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domingo, 31 de março de 2019

Homilia do Papa Francisco em Marrocos - 31/03/2019

«Quando ainda estava longe, o pai viu-o e, enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço e cobriu-o de beijos» (Lc 15, 20).

       Assim nos leva o Evangelho ao coração da parábola onde se apresenta o comportamento do pai quando vê regressar o seu filho: comovido até às entranhas, não espera que ele chegue a casa, mas surpreende-o correndo ao seu encontro. Um filho ansiosamente esperado. Um pai comovido ao vê-lo regressar.
       Mas não foi a única vez que o pai correu. A sua alegria seria incompleta sem a presença do outro filho. Por isso, sai também ao seu encontro, para convidá-lo a tomar parte na festa (cf. 15, 28). Contudo o filho mais velho parece não gostar das festas de boas-vindas, custava-lhe suportar a alegria do pai, não reconhece o regresso do seu irmão: «esse teu filho» (15, 30) – dizia. Para ele, o irmão continua perdido, porque já o perdera no seu coração.
       Incapaz de participar na festa, não só não reconhece o irmão, mas tão-pouco reconhece o pai. Prefere ser órfão à fraternidade, o isolamento ao encontro, a amargura à festa. Custa-lhe não só compreender e perdoar a seu irmão, mas também aceitar ter um pai capaz de perdoar, disposto a esperar e velar por que ninguém fique fora; enfim, um pai capaz de sentir compaixão.

       No limiar daquela casa, parece manifestar-se o mistério da nossa humanidade: por um lado, temos a festa pelo filho reencontrado e, por outro, um certo sentimento de traição e indignação por se festejar o seu regresso. Por um lado, a hospitalidade para quem experimentara tal miséria e sofrimento, que chegara ao ponto de exalar o cheiro dos porcos e querer alimentar-se com o que eles comiam; por outro, a irritação e o ressentimento por se dar lugar a alguém que não era digno nem merecedor de tal abraço.
       Deste modo, mais uma vez vem à luz a tensão que se vive no meio da nossa gente e nas nossas comunidades, e até dentro de nós mesmos. Uma tensão que, a partir de Caim e Abel, mora em nós e que somos convidados a encarar: Quem tem direito a permanecer entre nós, ocupar um lugar à nossa mesa e nas nossas assembleias, nas nossas solicitudes e serviços, nas nossas praças e cidades? Parece continuar a ressoar aquela pergunta fratricida: Porventura sou eu o guardião do meu irmão? (cf. Gn 4, 9).
       No limiar daquela casa, surgem as divisões e desencontros, a agressividade e os conflitos que sempre atingirão as portas dos nossos grandes desejos, das nossas lutas pela fraternidade e pela possibilidade de cada pessoa experimentar desde já a sua condição e dignidade de filho.
       Mas no limiar daquela casa brilhará também em toda a sua claridade, sem lucubrações nem desculpas que lhe tirem força, o desejo do Pai: que todos os seus filhos tomem parte na sua alegria; que ninguém viva em condições desumanas como seu filho mais novo, nem na orfandade, isolamento ou amargura como o filho mais velho. O seu coração quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade (cf. 1 Tm 2, 4).

       Sem dúvida, há tantas circunstâncias que podem alimentar a divisão e o conflito; são inegáveis as situações que podem levar a afrontar-nos e dividir-nos. Não podemos negá-lo. Estamos sempre ameaçados pela tentação de crer no ódio e na vingança como formas legítimas de obter justiça de maneira rápida e eficaz. Mas a experiência diz-nos que a única coisa que conseguem o ódio, a divisão e a vingança é matar a alma da nossa gente, envenenar a esperança dos nossos filhos, destruir e fazer desaparecer tudo o que amamos.
       Por isso, Jesus convida-nos a fixar e contemplar o coração do Pai. Só a partir dele poderemos, cada dia, redescobrir-nos como irmãos. Só a partir deste horizonte amplo, capaz de nos ajudar a superar as nossas míopes lógicas de divisão, é que seremos capazes de alcançar um olhar que não pretenda obscurecer ou desmentir as nossas diferenças, buscando talvez uma unidade forçada ou uma marginalização silenciosa. Só se formos capazes diariamente de levantar os olhos para o céu e dizer Pai Nosso, é que poderemos entrar numa dinâmica que nos possibilite olhar e ousar viver, não como inimigos, mas como irmãos.

       «Tudo o que é meu é teu» (Lc 15, 31): diz o pai ao filho mais velho. E não se refere apenas aos bens materiais, mas a ser participante também do seu próprio amor e compaixão. Esta é a maior herança e riqueza do cristão. Com efeito, em vez de nos medirmos ou classificarmos com base numa condição moral, social, étnica ou religiosa, podemos reconhecer que existe outra condição que ninguém poderá apagar ou aniquilar, pois é puro dom: a condição de filhos amados, esperados e festejados pelo Pai.
       «Tudo o que é meu é teu», incluindo a minha capacidade de compaixão: diz-nos o Pai. Não caiamos na tentação de reduzir a nossa filiação a uma questão de leis e proibições, de deveres e seu cumprimento. A nossa filiação e a nossa missão nascerão, não de voluntarismos, legalismos, relativismos ou integrismos, mas da imploração feita por pessoas crentes que diariamente rezam com humildade e constância: Venha a nós o vosso Reino.
       A parábola do Evangelho deixa aberto o final. Vemos o pai rogar ao filho mais velho que entre e participe na festa da misericórdia; mas o evangelista nada diz acerca da decisão que ele tomou. Ter-se-á associado à festa? Podemos pensar que este final aberto sirva para cada comunidade, cada um de nós o escrever com a sua vida, o seu olhar e atitude para com os outros. O cristão sabe que, na casa do Pai, há muitas moradas; de fora, ficam apenas aqueles que não querem tomar parte na sua alegria.

       Queridos irmãos, quero agradecer-vos pela forma como dais testemunho do Evangelho da misericórdia nestas terras. Obrigado pelos esforços feitos para tornardes as vossas comunidades oásis de misericórdia. Animo-vos e encorajo a continuar a fazer crescer a cultura da misericórdia, uma cultura na qual ninguém olhe para o outro com indiferença nem desvie o olhar ao ver o seu sofrimento (cf. Carta ap. Misericordia et misera, 20). Continuai ao lado dos humildes e dos pobres, daqueles que são rejeitados, abandonados e ignorados; continuai a ser sinal do abraço e do coração do Pai.
       Que o Misericordioso e o Clemente – como tantas vezes O invocam os nossos irmãos e irmãs muçulmanos – vos fortaleça e faça frutificar as obras do vosso amor.


Papa Francisco
Complexo Desportivo Príncipe Moulay Abdellah - Rabat, 31 de março de 2019)

sábado, 14 de maio de 2016

Bento XVI no Porto: tudo se define a partir de Cristo

       No dia 14 de maio de 2010, Bento XVI, na Viagem Apostólica a Portugal, Festa de São Matias...


       "...pelo mesmo amor que criou o mundo, a novidade do Reino surgiu como pequena semente que germina na terra, como centelha de luz que irrompe nas trevas, como aurora de um dia sem ocaso: É Cristo ressuscitado. E apareceu aos seus amigos, mostrando-lhes a necessidade da cruz para chegar à ressurreição.


       "Meus irmãos e irmãs, é necessário que vos torneis comigo testemunhas da ressurreição de Jesus. Na realidade, se não fordes vós as suas testemunhas no próprio ambiente, quem o será em vosso lugar? O cristão é, na Igreja e com a Igreja, um missionário de Cristo enviado ao mundo. Esta é a missão inadiável de cada comunidade eclesial: receber de Deus e oferecer ao mundo Cristo ressuscitado, para que todas as situações de definhamento e morte se transformem, pelo Espírito, em ocasiões de crescimento e vida. Para isso, em cada celebração eucarística, ouviremos mais atentamente a Palavra de Cristo e saborearemos assiduamente o Pão da sua presença.


       "Nada impomos, mas sempre propomos, como Pedro nos recomenda...

       "...hoje a Igreja é chamada a enfrentar desafios novos e está pronta a dialogar com culturas e religiões diversas, procurando construir juntamente com cada pessoa de boa vontade a pacífica convivência dos povos.


       "Sim! Somos chamados a servir a humanidade do nosso tempo, confiando unicamente em Jesus, deixando-nos iluminar pela sua Palavra...

       "Tudo se define a partir de Cristo, quanto à origem e à eficácia da missão: a missão recebemo-la sempre de Cristo, que nos deu a conhecer o que ouviu a seu Pai, e somos nela investidos por meio do Espírito na Igreja. Como a própria Igreja, obra de Cristo e do seu Espírito, trata-se de renovar a face da terra a partir de Deus, sempre e só de Deus!
       Queridos irmãos e amigos do Porto, levantai os olhos para Aquela que escolhestes como padroeira da cidade, Nossa Senhora da Conceição...

Homilia de Bento XVI, na cidade do Porto: BentoXVIemPortugal.

Salmo 112 - Missa com Bento XVI, no Porto

       Estivemos lá.
       14 de maio de 2010, Eucaristia presidida pelo Papa Bento XVI, no Porto, no âmbito da Viagem Pastoral a Portugal. Magnífica interpretação do Salmo 112, na Festa de São Matias. Apesar do som menos conseguido, derivado à captação, vale a pena escutar...

