situações, terreno fértil, onde a Palavra de Deus germina e dá fruto em abundância.

       3 – O profeta Isaías utiliza a mesma imagem de Jesus, dizendo que a semente sempre produz, como a Palavra de Deus sempre germina e dá fruto. Vejamos o que nos diz o Senhor: “Assim como a chuva e a neve que descem do céu não voltam para lá sem terem regado a terra, sem a terem fecundado e feito produzir, para que dê a semente ao semeador e o pão para comer, assim a palavra que sai da minha boca não volta sem ter produzido o seu efeito, sem ter cumprido a minha vontade, sem ter realizado a sua missão”.
       A vida (e o mundo) conta connosco. Deus conta connosco. Ou passamos pela vida como espectadores passivos, ou tornamo-nos actores, protagonistas da nossa história e agentes de transformação do mundo em que nos inserimos, na família, na comunidade, na nossa rua, na nossa freguesia, no nosso país.
       Cruzarmos os braços de pouco adianta como não adianta passarmos o tempo a lamentar-nos, a achar que poderíamos ter feito diferente, ou que aquele ou aquela deveriam ter feito assim ou assado, ou que não temos jeito, ou temos jeito mas não temos tempo, ou não temos oportunidade. A vida continua... connosco, ou sem nós. A escolha é nossa. Deixamos passar a vida por nós? Ou vivemo-la com garra, com paixão, com alegria?

       4 – O nosso compromisso cristão é com o tempo presente e com este mundo. Regámos a semente que germina em nós, a Palavra que gera vida, a presença de Deus que nos envolve com a transformação do mundo, certos que o nosso esforço e a nossa dedicação, dando o melhor de nós mesmos, como Jesus constantemente nos desafia, contribuirá para que este mundo seja habitável e se torna casa de todos.
       Mas nada somos sem a força do Espírito, o discernimento da Sua graça em nós, que nos permite viver na verdade e no bem. Neste tempo e até à eternidade. Para já estamos como que em trabalho de parto, na alegria e na confiança que é Deus que guia a História, experimentando, porém, a fragilidade e a finitude, o que, por vezes, nos pode trazer sofrimento, por ainda não vermos claramente os frutos do Espírito de Deus.
       Mas ouçamos a voz reconfortante do Apóstolo: "Eu penso que os sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que se há-de manifestar em nós... Sabemos que toda a criatura geme ainda agora e sofre as dores da maternidade. E não só ela, mas também nós, que possuímos as primícias do Espírito, gememos interiormente, esperando a adopção filial e a libertação do nosso corpo".
       Vivemos nesta tensão escatológica entre o já da salvação que se opera em Cristo, através do Seu Espírito de Amor, e o ainda não da glória definitiva junto de Deus na eternidade. Mas é uma tensão saudável, que nos atrai para Deus, mas que nos engloba no todo da humanidade.

Textos para a Eucaristia (ano A): Is 55,10-11; Rom 8,18-23; Mt 13,1-23.

domingo, 21 de novembro de 2010

Amizade...

" Plante sementes de bondade e de amor, mas não se preocupe com os resultados futuros.Se não obteve o bem que esperava, ou a gratidão desejada , não se aborreça .Ajude, passe adiante! Lance as sementes ao solo, e deixe que cresçam e frutifiquem segundo as possibilidades do terreno.Mas, por enquanto,plante as sementes da bondade e do amor ,por onde quer que passe."(C.T.P.) (Dylma)

sábado, 18 de setembro de 2010

Saiu o semeador a semear...

       "É este o sentido da parábola: A semente é a palavra de Deus. Os que estão à beira do caminho são aqueles que ouvem, mas depois vem o diabo tirar-lhes a palavra do coração, para que não acreditem e se salvem. Os que estão em terreno pedregoso são aqueles que, ao ouvirem, acolhem a palavra com alegria, mas, como não têm raiz, acreditam por algum tempo e afastam-se quando chega a provação. A semente que caiu entre espinhos são aqueles que ouviram, mas, sob o peso dos cuidados, da riqueza e dos prazeres da vida, sentem-se sufocados e não chegam a amadurecer. A semente que caiu em boa terra são aqueles que ouviram a palavra com um coração nobre e generoso, a conservam e dão fruto pela sua perseverança" (Lc 8, 4-15).
       A parábola que Jesus nos propõe, comparando o reino de Deus, ao semeador que saiu a semear, é convite a que nos tornemos terra fértil para acolher a palavra de Deus e assim ela produza fruto em nós e através de nós. A semente é lançada à terra, mas nem toda cai em terra fértil, alguma cai entre espinhos, à beira do caminho, em terra pedregosa. As nossas preocupações e afazeres podem aniquilar ou abafar a palavra de Deus em nós.
       Não deixemos que a semente da palavra de Deus caia em saco roto, mas que ela ilumine a nossa vida...

