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domingo, 18 de maio de 2014

Samperi - Nossa Senhora Desatadora de Nós

MIGUEL CUARTERO SAMPERI (2014). Nossa Senhora Desatadora de Nós. História de uma devoção mariana. Lisboa: Paulus Editora. 56 páginas.
       Um opúsculo sobre uma devoção muito original, mas com uma ligação histórica interessante: nasce na Alemanha e espalha-se na Argentina; existia na Itália, e espalha-se para todo o mundo com o Papa Francisco, que antes tinha levado a devoção para a Argentina.
       No início do século XVII, um casal estava em vias de se divorciar. O marido, Wolfgang, decidiu ir a um mosteiro, em Augsburg, cujo responsável era o sacerdote, Jakob Rem, jesuíta, e onde havia a devoção a Nossa Senhora "três vezes admirável". Na Capela do mosteiro, a imagem de Nossa Senhora das Neves, atualmente padroeira da cidade de Buenos Aires e com devoção também na cidade de Roma. O sacerdote recomenda o casal a Nossa Senhora, uma oração durante 28 dias, o ciclo de reprodução feminino, ou o ciclo para preparar e gerar uma nova vida. Assim o refere o autor.
       O sacerdote confiou a Maria as dificuldades do casal, para que Ela desatasse os NÓS que havia no seu casamento. Um dia, ainda que não haja dados históricos, o sacerdote viu nas mãos de Nossa Senhora um elástico com nós que entretanto Ela foi desatando e o elástico voltou a ser brilhante, branco, como no dia do casamento. A tradição, na celebração do casamento, era colocar um elástico branco em volta das mãos do casal, entrelaçando as suas vidas. A esposa de Wolfgang, Sophie, por cada dificuldade atava um nó no elástico. Nossa Senhora das Neves devolveu a brancura do mesmo e o casal resolveu os problemas.
       O neto do casal, Von Langenmantel (1666-1709, entrou para a vida religiosa e tornou-se cónego da Igreja Sankt Peter  Perlach, em Augsburg (Augusta). Dedicou então um altar em honra dos avós, com um tela em honra da Santíssima Virgem do Bom Conselho, acrescentando-lhes alguns pormenores que recordassem a história da família Lanenmanttel. E assim surge a imagem de Nossa Senhora Desatadora de Nós, com um manto da família, possivelmente um símbolo da família, com um Anjo a passar o elástico a Nossa Senhora que o desata. Outro Anjo recebe o elástico sem nós. Aparece as coroa de doze estrelas, em conformidade com o Apocalipse, e ainda, sob a imagem, um Anjo que leva Tobias ao encontro daquela que será a sua esposa.
       O então Pe. Mario Bergoglio, agora Papa Francisco, tem um papel fundamental na divulgação desta devoção. Tendo ido preparar o doutoramento, na Alemanha, em Augsburg. Aí toma conhecimento desta devoção. Regressando a Buenos Aires leva várias estampas com a Nossa Senhora que desata Nós, que entrega a sacerdotes, casais, que coloca nas cartas que envia a uns e a outros.
       Em 1996, o Cardeal Quarracino autoriza que o pároco de São José del Talar, divulga a devoção na paróquia. E 2010, o Cardeal Bergoglio eleva a paróquia a Santuário de Nossa Senhora que desata nós. No dia 8 de cada mês e especialmente no dia 8 de dezembro, uma multidão de fiéis recorre a Nossa Senhora Desatadora de Nós.
       A devoção existe também em Roma.
       O livrinho faz um enquadramento histórico, teológico, bíblico. Ao mesmo tempo contém uma novena e bem como orações, uma aprovada pelo então Cardeal Jorge Mario Bergoglio, e outra do Papa Francisco, no dia 31 de maio de 2013.
       A Leitura demora alguns minutos.

domingo, 1 de dezembro de 2013

LEITURAS: Nello Scavo - A lista de Bergoglio

NELLO SCAVO. A Lista de Bergoglio. Os que foram salvos por Francisco durante a ditadura. Paulinas editora. Prior Velho 2013. 208 páginas.