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Papa Francisco - Catequese sobre a Viagem a África

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Nos dias passados, realizei a minha primeira viagem apostólica à África. É bela a África! Dou graças ao Senhor por esse seu grande dom, que me permitiu visitar três países: primeiro o Quénia, depois Uganda e enfim a República Centro-Africana. Exprimo novamente o meu reconhecimento às autoridades civis e aos bispos destas nações por terem me acolhido e agradeço a todos aqueles que de tantos modos colaboraram. Obrigado de coração!

O Quénia é um país que representa bem o desafio global da nossa época: proteger a criação reformando o modelo de desenvolvimento para que seja igualitário, inclusivo e sustentável. Tudo isso se reflete em Nairóbi, a maior cidade da África oriental, onde convivem a riqueza e a miséria: mas isso é um escândalo! Não somente na África: também aqui, em todo lugar. A convivência entre riqueza e miséria é um escândalo, é uma vergonha para a humanidade. Em Nairóbi tem sede o escritório das Nações Unidas para o Ambiente, que visitei. No Quénia, encontrei as autoridades e diplomatas e também os moradores de um bairro popular; encontrei os líderes das diversas confissões cristãs e das outras religiões, os sacerdotes e os consagrados e encontrei os jovens, tantos jovens! Em toda ocasião encorajei a valorizar a grande riqueza daquele país: riqueza natural e espiritual, constituída pelos recursos da terra, das novas gerações e dos valores que formam a sabedoria do povo. Neste contexto tão dramaticamente atual, tive a alegria de levar a palavra de esperança de Jesus: “Sejais fortes na fé, não tenhais medo”. Este era o lema da visita. Uma palavra que é vivida todos os dias por tantas pessoas humildes e simples, com nobre dignidade; uma palavra testemunhada de modo trágico e heróico pelos jovens da Universidade de Garissa, mortos em 2 de abril passado porque eram cristãos. O sangue deles é semente de paz e de fraternidade para o Quénia, para a África e para todo o mundo.

Depois, em Uganda, a minha visita aconteceu na comemoração dos mártires daquele país, a 50 anos da sua histórica canonização pelo beato Paulo VI. Por isso o lema era: “Sereis minhas testemunhas” (At 1,8). Um lema que pressupõe as palavras imediatamente precedentes: “Tereis força do Espírito Santo”, porque o Espírito que anima o coração e as mãos dos discípulos missionários. E toda a visita a Uganda se desenvolveu no fervor do testemunho animado pelo Espírito Santo. Testemunho em sentido explícito é o serviço dos catequistas, a quem agradeci e encorajei pelo seu empenho, que muitas vezes envolve também suas famílias. Testemunho é aquele da caridade, que toquei com a mão na Casa de Nalukolongo, mas que vê empenhadas tantas comunidades e associações no serviço aos mais pobres, aos deficientes, aos doentes. Testemunho é aquele dos jovens que, apesar das dificuldades, protegem o dom da esperança e procuram viver segundo o Evangelho e não segundo o mundo, vão contra corrente. Testemunhas são os sacerdotes, os consagrados e as consagradas que renovam dia após dia o seu “sim” total a Cristo e se dedicam com alegria ao serviço do povo santo de Deus. E há um outro grupo de testemunhas, mas falarei delas depois. Todo esse multiforme testemunho animado pelo mesmo Espírito Santo é fermento para toda a sociedade, como demonstra a obra eficaz realizada em Uganda na luta contra a SIDA e no acolhimento aos refugiados.

A terceira etapa da viagem foi na República Centro-Africana, no coração geográfico do continente: justamente, é o coração da África. Esta visita foi, na verdade, a primeira na minha intenção, porque aquele país está procurando sair de um período muito difícil, de conflitos violentos e tanto sofrimento na população. Por isso quis abrir justamente lá, em Bangui, com uma semana de antecedência, a primeira Porta Santa do Jubileu da Misericórdia, como sinal de fé e de esperança para aquele povo e simbolicamente para todas as populações africanas as mais necessitadas de redenção e de conforto. O convite de Jesus aos discípulos: “Passemos para a outra margem” (Lc 8, 22), era o lema para a República Centro-Africana. “Passar para a outra margem”, em sentido civil, significa deixar para trás a guerra, as divisões, a miséria e escolher a paz, a reconciliação, o desenvolvimento. Mas isso pressupõe uma “passagem” que acontece nas consciências, nas atitudes e nas intenções das pessoas. E neste nível é decisiva a contribuição das comunidades religiosas. Por isso encontrei as comunidades evangélicas e aquela muçulmana, partilhando a oração e o empenho pela paz. Com os sacerdotes e os consagrados, mas também com os jovens, partilhamos a alegria de sentir que o Senhor ressuscitou connosco na barca e é Ele que a guia para a outra margem. E enfim, na última Missa, no estádio de Bangui, na festa do apóstolo André, renovamos o empenho de seguir Jesus, nossa esperança, nossa paz, Face da divina Misericórdia. Aquela última Missa foi maravilhosa: estava cheia de jovens, um estádio de jovens! Mas mais da metade da população na República Centro-Africana são menores, têm menos de 18 anos: uma promessa para seguir adiante!

Gostaria de dizer uma palavra sobre missionários. Homens e mulheres que deixaram a pátria, tudo…Quando jovens foram para lá, conduzindo uma vida de tanto trabalho, às vezes dormindo no chão. Em um certo momento encontrei em Bangui uma irmã, era italiana. Via-se que era idosa. “Quantos anos tem?”, perguntei. “81”. “Mas, não muito, dois a mais que eu”. Esta senhora estava lá desde quando tinha 23, 24 anos: toda a vida! E como ela, tantas. Estava com um uma menina. E a menina, em italiano, lhe dizia: “Vovó”. E a irmã me disse: “Mas eu não sou daqui, do país vizinho, do Congo; mas vim de canoa, com essa menina”. Assim são os missionários: corajosos. “E o que a senhor afaz, irmã?”. “Eu sou enfermeira e depois estudei um pouco e me tornei obstetra e fiz nascer 3280 crianças”. Assim me disse. Toda uma vida pela vida, pela vida dos outros. E como essa irmã, há tantas, tantas: tantas irmãs, tantos padres, tantos religiosos que doam a vida para anunciar Jesus Cristo. É belo ver isso. É belo.

Eu gostaria de dizer uma palavra aos jovens. Mas, há pouco jovens, porque a natalidade é um luxo, parece, na Europa: natalidade zero, natalidade 1%. Mas me dirijo aos jovens: pensem o que fazem da vida de vocês. Pensem nessa irmã e em tantas como ela, que deram a vida e tantas morreram, lá. A missionariedade não é fazer proselitismo: dizia-me essa irmã que as mulheres muçulmanas vão até ela porque sabem que as irmãs são enfermeiras boas que cuidam bem delas e não fazem catequese para convertê-las! Dão testemunho; depois, a quem quer, dão a catequese. Mas o testemunho: essa é a grande missionariedade heróica da Igreja. Anunciar Jesus Cristo com a própria vida! Eu me dirijo aos jovens: pense no que vocês estão fazendo das suas vidas. É o momento de pensar e de pedir ao Senhor que faça vocês sentirem a sua vontade. Mas não excluir, por favor, essa possibilidade de se tornar missionário, para levar o amor, a humanidade, a fé em outros países. Não para fazer proselitismo: não. Isso fazem quantos procuram uma outra coisa. A fé se prega antes com o testemunho e depois com a palavra. Lentamente.

Louvemos juntos ao Senhor por essa peregrinação na terra da África e deixemo-nos guiar pelas suas palavras-chave: “Sejais fortes na fé, não tenhais medo”; “Sereis minhas testemunhas”; “Passemos para a outra margem”.

PAPA FRANCISCO
Praça São Pedro – Vaticano

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Homilia de João Paulo II sobre Santa Teresa d'Ávila


MISSA NO IV CENTENÁRIO DA MORTE DE SANTA TERESA DE JESUS
HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II

Solenidade de Todos os Santos 
Ávila, 1 de Novembro de 1982

Veneráveis Irmãos no Episcopado
Queridos irmãos e irmãs!

1. "Assim implorei, e a inteligência foi-lhe dada; eu supliquei e o espírito de sabedoria veio a mim... Amei-a mais do que a saúde e a beleza... Com ela vieram a mim todos os bens, e nas suas mãos inumeráveis riquezas. Regozijei-lhe, porque a Sabedoria é o seu guia" (Sab 7, 7.10-12).
       Vim hoje a Ávila para adorar a Sabedoria de Deus, ao término deste IV Centenário da morte de Santa Teresa de Jesus, que foi filha singularmente amada da Sabedoria divina. Quero adorar a Sabedoria de Deus, juntamente com o Pastor desta diocese, com todos os Bispos da Espanha, com as Autoridades de Ávila e de Alba de Tormes presididas por Suas Majestades e Membros do Governo, com tantos filhos e filhas da Santa e com todo o Povo de Deus aqui reunido, nesta festividade de Todos os Santos.

Teresa de Jesus é riacho que leva à fonte, é resplendor que conduz à luz. E a sua luz é Cristo, o "Mestre da Sabedoria" (cf. Caminho de Perfeição, 21. 4), o "Livro vivo" em que ela aprendeu as verdades (cf. Vida, 26, 5); é essa "luz do céu", o Espírito da Sabedoria, que ela invocava para que falasse no seu nome e guiasse a sua pena (cf. Castelo Interior, IV, 1, 1; V, 1, 1 e 4, 11). Vamos unir a nossa voz ao seu canto eterno das misericórdias divinas (cf. Sl 88, 2; cf. Vida 14, 10-12); para dar graças a esse Deus que é "a mesma Sabedoria" (Caminho de Perfeição, 22, 6).

