sábado, 26 de julho de 2014

XVII Domingo do Tempo Comum - ano A - 27 de julho

       1 – O reino de Deus é o Amor Maior que podemos encontrar na nossa vida, como cristãos, como seguidores Jesus Cristo. É a pérola de maior valor. Há amores na nossa vida que alteram os nossos dias, as nossas palavras, o nosso semblante, trazem alegria ao nosso olhar e sabor ao nosso sorriso. Há amor pelos quais vale a pena morrer, melhor, há amores pelos quais vale a pena viver. O reino de Deus é mesmo o melhor que nos pode acontecer, nesta vida e na vida futura. O reino de Deus chega até nós, em lógica de serviço, de conciliação, em lógica de AMOR, é o próprio Jesus Cristo. Como mostra a história da Igreja, muitos homens e mulheres viveram o reino de Deus, deram a vida toda para viver ao jeito de Jesus, revolucionaram mentalidades, construíram impérios de serviço, de caridade, de cuidado para com os mais frágeis. Em Jesus, entregaram-se aos mais pobres entre os pobres, São Francisco de Assis, Madre Teresa de Calcutá, Pai Américo. Para eles, tudo pelo amor maior: Jesus Cristo, o Reino de Deus entre nós.
       Diz-nos Jesus: «O reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo. O homem que o encontrou tornou a escondê-lo e ficou tão contente que foi vender tudo quanto possuía e comprou aquele campo. O reino dos Céus é semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas. Ao encontrar uma de grande valor, foi vender tudo quanto possuía e comprou essa pérola. O reino dos Céus é semelhante a uma rede que, lançada ao mar, apanha toda a espécie de peixes. Logo que se enche, puxam-na para a praia e, sentando-se, escolhem os bons para os cestos e o que não presta deitam-no fora. Assim será no fim do mundo: os Anjos sairão a separar os maus do meio dos justos e a lançá-los na fornalha ardente. Aí haverá choro e ranger de dentes».
       Três parábolas que ilustram os ensinamentos de Jesus, que volta a referir-se o juízo final, não como ameaça que pesa sobre nós, mas como desafio para que a nossa rede esteja disponível para a apanha do peixe. Importa lançar as redes ao mar. Podemos errar. Podemos pescar bom peixe e mau peixe. Deus não desiste de nós. Lancemos as redes o melhor que soubermos e pudermos, Deus fará o resto. Relembramos a parábola do trigo e do joio: a divisão não se faz no início, na apanha, mas no final, dando tempo ao tempo, para que o bem possa revelar-se. Paciência misericordiosa de Deus.
       2 – Rodeados de notícias acerca de desgraças: guerras, conflitos armados, famílias destroçadas por desentendimentos mesquinhos, jovens delinquentes, violadores, abusos, trabalho infantil, exploração sexual, fome, toxicodependência, facadas, tiros, violência doméstica, homicídios, com variáveis, para roubar, para ajustar contas, para vingar, para exigir o que voluntariamente foi negado, por motivos de ganância ou por sentimentos não correspondidos. Tudo passa na televisão, na rádio, nos jornais e revistas e com a proliferação no ambiente digital. Tudo o que tenha cheiro a escândalo, a destruição, a agressividade, que apele às misérias e aos pecados, tem logo dezenas ou centenas de partilhas garantidas. Boas notícias são mais difíceis de suscitar adesão e partilha.
       E no entanto é a BOA NOTÍCIA que nos salva, nos aproxima, nos faz família, nos torna irmãos, nos liberta de egoísmo e das estruturas de pecado, de que falava o São João Paulo II. Só a BOA NOVA de Deus no meio de nós nos redime e nos retira da espiral de destruição e de negatividade. Enquanto a opção formos nós, apesar dos outros ou contra os outros, afirmando-nos na nossa individualidade em contraponto com os outros, nunca sairemos das crises que nos oprimem e sufocam. É urgente seguir Jesus Cristo. Em vez de Lhe passarmos à frente, pela nossa esperteza saloia, importa que nos coloquemos atrás, em atitude de imitação e seguimento. É também essa a reprimenda de Jesus a Pedro: "Afasta-te de Mim Satanás. Passa para trás. Segue-Me. Vê os meus passos. Deixa de preocupares só com o teu umbigo. Procura a vontade de Deus". Relembra-nos depois Bento XVI: Cristo nada nos tira, dá-nos TUDO, potencia todo o bem que há em nós.
       Perante a aparente falência da humanidade poderá advir o desencanto e a desconfiança sistémica. O lugar para a esperança no futuro, na humanidade, é vista por um canudo, quase impossível, irrealizável. O ideal de um mundo melhor, um mundo fraterno, de paz e desenvolvimento é constantemente ameaçado pela violência, pela vingança, pela guerra. Veja-se de novo o conflito em Israel e Palestina. Ainda há dias os seus líderes rezavam juntos nos jardins do Vaticano, e já estão a ver quem tem um maior poder de destruição. Ou o conflito entre Ucrânia e Rússia. Verdadeiramente desolador.
       3 – Mas a BOA NOTÍCIA está aí. Como cristãos não podemos baixar os braços. Não podemos deixar-nos vencer pelo desânimo e pelo proliferar de notícias violentas. Em ambiente digital, eu só partilho notícias e acontecimentos que promovam aproximação, ainda que existam situações negativas que mereçam espaço como alerta, como comunhão na dor, como desafio a não repetir, como convite à partilha solidária.
       Em Jesus Cristo, Deus faz-Se um de nós. Comunga da nossa dor, da nossa fragilidade e finitude, não para que tudo fique igual, mas para nos elevar, para que O imitemos procurando identificar-nos com o Seu amor, com a Sua compaixão, na proximidade e no serviço aos que se encontram em situação de maior fragilidade.
       Garante o Apóstolo: «Deus concorre em tudo para o bem daqueles que O amam, dos que são chamados, segundo o seu desígnio. Porque os que Ele de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que Ele seja o Primogénito de muitos irmãos».
       Amemos a Deus e Ele não nos faltará com a Sua bênção, com a Sua graça infinita. Ele concorre para o bem que possamos desenvolver em prol dos outros. Amemos a Deus, amando os irmãos, em verdade, em palavras ilustradas com obras, em gestos de carinho e de apoio, dando e dando-nos, gastando a nossa vida para que a vida dos outros seja abundante. É este o ministério de Jesus e dos seus seguidores, amar servindo, servir amando, viver amando e servindo. Quem não vive para servir, não serve para viver (Mahatma Gandhi).