       Quem não ouviu falar da Lista de Schindler, cujo filme colocou em evidência o trabalho de Oskar Schindlerque terá salvo centenas de judeus. A lista dos que foram livres da matança Nazi sublinham a barbárie perpretada contra os judeus e a generosidade de pessoas muito concretas que tudo fizeram, o que estava ao alcance, para salvar vidas, correndo o risco de eles próprios serem arrestados para a tortura e para a morte. Há também um português de quem se poderia fazer uma lista, Aristides de Sousa Mendes.
       Vamos para o continente americano, mais ao sul, ditaduras ora à esquerda ora à direito, mas com os mesmos métodos: silenciar as vozes incómodas e de opinião ou prática contrária. A Argentina ainda sara as feridas desses tempos, meados dos anos 70 e 80, com milhares de desaparecidos depois do golpe militar que impôs uma ditadura de direita, com muitos silenciamentos, alguns dos quais cansados da bárbarie anterior.
       Quando foi eleito o Cardeal Ratzinger, escolhendo o nome de Bento (XVI), minutos depois já havia insinuações de que o papa eleito tinha integrado o exército Nazi e, nesse propósito, teria sido conivente com o regime. Não foi preciso qualquer desmentido, pois foi claro, num olhar mais honesto, que como jovem foi obrigado a entrar na vida militar, com 16 anos, desertando no ano seguinte, correndo o sério risco de ser morto. Por outro lado, era evidente na sua biografia que o próprio pai, O seu pai, comissário da polícia, oriundo de uma família de agricultores da Baixa Baviera, de modestas condições económicas, por não estar sintonizado com as políticas governamentais foi mudado de posto em ocasiões sucessivas. Apesar de não haver dúvidas, a não ser por maldade, ainda hoje, por vezes na comparação com o Papa atual, se refere que Ratzinger era nazi, ou que teve alguma coisa a ver.
       Paralelamente, ou não, mal foi conhecido o nome do Cardeal Bergoglio, como Papa Francisco, logo se levantaram suspeitas sobre a sua vida e atuação, enquanto Provincial dos Jesuítas da Argentina, durante a ditadura de direita, nomeadamente insinuando-se que dois jesuítas, que se encontravam em processo de deixarem a Companhia de Jesus, tinham sido entregues por ele, ou pelo menos nada tinha feito para os libertar.
       Nello Scavo, jornalista, encetou uma investigação independente, sem recorrer ao Vaticano, ou a fontes católicas, mas a documentação existente, a pessoas que conheceram e lidaram com Bergoglio, a sobreviventes que ele ajudou, descobrindo com facilidade que Bergoglio tinha uma rede clandestina para sobretrair à prisão e a morte muitos dos que eram procurados pelo regime, sacerdotes, religiosos, catequistas e até pessoas sem fé ou sem identidade religiosa.
       É um livro verdadeiramente clarificador. O jornalista que lançou a "bomba" procurando mostrar que Bergoglio tinha sido cúmplice no rapto dos dois padres jesuítas retirou as suspeitas ao ouvir um dos sacerdotes a confessar claramente que Bergoglio nada teve a ver com o caso, pelo contrário, tudo fez até que os dois jesuítas foram libertados, ajudando depois ao seu exílio para evitar futuras prisões. Com efeito, Bergoglio, jovem sacerdote, ajudada muitos a esconder-se no Colégio dos Jesuítas, outros a sairem do país, sendo acolhidos no país de destino por outros contactos seus, incentivando-os a denunciar o que se passava na Argentina. Sempre de forma discreta, mas bastante eficaz.
       Depois de algumas personagens que fazem parte da Lista de Bergoglio terem capítulos dedicados, na parte final a transcrição de interrogatório feito pelo tribunal que deve julgar os crimes da ditadura, com juizes, advogados das vítimas, advogados de defesa, com o agora Papa Francisco a responder com clareza, sem medo, mostrando total abertura e acesso a toda a documentação existente no Arcebispado de Buenos Aires ou na Conferência Episcopal.
       Há testemunhos que mostram à saciedade o trabalho incansável do Pe. Bergoglio, conduzindo o carro pelas ruas da capital, procurando não atrair atenções. Por vezes nem os colegas sabiam o que ele fazia: levava jovens para o colégio e apresentava-os como sendo jovens que iam fazer um retiro.
        O livro ajuda a compreender muitas das intervenções duras de Francisco, enquanto Cardeal e Arcebispo de Buenos Aires e ajudam também a conhecer a história e o temperamento dos argentinos.
Leitura obrigatória para quem quer conhecer a vida do Papa e o seu caráter decidido.

