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sexta-feira, 7 de agosto de 2020

São Cristóvão, mártir

(São Cristóvão, de Hans Memling)

São Cristóvão é padroeiro dos motoristas (e dos archeiros, moços de fretes, carregadores dos mercados, pisoeiros, negociantes de frutas, automobilistas; é invocado contra a morte súbita, as tempestades, o granizo, as dores de dentes e a impenitência final) e comemorado, pelo martirológio jeronimiano, a 25 de julho. O seu nome, Cristofóro, para nós Cristóvão, significa porta-Cristo. Foi-lhe dedicada uma Igreja, na Bitínia, a 22 de setembro de 452. O seu martírio terá ocorrido no século III, um século de muitos mártires e de grande perseguição à Igreja e aos cristãos.
A lenda grega diz que ele era antropófago, da tribo dos cinéfalos (homens com cabeça de cão). Converteu-se ao cristianismo. Alistou-se no exército imperial e recusou-se a negar a sua fé. Morreu em suplícios inimagináveis.
A lenda ocidental: era um gigante com a mania das grandezas. Servia só os mais importantes. Primeiro um rei que ele pensava ser o rei mais importante do mundo. Depois encontrou o Demónio e achando que era a pessoa mais importante do mundo, seguiu-se, verificando que ele se desviava sempre que via uma cruz, contornando o caminho. Perguntou-lhe porque é que se desvia da cruz, ficando a saber a referência ao crucificado-ressuscitado.
Conhecendo Jesus Cristo, convenceu-se que era o maior rei que podia servir. Converteu-se. Pediu a um ermitão que o instruísse. Certo que Jesus apreciava a bondade, tornou-se transportador de pessoas num rio. Uma noite coube-lhe passar um menino, que se tornou tão pesado, obrigando-se a firmar-se bem nas pernas e com a ajuda de um cajado, com o receio real de ser derrubado. Quando chegou à margem disse ao menino que nem o mundo era tão pesado. Então o menino respondeu-lhe: “Tiveste às costas mais que o mundo inteiro; transportaste o Criador dele. Sou Jesus a quem tu serves”.
O martírio foi o último testemunho que deu de Jesus Cristo.
Paróquias que o têm como Padroeiro em Portugal: em Évora - Paróquia de São Cristóvão; em Lisboa Paróquia de São Cristóvão; em Viseu - São Cristóvão de Lafões; em Lamego - São Cristóvão de Nogueira (Zona Pastoral de Cinfães); em Vila Real - São Cristóvão do Douro; em Braga - Paróquia de São Cristóvão de Selho (Guimarães).
São Cristóvão, de Filippo Mazzola

Fonte: Santos de Todos os Dia, da Editorial A.O., referente ao mês de julho, publicado em 2005.
As imagens, digitalizadas, são as que aparecem neste mesmo volume.

sábado, 23 de fevereiro de 2019

São Policarpo, Bispo e Mártir

Nota Histórica
       Policarpo foi discípulo dos Apóstolos e bispo de Esmirna, e deu hospedagem a Inácio de Antioquia; partiu para Roma a fim de tratar com o papa Aniceto a questão da festa da Páscoa. Sofreu o martírio cerca do ano 155, queimado vivo no estádio da cidade.
Oração de Colecta:
       Deus e Senhor de toda a criação, que quisestes contar entre o número dos mártires o bispo São Policarpo, concedei-nos, por sua intercessão, que, tomando parte com ele na paixão de Cristo, ressuscitemos para a vida eterna. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Segunda leitura da Carta da Igreja de Esmirna sobre o martírio de São Policarpo
(Cap. 12, 2-15, 2: Funk 1, 297-299) (Sec. II)

Como um sacrifício abundante e agradável

Quando ficou pronta a fogueira, Policarpo desfez-se de todas as vestes, desapertou o cinto e quis-se descalçar sozinho: antes nunca o fazia, porque todos os fiéis se precipitavam a ajudá-lo, a ver qual o tocava primeiro; na verdade, mesmo antes do martírio, ele era tratado com grande respeito por causa da santidade da sua vida.
Logo o rodearam com todos os materiais preparados para a fogueira. Quando o quiseram pregar ao poste, ele disse: «Deixem-me assim; Aquele que me concedeu a graça de morrer no fogo, também me concederá que permaneça imóvel no meio dele, mesmo sem a caução dos vossos cravos». Então não o pregaram, mas limitaram-se a amarrá-lo.
Com as mãos atrás das costas e amarrado, era como um carneiro escolhido de entre um grande rebanho para o sacrifício, um holocausto agradável preparado para Deus. Levantou os olhos ao céu e disse:
«Senhor Deus omnipotente, Pai do vosso amado e bendito Filho Jesus Cristo, por meio do qual Vos conhecemos, Deus dos Anjos, das Potestades, de toda a criação e de todos os justos que vivem na vossa presença, eu Vos bendigo porque Vos dignastes, neste dia e nesta hora, incluir-me no número dos vossos mártires, fazer-me tomar parte no cálice do vosso Ungido e, pelo Espírito Santo, alcançar a ressurreição na vida eterna, na incorruptibilidade da alma e do corpo; no meio dos vossos mártires Vos peço que eu seja hoje recebido na vossa presença como sacrifício abundante e agradável, tal como Vós o tínheis preparado e mo destes a conhecer, e agora o realizais, ó Deus verdadeiro e sem falsidade.
Por todas as coisas Vos louvo, Vos bendigo, Vos glorifico por meio do eterno e celeste Pontífice, Jesus Cristo, vosso amado Filho. Por Ele seja dada toda a glória a Vós, em união com Ele e com o Espírito Santo, agora e nos séculos que hão-de vir. Amen
».
Depois de ter dito «Amen» e terminado a prece, os verdugos acenderam o fogo.
Levantou-se uma grande labareda; e então nós vimos o milagre – aqueles a quem foi concedido contemplá-lo, porque fomos guardados para anunciar aos outros as coisas que aconteceram –: o fogo tomou a forma de uma abóbada, como a vela de um navio enfunada pelo vento, e rodeou o corpo do mártir; e este estava posto no meio, não como carne que é queimada, mas como um pão que coze, ou como ouro e prata incandescente na fornalha. E sentíamos um odor de tal suavidade que parecia que se estava queimando incenso ou outro perfume precioso.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

SS. PAULO MIKI e COMPANHEIROS, mártires

Nota biográfica:
       Paulo nasceu no Japão entre os anos 1564/1566. Admitido na Companhia de Jesus, pregou o Evangelho com grande fruto entre os seus concidadãos. Tendo-se tornado mais violenta a perseguição contra os católicos, foi preso com vinte e cinco companheiros. Depois de muito maltratados, foram conduzidos à cidade de Nagasáki, onde foram crucificados no dia 5 de Fevereiro de 1597.
Oração de coleta:
       Senhor nosso Deus, fortaleza de todos os Santos, que chamastes São Paulo Miki e seus companheiros à vida eterna através do martírio da cruz, concedei-nos, por sua intercessão, a graça de conservar até à morte a fé que professamos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Da História do martírio de São Paulo Miki e seus companheiros, escrita por um autor do tempo (Cap. 14, 109-110: Acta Sanctorum Fev. 1, 769) (Sec. XVI)