2. E alegra-me poder fazê-lo nesta Ávila de Santa Teresa que a viu nascer e conserva as recordações mais íntimas desta virgem de Castela. Uma cidade célebre pelas suas muralhas e torres, pelas suas igrejas e mosteiros que, com o seu conjunto arquitectónico, evoca na sua conformação esse castelo interior e luminoso que é a alma do justo, em cujo centro Deus tem a sua morada (cf. Castelo Interior, I, 1, 1.3). Uma imagem da cidade de Deus com as suas portas e muralhas, iluminada pela luz do Cordeiro (cf. Apoc 21, 11-14.23).
       Tudo nesta cidade conserva a recordação da sua filha predileta. "A Santa", lugar do seu nascimento e casa de nobre linhagem; a paróquia onde foi baptizada; a Catedral, com a imagem da Virgem da Caridade que recebeu a sua precoce consagração (cf. Vida, 1.7); a Encarnação, que acolheu a sua vocação religiosa e onde atingiu o ápice da sua experiência mística; São José, primeiro pombal teresiano, de onde saiu Teresa, como "andarilha de Deus", a fundar por toda a Espanha.
       Aqui também eu desejo estreitar ainda mais os meus vínculos de devoção para com os Santos do Carmelo nascidos nestas terras, Teresa de Jesus e João da Cruz. Neles não só admiro e venero os mestres espirituais da minha vida interior, mas também dois luminosos faróis da Igreja na Espanha, que iluminaram com a sua doutrina espiritual os caminhos da minha pátria, a Polónia, desde que no princípio do século XVII chegaram a Cracóvia os primeiros filhos do Carmelo Teresiano.
       A circunstância providencial do encerramento do IV Centenário da morte de Santa Teresa permitiu-me realizar esta viagem, há muito por mim desejada.

3. Quero repetir nesta ocasião as palavras que escrevi no principio deste Ano Centenário: ''Santa Teresa de Jesus está viva, a sua voz ressoa ainda hoje na Igreja" (Carta "Virtutis exemplum et magistra": AAS 73, 1981, p. 699). As celebrações do ano jubilar, aqui na Espanha e no mundo inteiro, confirmaram as minhas previsões.
       Teresa de Jesus, primeira Doutora da Igreja Universal, fez-se palavra viva a respeito de Deus, convidou à amizade com Cristo, abriu novas sendas de fidelidade e serviço à Santa Mãe Igreja. Sei que ela chegou ao coração dos bispos e sacerdotes, para neles renovar desejos de sabedoria e de santidade, para ser "luz da sua Igreja" (cf. Castelo Interior, V, 1.7). Exortou os religiosos e as religiosas a "seguirem os conselhos evangélicos com toda a perfeição" (cf. Caminho, 1, 2) para serem "servos do amor" (Vida, 11, 1). Iluminou a experiência dos leigos cristãos com a sua doutrina acerca da oração e da caridade, caminho universal de santidade, porque a oração, como a vida cristã, não consiste "em pensar muito mas em amar muito" e "todos são naturalmente capazes de amar" (cf. Castelo Interior, IV, 1, 7 e Fundações, 5, 2).
       A sua voz ressoou para além da Igreja católica; suscitando simpatia a nível ecuménico, e traçando pontes de diálogo com os tesouros de espiritualidade de outras culturas religiosas. Alegra-me sobretudo saber que a palavra de Santa Teresa foi acolhida com entusiasmo pelos jovens. Eles apoderam-se dessa sugestiva palavra de ordem teresiana, que eu quero oferecer como mensagem à juventude da Espanha: "Neste tempo são necessários destemidos amigos de Deus" (Vida, 15, 5).
        Por tudo isto quero expressar a minha gratidão ao Episcopado Espanhol que promoveu este acontecimento eclesial de renovação. Agradeço também o esforço da Comissão Nacional do Centenário e o das delegações diocesanas. A todos os que colaboraram na realização dos objectivos do Centenário, a gratidão do Papa que é o agradecimento em nome da Igreja.

4. As palavras do salmo responsorial recordam a grande empresa de Santa Teresa ao realizar as fundações: "Felizes os que habitam na vossa casa. Senhor, aí eles vos louvam para sempre.:. Um dia nos vossos átrios vale mais que milhares fora dele... O Senhor dá-nos a graça e a glória. Ele não recusa os seus bens... Feliz o homem que em Vós confia" (Sl 83. 5.11-13).
       Aqui em Ávila realizou-se, com a fundação do mosteiro de São José, e que foi seguido por outras fundações suas, um desígnio de Deus para a vida da Igreja. Teresa de Jesus foi o instrumento providencial, a depositária de um novo carisma de vida contemplativa que tantos frutos havia de dar.
       Cada mosteiro de Carmelitas Descalças tem de ser "pequeno recanto de Deus", "morada" da sua glória e "paraíso do seu deleite" (cf. Vida, 32, 11; 35, 12). Há-de ser um oásis de vida contemplativa, "um pequeno pombal da Virgem Nossa Senhora" (cf. Fundações, 4, 5). Onde se viva em plenitude o mistério da Igreja que é Esposa de Cristo; com esse tom de austeridade e de alegria característico da herança teresiana. E onde o serviço apostólico em favor do Corpo Místico, segundo os desejos e a recomendação da Mãe Fundadora, pode sempre expressar-se numa experiência de imolação e de unidade: "Todas juntas se oferecem em sacrifício por Deus" (Vida, 39, 19). Em fidelidade às exigências da vida contemplativa que recordei recentemente na Carta às Carmelitas Descalças (cf. Carta de 31 de Maio de 1982), serão sempre a honra da Esposa de Cristo, na Igreja Universal e nas igrejas particulares, onde estão presentes como santuários de oração.
        E o mesmo vale para os filhos de Santa Teresa, os Carmelitas Descalços, herdeiros do seu espírito contemplativo e apostólico, depositários dos anseios missionários da Mãe Fundadora. Oxalá as celebrações do Centenário os infundam também nos vossos propósitos de fidelidade no caminho da oração e de fecundo apostolado na Igreja! Para se manter sempre viva a mensagem de Santa Teresa de Jesus e de São João da Cruz.

5. As palavras de São Paulo, que escutámos na segunda leitura desta Eucaristia, levam-nos até a essa profunda nascente da oração cristã, de onde promana a experiência de Deus e a mensagem eclesial de Santa Teresa. Recebemos "o espírito de adopção pelo qual clamamos: Aba, Pai!... E, se filhos, também herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo, isto, porém, se padecermos com Ele, para que também com Ele sejamos glorificados" (Rom 8, 15.17).
       A doutrina de Teresa de Jesus está em perfeita sintonia com essa teologia da oração apresentada por São Paulo, o apóstolo com o qual ela se identificava tão profundamente. Seguindo o Mestre da oração, em plena consonância com os Padres da Igreja, quis ela ensinar os segredos da Oração comentando a prece do Pai Nosso.
      Na primeira palavra, Pai, a Santa descobre a plenitude que nos confia Jesus Cristo, mestre e modelo da oração (cf. Caminho, 26, 10; 27, 1, 2). Na oração filial do cristão encontra-se a possibilidade de estabelecer um diálogo com a Trindade que habita na alma de quem vive em graça, como tantas vezes experimentou a Santa (cf. Jo 14, 23; e Castelo Interior, VII, 1, 6): "Entre tal Filho e tal Pai — escreve — necessariamente há-de estar o Espírito Santo que enamore a vossa vontade, e juntos nutrem-na de grandíssimo amor..." (Caminho 27, 7). Esta é a dignidade filial dos cristãos: poderem invocar a Deus como Pai, deixarem-se guiar pelo Espírito, para serem em plenitude filhos de Deus.