       4 – A boa vontade de pessoas que encontramos pela vida fora dão-nos confiança no futuro da humanidade, apesar dos sinais contraditórios. A esse propósito, acercam-se pessoas com uma disponibilidade intensa: quero ajudar, diga-me como, diga-me onde, diga-me o que posso fazer. Quando a boa vontade se faz acompanhar da disponibilidade para procurar soluções, ajudas, conciliando esforços e talentos, aproximando pessoas, envolvendo-se em projetos que promovam a vida em abundância, fazendo o bem sem olhar a quem, abre-se um caminho infindo de possibilidades.
       Podemos ser reis e senhores, podemos ter o mundo a nossos pés, toda a riqueza que almejamos, mas se nos faltar a amizade, o amor, se nos faltar um ombro amigo, alguém com quem conversar a vida, seremos pessoas ressabiadas. Há, como lembra Augusto Cury, pessoas miseráveis a viver em palácios de ouro; há pessoas de ouro a viver em barracos.
       A sensibilidade para com os outros é-nos mostrada nas palavras e nos gestos de Jesus. É também essa a oração de Salomão. Pede a Deus, em primeiro lugar, não a riqueza, o poder, ou longa vida, mas pede a sabedoria para assumir o seu poder como serviço a todo o povo: «Dai, portanto, ao vosso servo um coração inteligente, para governar o vosso povo, para saber distinguir o bem do mal; pois, quem poderia governar este vosso povo tão numeroso?».
       A resposta de Deus: «Porque foi este o teu pedido, e já que não pediste longa vida, nem riqueza, nem a morte dos teus inimigos, mas sabedoria para praticar a justiça, vou satisfazer o teu desejo. Dou-te um coração sábio e esclarecido, como nunca houve antes de ti nem haverá depois de ti».
       Há que pedir a Deus o que Ele nos quer dar para nosso bem e para o bem da humanidade. Só assim a nossa oração faz sentido. Pedir a Deus que nos ajude a ser mais que os outros, ou a fazer-nos felizes mesmo que os outros vivam mal, é pedir a um Pai que renegue um dos seus filhos, o deserde, e nos favoreça. Ora o desejo do Pai é que cada filho tenha o melhor da vida e se um se encontra mais desfavorecido o compromisso dos outros para reabilitar, para ajudar. Só assim o coração de Deus sossega, só assim se realizará a vontade do Pai, a nossa verdadeira missão no mundo.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (ano A): 1 Reis 3, 5. 7-12; Sl 118 (119); Rom 8, 28-30; Mt 13, 44-52.

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