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quarta-feira, 24 de abril de 2019

Início do Pontificado de Bento XVI - 24.04-2005

Santa Missa - Imposição do Pálio e entrega do Anel de Pescador
HOMILIA DE SUA SANTIDADE BENTO XVI

Senhores Cardeais
Venerados Irmãos no episcopado e no sacerdócio
Distintas Autoridades e Membros do Corpo Diplomático
Caríssimos Irmãos e Irmãs!


Por três vezes, nestes dias tão intensos, o cântico das ladainhas dos Santos nos acompanhou: durante o funeral do nosso Santo Padre João Paulo II; por ocasião da entrada dos Cardeais em Conclave, e também hoje, quando as cantamos de novo com a invocação: Tu illum adiuva ampara o novo sucessor de São Pedro. Todas as vezes, de modo totalmente particular ouvi este cântico orante como um grande conforto. Quanto nos sentimos abandonados depois da perda de João Paulo II! O Papa que por 26 anos foi o nosso pastor e guia no caminho através deste tempo.

Ele cruzou o limiar para a outra vida entrando no mistério de Deus. Mas não deu este passo sozinho. Quem crê, nunca está sozinho nem na vida nem na morte. Naquele momento nós pudemos invocar os santos de todos os séculos, os seus amigos, os seus irmãos na fé, sabendo que teriam estado no cortejo vivo que o teria acompanhado no além, até à glória de Deus. Nós sabemos que a sua chegada era esperada. Agora sabemos que ele está entre os seus e está verdadeiramente em sua casa. De novo, fomos confortados cumprindo a solene entrada em conclave, para eleger aquele que o Senhor tinha escolhido. Como podíamos reconhecer o seu nome? Como podiam, 115 Bispos, provenientes de todas as culturas e países, encontrar aquele ao qual o Senhor desejava conferir a missão de ligar e desligar? Mais uma vez, nós o sabíamos: sabíamos que não estávamos sós, que estávamos circundados, conduzidos e guiados pelos amigos de Deus.

E agora, neste momento, eu, frágil servo de Deus, devo assumir esta tarefa inaudita, que realmente supera qualquer capacidade humana. Como posso fazer isto? Como serei capaz de o fazer? Todos vós, queridos amigos, acabaste de invocar todos os santos, representados por alguns dos grandes nomes da história de Deus com os homens. Desta forma, também em mim se reaviva esta autoconsciência: não estou sozinho. Não devo carregar sozinho o que na realidade nunca poderia carregar sozinho. Os numerosos santos de Deus protegem-me, amparam-me e guiam-me. E a vossa oração, queridos amigos, a vossa indulgência, o vosso amor, a vossa fé e a vossa esperança acompanham-me. De facto, à comunidade dos santos não pertencem só as grandes figuras que nos precederam e das quais conhecemos os nomes. Todos nós somos a comunidade dos santos, nós baptizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, nós que vivemos do dom da carne e do sangue de Cristo, por meio do qual ele nos quer transformar e tornar-nos semelhantes a si mesmo.

Sim, a Igreja é viva eis a maravilhosa experiência destes dias. Precisamente nos tristes dias da doença e da morte do Papa isto manifestou-se de modo maravilhoso aos nossos olhos: que a Igreja é viva. E a Igreja é jovem. Ela leva em si o futuro do mundo e por isso mostra também a cada um de nós o caminho para o futuro. A Igreja é viva e nós vemo-lo: experimentamos a alegria que o Ressuscitado prometeu aos seus. A Igreja é viva ela é viva, porque Cristo é vivo, porque verdadeiramente ele ressuscitou. No sofrimento, presente no rosto do Santo Padre nos dias de Páscoa, contemplámos o mistério da paixão de Cristo e, ao mesmo tempo, tocámos nas suas feridas. Mas em todos esses dias também pudemos, num sentido profundo, tocar o Ressuscitado. Foi-nos concedido experimentar a alegria que ele prometeu, depois de um breve tempo de obscuridade, como fruto da sua ressurreição.

A Igreja é viva saúdo assim com grande alegria e gratidão todos vós, que estais aqui reunidos, venerados Irmãos Cardeais e Bispos, caríssimos sacerdotes, diáconos, agentes de pastoral, catequistas. Saúdo a vós, religiosos e religiosas, testemunhas da transfigurante presença de Deus. Saúdo a vós, irmãos leigos, imersos no grande espaço da construção do Reino de Deus que se expande no mundo, em todas as expressões da vida. O discurso torna-se repleto de afecto também na saudação que dirijo a quantos, renascidos no sacramento do Baptismo, ainda não estão em plena comunhão connosco; e a vós irmãos do povo judaico, a quem nos sentimos ligados por um grande património espiritual comum, que afunda as suas raízes nas irrevogáveis promessas de Deus. O meu pensamento, por fim quase como uma onda que se expande dirige-se a todos os homens do nosso tempo, crentes e não crentes.

Queridos amigos! Neste momento não temos necessidade de apresentar um programa de governo. Alguns aspectos daquilo que eu considero minha tarefa, já tive ocasião de os expor na mensagem de quarta-feira 20 de Abril; não faltarão outras ocasiões para o fazer. O meu verdadeiro programa de governo é não fazer a minha vontade, não perseguir ideias minhas, pondo-me contudo à escuta, com a Igreja inteira, da palavra e da vontade do Senhor e deixar-me guiar por Ele, de forma que seja Ele mesmo quem guia a Igreja nesta hora da nossa história. Em vez de expor um programa, gostaria simplesmente de procurar comentar os dois sinais com os quais é representada liturgicamente a assunção do Ministério Petrino; contudo, estes dois sinais reflectem também exactamente o que é proclamado nas leituras de hoje.

O primeiro sinal é o Pálio, tecido em lã pura, que me é colocado sobre os ombros. Este antiquíssimo sinal, que os Bispos de Roma usam desde o século IV, pode ser considerado como uma imagem do jugo de Cristo, que o Bispo desta cidade, o Servo dos Servos de Deus, assume sobre os seus ombros. O jugo de Deus é a vontade de Deus, que nós aceitamos. Esta vontade não é para nós um peso exterior, que nos oprime e nos priva da liberdade. Conhecer o que Deus quer, conhecer qual é o caminho da vida eis a alegria de Israel, era o seu grande privilégio. Esta é também a nossa alegria: a vontade de Deus não nos desvia, mas purifica-nos talvez de maneira até dolorosa e assim conduz-nos a nós mesmos. Desta forma, não servimos só a Ele mas à salvação de todo o mundo, de toda a história. Na realidade o simbolismo do Pálio é ainda mais concreto: a lã do cordeiro pretende representar a ovelha perdida ou também a doente e frágil, que o pastor coloca sobre os ombros e conduz às águas da vida. A parábola da ovelha perdida, que o pastor procura no deserto, era para os Padres da Igreja uma imagem do mistério de Cristo e da Igreja. A humanidade todos nós é a ovelha perdida que, no deserto, já não encontra o caminho. O Filho de Deus não tolera isto; Ele não pode abandonar a humanidade numa condição tão miserável.

Levanta-se de ímpeto, abandona a glória do céu, para reencontrar a ovelha e segui-la, até à cruz. Carrega-a sobre os ombros, leva a nossa humanidade, leva-nos a nós mesmos Ele é o bom pastor, que oferece a sua vida pelas ovelhas. O Pálio diz antes de tudo que todos nós somos guiados por Cristo. Mas ao mesmo tempo convida-nos a levar-nos uns aos outros. Assim o Pálio se torna o símbolo da missão do pastor, de que falam a segunda leitura e o Evangelho. A santa preocupação de Cristo deve animar o pastor: para ele não é indiferente que tantas pessoas vivam no deserto. E existem tantas formas de deserto. Há o deserto da pobreza, o deserto da fome e da sede, o deserto do abandono, da solidão, do amor destruído. Há o deserto da obscuridão de Deus, do esvaziamento das almas que perderam a consciência da dignidade e do caminho do homem. Os desertos exteriores multiplicam-se no mundo, porque os desertos interiores tornaram-se tão amplos. Por isso, os tesouros da terra já não estão ao serviço da edificação do jardim de Deus, no qual todos podem viver, mas tornaram-se escravos dos poderes da exploração e da destruição. A Igreja no seu conjunto, e os Pastores nela, como Cristo, devem pôr-se a caminho, para conduzir os homens fora do deserto, para lugares da vida, da amizade com o Filho de Deus, para Aquele que dá a vida, a vida em plenitude. O símbolo do cordeiro tem ainda outro aspecto. No Antigo Oriente era costume que os reis se designassem como pastores do seu povo. Esta era uma imagem do seu poder, uma imagem cínica: os povos eram para eles como ovelhas, das quais o pastor podia dispor como lhe aprazia. Enquanto o pastor de todos os homens, o Deus vivo, se tornou ele mesmo cordeiro, pôs-se do lado dos cordeiros, daqueles que são esmagados e mortos.