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Bergoglio, herói no silêncio
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quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Papa Francisco - o hoje de Jesus é tempo de esperança

       Hoje pedimos ao Senhor a graça de cuidar como Ele da fragilidade do nosso povo; no ano passado pedimos-lhe para sairmos à procura do nosso povo com audácia apostólica...
       A Igreja vive no Hoje de Jesus...
       Fora desse hoje - fora do tempo do Reino, tempo da graça, de boas notícias, de liberdade e de misericórdia -, os outros tempos, o tempo da política, o tempo da economia, o tempo da tecnologia, tendem a converter-se em tempos que devoram, que nos excluem, que nos oprimem. Quando os tempos humanos perdem a sua sintonia e tensão com o tempo de Deus, tornam-se estranhos: repetitivos, paralelos, demasiado curtos ou infinitamente longos. Tornam-se tempos cujos prazos não são humanos, os prazos da economia não têm em conta a fome ou a falta de escola para as crianças, nem a aflitiva situação dos idosos; o tempo da tecnologia é tão instantâneo e carregado de imagens que não deixa o coração e a mente dos jovens amadurecer; o tempo da política parece, às vezes, ser circular, como o de um carrossel em que são sempre os mesmos que apanham o anel. Pelo contrário, o hoje de Jesus, que à primeira vista pode parecer aborrecido e pouco emocionante, é um tempo em que se escondem todos os tesouros da sabedoria e da caridade, um tempo rico em amor, rico em fé e riquíssimo em esperança.
       O hoje de Jesus é um tempo com memória, memória de família, memória de povo, memória de Igreja em que está viva a recordação de todos os santos.
       A liturgia é a expressão desta memória sempre viva. O hoje de Jesus é um tempo carregado de esperança, de futuro e de céu, do qual já temos os sinal, e vivemo-lo adiantadamente em casa consolação que o Senhor nos dá. O hoje de Jesus é um tempo em que o presente é um constante chamamento e um renovado convite à caridade concreta do serviço quotidiano aos mais pobres que enche o coração de alegria. Nesse hoje queremos sair ao encontro do nosso povo, todos os dias.
       No hoje de Jesus não há lugar para o medo dos conflitos nem para a incerteza, nem para a angústia. Não há lugar para o medo dos conflitos, porque no hoje do Senhor «o amor vence o medo». Não há lugar para a incerteza, porque «o Senhor está em nós 'todos os dias' até ao fim do mundo. Não há lugar para a angústia, porque o hoje de Jesus é o hoje do Pai que «sabe muito bem do que necessitamos» e nas suas mãos sentimos que «a casa dia basta o seu cuidado». Não há lugar para ainquietação, porque o Espírito nos faz dizer e fazer o que é preciso no momento oportuno"
Missa Crismal 2005
in Jorge Bergoglio/Papa Francisco, O Verdadeiro poder é servir, pp 211-212

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Papa Francisco - abertura ao Senhor para os outros...

