sábado, 17 de setembro de 2016

XXV Domingo do Tempo Comum - ano C - 18.09.2016

       1 – A vocação primeira do cristão é seguir Jesus, como prioridade, como ponto de partida e de chegada, como compromisso. Não há alternativas. Nem tempo para pausas ou reservas. Não é para quando houver mais tempo ou maior disponibilidade, ou para quando as circunstâncias forem mais favoráveis. Seguir Jesus é a tarefa primeira e decorre da condição mesma do cristão. Como o nome indica somos de Cristo. Que não seja apenas de nome, mas de coração e por toda a vida!
       Não há nada antes. Nem depois. De Cristo por inteiro. Como inteiramente Ele Se nos deu, oferecendo-Se para nos redimir e nos elevar para Deus. Não são palavras. É a vida. Ou Deus ou o resto! Por vezes o resto é deixado para Deus! Quem comeu a carne coma também os ossos! Para Deus terá que ser a nossa vida, com os seus sonhos, projetos, concretizações. Não podemos servir a Deus e ao dinheiro. «Nenhum servo pode servir a dois senhores, porque, ou não gosta de um deles e estima o outro, ou se dedica a um e despreza o outro».
       As condições de discipulado são clarificadas por Jesus. Ao longo de alguns domingos, Jesus lembra-nos o que é necessário para nos tornarmos verdadeiros discípulos. Colocar-nos no Seu encalço, seguindo-O e imitando-O, não nos colocarmos à Sua frente, impedindo que outros O vejam, ou fazendo com que nos vejam a nós e não a Ele. Assumir uma atitude de ultimidade, ao serviço de todos, vivendo a vida como quem serve e não como quem está sempre à espera de ser servido. Quem não vive para servir, não serve para viver. Não são suficientes os propósitos, mas a mobilização para agir. Podemos falhar, pecar, errar, mas importa não desistir de procurarmos em tudo e com todos a glorificação de Deus que passa, inevitavelmente, por amarmos e cuidarmos uns dos outros.
       Nada nos deve separar de Cristo, pois nada existe que separe de nós o Amor de Deus, manifestado na vida, na morte e na ressurreição de Jesus. «Se alguém vem ter comigo, e não Me preferir ao pai, à mãe, à esposa, aos filhos, aos irmãos, às irmãs e até à própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não pode ser meu discípulo... quem de entre vós não renunciar a todos os seus bens, não pode ser meu discípulo» (Lc 14, 25-33). É uma preferência para incluir. Quem não tem tempo para Deus dificilmente terá tempo para os outros. Amar a Deus antes de todas as coisas, para não endeusar as coisas nem instrumentalizar as pessoas. Quem ama a Deus ama e cuida dos Seus filhos.
       2 – «Quem é fiel nas coisas pequenas também é fiel nas grandes; e quem é injusto nas coisas pequenas também é injusto nas grandes. Se não fostes fiéis no que se refere ao vil dinheiro, quem vos confiará o verdadeiro bem? E se não fostes fiéis no bem alheio, quem vos entregará o que é vosso?»
       A nossa vida passa pelos pormenores. E, por conseguinte, a nossa felicidade. Alguns casamentos fracassam não que tenha havido algum acontecimento extraordinário mas pelo desgaste da rotina, da indiferença, da desatenção aos pormenores, a falta de um elogio, a repetição de gestos que desagradam ao outro, o esquecer-se de perguntar pelo dia de trabalho ou como correu aquela conversa, chateando-se porque algo está fora do lugar habitual.
       Os momentos extraordinários existem. Em certos momentos plenizam a vida e celebram escolhas, trajetos, vivências. Noutros momentos, iniciam novas oportunidades, sonhos, propósitos, novas vidas. Contudo, se vivêssemos em festa diariamente deixava de ser festa para ser rotina. A vida escreve-se em cada segundo, minuto, em cada instante. É feita de pequenos nadas que nos enchem a alma e preenchem e dão sentido à vida: um passeio de bicicleta, a confeção de uma refeição, um sorriso de orelha a orelha, uma conversa com o/a melhor amigo/a, apanhar cerejas, plantar uma árvore, as primeiras palavras do/a filho/a, o cheiro a terra da primeira chuva de outono, uma recordação recuperada!