Sereis minhas testemunhas

Quando as cruzes foram levantadas, foi coisa admirável ver a constância de todos, à qual eram exortados pelo Padre Passos e pelo Padre Rodrigues. O Padre comissário permaneceu sempre de pé, sem se mexer e com os olhos fixos no céu. O Irmão Martinho cantava salmos de acção de graças à bondade divina e juntava-lhes o versículo Nas tuas mãos, Senhor. Também o irmão Francisco Branco dava graças a Deus com voz clara. O irmão Gonçalo recitava em voz alta o «Pai Nosso» e a «Ave Maria».
O nosso Irmão Paulo Miki, vendo-se elevado diante de todos a uma tribuna como nunca tivera, começou por afirmar aos circunstantes que era japonês e pertencia à Companhia de Jesus, que ia morrer por haver anunciado o Evangelho, e que dava graças a Deus por lhe conceder tão elevado benefício. E por fim disse estas palavras:
«Agora que cheguei a este ponto extremo da minha vida, nenhum de vós há de acreditar que eu queira esconder a verdade. Declaro-vos portanto que não há outro caminho para a salvação do que aquele que possuem os cristãos. E como este caminho me ensina a perdoar aos inimigos e a todos os que me ofenderam, eu livremente perdoo ao imperador e a todos os autores da minha morte e peço a todos que se baptizem».
Então, voltando os olhos para os companheiros, começou a animá-los. Nos rostos de todos transparecia uma grande alegria, mas Luís era aquele em que isso se via de modo mais claro: quando outro cristão o animou gritando que em breve estaria com ele no paraíso, fez com as mãos e todo o corpo um gesto tão cheio de contentamento que os olhos de todos os presentes se fixaram nele.
António estava ao lado de Luís, com os olhos fitos no céu. Depois de invocar o Santíssimo Nome de Jesus e de Maria, entoou o salmo "Louvai o Senhor, servos do Senhor", que tinha aprendido em Nagasaki no catecismo; é que no catecismo costumam ensinar alguns salmos às crianças.
Alguns repetiam com rosto sereno: «Jesus, Maria»; outros exortavam os presentes a levarem uma vida digna de cristãos; e por estas e outras acções semelhantes demonstravam que estavam prontos para a morte.
Então os quatro carrascos começaram a tirar as espadas daquelas bainhas que costumam usar os japoneses. Ao verem o seu aspecto terrível todos os fiéis gritaram «Jesus, Maria», e soltaram um grito de tristeza que chegou ao céu. E os carrascos, com dois golpes, em pouco tempo os mataram a todos.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Santa Águeda, Virgem e Mártir

Nota biográfica:
       Sofreu o martírio em Catânia (Sicília), provavelmente na perseguição de Décio. O seu culto propagou-se desde a antiguidade por toda a Igreja e o seu nome foi inserido no Cânon Romano.
Oração de coleta:
       Concedei-nos, Senhor os dons da vossa misericórdia, por intercessão de Santa Águeda, que soube agradar-Vos pela consagração da sua virgindade e pela coragem no seu martírio. Por Nosso Senhor.
São Metódio da Sicília, bispo, sobre Santa Águeda

Dom que nos foi concedido por Deus, fonte mesma da bondade

A comemoração do aniversário da santa mártir juntou-nos a todos neste lugar, como sabeis, para celebrar a luta gloriosa desta mártir antiga e ao mesmo tempo tão próxima que nos parece agora mesmo estar combatendo e vencendo através dos divinos milagres com os quais diariamente é coroada e ornada.
É uma virgem, porque nasceu do Verbo de Deus imortal (que também por mim sofreu a morte na carne) e Filho indiviso de Deus, como diz João, o teólogo: A quantos O receberam, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.
É uma virgem esta mulher que nos convidou para o sagrado banquete; é a mulher desposada com um único esposo, Cristo, para usar o mesmo simbolismo nupcial de que falava o apóstolo Paulo.
É uma virgem que pintava e enfeitava os olhos e os lábios com a luz da consciência e a cor do sangue do verdadeiro e divino Cordeiro; e pela meditação contínua trazia sempre em si a morte d’Aquele que tanto a amava.
Deste modo, a mística veste da sua confissão é um testemunho que fala por si mesmo a todas as gerações futuras, porque leva em si a marca indelével do Sangue de Cristo e o tesouro inexaurível da sua eloquência virginal.
Ela é uma imagem autêntica da bondade, porque sendo de Deus, vem da parte do seu Esposo a tornar-nos participantes daqueles bens de que o seu nome leva o valor e o sentido: Águeda [quer dizer «boa»] é um dom que nos foi concedido por Deus, a própria fonte da bondade.
Qual é a causa suprema de toda a bondade senão Aquele que é o sumo bem? Por isso, quem encontrará qualquer coisa que mereça, como Águeda, os nossos elogios e louvores?
Águeda, cuja bondade corresponde tão bem ao nome e à realidade; Águeda, que pela sua magnífica gesta leva consigo um nome glorioso, e no próprio nome mostra a gesta gloriosa que realizou; Águeda, que com o nome nos atrai, a fim de que todos venham ao seu encontro, e com o exemplo nos ensina, a fim de que todos se encaminhem sem demora para o verdadeiro bem, que é Deus somente.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

São João de Brito, presbítero e mártir

Nota biográfica:

       Nasceu em Lisboa (Portugal) no dia 1 de março de 1647, de família nobre. Com 9 anos entra para a Corte como pagem. Depois de uma piedosa adolescência, entrou na Companhia de Jesus, em 17 de dezembro de 1662, depois dos estudos na Universidade de Évora, é ordenado sacerdote em 1673. Nesse mesmo ano parte para a Índia (14 de março), desembarca em Goa a 14 de setembro. No ano de 1686 sofre o primeiro «martírio». Entretanto regressa a Portugal, onde chega em 8 de setembro de 1687. Três anos depois, a 8 de abril de 1690, parte de novo para a Índia, chegando a Goa a 2 de novembro.
       Numa carta de 20 de abril de 1692. “Não há perseguição que me possa roubar a alegria que sinto em pregar, mais uma vez, o Evangelho aos gentios. Nos últimos quatro meses tenho estado escondido numa floresta, vivendo debaixo de uma árvore com tigres e cobras. Até agora ainda não fui atacado...
       “Tal é a minha relação para o ano de 1682. Tudo se resume nisto: não temos suporte humano em que nos possamos apoiar, opõem-se-nos reis e príncipes, os poderosos e letrados fazem quanto podem para nos expulsar; e mesmo assim, graças a uma proteção especial de Deus Nosso Senhor, que nos mantém nesta terra, nós conseguimos difundir a Sua Santa Religião.”

       A 8 de janeiro de 1693 é preso, onde sofre vários tormentos.O seu julgamento decorreu a 28 de janeiro, mera formalidade, foi condenado à morte. Em Oriur foi morto por degolamento a 4 de fevereiro de 1693. Até ao último suspiro João de Brito foi sempre um exemplo de Fé cristã; ao caminhar tranquilamente para o local da execução ele continuava a viver o Evangelho, e ao enfrentar o carrasco estava certo de que “se alguém guardar a Minha palavra nunca mais verá a morte” (Jo 8,51).
       Viria a ser beatificado pelo Papa Pio IX, a 8 de abril de 1852 e canonizado pelo Papa Pio XII, a 22 de junho de 1947.

Cronologia:


1647 – Nascimento em Lisboa (1 de Março).
1656 – Com 9 anos entra na Corte como pagem.
1662 – Entrada no Noviciado da Companhia de Jesus (17 de dezembro).
1664 – Faz os votos no fim do Noviciado (25 de dezembro).
1665 – Estudos na Universidade de Évora.
1666 – Começa os estudos no Colégio das Artes, em Coimbra.
1673 – Ordenação sacerdotal.
1673 – Partida para a Índia (15 de março). Chegada a Goa (14 de setembro).
1674 – Inicia a ação missionária na missão do Maduré.
1686 – Primeiro «martírio».
1687 – Regresso a Portugal. Chega a Lisboa a 8 de setembro.
1690 – Parte novamente para a Índia (8 de abril). Chegada a Goa (2 de novembro).
1693 – Prisão e tormento (8 de janeiro).
1693 – Martírio em Oriur (4 de fevereiro).
1852 – Beatificação pelo Papa Pio IX (8 de abril).
1947 – Canonização pelo Papa Pio XII (22 de junho)

Oração:
        Senhor, que fortalecestes com invencível constância o mártir São João de Brito para pregar a fé entre os povos da Índia, concedei-nos, por seus méritos e intercessão, que, celebrando a memória do seu triunfo, imitemos os exemplos da sua fé. Por Nosso Senhor Jesus Cristo...