       "Uma bela imagem para examinar a nossa abertura é a nossa casa. Há casas que são abertas porque «estão em paz», que são hospitaleiras porque têm o calor do lar. Nem tão ordem que sintamos temor até de nos sentarmos (para não mencionar fumar ou comer alguma coisa), nem tão desarrumadas que envergonhem. O mesmo se passa com o coração: o coração que tem espaço para o Senhor também tem espaço para os outros. Se não há lugar nem tempo para o Senhor, então o lugar para os outros reduz-se à medida dos próprios nervos, do próprio entusiasmo ou do próprio cansaço. E o Senhor é como os pobres: aproxima-Se sem que O chamemos e insiste um pouco, mas não fica se não O retivermos. É fácil tirá-l'O de cima de nós. Basta estugar um pouco o passo como com os mendigos, ou olhar para o outro lado como quando as crianças nos tentam vender as suas pagelas no metro.
       Sim, a abertura aos outros está a par da nossa abertura ao Senhor. É Ele, o de coração aberto, o único que pode abrir espaço de paz no nosso coração, essa paz que nos torna hospitaleiros para com os outros..."

in Jorge Bergoglio/Papa Francisco, O Verdadeiro poder é servir.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Papa Francisco - a missão cumpre-se «hoje»...

        "A missão cumpre-se «hoje» porque o Senhor não dá só o pão, mas Ele mesmo Se faz pão. Essa libertação que Ele faz dos oprimidos cumpre-se «hoje» porque o Senhor não só perdoa «limpando as manchas» em vestidos alheios, mas Ele mesmo «Se faz perdão», se suja, fica com as chagas... e assim se coloca nas mãos do Pai que O aceita. Essa boa notícia cumpre-se «hoje» porque o Senhor não só faz anúncios de que vai tomar medidas mas Ele mesmo é a medida que nos faz ver com a luz que tem cada palavra sua..."

in Jorge Bergoglio/Papa Francisco, O Verdadeiro poder é servir.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Papa Francisco - rebaixamento de Deus

       "... Esse é o sinal: o rebaixamento total de Deus. O sinal deu-se quando, nessa noite, Deus amou a nossa pequenez e se fez ternura; ternura para toda a fragilidade, para todo o sofrimento, angústia, procura e limite. O sinal é o amor de Deus. A mensagem que esperavam todos os que pediam sinais a Jesus, os desorientados e os seus inimigos, era esta: procurem o amor de Deus, Deus feito amor, Deus acalma a nossa miséria e que ama a nossa pequenez".

in Jorge Bergoglio/Papa Francisco, O Verdadeiro poder é servir.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Papa Francisco - o amor alimenta-se da esperança

       "Para falar d'Ele temos de falar de nós. Somente se o deixarmos estar connosco, como fizeram Maria e José, se torna possível uma cultura do encontro, na qual ninguém é excluí do e todos nos vemos como irmãos. Porque é precisamente na aproximação e no encontro que nasce Jesus, o amor. Esse amor que nasceu de uma ideia: «Nasceu o Salvador e vão vê-lo envolto em panos» (Lc 2, 11). O amor alimenta-se da esperança comum, cuja melhor imagem é a da partilha do pão.

in Jorge Bergoglio/Papa Francisco, O Verdadeiro poder é servir.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Papa Francisco - pobreza, crianças e responsabilidade

       "O caminho é árduo mas o mandato é indelegável. Está na hora de assumirmos as nossas próprias responsabilidades perante as crianças e os jovens, como cristãos, como cidadãos, como homens e mulheres de boa vontade. Está na hora de as instituições que se preocupam com a infância e a juventude serem ouvidas e tidas em conta. Está na hora de o Estado, como garante do bem comum, assumir a sua responsabilidade e a sua obrigação na defesa da vida, na proteção do seu crescimento e desenvolvimento; na promoção humana e social das pessoas, famílias e instituições; implementar rapidamente políticas destinadas ao desenvolvimento das famílias de escassos recursos.
       O orçamento da cidade deve contemplar, prioritariamente, a adjudicação de parcelas especiais destinadas ao fomento do emprego e ao crescimento económico, de tal maneira que os seus habitantes obtenham trabalho e que este seja digno....

