sábado, 4 de maio de 2013

Domingo VI da Páscoa - ano C - 5 de maio de 2013

       1 – “Na cidade não vi nenhum templo, porque o seu templo é o Senhor Deus omnipotente e o Cordeiro. A cidade não precisa da luz do sol nem da lua, porque a glória de Deus a ilumina e a sua lâmpada é o Cordeiro”.
       No domingo anterior, nas visões apocalípticas de São João, contemplávamos a certeza da nova Jerusalém, a cidade santa, novos Céus e nova Terra, para a qual todos caminhamos, como seguidores do Cordeiro de Deus, que Se torna Pastor da humanidade inteira. De toda a parte, nações e povos, acorrerão a Ele. A morada de Deus entre os homens, Deus habitará connosco.
       O templo também é novo: o próprio Deus e o Cordeiro. Ele é LUZ que está por toda a parte, que alumia a alma e o mundo. A luz do sol e da lua já não são necessários, pois Ele é LUZ. Que bela imagem! A nossa luz não vem do exterior, vem de dentro, vem de Deus.
       A nova cidade – Ele é o nosso Deus. Nós, o Seu povo. Como povo clarificamos a nossa permanência no Senhor, contrapondo a inspiração pessoal à inspiração do Espírito. A minha fé é autêntica quando amadurecida, enriquecida, celebrada em comunidade. Como há dias dizia o Papa Francisco, não nos iludamos a procurar Jesus Cristo fora da Igreja, recordando, por sua vez, as palavras do Papa Paulo VI que tinha dito ser “uma dicotomia absurda querer viver com Jesus sem a Igreja, seguir Jesus fora da Igreja, amar Jesus sem a Igreja”.
       As comunidades cristãs das primeiras horas sabiam isso muito bem. Refira-se que a própria Palavra de Deus que chega até nós, não é simples inspiração de um autor, ou de vários autores, mas reflete, em toda a extensão, a vivência da comunidade, com avanços e recuos, com acontecimentos extraordinários onde claramente se vê a ação de Deus, pelo Espírito Santo, mas também momentos de adversidade, de divisão, de perseguição. A Palavra de Deus, em palavras humanas, traz-nos a história do autor ou autores, traz-nos a comunidade em contextos histórico-temporais específicos. A palavra de Deus enforma a comunidade crente. Mas também a comunidade cristã dá rosto, visibilidade e autenticidade à Palavra de Deus.