       Jesus continua a preparar os seus discípulos. Conta-lhes mais uma parábola. Um homem rico tinha um administrador que lhe desperdiçava os bens. Chama-o para prestar contas. Consciente que irá ser despedido, prepara-se para o futuro, chamando os devedores do seu senhor, aliviando-lhes as dívidas, através da alteração das notas de débito.
       Jesus elogia os filhos deste mundo pela sua esperteza, mas desafiando os filhos da luz a "usar" as mesmas armas no trato com os seus semelhantes. Tratá-los bem, com delicadeza, docilidade, ajudando-os, servindo-os, preparando a vida futura, a eternidade onde os semelhantes ajudados possam retribuir ao acolher-nos na eternidade.
       3 – Servir a Deus passa pela fidelidade nas pequenas coisas. Onde a vida germina e se resolve. Pelo cuidado com os nossos semelhantes. Deus garante-nos o Céu. Os nossos semelhantes são a eternidade que começa a despontar. Sem eles, o caminho para Deus fica bloqueado. Ainda que quiséssemos aceder diretamente a Deus, o próprio Deus Se fez um de nós, em Cristo Jesus, escondendo-Se no meio de nós. Para O encontrarmos temos a vida facilitada, encontramo-l'O no nosso próximo.
       O que fizerdes ao mais pequenino dos meus irmãos é a Mim que o fazeis. O Senhor Deus "levanta do pó o indigente e tira o pobre da miséria, para o fazer sentar com os grandes, com os grandes do seu povo" (Salmo). Ninguém é inútil, ninguém está a mais, todos filhos de Deus. A opção de Deus, revelada em Jesus, Rosto e Presença da Misericórdia divina, é preferencial pelos desvalidos, os excluídos da vida, doentes, pobres, mulheres, crianças, pecadores, publicanos. Ofender e escandalizar um dos pequeninos, queridos e amados por Deus, é pecado que brada aos céus.
       O profeta Amós alerta-nos, em nome de Deus: "Escutai bem, vós que espezinhais o pobre e quereis eliminar os humildes da terra. Vós dizeis: «Quando passará a lua nova, para podermos vender o nosso grão? Quando chegará o fim de sábado, para podermos abrir os celeiros de trigo? Faremos a medida mais pequena, aumentaremos o preço, arranjaremos balanças falsas. Compraremos os necessitados por dinheiro e os indigentes por um par de sandálias. Venderemos até as cascas do nosso trigo». Mas o Senhor jurou pela glória de Jacob: «Nunca esquecerei nenhuma das suas obras».
       Não estamos sós. Ele segue connosco. Daí também a importância da oração, para nos mantermos ligados, ininterruptamente, e n'Ele adquirirmos a sabedoria do coração: "Senhor, que fizestes consistir a plenitude da lei no vosso amor e no amor do próximo, dai-nos a graça de cumprirmos este duplo mandamento, para alcançarmos a vida eterna" (oração de coleta).
       4 – O Apóstolo São Paulo, dirigindo-se a Timóteo, exorta-nos a fazer "preces, orações, súplicas e ações de graças por todos os homens, pelos reis e por todas as autoridades, para que possamos levar uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade". Na verdade, sublinha, "isto é bom e agradável aos olhos de Deus, nosso Salvador; Ele quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade. Há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo, que Se entregou à morte pela redenção de todos... Quero, portanto, que os homens rezem em toda a parte, erguendo para o Céu as mãos santas, sem ira nem contenda".
       A oração dilata o nosso coração. Quanto mais perto de Deus mais disponíveis para os outros. Em Cristo, Deus vem salvar a humanidade inteira. Quanto mais nos inteirarmos da vontade de Deus, pela oração, maior a consciência de que Ele é Pai de todos, Pai de misericórdia e como Pai quer que todos os filhos se salvam. Se queremos ser Seus filhos, teremos de cuidar dos outros como irmãos.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (C): Am 8, 4-7; Sl 112 (113); 1 Tim 2, 1-8; Lc 16, 1-13

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