in Jorge Bergoglio/Papa Francisco, O Verdadeiro poder é servir.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Papa Francisco - a transcendência e a esperança

       "É parte da dignidade transcendente do homem a sua aberta à esperança... a esperança é uma dinâmica que nos torna livres de todo o determinismo e de todos os obstáculos para construir um mundo de liberdade, para livrar esta história das conhecidas cadeias do egoísmo, inércia e injustiça nas quais tende a cair com tanta facilidade. É uma determinação de abertura ao futuro. Diz-nos que há sempre um futuro possível. Permite-nos descobrir que as derrotas de hoje não são completas nem definitivas, libertando-nos assim do desalento; e que os êxitos que podemos obter também não o são, salvando-nos da esclerose e do conformismo...
       A transcendência que a fé nos revela diz-nos além disso que esta história tem um sentido e um termo. A ação de Deus que começou com uma Criação em cujo topo está a criatura que podia corresponder-lhe à sua imagem e semlehança, com a qual estabelece uma relação de amor e que alcançou o seu ponto de maturidade com a Encarnação do Filho, tem de culminar na plena realização dessa comunhão de modo universal...
       A certeza na acção escatológica de Deus que instaurará o seu reino no fim dos tempos tem um efeito direto sobre a nossa forma de viver e atuar no seio da sociedade. Proíbe-nos de qualquer tipo de conformismo, retira-nos desculpas para as meias-tintas, deixa sem justificação todos os pactos ou deslealdades. Sabemos que há um Juízo, e esse Juízo é o triunfo da justiça, do amor, da fraternidade e da dignidade de cada um dos seres humanos, começando pelos mais pequenos e humilhados; então não temos forma de nos fazermos de distraídos. Sabemos de que lado temos de estar entre as alternativas que se nos apresentam entre cumprir as leis e esquivar-nos com «esperteza saloia», entre dizer a verdade ou manipulá-la para nossa conveniência, entre dar resposta ao necessitado que encontramos na vida ou fechar-lhe a porta na cara, entre buscar e ocupar o lugar que corresponde á luta pela justiça e o bem comum, segundo as possibilidades e as competências de cada um, ou «estar olimpicamente nas tintas» construindo a nossa bolha; entre um e outra opção, em cada encruzilhada quotidiana, sabemos de que lado temos de estar. E isto, nos tempos que correm, não é pouca coisa..."

in Jorge Bergoglio/Papa Francisco, O Verdadeiro poder é servir.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Papa Francisco - a terra é o nosso corpo

       Nós, as pessoas, temos uma relação complexa com o mundo em que vivemos, precisamente pela nossa dupla de filhos da terra e filhos de Deus. Somos parte da natureza; atravessam-nos os mesmos dinamismos físicos, químicos e biológicos que os outros seres que partilham o mundo connosco. Embora se trate de uma afirmação banalizada e tantas vezes mal-entendida, «somos parte do todo», um elemento do admirável equilíbrio da Criação.
        A terra é a nossa casa. A terra é o nosso corpo. Também nós somos terra. Contudo, para a civilização moderna, o homem está harmoniosamente dissociado do mundo. A natureza acabou por se converter numa bela pedreira para o domínio, para a exploração económica. E assim se degrada a nossa casa, o nosso corpo, algo de nós. A civilização moderna comporta em si uma dimensão biodegradável....

in Jorge Bergoglio/Papa Francisco, O Verdadeiro poder é servir.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Papa Francisco - escutar para amar, para responder...