Precisamente assim Ele se revela como o verdadeiro pastor: "Eu sou o bom pastor... Ofereço a minha vida pelas minhas ovelhas", diz Jesus de si mesmo (cf. Jo 10, 14 s). Não é o poder que redime, mas o amor! Este é o sinal de Deus: Ele mesmo é amor. Quantas vezes nós desejaríamos que Deus se mostrasse mais forte. Que atingisse duramente, vencesse o mal e criasse um mundo melhor. Todas as ideologias do poder se justificam assim, justificando a destruição daquilo que se opõe ao progresso e à libertação da humanidade. Nós sofremos pela paciência de Deus. E de igual modo todos temos necessidade da sua plenitude. O Deus, que se tornou cordeiro, diz-nos que o mundo é salvo pelo Crucificado e não por quem crucifica. O mundo é redimido pela plenitude de Deus e destruído pela impaciência dos homens.

Significado da entrega do anel do pescador: conquistar os homens para o Evangelho 
Uma das características fundamentais deve ser a de amar os homens que lhe foram confiados, assim como ama Cristo, a cujo serviço se encontra. "Apascenta as minhas ovelhas", diz Cristo a Pedro, e a mim, neste momento. Apascentar significa amar, e amar quer dizer também estar prontos para sofrer. Amar significa: dar às ovelhas o verdadeiro bem, o alimento da verdade de Deus, da palavra de Deus, o alimento da sua presença, que ele nos oferece no Santíssimo Sacramento. Queridos amigos neste momento eu posso dizer apenas: rezai por mim, para que eu aprenda cada vez mais a amar o Senhor. Rezai por mim, para que eu aprenda a amar cada vez mais o seu rebanho vós, a Santa Igreja, cada um de vós singularmente e todos vós juntos. Rezai por mim, para que eu não fuja, por receio, diante dos lobos. Rezai uns pelos outros, para que o Senhor nos guie e nós aprendamos a guiar-nos uns aos outros.

O segundo sinal, com o qual é representado na liturgia de hoje o início do Ministério Petrino, é a entrega do anel do pescador. A chamada de Pedro para ser pastor, que ouvimos no Evangelho, acontece depois de uma pesca abundante: depois de uma noite, durante a qual tinham lançado as redes sem pescar nada, os discípulos vêem na margem do lago o Senhor Ressuscitado. Ele ordena-lhes que voltem a pescar mais uma vez e eis que a rede se enche tanto que eles não conseguem tirá-la para fora da água; 153 peixes grandes: "E apesar de serem tantos, a rede não se rompeu" (Jo 21, 11). Esta narração, no final do caminho terreno de Jesus com os seus discípulos, corresponde a uma narração do início: também então os discípulos não tinham pescado nada durante toda a noite; também então Jesus tinha convidado Simão a fazer-se ao largo mais uma vez.

E Simão, que ainda não era chamado Pedro, deu a admirável resposta: Mestre, porque tu o dizes, lançarei as redes! E eis o conferimento da missão: "Não tenhas receio; de futuro, serás pescador de homens" (Lc 5, 1-11). Também hoje é dito à Igreja e aos sucessores dos apóstolos que se façam ao largo no mar da história e que lancem as redes, para conquistar os homens para o Evangelho para Deus, para Cristo, para a vida. Os Padres dedicaram um comentário muito particular a esta tarefa. Eles dizem assim: para o peixe, criado para a água, é mortal ser tirado para fora do mar. Ele é privado do seu elemento vital para servir de alimento ao homem. Mas na missão do pescador de homens acontece o contrário. Nós homens vivemos alienados, nas águas salgadas do sofrimento e da morte; num mar de obscuridade sem luz. A rede do Evangelho tira-nos para fora das águas da morte e conduz-nos ao esplendor da luz de Deus, na verdadeira vida. É precisamente assim na missão de pescador de homens, no seguimento de Cristo, é necessário conduzir os homens para fora do mar salgado de todas as alienações rumo à terra da vida, rumo à luz de Deus. É precisamente assim: nós existimos para mostrar Deus aos homens. E só onde se vê Deus, começa verdadeiramente a vida. Só quando encontramos em Cristo o Deus vivo, conhecemos o que é a vida. Não somos o produto casual e sem sentido da evolução. Cada um de nós é o fruto de um pensamento de Deus. Cada um de nós é querido, cada um de nós é amado, cada um é necessário. Não há nada mais belo do que ser alcançados, surpreendidos pelo Evangelho, por Cristo. Não há nada de mais belo do que conhecê-Lo e comunicar com os outros a Sua amizade. A tarefa do pastor, do pescador de homens muitas vezes pode parecer cansativa. Mas é bela e grande, porque em definitiva é um serviço à alegria, à alegria de Deus que quer entrar no mundo.

Gostaria de realçar aqui mais uma coisa: quer na imagem do pastor quer na do pescador sobressai de maneira muito explícita a chamada à unidade. "Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil. Também estas Eu preciso de as trazer e hão-de ouvir a minha voz; e haverá um só rebanho e um só pastor" (Jo 10, 16), diz Jesus no final do sermão do bom pastor. E a narração dos 153 grandes peixes termina com a gloriosa constatação: "apesar de serem tantos, a rede não se rompeu" (Jo 21, 11). Ai de mim, amado Senhor, agora ela rompeu-se! Poderíamos dizer que sofremos. Mas não não devemos estar tristes! Alegremo-nos pela tua promessa, que não desilude, e façamos o possível para percorrer o caminho rumo à unidade, que tu prometeste. Façamos memória dela na oração ao Senhor, como pedintes: sim, Senhor, recorda-te de tudo o que prometeste. Faz com que sejam um só pastor e um só rebanho! Não permitas que a tua rede se rompa e ajuda-nos a ser servos da unidade!

Neste momento a minha recordação volta ao dia 22 de Outubro de 1978, quando o Papa João Paulo II deu início ao seu ministério aqui na Praça de São Pedro. Ainda, e continuamente, ressoam aos meus ouvidos as suas palavras de então: "Não tenhais medo, abri de par em par as portas a Cristo!" O Papa dirigia-se aos fortes, aos poderosos do mundo, os quais tinham medo que Cristo pudesse tirar algo ao seu poder, se o tivessem deixado entrar e concedido a liberdade à fé. Sim, ele ter-lhes-ia certamente tirado algo: o domínio da corrupção, da perturbação do direito, do arbítrio. Mas não teria tirado nada do que pertence à liberdade do homem, à sua dignidade, à edificação de uma sociedade justa. O Papa falava também a todos os homens, sobretudo aos jovens. Porventura não temos todos nós, de um modo ou de outro, medo, se deixarmos entrar Cristo totalmente dentro de nós, se nos abrirmos completamente a Ele, medo de que Ele possa tirar-nos algo da nossa vida? Não temos porventura medo de renunciar a algo de grandioso, único, que torna a vida tão bela? Não arriscamos depois de nos encontrarmos na angústia e privados da liberdade? E mais uma vez o Papa queria dizer: não! Quem faz entrar Cristo, nada perde, nada absolutamente nada daquilo que torna a vida livre, bela e grande. Não! Só nesta amizade se abrem de par em par as portas da vida. Só nesta amizade se abrem realmente as grandes potencialidades da condição humana. Só nesta amizade experimentámos o que é belo e o que liberta. Assim, eu gostaria com grande força e convicção, partindo da experiência de uma longa vida pessoal, de vos dizer hoje, queridos jovens: não tenhais medo de Cristo! Ele não tira nada, ele dá tudo. Quem se doa por Ele, recebe o cêntuplo. Sim, abri de par em par as portas a Cristo e encontrareis a vida verdadeira. Amém.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Cadeira de São Pedro, Apóstolo

Nota Histórica:
       A festa da Cadeira de São Pedro era já celebrada neste dia em Roma no século IV, para significar a unidade da Igreja, fundada sobre o Príncipe dos Apóstolos.
       Jesus perguntou: "E vós, quem dizeis que Eu sou?".
       Então, Simão Pedro tomou a palavra e disse: "Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo".
       Jesus respondeu-lhe: "Feliz de ti, Simão, filho de Jonas, porque não foram a carne e o sangue que to revelaram, mas sim meu Pai que está nos Céus. Também Eu te digo: Tu és Pedro; sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos Céus" (Mt 16, 13-19).

       A celebração de hoje concentra-se à volta de São Pedro. É a parte pelo todo, a cadeira pelo Apóstolo. A "Cadeira" simboliza o ensinamento, a cátedra. Quem nela se senta, tem autoridade sobre os outros discípulos, o poder de confirmar na fé e de dar razões da esperança cristã.