Pio XII, papa, no dia seguinte ao da canonizacão de João de Brito

Renunciou à vida do mundo

João de Brito, o benjamim da família, órfão de pai desde a mais tenra infância, foi educado na corte do sábio rei de Portugal D. João IV. No meio da alegria folgazã dos pajens seus companheiros, nunca deixou de reflectir na sua vida a bondosa imagem de um novo Estanislau: a sua modéstia, a sua piedade, a espontânea defesa da sua pureza angélica, tornaram-se alvo frequente de mofas e de outros tratamentos ainda piores, os quais, suportados com paciência inquebrantável, lhe deram ocasião para que o apelidassem, como presságio do seu fim heróico, «o mártir».
Não se julgue que fosse insensível ao que lhe feria o amor próprio; mas era de índole tão bondosa mesmo para com aqueles que não apreciavam a sua virtude, que à irrisão e ofensas dos companheiros correspondia sempre com um sorriso benévolo e suma afabilidade.
João, que desde o nascimento fora santificado pelo dom da graça divina, e depois saboreou como o Senhor é bom, passa pelo mundo como um raio de luz através das sombras da selva escura, cresce como lírio entre os espinhos, eleva-se para o céu e floresce, esquecendo tudo quanto o rodeia; estimulado pelos favores de Deus, alimenta em si uma adolescência vigorosa que, à imitação do Apóstolo, quando Aquele que o tinha destinado desde o seio materno quis chamá-lo para pregar o seu Filho entre os gentios, decididamente não consultou a carne e o sangue, e subtraiu-se à ternura materna, ao afecto do rei e à tranquilidade da sua terra natal.
Olhai para o jovem missionário, para o heroísmo da sua acção, que se dilata no meio dos povos infiéis: acção esplêndida, acção destemida, acção fecunda. Seria necessário não ter ideal algum no coração para não sentir o entusiasmo que suscita a narração da sua vida tão ardente, para não experimentar, com um sentimento de santa inveja, o desejo de participar em tão árduas canseiras evangélicas e de alcançar os seus merecimentos na medida das próprias forças.
Neste herói da santidade, movido por uma atividade sem tréguas nem descanso, não tardaria a sentir-se consumada a vida laboriosa do missionário, se não tivesse sobrevindo tão subitamente o martírio a impedir-lhe o trabalho ardoroso da pregação da fé e moral evangélica, interrompendo o curso da sua vida e da obra começada.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Santa Inês, virgem e mártir

Nota biográfica:
       É uma das santas mais veneradas pela comunidade de Roma. Foi martirizada em Roma na segunda metade do século III ou, mais provavelmente, no princípio do século IV, no ano de 304, talvez. Tinha 13 anos, era uma adolescente, de extraordinária beleza, rica e nobre e virtuosa. A cobiça de jovens como Procópio, filho do Prefeito de Roma, Semprónio.
       Para Inês a decisão estava tomada: não cederia aos encantos de qualquer jovem. Julgado e condenada a incensar os ídolos, a sua recusa leva-la-á à morte: "Virgens a Cristo consagradas não portarão tais lâmpadas, pois este fogo não é fé. Mas o meu sangue pode apagar este braseiro. Podem me ferir com suas espadas, mas nunca conseguirão profanar meu corpo consagrado a Cristo!" Foi exposta nua num prostíbulo no Circo de Domiciano (hoje a famosa praça Navona, onde se ergue a Basílica de Santa Inês in Agone). Foi decapitada. O papa S. Dâmaso adornou com versos o seu sepulcro e muitos santos Padres, seguindo S. Ambrósio, celebraram os seus louvores.
       É também conhecida como Santa Inês de Roma ou Santa Agnes (cordeiro). Exames forenses realizados recentemente ao crânio da jovem que se encontrava no tesouro de relíquias do "Sancta Sanctorum" da Basílica de Latrão comprovaram que se trata do crânio de uma menina de 13 anos.
       Nos quadros é representada frequentemente com um cordeiro junto a si, até porque o seu nome provém do  latim "agnus" (cordeiro) e um lírio, símbolo da pureza.
       É neste dia que o Papa benze os cordeirinhos dos quais será retirada a lã para confeccionar os pálios usados pelo Papa e pelos Arcebispos. No início era usada pele de cordeiro aos ombros.
O pálio usado por cima da casula. O Papa com o pálio que usava no início, e a forma do pálio actual. Várias arcebispos, depois de terem sido investidos com o pálio. No pálio papal, a cruz é vermelha, nos pálios dos arcebispos a cruz é em preto.

Oração de colecta:
       Deus eterno e omnipotente, que escolheis os mais frágeis do mundo para confundir os fortes, concedei que, celebrando o martírio de Santa Inês, imitemos a constância da sua fé. Por Nosso Senhor.
(Celebração em que o Papa Francisco coloca os pálios aos Arcebispos, em 2013 e em 2014)
Santo Ambrósio, bispo, sobre as virgens

Ainda não apta para o sofrimento e já madura para a vitória

Celebramos uma virgem: imitemos a sua integridade. Celebramos a mártir: ofereçamos sacrifícios.
Celebramos Santa Inês. Conta-se que teria sofrido o martírio com doze anos. Quanto mais detestável se mostra a crueldade que nem a infantil idade poupou, tanto maior é a força da fé que até naquela idade encontrou testemunho.
Em corpo tão pequeno haveria sequer espaço para os sofrimentos? Mas aquela que quase não tinha tamanho para ser ferida pela espada, teve forças para vencer a espada. E contudo, as meninas desta idade não suportam sequer o rosto zangado dos pais e choram como se de feridas se tratasse por causa da picada de um alfinete.
Mas Inês permanece impávida entre as mãos dos cruéis algozes, imóvel perante o pesado e estridente arrastar das cadeias. Oferece o corpo à espada do soldado furibundo, sem saber o que é a morte, mas pronta para ela; levada à força até ao altar dos ídolos, estende as mãos para Cristo entre as chamas de fogo, e no próprio lume do sacrilégio assinala o troféu do Senhor vitorioso; por fim introduz o pescoço e as mãos nos aros de ferro, mas nenhum elo é suficientemente apertado para reter membros tão pequenos.
Novo género de martírio! Ainda não apta para o sofrimento e já madura para a vitória; mal pode combater e facilmente triunfa; dá uma lição de fortaleza, apesar da sua tão tenra idade. Nenhuma noiva se adiantaria para o leito nupcial com aquela alegria com que a virgem avançou para o lugar do suplício, levando a cabeça enfeitada não de tranças mas de Cristo, e coroada não de flores mas de virtudes.
Todos choram, só ela não tem lágrimas. Todos se admiram de que tão generosamente entregue a sua vida quem ainda não a começara a gozar, como se já a tivesse vivido plenamente. A todos espanta que se levante já como testemunha de Deus uma criança, que, pela idade, não podia ainda dar testemunho de si mesma. E afinal foi fidedigno o testemunho que deu acerca de Deus esta criança que ainda não podia testemunhar a respeito de um homem; porque o que ultrapassa a natureza, pode fazê-lo o Autor da natureza.
Quantas ameaças do algoz para que ela se atemorizasse, quantas seduções para que se convencesse, quantas promessas para que o desposasse! Mas a sua resposta foi esta: «É uma ofensa ao Esposo fazer-se esperar; aquele que primeiro me escolheu para Si, esse é que me receberá. Porque demoras, verdugo? Pereça este corpo, que pode ser amado por quem eu não quero». Levantou-se, rezou, inclinou a cabeça.
Terias podido ver o carrasco perturbar-se, como se fosse ele o condenado; tremer a mão direita do verdugo; empalidecerem-se os rostos, temerosos do perigo alheio, enquanto a jovem não temia o próprio.
Tendes numa única vítima dois martírios, o da pureza e o da fé. Permaneceu virgem e foi mártir.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Santos Inocentes, Mártires

Nota Histórica:
       «Hoje celebramos o nascimento para o Céu das crianças que foram assassinadas por Herodes, o rei cruel» (S. Cesário de Arles).
       Ao venerar estas crianças, que proclamaram a glória de Deus, não com palavras mas com o seu sangue, a Igreja quer, em primeiro lugar, levar-nos à sua imitação sendo testemunhas de Cristo, através do martírio silencioso do cumprimento do dever quotidiano.
       Ao lembrar, em plena quadra natalícia, o sacrifício destas «flores dos mártires que se fecharam para sempre no seio do frio da infidelidade» (Sto. Agostinho), quer também dirigir um apelo para que se respeite a vida, em todas as suas manifestações, desde a sua origem até ao seu termo. Na verdade, como lembrou o Concílio Vaticano II, «Deus, Senhor da Vida, confiou aos homens a nobre missão de protegê-la: missão, que deve ser cumprida de modo digno do homem. Por isso, a vida, desde a concepção, deve ser amparada com o máximo cuidado: o aborto e o infanticídio são crimes abomináveis» (Gaudium et Spes: GS 51).