       Escutar é também a capacidade de partilhar perguntas e de procurar, de fazer o caminho juntos, de nos distanciarmos de todo o complexo de omnipotência para nos unirmos no trabalho comum que se faz peregrinação, pertença, povo. Nem sempre é fácil escutar. Às vezes é mais cómodo fingir-se surdo, pôr os phones para não ouvir ninguém. Com facilidade trocamos o escutar pelo email, o SMS ou o chat, e assim privamos a escuta da realidade de rostos, olhares e abraços. Podemos também pré-selecionar a escuta e escutar alguns, logicamente os que nos convêm. Nunca faltam nos nossos ambientes eclesiais aduladores que nos dirão exatamente o que queremos escutar. Escutar é atender, querer entender, valorizar, respeitar, saudar a opinião alheia… Há que tomar medidas para escutar bem, para que todos possam falar, para que se tenha em conta o que cada um quer dizer. Há — no escutar — algo de martírio, um pouco de morrer ao mesmo tempo que recria o gesto sagrado do Êxodo: Tira as sandálias, anda com cuidado, não atropeles. Cala-te, é terra sagrada; há alguém que tem uma coisa para te dizer! É um dom que se deve pedir e treinar.
       Escutar para amar, escutar para dialogar e responder; «escutar e pôr em prática a Palavra de Deus», dirá Ele noutras ocasiões para falar sobre o chamamento e a resposta ao amor de Deus. Escutar e comover-se será a sua atitude permanente perante o que sofre. Não há possibilidade de amor a Deus e ao próximo sem esta primeira atitude: escutar.

in Jorge Bergoglio/Papa Francisco, O Verdadeiro poder é servir.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Papa Francisco - Cuidem do vosso olhar

       Por isso vos peço, a vós, catequistas: cuidem do vosso olhar! Não vacilem nesse olhar dignificador. Não fechem nunca os olhos perante o rosto de uma criança que não conhece Jesus. Não desviem o olhar, não se finjam distraídos. Deus coloca-vos, envia-vos para que amem, olhem, acarinhem, ensinem… E os rostos que Deus vos confia não se encontram somente nos salões da paróquia, no templo… Vão mais além: estejam abertos aos novos cruzamentos de caminhos em que a fidelidade adquire o nome de criatividade. Recordais seguramente que o Diretório Geral para a Catequese, na Introdução, nos propõe a parábola do Semeador. Tendo presente este horizonte bíblico, não percam a identidade do vosso olhar de catequistas. Porque há maneiras e maneiras de olhar… Há quem olhe com olhos de estatística … e muitas vezes só veja números, só saiba contar… Há quem olhe com olhos de resultados… e muitas vezes só veja fracassos… Há quem olhe com olhos de impaciência … e só veja esperas inúteis…

in Jorge Bergoglio/Papa Francisco, O Verdadeiro poder é servir. Nascente. Amadora 2013

terça-feira, 30 de julho de 2013

Papa Francisco - não tenhais medo da vossa fragilidade

       E, nesta bonita vocação artesanal de ser «crisma e carícia do que sofre», não tenhais medo de cuidar da fragilidade do irmão com a vossa própria fragilidade: a vossa dor, o vosso cansaço, as vossas perdas; Deus transforma-os em riqueza, unguento, sacramento. Recordai o que meditámos juntos no dia do Corpo de Cristo: há uma fragilidade, a Eucaristia, que esconde o segredo do partilhar. Há uma fragmentação que permite, no gesto terno do dar, alimentar, unificar, dar sentido à vida.

in Jorge Bergoglio/Papa Francisco, O Verdadeiro poder é servir. Nascente. Amadora 2013

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Papa Francisco - Temos de o dizer à «dona Rosa»...