BENTO XVI SOBRE A CADEIRA/CÁTEDRA

       "A «cátedra» é a cadeira reservada ao Bispo, da qual deriva o nome «catedral», atribuído à igreja em que, precisamente, o Bispo preside à liturgia e ensina ao povo. A Cátedra de São Pedro, representada na abside da Basílica do Vaticano por uma escultura monumental de Bernini, é símbolo da missão especial de Pedro e dos seus sucessores de apascentar o rebanho de Cristo mantendo-o unido na fé e na caridade. Já no início do século II santo Inácio de Antioquia atribuía à Igreja que está em Roma um primado singular, saudando-a na sua carta aos Romanos, como aquela que «preside na caridade». Esta tarefa especial de serviço deriva para a Comunidade romana e para o seu Bispo do facto de que nesta Cidade derramaram o seu sangue os Apóstolos Pedro e Paulo, além de numerosos outros Mártires. Assim, voltamos ao testemunho do sangue e da caridade. Portanto, a Cátedra de Pedro é sim sinal de autoridade, mas de Cristo, fundamentada na fé e no amor".
(Papa Bento XVI, Solenidade da Cátedra de São Pedro, Domingo, 19 de fevereiro de 2012)

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Santa Inês, virgem e mártir

Nota biográfica:
       É uma das santas mais veneradas pela comunidade de Roma. Foi martirizada em Roma na segunda metade do século III ou, mais provavelmente, no princípio do século IV, no ano de 304, talvez. Tinha 13 anos, era uma adolescente, de extraordinária beleza, rica e nobre e virtuosa. A cobiça de jovens como Procópio, filho do Prefeito de Roma, Semprónio.
       Para Inês a decisão estava tomada: não cederia aos encantos de qualquer jovem. Julgado e condenada a incensar os ídolos, a sua recusa leva-la-á à morte: "Virgens a Cristo consagradas não portarão tais lâmpadas, pois este fogo não é fé. Mas o meu sangue pode apagar este braseiro. Podem me ferir com suas espadas, mas nunca conseguirão profanar meu corpo consagrado a Cristo!" Foi exposta nua num prostíbulo no Circo de Domiciano (hoje a famosa praça Navona, onde se ergue a Basílica de Santa Inês in Agone). Foi decapitada. O papa S. Dâmaso adornou com versos o seu sepulcro e muitos santos Padres, seguindo S. Ambrósio, celebraram os seus louvores.
       É também conhecida como Santa Inês de Roma ou Santa Agnes (cordeiro). Exames forenses realizados recentemente ao crânio da jovem que se encontrava no tesouro de relíquias do "Sancta Sanctorum" da Basílica de Latrão comprovaram que se trata do crânio de uma menina de 13 anos.
       Nos quadros é representada frequentemente com um cordeiro junto a si, até porque o seu nome provém do  latim "agnus" (cordeiro) e um lírio, símbolo da pureza.
       É neste dia que o Papa benze os cordeirinhos dos quais será retirada a lã para confeccionar os pálios usados pelo Papa e pelos Arcebispos. No início era usada pele de cordeiro aos ombros.
O pálio usado por cima da casula. O Papa com o pálio que usava no início, e a forma do pálio actual. Várias arcebispos, depois de terem sido investidos com o pálio. No pálio papal, a cruz é vermelha, nos pálios dos arcebispos a cruz é em preto.

Oração de colecta:
       Deus eterno e omnipotente, que escolheis os mais frágeis do mundo para confundir os fortes, concedei que, celebrando o martírio de Santa Inês, imitemos a constância da sua fé. Por Nosso Senhor.
(Celebração em que o Papa Francisco coloca os pálios aos Arcebispos, em 2013 e em 2014)
Santo Ambrósio, bispo, sobre as virgens

Ainda não apta para o sofrimento e já madura para a vitória

Celebramos uma virgem: imitemos a sua integridade. Celebramos a mártir: ofereçamos sacrifícios.
Celebramos Santa Inês. Conta-se que teria sofrido o martírio com doze anos. Quanto mais detestável se mostra a crueldade que nem a infantil idade poupou, tanto maior é a força da fé que até naquela idade encontrou testemunho.
Em corpo tão pequeno haveria sequer espaço para os sofrimentos? Mas aquela que quase não tinha tamanho para ser ferida pela espada, teve forças para vencer a espada. E contudo, as meninas desta idade não suportam sequer o rosto zangado dos pais e choram como se de feridas se tratasse por causa da picada de um alfinete.
Mas Inês permanece impávida entre as mãos dos cruéis algozes, imóvel perante o pesado e estridente arrastar das cadeias. Oferece o corpo à espada do soldado furibundo, sem saber o que é a morte, mas pronta para ela; levada à força até ao altar dos ídolos, estende as mãos para Cristo entre as chamas de fogo, e no próprio lume do sacrilégio assinala o troféu do Senhor vitorioso; por fim introduz o pescoço e as mãos nos aros de ferro, mas nenhum elo é suficientemente apertado para reter membros tão pequenos.
Novo género de martírio! Ainda não apta para o sofrimento e já madura para a vitória; mal pode combater e facilmente triunfa; dá uma lição de fortaleza, apesar da sua tão tenra idade. Nenhuma noiva se adiantaria para o leito nupcial com aquela alegria com que a virgem avançou para o lugar do suplício, levando a cabeça enfeitada não de tranças mas de Cristo, e coroada não de flores mas de virtudes.
Todos choram, só ela não tem lágrimas. Todos se admiram de que tão generosamente entregue a sua vida quem ainda não a começara a gozar, como se já a tivesse vivido plenamente. A todos espanta que se levante já como testemunha de Deus uma criança, que, pela idade, não podia ainda dar testemunho de si mesma. E afinal foi fidedigno o testemunho que deu acerca de Deus esta criança que ainda não podia testemunhar a respeito de um homem; porque o que ultrapassa a natureza, pode fazê-lo o Autor da natureza.
Quantas ameaças do algoz para que ela se atemorizasse, quantas seduções para que se convencesse, quantas promessas para que o desposasse! Mas a sua resposta foi esta: «É uma ofensa ao Esposo fazer-se esperar; aquele que primeiro me escolheu para Si, esse é que me receberá. Porque demoras, verdugo? Pereça este corpo, que pode ser amado por quem eu não quero». Levantou-se, rezou, inclinou a cabeça.
Terias podido ver o carrasco perturbar-se, como se fosse ele o condenado; tremer a mão direita do verdugo; empalidecerem-se os rostos, temerosos do perigo alheio, enquanto a jovem não temia o próprio.
Tendes numa única vítima dois martírios, o da pureza e o da fé. Permaneceu virgem e foi mártir.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Santo Ambrósio, Bispo e Doutor da Igreja

Nota Histórica:
       Nascido em Tréveris, cerca do ano 340, de uma família romana, fez os seus estudos em Roma e iniciou em Sírmio a carreira pública. Em 374, vivendo em Milão, foi inesperadamente eleito para bispo da cidade e recebeu a ordenação em 7 de Dezembro. Fiel cumpridor do seu dever, distinguiu-se sobretudo na caridade para com todos, como verdadeiro pastor e mestre dos fiéis.       Defendeu corajosamente os direitos da Igreja; com seus escritos e sua atividade ilustrou a verdadeira doutrina contra o arianismo. Morreu no Sábado Santo, em 4 de Abril de 397.

Oração:
       Senhor, que nos destes em Santo Ambrósio um mestre insigne da fé católica e um exemplo de apostólica fortaleza, fazei surgir na Igreja homens segundo o vosso coração, que a governem com firmeza e sabedoria. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Fonte: Secretariado Nacional da Liturgia.

Papa Bento XVI sobre Santo Ambrósio:

Das cartas de Santo Ambrósio, bispo
(Epist. 2, 1-2.4-5.7: PL 16 [ed. 1845], 847-881) (Sec. IV)

O encanto da tua palavra inspire confiança ao povo

Recebeste o ofício sacerdotal e, sentado à popa da Igreja, governas a barca contra a fúria das ondas. Segura bem o timão da fé, para que não te inquietem as violentas tempestades deste mundo. O mar é, sem dúvida, grande e espaçoso, mas não temas: Ele a fundou sobre os mares e a consolidou sobre as águas.
Por isso, a Igreja do Senhor, edificada sobre a pedra apostólica, mantém-se segura entre os escolhos do mundo e, apoiada em tão sólido fundamento, permanece firme contra as investidas do mar em tempestade. Vê-se envolvida pelas ondas, mas não abalada; e embora muitas vezes os elementos deste mundo a sacudam com grande fragor, ela oferece aos navegantes cansados um porto seguro de salvação. Ela flutua no mar, mas navega também pelos rios, sobre aqueles rios de que se diz no salmo: Os rios levantam a sua voz. São os rios que brotam do coração daqueles que beberam da água de Cristo e receberam o Espírito de Deus. Quando transbordam de graça espiritual, estes rios levantam a sua voz.
Há também um rio que corre para os seus santos como uma torrente. Há um rio que alegra com as suas águas a alma tranquila e pacífica. Quem receber da plenitude deste rio, como João Evangelista, Pedro e Paulo, levanta a sua voz; e do mesmo modo que os Apóstolos difundiram até aos confins da terra a voz da pregação evangélica, também o que recebe deste rio começará a anunciar o Evangelho do Senhor Jesus. Recebe também tu da plenitude de Cristo, para que se faça ouvir também a tua voz. Recebe a água de Cristo, essa água que louva o Senhor. Recolhe a água dos numerosos lugares em que a deixam cair as nuvens dos Profetas.
Quem recolhe a água dos montes ou a tira e bebe das fontes, pode enviar o seu orvalho como as nuvens. Enche, portanto, o teu coração com esta água, para que a terra da tua alma seja regada e tenhas a fonte em tua própria casa.
Quem muito lê e entende, enche-se com aquilo que lê; e quem está cheio pode regar os demais; por isso, diz a Escritura: Se as nuvens estão cheias, derramarão chuva sobre a terra.
As tuas pregações sejam fluentes, puras e claras, de modo que a tua exortação moral se infunda suavemente no coração dos ouvintes e o encanto da tua palavra inspire a confiança do povo; deste modo ele te seguirá voluntariamente para onde o conduzires.
Os teus discursos estejam cheios de inteligência. Neste sentido diz Salomão: Os lábios do sábio são as armas da sabedoria; e noutro lugar: O pensamento dirija os teus lábios, isto é, os teus sermões brilhem pela sua clareza e inteligência, os teus discursos e as tuas explicações não precisem de sentenças alheias mas sejam capazes de se defender por si mesmas; enfim não saia da tua boca nenhuma palavra inútil e sem sentido.