6. Por meio da oração, Teresa buscou e encontrou Cristo. Buscou-O nas palavras do Evangelho que já desde a sua juventude "atuavam fortemente no seu coração" (Vida, 3, 5); encontrou-O "trazendo-O presente dentro de si" (cf. Vida, 4, 7); aprendeu a admirá-1'O com amor nas imagens do Senhor, das quais era tão devota (cf. Vida, 7, 2; 22, 4); com esta Bíblia dos pobresas imagense esta Bíblia do coraçãoa meditação da palavra pôde reviver interiormente as cenas do Evangelho e aproximar-se do Senhor com imensa confiança.
       Quantas vezes meditou Santa Teresa aquelas cenas do Evangelho que narram as palavras de Jesus às mulheres! Que alegre liberdade interior lhe proporcionou, em tempos de acentuado antifeminismo, esta atitude condescendente do mestre com a Madalena, com Marta e Maria de Betânia, com a Cananeia e a Samaritana, figuras essas femininas tantas vezes recordadas pela Santa nos seus escritos! Não há dúvida que Teresa pôde defender a dignidade da mulher e as suas possibilidades de um apropriado serviço na Igreja, a partir desta perspectiva evangélica: "Não Vos aborrecíeis. Senhor da minha alma, com as mulheres, quando andáveis pelo mundo, antes procuráveis favorecê-las sempre com muita piedade..." (Caminho, Autógrafo de El Escorial, 3, 7).
       A cena de Jesus com a Samaritana junto do poço de Sicar, que recordámos no Evangelho, é significativa. O Senhor promete à Samaritana a água viva: "Quem bebe desta água voltará a ter sede; mas quem beber da água que Eu lhe der jamais terá sede, porque a água que Eu lhe der tornar-se-á nele uma nascente de água a jorrar para a vida eterna" (Jo 4, 13-14).
       Entre as mulheres santas da história da Igreja, Teresa de Jesus é sem dúvida a que respondeu a Cristo com o maior fervor do coração: Dá-me desta água! Ela mesma no-lo confirma quando recorda os seus primeiros encontros com o Cristo do Evangelho: "Oh, quantas vezes me recordo da água viva de que falou o Senhor à Samaritana! E assim sou muito afeiçoada àquele Evangelho" (Vida, 30, 19). Teresa de Jesus, como uma nova Samaritana, convida agora todos a aproximarem-se de Cristo, que é manancial de águas vivas.
       Cristo Jesus, o Redentor do homem, foi o modelo de Teresa. N'Ele encontrou a Santa a majestade da sua divindade e a condescendência da sua humanidade: "Grande coisa é tê-1'O humano, enquanto vivemos e somos humanos" (Vida, 22, 9); via que, embora fosse Deus, embora fosse Homem, não se admirava das fraquezas dos homens. Que horizontes de familiaridade com Deus nos descobre Teresa na Humanidade de Cristo! Com que precisão afirma a fé da Igreja em Cristo, que é verdadeiro Deus e verdadeiro homem! Como o experimenta tão perto, "companheiro nosso no Santíssimo Sacramento!" (cf. ib. 22, 6).
       Partindo do mistério da Humanidade Sacratíssima que é porta, caminho e luz, chegou ao mistério da Santíssima Trindade (cf. ib. VII, 1, 6) fonte e meta da vida do homem, "espelho em que a nossa imagem está gravada" (ib. 2, 8). E a partir da altura do mistério de Deus compreendeu o valor do homem, a sua dignidade, a sua vocação de infinito.

7. Aproximar-se do mistério de Deus, de Jesus, "ter Jesus Cristo presente" (Vida, 4, 8) constitui toda a sua oração. Esta consiste num encontro pessoal com Aquele que é o único caminho para nos conduzir ao Pai (cf. Castelo Interior, VI, 7, 6). Teresa reagiu contra os livros que propunham a contemplação como um vago engolfar-se na divindade (cf. Vida, 22, 1) ou como um "não pensar em nada" (cf. Castelo Interior, IV, 3, -6) vendo nisso um perigo de se fechar sobre si mesmo, de se afastar de Jesus de quem nos "vêm todos os bens" (cf. Vida, 22. 4). Daqui o seu brado: "afastar-se de Cristo... tal não posso sofrer" (Vida, 22, 1). Este brado vale também nos nossos dias contra algumas técnicas de oração que não se inspiram no Evangelho e que tacticamente tendem a prescindir de Cristo em favor de um vazio mental, que dentro do cristianismo não tem sentido. Toda a técnica de oração é válida enquanto se inspira em Cristo e conduz a Cristo, o Caminho, a Verdade e a Vida (cf. Jo 14,6).
       Bem é verdade que o Cristo da oração teresiana vai mais além de toda a Imaginação corpórea e de toda a representação figurativa (cf. Vida, 9, 6); é Cristo ressuscitado, vivo e presente, que ultrapassa os limites de espaço e lugar, sendo ao mesmo tempo Deus e homem (cf. Vida, 27, 7-8). Mas contemporaneamente é Jesus Cristo, Filho da Virgem que nos acompanha e nos ajuda (cf. Vida, 27, 4).
       Cristo cruza o caminho da oração teresiana de extremo a extremo, desde os primeiros passos até ao ápice da comunhão perfeita com Deus. Cristo é a porta pela qual a alma tem acesso ao estado místico (cf. Vida, 10, 1). Cristo introdu-la no mistério trinitário (cf. Vida, 27, 2-9). A sua presença no desenvolvimento deste "trato amistoso", que é a oração, é obrigatória e necessária: Ele é que o actua e gera. E Ela é também objecto do mesmo. É o "livro vivo". Palavra do Pai (cf. Vida, 26, 5). O homem aprende a permanecer em profundo silêncio, quando Cristo o ensina interiormente "sem ruído de palavras" (cf. Caminho, 25, 2); esvazia-se dentro de si "contemplando o Crucificado" (cf. Castelo Interior, VII, 4, 9). A contemplação teresiana não é busca de escondidas virtualidades subjectivas por meio de depuradas técnicas de purificação interior. mas abrir-se em humildade a Cristo e ao seu Corpo místico que é a Igreja.

8. No meu ministério pastoral afirmei com insistência os valores religiosos do homem, com quem Cristo mesmo se identificou (cf. Gaudium et spes, 22); esse homem que é o caminho da Igreja, e pelo qual tanto determina a sua solicitude e o seu amor, para que todo o homem alcance a plenitude da sua vocação (cf. Redemptor hominis, 13, 14, 18).
       Santa Teresa de Jesus tem um ensinamento muito explícito sobre o imenso valor do homem: ó, meu Jesus — exclama numa formosa oração — quão grande é o amor que tendes pelos filhos dos homens, pois o melhor serviço que se lhes pode fazer é deixá-los a Vós por amor e proveito deles, e então sois possuído mais inteiramente... Quem não amar o próximo, não Vos ama. Senhor meu; pois com tanto sangue vemos demonstrado o amor tão grande que tendes pelos filhos de Adão!" (Exclamação, 2, 2). Amor de Deus e amor do próximo, unidos indissoluvelmente, são a raiz sobrenatural da caridade que é o amor de Deus e com a manifestação concreta do amor do próximo, como "o mais certo sinal" de que amamos a Deus (cf. Castelo Interior, V, 3, 8).

9. A ideia fundamental da vida de Teresa, como projecção do seu amor por Cristo e do seu desejo da salvação dos homens, foi a Igreja. Teresa de Jesus "sentiu a Igreja", viveu "a paixão pela Igreja" como membro do Corpo Místico.
       Os tristes acontecimentos da Igreja do seu tempo, foram como feridas progressivas que suscitaram ondas de fidelidade e de serviço. Sentiu profundamente a divisão dos cristãos como um dilaceramento do seu próprio coração. Respondeu eficazmente com um movimento de renovação para manter resplandecente o rosto da Igreja santa. Foram-se alargando os horizontes do seu amor e da sua oração à medida que tomava consciência da expansão missionária da Igreja Católica, com o olhar e o coração fixos em Roma, o centro da Catolicidade, com um afecto filial para com "o Padre Santo", como ela chama o Papa, que a levou inclusivamente a manter uma correspondência epistolar com o meu predecessor o Papa Pio V. Emociona-nos ler esta confissão de fé com a qual rubrica o livro das Moradas:"Em tudo submeto-me ao que a Santa Igreja Católica Romana determina, pois nisto vivo, confesso e prometo viver e morrer" (Castelo Interior, Epílogo, 4).
       Em Ávila estimulou-se aquela incandescência de amor eclesial que iluminava e afervorava teólogos e missionários. Aqui teve início aquele serviço original de Teresa na Igreja do seu tempo; num momento tenso de reformas e contra-reformas optou pelo caminho radical do seguimento de Cristo, pela edificação da Igreja com pedras vivas de santidade; levantou a bandeira dos ideais cristãos para animar os chefes da Igreja. E era Alba de Tormes, ao término de uma intensa jornada de caminhos de fundações, Teresa de Jesus, a cristã verdadeira e a esposa que desejava logo encontrar-se com o Esposo, exclama: "Obrigado... meu Deus..., porque me fizeste filha da tua santa Igreja Católica" (Declaração de Maria de São Francisco: Biblioteca Mística Carmelitana, 19, pp. 62-63). Sou filha da Igreja! Eis aqui o título de honra e de compromisso que a Santa nos legou para amarmos a Igreja, para a servirmos com generosidade!

10. Queridos irmãos e irmãs, recordámos a figura luminosa e sempre actual de Teresa de Jesus, a filha singularmente amada da divina Sabedoria, a andarilha de Deus, a Reformadora do Carmelo, glória da Espanha e luz da Santa Igreja, honra das mulheres cristãs, presença ilustre na cultura universal.
       Ela quer continuar caminhando com a Igreja até ao fim dos tempos. Ela, que no leito de morte dizia: "É hora de caminhar". A sua corajosa figura de mulher em caminho, sugere-nos a imagem da Igreja, Esposa de Cristo, que caminha no tempo já nos alvores do terceiro milénio da sua história.
       Teresa de Jesus que conheceu as dificuldades dos caminhos, convida-nos a caminhar levando Deus no coração. Para orientar o nosso roteiro e fortalecer a nossa esperança lança-nos ela esta palavra de ordem, que foi o segredo da sua vida e da sua missão: "Coloquemos os olhos em Cristo nosso bem!" (cf. Castelo Interior, I, 2, 11), para Lhe abrir de par em par as portas do coração de todos os homens. E assim, o Cristo luminoso de Teresa de Jesus será na sua Igreja, "Redentor do homem, centro do cosmos e da história".
       Os olhos em Cristo! (cf. Caminho, 2, 1; Castelo Interior, VII, 4, 8; Heb 12, 2). Para que no caminho da Igreja, como nos caminhos de Teresa que partiram desta cidade de Ávila, Cristo seja "Caminho, Verdade e Vida" (cf. Jo 14, 5 e Castelo Interior, VI, 7, 6).