Oração de Coleta:
       Senhor nosso Deus, que neste dia fostes glorificado não pelas palavras mas pelo sangue dos Mártires Inocentes, fazei que a nossa vida dê testemunho da fé que os nossos lábios professam. Por Nosso Senhor Jesus Cristo vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Sermão de São Quodvultdeus, bispo 

Ainda não falam e já confessam a Cristo 

Nasceu o grande Rei, como um menino pequeno. Os Magos são atraídos de longes terras; vêm para adorar Aquele que ainda está no presépio, mas já reina no Céu e na terra. Quando os Magos anunciam que nasceu o Rei, Herodes perturba-se e, para não perder o reino, decide matar o recém-nascido; e, no entanto, se tivesse acreditado n’Ele, poderia reinar tranquilo na terra e para sempre na outra vida.
Que temes, Herodes, ao ouvir dizer que nasceu o Rei? Ele não veio para te destronar, mas para vencer o demónio. Tu, porém, não o compreendes; e por isso te perturbas e te enfureces, e, para que não escape aquele único Menino que buscas, te convertes em cruel assassino de tantas crianças.
Nem as lágrimas das mães nem o lamento dos pais pela morte de seus filhos, nem os gritos e gemidos das crianças te comovem. Matas o corpo das crianças, porque o temor te matou o coração; julgas que, se conseguires o teu propósito, poderás viver muito tempo, quando precisamente queres matar a própria Vida. 
Aquele que é a fonte da graça, que é pequeno e grande ao mesmo tempo, e que jaz no presépio, aterroriza o teu trono; por meio de ti, e sem que tu o saibas, realiza os seus desígnios e liberta as almas do cativeiro do demónio. Recebeu como filhos adoptivos os filhos dos que eram seus inimigos.
As crianças, sem o saberem, morrem por Cristo; os pais choram os mártires que morrem. Àqueles que ainda não podiam falar, Cristo os faz suas dignas testemunhas. Eis como reina Aquele que veio para reinar. Eis como já começa a conceder a liberdade Aquele que veio para libertar, e a dar a salvação Aquele que veio para salvar.
Mas tu, Herodes, ignorando tudo isto, perturbas-te e enfureces-te; e enquanto te enfureces contra aquele Menino, já estás a prestar-Lhe, sem o saberes, a tua homenagem.
Maravilhoso dom da graça! Que méritos tinham aquelas crianças para obterem tal triunfo? Ainda não falam e já confessam a Cristo. Ainda não podem mover os seus membros para travar batalha e já alcançam a palma da vitória.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Santo Estêvão, o primeiro mártir

Nota biográfica:
       Estêvão foi um dos primeiros sete Diáconos escolhidos pelos Apóstolos, com o fim de por eles serem aliviados de tarefas administrativas (Atos. 6, 1-6). Homem cheio do Espírito Santo, não limitou Estêvão o seu «diaconado» aos serviços caritativos. Com efeito, dedicou-se, com toda a sua alma, à evangelização, tornando-se testemunho de Cristo Ressuscitado. O livro dos Actos dos Apóstolos (Ato, 7) atribui-lhe um discurso, que, sendo o primeiro ensaio cristão da leitura dos textos do Antigo Testamento em função da vinda do Senhor, servirá de modelo aos primeiros arautos do Evangelho. Primeiro diácono, foi também o primeiro mártir da Igreja. Cerca do ano 36 da nossa era, com uma morte aceite com as mesmas disposições com que Jesus aceitou a Sua, Estêvão dava o supremo testemunho do Seu amor por Ele.
Oração de coleta:
       Ensinai-nos, Senhor, a imitar o que celebramos,amando os nossos inimigos, a exemplo do primeiro mártir, Santo Estêvão, que soube implorar o perdão para os seus perseguidores. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Atos dos Apóstolos:
       Naqueles dias, Estêvão, cheio de graça e fortaleza, fazia grandes prodígios e milagres entre o povo. Entretanto, alguns membros da sinagoga chamada dos Libertos, oriundos de Cirene, de Alexandria, da Cilícia e da Ásia, vieram discutir com Estêvão, mas não eram capazes de resistir à sabedoria e ao Espírito Santo com que ele falava. Ao ouvirem as suas palavras,estremeciam de raiva em seu coração e rangiam os dentes contra Estêvão. Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo, de olhos fitos no Céu, viu a glória de Deus e Jesus de pé à sua direita e exclamou: «Vejo o Céu aberto e o Filho do homem de pé à direita de Deus». Então levantaram um grande clamor e taparam os ouvidos; depois atiraram-se todos contra ele, empurraram-no para fora da cidade e começaram a apedrejá-lo. As testemunhas colocaram os mantos aos pés de um jovem chamado Saulo. Enquanto o apedrejavam, Estêvão orava, dizendo: «Senhor Jesus, recebe o meu espírito» (6, 8-10; 7, 54-49).
São Fulgêncio de Ruspas, bispo

As armas da caridade

Ontem celebrámos o nascimento temporal do nosso Rei eterno; hoje celebramos o martírio triunfal do seu soldado. Ontem, o nosso rei, revestido com o manto da carne, saindo do seio virginal, dignou-Se visitar o mundo; hoje, o soldado, saindo do tabernáculo do seu corpo, entrou triunfante no Céu.
O nosso Rei, o Altíssimo, humilhou-Se por nós; mas a sua vinda não foi em vão: Ele trouxe grandes dons aos seus soldados, a quem não só enriqueceu abundantemente, mas também fortaleceu para serem invencíveis na luta. Trouxe o dom da caridade que torna os homens participantes da natureza divina.
Ao repartir tão liberalmente os seus dons, nem por isso ficou mais pobre: enriquecendo de modo admirável a pobreza dos seus fiéis, Ele conservou a plenitude dos seus tesouros inesgotáveis.
Assim, a mesma caridade que Cristo trouxe do Céu à terra, fez subir Estêvão da terra ao Céu. A mesma caridade que precedeu no Rei, resplandeceu depois no soldado.
Estêvão, para merecer a coroa que o seu nome significava, tomou como arma a caridade e com ela triunfava em toda a parte. Por amor de Deus não cedeu perante os judeus que o atacavam; por amor do próximo, intercedia pelos que o apedrejavam. Pela caridade, argumentava contra os que estavam no erro para que se corrigissem; pela caridade, orava pelos que o apedrejavam para que não fossem castigados.
Confiado na força da caridade, venceu a crueldade de Saulo e mereceu ter como companheiro no Céu aquele que na terra foi seu perseguidor. Movido pela santa e infatigável caridade, desejava conquistar com a sua oração aqueles que não pôde converter com as suas palavras.
E agora, Paulo alegra-se com Estêvão, com Estêvão goza da glória de Cristo, com Estêvão triunfa, com Estêvão reina. Onde entrou primeiro Estêvão, martirizado pelas pedras de Paulo, entrou depois Paulo, ajudado pelas orações de Estêvão.
Oh como é verdadeira aquela vida, meus irmãos, em que Paulo não fica confundido pela morte de Estêvão, e Estêvão se alegra pela companhia de Paulo, porque em ambos exulta a mesma caridade. A caridade de Estêvão superou a crueldade dos judeus, a caridade de Paulo cobriu a multidão dos seus pecados; pela caridade mereceram ambos possuir o reino dos Céus.
A caridade é a fonte e origem de todos os bens, é a mais segura protecção, é o caminho que leva ao Céu. Quem caminha na caridade não pode temer nem errar; ela dirige, protege e leva a bom termo.
Por isso, irmãos, uma vez que Jesus Cristo nos deu a escada da caridade pela qual todo o cristão pode subir ao Céu, conservai fielmente a caridade verdadeira, exercitai a uns com os outros e, subindo por ela, progredi sempre no caminho da perfeição.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Santa Luzia, Virgem e Mártir

Nota biográfica:
       Morreu provavelmente em Siracusa, durante a perseguição de Diocleciano. O seu culto estendeu-se, desde a antiguidade, quase a toda a Igreja, e o seu nome foi introduzido no Cânon Romano.
       (É venerada como a Santa dos olhos. A imagem que se segue tem, numa bandeja, um par de olhos. No concelho de Tabuaço é, especialmente, venerada na paróquia de Sendim, tendo uma capela que lhe é dedicada e uma romaria muito popular em sua honra)
Oração:
       Protegei, Senhor, o vosso povo com a intercessão gloriosa da virgem e mártir Santa Luzia, para que, celebrando hoje o seu martírio na terra, contemplemos um dia o seu triunfo no Céu. Por Nosso Senhor.