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Festa de Santo André, Apóstolo

Nota biográfica:
       André é irmão de Simão Pedro e é natural de Betsaida.
       O nome é de origem grega e não hebraica. Na lista dos Apóstolos aparece em segundo lugar, e outras vezes em quarto. Gozava de um enorme prestígio nas comunidades cristãs do início. É, juntamente com Pedro, dos primeiros a ser chamado por Jesus: "Caminhando ao longo do mar da galileia, Jesus viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar. Disse-lhes: «Vinde comigo e Eu farei de vós pescadores de homens»" (Mt 4, 18-19; Mc 1, 16-17). O quarto Evangelho dá-nos a informação que ele foi primeiramente discípulo de João Baptista e depois seguiu a Cristo, a quem apresentou também seu irmão Pedro (Jo 1, 36-43).
       A Igreja Bizantina honra-o como Protóklitos, isto é o primeiro chamado por Jesus.
       Os Evangelho apresentam André em outras ocasiões: aquando da multiplicação dos pães, dizendo a Jesus que havia um jovem que tinha cinco pães de cevada e dois peixes, mas insuficiente para tanta gente (Jo 6, 8-9); quando Jesus refere que do Templo não ficará pedra sobre pedra, apesar da solidez da construção, então juntamente com Pedro e João, André interroga Jesus: "Diz-nos quando isto acontecerá e qual o sinal de que tudo está para acabar?" (Mc 13, 1-4); próximo da Páscoa, antes da Paixão, vêm à cidade alguns gregos e manifestam o desejo de ver Jesus e é André e Filipe que servem de intérpretes (Jo 12, 23-24). Depois do Pentecostes, segundo uma tradição, pregou em diversas regiões e foi crucificado na Acaia.
       A tradição narra a morte de André em Petrasso, onde sofreu o suplício da crucifixão e à semelhança de Pedro pediu para ser crucificado de maneira diferente á do Mestre, tendo sido crucificado numa cruz decussada, cruzada transversalmente e inclinada, e que ficou conhecida como a "cruz de Santo André".
       Portanto, diz-nos o Papa Bento XVI, "o apóstolo André ensina-nos a seguir Jesus com prontidão (cf (Mt 4,20; Mc 1, 18), a falar com entusiasmo d'Ele a quantos encontrarmos, e sobretudo a cultivar com Ele um relacionamento de verdadeira familiaridade, bem conscientes de que só n'Ele podemos encontrar o sentido último da nossa vida e da nossa morte".

Oração de coleta:
       Nós Vos suplicamos, Deus omnipotente, que, assim como o apóstolo Santo André foi na terra pregador do Evangelho e pastor da vossa Igreja, seja também no Céu poderoso intercessor junto de Vós. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo

BENTO XVI SOBRE SANTO ANDRÉ, o Protóklitos 
Queridos irmãos e irmãs!
Nas últimas duas catequeses falámos da figura de São Pedro. Agora queremos, na medida em que as fontes o permitem, conhecer mais de perto também os outros onze Apóstolos. Portanto, falamos hoje do irmão de Simão Pedro, Santo André, também ele um dos Doze. A primeira característica que em André chama a atenção é o nome: não é hebraico, como teríamos pensado, mas grego, sinal de que não deve ser minimizada uma certa abertura cultural da sua família. Estamos na Galileia, onde a língua e a cultura gregas estão bastante presentes. Nas listas dos Doze, André ocupa o segundo lugar, como em Mateus (10, 1-4) e em Lucas (6, 13-16), ou o quarto lugar como em Marcos (3, 13-18) e nos Actos (1, 13-14). Contudo, ele gozava certamente de grande prestígio nas primeiras comunidades cristãs.
O laço de sangue entre Pedro e André, assim como a comum chamada que Jesus lhes faz, sobressaem explicitamente nos Evangelhos. Neles lê-se: "Caminhando ao longo do mar da Galileia, Jesus viu os dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes: "Vinde comigo e Eu farei de vós pescadores de homens"" (Mt 4, 18-19; Mc 1, 16-17). Do Quarto Evangelho tiramos outro pormenor: num primeiro momento, André era discípulo de João Baptista; e isto mostra-nos que era um homem que procurava, que partilhava a esperança de Israel, que queria conhecer mais de perto a palavra do Senhor, a realidade do Senhor presente. Era verdadeiramente um homem de fé e de esperança; e certa vez, de João Baptista ouviu proclamar Jesus como "o cordeiro de Deus" (Jo 1, 36); então ele voltou-se e, juntamente com outro discípulo que não é nomeado, seguiu Jesus, Aquele que era chamado por João o "Cordeiro de Deus". O evangelista narra: eles "viram onde morava e ficaram com Ele nesse dia" (Jo 1, 37-39). Portanto, André viveu momentos preciosos de familiaridade com Jesus.
A narração continua com uma anotação significativa: "André, o irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram João e seguiram Jesus. Encontrou primeiro o seu irmão Simão, e disse-lhe: "Encontramos o Messias" que quer dizer Cristo. E levou-o até Jesus" (Jo 1, 40-43), demonstrando imediatamente um espírito apostólico não comum. Portanto, André foi o primeiro dos Apóstolos a ser chamado para seguir Jesus. Precisamente sobre esta base a liturgia da Igreja Bizantina o honra com o apelativo de Protóklitos, que significa exactamente "primeiro chamado". E não há dúvida de que devido ao relacionamento fraterno entre Pedro e André a Igreja de Roma e a Igreja de Constantinopla se sentem irmãs entre si de modo especial. Para realçar este relacionamento, o meu Predecessor, o Papa Paulo VI, em 1964, restituiu as insignes relíquias de Santo André, até então conservadas na Basílica Vaticana, ao Bispo metropolita Ortodoxo da cidade de Patrasso na Grécia, onde segundo a tradição o Apóstolo foi crucificado.
As tradições evangélicas recordam particularmente o nome de André noutras três ocasiões, que nos fazem conhecer um pouco mais este homem. A primeira é a da multiplicação dos pães na Galileia. Naquele momento foi André quem assinalou a Jesus a presença de um jovem que tinha cinco pães de cevada e dois peixes: era muito pouco observou ele para todas as pessoas reunidas naquele lugar (cf. Jo 6, 8-9). Merece ser realçado, neste caso, o realismo de André: ele viu o jovem portanto já se tinha perguntado: "mas o que é isto para tantas pessoas?" (ibid.) mas apercebeu-se da insuficiência dos seus poucos recursos. Contudo, Jesus soube fazê-los bastar para a multidão de pessoas que vieram ouvi-lo. A segunda ocasião foi em Jerusalém. Saindo da cidade, um discípulo fez notar a Jesus o espectáculo dos muros sólidos sobre os quais o Templo se apoiava. A resposta do Mestre foi surpreendente: disse que não teria ficado em pé nem sequer uma pedra daqueles muros. Então André, juntamente com Pedro, Tiago e João, interrogou-o: "Diz-nos quando tudo isto acontecerá e qual o sinal de que tudo está para acabar" (Mc 13, 1-4).
Para responder a esta pergunta Jesus pronunciou um importante discurso sobre a destruição de Jerusalém e sobre o fim do mundo, convidando os seus discípulos a ler com atenção os sinais do tempo e a permanecer sempre vigilantes. Podemos deduzir deste episódio que não devemos ter receio de fazer perguntas a Jesus, mas ao mesmo tempo devemos estar prontos para receber os ensinamentos, até surpreendentes e difíceis, que Ele nos oferece.
Por fim, nos Evangelhos está registrada uma terceira iniciativa de André. O Cenário ainda é Jerusalém, pouco antes da Paixão. Para a festa da Páscoa narra João tinham vindo à cidade santa alguns Gregos, provavelmente prosélitos ou tementes a Deus, que vinham para adorar o Deus de Israel na festa da Páscoa. André e Filipe, os dois apóstolos com nomes gregos, servem como intérpretes e mediadores deste pequeno grupo de Gregos junto de Jesus. A resposta do Senhor à sua pergunta parece como muitas vezes no Evangelho de João enigmática, mas precisamente por isso revela-se rica de significado. Jesus diz aos dois discípulos e, através deles, ao mundo grego: "Chegou a hora de se revelar a glória do Filho do Homem. Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto" (12, 23-24).
O que significam estas palavras neste contexto? Jesus quer dizer: sim, o encontro entre mim e os Gregos terá lugar, mas não como simples e breve diálogo entre mim e algumas pessoas, estimuladas sobretudo pela curiosidade. Com a minha morte, comparável à queda na terra de um grão de trigo, chagará a hora da minha glorificação. A minha morte na cruz originará grande fecundidade: o "grão de trigo morto" símbolo de mim crucificado tornar-se-á na ressurreição pão de vida para o mundo; será luz para os povos e para as culturas. Sim, o encontro com a alma grega, com o mundo grego, realizar-se-á naquela profundidade à qual faz alusão a vicissitude do grão de trigo que atrai para si as forças da terra e do céu e se torna pão. Por outras palavras, Jesus profetiza a Igreja dos gregos, a Igreja dos pagãos, a Igreja do mundo como fruto da sua Páscoa.
Tradições muito antigas vêem em André, o qual transmitiu aos gregos esta palavra, não só o intérprete de alguns Gregos no encontro com Jesus agora recordado, mas consideram-no como apóstolo dos Gregos nos anos que sucederam ao Pentecostes; fazem-nos saber que no restante da sua vida ele foi anunciador e intérprete de Jesus para o mundo grego. Pedro, seu irmão, de Jerusalém, passando por Antioquia, chegou a Roma para aí exercer a sua missão universal; André, ao contrário, foi o apóstolo do mundo grego: assim, eles são vistos, na vida e na morte, como verdadeiros irmãos uma irmandade que se exprime simbolicamente no relacionamento especial das Sedes de Roma e de Constantinopla, Igrejas verdadeiramente irmãs.
Uma tradição sucessiva, como foi mencionado, narra a morte de André em Patrasso, onde também ele sofreu o suplício da crucifixão. Mas, naquele momento supremo, de modo análogo ao do irmão Pedro, ele pediu para ser posto numa cruz diferente da de Jesus. No seu caso tratou-se de uma cruz decussada, isto é, cruzada transversalmente inclinada, que por isso foi chamada "cruz de Santo André". Eis o que o Apóstolo dissera naquela ocasião, segundo uma antiga narração (início do século VI) intituladaPaixão de André: "Salve, ó Cruz, inaugurada por meio do corpo de Cristo e que se tornou adorno dos seus membros, como se fossem pérolas preciosas. Antes que o Senhor fosse elevado sobre ti, tu incutias um temor terreno.
Agora, ao contrário, dotada de um amor celeste, és recebida como um dom. Os crentes sabem, a teu respeito, quanta alegria possuis, quantos dons tens preparados. Portanto, certo e cheio de alegria venho a ti, para que também tu me recebas exultante como discípulo daquele que em ti foi suspenso... Ó Cruz bem-aventurada, que recebestes a majestade e a beleza dos membros do Senhor!... Toma-me e leva-me para longe dos homens e entrega-me ao meu Mestre, para que por teu intermédio me receba quem por ti me redimiu. Salve, ó Cruz; sim, salve verdadeiramente!".
Como se vê, há aqui uma profundíssima espiritualidade cristã, que vê na Cruz não tanto um instrumento de tortura como, ao contrário, o meio incomparável de uma plena assimilação ao Redentor, ao grão de trigo que caiu na terra. Nós devemos aprender disto uma lição muito importante: as nossas cruzes adquirem valor se forem consideradas e aceites como parte da cruz de Cristo, se forem alcançadas pelo reflexo da sua luz. Só daquela Cruz também os nossos sofrimentos são nobilitados e adquirem o seu verdadeiro sentido.
Portanto, o apóstolo André ensina-nos a seguir Jesus com prontidão (cf. Mt 4, 20; Mc 1, 18), a falar com entusiasmo d'Ele a quantos encontramos, e sobretudo a cultivar com Ele um relacionamento de verdadeira familiaridade, bem conscientes de que só n'Ele podemos encontrar o sentido último da nossa vida e da nossa morte.
Saudação em Língua portuguesa:
Amados irmãos!
Nossa Catequese de hoje se centra na figura do Apóstolo André, irmão de Pedro. A Igreja bizantina honra-o com o nome deProtóklitos, ou seja o que foi "chamado por primeiro", por ter sido o primeiro entre os apóstolos a seguir o Senhor. Depois dele viriam todos os demais, antes de mais Pedro, a quem o Messias confiara a sua Igreja. André foi o apóstolo do mundo grego; por isso, ele exprime uma simbólica aliança entre a Igreja de Roma e a de Constantinopla.
Ao recorrer à intercessão deste grande apóstolo, peço a todos os peregrinos presentes de língua portuguesa, especialmente aos grupos vindos de Portugal e do Brasil, que rezem pela unidade da Igreja e pela comunhão de todos os cristãos. Com a minha Bênção Apostólica.