Assim seja.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Bento XVI - Nossa Senhora das Dores

SANTA MISSA COM OS DOENTES 
HOMILIA DO PAPA BENTO XVI

Sagrado da Basílica de Nossa Senhora do Rosário, Lourdes
Segunda-feira, 15 de Setembro de 2008

Amados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
Queridos doentes, prezados acompanhantes e enfermeiros,
Caros irmãos e irmãs!

Ontem celebrámos a Cruz de Cristo, instrumento da nossa salvação, que nos revela em plenitude a misericórdia do nosso Deus. A Cruz é realmente o lugar onde se manifesta perfeitamente a compaixão de Deus pelo nosso mundo. Hoje, ao celebrarmos a memória de Nossa Senhora das Dores, contemplamos Maria que partilha a compaixão do Filho pelos pecadores. Como afirmava São Bernardo, a Mãe de Cristo entrou na Paixão do Filho através da sua compaixão (cf. Homilia do Domingo na Oitava da Assunção). Ao pé da Cruz cumpre-se a profecia de Simeão: o seu coração de Mãe é trespassado (cf. Lc 2, 35) pelo suplício infligido ao Inocente, nascido da sua carne. Tal como Jesus chorou (cf. Jo 11, 35), também Maria terá certamente chorado diante do corpo torturado do Filho. Todavia, a sua discrição impede-nos de medir o abismo da sua dor; a profundidade desta aflição é apenas sugerida pelo tradicional símbolo das sete espadas. Como sucedeu com seu Filho Jesus, é possível afirmar que este sofrimento levou-A também a Ela à perfeição (cf. Heb 2, 10), de modo a torná-La capaz de acolher a nova missão espiritual que o Filho Lhe confia imediatamente antes de “entregar o espírito” (cf. Jo 19, 30): tornar-Se a Mãe de Cristo nos seus membros. Naquela hora, através da figura do discípulo amado, Jesus apresenta cada um dos seus discípulos à Mãe dizendo-Lhe: “Eis o teu filho” (cf. Jo 19, 26-27).

Maria vive hoje na alegria e glória da Ressurreição. As lágrimas derramadas ao pé da Cruz transformaram-se num sorriso que nada mais apagará, embora permaneça intacta a sua compaixão materna por nós. Atesta-o a intervenção da Virgem Maria em nosso socorro ao longo da história e não cessa de suscitar por Ela, no povo de Deus, uma confidência inabalável: a oração Memorare (“Lembrai-Vos”) exprime muito bem este sentimento. Maria ama cada um dos seus filhos, concentrando a sua atenção de modo particular naqueles que, como o Filho d’Ela na hora da Paixão, se acham mergulhados no sofrimento; ama-os, simplesmente porque são seus filhos, por vontade de Cristo na Cruz.

O Salmista, vislumbrando de longe este vínculo materno que une a Mãe de Cristo e o povo crente, profetiza a respeito da Virgem Maria: “Os grandes do povo procurarão o teu sorriso” (Sal 44, 13). E assim, solicitados pela Palavra inspirada da Escritura, sempre os cristãos procuraram o sorriso de Nossa Senhora, aquele sorriso que os artistas, na Idade Média, tão prodigiosamente souberam representar e engrandecer. Este sorriso de Maria é para todos: no entanto, dirige-se de modo especial para os que sofrem, a fim de que nele possam encontrar conforto e alívio. Procurar o sorriso de Maria não é uma questão de sentimentalismo devoto ou antiquado; antes, é a justa expressão da relação viva e profundamente humana que nos liga Àquela que Cristo nos deu por Mãe.
Desejar contemplar este sorriso da Virgem não é de forma alguma deixar-se dominar por uma imaginação descontrolada. A própria Escritura nos revela tal sorriso nos lábios de Maria, quando canta o Magnificat: “A minha alma glorifica ao Senhor e o meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador” (Lc 1, 46-47). Quando a Virgem Maria dá graças ao Senhor, toma-nos por suas testemunhas. Maria, como que por antecipação, partilha com os futuros filhos, que somos nós, a alegria que mora no seu coração, para que uma tal alegria se torne também nossa. E cada proclamação do Magnificat faz de nós testemunhas do seu sorriso. Aqui em Lourdes, durante a aparição de 3 de Março de 1858, Bernadete contemplou de maneira muito especial este sorriso de Maria. Foi esta a primeira resposta dada pela Bela Senhora à jovem vidente, que queria saber a sua identidade. Antes de apresentar-Se-lhe alguns dias mais tarde como “a Imaculada Conceição”, Maria fez-lhe conhecer antes de mais nada o seu sorriso, como se tal fosse a porta mais apropriada para a revelação do seu mistério.

No sorriso da mais eminente de todas as criaturas, que a nós se dirige, reflecte-se a nossa dignidade de filhos de Deus, uma dignidade que nunca se extingue em quem está doente. Aquele sorriso, verdadeiro reflexo da ternura de Deus, é a fonte duma esperança invencível. Acontece infelizmente – bem o sabemos – que o sofrimento prolongado quebre os equilíbrios melhor consolidados duma vida, abale as mais firmes certezas da confiança e chegue por vezes até a fazer desesperar do sentido e valor da vida. Há combates que o homem não pode sustentar sozinho, sem a ajuda da graça divina. Quando a palavra já não consegue encontrar expressões adequadas, subentra a necessidade duma presença carinhosa: procuramos então a solidariedade não só daqueles que compartilham o nosso próprio sangue ou estão ligados connosco por vínculos de amizade, mas também a solidariedade de quantos se acham intimamente unidos a nós pelo laço da fé. E quem de mais íntimo poderíamos nós ter além de Cristo e da sua santa Mãe, a Imaculada? Mais do que qualquer outrem, Eles são capazes de nos compreender e perceber a dureza do combate que travamos contra o mal e o sofrimento. A Carta aos Hebreus, referindo-se a Cristo, afirma que Ele não é alguém incapaz de “compadecer-Se das nossas fraquezas; pelo contrário, Ele mesmo foi provado em tudo” (Heb 4, 15).

Queria, humildemente, dizer àqueles que sofrem e a quantos lutam e se sentem tentados a virar as costas à vida: Voltai-vos para Maria! No sorriso da Virgem, encontra-se misteriosamente escondida a força para continuar o combate contra a doença e a favor da vida. Junto d’Ela, encontra-se igualmente a graça para aceitar, sem medo nem mágoa, a despedida deste mundo na hora querida por Deus.

Quão justa era a intuição daquela bela figura espiritual francesa que foi o Padre Jean-Baptiste Chautard, quando, na obra A alma de todo o apostolado, propunha ao cristão fervoroso frequentes “trocas de olhar com a Virgem Maria”! Sim, procurar o sorriso da Virgem Maria não é um pio infantilismo; é a inspiração – diz o Salmo 44 – daqueles que são “os grandes do povo” (v. 13). “Os grandes”, entenda-se, na ordem da fé, aqueles que possuem a maturidade espiritual mais elevada e sabem por isso reconhecer a sua fraqueza e pobreza diante de Deus. Naquela manifestação muito simples de ternura que é o sorriso, apercebemo-nos de que a nossa única riqueza é o amor que Deus nos tem e que passa através do Coração d’Aquela que Se tornou nossa Mãe. Procurar este sorriso significa em primeiro lugar perceber a gratuidade do amor; significa também saber suscitar este sorriso com o nosso empenho em viver segundo a palavra do seu dilecto Filho, tal como a criança procura suscitar o sorriso da mãe fazendo aquilo que é do agrado dela. E nós sabemos o que agrada a Maria pelas palavras que Ela mesma dirigiu aos serventes em Caná: “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2, 5).

O sorriso de Maria é uma fonte de água viva. “Do seio daquele que acredite em Mim – disse Jesus –, correrão rios de água viva” (Jo 7, 38). Maria é Aquela que acreditou e, do seu seio, correram rios de água viva, que vêm regar a história dos homens. A fonte indicada por Maria a Bernadete, aqui em Lourdes, é o sinal humilde desta realidade espiritual. Do seu coração de crente e de mãe corre uma água viva que purifica e cura. Inúmeros são aqueles que, mergulhando nas piscinas de Lourdes, descobriram e experimentaram a doce maternidade da Virgem Maria, agarrando-se a Ela para melhor se prenderem ao Senhor! Na sequência litúrgica desta festa de Nossa Senhora das Dores, Maria é honrada sob o título de “Fons amoris”, “Fonte de amor”. Realmente, do coração de Maria, brota um amor gratuito que suscita uma resposta filial, chamada a aperfeiçoar-se sem cessar. Como toda a mãe, e melhor do que qualquer outra mãe, Maria é a educadora do amor. É por isso que tantos doentes vêm aqui, a Lourdes, para dessedentar-se nesta “Fonte de amor” e deixar-se conduzir até à única fonte da salvação, o seu Filho, Jesus Salvador.