Santo Ambrósio, bispo, sobre a virgindade

O esplendor da alma ilumina a graça do corpo

Tu, que vieste de entre o povo, do meio da multidão, e és agora uma das virgens, que iluminas com o esplendor da alma a graça do teu corpo – e, por isso, és uma imagem fiel da Igreja – recolhe-te no teu aposento e durante a noite pensa sempre em Cristo e espera a todo o momento a sua chegada.
É isto que Ele deseja de ti, para isto te escolheu. Ele entrará certamente, se encontrar a porta aberta; Ele prometeu vir e não faltará à sua promessa. E quando vier, abraça Aquele a quem buscavas, aproxima-te d’Ele e serás iluminada; conserva-O junto de ti, roga-Lhe que não parta tão depressa, suplica-Lhe que não Se afaste de ti. Porque o Verbo de Deus corre velozmente: onde vê desinteresse, não Se demora; onde sente negligência, não Se detém. Concentra a tua alma para escutar a sua palavra e segue atentamente a ressonância da sua voz, porque Ele passa depressa.
Que diz a esposa do Cântico dos Cânticos? Procurei-o e não o encontrei; chamei por ele e não me respondeu. Se partiu tão depressa Aquele a quem tu chamaste, a quem suplicaste e a quem abriste a porta, não penses que Lhe desagradaste, pois muitas vezes Ele permite que sejamos postos à prova. E que respondeu no Evangelho às multidões que Lhe pediam para não partir dali? Tenho de pregar a palavra de Deus noutras cidades, porque para isso fui enviado. Mas se te parece que se foi embora, sai tu uma vez mais e busca-O de novo.
Quem, senão a Igreja, te ensinará o modo de conservares a Cristo contigo? Aliás, já to ensinou, se bem entendes o que lês: Mal passei pelos guardas, encontrei aquele que meu coração ama; segurei-o e não o deixarei partir.
Com que laços se pode segurar a Cristo? Não com laços de violência, nem com cordas bem apertadas, mas com os vínculos da caridade, com as cadeias do espírito e o afecto da alma.
Se queres conservar a Cristo contigo, busca-O incansavelmente e não temas o sacrifício. Muitas vezes Ele encontra-se mais facilmente no meio dos suplícios corporais e nas mãos dos perseguidores.
Mal passei pelos guardas, diz o Cântico. De facto, passado um breve espaço de tempo, quando te vires livre dos perseguidores e vitoriosa sobre os poderes do mundo, Cristo virá ao teu encontro e não permitirá que se prolongue mais a tua prova.
Aquela que assim busca a Cristo e O encontra, pode exclamar: Segurei-O e não O deixarei mais, até que O tenha introduzido na casa de minha mãe, no quarto daquela que me concebeu. Qual é a casa de tua mãe e o seu quarto senão o santuário mais íntimo do teu ser?
Guarda bem esta casa, limpa todos os seus recantos, para que assim, purificada de toda a mancha, se levante como um templo espiritual fundado sobre a pedra angular, até se formar um sacerdócio santo e habite nela o Espírito de Deus.
Aquela que assim busca a Cristo, aquela que assim Lhe suplica, jamais se verá abandonada por Ele; ao contrário, será visitada por Ele com frequência, porque Ele está connosco até ao fim do mundo.

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Festa de Santo André, Apóstolo

Nota biográfica:
       André é irmão de Simão Pedro e é natural de Betsaida.
       O nome é de origem grega e não hebraica. Na lista dos Apóstolos aparece em segundo lugar, e outras vezes em quarto. Gozava de um enorme prestígio nas comunidades cristãs do início. É, juntamente com Pedro, dos primeiros a ser chamado por Jesus: "Caminhando ao longo do mar da galileia, Jesus viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar. Disse-lhes: «Vinde comigo e Eu farei de vós pescadores de homens»" (Mt 4, 18-19; Mc 1, 16-17). O quarto Evangelho dá-nos a informação que ele foi primeiramente discípulo de João Baptista e depois seguiu a Cristo, a quem apresentou também seu irmão Pedro (Jo 1, 36-43).
       A Igreja Bizantina honra-o como Protóklitos, isto é o primeiro chamado por Jesus.
       Os Evangelho apresentam André em outras ocasiões: aquando da multiplicação dos pães, dizendo a Jesus que havia um jovem que tinha cinco pães de cevada e dois peixes, mas insuficiente para tanta gente (Jo 6, 8-9); quando Jesus refere que do Templo não ficará pedra sobre pedra, apesar da solidez da construção, então juntamente com Pedro e João, André interroga Jesus: "Diz-nos quando isto acontecerá e qual o sinal de que tudo está para acabar?" (Mc 13, 1-4); próximo da Páscoa, antes da Paixão, vêm à cidade alguns gregos e manifestam o desejo de ver Jesus e é André e Filipe que servem de intérpretes (Jo 12, 23-24). Depois do Pentecostes, segundo uma tradição, pregou em diversas regiões e foi crucificado na Acaia.
       A tradição narra a morte de André em Petrasso, onde sofreu o suplício da crucifixão e à semelhança de Pedro pediu para ser crucificado de maneira diferente á do Mestre, tendo sido crucificado numa cruz decussada, cruzada transversalmente e inclinada, e que ficou conhecida como a "cruz de Santo André".
       Portanto, diz-nos o Papa Bento XVI, "o apóstolo André ensina-nos a seguir Jesus com prontidão (cf (Mt 4,20; Mc 1, 18), a falar com entusiasmo d'Ele a quantos encontrarmos, e sobretudo a cultivar com Ele um relacionamento de verdadeira familiaridade, bem conscientes de que só n'Ele podemos encontrar o sentido último da nossa vida e da nossa morte".

Oração de coleta:
       Nós Vos suplicamos, Deus omnipotente, que, assim como o apóstolo Santo André foi na terra pregador do Evangelho e pastor da vossa Igreja, seja também no Céu poderoso intercessor junto de Vós. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo

BENTO XVI SOBRE SANTO ANDRÉ, o Protóklitos 
Queridos irmãos e irmãs!
Nas últimas duas catequeses falámos da figura de São Pedro. Agora queremos, na medida em que as fontes o permitem, conhecer mais de perto também os outros onze Apóstolos. Portanto, falamos hoje do irmão de Simão Pedro, Santo André, também ele um dos Doze. A primeira característica que em André chama a atenção é o nome: não é hebraico, como teríamos pensado, mas grego, sinal de que não deve ser minimizada uma certa abertura cultural da sua família. Estamos na Galileia, onde a língua e a cultura gregas estão bastante presentes. Nas listas dos Doze, André ocupa o segundo lugar, como em Mateus (10, 1-4) e em Lucas (6, 13-16), ou o quarto lugar como em Marcos (3, 13-18) e nos Actos (1, 13-14). Contudo, ele gozava certamente de grande prestígio nas primeiras comunidades cristãs.
O laço de sangue entre Pedro e André, assim como a comum chamada que Jesus lhes faz, sobressaem explicitamente nos Evangelhos. Neles lê-se: "Caminhando ao longo do mar da Galileia, Jesus viu os dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes: "Vinde comigo e Eu farei de vós pescadores de homens"" (Mt 4, 18-19; Mc 1, 16-17). Do Quarto Evangelho tiramos outro pormenor: num primeiro momento, André era discípulo de João Baptista; e isto mostra-nos que era um homem que procurava, que partilhava a esperança de Israel, que queria conhecer mais de perto a palavra do Senhor, a realidade do Senhor presente. Era verdadeiramente um homem de fé e de esperança; e certa vez, de João Baptista ouviu proclamar Jesus como "o cordeiro de Deus" (Jo 1, 36); então ele voltou-se e, juntamente com outro discípulo que não é nomeado, seguiu Jesus, Aquele que era chamado por João o "Cordeiro de Deus". O evangelista narra: eles "viram onde morava e ficaram com Ele nesse dia" (Jo 1, 37-39). Portanto, André viveu momentos preciosos de familiaridade com Jesus.
A narração continua com uma anotação significativa: "André, o irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram João e seguiram Jesus. Encontrou primeiro o seu irmão Simão, e disse-lhe: "Encontramos o Messias" que quer dizer Cristo. E levou-o até Jesus" (Jo 1, 40-43), demonstrando imediatamente um espírito apostólico não comum. Portanto, André foi o primeiro dos Apóstolos a ser chamado para seguir Jesus. Precisamente sobre esta base a liturgia da Igreja Bizantina o honra com o apelativo de Protóklitos, que significa exactamente "primeiro chamado". E não há dúvida de que devido ao relacionamento fraterno entre Pedro e André a Igreja de Roma e a Igreja de Constantinopla se sentem irmãs entre si de modo especial. Para realçar este relacionamento, o meu Predecessor, o Papa Paulo VI, em 1964, restituiu as insignes relíquias de Santo André, até então conservadas na Basílica Vaticana, ao Bispo metropolita Ortodoxo da cidade de Patrasso na Grécia, onde segundo a tradição o Apóstolo foi crucificado.
As tradições evangélicas recordam particularmente o nome de André noutras três ocasiões, que nos fazem conhecer um pouco mais este homem. A primeira é a da multiplicação dos pães na Galileia. Naquele momento foi André quem assinalou a Jesus a presença de um jovem que tinha cinco pães de cevada e dois peixes: era muito pouco observou ele para todas as pessoas reunidas naquele lugar (cf. Jo 6, 8-9). Merece ser realçado, neste caso, o realismo de André: ele viu o jovem portanto já se tinha perguntado: "mas o que é isto para tantas pessoas?" (ibid.) mas apercebeu-se da insuficiência dos seus poucos recursos. Contudo, Jesus soube fazê-los bastar para a multidão de pessoas que vieram ouvi-lo. A segunda ocasião foi em Jerusalém. Saindo da cidade, um discípulo fez notar a Jesus o espectáculo dos muros sólidos sobre os quais o Templo se apoiava. A resposta do Mestre foi surpreendente: disse que não teria ficado em pé nem sequer uma pedra daqueles muros. Então André, juntamente com Pedro, Tiago e João, interrogou-o: "Diz-nos quando tudo isto acontecerá e qual o sinal de que tudo está para acabar" (Mc 13, 1-4).
Para responder a esta pergunta Jesus pronunciou um importante discurso sobre a destruição de Jerusalém e sobre o fim do mundo, convidando os seus discípulos a ler com atenção os sinais do tempo e a permanecer sempre vigilantes. Podemos deduzir deste episódio que não devemos ter receio de fazer perguntas a Jesus, mas ao mesmo tempo devemos estar prontos para receber os ensinamentos, até surpreendentes e difíceis, que Ele nos oferece.
Por fim, nos Evangelhos está registrada uma terceira iniciativa de André. O Cenário ainda é Jerusalém, pouco antes da Paixão. Para a festa da Páscoa narra João tinham vindo à cidade santa alguns Gregos, provavelmente prosélitos ou tementes a Deus, que vinham para adorar o Deus de Israel na festa da Páscoa. André e Filipe, os dois apóstolos com nomes gregos, servem como intérpretes e mediadores deste pequeno grupo de Gregos junto de Jesus. A resposta do Senhor à sua pergunta parece como muitas vezes no Evangelho de João enigmática, mas precisamente por isso revela-se rica de significado. Jesus diz aos dois discípulos e, através deles, ao mundo grego: "Chegou a hora de se revelar a glória do Filho do Homem. Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto" (12, 23-24).
O que significam estas palavras neste contexto? Jesus quer dizer: sim, o encontro entre mim e os Gregos terá lugar, mas não como simples e breve diálogo entre mim e algumas pessoas, estimuladas sobretudo pela curiosidade. Com a minha morte, comparável à queda na terra de um grão de trigo, chagará a hora da minha glorificação. A minha morte na cruz originará grande fecundidade: o "grão de trigo morto" símbolo de mim crucificado tornar-se-á na ressurreição pão de vida para o mundo; será luz para os povos e para as culturas. Sim, o encontro com a alma grega, com o mundo grego, realizar-se-á naquela profundidade à qual faz alusão a vicissitude do grão de trigo que atrai para si as forças da terra e do céu e se torna pão. Por outras palavras, Jesus profetiza a Igreja dos gregos, a Igreja dos pagãos, a Igreja do mundo como fruto da sua Páscoa.
Tradições muito antigas vêem em André, o qual transmitiu aos gregos esta palavra, não só o intérprete de alguns Gregos no encontro com Jesus agora recordado, mas consideram-no como apóstolo dos Gregos nos anos que sucederam ao Pentecostes; fazem-nos saber que no restante da sua vida ele foi anunciador e intérprete de Jesus para o mundo grego. Pedro, seu irmão, de Jerusalém, passando por Antioquia, chegou a Roma para aí exercer a sua missão universal; André, ao contrário, foi o apóstolo do mundo grego: assim, eles são vistos, na vida e na morte, como verdadeiros irmãos uma irmandade que se exprime simbolicamente no relacionamento especial das Sedes de Roma e de Constantinopla, Igrejas verdadeiramente irmãs.
Uma tradição sucessiva, como foi mencionado, narra a morte de André em Patrasso, onde também ele sofreu o suplício da crucifixão. Mas, naquele momento supremo, de modo análogo ao do irmão Pedro, ele pediu para ser posto numa cruz diferente da de Jesus. No seu caso tratou-se de uma cruz decussada, isto é, cruzada transversalmente inclinada, que por isso foi chamada "cruz de Santo André". Eis o que o Apóstolo dissera naquela ocasião, segundo uma antiga narração (início do século VI) intituladaPaixão de André: "Salve, ó Cruz, inaugurada por meio do corpo de Cristo e que se tornou adorno dos seus membros, como se fossem pérolas preciosas. Antes que o Senhor fosse elevado sobre ti, tu incutias um temor terreno.
Agora, ao contrário, dotada de um amor celeste, és recebida como um dom. Os crentes sabem, a teu respeito, quanta alegria possuis, quantos dons tens preparados. Portanto, certo e cheio de alegria venho a ti, para que também tu me recebas exultante como discípulo daquele que em ti foi suspenso... Ó Cruz bem-aventurada, que recebestes a majestade e a beleza dos membros do Senhor!... Toma-me e leva-me para longe dos homens e entrega-me ao meu Mestre, para que por teu intermédio me receba quem por ti me redimiu. Salve, ó Cruz; sim, salve verdadeiramente!".
Como se vê, há aqui uma profundíssima espiritualidade cristã, que vê na Cruz não tanto um instrumento de tortura como, ao contrário, o meio incomparável de uma plena assimilação ao Redentor, ao grão de trigo que caiu na terra. Nós devemos aprender disto uma lição muito importante: as nossas cruzes adquirem valor se forem consideradas e aceites como parte da cruz de Cristo, se forem alcançadas pelo reflexo da sua luz. Só daquela Cruz também os nossos sofrimentos são nobilitados e adquirem o seu verdadeiro sentido.
Portanto, o apóstolo André ensina-nos a seguir Jesus com prontidão (cf. Mt 4, 20; Mc 1, 18), a falar com entusiasmo d'Ele a quantos encontramos, e sobretudo a cultivar com Ele um relacionamento de verdadeira familiaridade, bem conscientes de que só n'Ele podemos encontrar o sentido último da nossa vida e da nossa morte.
Saudação em Língua portuguesa:
Amados irmãos!
Nossa Catequese de hoje se centra na figura do Apóstolo André, irmão de Pedro. A Igreja bizantina honra-o com o nome deProtóklitos, ou seja o que foi "chamado por primeiro", por ter sido o primeiro entre os apóstolos a seguir o Senhor. Depois dele viriam todos os demais, antes de mais Pedro, a quem o Messias confiara a sua Igreja. André foi o apóstolo do mundo grego; por isso, ele exprime uma simbólica aliança entre a Igreja de Roma e a de Constantinopla.
Ao recorrer à intercessão deste grande apóstolo, peço a todos os peregrinos presentes de língua portuguesa, especialmente aos grupos vindos de Portugal e do Brasil, que rezem pela unidade da Igreja e pela comunhão de todos os cristãos. Com a minha Bênção Apostólica.