BENTO XVI, Os Apóstolos e os Primeiros Discípulos de Cristo. As origens da Igreja. Editorial Franciscana: Braga 2008.

sábado, 10 de novembro de 2018

São Leão Magno, Papa e Doutor da Igreja

Nota biográfica:
       Nasceu na Toscana e no ano 440 foi elevado à Cátedra de Pedro, cargo que exerceu como verdadeiro pastor e pai das almas. Trabalhou intensamente pela integridade da fé, defendeu com ardor a unidade da Igreja, empenhou se por todos os meios possíveis em evitar as incursões dos bárbaros ou mitigar os seus efeitos. Por toda esta actividade extraordinária mereceu com toda a justiça ser apelidado «Magno». Morreu no ano 461.
Oração de colecta:
       Senhor, que, ao fundar a vossa Igreja sobre a pedra inabalável dos Apóstolos, prometestes que as forças do mal jamais prevaleceriam contra ela, fazei que, por intercessão de São Leão Magno, o povo cristão permaneça firme na vossa verdade e goze sempre da verdadeira paz. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
São Leão Magno (Papa Leão I) no encontro com Átila, convencendo-o a não invadir a Europa Ocidental. Pintura de Rafael.
Dos sermões do papa Leão Magno (grande):

O serviço especial do nosso ministério

Toda a Igreja de Deus está organizada em diversas ordens, de modo que a integridade do corpo sagrado subsiste na diversidade dos seus membros. Apesar disso, como diz o Apóstolo, somos um só em Cristo Jesus. A diversidade de funções não é de modo algum causa de divisão entre os membros, já que todos, por mais humilde que seja a sua função, estão unidos à cabeça. Na unidade da fé e do Batismo, formamos uma comunidade indissolúvel, na qual todos têm a mesma dignidade, segundo a palavra sagrada do apóstolo São Pedro: Também vós, como pedras vivas, entrai na construção deste templo espiritual, para constituirdes um sacerdócio santo, destinado a oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo; e ainda: Vós sois geração escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo resgatado.
Todos os que renasceram em Cristo obtiveram, pelo sinal da cruz, a dignidade real e, pela unção do Espírito Santo, receberam a consagração sacerdotal. Por isso, não obstante o serviço especial do nosso ministério, todos os cristãos foram revestidos de um carisma espiritual que os torna membros desta família de reis e deste povo de sacerdotes. Não será, na verdade, função régia o facto de uma alma, submetida a Deus, governar o seu corpo? E não será função sacerdotal consagrar ao Senhor uma consciência pura e oferecer no altar do coração a hóstia imaculada da nossa piedade? Pela graça de Deus, estas prerrogativas são comuns a todos. Mas é digno e justo que vos alegreis no dia da nossa eleição como se se tratasse de vossa própria honra, para que em todo o corpo da Igreja se celebre um único sacramento do sacerdócio. Ao derramar se o unguento da consagração, este sacramento derramou se certamente com mais abundância nos membros superiores, mas desceu também, e não escassamente, até aos inferiores.
Se a participação neste dom nos traz, com toda a razão, tão grande alegria, mais verdadeiro e excelente será o motivo do nosso júbilo, caríssimos irmãos, se não vos detiverdes a considerar a nossa humilde pessoa. Pelo contrário, será muito mais útil e digno dirigir a atenção do nosso espírito para a contemplação da glória do bem aventurado apóstolo Pedro e dedicar especialmente este dia à veneração daquele que foi inundado de bênçãos tão copiosamente pela própria fonte de todos os carismas, de tal modo que, tendo recebido muitas graças exclusivas à sua pessoa, nada se comunica aos sucessores sem a sua intervenção. O Verbo encarnado já habitava no meio de nós; Cristo já Se tinha entregado totalmente para a redenção do género humano."

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Dedicação da Basílica de Latrão - Sé do Papa

       Segundo uma tradição que remonta ao século XII, celebra-se neste dia o aniversário da dedicação da basílica de Latrão, construída pelo imperador Constantino. Inicialmente foi uma festa exclusivamente da cidade de Roma; mais tarde, estendeu-se à Igreja de rito romano, com o fim de honrar a basílica que é chamada «a igreja mãe de todas as igrejas da Urbe e do Orbe» (da cidade e do mundo) e como sinal de amor e unidade para com a Cátedra de Pedro que, como escreveu S. Inácio de Antioquia, «preside à assembleia universal da caridade». (Texto do Secretariado Nacional da Liturgia).
       É nesta Basílica, de São João de Latrão, que o Bispo de Roma, e nessa condição, Papa, tem a sua sede episcopal.

     "Vós sois edifício de Deus. Segundo a graça de Deus que me foi dada, eu, como sábio arquitecto, coloquei o alicerce e outro levanta o edifício. Veja cada um como constrói: ninguém pode colocar outro alicerce além do que está posto, que é Jesus Cristo. Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá. Porque o templo de Deus é santo e vós sois esse templo" (1 Cor 3, 9c-11.16-17).