       O tempo urge. Não temos o direito de ficar simplesmente a acariciar a alma. De ficarmos fechados no nosso mundinho… pequenino. Não temos o direito de nos sentirmos tranquilos e de gostarmos de nós próprios. Como me amo! Não, não temos esse direito! Temos de sair pelo mundo e contar que, há 2000 anos, um homem quis reconstruir o paraíso terrestre e veio para isso mesmo. Para voltar a equilibrar as coisas. Temos de o dizer à «dona Rosa», que encontramos na varanda. Temos de o dizer aos miúdos, àqueles que já perderam a esperança e àqueles para quem tudo é «pálido», tudo é música de tango, tudo é um cambalacho. Temos de o dizer à senhora gorda com a mania de que é fina e que acredita que esticando a pele vai obter a vida eterna. Temos de o anunciar aos jovens que, tal como a senhora da varanda, mostram que querem viver nos mesmos O Verdadeiro Poder É Servir moldes. Não vou aqui dizer a letra do tango, mas, se o fizesse, seria algo como: «faças o que fizeres, é tudo igual.»

Jorge Bergoglio/Papa Francisco, O Verdadeiro poder é servir. Nascente. Amadora 2013

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Papa Francisco - cultura do encontro

       Permito-me uma proposta: precisamos de gerar uma cultura de encontro. Perante a cultura do fragmento, como alguns quiseram chamar-lhe, ou da não-integração, nestes tempos difíceis ainda se nos exige mais: não favorecer quem pretende capitalizar o ressentimento, o esquecimento da nossa história partilhada, ou se regozija em debilitar vínculos...
         O homem de carne e osso, com uma pertença cultural e história concreta... é ele que deve estar no centro dos nossos desvelos e reflexões...
       Não se pode educar se estivermos desencaixados da memória. A memória é potência unificadora e integradora. Assim como o entendimento entregue às suas próprias forças desobstrui, a memória vem a ser o núcleo vital da uma família ou de um povo. Uma família sem memória não merece tal nome. Uma família que não respeita e não cuida dos seus avós, que são a sua memória viva, é uma família desintegradora; mas uma família e um povo que se recordam são uma família e um povo com futuro...
        Para quem não tem passado, não há nada realizado. Tudo é futuro, há que fazer tudo a partir do zero...
       Juntarmo-nos em harmonia, sem renunciar ao que é nosso, a algo que nos transcende.
       E isto não pode fazer-se por via do consenso, que nivela por baixo, mas sim pelo caminho do diálogo, da confrontação de ideias e do exercício da autoridade.
       ... o diálogo requer paciência, clareza, boa vontade para com o outro. Não exclui a confrontação, de diversos pontos de vistas, sem no entanto usar as ideias como armas mas como luz. Não abdiquemos das nossas ideias, utopias, propriedades ou direitos, renunciemos apenas à pretensão de que sejam únicos e absolutos...

in Jorge Bergoglio/Papa Francisco, O Verdadeiro poder é servir.

Papa Francisco - a minha liberdade com os outros...

       "Se é verdade que não há humanidade sem história e sem comunidade; se o nosso falar é sempre resposta a uma voz que nos chamou primeiro (e, em última instância, à Voz que nos fez ser), que outro sentido pode ter a liberdade que não seja a possibilidade de «ser com os outros»? Para que quero ser livre se não tenho nem um cão que me ladre? Para que quero construir um mundo se nele vou estar só, numa prisão de luxo? A liberdade, deste ponto de vista, não «termina» mas «começa» onde começa a dos outros. Como todo o bem espiritual, é maior quanto mais partilhado for.
       Mas viver a liberdade «positiva» implica também, como se indica acima, uma completa «revolução» de características imprevisíveis, outra forma de entender a pessoa e a sociedade. Uma forma que não se centra em obejetos de posse, mas em pessoas a quem promover e amar".

in Jorge Bergoglio/Papa Francisco, O Verdadeiro poder é servir.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Bergoglio/Papa Francisco - O verdadeiro poder é servir