Cristo dispensa a sua salvação através dos sacramentos e, de modo especial, às pessoas que estão doentes ou são portadoras de qualquer deficiência, através da graça da Unção dos Enfermos. Para cada um, o sofrimento é sempre um estranho. Não nos habituamos nunca à sua presença. Por isso é difícil suportá-lo, e mais difícil ainda – como fizeram algumas grandes testemunhas da santidade de Cristo – acolhê-lo como parte integrante da própria vocação, ou aceitar, segundo a expressão de Bernadete, “tudo sofrer em silêncio para comprazer Jesus”. Para se poder dizer isto, é necessário ter percorrido já um longo caminho em união com Jesus. Em contrapartida, é possível imediatamente desde já abandonar-se à misericórdia de Deus tal como esta se manifesta por meio da graça do sacramento dos doentes. A própria Bernadete, no decurso duma existência frequentemente marcada pela doença, recebeu este sacramento quatro vezes. A graça própria deste sacramento consiste em acolher em si mesmo Cristo médico. Cristo, porém, não é médico à maneira do mundo. Para nos curar, Ele não fica fora do sofrimento que se experimenta; mas alivia-o vindo habitar naquele que está atingido pela doença, para a suportar e viver com ele. A presença de Cristo vem quebrar o isolamento que a dor provoca. O homem deixa de carregar sozinho a sua provação, mas enquanto membro sofredor de Cristo, fica conformado a Ele que Se oferece ao Pai e n’Ele participa no parto da nova criação.

Sem a ajuda do Senhor, o jugo da doença e do sofrimento pesa cruelmente. Recebendo o sacramento dos doentes, não desejamos levar outro jugo que não seja o de Cristo, fortalecidos pela promessa que Ele nos fez, isto é, que o seu jugo será fácil de levar e leve o seu peso (cf. Mt 11, 30). Convido as pessoas que vão receber a Unção dos doentes durante esta Missa a abrirem-se a uma tal esperança.

O Concílio Vaticano II apresentou Maria como a figura na qual está compendiado todo o mistério da Igreja (cf. LG 63-65). A sua vida pessoal apresenta o perfil da Igreja, sendo esta convidada a estar atenta como Ela às pessoas que sofrem. Dirijo uma saudação afectuosa aos componentes do Serviço de Saúde e Enfermagem, bem como a todas as pessoas que por diversos títulos, nos hospitais e noutras instituições, contribuem para o cuidado dos doentes com competência e generosidade. De igual modo ao pessoal de acolhimento, aos maqueiros e aos acompanhantes que, originários de todas as dioceses de França e de mais longe ainda, se prodigalizam ao longo de todo o ano à volta dos doentes que vêm em peregrinação a Lourdes, quero dizer quão precioso é o seu serviço. Eles são os braços da Igreja, humilde serva. Desejo enfim encorajar aqueles que, em nome da sua fé, acolhem e visitam os doentes, de modo particular nas capelanias dos hospitais, nas paróquias ou, como aqui, nos santuários. Possais vós sentir sempre, nesta importante e delicada missão, o apoio eficaz e fraterno das vossas comunidades! E, neste sentido, saúdo e agradeço também de modo particular meus irmãos no episcopado, os bispos franceses, os bispos estrangeiros e os sacerdotes que, todos eles, são acompanhadores dos enfermos e dos homens marcados pelo sofrimento no mundo. Obrigado pelo vosso serviço junto ao Senhor que sofre.

O serviço de caridade que prestais é um serviço mariano. Maria confia-vos o seu sorriso, para que vós próprios vos torneis, na fidelidade a seu Filho, fontes de água viva. Aquilo que estais fazendo, fazeis-lo em nome da Igreja, de quem Maria é a imagem mais pura. Possais vós levar o seu sorriso a todos!

Ao concluir, desejo unir-me à oração dos peregrinos e dos doentes e retomar juntamente convosco um pedaço da oração a Maria feita para a celebração deste Jubileu:
“Porque Vós sois o sorriso de Deus, o reflexo da luz de Cristo,
porque Vós escolhestes Bernadete na sua miséria,
Vós que sois a estrela da manhã,
a porta do céu e a primeira criatura ressuscitada,
Nossa Senhora de Lourdes”,
com os nossos irmãos e as nossas irmãs cujos corações
e corpos estão a sofrer, nós Vos rezamos!
a habitação do Espírito Santo,
Página oficial da Santa Sé: AQUI.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Papa Francisco no Centro de Reabilitação Palmasola

Discurso do Papa durante visita ao Centro de Reabilitação Palmasola
Santa Cruz de La Sierra, Bolívia, Sexta-feira, 10 de julho de 2015


Queridos irmãos e irmãs!
Não podia deixar a Bolívia sem vir ver-vos, sem deixar de partilhar a fé e a esperança que nascem do amor entregue na cruz.
Obrigado por me receberem. Sei que se prepararam e rezaram por mim. Muito obrigado!

Nas palavras de D. Jesús Juárez e no testemunho de quem falou, pude comprovar que a dor não é capaz de apagar a esperança no mais fundo do coração e que a vida continua a jorrar com força em circunstâncias adversas.

Quem está diante de vós? Poderiam perguntar-se. Gostaria de responder-lhes à pergunta com uma certeza da minha vida, com uma certeza que me marcou para sempre. Aquele que está diante de vós é um homem perdoado. Um homem que foi e está salvo de seus muitos pecados. E é assim como me apresento. Não tenho muito mais para lhes dar ou oferecer, mas o que tenho e amo quero dar-vo-lo, quero partilhá-lo: Jesus Cristo, a misericórdia do Pai.

Ele veio para nos mostrar, fazer visível o amor que Deus tem por nós. Por vós, por mim. Um amor ativo, real. Um amor que levou a sério a realidade do seus. Um amor que cura, perdoa, levanta, cuida. Um amor que se aproxima e devolve a dignidade. Uma dignidade, que podemos perder de muitas maneiras e formas. Mas, nisto, Jesus é um obstinado: deu a sua vida por isto, para nos devolver a identidade perdida.

Lembro-me duma experiência que nos pode ajudar. Pedro e Paulo, discípulos de Jesus, também estiveram encarcerados; também foram privados da liberdade. Nessa circunstância, houve algo que os sustentou, algo que não os deixou cair no desespero, na escuridão que pode brotar da falta de sentido: foi a oração. Pessoal e comunitária. Eles rezaram, e por eles se rezava. Dois movimentos, duas ações que geram entre si uma rede que sustenta a vida e a esperança. Sustenta-nos contra o desespero e incentiva-nos a prosseguir o caminho. Uma rede que vai sustentando a vida, a vossa e a das vossas famílias.

Porque uma pessoa, quando Jesus entra na sua vida, não fica detida no seu passado, mas começa a olhar o presente de outra forma, com outra esperança. A pessoa começa a ver com outros olhos a si mesma, a sua própria realidade. Não fica enclausurado no que aconteceu, mas é capaz de chorar e encontrar nisso a força para voltar a começar. E, se em determinados momentos nos sentimos tristes, mal, abatidos, convido-vos a fixar o rosto de Jesus crucificado. No seu olhar, todos podemos encontrar espaço. Todos podemos colocar junto d’Ele as nossas feridas, as nossas dores e também os nossos pecados. Nas suas chagas, encontram lugar as nossas chagas; para serem curadas, lavadas, transformadas, ressuscitadas. Ele morreu por vós, por mim, para nos dar a mão e levantar-nos. Conversem com os sacerdotes que aqui vêm, conversem… Jesus sempre nos quer levantar.

Esta certeza move-nos a trabalhar pela nossa dignidade. Reclusão não é o mesmo que exclusão, porque a reclusão faz parte dum processo de reinserção na sociedade. Há muitos elementos – bem o sei – que jogam contra este lugar: a superlotação, a morosidade da justiça, a falta de terapias ocupacionais e de políticas de reabilitação, a violência… Tudo isso torna necessário uma pronta e eficaz aliança interinstitucional para se encontrar respostas.

Mas, enquanto se luta por isso, não podemos dar tudo por perdido. Hoje há coisas que já podemos fazer.

Aqui, neste Centro de Reabilitação, a convivência depende em parte de vós. O sofrimento e a privação podem tornar o nosso coração egoísta e levar a confrontos, mas também temos a capacidade de os transformar em ocasião de autêntica fraternidade. Ajudai-vos mutuamente. Não tenhais medo de vos ajudar entre vós. O diabo procura a rivalidade, a divisão, os bandos; lutai para sairdes vencedores contra ele.

Gostaria de vos pedir que leveis a minha saudação às vossas famílias. É tão importante a sua presença e a sua ajuda! Os avós, o pai, a mãe, os irmãos, o cônjuge, os filhos. Lembram-nos que vale a pena viver e lutar por um mundo melhor.

Finalmente, uma palavra de encorajamento a todos os que trabalham neste Centro: aos seus dirigentes, aos agentes da Polícia Carcerária, a todo o pessoal. Realizam um serviço público fundamental. Desempenham uma tarefa importante neste processo de reinserção; tarefa de levantar e não rebaixar, de dignificar e não humilhar, de animar e não acabrunhar. É um processo que requer deixar a lógica de bons e maus para passar a uma lógica centrada na ajuda à pessoa. Gerará melhores condições para todos, porque um processo assim vivido dignifica-nos, anima-nos e levanta-nos a todos.

Antes de vos dar a bênção, gostaria que rezássemos uns momentos em silêncio. Cada um faça-o como sabe.

Por favor, peço-vos que continueis a rezar por mim, porque também eu tenho os meus erros e devo fazer penitência. Obrigado!