       Jesus Cristo apresenta-Se no templo de Jerusalém como o verdadeiro TEMPLO.
       "Destruí este templo e em três dias o levantarei"... Jesus, porém fala do templo de seu corpo (cf. Jo 2, 13-22). O texto de São Paulo aos Coríntios assume esta dimensão, também nós, incorporados em Cristo, somos templo do Espírito Santo. Neste sentido, a missão do cristão dignificar o seu corpo com as suas atitudes e acções.

Oração de coleta:
       Senhor, que edificais o templo da vossa glória com pedras vivas e escolhidas, derramai sobre a Igreja os dons do Espírito Santo, para que o vosso povo cresça cada vez mais na fé, esperança e caridade, até se transformar na Jerusalém celeste. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

São JOÃO PAULO II, Papa

Nota biográfica
      Karol Józef Wojtyła nasceu a 18 de maio de 1920, no lugar de Wadowice, na Polónia. O mais novo de três irmãos. Filho de Karol Wojtyła e Emilia Kaczorowska. A sua mãe morreu em 1929. O seu irmão mais velho, (médico) morreu em 1932 e o seu pai (suboficial do exército) em 1941. A sua irmã, Olga, morreu antes dele nascer.
       Foi batizado por Franciszek Zak, em 20 de junho de 1920 na Igreja paroquial de Wadowice; aos 9 anos fez a Primeira Comunhão. Aos 18, recebeu o Sacramento da Confirmação.
       Em 1938 matriculou-se na Universidade Jagellónica de Cracóvia e numa escola de teatro.
       Com a ocupação nazi, e com o encerramento da Universidade, em 1939, começou a trabalhar numa pedreira e logo numa fábrica de químicos, para ganhar a vida e evitar ser deportado para a Alemanha.
       A partir de 1942, ao sentir a vocação para o sacerdócio, começou a formação do seminário clandestino de Cracóvia, dirigido pelo Arcebispo de Cracóvia, Cardeal Adam Stefan Sapieha. Ao mesmo tempo, foi um dos promotores da "Teatro Rapsódico", também clandestino. 
       Após a Segunda Guerra Mundial, continuou seus estudos no Seminário Maior de Cracóvia, e na Faculdade de Teologia da Universidade Jagiellonian, até à sua ordenação sacerdotal em Cracóvia em 1 de novembro de 1946 pelo Arcebispo Sapieha. Seguiram-se estudos em Roma, onde, sob a direção do dominicano francês Garrigou-Lagrange, se doutorou, em 1948, em teologia, com uma tese sobre o tema da fé nas obras de São João da Cruz. Naquele período, durante as férias, exerceu o seu ministério pastoral entre os imigrantes polacos da França, Bélgica e Holanda. 
       Em 1948, regressou à Polónia e foi vigário de diversas paróquias de Cracóvia, bem como capelão universitário até 1951, retomando os estudos filosóficos e teológicos. Em 1953, apresentou, na Universidade Católica de Lublin, uma tese sobre "Avaliação da possibilidade de fundar uma ética católica sobre o sistema ético de Max Scheler". Tornou-se, então, professor de Teologia Moral e Ética Social no Seminário Maior de Cracóvia e na Faculdade de Teologia de Lublin.
       Em 4 de julho de 1958, foi nomeado, pelo Papa Pio XII, Bispo titular de Olmi e auxiliar de Cracóvia. Recebeu a Ordenação Episcopal em 28 de setembro de 1958, na Catedral de Wawel (Cracóvia) pelo arcebispo Eugeniusz Baziak. 
       Em 13 de janeiro de 1964, foi nomeado Arcebispo de Cracóvia pelo Papa Paulo VI, que o fez cardeal 26 de junho de 1967, com o título de São César em Palatio. 
       Além de participar do Concílio Vaticano II (1962-1965), com uma contribuição importante para a elaboração da Constituição Gaudium et spes, o Cardeal Wojtyla participou em todas as assembleias do Sínodo dos Bispos, antes de seu pontificado.
       Depois da morte prematura do papa João Paulo I, os Cardeais elegeram-no Papa, o 263.º, em 16 de outubro de 1978, escolhendo o nome de João Paulo II, e começou o seu pontificado petrino no dia 22 de outubro, data em que agora se celebra a Sua memória litúrgica.
       Foi um dos pontificados mais longos, durou quase 27 anos.
       Distinguiu-se pela extraordinária solicitude apostólica, em particular para com as famílias, os jovens e os doentes, o que o levou a realizar numerosas visitas pastorais a todo o mundo. Entre os muitos frutos mais significativos deixados em herança à Igreja, destaca-se o seu riquíssimo Magistério e a promulgação do Catecismo da Igreja Católica e do Código de Direito Canónico para a Igreja latina e oriental, a criação das Jornadas Mundiais da Juventude, reflexão sobre a família e sobre o corpo humano, sobre o trabalho e a dignidade da mulher... 
       Outros marcos no seu pontificado: promoção do diálogo ecuménico e inter-religioso, encontro de oração em Assis pela paz, com membros de outras religiões; grande Jubileu do Ano 2000 do nascimento de Jesus Cristo; Ano da Redenção; Ano Mariano; Ano da Eucaristia; proclamou Santa Teresa do Menino Jesus como Doutora da Igreja, além dos muitos santos e beatos elevados aos altares.
       Documentos principais: 14 Encíclicas; 15 Exortações Apostólicas; 11 Constituições Apostólicas e 45 Cartas Apostólicas.
       A título mais pessoal, publicou 5 livros: Atravessando o Limiar da Esperança (outubro de 1994); Dom e Mistério - 50.º aniversário da ordenação sacerdotal (novembro de 1996); Tríptico romano - Meditações, livro de poesias (março de 2003); Levantai-vos, vamos (maio de 2004), e Memória e Identidade (fevereiro de 2005).
       Morreu piedosamente, em Roma, a 2 de Abril de 2005, na Vigília do II Domingo de Páscoa ou da Divina Misericórdia.
       No dia 8 de abril, a celebração da Exéquias, sob a presidência do Cardeal Joseph Ratzinger, conhecido como Seu braço direito e que viria a ser Seu sucessor, como Papa Bento XVI. Mais de três milhões de pessoas que passaram junto do Seu corpo, para prestar uma última homenagem.
       Bento XVI, a 28 de abril, poucos dias de assumir o pontificado petrino, dispensou os 5 anos de espera depois da morte para se abrir o processo de beatificação e canonização, causa aberta em 28 de junho de 2005, pelo Cardeal Camillo Ruini, Vigário-Geral para a Diocese de Roma.
       Foi beatificado em 1 de maio de 2011, pelo Papa Bento XVI, e canonizado conjuntamente com o Papa João XXIII, em 27 de abril de 2014, pelo Papa Francisco. A concelebrar esteve o Papa Emérito Bento XVI.

Oração de coleta:
Deus, rico de misericórdia, que colocastes o papa João Paulo II à frente da vossa Igreja, fazei que, instruídos pelos seus ensinamentos, abramos confiadamente os nossos corações à graça salvadora de Cristo, único salvador do mundo. Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
  • Será interessante ler também:

Página Oficial da Santa Sé, Vaticano (seguimos a versão em castelhano)