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O reino de Deus pode comparar-se...

       O reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. Dorme e levanta-se, noite e dia, enquanto a semente germina e cresce, sem ele saber como. A terra produz por si, primeiro a planta, depois a espiga, por fim o trigo maduro na espiga. E quando o trigo o permite, logo se mete a foice, porque já chegou o tempo da colheita...
       ...É como um grão de mostarda, que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes que há sobre a terra; mas, depois de semeado, começa a crescer e torna-se a maior de todas as plantas da horta, estendendo de tal forma os seus ramos que as aves do céu podem abrigar-se à sua sombra (Mc 4, 26-34).
       Nas parábolas de Jesus sobre o reino de Deus encontramos de novo a temática da semente. Jesus é o semeador. A semente é a Palavra de Deus. O campo é o mundo, é o ser humano. Nestas duas parábolas percebe-se que a presença e acção de Deus, embora invisível, produzem em abundância. Cabe-nos acolher os dons de Deus...

domingo, 25 de outubro de 2009

O Semeador

Voltou Jesus a ensinar à beira mar. E reuniu-se numerosa multidão a Ele, de modo que entrou num barco onde se sentou, afastando-se da praia. E todo o povo estava à beira-mar, na praia. Assim lhes ensinava muitas coisas por parábolas, no decorrer do seu doutrinamento.Ouvi: Eis que saiu o semeador a semear!.
E, ao semear, uma parte caiu à beira do caminho, vieram as aves e a comeram.
Outra caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, e logo nasceu, visto não ser profunda a terra.
Saindo, porém, o sol a queimou, e, porque não tinha raiz, secou.
Outra parte caiu entre os espinhos; os espinhos cresceram e a sufocaram, e não deu fruto.
Outra, enfim, caiu em boa terra e deu fruto, que vingou e cresceu, produzindo a trinta, a sessenta e a cem por um.
E acrescentou: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!

Parábolas de Jesus
Evangelho de S. Marcos cap.4 vers. 2-20

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A velhinha das sementes...

Era uma vez um homem que apanhava diariamente o autocarro para o trabalho. Após a primeira paragem, subia uma senhora que se sentava ao lado da janela. A senhora abria a carteira e durante todo o trajecto atirava algo pela janela.
Fazia sempre a mesma coisa e, um dia, o homem intrigado, perguntou-lhe o que estava a atirar pela janela.
- São sementes - respondeu-lhe a velhinha.
- Sementes? Sementes de quê?

- De flores. É que olho lá para fora e está tudo tão vazio! Gostaria de poder viajar vendo flores durante todo o caminho. Não acha que era bonito?
- Mas as sementes caem na estrada, os carros destroem-nas, os pássaros comem-nas! Acha que as suas sementes irão germinar em todo o caminho?
- Claro que sim. Mesmo que algumas se percam, outras irão para a terra e, com o tempo, crescerão.
- Mas... demorarão a crescer, precisam de água!
- Eu faço aquilo que posso, os dias de chuva hão-de vir!
A velhinha seguiu com o seu trabalho.

E o homem saiu do autocarro para ir trabalhar, pensando que a senhora tinha perdido um pouco do seu juízo .
Uns meses depois, quando ia para o trabalho, o homem, ao olhar pela janela, viu o caminho cheio de flores, era uma verdadeira paisagem colorida de flores! Lembrou-se da idosa, mas já há alguns dias que não a via. Perguntou então ao motorista:
- A senhora das sementes?
- Coitada, morreu o mês passado.
O homem sentou-se novamente e continuou a olhar para a paisagem, pensando:
«As flores nasceram, mas para que serviu todo esse trabalho, se não pôde ver o resultado?».
De repente, ouviu o riso de uma criança. Uma menina apontava entusiasmada para as flores...
- Olha pai! Olha tantas flores bonitas!

Não é preciso explicar a moral desta história, pois não? A velhinha desta história fez o seu trabalho, e deixou a sua herança a todos quantos a puderam receber, a todos os que puderam contemplá-la e ser mais felizes.
Dizem que o homem, desde aquele dia, faz a viagem de casa para o trabalho com um saco de sementes que vai espalhando!...