BENTO XVI, Os Apóstolos e os Primeiros Discípulos de Cristo. As origens da Igreja. Editorial Franciscana: Braga 2008.

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Santo Inácio de Antioquia, Bispo e Mártir

       Antioquia e Alexandria era dois grandes centros académicos, nos inícios da Igreja. A teologia desenvolvia-se de sobremaneira nestes dois pólos, mas pelo caminho fica marcas profundas de perseguição aos cristãos, à Igreja, e sobretudo às figuras que estavam à frente das comunidades.
       Não se sabe muito dos primeiros anos da vida de Inácio. Assim acontece com muitas personagens históricas.
       São conhecidas as cartas de Santo Inácio, obra incontornável do cristianismo e da teologia, onde deixa transparecer a intimidade com Jesus Cristo, em que nada o desvia do olhar de Cristo e nada o afasta da vivência autêntica do Evangelho, nelas se encontra a doutrina evangélica e paulina. É a segunda geração depois dos Apóstolos.
       Com ele aparece pela primeira vez o termo que caracteriza a Igreja como "CATÓLICA":
     "Onde aparecer o bispo, aí está também a multidão, de maneira que, onde estiver Jesus Cristo, aí está a Igreja Católica".
       Inácio foi detido e condenado a ser devorado pelas feras na grande cidade de Roma. E a partir daqui se conhecem melhor os passos deste santo.
       Condenado o santo Bispo de Antioquia mantém-se sereno. Pelo caminho para Roma escreve à comunidade de Éfeso. Em Esmirna, a comunidade, juntamente com o seu Bispo, São Policarpo, discípulo de São João Evangelista, recebe-o como fosse o próprio Jesus Cristo. Outras comunidades seguem o exemplo de Esmirna e recebem-no com toda a caridade. Algumas delas são enriquecidas com as suas cartas: Éfeso, Trales, Magnésia, Esmirna, Roma.
       Ao aproximar-se de Roma é informado que os romanos procuram, através de diversas influências, alterar a condenação. Ao saber disso, Santo Inácio escreve-lhes a carta mais comovedora, começando por reconhecer a Igreja de Roma como aquela que preside à caridade.
       A sua grande serenidade aproxima-o da eternidade com Jesus Cristo:
       "Desde a Síria até Roma estou a lutar com as feras, por terra e por mar, de noite e de dia, atado como estou de dez leopardos, quer dizer, um pelotão de soldados que, com benefícios que lhes são feitos, se tornam piores. Agora sim, com os seus maus tratos, aprendo eu a ser melhor discípulos do Senhor, embora nem por isto me tenha por justificado.
     "Oxalá goze eu das feras que estão para mim destinadas... Agora começo a ser discípulo. Nenhuma coisa visível ou invisível seja posta diante de mim por má vontade,, impedindo-me alcançar Jesus Cristo...
     "O meu amor está crucificado e já não há em mim fogo que busque alimentar-me de matéria; mas sim, em troca, água viva murmura dentro de mim e do íntimo está dizendo: 'Vem para o Pai'...
     "Trigo sou de Deus, e pelos dentes das feras hei-de ser moído, a fim de ser apresentado como limpo pão de Cristo".
      Foi lançado às feras no dia 20 de Dezembro de 107.

Oração de Coleta: 
       Deus eterno e omnipotente, que pelo testemunho dos santos mártires honrais todo o corpo da Igreja, concedei que o glorioso martírio de Santo Inácio de Antioquia que hoje celebramos, assim como mereceu para ele a glória eterna, seja também para nós um auxílio permanente. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Da Carta de Santo Inácio, bispo e mártir, aos Romanos
Sou trigo de Deus e serei moído pelos dentes das feras
Escrevo a todas as Igrejas e asseguro a todas elas que estou disposto a morrer de bom grado por Deus, se vós não o impedirdes. Peço-vos que não manifesteis por mim uma benevolência inoportuna. Deixai-me ser pasto das feras, pelas quais poderei chegar à posse de Deus. Sou trigo de Deus e devo ser moído pelos dentes das feras, para me transformar em pão limpo de Cristo. Rezai por mim a Cristo, para que, por meio desses instrumentos, eu seja sacrifício para Deus.
Para nada me serviriam os prazeres do mundo ou os reinos deste século. Prefiro morrer em Cristo Jesus a reinar sobre todos os confins da terra. Procuro Aquele que morreu por nós; quero Aquele que ressuscitou por nossa causa. Estou prestes a nascer. Tende piedade de mim, irmãos. Não me impeçais de viver, não queirais que eu morra. Não me entregueis ao mundo, a mim que desejo ser de Deus, nem penseis seduzir-me com coisas terrenas. Deixai-me alcançar a luz pura. Quando lá chegar serei verdadeiramente um homem. Deixai-me ser imitador da paixão do meu Deus. Se alguém O possuir, compreenderá o que quero e terá compaixão de mim, por conhecer a ânsia que me atormenta.
O príncipe deste mundo quer arrebatar-me e corromper a disposição da minha vontade para com Deus. Nenhum de vós o ajude; tornai-vos antes partidários meus, isto é, de Deus. Não queirais ter ao mesmo tempo o nome de Jesus Cristo na boca e desejos mundanos no coração. Não me queirais mal. Mesmo que eu vo-lo pedisse na vossa presença, não me devíeis acreditar. Acreditai antes nisto que vos escrevo. Estou a escrever-vos enquanto ainda vivo, mas desejando morrer. O meu Amor está crucificado e não há em mim fogo que se alimente da matéria. Mas há uma água viva que murmura dentro de mim e me diz interiormente: «Vem para o Pai». Não me satisfazem os alimentos corruptíveis nem os prazeres deste mundo. Quero o pão de Deus, que é a Carne de Jesus Cristo, nascido da linhagem de David, e por bebida quero o seu Sangue que é a caridade incorruptível.
Já não quero viver mais segundo os homens; e isto acontecerá, se vós quiserdes. Peço-vos que o queirais, para que também vós alcanceis benevolência. Peço-vos em poucas palavras: acreditai-me. Jesus Cristo vos fará compreender que digo a verdade. Ele é a boca da verdade, no qual o Pai falou verdadeiramente. Pedi por mim para que o consiga. Não vos escrevi segundo a carne, mas segundo o espírito de Deus. Se padecer o martírio, ter-me-eis amado; se me rejeitarem, ter me eis querido mal.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

São Cosme e São Damião, Mártires

Nota biográfica:
       Cosme e Damião eram irmãos gémeos, médicos de profissão e santos na vocação da vida. Viveram no Oriente e, desde jovens, médicos competentes e dedicados. Com a conversão passaram a ser também missionários, à medicina associaram a confiança no poder da oração e a muitos levaram a saúde do corpo e da alma.
       Como tantos outros homens e mulheres, também Cosme e Damião foram vítimas da
perseguição de Diocleciano. Forma presos, pelo ano 300 da era cristã, sendo considerados inimigos dos deuses e acusados de usar feitiçarias e meios diabólicos para disfarçar as curas. Em resposta à acusação, a sua resposta é uma profissão de fé, clara e decidida: "Nós curamos as doenças, em nome de Jesus Cristo e pelo seu poder!"
       Quanto aos deuses, proclamados em nome do Imperador, e cuja a adoração os libertaria da prisão e da morte, eles respondiam com firmeza: "Teus deuses não têm poder algum, nós adoramos o Criador do céu e da terra!"
      Foram decapitados no ano de 303. São considerados os padroeiros dos farmacêuticos, médicos e das faculdades de medicina.