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

São João XIII, Papa

Nota biográfica:
       Nasceu no dia 25 de Novembro de 1881 em Sotto il Monte, diocese e província de Bérgamo (Itália), e nesse mesmo dia foi baptizado com o nome de Angelo Giuseppe; foi o quarto de treze irmãos, nascidos numa família de camponeses e de tipo patriarcal. Ao seu tio Xavier, ele mesmo atribuirá a sua primeira e fundamental formação religiosa. O clima religioso da família e a fervorosa vida paroquial foram a primeira escola de vida cristã, que marcou a sua fisionomia espiritual.
       Ingressou no Seminário de Bérgamo, onde estudou até ao segundo ano de teologia. Ali começou a redigir os seus escritos espirituais, que depois foram recolhidos no "Diário da alma". No dia 1 de Março de 1896, o seu director espiritual admitiu-o na ordem franciscana secular, cuja regra professou a 23 de Maio de 1897.
       De 1901 a 1905 foi aluno do Pontifício Seminário Romano, graças a uma bolsa de estudos da diocese de Bérgamo. Neste tempo prestou, além disso, um ano de serviço militar. Recebeu a Ordenação sacerdotal a 10 de Agosto de 1904, em Roma, e no ano seguinte foi nomeado secretário do novo Bispo de Bérgamo, D. Giacomo Maria R. Tedeschi, acompanhando-o nas várias visitas pastorais e colaborando em múltiplas iniciativas apostólicas: sínodo, redacção do boletim diocesano, peregrinações, obras sociais. Às vezes era também professor de história eclesiástica, patrologia e apologética. Foi também Assistente da Acção Católica Feminina, colaborador no diário católico de Bérgamo e pregador muito solicitado, pela sua eloquência elegante, profunda e eficaz.
       Naqueles anos aprofundou-se no estudo de três grandes pastores: São Carlos Borromeu (de quem publicou as Actas das visitas realizadas na diocese de Bérgamo em 1575), São Francisco de Sales e o então Beato Gregório Barbarigo. Após a morte de D. Giacomo Tedeschi, em 1914, o Pade Roncalli prosseguiu o seu ministério sacerdotal dedicado ao magistério no Seminário e ao apostolado, sobretudo entre os membros das associações católicas.
       Em 1915, quando a Itália entrou em guerra, foi chamado como sargento sanitário e nomeado capelão militar dos soldados feridos que regressavam da linha de combate. No fim da guerra abriu a "Casa do estudante" e trabalhou na pastoral dos jovens estudantes. Em 1919 foi nomeado director espiritual do Seminário.
       Em 1921 teve início a segunda parte da sua vida, dedicada ao serviço da Santa Igreja. Tendo sido chamado a Roma por Bento XV como presidente nacional do Conselho das Obras Pontifícias para a Propagação da Fé, percorreu muitas dioceses da Itália organizando círculos missionários.
       Em 1925, Pio XI nomeou-o Visitador Apostólico para a Bulgária e elevou-o à dignidade episcopal da Sede titular de Areopolis.
       Tendo recebido a Ordenação episcopal a 19 de Março de 1925, em Roma, iniciou o seu ministério na Bulgária, onde permaneceu até 1935. Visitou as comunidades católicas e cultivou relações respeitosas com as demais comunidades cristãs. Actuou com grande solicitude e caridade, aliviando os sofrimentos causados pelo terremoto de 1928. Suportou em silêncio as incompreensões e dificuldades de um ministério marcado pela táctica pastoral de pequenos passos. Consolidou a sua confiança em Jesus crucificado e a sua entrega a Ele.
       Em 1935 foi nomeado Delegado Apostólico na Turquia e Grécia: era um vasto campo de trabalho. A Igreja tinha uma presença activa em muitos âmbitos da jovem república, que se estava a renovar e a organizar. Mons. Roncalli trabalhou com intensidade ao serviço dos católicos e destacou-se pela sua maneira de dialogar e pelo trato respeitoso com os ortodoxos e os muçulmanos. Quando irrompeu a segunda guerra mundial ele encontrava-se na Grécia, que ficou devastada pelos combates. Procurou dar notícias sobre os prisioneiros de guerra e salvou muitos judeus com a "permissão de trânsito" fornecida pela Delegação Apostólica. Em 1944 Pio XII nomeou-o Núncio Apostólico em Paris.
       Durante os últimos meses do conflito mundial, e uma vez restabelecida a paz, ajudou os prisioneiros de guerra e trabalhou pela normalização da vida eclesial na França. Visitou os grandes santuários franceses e participou nas festas populares e nas manifestações religiosas mais significativas. Foi um observador atento, prudente e repleto de confiança nas novas iniciativas pastorais do episcopado e do clero na França. Distinguiu-se sempre pela busca da simplicidade evangélica, inclusive nos assuntos diplomáticos mais complexos. Procurou agir sempre como sacerdote em todas as situações, animado por uma piedade sincera, que se transformava todos os dias em prolongado tempo a orar e a meditar.
       Em 1953 foi criado Cardeal e enviado a Veneza como Patriarca, realizando ali um pastoreio sábio e empreendedor e dedicando-se totalmente ao cuidado das almas, seguindo o exemplo dos seus santos predecessores: São Lourenço Giustiniani, primeiro Patriarca de Veneza, e São Pio X.
       Depois da morte de Pio XII, foi eleito Sumo Pontífice a 28 de Outubro de 1958 e assumiu o nome de João XXIII. O seu pontificado, que durou menos de cinco anos, apresentou-o ao mundo como uma autêntica imagem de bom Pastor. Manso e atento, empreendedor e corajoso, simples e cordial, praticou cristãmente as obras de misericórdia corporais e espirituais, visitando os encarcerados e os doentes, recebendo homens de todas as nações e crenças e cultivando um extraordinário sentimento de paternidade para com todos. O seu magistério foi muito apreciado, sobretudo com as Encíclicas "Pacem in terris" e "Mater et magistra".
       Convocou o Sínodo romano, instituiu uma Comissão para a revisão do Código de Direito Canónico e convocou o Concílio Ecuménico Vaticano II. Visitou muitas paróquias da Diocese de Roma, sobretudo as dos bairros mais novos. O povo viu nele um reflexo da bondade de Deus e chamou-o "o Papa da bondade". Sustentava-o um profundo espírito de oração, e a sua pessoa, iniciadora duma grande renovação na Igreja, irradiava a paz própria de quem confia sempre no Senhor. Faleceu na tarde do dia 3 de Junho de 1963.
       Foi beatificado em 3 de setembro de 2000, pelo Papa João Paulo II.
       Foi canonizado em 27 de abril de 2014, pelo Papa Francisco. Na mesma ocasião foi canonizado o Papa João Paulo II, beatificado em 1 de maio de 2011, pelo Papa Bento XVI.


Oração de coleta:
       Deus eterno e omnipotente, que no papa São João XXIII, fizestes resplandecer em todo o mundo a imagem viva de Cristo, bom pastor, concedei-nos, pela sua intercessão, a graça de difundir com alegria a plenitude da caridade cristã. Por Nosso Senhor.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

São Mateus, Apóstolo e Evangelista

       Mateus foi chamado por Jesus no seu posto de cobrança. Era conhecido como publicano, o que equivalia a ser tido como traidor para com o povo judeu. Os cobradores de impostos estavam ao serviço do império romano, o povo opressor. E, por outro lado, os impostos eram muito elevados, pois visavam sustentar toda a máquina da opressão, soldados, oficiais, dirigentes, para lá dos impostos que beneficiavam directamente o cobrador.
       Exercia a sua profissão em Cafarnaum. Dotado de certa cultura.
       Deixa tudo para seguir Jesus.
       De Apóstolo, torna-se evangelista. Recolhe informações sobre a vida e a missão de Jesus e põe por escrito, no Evangelho que leva o seu nome, escrito entre 62 e 70 da nossa era.
       "Naquele tempo, Jesus ia a passar, quando viu um homem chamado Mateus, sentado no seu posto de cobrança dos impostos, e disse-lhe: 'Segue-me?. Ele levantou-se e seguiu Jesus" (Mt 9, 9-13).

Oração de colecta:
       Senhor nosso Deus, que, na vossa infinita misericórdia, escolhestes o publicano Mateus para vosso Apóstolo, concedei-nos que, ajudados pelo seu exemplo e intercessão, Vos sigamos fielmente e nos entreguemos a Vós de todo o coração. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

HOMILIA que se segue serviu de inspiração a Francisco para o lema episcopal, e que manteve como Papa: miserando atque eligendo - olhou-o com misericórdia e escolheu-o...

Das Homilias de São Beda Venerável, presbítero

Jesus viu-o, compadeceu-Se dele e chamou-o

Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado no posto de cobrança, e disse-lhe: Segue-Me. Viu-o não tanto com os olhos do corpo, como com o seu olhar interior, cheio de misericórdia. Jesus viu um publicano e compadeceu-Se dele; escolheu-o e disse-lhe: Segue-Me, isto é, imita-Me. Disse para O seguir não tanto com os seus passos como no modo de viver. Porque, quem diz que permanece em Cristo, deve também proceder como Ele procedeu.
Mateus levantou-se e seguiu-O. Não devemos admirar nos de que o publicano, ao primeiro chamamento do Senhor, abandonasse os negócios terrenos em que estava ocupado e, renunciando aos seus bens, seguisse Aquele que via totalmente desprovido de riquezas. É que o Senhor chamava o exteriormente com a sua palavra, mas iluminava o de um modo interior e invisível para que O seguisse, infundindo na sua mente a luz da graça espiritual, para que pudesse compreender que Aquele que na terra o afastava dos negócios temporais, lhe podia dar no Céu tesouros incorruptíveis.
E quando Ele estava sentado à mesa em sua casa, vieram muitos publicamos e pecadores e sentaram se à mesa com Jesus e os seus discípulos. A conversão de um publicano deu a muitos publicanos e pecadores um exemplo de penitência e de perdão. Foi, na verdade, um belo e feliz precedente: aquele que havia de ser apóstolo e doutor das gentes, atraiu consigo ao caminho da salvação, logo no primeiro momento da sua conversão, um numeroso grupo de pecadores. Deste modo, já desde os primeiros indícios da sua fé, começou o ministério de evangelização que mais tarde havia de desempenhar, quando chegasse à perfeição das suas virtudes.
Se desejamos compreender mais profundamente o significado destes factos, devemos observar que Mateus não se limitou a oferecer ao Senhor um banquete corporal na sua casa terrestre, mas preparou-Lhe com a sua fé e o seu amor um banquete muito mais agradável na morada interior do seu coração, segundo o testemunho d’Aquele que diz: Eu estou à porta e chamo; se alguém ouvir a minha voz e Me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo.
Tendo ouvido a sua voz, nós abrimos-Lhe a porta para O receber quando damos o nosso livre assentimento às suas advertências interiores ou exteriores e pomos em prática o que sabemos ser sua vontade. E Ele entra para cear, Ele connosco e nós com Ele, porque habita no coração dos eleitos pela graça do seu amor, para os alimentar continuamente com a luz da sua presença, a fim de que se elevem cada vez mais para os desejos celestes, e Ele próprio seja saciado com as aspirações eternas dos seus eleitos, que são o mais delicioso manjar que Lhe podem oferecer.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

