sábado, 18 de fevereiro de 2012

VII Domingo do Tempo Comum (ano B) - 19 de fevereiro

       1 – Deus responde-nos sempre sim. Mesmo quando Lhe dizemos não, Deus não desiste de procurar-nos, de nos dar sinais e de enviar mensageiros.
       Mas escutemos a poesia que nos chega do Apóstolo Paulo e que nos recorda o sim permanente de Deus, que devemos imitar: "Porque o Filho de Deus, Jesus Cristo, que nós pregamos entre vós – eu, Silvano e Timóteo – não foi sim e não, mas foi sempre um sim. Todas as promessas de Deus são um sim em seu Filho. É por Ele que nós dizemos ‘Ámen’ a Deus para sua glória".
       Certamente que estamos cientes duma passagem do Evangelho em que Jesus, de forma inequívoca, desafia que a linguagem seja "sim, sim" e "não, não", mas num contexto diferente do presente. Jesus falava da necessidade de sermos coerentes entre as palavras que proferimos e a vida que levamos e que no trato com o nosso semelhante sobressaísse a transparência de quem ama e se dá aos outros.
       Uma perspetiva que, ao fim e ao cabo, implica o mesmo compromisso: estar diante das pessoas com o melhor de nós mesmos, respondendo de forma a exprimir, a viver, a multiplicar a caridade. É a vida de Deus. Há de ser a nossa vida. Em Deus é um SIM contínuo, pleno, repleto de Amor. Em nós é um sim que se vai solidificando, com o perigo de se desvanecer em hesitações, cansaços, dúvidas e até recuos. Mas a lentidão do nosso sim não nos deve levar à desistência mas à insistência.


       2 – A postura de Jesus, ao longo da Sua vida pública, certamente espelho da sua vida anterior e privada, em Nazaré, junto dos seus familiares, revela o Rosto de um Deus próximo, Pai, Amigo, que Se enternece, que Se compadece. Em Jesus, Deus atende às necessidades daqueles que encontra e/ou que vêm ao Seu encontro, pois já ouviram falar d'Ele, no seu íntimo a ânsia por encontrar "o tal" Messias.
       Depois da primeira jornada de Cafarnaum (veja-se a homilia de D. António, Bispo de Lamego, na tomada de posse), Jesus regressa e são muitas as pessoas que voltam para O escutar, para O rever. Eis que quatro homens fazem descer um paralítico, através da abertura do teto, pois de outro modo seria impossível aproximar de Jesus.
       Ao ver a fé daquela gente, Jesus disse ao paralítico: «Filho, os teus pecados estão perdoados». Estavam ali sentados alguns escribas, que assim discorriam em seus corações: «Porque fala Ele deste modo? Está a blasfemar. Não é só Deus que pode perdoar os pecados?» Jesus, percebendo o que eles estavam a pensar, perguntou-lhes: «Porque pensais assim nos vossos corações? Que é mais fácil? Dizer ao paralítico ‘Os teus pecados estão perdoados’ ou dizer ‘Levanta-te, toma a tua enxerga e anda’? Pois bem. Para saberdes que o Filho do homem tem na terra o poder de perdoar os pecados, ‘Eu to ordeno – disse Ele ao paralítico – levanta-te, toma a tua enxerga e vai para casa’». 
       Jesus diz sim à fé daquelas pessoas e transporta-as para mais longe. As necessidades físicas são fundamentais, mas sem descurar a vida espiritual. Melhor, as necessidades corporais só são verdadeiramente satisfeitas na envolvência do mundo espiritual. Um corpo são num mundo afetivo e espiritual desfragmentado não existe. Se as dores físicas passam para a disposição, a deficiência espiritual torna o corpo pesado, fraco, doente, paralisando-o.

       3 – O perdão é parte essencial da cura. Isso mesmo o mostra Jesus. Obviamente, não confundir, o mal físico não é, de modo nenhum, consequência do pecado, como Jesus o dirá noutra ocasião, mas em muitas doenças do nosso tempo a falta de perdão equivale à falta de cura. Perdoar-se a si mesmo, tolerando as próprias fraquezas. Perdoar aos outros, reconhecendo-os como irmãos e sabendo das próprias fraquezas e limitações, acolher o perdão vindo de Deus, que salva, que resgata, que nos introduz numa vida nova.
       Um dos elementos fundamentais que Jesus traz é precisamente o perdão dos pecados. É um "privilégio" de Deus, mas um "privilégio instrumental", a favor de todo o povo, da humanidade inteira, livrar do pecado, do mal, dando-nos uma nova oportunidade, de vivermos em Deus e a partir d'Ele, numa vida em abundância.
       É o que sucede também com o povo de Israel, antecipando o tempo de Jesus Cristo e do Seu Corpo que é a Igreja. Ao povo é dada uma nova oportunidade, uma nova vida, não em atenção aos méritos, mas ao sim de Deus, à Sua misericórdia e benevolência. Deus esquece, perdoa os desvios e os pecados, reintroduzindo uma nova dimensão, a vida nova que se adquire pelo perdão: "Eis o que diz o Senhor: «Não vos lembreis mais dos acontecimentos passados, não presteis atenção às coisas antigas. Eu vou realizar uma coisa nova, que já começa a aparecer; não o vedes? Vou abrir um caminho no deserto, fazer brotar rios na terra árida. O povo que formei para Mim proclamará os meus louvores... Sou Eu, sou Eu que, em atenção a Mim, tenho de apagar as tuas transgressões e não mais recordar as tuas faltas".
       Em Deus um sim permanente. Procuremos que a nossa vida seja um sim a Deus, efetivando-se no nosso sim aos outros.

Textos para a Eucaristia (ano B): Is 43,18-19.21-22.24b-25; 2 Cor 1,18-22; Mc 2,1-12.

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