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Papa Francisco na Bolívia - basta de descartes

Praça do Cristo Redentor, Santa Cruz de La Sierra, Bolívia
Quinta-feira, 9 de Julho de 2015


Viemos de lugares, regiões, povoados distintos, para celebrar a presença viva de Deus entre nós. Há horas que saímos de nossas casas e comunidades, para podermos estar juntos como Povo Santo de Deus. A cruz e a imagem da missão trazem-nos à memória todas as comunidades que nasceram sob o nome de Jesus nestas terras e das quais somos herdeiros.

No Evangelho que acabamos de ouvir, descrevia-se uma situação muito semelhante à que estamos a viver agora. Como aquelas quatro mil pessoas, também nós estamos desejosos de ouvir a Palavra de Jesus e receber a sua vida. Eles ontem e nós hoje, ao pé do Mestre, Pão de vida.

Nestes dias, pude ver muitas mães que carregavam seus filhos às costas, como aliás muitas de vós o fazem aqui. Carregando sobre si a vida, o futuro do seu povo. Carregando os motivos da sua alegria, as suas esperanças. Carregando a bênção da terra nos frutos. Carregando o trabalho feito com as suas mãos. Mãos, que moldaram o presente e tecerão os sonhos do amanhã. Mas carregando também sobre os seus ombros decepções, tristezas e amarguras, a injustiça que parece não ter fim e as cicatrizes duma justiça não realizada. Carregando sobre si mesmas a alegria e a dor duma terra. Carregais sobre vós a memória do vosso povo. Porque os povos têm memória, uma memória que passa de geração em geração, uma memória em caminho.

E não são poucas as vezes que experimentamos o cansaço deste caminho. Não são poucas as vezes que nos faltam as forças para manter viva a esperança. Quantas vezes vivemos situações que pretendem anestesiar-nos a memória e, deste modo, debilita-se a esperança e, pouco a pouco, perdem-se os motivos de alegria. E começa a apoderar-se de nós uma tristeza que nos torna individualistas, que nos faz perder a memória de povo amado, de povo escolhido. E esta perda desagrega-nos, faz com que nos fechemos aos outros, especialmente aos mais pobres.

Pode suceder a nós o mesmo que aos discípulos de ontem, quando viram a quantidade de pessoas que estava lá. Pedem a Jesus que a mande embora, já que é impossível alimentar tanta gente. Perante muitas situações de fome no mundo, podemos dizer: «Os números não batem certo; não podemos resolver a conta». É impossível enfrentar estas situações; então o desespero acaba por apoderar-se do coração.

Num coração desesperado, é muito fácil ganhar espaço a lógica que pretende impor-se no mundo de hoje. Uma lógica que procura transformar tudo em objecto de troca, de consumo: vê tudo negociável. Uma lógica que pretende deixar espaço para muito poucos, descartando todos aqueles que não «produzem», que não são considerados aptos ou dignos porque, aparentemente, «os números não batem certo». Jesus retoma a palava para nos dizer: Não é necessário irem embora; dai-lhes vós mesmos de comer.

É um convite que hoje ressoa fortemente para nós: «Não é necessário mandar ninguém embora, basta de descartes; dai-lhes vós mesmos de comer». Jesus continua a dizer-nos nesta praça: Sim, basta de descartes; dai-lhes vós mesmos de comer. O olhar de Jesus não aceita uma lógica, uma perspectiva que sempre «corta o fio» pelo ponto mais frágil, mais necessitado. Tomando «o pedaço», Ele mesmo nos dá o exemplo, nos mostra o caminho. Uma atitude em três palavras: toma um pouco de pão e alguns peixes, bendiz a Deus por eles, divide-os e entrega para que os discípulos os partilhem com os outros. Este é o caminho do milagre. Por certo, não é magia nem idolatria. Por meio destas três ações, Jesus consegue transformar a lógica do descarte numa lógica de comunhão, de comunidade. Gostaria de destacar brevemente cada uma destas ações.


Toma. O ponto de partida é tomar muito a sério a vida dos seus. Fixa-os nos olhos e, nestes, conhece a sua vida, os seus sentimentos. Vê, naquele olhar, o que pulsa e o que deixou de pulsar na memória e no coração do seu povo. Considera-o e valoriza-o. Valoriza todo o bem que possam oferecer, todo o bem a partir do qual se possa construir. Mas não fala dos objetos, dos bens culturais ou das ideias; fala das pessoas. A riqueza maior duma sociedade mede-se na vida do seu povo, mede-se nos idosos que conseguem transmitir aos mais novos a sua sabedoria e a memória do seu povo. Jesus nunca ignora a dignidade de pessoa alguma, por maior que seja a aparência de não ter nada para oferecer ou partilhar.

Bendiz. Jesus toma em suas mãos o dom, e bendiz o Pai que está nos céus. Sabe que estes dons são um presente de Deus. Por isso, não os trata como «uma coisa qualquer», dado que toda esta vida é fruto do amor misericordioso. Ele reconhece-o. Vai além da simples aparência e, neste gesto de bendizer, de louvar, pede a seu Pai o dom do Espírito Santo. Aquele acto de bendizer tem esta dupla perspectiva: por um lado, agradecer e, por outro, transformar. É reconhecer que a vida é sempre um dom, um presente que, colocado nas mãos de Deus, adquire uma força de multiplicação. O nosso Pai não nos tira nada, multiplica tudo.

Entrega. Em Jesus, não existe um tomar que não seja bênção, nem uma bênção que não seja entrega. A bênção é sempre missão, tem um destino: repartir, partilhar o que se recebeu, uma vez que só na entrega, no com-partilhar é que as pessoas encontram a fonte da alegria e a experiência da salvação. Uma entrega que quer reconstruir a memória de povo santo, de povo convidado, chamado a ser portador da alegria da salvação. As mãos, que Jesus ergue para bendizer o Deus do céu, são as mesmas que distribuem o pão à multidão que tem fome. Podemos imaginar como os pães e os peixes iam passando de mão em mão até chegar aos mais afastados. Jesus consegue gerar uma corrente entre os seus: todos estavam compartilhando o seu, transformando-o em dom para os outros, e foi assim que comeram até ficarem saciados. E, incrivelmente, sobrou: recolheram sete cestos de sobras. Uma memória tomada, abençoada e entregue sempre sacia um povo.

A Eucaristia é «Pão repartido para a vida do mundo», como diz o lema do V Congresso Eucarístico que hoje inauguramos e vai realizar-se em Tarija. É sacramento de comunhão, que nos faz sair do individualismo para vivermos juntos o seguimento de Jesus e nos dá a certeza de que aquilo que temos e somos, se tomado, abençoado e entregue, pelo poder de Deus, pelo poder do seu amor, transforma-se em pão de vida para os outros.

A Igreja é uma comunidade memoriosa. Por isso, fiel ao mandato do Senhor, repete incansavelmente: «Fazei isto em memória de Mim» (Lc 22, 19). Geração após geração atualiza, nos distintos cantos da nossa terra, o mistério do Pão da Vida. No-lo faz presente e entrega. Jesus quer que participemos desta sua vida e, por nosso intermédio, se vá multiplicando na nossa sociedade. Não somos pessoas isoladas, separadas, mas o Povo da memória atualizada e sempre entregue.

Uma vida memoriosa precisa dos outros, do intercâmbio, do encontro, duma solidariedade real que seja capaz de entrar na lógica do tomar, bendizer e entregar; na lógica do amor.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Mensagem do Papa Francisco aos jovens de Turim

      No dia 21 de junho, o Papa Francisco encontrou-se com os jovens, na Viagem Apostólica a Turim. Eis a mensagem que dirigiu aos jovens, válido também para cada um de nós e nossas comunidades:
Queridos jovens,

Agradeço-vos esta calorosa receção! E obrigado pelas vossas perguntas, que nos levam ao coração do Evangelho.
A primeira, sobre o amor, questiona-nos sobre o sentido profundo do amor de Deus, que nos é oferecido pelo Senhor Jesus. Ele mostra-nos até onde chega o amor: até ao dom total de si próprio, dando a sua vida, como contemplamos no mistério do Santo Sudário, quando nele reconhecemos o ícone do '' amor maior. " Mas este dom de nós mesmos não deve ser imaginado como um raro gesto heroico ou reservado para uma qualquer ocasião excecional.

Podemos de facto assumir o risco de cantar o amor, de sonhar o amor, de aplaudir o amor...sem deixarmo-nos tocar e envolver com ele! A grandeza do amor revela-se no cuidar das pessoas necessitadas, com lealdade e paciência; por isso é grande no amor quem sabe fazer-se pequeno para os outros, como Jesus, que se fez servo.

Amar é fazer-se próximo, tocar a carne de Cristo nos pobres e, nos últimos, abrir à graça de Deus as necessidades, os apelos, as solicitações das pessoas que nos circundam. O amor de Deus, assim, entra, transforma e torna grandes as coisas pequenas, torna-as sinal da sua presença. S. João Bosco é nosso mestre, precisamente, pela capacidade de amar e educar a partir da proximidade que ele vivia com os rapazes e os jovens.


À luz desta transformação, fruto do amor, podemos responder à segunda questão, sobre a falta de confiança na vida. A falta de emprego e de perspetivas para o futuro, certamente, ajuda o movimento da própria vida, colocando muitos na defensiva: pensar em si mesmos, gerir o tempo e os recursos de acordo com o seu próprio bem, limitar os riscos de qualquer generosidade...São todos sintomas de uma vida mantida e preservada a todo custo e que, no final, pode levar à resignação e ao cinismo.