       2 – Como perceber que permanecemos na Igreja, ligados à comunidade cristã? Como saber que estamos em Deus, em comunhão com Ele? Como reconhecer que Ele permanece em nós?
       A resposta é dada por Jesus Cristo de forma inequívoca:
«Quem Me ama guardará a minha palavra e meu Pai o amará; Nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada. Quem Me não ama não guarda a minha palavra. Ora a palavra que ouvis não é minha, mas do Pai que Me enviou. Disse-vos estas coisas, estando ainda convosco. Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo o que Eu vos disse. Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como a dá o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração. Ouvistes que Eu vos disse: Vou partir, mas voltarei para junto de vós. Se Me amásseis, ficaríeis contentes por Eu ir para o Pai, porque o Pai é maior do que Eu. Disse-vo-lo agora, antes de acontecer, para que, quando acontecer, acrediteis».
       O contexto é ainda o da última ceia, a primeira dos novos tempos, durante a qual Jesus sublinha parte essencial do seu Testamento: amai-vos uns aos outros. Como Eu vos amei, amai-vos vós também. Desta forma permanecemos n'Ele e Ele permanecerá em nós. É Cristo quem o garante. Ele vai para o Pai, e da vastidão de Deus, pelo mistério da Ressurreição, estará mais acessível, para todos, até ao fim dos tempos, pelo Espírito Santo.
       3 – PERMANECER é o ideal e o compromisso do cristão, do discípulo de Jesus Cristo. Começa aí a VIDA NOVA, os novos Céus e a nova Terra. Relembremo-nos dos primeiros discípulos, aos quais Jesus convida: vinde ver. Eles foram e permaneceram com Ele, em Sua casa. É a primeira atitude, viver com Jesus, estar em Sua Casa, permanecer inserido na Sua vida.
       A evangelização (e o envio) começa antes, muito antes, começa na inserção Cristo e ao Seu Corpo que é a Igreja, do qual somos membros. Ele está no CENTRO, no MEIO, entre nós, ou não passamos de mais uma organização social, cultural, ou de mais uma ONG (organização não governamental), como referia Francisco nos primeiros dias como Papa. Ele há de ocupar-nos por inteiro. Ocupar o nosso coração. Só o amor preenche o ser humano por completo. Na Mensagem para as Jornadas Mundiais da Juventude, Bento XVI acentua que o AMOR é “a única realidade capaz de encher o coração de cada um e unir as pessoas. Deus é amor. O homem que esquece Deus fica sem esperança e torna-se incapaz de amar o seu semelhante. Por isso é urgente testemunhar a presença de Deus para que todos possam experimentá-la: está em jogo a salvação da humanidade, a salvação de cada um de nós”.
       O amor levar-nos-á a fazer transbordar o que nos transforma, interiormente. O amor torna-se anúncio, evangelização. A alegria da Boa Nova que Cristo nos dá comunica-se, irradia, multiplica-se. Se a acolhemos como boa notícia então quereremos rapidamente passá-la a outros. Vemos, como nos nossos dias, as más notícias, e/ou os boatos correm velozes. Esta deveria ser a velocidade com que as boas notícias se propagam e sobretudo a BOA NOVA da salvação.
       Os cristãos e as comunidades dos primeiros dias, com menos meios, com muitíssimos obstáculos, fervilharam no anúncio de Jesus Cristo e do Seu evangelho, não apenas pela pregação direta, mas pela vivência, pela alegria, pela caridade, pelo serviço dedicado a todos e com particular atenção aos mais necessitados, pelo amor que colocavam em tudo o que faziam.
       Agora é HORA de sermos nós os portadores desta boa NOTÍCIA: Deus habita entre nós.

       4 – A primeira leitura tem-nos dado a oportunidade de acompanhar a dinâmica e o entusiasmo como o Evangelho, a Boa Notícia, vai “contaminando” povos, ambientes, novos mundos. Obviamente, com dificuldades que merecem reflexão, atenção, cuidado, confrontação, para que prevaleça a fé, a ligação a Jesus Cristo, através dos apóstolos e seus sucessores.
“Tendo sabido que, sem nossa autorização, alguns dos nossos vos foram inquietar, perturbando as vossas almas com as suas palavras, resolvemos, de comum acordo, escolher delegados para vo-los enviarmos, juntamente com os nossos queridos Barnabé e Paulo, homens que expuseram a sua vida pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso vos mandamos Judas e Silas, que vos transmitirão de viva voz as nossas decisões. O Espírito Santo e nós decidimos não vos impor mais nenhuma obrigação, além destas que são indispensáveis: abster-vos da carne imolada aos ídolos, do sangue, das carnes sufocadas e das relações imorais. Procedereis bem, evitando tudo isso. Adeus”.
       Com preocupação, os discípulos, enviados das comunidades a novas comunidades, verificam que nem tudo é claro, transparente, fiel aos ensinamentos de Jesus Cristo. O que fazer? Excluir? Denunciar? Melhor, refletir em comunidade, com aqueles que têm autoridade. Aqui se vê como desde sempre a inspiração pessoal há de ser testada com a “tradição”, com o ensino dos apóstolos, com a vivência comunitária da fé, sob a inspiração do Espírito Santo.


Textos para a Eucaristia (ano C): Atos 15, 1-2.22-29; Ap 21, 10-14.22-23; Jo 14, 23-29.

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