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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Vaticano II - Ser humano diante da morte

       É em face da morte que o enigma da condição humana mais se adensa. Não é só a dor e a progressiva dissolução do corpo que atormentam o homem, mas também, e ainda mais, o temor de que tudo acabe para sempre. Mas a intuição do próprio coração fá-lo acertar, quando o leva a aborrecer e a recusar a ruína total e o desaparecimento definitivo da sua pessoa. O germe de eternidade que nele existe, irredutível à pura matéria, insurge-se contra a morte. Todas as tentativas da técnica, por muito úteis que sejam, não conseguem acalmar a ansiedade do homem: o prolongamento da longevidade biológica não pode satisfazer aquele desejo duma vida ulterior, invencìvelmente radicado no seu coração.

In Gaudium et Spes, n.º 18: AQUI.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Vaticano II - esperanças e temores na atualidade

       Para levar a cabo esta missão, é dever da Igreja investigar a todo o momento os sinais dos tempos, e interpretá-los à luz do Evangelho; para que assim possa responder, de modo adaptado em cada geração, às eternas perguntas dos homens acerca do sentido da vida presente e da futura, e da relação entre ambas. É, por isso, necessário conhecer e compreender o mundo em que vivemos, as suas esperanças e aspirações, e o seu carácter tantas vezes dramático. Algumas das principais características do mundo actual podem delinear-se do seguinte modo.
       A humanidade vive hoje uma fase nova da sua história, na qual profundas e rápidas transformações se estendem progressivamente a toda a terra. Provocadas pela inteligência e actividade criadora do homem, elas reincidem sobre o mesmo homem, sobre os seus juízos e desejos individuais e colectivos, sobre os seus modos de pensar e agir, tanto em relação às coisas como às pessoas. De tal modo que podemos já falar duma verdadeira transformação social e cultural, que se reflecte também na vida religiosa.
       Como acontece em qualquer crise de crescimento, esta transformação traz consigo não pequenas dificuldades. Assim, o homem, que tão imensamente alarga o próprio poder, nem sempre é capaz de o pôr ao seu serviço. Ao procurar penetrar mais fundo no interior de si mesmo, aparece frequentemente mais incerto a seu próprio respeito. E, descobrindo gradualmente com maior clareza as leis da vida social, hesita quanto à direcção que a esta deve imprimir.
       Nunca o género humano teve ao seu dispor tão grande abundância de riquezas, possibilidades e poderio económico; e, no entanto, uma imensa parte dos habitantes da terra é atormentada pela fome e pela miséria, e inúmeros são ainda os analfabetos. Nunca os homens tiveram um tão vivo sentido da liberdade como hoje, em que surgem novas formas de servidão social e psicológica. Ao mesmo tempo que o mundo experimenta intensamente a própria unidade e a interdependência mútua dos seus membros na solidariedade necessária, ei-lo gravemente dilacerado por forças antagónicas; persistem ainda, com efeito, agudos conflitos políticos, sociais, económicos, «raciais» e ideológicos, nem está eliminado o perigo duma guerra que tudo subverta. Aumenta o intercâmbio das ideias; mas as próprias palavras com que se exprimem conceitos da maior importância assumem sentidos muito diferentes segundo as diversas ideologias. Finalmente, procura-se com todo o empenho uma ordem temporal mais perfeita, mas sem que a acompanhe um progresso espiritual proporcionado.
       Marcados por circunstâncias tão complexas, muitos dos nossos contemporâneos são incapazes de discernir os valores verdadeiramente permanentes e de os harmonizar com os novamente descobertos. Daí que, agitados entre a esperança e a angústia, sentem-se oprimidos pela inquietação, quando se interrogam acerca da evolução actual dos acontecimentos. Mas esta desafia o homem, força-o até a uma resposta.