Jorge Mario BERGOGLIO - Papa FRANCISCO. O verdadeiro poder é servir. Por uma Igreja mais humilde. Um novo compromisso de fé e de renovação social. Nascente. 3.º edição. Amadora 2013, 384 páginas.
       Um pouco mais de 100 dias depois de ter sido eleito Papa, escolhendo como patrono do seu magistério São Francisco de Assis, num ideário que sublinha o despojamento, a simplicidade, a pobreza, o serviço ecológico a toda a humanidade, numa atenção redobrada aos mais pobres, como aliás é apanágio de Igreja e das comunidades, se a referência primeira e última é Jesus Cristo. Bem na linha dos Seus Predecessores, João XXIII, João Paulo II ou Bento XVI, cuja sabedoria e santidade colocaram ao serviço da Igreja, da humanidade, sendo vozes sonoras na defesa e promoção da paz, da justiça social, da verdade, na procura de sanar feridas e conflitos, protegendo a vida, a mais frágil.
       Com  o avançar dos dias, vê-se cada vez melhor a espontaneidade dos gestos, a verdade dos mesmos, a autenticidade de um homem de Deus que os senhores Cardeais "fizeram" vestir de branco no passado dia 13 de março. Gestos, palavras, alegria, sorriso, proximidade, abertura, firmeza. O fito: anunciar Jesus Cristo, mostrá-l'O vivo, próximo, amigo, compreensivo.
       Os meios de comunicação, como o então Cardeal Bergoglio refere num dos textos colhidos nesta obra, podem aproximar ou afastar. E aproximar bem ou mal. E bem, têm sido favoráveis na divulgação das palavras e dos gestos do Papa Francisco, aproximando-o das pessoas, e ajudando a que mais pessoas se aproximem dele e de Deus. Esta aproximação é merecida e equilibrada.
       Para se conhecer alguém, que não vive perto de nós, ou ao qual não temos um acesso imediato, não há como ler sobre essa pessoa e, se possível, ler o que ela disse, escreveu, ou o que é que fez. Neste livros, os editores originais procuram recolher, para publicar na Argentina, os textos de José Mario Bergoglio, optando por publicar os que ainda o não tinham sido. Assim, neste livro coleccionam intervenções, homilias, mensagens do então Arcebispo e depois (2001) Cardeal Bergoglio, desde 1999 a 2007.
       A distribuição dos textos, segundo os próprio editores. Primeiro núcleo - textos catequéticos e dirigidos aos catequistas, textos sobre educação e sobre Maria; num segundo núcleo, as homilias de Natla, Quinta-feira Santa, Vigília Pascal e Corpo de Deus; no terceiro núcleo, textos dirigidos ao mundo da cultura, diálogo com o país, comprometimento social e político a favor dos mais frágeis.
       Muitas das expressões, contextos, gestos que o Papa Francisco comunica agora ao mundo, são-lhe naturais, como quando era Arcebispo de Buenos Aires, com alegria, simplicidade, apelando à beleza, à intervenção política dos cristãos, ao compromisso de todos no combate à pobreza, na abertura para Deus, na identidade como povo e como Pátria (a Argentina).
       É uma coletânia que vai valer a pena ler, meditar, refletir. Por aqui se vê que o Papa Francisco não caiu do Céu, é um trabalhador da vinha, empenhado, interventivo, simples, usando uma linguagem de proximidade, convidativa, desafiadora, simples, acessível. Há expressões que são muito próprias do Papa, e que eram muito características do Cardeal Bergoglio.
       Para conhecer melhor, para se deixar tocar pela Mensagem de Cristo e do Evangelho, para dialogar, para abrir a mente e o coração, não deixe de ler estes ou outros escritos do Papa Francisco. Pelo meio vai encontrar alegria, fé, testemunho de vida, comunhão com as pessoas mais simples, comunhão com a Argentina, diálogo com o poder, serviço aos mais frágeis, proximidade com João Paulo II, cumplicidade crente com Bento XVI, grande intimidade com o Sacrário.
       O prefácio à edição portuguesa é do Cónego António Rego.