Jesus ensina-nos, ao invés, a percorrer a estrada oposta: ‘Quem quiser salvar a sua própria vida perdê-la-á, mas quem perder a sua vida por minha causa, salvar-se á’ (Lc 9:24). Isto significa que não devemos atender a circunstâncias externas favoráveis, ​​para metermo-nos, verdadeiramente no jogo, mas que, pelo contrário, apenas empenhando a vida – conscientes de perdê-la – criamos para os outros e para nós as condições de uma nova confiança no futuro.

E aqui os meus pensamentos vão espontaneamente para um jovem que realmente passou assim a sua vida, tornando-se um modelo de confiança e ousadia evangélica para as jovens gerações de Itália e do mundo: o Beato Pier Giorgio Frassati. Um dos seus lemas era: "Viver e não ir vivendo." Esta é a estrada para experimentar em plenitude a força e a alegria do Evangelho. Assim, não só encontrareis confiança no futuro, mas conseguireis gerar esperança entre os vossos amigos e nos ambientes em que viveis.

Uma grande paixão de Pier Giorgio Frassati era a amizade. E a vossa terceira pergunta, dizia exatamente: como viver a amizade de uma forma aberta, capaz de transmitir a alegria do Evangelho? Soube que esta praça nas noites de sexta-feira e sábado, é muito frequentada pelos jovens. Assim acontece em todas as nossas cidades e vilas.
Penso que alguns de vós encontrais-vos aqui ou noutros lugares com os vossos amigos. E então faço-vos uma pergunta – que cada um pense e responda dentro de si mesmo: nesses momentos, quando estais em companhia, conseguis fazer transparecer a vossa amizade com Jesus nas atitudes, no modo que vos comportamentais? Pensais, algumas vezes, mesmo no tempo livre, no lazer, que sois pequenos ramos ligados à videira que é Jesus?

Garanto-vos que pensando com fé nesta realidade, sentireis correr em vós a "força vital" do Espírito Santo, e levareis frutos, quase sem vos aperceberdes: sabeis ser corajosos, pacientes, humildes, capazes de partilhar, mas também de diferenciar-vos, de alegrar-vos com quem se alegra e chorar com quem chora, sabereis gostar de quem não nos quer bem, responder ao mal com o bem. E, assim, anunciareis o Evangelho!

Os Santos e as Santas de Turim ensinam-nos que cada renovação, mesmo aquela da Igreja, passa através da nossa conversão pessoal, através daquela abertura do coração que acolhe e reconhece as surpresas de Deus, impulsionado pelo amor maior (cf. 2 Cor 5 , 14), que nos faz amigos também das pessoas, em sofrimento e marginalizadas.

Queridos jovens, juntamente com estes irmãos e irmãs maiores que são os santos, na família da Igreja, temos uma Mãe, não nos esqueçamos! Desejo que confieis plenamente nesta terna Mãe que indicou a presença do '' amor maior "precisamente no meio dos jovens, nesta festa de núpcias. A Nossa Senhora "é a amiga sempre atenta, para que não venha a faltar o vinho na nossa vida" (ibid., N. Evangelii Gaudium, 286). Rezemos para que não nos deixe faltar o vinho da alegria!

Obrigado a todos! Deus abençoe todos vós. E, por favor, rezai por mim.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Ali perto... Bento XVI

       Também estivemos lá, em festa, no meio da multidão, a rezar, a cantar, num encontro de fé, de alegria, de esperança...


quarta-feira, 13 de maio de 2015

Bento XVI sobre a Viagem Apostólica a Portugal

       “A peregrinação a Portugal foi para mim uma experiência tocante e rica de muitos dons espirituais”, afirmou Bento XVI na audiência geral das Quarta-feira, no Vaticano, dias depois de ter estado em Portugal, no dia 19 de maio de 2010.

       “Agradeço a Deus que me deu a possibilidade de prestar homenagem àquele povo, à sua longa e gloriosa história de fé e de testemunho cristão”, disse o Papa.
       “Enquanto permanecem vincadas na minha mente e no meu coração as imagens desta inesquecível viagem, o acolhimento caloroso e espontâneo e o entusiasmo das pessoas, dou graças ao Senhor porque Maria, aparecendo aos três Pastorinhos, abriu no mundo um espaço privilegiado para encontrar a misericórdia divina que cura e salva”, referiu Bento XVI.
       Depois de recordar que a viagem ocorreu “por ocasião do décimo aniversário da beatificação dos pastorinhos Jacinta e Francisco”, Bento XVI afirmou sentir-se “espiritualmente sustentado” pelo seu “amado predecessor, o venerável João Paulo II”, que por três vezes se deslocou a Fátima, “agradecento àquela ‘mão invisível’ que o salvou da morte no atentado de treze de Maio [de 1981], aqui, nesta Praça de São Pedro”.
       Bento XVI afirmou que confia a Deus os frutos que a viagem “trouxe e vai trazer à comunidade eclesial portuguesa e a toda a população”.


       O Papa passou em revista os vários momentos da visita, nas três cidades por onde passou, começando por Lisboa, onde, "no encantador cenário do Terreiro do Paço”, presidiu a uma missa que contou com “uma assembleia litúrgica de festa e de esperança, animada pela participação jubilosa de numerosos fiéis”.
       Depois de recordar que de Lisboa partiram ao longo dos séculos muitos missionários para levar o Evangelho a outros continentes, o Papa recordou que encorajou a “Igreja local a uma vigorosa acção evangelizadora nos diversos ambientes da sociedade, para serem semeadores de esperança num mundo muito marcado pela desconfiança”.
       No encontro com o mundo da cultura, que ocorreu no Centro Cultural de Belém, a 12 de Maio, Bento XVI assinalou que sublinhou “o património dos valores com os quais o cristianismo enriquecer a cultura, a arte e a tradição do povo português”.
       “Nesta nobre terra, como em outros países profundamente marcados pelo cristianismo, é possível construir um futuro de fraterna compreensão e de colaboração com as outras instâncias culturais”, realçou.
       Na sua catequese, em italiano, Bento XVI disse ter ido a Fátima “movido especialmente por um sentimento de reconhecimento para com a Virgem Maria”.
       No Santuário, assinalou, Nossa Senhora “transmitiu aos seus videntes e aos peregrinos um intenso amor pelo sucessor de Pedro”.


       Em Fátima, onde é perceptível “de maneira quase palpável” a presença de Maria, Bento XVI disse ter-se feito “peregrino com os peregrinos”, no Santuário que é “o coração espiritual de Portugal e meta de uma multidão de pessoas provenientes dos lugares mais diversos da terra”.
       Neste Ano Sacerdotal prestes a terminar, Bento XVI afirmou ter encorajado os padres a dar prioridade à escuta da Palavra de Deus, ao conhecimento “íntimo” de Cristo e à “intensa” celebração da missa, tendo ainda consagrado ao “Coração Imaculado de Maria, verdadeiro modelo de discípula do Senhor, os sacerdotes de todo o mundo”.
       À noite, “com milhares de pessoas”, Bento XVI participou na oração do Rosário, que “encontrou em Fátima um centro propulsor para toda a Igreja e para o mundo”; “Podemos dizer que Fátima e o Rosário são quase um sinónimo”, realçou.
       Para o Papa, o ponto mais alto da visita a Fátima foi a missa a que presidiu a 13 de Maio, “aniversário da primeira aparição de Maria a Francisco, Jacinta e Lúcia”, ocorrida em 1917.
       No entender de Bento XVI, a mensagem de Fátima está centrada “na oração, na penitência e na conversão, que se projecta para além das ameaças, dos perigos e dos horrores da história”, convidando “o homem a confiar na acção de Deus, a cultivar a grande Esperança, a fazer a experiência da graça do Senhor”, fonte “do amor e da paz”.
       Durante a tarde de 13 de Maio, aquando do encontro com representantes da Pastoral Social e de organiszações de apoio aos mais carenciados, o Papa salientou que “muitos jovens aprendem a importância da gratuidade” em Fátima, que é “uma escola de fé e de esperança”, bem como “de caridade e de serviço aos irmãos”.
       A reunião com os bispos de Portugal, que se seguiu, “foi classificada por Bento XVI como “um momento de intensa comunhão espiritual”, durante o qual se agradeceu a Deus pela “fidelidade” da Igreja portuguesa e se “confiou à Virgem” as expectativas e preocupações pastorais.


       No Porto, a 14 de Maio, perante uma “grande multidão de fiéis” congregada na Avenida dos Aliados, “recordei o compromisso de testemunhar o Evangelho em todos os ambientes, oferecendo ao mundo Cristo ressuscitado, a fim de que todas as situações de dificuldade, de sofrimento, de medo sejam transformadas, através do Espírito Santo, em ocasiões de crescimento e de vida”, assinalou Bento XVI.
       O Papa voltou a agradecer ao presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, e às autoridades do Estado pela “cortesia” com que o acolheram.
       Agradecimento extensivo aos Bispos de Portugal, pela “preparação espiritual e organizativa” da visita, em particular ao Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, ao Bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, e ao Bispo do Porto, D. Manuel Clemente, bem como aos “vários organismos da Conferência Episcopal”, presidida por D. Jorge Ortiga.

Notícia: Agência Ecclesia.