SANTA TERESA DE CALCUTÁ, Religiosa

       Madre Teresa de Calcutá nasceu a 26 de agosto de 1910, em Skopje, na Albânia, no seio de uma família muito crente. O nome de batismo é Gonxhe Agnes (Inês) Bojaxhiu. Filiação: Nikollë Bojaxhiu (pai) e Dranafile Bernai (mãe).
       Com 18 anos foi para a Irlanda, tornando-se irmã de Nossa Senhora do Loreto, em Dublin, escolhendo então o nome religioso como homenagem a Santa Teresa de Lisieux.
       Em 1928 foi para a Índia, a fim de ensinar (geografia e religião) no colégio de St. Mary, em Entally, Calcutá, tornando-se Diretora.
       Em 1946, sente a "vocação dentro da vocação", para sair ao encontro dos mais pobres dos pobres, daqueles que ninguém quer. Pouco depois solicita ao Vaticano autorização para fundar uma nova Congregação, as Missionárias da Caridade (1951). Seguem-na antigas alunas. Começa a usar um simples sari de algodão branco com um bordado azul e muda-se para um subúrbio de barracas de Calcutá para ensinar e prestar cuidados básicos.
       Em 1952, a descoberta de uma mulher em agonia numa estrada leva-a a pressionar as autoridades da cidade para conseguir um velho edifício para acolher e tratar com dignidade os moribundos, quando os hospitais já não os querem. Seguem-se as casas para os órfãos, leprosos, doentes mentais, mães solteiras, doentes de sida.
       Em 1979, recebe o Prémio Nobel da Paz. No seu discurso de aceitação, a irmã religiosa de 1,54 metros de altura choca o seu auditório ao denunciar o aborto como “a maior força de destruição da paz hoje (…), uma morte direta pela própria mãe”.
       Madre Teresa morreu a 5 de Setembro de 1997, na casa-mãe da sua congregação em Calcutá, onde repousa num túmulo que as irmãs decoram todos os dias com uma palavra escrita com pétalas de flores. Até à sua morte entregar-se-á inteiramente a Jesus Cristo no cuidado dos mais desfavorecidos. 
       Foi beatificada por João Paulo II em 19 de outubro de 2003.
      Foi canonizada por Francisco em 4 de setembro de 2016.

       Algumas expressões sintomáticas de Santa Teresa de Calcutá:
"Pela minha missão, pertenço a todo o mundo, mas o meu coração pertence a Jesus Cristo... Quando olhamos para a cruz, compreendemos a grandeza do Seu amor. Quando olhamos para a manjedoira compreendemos a ternura do Seu amor por ti e por mim, pela tua família e por cada família... Nunca estejais tristes. Sorri, pelo menos, cinco vezes por dia. Basta um sorriso, um bom-dia, um gesto de amizade. Fazei pequenas coisas com grande amor... Muitos de vós, antes de partir, vão pedir-me autógrafos. Seria melhor que vos aproximasses de um pobre e, através dele, pudésseis encontrar o autógrafo de Cristo"
«Reza como se tudo dependesse de Deus e age como se tudo dependesse de ti... A verdadeira santidade consiste em fazer a vontade de Deus com um sorriso... É fácil sorrir às pessoas que estão fora da nossa casa. É fácil cuidar das pessoas que não se conhecem bem. É difícil ser sempre solícito e delicado e sorridente e cheio de amor em casa, com os familiares, dia após dia, especialmente quando estamos cansados e irritados. Todos nós temos momentos como estes e é precisamente então que Cristo vem ter connosco vestido de sofrimento»
«Eu sou um lápis nas mãos de Deus. Ele usa-me para escrever o que quer... Demo-nos conta que o que fazemos é apenas uma gota no oceano. Mas sem essa gota, faltaria alguma coisa no oceano. Sejamos capazes de amar uma só pessoa de cada vez, de servir uma pessoa de cada vez... Jesus é o meu tudo. A minha plenitude».
“Para mim, as nações que legalizaram o aborto são as nações mais pobres, têm medo de uma criança não nascida e a criança tem que morrer”. 
“Em todo mundo se comprova uma angústia terrível, uma espantosa fome de amor. Levemos, portanto, a oração para as nossas famílias, levemos a oração para as nossas crianças, ensinemos-lhes a rezar. Pois uma criança que ora, é uma criança feliz. Família que reza é uma família unida”
“Amai-vos uns aos outros, como Jesus ama a cada um de vós. Não tenho nada que acrescentar à mensagem que Jesus nos transmitiu. Para poder amar, é preciso ter um coração puro e é preciso rezar. O fruto da oração é o aprofundamento da fé. O fruto da fé é o amor. E o fruto do amor é o serviço ao próximo. Isso nos conduz à paz”.

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

São Gregório Magno, Papa e doutor da Igreja

       Gregório Magno nascem em 540, em Roma, numa família aristocrata, filho de Gordiaus e de Santa Sílvia. Foi senador e perfeito da cidade eterna. Cerca do ano 575, entra num mosteiro. E ele próprio faz da sua casa, no monte Célio, o mosteiro de Santo André, e fundou outros seis mosteiros em terras da família, na Sicília. Diácono e embaixador do Papa em Constantinopla.
       Foi eleito Bispo de Roma e, consequentemente, Papa da Igreja, a 3 de Setembro de 590.
       Preparou um grupo de missionários para evangelizar a Inglaterra, de onde saiu o primeiro Bispo de Cantuária. Deixou uma extensa obra de reflexão, sermões, comentários à Bíblia. É também responsável pela divulgação do canto que ficou com o seu nome, canto gregoriano.
       Morreu a 12 de Março de 604.

Oração (de colecta):
       Deus eterno e omnipotente, que velais pelo vosso povo com infinita misericórdia e o governais com inefável amor, por intercessão do papa São Gregório Magno, concedei o espírito de sabedoria àqueles que escolhestes como mestres e guias da Igreja, para que o progresso dos fiéis seja a alegria eterna dos seus pastores. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
HOMILIA de São Gregório Magno sobre o Profeta Ezequiel:

Por amor de Cristo, ao serviço da sua palavra nem a mim mesmo perdoo

Filho do homem, coloquei te como sentinela na casa de Israel. Deve notar se que o Senhor chama sentinela àquele que envia a pregar. De facto, a sentinela está sempre num lugar alto, a fim de perscrutar tudo o que possa vir ao longe. Todo aquele que é colocado como sentinela do povo, deve, portanto, pela sua vida, situar se bem alto, para ser útil com a sua previdência.
Oh como são duras para mim estas palavras que digo! Ao falar assim, estou a ferir me a mim próprio, porque nem a minha pregação nem a minha vida estão à altura da missão que desempenho.
Reconheço me culpado, confesso a minha tibieza e negligência. Talvez o próprio reconhecimento da culpa me alcance o perdão do piedoso Juiz.
Quando vivia no mosteiro, eu conseguia guardar a minha língua de conversas inúteis e manter quase continuamente o meu espírito em atitude de oração. Mas depois que tomei sobre meus ombros a responsabilidade pastoral, o espírito não consegue recolher se tão assiduamente como queria, porque se encontra solicitado por muitas preocupações.
Vejo me obrigado a ocupar me ora dos problemas das igrejas ora dos mosteiros e analisar muitas vezes a vida e actuação de cada pessoa em particular; ora a ocupar me de assuntos de ordem civil, ora a lamentar os estragos dos exércitos invasores dos bárbaros e a temer os lobos que ameaçam o rebanho que me foi confiado; ora a zelar pelos interesses daqueles que vivem submetidos a uma disciplina regular, ora a suportar com paciência certos assaltantes, ora a sair lhes ao encontro para salvaguarda da caridade.
Estando assim dividido e subjugado por tão numerosas e tão grandes preocupações, como poderá o meu espírito recolher se e concentrar se para se poder dedicar plenamente à pregação e não se afastar do ministério da palavra? Além disso, obrigado por dever de ofício, tenho de tratar muitas vezes com os homens do mundo, o que me leva por vezes a afrouxar o domínio da língua. Na verdade, se mantenho nesta matéria uma disciplina rigorosa, sei que isso afastará de mim os mais fracos e assim nunca poderei atraí los ao que pretendo. Por isso acontece muitas vezes que também ouço pacientemente as suas conversas inúteis. Mas porque também eu próprio sou fraco, deixo-me atrair um pouco para essas palavras ociosas e começo a falar de bom grado sobre aquilo que principiara a ouvir contrariado; e acabo por ficar com gosto, onde antes me repugnava cair.
Quem sou eu, portanto, ou que espécie de sentinela sou eu, que, em lugar de permanecer firme sobre a alta montanha, me encontro prostrado, pelo meu modo de proceder, no vale da fraqueza? Mas o Criador e Redentor do género humano é assaz poderoso para me conceder a mim, embora indigno, a altitude da vida e a eficácia da linguagem: é por seu amor que, ao serviço da sua palavra, nem a mim mesmo perdoo.