Oração depois da Comunhão:
       Conservai em nós, Senhor, este dom que recebemos da vossa bondade, ao celebrarmos a memória dos santos mártires Cosme e Damião e fazei que ele seja para nós fonte de salvação e de paz. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Santo Agostinho, bispo

É preciosa a morte dos mártires cujo preço foi a morte de Cristo

Diante de tão gloriosas heroicidades dos santos mártires, com que floresce a Igreja por toda a parte, verificamos com os nossos próprios olhos quanto é verdadeiro o que cantámos: É preciosa aos olhos do Senhor a morte dos seus fiéis; porque é preciosa aos nossos olhos e aos olhos d’Aquele por cujo nome se ofereceu.
Mas o preço destas mortes é a morte de um só. Quantas mortes terá resgatado a morte de um só, que, se não morresse, seria como o grão de trigo que não frutifica? Recordais as suas palavras, quando Se aproximava da paixão, isto é, quando Se aproximava da nossa redenção: Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, permanece só; mas se morrer, dá muito fruto.
Ele fez realmente na cruz um grande negócio. Aí foi aberta a bolsa que tinha o preço do nosso resgate: quando o seu lado foi aberto pela lança do soldado, dele saiu o preço do mundo inteiro. Foram resgatados os fiéis e os mártires; mas a fé dos mártires foi comprovada; o testemunho é o sangue derramado. Retribuíram o que tinha sido pago em seu favor, cumprindo o que diz São João: Assim como Cristo deu a sua vida por nós, também nós devemos dar a vida pelos irmãos. E noutro lugar diz se: Se te sentas a uma grande mesa, repara com atenção no que te servem, porque também tu deves preparar coisa igual.
Grande mesa é aquela em que os manjares são o próprio Senhor da mesa! Ninguém se dá a si mesmo aos convivas em alimento; isto fá-lo Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele é quem convida, Ele é o alimento e a bebida. Compreenderam bem os mártires o que comeram e beberam, para retribuírem de igual modo.
Mas com que retribuiriam eles, se Aquele que foi o primeiro a pagar não lhes desse com que retribuir? Que retribuirei ao Senhor por tudo quanto me concedeu? Tomarei o cálice da salvação. Que cálice é este? É o cálice da paixão, amargo mas salutar, o cálice em que o doente recearia tocar, se o médico não bebesse primeiro. Ele próprio é este cálice; reconhecemos este cálice pelas palavras de Cristo, quando dizia: Pai, se é possível, afaste se de Mim este cálice. Do mesmo cálice disseram os mártires: Tomarei o cálice da salvação e invocarei o nome do Senhor.
E não temes que para isso te faltem as forças? Não, responde o mártir, porque invocarei o nome do Senhor. Como poderiam os mártires vencer, se não vencesse nos mártires Aquele que disse: Alegrai-vos, porque Eu venci o mundo? O Senhor dos Céus dirigia o espírito e a palavra deles; por eles vencia o demónio na terra e coroava os mártires no Céu. Oh bem aventurados aqueles que assim beberam deste cálice! Terminaram as dores e receberam as honras.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

SS. André Kim Taegon, presbítero, Paulo Chong Hasang e Companheiros, mártires

Nota Biográfica:
       No início do século XVII, por iniciativa de alguns leigos, entrou pela primeira vez a fé cristã na Coreia. Assim se formou uma comunidade forte e fervorosa, sem pastores, quase só conduzida por leigos, até ao ano 1836, durante o qual chegaram os primeiros missionários, vindos de França, que entraram furtivamente na região. Nas perseguições dos anos 1839, 1846 e 1866, surgiram desta comunidade 103 santos mártires, entre os quais se distinguem o primeiro presbítero e ardente pastor de almas André Kim Taegon e o insigne apóstolo leigo Paulo Chong Hasang. Os outros são quase todos leigos, homens e mulheres, casados ou não, anciãos, jovens e crianças, que, suportando o martírio, consagraram com o seu glorioso sangue os florescentes primórdios da Igreja coreana.
Oração de colecta:
        Deus, criador e salvador de todos os povos, que, nas terras da Coreia, de modo admirável chamastes à fé católica um povo de adopção filial e o fizestes crescer pelo glorioso testemunho dos santos mártires André, Paulo e seus companheiros, concedei que, a seu exemplo e por sua intercessão, também nós permaneçamos até à morte fiéis aos vossos mandamentos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Da última exortação de Santo André Kim Taegon, presbítero e mártir

A fé é coroada pelo amor e pela perseverança

Irmãos e amigos caríssimos, pensai e refleti atentamente: No início dos tempos, Deus criou o céu e a terra e todo o universo; meditai por que razão e com que finalidade Ele formou o homem à sua imagem e semelhança, como diz a Escritura.
Portanto, se neste mundo de perigos e misérias, não reconhecêssemos o Senhor como nosso criador, de nada nos aproveitaria ter nascido e continuar a viver. Viemos a este mundo pela graça de Deus; pela graça de Deus recebemos o Batismo e entrámos na Igreja, tornando-nos discípulos do Senhor e adquirindo um nome glorioso. Mas de que serviria tão grande nome sem a verdadeira realidade? Perderia de facto todo o sentido ter vindo ao mundo e entrado na Igreja; mais ainda, seria uma ofensa ao Senhor e à sua graça. Mais valeria não ter nascido do que receber a graça do Senhor e pecar contra Ele.
Considerai o agricultor que faz a sementeira no seu campo: em tempo oportuno lavra a terra; depois aduba a e lança a semente, não se poupando a canseiras sob o ardor do sol. Quando chega o tempo da colheita, se encontra as espigas cheias de grão, exulta de alegria, esquecendo os trabalhos e suores. Mas se as espigas estão vazias e nada resta senão palha e cascas, então o agricultor, recordando a dureza dos trabalhos e suores, tanto mais decididamente abandona o campo quanto mais cuidadosamente o cultivara.
De modo semelhante, o Senhor faz do mundo o seu campo: nós somos o seu arroz; o adubo é a graça; mediante a Encarnação e Redenção Ele nos rega com o seu Sangue, para que possamos crescer e chegar à maturidade. Quando chegar o tempo da colheita, no dia do Juízo, quem estiver amadurecido pela graça gozará a felicidade no reino dos Céus, como filho adoptivo de Deus; mas aquele que não estiver amadurecido será seu inimigo, embora tenha sido, também ele, filho adoptivo de Deus, e merecerá ser punido com o castigo eterno.
Sabeis, irmãos caríssimos, que Nosso Senhor Jesus Cristo, vindo ao mundo, suportou inúmeras dores e pela sua Paixão fundou a santa Igreja, que continua a aumentar pela paixão dos seus fiéis. Por mais que os poderes deste mundo a oprimam e combatam, nunca poderão prevalecer. Depois da Ascensão de Jesus, desde os tempos dos Apóstolos até aos nossos dias, a santa Igreja por toda a parte cresceu no meio das tribulações.
Pois bem. Durante estes cinquenta ou sessenta anos, isto é, desde que a santa Igreja entrou na nossa Coreia, os fiéis sofreram constantes perseguições; e ainda hoje grassa o furor da perseguição, de tal modo que numerosos amigos foram encarcerados pela mesma fé, como eu próprio, e também vós permaneceis no meio da tribulação. Uma vez que formamos um só corpo, como não estar tristes no íntimo do coração? Como deixar de experimentar o sentimento humano desta separação dolorosa?
No entanto, como diz a Escritura, Deus vela pelo mais pequeno cabelo da nossa cabeça e toma o a seu cuidado na sua omnisciência; portanto, como poderemos considerar tão grande perseguição, senão como ordem de Deus ou sua recompensa ou porventura seu castigo?
Aceitai portanto a vontade de Deus e combatei corajosamente pelo capitão divino Jesus e vencei o demónio neste mundo, já vencido por Cristo.
Peço-vos, irmãos: não negligencieis o amor fraterno, mas ajudai vos mutuamente e sede perseverantes até que o Senhor tenha piedade de nós e afaste a tribulação.
Estamos aqui vinte pessoas e pela graça de Deus ainda todos se encontram de saúde. Se algum for morto, peço-vos que não vos esqueçais da sua família. Tenho muitas coisas a dizer-vos, mas como posso exprimi-las com papel e tinta? Termino a carta. Como estamos já próximos do combate, rogo-vos que vivais firmes na fé, de modo que um dia entremos no Céu e lá nos encontremos para gozar da alegria comum. Despeço-me com o ósculo do meu amor.