In Gaudium et Spes, n.º 4: AQUI.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Hora dos bons interromperem o silêncio

“O que mais preocupa não é o grito dos violentos,
nem dos corruptos,
nem dos desonestos,
nem dos sem caráter,
nem dos sem-ética.
O que mais preocupa é o silêncio dos bons”.
                                                 Martin Luther King


       Vivemos, hoje, momentos complexos que ao longo dos anos não quisemos admitir que era o tempo da mudança. A mudança do mundo a que João XXIII foi sensível aprofundou-se e acelerou. A Gaudium et Spes assumiu-o claramente: “verificam-se transformações profundas nos nossos dias, nas estruturas e nas instituições dos povos, que acompanham a sua evolução cultural, económica e social” (G.S. nº 73).
       Meio século depois, os efeitos da mudança contínua alteraram o rosto da humanidade, mudaram os valores das civilizações e traçaram um novo quadro para o sentido da vida, individual e coletiva. E os cristãos não ficaram imunes a esta transformação, mudaram ao ritmo da sociedade, encontrando, em geral, a chave da interpretação da vida e da história, na mudança da sociedade, e não no Evangelho e na fé como fonte de uma compreensão global da existência.
       A transformação tornou-se mais solidária e interventiva, daí a vasta rede de instituições de solidariedade social existentes no nosso País, muitas das quais situadas na área de influência da Igreja Católica, contribuindo para a mudança de paradigma e seu enorme impacto na erradicação da pobreza. Contudo, sabemos que não chega fazer mudanças particulares se vivemos num Estado que gere o dia a dia dos cidadãos, criando-lhes dificuldades de acessos básicos do viver, em vez da melhoria do bem-estar individual e coletivo.
       Exemplo disso é o novo imposto extraordinário, aprovado recentemente e, que irá incidir sobre o subsídio de Natal, afetando milhares de pessoas, nomeadamente os dependentes e pensionistas. Entre tantas outras medidas de austeridade, esta é mais uma grave decisão governamental que coloca as famílias numa situação ainda mais complicada.
       É neste contexto, que as ações desenvolvidas pela Caritas Portuguesa (atuando através das Caritas diocesanas), na conceptualização e na inovação da intervenção social, surgem com particular relevo.
       Em concreto, a Operação 10 Milhões de estrelas – um Gesto pela Paz, apresenta-se como uma resposta na promoção da justiça social e da solidariedade, num momento complexo e ímpar das famílias portuguesas. O apelo à importância das verbas recolhidas por cada Caritas diocesana reforça a eficácia que cada um de nós poderá ter na divulgação e promoção desta ação, contribuindo para o pleno sentido do agir humano tendo em vista o bem comum.
       Através da iniciativa Operação 10 Milhões de estrelas – um Gesto pela Paz, a Caritas Portuguesa lança uma mensagem clara de solidariedade e apela aos cidadãos, em particular aos cristãos, para se mobilizarem em torno dos mais carenciados contribuindo com a compra de uma vela pelo preço de 1 euro.
       Diante do quadro atual de crise, ninguém pode permanecer passivo, como se as soluções para os problemas pessoais e coletivos pudessem vir dos outros, sem o contributo de cada um. O debate que é preciso fazer não deve situar-se apenas ao nível das premissas e dos valores, mas deve igualmente sugerir ações que possam promover a solidariedade.
       A hora difícil que estamos todos a viver ao nível dos valores humanos, requer uma profunda reflexão e o envolvimento alargado da sociedade portuguesa, na resposta aos desafios que se colocam. E dessas respostas sairá a possibilidade de construir, em consenso, uma Economia ao serviço do ser humano e uma Política que a ajude a encontrar-se e a cumprir as tarefas de uma civilização que tem de ser cada vez mais humana.
       Porém, a força e a potência criadora, Deus, é sempre a mesma. Por conseguinte, é no encontro com Deus que os homens e mulheres se transformam fazendo uma história de vida humana em comunhão com uma história divina. Esta é a hora dos bons interromperem o seu silêncio!

Bernardino Silva, Coordenador nacional da Operação 10 Milhões de estrelas – um Gesto pela Paz